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ESPECIAL
ConfinamentoConfinamento
80 DBO agosto 2017
Cada um no
seu quadrado
Renato Villela
renato.villela@revistadbo.com.br
D
ois bois se encaram e reclinam o pescoço até ficar
cabeça a cabeça. Como se desejassem medir forças,
iniciam um duelo, cada qual tentando empurrar seu
oponente para trás. No meio do caminho, a cerca convencio-
nal que os separa vai ao chão. Fios de arame arrebentados,
lascas quebradas, lotes misturados. O produtor Thiago Vilas
Boas, da Fazenda Aurora, em Itaberaí, GO, cidade distante
90 km da capital Goiânia, cansou de ver essa cena se repe-
tir em seu confinamento, que tem capacidade estática para
4.500 bois. Ao todo, são 23 piquetes de engorda, dispostos
lado a lado. Como a maior parte dos bovinos confinados é
de machos inteiros, as brigas dentro do lote e entre lotes vi-
zinhos eram frequentes. “Tive muitos problemas com bois
que varavam cercas ou quebravam a perna enroscando-se
nos fios de arame. Era uma confusão”, conta o confinador.
Para conter o estrago causado pelos altos níveis de tes-
tosterona, no ano passado Vilas Boas decidiu trocar a cerca
convencional dos piquetes pela elétrica. A adoção da tecno-
logia, pouco comum nesse sistema de produção, vem cres-
cendo ano a ano. “Não me vejo mais construindo currais
de confinamento sem cercas eletrificadas”, afirma. Segundo
o confinador, o fim dos confrontos entre os bois de pique-
tes vizinhos não foi o único benefício trazido pela medida.
“Agora posso colocar fêmeas ao lado de machos que eles
não forçam mais a cerca tentando mudar de curral”. Até
mesmo as brigas dentro dos lotes de animais inteiros arrefe-
ceram. “Acredito que seja porque a noção de espaço dimi-
nuiu, pois os bois ‘sabem’ que, se chegarem perto da cerca,
tomam choque”. A condução do gado para o curral de ma-
nejo também está mais ordenada. “Antes, os bois seguiam
amontoados pelo corredor. Agora, caminham praticamente
em fila, distantes meio metro da cerca”.
Estrutura leve
Cercas elétricas não se caracterizam pela robustez.Aliás,
essa é uma das premissas da tecnologia, que tem na economia
de materiais seu principal argumento. “A resistência física é
o que menos importa, porque o choque é o que efetivamente
segura os animais”, explica Sérgio Dornelles, da Tecnoverde
Soluções, de Alegrete, RS. Vilas Boas, no entanto, preferiu
manter a estrutura que já tinha nos currais, com lascas es-
paçadas a cada 2 m. “Deixei a cerca mais robusta para que
o boi pudesse visualizá-la melhor”, justifica o confinador. O
técnico da Tru-test, Guilherme Gomes Garcés, que atua em
Goiás/Tocantins e foi o responsável pela montagem do pro-
jeto da Fazenda Aurora, garante, no entanto, que é perfeita-
mente possível trabalhar com espaçamentos maiores. “Tenho
clientes que constroem cercas elétricas de confinamento com
três a cinco metros entre lascas”, diz.
Normalmente, essas cercas são compostas por cin-
co fios, com eletrificação de apenas um (o terceiro). Eles
são espaçados 25 cm entre si, o que facilita a emissão do
choque, quando o animal encosta simultaneamente no fio
positivo (eletrificado) e no negativo, mas também cria um
problema. Com um espaço tão curto entre os fios, ocorre
o que os especialistas chamam de indução eletromagné-
tica, que consiste no surgimento de uma corrente elétrica
nas proximidades do condutor, no caso, o fio eletrificado
que “transfere” a eletricidade para os negativos. Trocando
em miúdos: ocorre “fuga de energia” da cerca. Para evitar
que isso aconteça, Garcés interliga todos os cinco fios no
final de cada cerca com um pedaço de arame, fazendo, des-
te modo, a ligação com o aterramento, que é conectado ao
último fio (veja foto da pág. 82). “Quanto menos indução
tiver a cerca, mais potente é o choque”, explica.
