Este documento relata sobre um curso de actualização teológica realizado pelo grupo FRATERNITAS MOVIMENTO. O curso discutiu tópicos como a evangelização e o papel fundamental da oração e da identificação com Cristo para os evangelizadores. O curso foi interrompido pela triste notícia do falecimento do Padre Filipe, fundador do grupo e figura central para os membros.
1. espiral
boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO
Nº 13/4 - Outubro de 2003 / Março de 2004
CONTRADIÇÕES
N uma dada paróquia da arquidiocese de Vie-
na, o pároco, muito considerado e estimado pelos paro-
Uniões de facto a Igreja não as aprova, pois, para
os católicos, a actividade sexual só é lícita no âmbito
quianos, foi afastado porque manifestou a intenção de dum casamento canónico. Fora dele a situação é
casar. Quando o ordinário do lugar anunciou o propósi- eclesialmente irregular, os intervenientes estão impedi-
to de enviar um padre casado da Igreja greco-católica dos de receber os sacramentos, não são considerados
para o substituir, desencadeou-se uma autêntica tem- membros da Igreja de pleno direito. São, deste modo,
pestade, não contra o padre greco-católico, mas por cau- incentivados a regularizar a situação canónica.
sa do contra-senso que é mandar embora um padre por- No entanto, não é raro acontecer que vários ca-
que se vai casar e substituí-lo por um padre casado! Os sais, que se davam bem na união de facto ou em casa-
paroquianos preferiam manter o seu pároco actual com mento civil, após casarem pela Igreja, logo se divorci-
mulher e filhos. A celeuma foi tal que o arcebispo de (continua na pág. 2)
Viena decidiu comparecer no local para discutir o as-
sunto.
Dum relatório dessa discussão consta que o car-
Sumário:
deal justificou a posição intransigente da Igreja relati- Nota do responsável / XI Encontro Nacional 3
vamente aos padres católicos romanos casados dizendo Formação e Evangelização 4
que eles faltaram a uma promessa “livremente” assu-
A Apostasia 5
mida. E comparou essa atitude à daqueles que rompem
o compromisso matrimonial — são uns “falhados” — Casamento, os prós e os contras 6
pelo que já não podem ser postos à frente duma comuni- O P. Filipe de Figueiredo – esboço biográfico 8/9
dade ou da juventude. Que vivas, Padre Filipe! 11
J ulgamos que estas duas situações não são com- Rumo à Eternidade / Breves 12
paráveis (a indissolubilidade do matrimónio é de direi-
to divino e a obrigatoriedade do celibato para os padres Bodas de Ouro Sacerdotais 13
é de direito eclesiástico). Mais comparáveis são, isso O P. Filipe recordado na imprensa 14
sim, as uniões de facto, tanto nos leigos como nos pa- Faleceu o P. Filipe, homem de Deus 16
dres.
Faleceu o Senhor Padre Filipe, nosso assistente
2. 2 espiral
(continuação da pág. 1) Se, ao invés, ele tivesse cumprido as leis e tivesse
am. Porquê? Talvez porque, nas uniões de facto, as pes- casado canonicamente, então já não podia presidir a uma
soas, tendo consciência da precariedade da ligação, per- comunidade porque era um “falhado”. Que estranha
manecem juntas porque assim o desejam, ao passo que, mensagem a destes factos!
no casamento, os cônjuges, porque “pertencem” um ao
outro, já não precisam de exercitar a conquista mútua e, Como aceitaria a comunidade eclesial a presen-
às vezes, exercem esse direito de pertença para se “con- ça de padres casados?
trolarem” um ao outro. Não aguentando esse controlo Uma sondagem de 1997, feita numa região da
inusitado, o casamento soçobra. Áustria, na província da Estíria, pelo Instituto de Son-
Q ue padres celibatários cultivam ligações, oca- dagens “Fessel + GfK”, deu o seguinte resultado: 80%
dos Estírios são a favor do casamento dos padres, 6%
sionais e/ou permanentes, com mulheres, toda a gente
admite. Para quem tenha uma formação como a do pa- são contra, 13% dizem que lhes é indiferente e apenas
dre, tais ‘uniões de facto’ criam, forçosamente, proble- 1% não sabem/não respondem. [Fonte: Fessel + GfK,
mas de consciência e originam responsabilidades para 731 entrevistas pessoais na Estíria].
com a outra parte e os eventuais filhos. Efectivamente, Doutra sondagem, esta do Instituto “Gallup”, feita
se o padre for coerente com os ensinamentos que ele na Áustria em 1998, resultou que 82% dos que frequen-
próprio tem de transmitir aos fiéis a respeito destas ma- tam a Igreja desejam padres casados. Entre as pessoas
térias, deve ele mesmo viver angustiado, ou, então, com menos de 30 anos a percentagem é de 98%. [Fon-
nortear-se por uma qualquer epiqueia adequada, tam- te: Jornal “Presse” de 30/31-01-1998].
bém frequentemente utilizada na gestão dos dinheiros Também num estudo recentemente publicado,
da sua paróquia. Mas se a consciência do padre não for
“Priester 2000”, o professor de Teologia Pastoral da
capaz de pactuar com situações de mentira, ele só tem
Universidade Viena, Paul M. Zulehner, mostra que a
um caminho — pedir a dispensa do voto de castidade.
forma de vida celibatária do padre não encontra apoio
Então poderá casar canonicamente, ficará numa situa-
nos fiéis. [Fonte: Jornal da diocese de Linz, de 9 de
ção eclesialmente legal, que lhe restitui a paz de cons-
Agosto de 2001, p. 17].
ciência. Só que, fazendo-o, passa a ser um “falhado” e
já não pode ser posto à frente duma comunidade ou da Se é certo que o problema da falta de padres não
juventude! se resolve só pela abolição do celibato, não se esconde
Se ele tivesse enveredado pelo caminho das rela- que ele é um dos principais óbices.
ções ocultas, bastar-lhe-ia confessar-se. “Cerca de 98% dos padres que resolveram casar
Se tivesse ido mais além, até ao casamento civil, o fizeram-no, não porque não quisessem continuar a ser
código do direito canónico (CDC) tê-lo-ia afastado do padres, nem por falta de fé, como muitas vezes se quer
exercício do ministério. No entanto, deixando a mulher fazer crer, mas porque viram nessa atitude um grito con-
e “arrumando” os filhos, poderia ser reintegrado e colo- tra uma injustiça de séculos que as chefias da Igreja
cado à frente duma comunidade. impuseram aos padres, suas mulheres e filhos”.
Não estou a falar de casos hipotéticos, mas de (www.priester-ohne-amt.org)
Na verdade, a lei do celibato criou um estilo de
situações vividas. A título de exemplo vou citar da
vida, aliás não necessário para o exercício do ministé-
Internet um caso ocorrido numa diocese de língua ale-
rio, no qual o mundo de hoje não acredita. Segundo o
mã.
estudo de Zulehner, para os padres o problema central
Trata-se de um padre que, ao fim dalguns anos de
não é o celibato em si, mas a falta de apoio e de compre-
exercício do ministério, se enamorou duma paroquiana,
ensão da sociedade e das comunidades por esta forma
casou civilmente, teve filhos. Como o tempo faz arrefe-
de vida.
cer as paixões, ele divorciou-se e deixou os filhos. Tem-
De acordo com o questionário, o que os padres
pos depois, a solidão falou mais alto e ele voltou a ca-
apreciam no celibato (números da diocese de Linz) é a
sar, havendo prole novamente. Já na casa dos sessenta
“liberdade para uma realização pessoal” (64%); por
este homem resolve deixar também esta mulher e re-
outro lado, 62% concordam com a afirmação de que o
querer o regresso ao exercício do ministério, o que lhe
celibato “torna os padres muito solitários”; e 44% ad-
foi concedido sem grandes dificuldades. Recebido festi-
vamente, foi colocado à frente duma comunidade. (conclui na pág. 3)
3. espiral 3
(conclusão da pág. 2)
Nota do Responsável:
mitem “sentir a falta duma companhia”.
Os bispos, que justamente nas perguntas sobre o Este é um número especial, um número duplo,
celibato tinham contado com os piores (não publicáveis) correspondendo a dois trimestres (o último de
resultados, podem estar descansados. Está tudo bem: 2003 e o primeiro de 2004).
há “culpados” para os problemas — a sociedade e as Tal prende-se directamente com o inesperado
comunidades paroquiais. São estas que têm de mudar, a passamento do nosso querido Padre Filipe.
