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Mapa dos módulos da Fazenda São
Francisco do Barreiro, SP
Layout de rotacionado
pede planejamento
DBO maio 2018 75
ESPECIAL
Instalações
e Equipamentos
Renato Villela
renato.villela@revistadbo.com.br
N
a hora de escolher o layout (desenho) dos mó-
dulos de pastejo rotacionado é preciso deixar de
lado preferências pessoais e se guiar por critérios
técnicos. No Brasil, predominam dois modelos básicos,
com suas diversas variáveis: o tipo pizza, no qual todos
os piquetes convergem para uma área de lazer central, e
o formato com corredor interno. Nenhum deles constitue
figuras geométricas exatas, pois se ajustam às condições
Fazenda em Jaú, SP, criou modelo adaptado à topografia declivosa
para evitar erosão. Desenho pode deve respeitar condições locais.
pré-existentes nas fazendas. Como faltam estudos compa-
rativos entre os vários layouts, é difícil afirmar, com segu-
rança, qual versão garante melhor desempenho animal. O
conhecimento que se tem é fruto da experiência de con-
sultores, que se debruçam sobre algumas variáveis, como
a topografia, a estratégia de suplementação adotada e o
sistema de produção da fazenda (cria, recria ou engorda)
para desenhar não o melhor, mas o mais adequado mo-
delo de rotacionado para determinada condição, sabendo
que ele, inevitavelmente, terá vantagens e desvantagens.
O produtor Jorge Sidney Atalla Júnior, proprietário
da Fazenda São Francisco do Barreiro, no município de
Jaú, distante 296 km de São Paulo, sempre trabalhou
com rotacionados do tipo pizza nas propriedades da fa-
mília. Em algumas delas, no entanto, a topografia mais
acentuada trouxe empecilhos ao formato. Como a área de
lazer dos módulos ficava em pontos mais baixos, a água
da chuva causava erosão. Além disso, havia maior pres-
são de pastejo na extremidade afunilada dos piquetes – “a
ponta das fatias da pizza” _, que converge para a praça de
alimentação. Ela sofria pisoteio mais intenso, por causa
da disputa dos animais por alimento e água. O pasto aca-
Animais entram pelo corredor interno
que dá acesso à área de lazer.
ilustracões:edsonAlvesdeSouza
bava perdendo parte da cobertura vegetal e ficando “ba-
tido”. Isso também favorecia a formação de enxurradas
nos piquetes morro acima. “Consequentemente, as chu-
vas lavavam e descobriam o pé dos cochos e bebedou-
ros”, relembra Atalla.
Como a Fazenda São Francisco do Barreiro também
tem relevo declivoso, ele decidiu usar um modelo de ro-
tacionado diferente. Auxiliado por André Aguiar, da Bo-
viplan Consultoria Agropecuária, de Piracicaba, SP, in-
vestiu em corredores internos para evitar o afunilamento
excessivo da maioria dos piquetes, pois eles cortam suas
“pontas”, como é possível ver na figura. Além disso, es-
ses corredores funcionam como extensões ou prolonga-
mentos da área de lazer, facilitando o acesso dos animais
à água e à comida. Visto de cima, o conjunto – corredor
mais área de lazer – lembra uma colher com cabo longo
(confira detalhe na ilustração). Atalla também aprovei-
tou o espaço desses corredores para instalar linhas duplas
de cocho com 40 m de cumprimento cada. Para evitar
erosão, as áreas de lazer quadradas, onde ficam os bebe-
douros, foram posicionadas em pontos mais altos do ter-
reno e os corredores foram construídos em nível, para fa-
cilitar o escoamento da água. No rotacionado da Barreiro,
que tem até 20% de declividade, foram levantados ter-
raços a cada 6 m nos pontos mais críticos. É importante
lembrar que se gasta mais com cerca em áreas declivosas,
pois toda vez que se ultrapassa a curva de nível, é preci-
so instalar um poste no lado esquerdo do terraço, um em
cima e outro em seu lado direito (veja figura à pág 78).