Uso da cerca elétrica nos currais do confinamento
impõe respeito, inibe brigas entre bois de currais
vizinhos e impede mistura de lotes.
Cerca elétrica na divisa dos currais: fim das brigas
e da mistura de lotes.
Fotos:BrunoRibeirodeOliveira
ESPECIAL
ConfinamentoConfinamento
82 DBO agosto 2017
Uma das dúvidas frequentes dos produtores é se o fio
eletrificado pode passar sobre o bebedouro, que normal-
mente fica na divisa da cerca, servindo a dois piquetes. O
receio é de que os animais, condicionados pela “contenção
psicológica” a não se aproximar da cerca elétrica, deixem
de usar o bebedouro. Como mostrou reportagem de DBO
no Especial de Instalações de maio de 2016, o gado bebe
água normalmente, se o bebedouro tiver tamanho adequa-
do e houver distância suficiente entre o animal e o fio ele-
trificado quando ele for beber água. Se levar choque, não
se aproximará mais do local. No confinamento da Fazenda
Aurora, os bebedouros são divididos pelos três primeiros
fios da cerca, sendo o último eletrificado. Por precaução,
Vilas Boas decidiu revesti-los com mangueirinhas plásticas,
destas utilizadas como isoladores nas estacas.
Outro cuidado tomado pelo confinador foi substituir
todos os fios por tábuas de madeira, no lance da cerca pró-
ximo ao cocho. “É muito comum um boi empurrar o que
está ao lado com a cabeça quando está se alimentando.
Se o animal toma choque, não se aproxima mais daquela
região e eu perco um pedação da linha de cocho”, explica.
Nesse lance perto do cocho, que mede 2 m (espaçamento
entre as lascas), Vilas Boas colocou três tábuas de madeira
dispostas em paralelo, como se fosse uma continuidade
da cerca. A medida não é eficaz apenas para deixar o gado
mais à vontade para comer, mas também para garantir a
integridade da instalação e a própria segurança dos ani-
mais no curral. “Quando um boi empurra outro, muitas
vezes acontece de um fio arrebentar, uma estaca partir ou
o animal enfiar a pata no meio da cerca, correndo o risco
de quebrá-la”, afirma.
Cuidados com a cerca
Como se faz para passar o choque de um curral para
o outro? Evidentemente, o fio eletrificado não pode per-
correr a linha de cocho, pois eventuais choques inibiriam
o acesso dos animais à comida. A eletricidade é transmi-
tida para o piquete adjacente pelo lado oposto, na parte
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ída do gado. Para que o fio conduza a eletricidade até
o piquete vizinho, são empregados cabos subterrâneos,
instalados debaixo da porteira. O uso de varões, prática
bastante comum, deve ser evitada. “Fios suspensos a de-
terminada altura a céu aberto funcionam como ‘antenas’,
atraindo descargas elétricas”, adverte Guilherme Garcés.
A conexão entre o cabo subterrâneo e o fio eletrificado
da cerca de cada um dos currais é feita por meio de gram-
pos conectores, jamais pelo fio da cerca. “Não se deve
‘torcer’ o arame porque isso quebra a galvanização, o
que favorece a ferrugem e, consequentemente, dificulta a
passagem do choque”, explica.