“Igreja”, não. É que, estando quasi pronto o nº 13, fomos
Mas há neste “estudo” alguns pormenores, que surpreendidos com a infausta notícia que
(pessoalmente o confessamos), nos deixou
Zulehner não gosta de reportar nas comunicações: mais aturdidos, paralizados até. Que fazer? Sair o
de metade (56%) dos padres admitiu que “teve de assu- espiral, com uma breve nota, e destaque devido
mir” o celibato para poder ordenar-se, 24% dizem que no número seguinte? Esperar algum tempo e,
“provavelmente” ou “de certeza” casariam, se pudes- desenvolvendo minimamente, apresentar um
sem continuar no exercício do ministério. Do estudo trabalho mais perfeito, interrompendo, embora a
também se pode concluir que 24% dos padres “mantêm regularidade do boletim?
uma ligação”! À pergunta sobre a “intimidade” 35% Foi esta segunda via a que escolhemos, e que é da
respondem assim: “junto duma pessoa de confiança” e nossa inteira e única responsabilidade.
muitos definem a sua forma de vida desta maneira: “en- Julgamos prestar, assim, uma justa homenagem ao
contrei um caminho próprio pelo qual posso responder”. Homem de Deus que visionariamente, entre nós,
Perguntas herméticas têm mesmo respostas herméticas. também se lançou na “recuperação” dos
qualificados mas ostracizados baptizados que,
O
s esforços do cardeal arcebispo de Viena para
tendo recebido da Igreja, Mãe e Mestra, o
colmatar a falta de padres na sua diocese também pela Sacramento da Ordem, mas que, por razões
nomeação de padres greco-católicos casados, vão cer- diversas, tendo constituído família, ou não, haviam
tamente ser contrariados. É que há uma ordem de Roma optado pelo seu não exercício directo e efectivo, aí
a proibir a colocação de novos clérigos casados, e, quan- estavam... na praça e sem contrato (Mt 20,3),
do caducarem as licenças dos cinco que actualmente alheios uns dos outros, que não do mundo nem da
estão ao serviço, não deverão ser feitas novas nomea- Igreja a quem amam.
ções. Assim, aquele projecto, invulgar e corajoso, de Não teremos nem a última, nem a melhor palavra,
utilizar padres greco-católicos casados para as paróquias pois esta, certamente, já lha deu o Senhor a Quem
católicas romanas órfãs, verá em breve o seu fim. (KI, ele, como bom servidor (Lc 17,10), devotada e
11/2003, p. 39). denodadamente serviu: “Entra no gozo do teu
senhor” (Mt 25,21).
Aveiro, 13-12-2003 Alberto Osório
João Simão
XI ENCONTRO NACIONAL
23,24,25 de Abril de 2004
Local:
Casa de Nossa Senhora das Dores
Fátima
Orientadores:
- Dr. Marinho Antunes - Dra. Manuela Silva
Tema: Tema:
Motivação da frequência na Missa Dominical O papel da mulher na Igreja
e Leitura sociológica da frequência da Missa
Dominical
Importante: Inscrições até 10 de Abril de 2004
4. 4 espiral
FORMAÇÃO
Os homens e mulheres do “FRA- Cristo aos outros, deverá falar mui- evangelização e os seus acentos
TERNITAS MOVIMENTO” — homens to dos outros a Cristo. O segredo está tónicos mais fundamentais).
que se desligaram do sacerdócio na oração, na identificação com Os quatro encontros foram
ministerial, mas que nunca se desli- Cristo. Esta é grande causa de tan- sempre seguidos de trocas de opini-
garam do sacerdócio baptismal, re- tas comunidades baptizadas ões sobre os assuntos tratados e al-
únem-se, pelo menos uma vez por paganizadas. Nunca saíram do pa- gumas leituras pessoais. O orienta-
ano, para um Curso de Actualiza- ganismo porque nenhum dor foi citando diversos números da
ção Teológica — este ano foi o V. evangelizador os ajudou a encontra- GS e também alusão à Ad Gentes.
Na realidade, estes homens e suas rem-se com Cristo. No sábado, todos recebemos a
esposas nunca esquecem que pelo Conscientes destas e de outras triste notícia do falecimento do nos-
baptismo são sacerdotes, profetas e considerações, esse grupo do FRA- so tão querido Amigo e “pai”, Có-
reis. Deixaram de exercer numa TERNITAS, embora muitos outros qui- nego Filipe. Achou-se por bem ir só
sessem uma representação ao funeral.
E EVANGELIZAÇÃO estar
presen-
No domingo, tivemos a visita
do Sr. D. Serafim, bispo de Leiria-
igreja comercializadora, mas não na tes, não fossem o seus afazeres, es- Fátima. Entrou na sala, cumprimen-
Igreja de Cristo, no dizer de um bis- tiveram, participaram e actuaram tou, falou da “partida” do Sr. Cóne-
po. Este sacerdócio baptismal exer- neste Curso de Actualização Teoló- go Filipe e disse: «Vim aqui a uma
cem-no e querem continuar sempre, gica, que teve lugar em Fátima, na reunião, soube que estais aqui e não
mais e melhor. Daí, estes cursos de Casa de Nossa Senhora do Carmo, poderia passar sem vir cumprimen-
actualização. Têm consciência que de 28 de Novembro a 1 de Dezem- tar as minhas “cunhadas”. Sei que
ninguém pode dar o que não teme bro. estais debruçados sobre a Gaudium
que todo o baptizado em Cristo deve Foi seu orientador o Pe. Dr. et spes; continuai com Cristo».
evangelizar. Cristo continua o mes- José Nunes, OP, professor na Uni- No último dia, o grupo teve
mo de ontem e de hoje; o Seu Evan- versidade Católica. uma reflexão sobre o curso. No ge-
gelho é o mesmo; porém, os méto- O orador, pegando no tema — ral, gostaram bastante do orador,
dos de evangelizar, a linguagem, que lhe foi pedido a seu tempo, pela competente e dialogante. Quanto ao
conceitos, têm de ser adaptados às Direcção do “FRATERNITAS” — “A tema todos acharam que é altura
mentalidades, às carências e exigên- IGREJA NO MUNDO DESTE para ler, reflectir e aplicar na medi-
cias de hoje. TEMPO” — uma reflexão sobre a da do possível e das actividades. O
Mas é ao evangelizador, que Gaudium et spes, tratou-o em qua- simples facto de o documento (GS)
conhece o Evangelho, que compete tro encontros: só ter sido aprovado, pelo Concílio,
encontrar estratégias adequadas, 1º encontro: A Igreja no mundo (os na sua décima terceira versão, mos-
para que Cristo seja conhecido, se- modelos anteriores ao Concílio tra como é controverso para toda a
guido e vivido. Não basta aprender Vaticano II e a opção deste); Igreja. Mas foi aprovado.
umas coisas e ficar a orientar uma 2º encontro: A Igreja, a cultura e as Todos agradeceram à Direcção
paróquia. Esse tempo já lá vai. Es- culturas (GS 57-62 e AG); o esforço e dedicação para que a
ses métodos não produzem efeitos 3º encontro: A Igreja, o homem e al- nossa formação esteja sempre mais
positivos. A Igreja de Cristo não é guns problemas mais urgentes actualizada.
de “folclore”, de pompas. Não esta- (antropologia, família, realidades
mos na Idade Média. O económicas, política, paz); Abílio
evangelizador de hoje tem de saber 4º encontro: A Igreja no Mundo des- e Maria Odete Antunes
orar sem cessar. Antes de falar de te tempo: HOJE (o imperioso da
página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! fraternitas@iol.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! fraterni
5. espiral 5
A A P O S TA S I A
Este último curso em Fátima, Da II Carta de Paulo aos Tessalonicenses, cap. 2:
supostamente concebido para nos “No que respeita à vinda do Senhor e à nossa união com Ele, pedimo-vos,
irmãos, que não vos deixeis tão depressa e inconsideradamente abalar, nem
actualizarmos teologicamente, dei- alarmar (vs. 1-2). Que ninguém, de modo algum, vos engane, porque, antes,
xou-me, como todos os anteriores, há-de vir a apostasia e há-de manifestar-se o homem da iniquidade (v. 3). A
vinda do ímpio será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda a
muito apreensivo. Igual coisa posso sorte de milagres, de sinais e de prodígios enganadores (v. 9)”.