A topografia manda
O controle da erosão não foi o único fator a influenciar
na configuração do rotacionado da Barreiro. No mapa,
pode-se ver que a pastagem se estende como uma faixa
alongada, em torno de duas represas. Se usasse o mode-
lo de pizza tradicional, Atalla teria um problema opera-
cional, pois os piquetes afunilados demais dificultariam,
por exemplo, a distribuição de fertilizantes e a aplicação
de herbicidas ou inseticidas. “Certamente haveria sobre-
posição de faixas (de pastagem), já que os piquetes esta-
riam muito próximos entre si”, explica Aguiar, da Bovi-
plan. Outra justificativa para o uso de corredores internos
nos módulos da fazenda foi a intenção de, futuramente,
irrigar as pastagens para intensificar a produção.
“Se escolhêssemos um autopropelido (sistema de ir-
rigação por aspersão do tipo móvel), por exemplo, ficaria
mais fácil transferir seu carretel entre piquetes de forma-
to mais quadrado e menos afunilado. No formato de pi-
zza tradicional, teríamos de fazer muitas manobras com o
maquinário. Se o sistema fosse de aspersores fixos, terí-
amos menos pontos de registro e sobreposição da irriga-
ção”, explica o consultor da Boviplan. No dia em que a
reportagem de DBO visitou a propriedade, no fim de mar-
O produtor
Jorge Atalla Jr.
vistoria um lote
de tourinhos
Nelore PO
Tourinhos recebem ração em dupla linha
de cocho no corredor interno
Corredor de manejo, que garante acesso aos piquetes
(lado esquerdo) é delimitado por alambrado.
fotosrenatovillela
ESPECIAL
Instalações
e Equipamentos
76 DBO maio 2018
ço, Atalla estava construindo um “corredor de manejo ou
tráfego” para servir todos os módulos de pastejo rotacio-
nado, facilitando a distribuição de insumos e a condução
dos animais até o curral. “Um funcionário sozinho con-
segue tocar o lote, em pouco tempo”, garante o produtor.
Na Barreiro, não foi possível posicionar esse corredor
de manejo entre os módulos, também por causa da erosão.
A saída foi construí-lo na parte inferior (veja mapa aci-
ma) e criar acessos, em sentido perpendicular, até a área
de lazer de cada módulo. Essa alternativa pode não pare-
cer ideal, pois o produtor perde uma parcela de pasto e o
gado, que prefere caminhos limpos para chegar aos co-
chos e bebedouros, pode transformar esses acessos em tri-
Criatório completa 50 anos na seleção do Nelore
A Fazenda São Francisco do Barreiro chama a
atenção logo na entrada. O trajeto até a sede, onde
já funcionou uma central de inseminação, é todo as-
faltado. No interior da propriedade, que foi vendida
e depois recomprada pela família Atalla em 2010,
há uma espécie de arena, coberta e em formato
circular, onde os tourinhos Nelore PO desfilavam
durante os antigos leilões, que agora são virtuais.
A seleção, iniciada por Jorge Sidney Atalla, pai de
Jorge Sidney Atalla Jr., completa 50 anos em 2018.
A fazenda conta com um conjunto de grandes e pe-
quenas represas, emolduradas pelo belo gramado e
paineiras. Uma ponte feita de pedra empresta um ar
bucólico à paisagem.
Os 264 hectares de pastagens da propriedade
estão divididos em 10 módulos de rotacionado, com
três a seis piquetes, medindo entre 3 e 5 hectares
cada. Há também dois módulos subdivididos em pi-
quetes ainda menores, que servem de show room
para compradores de tourinhos – ano passado fo-
ram vendidos 180 – ou de cavalos Quarto-de-Milha.
Nos demais módulos de rotacionado, giram machos
meio-sangue Angus, vindos de outras duas fazen-
das da família e, que, neste ano, formam exportados
vivos para a Turquia. A intenção de Jorge Sidney
Atalla Jr., gestor da fazenda, é intensificar as pas-
tagens para aumentar a produção de tourinhos e
cruzados.