Outro aspecto que merece atenção especial é o ater-
ramento, feito com hastes de cobre ou galvanizadas, de
2,4 m de comprimento. O número de hastes necessárias é
calculado de acordo com a potência do eletrificador, cuja
compra deve ser feita com base em joules (unidade de po-
tência), e não em quilometragem. A orientação de especia-
listas é de 1 jaule de potência “liberada” para cada 5 km de
cerca. “O aterramento deve ter, pelo menos, três hastes, in-
dependentemente da potência do eletrificador. A partir daí,
a regra é acrescentar uma haste para cada joule liberado”,
explica Garcés. Como a seca na região é bastante severa,
a Fazenda Aurora optou por instalar um número maior de
O produtor
Thiago
Vilas Boas
segura o fio
eletrificado,
isolado pela
mangueirinha
plástica, que
passa sobre o
bebedouro.
O técnico
Guilherme
Garcés
mostra
como os fios
devem ser
interligados
para fazer o
aterramento
da cerca.
ESPECIAL
ConfinamentoConfinamento
84 DBO agosto 2017
hastes. Além das três que compõem o aterramento princi-
pal, foram colocadas mais quatro na área dos bebedouros,
uma próxima à horta ao lado da casa de um funcionário,
onde os aspersores estão sempre ligados, e uma última
haste no dreno da caixa d`água.
“Quanto mais hastes, melhor o aterramento”, afirma
Garcés. A função do dispositivo, onde está ligado o “fio
terra”, é proporcionar um “caminho” de escoamento para
descargas elétricas. O choque nada mais é do que o per-
curso da corrente elétrica de uma fonte – fio eletrificado
– até a terra, passando pelo corpo do animal. Quando o
solo é arenoso ou está muito seco – no caso de regiões
onde a estiagem é prolongada – o terreno é mau condutor
de eletricidade, prejudicando, assim, o trajeto da corrente
elétrica, o que se traduz num choque de baixa intensidade,
muitas vezes insuficiente para afugentar o animal. Nessas
condições, se justifica a presença de mais hastes de ater-
ramento. Garcés, no entanto, lembra que de nada adianta
espalhar as hastes aleatoriamente pela fazenda. “É preciso
escolher locais que, no pico da seca, tenham umidade, que
é boa condutora de eletricidade”. 	 n
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 02/08/2017 14:51:19
Detalhe da cerca
de tábua de
madeira, cuja
função é evitar
que animais
tomem choque
próximo ao cocho.

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Especial confinamento cerca elétrica

  • 1. ESPECIAL ConfinamentoConfinamento 80 DBO agosto 2017 Cada um no seu quadrado Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br D ois bois se encaram e reclinam o pescoço até ficar cabeça a cabeça. Como se desejassem medir forças, iniciam um duelo, cada qual tentando empurrar seu oponente para trás. No meio do caminho, a cerca convencio- nal que os separa vai ao chão. Fios de arame arrebentados, lascas quebradas, lotes misturados. O produtor Thiago Vilas Boas, da Fazenda Aurora, em Itaberaí, GO, cidade distante 90 km da capital Goiânia, cansou de ver essa cena se repe- tir em seu confinamento, que tem capacidade estática para 4.500 bois. Ao todo, são 23 piquetes de engorda, dispostos lado a lado. Como a maior parte dos bovinos confinados é de machos inteiros, as brigas dentro do lote e entre lotes vi- zinhos eram frequentes. “Tive muitos problemas com bois que varavam cercas ou quebravam a perna enroscando-se nos fios de arame. Era uma confusão”, conta o confinador. Para conter o estrago causado pelos altos níveis de tes- tosterona, no ano passado Vilas Boas decidiu trocar a cerca convencional dos piquetes pela elétrica. A adoção da tecno- logia, pouco comum nesse sistema de produção, vem cres- cendo ano a ano. “Não me vejo mais construindo currais de confinamento sem cercas eletrificadas”, afirma. Segundo o confinador, o fim dos confrontos entre os bois de pique- tes vizinhos não foi o único benefício