dizer das meditações dos outros en-
contros, ou retiros, sempre orienta- como uma peçonha. De facto, hoje cada uma do seu pedaço, definindo-
das por pessoas “de peso” no mun- tudo esperamos dos milagres da Ci- O e protegendo-O com ritos e leis e
do da instituição e da ciência teoló- vilização, que tem conseguido, par- normas levadas até ao dogma. Ora
gica: temo que as nossas reuniões ticularmente nos tempos mais recen- toda esta tralha normativa é
nos vão progressivamente tes, um poder avassalador e um es- retintamente “mundana”, isto é, pró-
anestesiando, até adormecermos trondoso êxito. Ultrapassando o pria do mundo que Jesus afirmou ter
como uns abades ou abadessas, de mundo físico, está já invadindo o por príncipe Satanás e portanto, ob-
barriga cheia de análises e ritos. mundo psíquico e espiritual, contro- viamente, nada ter a ver com o Seu
“Vamos daqui mais ricos” — lando, aí, todo o movimento, atra- Reino, onde tudo é comandado pelo
é a afirmação estafada que também vés de largas fornadas de psicólo- Amor que, como nós bem sabemos,
nós estafamos ainda mais, regular- gos saindo das universidades, ape- tudo harmoniza sem precisar de leis,
mente, no final dos nossos encontros. trechados sempre com as últimas e nada define, porque tudo perante
Ou então esta, mais coitadinha ain- pesquisas e soluções da ciência, e ele é Mistério aberto fascinando
da: “Sempre se aprende alguma através de doses industriais de de- sempre, sem nenhum limite.
coisa”. Às vezes lá nos atrevemos bates de ideias, de informações fil- É esta apetência para se apro-
a dizer: “Foi uma seca”. A única tradas pelos poderes constituídos, da priar dos Carismas, esterilizando-os
luz que vejo brilhar, viva e límpida, banalização e canonização do Mal, até os poder controlar segundo a sua
mesmo que algo frágil, é aquela que da imensa cataplasma de diversões visão e a sua medida, que caracteri-
capto, invariavelmente, em gestos e para calar problemas e dores. Dores za todas as instituições. Foi isto jus-
olhares e palavras, nos intervalos, às e problemas que surdamente, sub- tamente que fizeram todas as igre-
refeições, nos encontros pessoais, tilmente, a mesma Civilização por jas, subtilmente, mal Jesus Se ocul-
nos testemunhos individuais, e tam- outro lado multiplica, em avalanche, tou aos nossos olhos carnais. Com
bém um pouco em reuniões de gru- enquanto, como gigantesca empre- que culpa? Não pertence a ninguém
po. sa a caminho da falência, na mesma julgá-lo. Pertence-me apenas a mim
Ora nós somos gente que já pre- proporção do avanço vertiginoso e a todos nós termos consciência de
gou muito, que já ouviu pregar mui- para a queda, se esparranha toda em que somos carne deste corpo, soli-
to, que já catequizou muito, que já promessas de solução e de cura para dariamente obrigando Deus a viver
foi milimetricamente catequizada, todas as chagas. A confirmar esta assim retalhado e resfriado nos nos-
que já ganhou o vício das reuniões visão, vede, por exemplo, como o Pai sos mecânicos esquemas mentais.
e dos encontros e das análises. Pre- Natal cilindrou literalmente o Mis- Porque a Igreja é Jesus permanen-
cisamos desesperadamente de uma tério de Jesus que esta época deve- temente incarnado e não temos ou-
Seiva nova: mais do mesmo só ser- ria revelar. tra Igreja senão esta. Mas vede: que
ve para criar banhas. E as igrejas? Todas elas são faz a Igreja que as outras institui-
Na introdução a este curso ouvi instituições, isto é, edifícios pirami- ções não façam? Não está ela hoje
dizer uma coisa que me fez afitar as dais talhados à imagem de todas a na mesa da presidência, em cada
orelhas: o mundo de hoje está dis- outras instituições deste mundo. inauguração de um novo milagre da
pensando Deus de forma alarmante. Distinguem-se destas apenas por Civilização, abençoando-o e confe-
Porque é exactamente isso que eu usarem o Nome de Jesus como ban- rindo-lhe assim a respeitabilidade de
sinto no ar, no chão, à minha volta, deira. Mas de Jesus fizeram uma que ele necessita para se tornar um
entrando-me por todos os poros, Doutrina, de que se apropriaram, (continua na pág. 7)
itas@iol.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! fraternitas@iol.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento
6. 6 espiral
CASAMENTO, OS PRÓS E OS CONTRAS
A celebração eucarística na pa-
róquia de Stammersdorf mal se di-
ferencia das celebrações nas outras O que é impossível segundo a lei católica romana do celibato, é realidade
aldeias em redor. À primeira vista na paróquia de Stammersdorf em Viena: desde Setembro de 2002
nota-se, quando muito, um grande é um sacerdote greco-católico casado, o padre Georg Papp, que tem
número de crianças. Mas uma ob- a seu cargo a pastoral da comunidade de Stammersdorf. Na realidade,
servação mais atenta permite desco- este padre, que não está sujeito à lei do celibato obrigatório, esteve
brir algo de interessante no sacer- indicado para a vizinha paróquia de S. Cirilo e S. Metódio, cujo pároco
dote: ele usa uma aliança no dedo. teve de deixar o ministério por causa duma relação com uma mulher.
Foi graças à diplomacia do padre Harald Mally, encarregado das duas
O que não é permitido no mundo
paróquias, que se evitou o escândalo total duma freguesia.
católico romano, acontece publica-
mente no 21º bairro de Viena. O car-
deal Schönborn nomeou o padre
Georg Papp, sacerdote greco-cató-
lico casado, para a paróquia de fácil encontrar alguém”, concluía o Padre, marido, pai
Stammersdorf. padre Harald Mally, já que das 660 Os paroquianos de Stam-
Ao princípio o padre Georg Papp paróquias da arquidiocese de Viena mersdorf estão muito satisfeitos com
deveria ir para a vizinha paróquia apenas 480 têm pároco próprio, es- o pároco casado. “O primeiro encon-
de S. Cirilo e S. Metódio, para subs- tando as restantes anexadas. Então tro com a paróquia de Stammersdorf
tituir o padre Marcus Piringer, for- o cardeal Schönborn decidiu nome- foi para mim singular”, diz com ale-
çado a abandonar a paróquia por ter ar para a paróquia de S. Cirilo e S. gria o padre Papp, “senti-me com-
decidido casar. Metódio o padre casado Georg Papp. preendido”.
Segundo as palavras do pároco Para o jovem paroquiano Klaus Com base no trabalho de seu pai,
Harald Mally, responsável pelas pa- Umschaden isso era “uma solução que foi padre em várias comunida-
róquias de Stammersdorf e de S. má. Então obrigam um padre a dei- des rurais da Hungria oriental, ele
Cirilo e S. Metódio, “Piringer não xar o ministério por causa da rela- conhece muito bem o trabalho nas
se considerou vítima do sistema, ção com uma mulher e o sucessor é regiões rurais. A circunstância de o
apresentou a sua saída como uma um homem casado!”. Por sua vez, padre Papp ser também marido e pai
decisão pessoal e as pessoas apreci- Hermine Pelikan diz: “Temos mui- não perturba ninguém em Stam-
aram a sua honestidade”. Todavia, ta dificuldade em entender porque é mersdorf. A primeira prova
os paroquianos de S. Cirilo e S. que “Piri” tem de ir embora pelo fac- confirmativa passou-a ele muito bem
Metódio preferiam manter o seu to de querer casar e, para o substi- pela maneira como assistiu na do-
“Piri”, como afectuosamente lhe tuir, vem um outro com a família. O ença e na morte uma mulher impor-
chamavam, com mulher e filhos, padre Mally terá sentido bem a enor- tante para a comunidade. Diz Robert
acentua energicamente Hermine me necessidade de esclarecer toda a Nebel: “Nestas situações a família
Pelikan. Mas o padre Piringer co- questão”. Consciente do ridículo deve ficar em segundo plano, ele en-
nhecia as consequências do seu duma tal situação, o padre Mally tendeu isso”.
amor e, porque não queria viver em pressionou o cardeal Schönborn a Que a comunidade está primei-
mentira, teve de se despedir da co- colocar o padre Papp exclusivamen- ro, já ele aprendera de seu pai. Tem
munidade. te na paróquia de Stammersdorf. Ele consciência da sua dupla responsa-
Problemas próprio assumiria também a bilidade e conhece também a impor-
Saindo, “Piri” deixou um vazio paroquialidade de S. Cirilo e S. tância da esposa: “No casamento do
que tinha de ser preenchido. “Por Metódio, para o que contava com a padre também a esposa se deve sen-
escassez de pessoal não era nada ajuda dum padre aposentado.