Desenho tipo “flex” Modelos básicos de rotacionado
Módulo tipo “pizza”
Módulo com corredor
lheiros, mas a topografia novamente deu as cartas. “Nossa
ideia inicial era construir o corredor no meio e faríamos
isso, se a área fosse plana. Desistimos porque, em função
do terreno declivoso, para o corredor passar pelas áreas
de lazer dos rotacionados, teríamos de ‘cortar’os terraços
em vários pontos, e estes perderiam a função de segurar
a água da chuva”, explica o proprietário JorgeAtalla Jr.
Personalização crescente
Os modelos com corredores têm ganhado espaço no
Família Atalla vendeu e depois recomprou a São Francisco do
Barreiro, sede da família, onde funcionou uma central.
Linha de cocho posicionado na divisa com o corredor
facilita o fornecimento de suplemento.
DBO maio 2018 77
Brasil, principalmente entre os pecuaristas que forne-
cem maior quantidade de suplementos ou semiconfinam
animais. Estes têm optado por desenhos com corredor
central mais largo, para facilitar a passagem dos cami-
nhões. Frequentemente a praça de alimentação é amplia-
da e os cochos voltados para o corredor, o que favorece
o trato (veja o modelo flex, usado para suplementação
nas águas e confinamento na seca, objeto de reportagem
de DBO em junho de 2015). Além de garantir agilida-
de ao trabalho e economizar mão de obra, os modelos
com corredor são fáceis de instalar, mas podem ter custo
maior, por demandarem mais arame, mourões e estica-
dores. Para rotacionados que não fazem suplementação
pesada, o posicionamento dos cochos dentro de áreas de
lazer centrais pode ser mais econômico. O investimento
é menor, já que uma única linha de cocho atende a todo
o lote do rotacionado.
Modelos com corredor interno demandam atenção
em relação à área de lazer, que deve ter tamanho adequa-
do ao lote (veja medida sugerida na tabela). Mais im-
portante, porém, é a dimensão das porteiras ou colche-
tes, que devem corresponder à largura dos corredores. “É
preciso facilitar o trânsito dos animais, não somente para
minimizar o risco de contusão, mas também para que os
dominantes não dificultem a entrada e saída dos domi-
nados”, diz Rodrigo Paniago, também da Boviplan. No
campo, nem sempre esse detalhe técnico é considerado.
“É muito comum o produtor colocar uma cerca de arame
ou tábua para economizar no tamanho da porteira ou col-
chete”, diz o consultor.
Quando o corredor de acesso dos animais à área de
lazer é o mesmo usado para manejos, como condução
dos animais ao curral ou tráfego de veículos, o produtor
deve respeitar uma largura mínima, determinada pelo ta-
manho dos lotes a serem manejados: para 100 animais,
mínimo de 4 metros de largura; para 100 a 400, 6 me-
tros, para mais de 400, 8 metros. Também chamados por
alguns técnicos de “circuito gerencial de suplementa-
ção”, o corredor de manejo precisa ser mantido sempre
em boas condições. “Ele deve permitir que o funcioná-
rio percorra todo o rotacionado rapidamente, otimizando
tempo e mão de obra” explica Paniago.
Pizza ou meia pizza
O fato de muitos produtores estarem usando mode-
los de rotacionado com corredor não significa, entretanto,
que o “tipo pizza” tenha perdido prestígio e seja contrain-
dicado. Esse desenho, segundo Paniago, é sempre o pri-
meiro que vem à mente quando se projetam módulos de
pastejo rotacionado, por ter custo de divisão de piquetes
mais baixo e menor perda de área de pastagem. Em geral,
ele também permite que os animais percorram distâncias
menores entre o fundo do piquete e a área de lazer, que
fica no centro do módulo. Segundo o consultor, esse mo-
delo também é mais interessante para vacas de cria, pois,
se os bezerros cruzarem a cerca, passando de um pique-
te para o outro, é mais fácil reconduzi-los até suas mães.
Se o módulo tiver corredor interno, podem se distanciar
do grupo, ficar perdidos por mais tempo e causar grande
alvoroço entre as matrizes. “No modelo tipo pizza, isso
dificilmente ocorre, porque o bezerro no máximo fica no
piquete ao lado, acompanhando-a, mesmo estando do ou-
tro lado da cerca”, explica Paniago. O consultor ressalta,
entretanto, que vacas de cria se adaptam bem a qualquer
tipo de rotacionado.