trazido pela medida. “Agora posso colocar fêmeas ao lado de machos que eles não forçam mais a cerca tentando mudar de curral”. Até mesmo as brigas dentro dos lotes de animais inteiros arrefe- ceram. “Acredito que seja porque a noção de espaço dimi- nuiu, pois os bois ‘sabem’ que, se chegarem perto da cerca, tomam choque”. A condução do gado para o curral de ma- nejo também está mais ordenada. “Antes, os bois seguiam amontoados pelo corredor. Agora, caminham praticamente em fila, distantes meio metro da cerca”. Estrutura leve Cercas elétricas não se caracterizam pela robustez.Aliás, essa é uma das premissas da tecnologia, que tem na economia de materiais seu principal argumento. “A resistência física é o que menos importa, porque o choque é o que efetivamente segura os animais”, explica Sérgio Dornelles, da Tecnoverde Soluções, de Alegrete, RS. Vilas Boas, no entanto, preferiu manter a estrutura que já tinha nos currais, com lascas es- paçadas a cada 2 m. “Deixei a cerca mais robusta para que o boi pudesse visualizá-la melhor”, justifica o confinador. O técnico da Tru-test, Guilherme Gomes Garcés, que atua em Goiás/Tocantins e foi o responsável pela montagem do pro- jeto da Fazenda Aurora, garante, no entanto, que é perfeita- mente possível trabalhar com espaçamentos maiores. “Tenho clientes que constroem cercas elétricas de confinamento com três a cinco metros entre lascas”, diz. Normalmente, essas cercas são compostas por cin- co fios, com eletrificação de apenas um (o terceiro). Eles são espaçados 25 cm entre si, o que facilita a emissão do choque, quando o animal encosta simultaneamente no fio positivo (eletrificado) e no negativo, mas também cria um problema. Com um espaço tão curto entre os fios, ocorre o que os especialistas chamam de indução eletromagné- tica, que consiste no surgimento de uma corrente elétrica nas proximidades do condutor, no caso, o fio eletrificado que “transfere” a eletricidade para os negativos. Trocando em miúdos: ocorre “fuga de energia” da cerca. Para evitar que isso aconteça, Garcés interliga todos os cinco fios no final de cada cerca com um pedaço de arame, fazendo, des- te modo, a ligação com o aterramento, que é conectado ao último fio (veja foto da pág. 82). “Quanto menos indução tiver a cerca, mais potente é o choque”, explica. Uso da cerca elétrica nos currais do confinamento impõe respeito, inibe brigas entre bois de currais vizinhos e impede mistura de lotes. Cerca elétrica na divisa dos currais: fim das brigas e da mistura de lotes. Fotos:BrunoRibeirodeOliveira
  • 2. ESPECIAL ConfinamentoConfinamento 82 DBO agosto 2017 Uma das dúvidas frequentes dos produtores é se o fio eletrificado pode passar sobre o bebedouro, que normal- mente fica na divisa da cerca, servindo a dois piquetes. O receio é de que os animais, condicionados pela “contenção psicológica” a não se aproximar da cerca elétrica, deixem de usar o bebedouro. Como mostrou reportagem de DBO no Especial de Instalações de maio de 2016, o gado bebe água normalmente, se o bebedouro tiver tamanho adequa- do e houver distância suficiente entre o animal e o fio ele- trificado quando ele for beber água. Se levar choque, não se aproximará mais do local. No confinamento da Fazenda Aurora, os bebedouros são divididos pelos três primeiros fios da cerca, sendo o último eletrificado. Por precaução, Vilas Boas decidiu revesti-los com mangueirinhas plásticas, destas utilizadas como isoladores nas estacas. Outro cuidado tomado pelo confinador foi substituir todos os fios por tábuas de madeira, no lance da cerca pró- ximo ao cocho. “É muito comum um boi empurrar o que está ao lado com a cabeça quando está se alimentando. Se o animal toma choque, não se aproxima mais daquela região e eu perco um pedação da linha de cocho”, explica. Nesse lance perto do cocho, que