7. espiral 7
A Apostasia habita, à espera de que O deixemos concepção e fosse agora o tempo de
(continuação da pág. 5) comandar este nosso processo de ela verdadeiramente nascer.
morte. Sim, de morte, condição ab- Pelo caminho específico que se-
solutamente necessária para a nos- guimos, já todos nós, os membros
sa Ressurreição, já que ela não acon- da “Fraternitas”, homens e mulhe-
verdadeiro Ídolo de espectacular efi- teceu ainda e terá que acontecer, res, tivemos a oportunidade de sen-
cácia justamente na sua função da conforme Jesus nos quis mostrar tir o peso da Instituição que ajudá-
afastar de Deus até O fazer esque- com a Sua própria Ressurreição, que mos a erguer. Estamos, por isso, em
cer por completo? Vede se não é des- Ele chamou também Renascimento. situação privilegiada para entender-
te modo a nossa Igreja a responsá- Sinto este tempo muito próxi- mos os sinais deste nosso tempo.
vel pela galopante Apostasia que mo. Justamente por causa desta Estou pedindo ao Espírito que nos
está tomando conta dos corações, no indesmentível globalização da coloque em estado de alerta e nos
nosso tempo! Apostasia que, segundo a Escritu- conceda o dom do Discernimento,
Do que precisamos, pois, não ra, deverá preceder o regresso de com a coragem parar agir em con-
é de mais cursos e análises, coisas Jesus. Não, não é o Juízo final; é só formidade.
que nos entretêm a cabeça, mas que o nascimento da Igreja com que sem- Leça do Balio,
não nos atingem o coração, aquele pre sonhámos. Como se a Igreja pri- em 8 de Dezembro de 2003.
nosso núcleo íntimo onde o Espírito mitiva não fosse mais do que a sua Salomão Morgado
tir vocacionada para a sua função de bém o ordinário para a comunidade Lachnit, traduzindo também o que
esposa do padre”. Os candidatos dos fieis greco-católicos na Áustria, sentem muitos daqueles que, mes-
greco-católicos ao sacerdócio só colocou ao todo cinco padres casa- mo hoje, ainda preferiam o padre
podem casar antes da ordenação. Se dos na arquidiocese de Viena. Dado Piringer. Também o seu vizinho de
um potencial candidato não quiser que a diferença entre os dois ritos é mesa, Robert Pelikan, está seguro de
viver celibatário, tem de adiar a or- apenas de natureza formal, basta que a autorização para casar impe-
denação até encontrar a esposa cer- uma autorização da Congregação diria a perda de padres tão bons
ta. O casamento dos padres greco- para a Igreja Oriental para eles po- como Piringer – que era padre de
católicos foi aprovado por Roma nos derem exercer uma actividade bi-ri- corpo e alma.
finais do séc. XVI. “A vida em fa- tual. Consequentemente, o arcebis- Por detrás da estratégia de colo-
mília sacerdotal tem assim uma lon- po de Viena tem, com a aquiescên- car padres casados da Igreja orien-
ga tradição”, diz Georg Papp, “é cia de Roma, a possibilidade nome- tal em comunidades católicas roma-
uma outra vida. Muitos dos filhos ar sacerdotes greco-católicos para nas, Paul Lachnit vislumbra aí a
destas famílias irão ser padres ou comunidades católicas romanas. desorganização do celibato. “Não se
esposas de padres”. O casamento oficial dos padres, pode fazer isso directamente, pois
A falta de padres possibilita que continua vedado aos fieis cató- seria o caos perfeito em toda a par-
isso licos romanos, é, assim, possível aos te. É preciso primeiro infiltrar-se
A prática do rito greco-católico fiéis do rito greco-católico também lentamente, a fim de criar a sensibi-
em Viena tem uma tradição de cer- na Áustria. No entanto, fica em lidade para tais situações”. Enquan-
ca de 200 anos. Já no séc. XVIII a suspenso se a colocação de padres to a Igreja latina estiver agarrada ao
imperatriz Maria Teresa, ao instituir casados é no sentido da manutenção celibato, temos de pensar que ela não
a Fundação de St.ª Bárbara no pri- do celibato. Se uma lei aparentemen- terá interesse em deixá-lo dissolver.
meiro bairro comunal de Viena, te se degrada, há que ter em conta O cardeal Schönborn não se
criou um centro para fieis greco-ca- que uma moral dúplice pode criar disponibilizou para falar à Kirche In
tólicos. Embora não seja habitual a perturbação e revolta: “Porque é que sobre esta questão.
colocação de padres da Igreja ori- pode vir um padre casado e um qua-
ental em paróquias católicas, Georg se casado tem de ir embora? É uma Verena Brandtner
Papp não foi o primeiro. discussão sem fim. Como é que tudo in Kirche In (04/2003),
O cardeal Schönborn, que é tam- isto se conjuga?”, considera Paul pp. 12,13.
8. 8 espiral
O Pa d r e F I L I P E d e F I G U
– breve esboço biográfic
Para exercer no ensino oficial fez o Estágio Pedagó-
gico do grupo 8A, na Escola Secundária Afonso
Domingues em Lisboa, que terminou em 1977, com a
excelente classificação de 16 valores. No ano de 1979
completou duas licenciaturas, uma em História pela Fa-
culdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa,
com a classificação de 15 valores, e outra em Ciências
Literárias, pela Universidade Nova de Lisboa, com a
classificação de 16 valores. Sempre com uma filosofia
Filipe Marques de Figueiredo, filho de Domingos de vida em que “aprender não ocupa lugar”, para uma
Marques de Figueiredo e de Rosa Marques da Silva, formação complementar frequentou um Curso intensi-
nasceu no dia 24 de Agosto de 1926, em Beduído, con- vo de Linguística e um Curso de iniciação à Etnografia
celho de Estarreja. Portuguesa, promovido pelo Centro de Estudos dos Po-
Aluno sempre exemplar, fez os estudos de Humani- vos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universida-
dades nos Seminários do Porto (no Colégio dos Carva- de Católica, em 1984.
lhos 1937-38 e seminário de Trancoso, Vila Nova de Leccionou em vários estabelecimentos de ensino em
Gaia 1937-39), e de Aveiro (1939-42) e Filosofia e Te- Évora, na Escola de Regentes Agrícolas foi professor
ologia no Seminário Maior de Évora, terminando em de Religião e Moral, na Escola do Magistério Primário
1949, com 14 valores. onde foi professor vários anos, na Escola Preparatória
Foi ordenado sacerdote a 26 de Junho de 1949 pelo da Santa Clara deu aulas de Religião e Moral e Portu-
Arcebispo D. Manuel Mendes da Conceição Santos, em guês de 1972 a 1976, na Escola Secundária Gabriel Pe-
Vendas Novas, num barracão de cortiça, celebrando reira em 1974 e 1975. Leccionou no Instituto Superior
Missa Nova em Estarreja, a 24 de Julho. de Teologia em Évora de 1990 a 95. Foi ainda professor
Sendo um Homem, com uma larguíssima experiên- de Português na Escola Preparatória da Portela de
cia, vivência e dinamismo, tem um vastíssimo e admi- Sacavém de 1977 a 79.
rável curriculum. Foi Capelão da Casa Pia de Évora nos anos de 1956
Foi fundador do jornal Promoção; foi Pároco de e 57, Capelão do Lar Ramalho Barahona, em Évora,
Cabeção (Mora) entre Agosto e Setembro de 1949. Nes- desde 1990. Pároco de S. Brás, Évora, de 1984 a 1999,
se mesmo ano começou a leccionar no Seminário Mai- aí fundou o Centro Social e Paroquial de S. Brás. Por
or, cargo que só deixaria em 1990. Foi também director duas vezes foi Delegado Diocesano nos Congressos
espiritual no Seminário Maior. Foi fundador e director Eucarísticos Internacionais, 1990 e 1991. Foi nomeado
de inúmeros movimentos como os Cursos de Cristanda- Cónego da Sé de Évora em 1989.
de, que fundou na Arquidiocese com o padre Dr. Acácio Trabalhador incansável, publicou várias obras: "
Marques; da Obra das Vocações Sacerdotais da CIGANOS: I Jogos Florais Luso-Espanhóis, Évora, 1971;
Arquidiocese de Évora, da qua1 foi director até 1963; Almanaque Cigano, Évora, 1972; Filhos da Estrada e
da Pastoral e Promoção dos Ciganos, desde 1968 e da do Vento, Évora, 1973; " da COLECÇÃO “CRISTO NA TUA
qual, desde 1970, foi Director Nacional. Dentro da VIDA”: Curso “A Igreja no Mundo de Hoje”, 1972; Os
O.N.P.P.C. fundou em 1970 o jornal CARAVANA e do Santos não Morrem: D. Manuel Mendes da Concei-
qual foi seu director; Director Diocesano do Apostola- ção Santos, 1981; " primeiro autor da COLECÇÃO “FI-
do da Oração, desde 1972; foi Director Diocesano das LHOS DO CONCELHO DE ESTARREJA”: A Professora de
Migrações entre 1973 e 1997; fundou o Igreja Eborense Santo Amaro: D. Maria Valente de Almeida, Estarreja,
em 1983; em 1987 funda o Jornal de S. Brás; recente- 1982; D. Francisco Nunes Teixeira: Bodas de Ouro
mente havia igualmente fundado a Fundação Dom Ma- Sacerdotais (testemunhos e escritos), Estarreja, 1983;
nuel Mendes da Conceição Santos. Manuel Pedro Calado e sua Família: Alfobre de Ar-
página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! fraternitas@iol.pt página oficial na Internet: www.geocities.com/fraternitasmovimento ! fraterni
9. espiral 9
UEIREDO A Assembleia Municipal
co –
tistas, Estarreja, 1984; A Obra Literária do Padre
de Évora publicou o
Donaciano de Abreu Freire: I O ESCRITOR, Estarreja, seguinte Voto de Pesar
1985; A Obra Literária do Padre Donaciano de Abreu
Freire: II O ORADOR SAGRADO, Estarreja, 1988; A pelo falecimento do
Obra Literária do Padre Donaciano de Abreu Freire:
III O ORADOR SAGRADO, Estarreja, 1989; O Padre
Cónego Filipe de
Donaciano de Abreu Freire, o Homem e o Padre do Figueiredo
seu Tempo: IV BIOGRAFIA, Estarreja, 1989; D. Ma-
nuel Mendes da Conceição Santos, Fundador das Ser-
vas da Santa Igreja, 1986; A Universidade de Évora e Subscritora:
as Alterações de 1637, Évora, 1988; Religiosidade Po- Deputada Municipal Luísa Baião (PS)
pular, Évora, 1990; Os Padres de Estarreja, Estarreja,
s.d..
Deixou-nos sós o Padre Filipe de
Trabalhava ainda noutras obras para edição: D. Ma-
nuel Ferreira da Silva: O Bispo Missionário; Padre Figueiredo. Aos 77 anos, apesar da obra
Donaciano de Abreu Freire: Conferencista; Subsídios meritória na Paróquia de S. Brás, que era
para a História de Estarreja. sua, que era nossa, nunca tendo
É autor de várias traduções, das quais se destacam, considerado acabadas todas as
na colecção “Cristo na Tua Vida”, Nós, Os Ciganos, de superiores exigências do seu ministério
Juan de Dios Herédia, Vocação Sacerdotal, de em prol do “Homem”.
Baldomero Jimenez, e A Paróquia, Comunidade Emérito o seu trabalho enquanto
Evangelizadora, de Miguel Andres. Secretário Diocesano da Emigração,
Através do Centro Social de S. Brás, promoveu a pu- com especial relevo para a acção
blicação de livros de sonetos do vice-presidente da As- desenvolvida em defesa das minorias
sembleia Geral da LASE, Dr. José Augusto Pinho Neno,
étnicas.
Drª Fernanda Seno e do filho.
Como Sacerdote, dedicado à acção
Participou em inúmeros congressos, normalmente ver-
sando sobre Ciganos. de Deus na Terra, como homem, como
Em 1988 foi merecidamente homenageado com o professor, como missionário e como
troféu “Jornal de Estarreja”, considerando-o a persona- pessoa, fez sempre suas as justas e
lidade que mais se distinguiu no campo das letras, pela mais nobres causas, e o exemplo que foi
publicação da Vida e Obra Literária do Padre Donaciano a sua vida, deverá guiar-nos a todos.
de Abreu Freire, em quatro volumes. Pela perda deste homem, exemplo
É em Estarreja, torrão natal, em tempo de Advento e de fraternidade, disponibilidade e
no seu posto (no final de mais um dia de trabalho inten- dedicação, de que é exemplo a sua
so que culminou numa longa reunião na Câmara Muni- participação no Conselho Municipal de
cipal, em que acabara de assinar um acordo para a cons- Segurança, a Assembleia Municipal de
trução de mais um Lar Familiar da 3ª Idade – Casa de
Évora apresenta publicamente à família
Oração que terá precisamente a designação de Lar de
o seu sentido voto de pesar.
S. Filipe e Centro de Convívio, indo iniciar também,
nesse dia, a direcção de mais um retiro para jovens),
que o P. Filipe foi vítima de doença súbita e fatal. Era o Aprovado por Unanimidade.
dia 28 de Novembro de 2003.
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10. 10 espiral
Padre Filipe!
Que vivas, Padre Filipe!
Nesta hora em que, para dialo- E para terminar, meu caro P. Fi-
por uma sobrevivência que só a fé gar contigo, só com antenas sintoni- lipe, resta-me apenas recordar o que,
pode alimentar e fecundar até para zadas para o sagrado “Além”, man- e como, e quando, tudo começou; e
lá do tempo da nossa peregrinação. da-me a alma que recorde tudo isto, acrescentarem comentário o expres-
Para Unamuno, como já o fora para e o reviva, como quando, discreta- sivo verso de Fernando Pessoa em
César Cantú: “Os poetas são filhos mente, me telefonavas a pedir cola- “Mensagem”: “Todo o começo é
dos deuses”. boração ou opinião e parecer fosse involuntário — Deus é o Agente”.
E enviaste-me um exemplar do sobre o que fosse, e não importa a Ainda um abraço, meu caro Fi-
volume, e precisamente ao começar que hora, a tua ausência sinto-a sau- lipe.
o ano de 1997 — fez agora 7 anos davelmente cheia das melhores
— mas com uma dedicatória exten- vivências em que ambos discreta e Manuel Ferreira da Silva
sa da melhor amizade e apreço que com muito e mútuo apreço de alma in Voz das Misericórdias,
nunca se pode esquecer. partilhávamos. Janeiro de 2004, pg. 14.
O P. FILIPE recordado na imprensa
(continuação da pág. 15) ONPC como um exemplo de dis- A Defesa (2 Dez)
ponibilidade que procurou sempre Morreu o Padre Filipe de
do conhecimento de mais de 40 incutir nos ciganos o amor à Se- Figueiredo
anos que teve deste sacerdote de nhora da Nazaré. Noticia a morte do Cónego Filipe
quem aprendeu “bastante da Na missa de sufrágio na Igreja de Figueiredo, que durante 54 anos
vivência que se deve ter com a Matriz de Beduído, presidida pelo exerceu o ministério sacerdotal na
etnia cigana”. E refere como, há Bispo Auxiliar de Évora, D. Arquidiocese de Évora. Apresenta
40 anos, o P. Filipe se meteu a Amândio Tomás, ficou bem patente a sua biografia destacando o facto
caminho de Fátima com uma gran- o quanto este sacerdote fez de bem de o Pe. Filipe ter criado a Funda-
de caravana de Ciganos. “Por onde pelos mais carenciados. Também ção D. Manuel Mendes da Concei-
andei com a Irmã Zulmira e o Dr. Monsenhor João Gaspar, Vigário ção Santos e os Missionários de
Monteiro, Equipa Nacional da Geral de Aveiro, que representou Cristo Sacerdote, além das obras
Pastoral dos Ciganos, recebi teste- D. António Marcelino, ainda inter- sociais que ajudou a levantar,
munhos que me falam, a cada mo- nado no Hospital de Aveiro, ratifi- como é o caso do Lar de São Pau-
mento, que os ciganos são PESSO- cou este carisma. “O Cón. Filipe lo.