mede 2 m (espaçamento entre as lascas), Vilas Boas colocou três tábuas de madeira dispostas em paralelo, como se fosse uma continuidade da cerca. A medida não é eficaz apenas para deixar o gado mais à vontade para comer, mas também para garantir a integridade da instalação e a própria segurança dos ani- mais no curral. “Quando um boi empurra outro, muitas vezes acontece de um fio arrebentar, uma estaca partir ou o animal enfiar a pata no meio da cerca, correndo o risco de quebrá-la”, afirma. Cuidados com a cerca Como se faz para passar o choque de um curral para o outro? Evidentemente, o fio eletrificado não pode per- correr a linha de cocho, pois eventuais choques inibiriam o acesso dos animais à comida. A eletricidade é transmi- tida para o piquete adjacente pelo lado oposto, na parte de trás do curral, onde fica a porteira de entrada e sa- ída do gado. Para que o fio conduza a eletricidade até o piquete vizinho, são empregados cabos subterrâneos, instalados debaixo da porteira. O uso de varões, prática bastante comum, deve ser evitada. “Fios suspensos a de- terminada altura a céu aberto funcionam como ‘antenas’, atraindo descargas elétricas”, adverte Guilherme Garcés. A conexão entre o cabo subterrâneo e o fio eletrificado da cerca de cada um dos currais é feita por meio de gram- pos conectores, jamais pelo fio da cerca. “Não se deve ‘torcer’ o arame porque isso quebra a galvanização, o que favorece a ferrugem e, consequentemente, dificulta a passagem do choque”, explica. Outro aspecto que merece atenção especial é o ater- ramento, feito com hastes de cobre ou galvanizadas, de 2,4 m de comprimento. O número de hastes necessárias é calculado de acordo com a potência do eletrificador, cuja compra deve ser feita com base em joules (unidade de po- tência), e não em quilometragem. A orientação de especia- listas é de 1 jaule de potência “liberada” para cada 5 km de cerca. “O aterramento deve ter, pelo menos, três hastes, in- dependentemente da potência do eletrificador. A partir daí, a regra é acrescentar uma haste para cada joule liberado”, explica Garcés. Como a seca na região é bastante severa, a Fazenda Aurora optou por instalar um número maior de O produtor Thiago Vilas Boas segura o fio eletrificado, isolado pela mangueirinha plástica, que passa sobre o bebedouro. O técnico Guilherme Garcés mostra como os fios devem ser interligados para fazer o aterramento da cerca.
  • 3. ESPECIAL ConfinamentoConfinamento 84 DBO agosto 2017 hastes. Além das três que compõem o aterramento princi- pal, foram colocadas mais quatro na área dos bebedouros, uma próxima à horta ao lado da casa de um funcionário, onde os aspersores estão sempre ligados, e uma última haste no dreno da caixa d`água. “Quanto mais hastes, melhor o aterramento”, afirma Garcés. A função do dispositivo, onde está ligado o “fio terra”, é proporcionar um “caminho” de escoamento para descargas elétricas. O choque nada mais é do que o per- curso da corrente elétrica de uma fonte – fio eletrificado – até a terra, passando pelo corpo do animal. Quando o solo é arenoso ou está muito seco – no caso de regiões onde a estiagem é prolongada – o terreno é mau condutor de eletricidade, prejudicando, assim, o trajeto da corrente elétrica, o que se traduz num choque de baixa intensidade, muitas vezes insuficiente para afugentar o animal. Nessas condições, se justifica a presença de mais hastes de ater- ramento. Garcés, no entanto, lembra que de nada adianta espalhar as hastes aleatoriamente pela fazenda. “É preciso escolher locais que, no pico da seca, tenham umidade, que é boa condutora de eletricidade”. n C M Y CM MY CY CMY K gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 02/08/2017 14:51:19 Detalhe da cerca de tábua de madeira, cuja função é evitar que animais tomem choque próximo ao cocho.