AS e, como tal, devem ser trata- estará junto do cigano Zeferino a
dos”. “Recentemente, na Hungria, interceder ao Pai por aqueles que Adeus Pe. Filipe
pude constatar o grande amor (do não têm eira nem beira. ...O Se- José de Vasconcellos e Sá dá um
P. Filipe) a Nossa Senhora, aos nhor da Messe mandará outros testemunho sobre o Padre Filipe
ciganos. Apesar da sua débil saú- operários para esta seara imensa”. dizendo: “foste para a Família de
de, parecia que as energias lhe uma utilidade e franqueza a roçar
vinham à tona quando se diziam Ecclesia – internet (2 Dez) o divino, foste um irmão, foste,
coisas lindas de ciganos e sentia-se Faleceu o P. Filipe de principalmente, um excelente ami-
triste quando lhe apregoavam coi- Figueiredo, homem de Deus go”.
sas menos boas dos seus irmãos Noticia a morte do P. Filipe de
ciganos”. E define o Director da Figueiredo. in A CARAVANA (28/01/2004)
11. espiral 11
Que vivas, Padre Filipe!
Padre Filipe!
Quem, como tu, morre sem pre- - nas iniciativas que estimulaste, e critas — crónica que, nas minhas
venir, e parte para outro lado da vida, nas quais, sendo o interveniente de andanças por lá com D. Sebastião
que é o mesmo que não morrer — mais validade, sempre optaste por de Resende, tinha publicado, e fo-
valha bem o paradoxo — fica sem- ficar discretamente na sombra; ram o seu “vade-mecum” na sua
pre vivo: - e muito especialmente na “FRA- pastoralidade generosa e muito pes-
- na vocação que viveste; TERNITAS” que com tão genero- soal, como tão de perto vi, vivi,
- na missão que cumpriste; sa alma levaste por diante, esten- apoiei e testemunhei.
- nas largas caminhadas que empre- dendo a mão de salvador de voca- Mestre de ambos nós, o Senhor
endeste; ções que nunca fracassou nos em- Arcebispo de Cízico deixou em ti um
- nas boas obras que espalhaste a preendimentos em que te envolves- virtuoso “fac-símile”, o que permi-
mãos cheias; te. tiu que muitas vezes confidenciasses
- nas mensagens que subscreveste; Aprendeste e herdaste, assim, comigo os teus sonhos, os teus pro-
- nas causas pelas quais tão genero- uma alma sacerdotalmente aberta e blemas, os teus projectos, o teu pro-
samente te bateste. num genuíno ecumenismo de acolhi- jecto em prol de uma causa que so-
E sem fazer barulho, nem preci- mento, do teu e meu grande Amigo nhavas: a recuperação eclesial de
sares de recorrer às trombetas de — que tão generosamente me trata- “Padres Casados”.
uma propaganda alienante. va por Irmão — o Senhor D. Manu- Mobilizaste-me um dia para ir a
O que fizeste fala por si: el Maria Ferreira da Silva, Arcebis- Évora apresentar o maravilhoso li-
- os seminaristas que ajudaste a de- po de Cízico, e que foi um salvador vro de poemas “Cântico vertical” da
cidirem-se; de vocações e sobre o qual me pe- tua grande colaboradora e escritora
- os cursos de Cristandade que ani- diste um dia um testemunho que es- da melhor pena e transparente ins-
maste; crevi longo e denso como mo exigia piração e virtude, Drª Fernanda
- os ciganos a quem te deste como a alma. Seno, e de que foi testemunha o nos-
um profeta da promoção em cida- E dentre todos os que salvou e so comum grande Amigo, General
dãos de direito pleno; promoveu, lembro outro grande Themudo Barata, no nobre Palácio
- os retiros em que meditaste com Amigo, o 1º Bispo de Tete D. Manuel, em Évora, em 1993.
quem neles participou as mais vá- (Moçambique), D. Félix Niza Ri- Mais tarde, quando a Fernanda
lidas verdades e mensagens; beiro, a quem, ainda aluno diocesa- partiu em 1996, subindo a sua cruz
- as peregrinações que empreendes- no de Portalegre, mas no seminário na verticalidade, para ir descansar
te, mostrando que pelos caminhos dos Olivais, o seu Prelado de então antes de ti nos braços de quem a es-
da terra se pode e deve chegar ao ordenou que saísse do seminário. perava no céu, coligiste, e com toda
céu; Sei, entretanto, que também tu a enérgica devoção da tua alma —
- na paroquialidade que exerceste estiveste à beira de ser mandado feita então de saudade e gratidão —
em que ninguém ficou de fora do embora do seminário por “falta de testemunhos vários sobre a Poetisa.
alcance da virtude missionária que bitola para o ofício de padre”, como E não me dispensaste de um comen-
em ti sempre transpareceu; de ti disseram. tário a um pensamento de Unamuno:
- nas páginas que escreveste no teu Deitou-lhe a mão o nosso amigo “Quando alguém reaparece e mere-
“Jornal de S. Brás”, e nos livros — irmão D. Manuel que lhe meteu ce ser lembrado, é porque não mor-
cuja edição apoiaste com a melhor na alma — como a mim o havia de reu inteiramente”.
técnica do centro Social e Cultural fazer — um sonho de missão. Sublinho, agora e a teu respeito,
que criaste em S. Brás, e para a E foi — como eu iria mais tarde este mesmo pensamento do grande
qual me pediste conselho; — para Moçambique, onde foi se- pensador e mestre que em “Agonia
- nos escritos de que outros foram cretário do cardeal D. Teodósio, e do Cristianismo” e “Sentimento Trá-
autores, e cuja edição tu apadri- veio a ser o 1º bispo de Tete, e para gico da Vida”, sublinha a “agonia”
nhaste e estimulaste, e que foram cuja tomada de posse partiu confi- não como uma extinção, mas luta
deleite para o público leitor; ante, pedindo-me informações e es- (continua na pág. anterior)
12. 12 espiral
Rumo à eternidade
Ao AMIGO DE DEUS, Pe. Filipe de Figueiredo
com um “Até breve!” da Teodolinda
Deus deu-te um coração à dimensão do Mundo:
Cordilheiras de Fé!... Himalaias de Amor!...
E a Esperança era, em ti, jardim fecundo,
Onde desabrochava uma Alegria em flor.
Amavas o Senhor, apaixonadamente,
E, por amor de Deus, amavas cada irmão!...
A todos ajudavas... desinteressadamente,
Desde os grandes do mundo, ao párias de exclusão.
Surpreendeu-te a morte em plena actividade,
Trabalhando na Vinha do Senhor
Servindo jovens, anciãos, a Santa Igreja.
Voou tua Alma, rumo à Eternidade!
E, p’ra recebê-la, com hinos de louvor,
Cantam Anjos no Céu, “Bendita seja!...”
Évora, Festa da Imaculada Conceição do ano 2003.
Teodolinda Perdigão
b r e v e s . . .
! Novo “filho”: O nosso Artur Oliveira continua o seu trabalho de lançamento
da semente, de evangelização. E no gosto (e profundo saber e habilidade) de lançar
para os baptizados instrumentos de reflexão, simples mas seguros, lançou há pou-
co um novo livro: Lucas, o Evangelista do Ano C. A sua modéstia leva-o a subtitulá-
lo com “algumas notas de introdução”. A clareza e segurança doutrinal são já
sobejamente nossas conhecidas.
Integra-se na sequência dos anteriores, sobre Mateus e Marcos. Possa ter a divul-
gação que verdadeiramente merece. Também está lá a “mãozinha” da Antonieta.
Parabéns!
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13. espiral 13
Comemoração das Bodas de Ouro Sacerdotais
do Padre Filipe de Figueiredo,
durante o 6º Encontro Nacional do FRATERNITAS,
no dia 30 de Julho de 1999, em Fátima
Senhor Bispo. Celebrava-se o 6º Encontro/Retiro Nacional do
Irmãos, Senhor Cónego Filipe, querido irmão e amigo. FRATERNITAS. Na Eucaristia de encerramento,
presidida pelo Senhor D. Serafim, bispo de Leiria-
Como diria o Pe. António Vieira, o Sr. Cónego “é ho- -Fátima, louvávamos igualmente o Senhor pelas
mem de mais passos do que paço”. Bodas de Ouro Sacerdotais do Irmão Padre Filipe.
Amigo de tudo o que é plano, nasceu e cresceu numa Interpretando os sentimentos de todos, ergueu a voz
planura à beira-mar plantada — a ria de Aveiro. o José Alves Carneiro e deixou falar o coração. Com
Como a Pedro e a André, o Mestre impôs-lhe o abando- o seu texto, apresentamos também duas imagens: a
no dos barcos, que trocou pelos tractores alentejanos. dessa Eucaristia, e a “foto de família”, no final da
Assembleia Geral, ocupando o Pe. Filipe o centro,
como que acolhendo e protegendo a todos...
meira pedra.
Hoje, como então, os acusadores retiram e em cena fica
só o irmão Filipe e os irmãos ciganos, presos, pobres e
padres casados.
Os companheiros de Filipe, despronunciados pelos
fariseus, também não são pronunciados pelo Filipe.
A nós, padres casados, também ele pergunta: “irmãos,
ninguém vos condenou?”
Nós respondemos, irmão, junto de ti e contigo, ninguém
Nesta longa e generosa caminhada foi ao encontro de nos condena; repreende-nos tu, corrige-nos tu, mas leva-
todos, os que todos farisaicamente abandonaram e con- nos no teu tractor, porque a via é longa, a noite é fria, e
denaram. só não vacilarão os nossos passos junto aos teus passos
Ao lado dos passos deste nosso irmão sem paço, há pe- mesmo que não tenham o perfume e o requinte do paço.
gadas de ciganos, de presos, de pobres, de padres que José Alves Carneiro
casaram, de todos os
irmãos da mulher
adúltera, que as pe-
dras farisaicas ame-
açavam de morte e
condenaram à
marginalização e ao
ostracismo. Como o
Mestre da Galileia, o
nosso mestre de
Aveiro desarma os
acusadores, convi-
dando os sem peca-
do a atirarem a pri-
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14. 14 espiral
O P. FILIPE recordado na imprensa
A Defesa (14 Jan) director desde o início, refere que neiro. D. Maurílio agradeceu a
Que vivas Padre Filipe! “o seu exemplo de incansável Deus Pai o dom da vida e do mi-
Publica o testemunho do Dr. Ma- obreiro da messe do Senhor é um nistério presbiteral do Cónego
nuel Ferreira da Silva, publicado poema doce atirado à memória do Filipe.
na ‘Voz das Misericórdias’ (texto tempo e da história”.
incluído no nosso boletim). “— Ainda não sabes? Morreu
Um coração de Apóstolo o nosso amigo!?!”
Voz das Misericórdias (Jan) “O Senhor acaba de chamar a Si O Dr. João Canha dá o seu teste-
Que vivas Padre Filipe! mais um querido membro do nosso munho sobre como acompanhou a
(texto incluído no nosso boletim). presbitério, cónego desta Sé e ge- notícia do falecimento do Pe. Fili-
neroso pastor da nossa pe nos “locais do teu universo. Foi
Nevi Yag (Dez) (Fogo Novo, ór- Arquidiocese: o Cónego Filipe uma peregrinação de afectos”
gão do CCIT (Comité Católico Marques de Figueiredo.” Estas ...que testemunhou “que deixaste a
Internacional para os Ciganos) foram palavras de D. Maurílio de fé na ressurreição como herança
IN MEMORIAM Gouveia, Arcebispo de Évora, maior, consolidada.”
Noticia o falecimento do Cónego quando presidia à Missa de Sufrá- O autor narra alguns dos muitos
Filipe de Figueiredo, um grande gio pelo Cónego Filipe de momentos que viveu com o Pe.
amigo dos Ciganos e do CCIT. Figueiredo. O Cónego Filipe, fri- Filipe e refere: “outras vezes cho-
“Tinha assistido , pela primeira sou, deixou-nos “um exemplo ad- rámos juntos a alegria do perdão.”
vez, ao Encontro internacional do mirável de padre diocesano, um Relata o testemunho da cigana
CCIT em Anvers, em 1983. ...” ministério da maior importância, Vera que “disse que enquanto pu-
“Nós guardamos, deste homem embora nem sempre compreendido deram contar contigo podiam con-
bom, a lembrança de um rosto com não só por parte da sociedade, tar com um pai, defensor
um sorriso discreto, com uma Fé mas, às vezes, até em sectores da devotadamente dedicado.” “Recor-
serena e inquebrantável e com uma própria comunidade eclesial”. do as preocupações que partilhaste
imensa vontade de serviço. ... O D. Maurílio destacou algumas das comigo, nos nossos dois últimos
que irradiava, porque era sereno, múltiplas iniciativas e actividades encontros.” “Deus em ti manifesta-
era profundo.” exercidas pelo Cónego Filipe, no- rá, uma vez mais, a sua santidade.
O CCIT apresenta as suas condo- meadamente, como “educador nos ...Obrigado Filipe!”
lências comovidas à ONPC e aos seminários, promotor do apostola-
seus amigos. “O Pe. Filipe está do dos leigos, animador da pasto- “Beati mortui qui in Domino
agora na plenitude da Fé de que ral das vocações. Fundou institui- moriuntur: Opera enim
enriqueceu a sua vida e também a ções de carácter social, apostólico illorum sequuntur illos!” (Ap.
de muitos!” e espiritual; foi jornalista e escri- 14, 13)
tor.” O Pe. José Augusto Pedroza da
Definiu-o como um “padre profun- Silva recorda “muitas páginas da
Jornal de S. Brás (Dez) damente apostólico. Sentia-se nele
Páscoa do Cónego Filipe de minha vida onde o seu nome está
um forte apelo interior a responder gravado para sempre.” “Amigo
Figueiredo à urgência da evangelização e a
Noticia o falecimento inesperado dos pobres, dos ciganos, dos sacer-
dar um testemunho efectivo de dotes em dificuldades, dos padres
do Padre Filipe de Figueiredo, amor e serviço aos homens, em
dando especial destaque à fé in- que deixaram o exercício do minis-
particular, aos mais carenciados”. tério, das crianças desfavorecidas,
quebrantável e à vasta experiência E acrescenta que o Cónego Filipe
deste sacerdote da Arquidiocese de dos jovens, nomeadamente do
ficará conhecido como o “Padre JAAI 2000, dos idosos mais aban-
Évora. O Jornal de S. Brás, de dos Ciganos”, campo onde foi pio-
quem o Padre Filipe foi fundador e
15. espiral 15
Faleceu o P. Filipe de Figueiredo, homem de Deus
Instituto Superior de Teologia de O P. Filipe tinha 77 anos quan- Amândio e na Igreja Paroquial de
Évora. O P. Filipe foi ainda Profes- do o Senhor, no seu Amor infinito, S. Tiago de Beduído (Estarreja). No
sor do Magistério Primário, Prefei- decidiu fazê-lo participante da sua dia 5 de Dezembro foi celebrada
to e Professor da Escola de Regen- glória. Missa pelo P. Filipe na Conferência
tes Agrícolas. Director de “Igreja As Exéquias foram presididas Episcopal Portuguesa (CEP), tendo
Eborense, Boletim de Cultura e pelo Sr. D. Amândio José Tomás, presidido o Sr. D. Januário Torgal
Vida da Arquidiocese de Évora”, o Bispo Auxiliar de Évora. No dia 4 Ferreira, Presidente da Comissão
P. Filipe era autor de uma extensa de Dezembro foram celebradas Mis- Episcopal das Migrações e Turismo
bibliografia de que se destaca a co- sas do 7º Dia, na Sé Catedral de e concelebrado o Sr. D. Tomás da
lecção “Filhos do Concelho de Évora, tendo presidido o Sr. D. Silva Nunes, Secretário da CEP.
Estarreja” e a obra sobre o Pe. Maurílio de Gouveia, Arcebispo de
Donaciano de Abreu Freire. Évora e concelebrado o Sr. D. Francisco Sousa Monteiro
dirigido pelo Cónego Filipe de nos
Figueiredo, referindo que este sa- “Um homem que esteve sempre no
donados.” “Amante da Eucaristia”
cerdote era “uma pessoa com idei- curso do sentido da Igreja “. Com
e “devoto insigne da Virgem Ma-
as bem delineadas, valores bem modéstia, o Cónego Filipe de
ria”, refere o autor sobre o Pe.
definidos e, acima de tudo, com um Figueiredo vivia atrás do palco.
Filipe e nomeia as comunidades
grande coração e um profundo “Escrevia e ensaiava as peças ...
paroquiais alentejanas em que o
sentido de solidariedade”. depois retirava-se”. “Amou mui-
Pe. Filipe é lembrado com sauda-
tos... aqueles que publicamente
de. “Certamente, o Céu do Sr. Có-
Missionários de Cristo Sacerdo- não dava jeito amar”. Foi deste
nego Filipe não será um “eterno
te - Suplemento especial do Jornal modo que D. Januário Torgal Fer-
descanso”... O seu dinamismo e
de S. Brás (Dez) reira se referiu ao Cónego Filipe
empenho... há-de avançar naqueles
É um número especial todo dedica- de Figueiredo quando presidia à
que aprenderam com ele tantas
do ao Cónego Filipe onde são apre- celebração da Eucaristia de 7º dia,
lições de ardor apostólico”... “Ele
sentados alguns testemunhos de pes- nas instalações da Conferência
próprio, do Céu, vai, seguramente,
soas que conviveram com ele e tre- Episcopal Portuguesa. Ao referir-
insistir na inspiração das obras
chos de uma rubrica que escrevia no se ao Director da Obra Nacional
que aqui deixou”. “Tenho-te sem-
Jornal de S. Brás, intitulada “Carta da Pastoral dos Ciganos (ONPC),
pre muito presente no altar e no
Aberta – Mensagem de Esperança”. o Prelado enalteceu o trabalho que
coração!” dizia o Pe. Filipe. “Que
O Suplemento acentua que “a sere- realizou junto dos ciganos e tam-
mais podemos esperar?”
nidade e o bom acolhimento que, bém na Associação Fraternitas,
para com todos manifestava eram onde revelou sempre proximidade
A Caravana dos padres dispensados do exercí-
sinal de que Cristo estava nele”.
Faleceu o P. Filipe de cio do seu ministério e suas espo-
“Obrigado Senhor Cónego Filipe
Figueiredo, homem de Deus sas.
pelo muito que tivemos a graça de
Texto do Francisco Sousa
aprender, pelo testemunho de vida
Monteiro (em substância o da últi-
que nos deu... Eternamente agrade- Correio do Vouga (3 Dez)
ma página deste número).
cidos ao SENHOR por o ter coloca- Morreu o Cónego Filipe,
do como Pastor das nossas almas”, apóstolo dos ciganos há
Folha de São Paulo - Suplemen- escreve M. F. F. A.. meio século
to do Jornal de S. Brás (Dez) Daniel Rodrigues noticia a morte
Finou-se rapidamente do Cón. Filipe de Figueiredo e fala
Ecclesia (9 Dez)
Apresenta o testemunho do Centro
O homem que amou os ciga-
Social de São Paulo, fundado e (continua na pág. 10)
16. Faleceu o P. Filipe de Figueiredo, homem de Deus
Ao princípio da noite de 28 de Conceição Santos (santo Arcebis-
Novembro de 2003 faleceu o Cóne- po de Évora que o havia ordenado)
go Dr. Filipe Marques de e da Liga dos Amigos da mesma
Figueiredo, homem de Deus. No iní- Fundação. A Fundação dispõe ac-
cio do Advento, o Senhor que sem- tualmente de dois Lares e um Cen-
pre esteve no coração do P. Filipe, tro Infantil em Évora, de um Centro
quis chamá-lo a entrar “no gozo do para Acolhimento de Mulheres Mal-
seu senhor” (Mt 25,21). Agora, no tratadas e Mães Solteiras e de um
coração de Deus, a partilhar a sua Centro para formação de jovens,
glória para sempre, a grande obra ambos em fase de projecto, em
do P. Filipe passou a ser interceder amigo, profundamente humano e de Elvas, de uma Residência Familiar
por nós para que o imitemos a viver uma espiritualidade genuína que se e de um Lar (este projectado) em
de tal forma que, tal como ele, ter- comunicava naturalmente. Fátima e de um Lar Familiar —
minemos os nossos dias “de pé di- Desde 1994 o P. Filipe era o Casa de Oração em Reguengos de
ante do Filho do Homem” (Lc 21,36; Director da Obra Nacional da Pas- Monsaraz.
Evangelho da Missa do 1º Domin- toral dos Ciganos, instituição da O P. Filipe foi o Fundador e era
go do Advento que foi rezado na Conferência Episcopal Portuguesa, o Assistente espiritual: dos Missio-
Missa das Exéquias do P. Filipe, na de que fora o primeiro Director des- nários de Cristo Sacerdote, Asso-
Igreja de S. Tiago de Beduído onde de 1972 até 1978. Nesta qualidade ciação dedicada à espiritualidade e
fora baptizado e paróquia onde nas- e na de Responsável pelo Secretari- à oração pelas vocações sacerdotais
cera). ado Diocesano da Pastoral dos Ci- e pelos sacerdotes; dos Missioná-
O P. Filipe foi vítima de doença ganos de Évora, o P. Filipe dedicou- rios de Cristo Bom Pastor, Asso-
súbita, no final de mais um dia de -se de alma e coração à evangeliza- ciação com a mesma finalidade da
trabalho intenso que culminou numa ção e ao desenvolvimento social da anterior, composta por sacerdotes e
longa reunião na Câmara Municipal população de etnia cigana, merecen- dos Jovens em Acção Apostólica
de Estarreja, sua terra natal, em que do referência especial as peregrina- da Imaculada em Ordem ao Ano
acabara de assinar um acordo para ções nacionais e internacionais de 2000 (JAAI 2000).
a construção de mais um Lar Fami- ciganos aos Santuários de Nossa O P. Filipe foi o Fundador e era
liar da 3ª Idade — Casa de Oração Senhora em Fátima e em Vila Viço- o Assistente espiritual da Associa-
que terá precisamente a designação sa e também a Roma em 1997, por ção FRATERNITAS Movimento,
de Lar de S. Filipe e Centro de Con- ocasião da Beatificação do Beato constituída por Padres dispensados
vívio. Iria iniciar também, nesse dia, (cigano) Zeferino Giménez (El do exercício do Ministério e pelas
a direcção de mais um retiro para Pelé) e do Jubileu do ano 2000 e a suas esposas.
jovens, em Estarreja. Deixou duas conhecida Exposição Internacional Além de Membro do Cabido da
irmãs e outros familiares, entre os de Cultura Cigana (EXPOCIG), em Arquidiocese de Évora, o P. Filipe
quais as sobrinhas Sofia e Rossana Lisboa, em 1998. O P. Filipe era o foi Pároco de São Brás, em Évora e
que já colaboravam com ele nas Director do jornal A CARAVANA. era o Director do Centro Social de
múltiplas obras que criou, na sua O P. Filipe que há quatro anos S. Paulo e do Jornal de S. Brás.
total dedicação à Igreja. Deixou completara 50 anos de sacerdócio, Na Arquidiocese de Évora, o P.
igualmente numerosos amigos que era o Fundador e Presidente da Fun- Filipe tinha sido Fundador e Direc-
o reconhecem como homem bom, dação D. Manuel Mendes da tor da Obra das Vocações Sacerdo-
boletim da tais, Director dos Cursos de Cristan-
espiral associação fraternitas movimento dade, Director espiritual do Semi-
Rua Lourinha, 429 - Hab 2 = 4435-310 RIO TINTO
nário Maior, Professor de Antropo-
Responsável: Alberto Osório de Castro
logia Cultural e Evangelização no
e-mail: a-osorio-c@clix.pt
Nº 13/4 - Outº.2003 a Março.2004
(continua na pág. 15)