E se o sistema de produção da fazenda for intensi-
vo? Nesse caso é possível usar uma “derivação” desse
modelo: a meia pizza, onde a área de lazer é deslocada
do centro para uma das laterais do módulo, de prefe-
rência na que faz divisa com o corredor. “Isso facilita
muito o fornecimento de suplementos por parte do ma-
quinário e a vistoria em geral”, afirma Paniago. As res-
salvas que se fazem para o tipo pizza também valem
para esse desenho de rotacionado. Os piquetes não de-
vem ficar muito estreitos e é preciso respeitar a topo-
grafia, para minimizar riscos de erosão na área de lazer.
Outro aspecto ao qual o produtor deve ficar atento – e
isso vale igualmente para os modelos com corredor – é
a distância entre o fundo do piquete e a área de lazer. “O
ideal é que os animais percorram, no máximo, 500 me-
tros entre um ponto e outro”, afirma. 	 n
Área de lazer para grandes lotes
Nº de animais Medida
Até 350 0,25 ha
Até 800 0,50 ha
Até 4.000 1 ha
Fonte: Boviplan/Adaptação: DBO
Cerca em terraços
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78 DBO maio 2018

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Layout de rotacionado requer planejamento topográfico

  • 1. Mapa dos módulos da Fazenda São Francisco do Barreiro, SP Layout de rotacionado pede planejamento DBO maio 2018 75 ESPECIAL Instalações e Equipamentos Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br N a hora de escolher o layout (desenho) dos mó- dulos de pastejo rotacionado é preciso deixar de lado preferências pessoais e se guiar por critérios técnicos. No Brasil, predominam dois modelos básicos, com suas diversas variáveis: o tipo pizza, no qual todos os piquetes convergem para uma área de lazer central, e o formato com corredor interno. Nenhum deles constitue figuras geométricas exatas, pois se ajustam às condições Fazenda em Jaú, SP, criou modelo adaptado à topografia declivosa para evitar erosão. Desenho pode deve respeitar condições locais. pré-existentes nas fazendas. Como faltam estudos compa- rativos entre os vários layouts, é difícil afirmar, com segu- rança, qual versão garante melhor desempenho animal. O conhecimento que se tem é fruto da experiência de con- sultores, que se debruçam sobre algumas variáveis, como a topografia, a estratégia de suplementação adotada e o sistema de produção da fazenda (cria, recria ou engorda) para desenhar não o melhor, mas o mais adequado mo- delo de rotacionado para determinada condição, sabendo que ele, inevitavelmente, terá vantagens e desvantagens. O produtor Jorge Sidney Atalla Júnior, proprietário da Fazenda São Francisco do Barreiro, no município de Jaú, distante 296 km de São Paulo, sempre trabalhou com rotacionados do tipo pizza nas propriedades da fa- mília. Em algumas delas, no entanto, a topografia mais acentuada trouxe empecilhos ao formato. Como a área de lazer dos módulos ficava em pontos mais baixos, a água da chuva causava erosão. Além disso, havia maior pres- são de pastejo na extremidade afunilada dos piquetes – “a ponta das fatias da pizza” _, que converge para a praça de alimentação. Ela sofria pisoteio mais intenso, por causa da disputa dos animais por alimento e água. O pasto aca- Animais entram pelo corredor interno que dá acesso à área de lazer. ilustracões:edsonAlvesdeSouza
  • 2. bava perdendo parte da cobertura vegetal e ficando “ba- tido”. Isso também favorecia a formação de enxurradas nos piquetes morro acima. “Consequentemente, as chu- vas lavavam e descobriam o pé dos cochos e bebedou- ros”, relembra Atalla. Como a Fazenda São Francisco do Barreiro também tem relevo declivoso, ele decidiu usar um modelo de ro- tacionado diferente. Auxiliado por André Aguiar, da Bo- viplan Consultoria Agropecuária, de Piracicaba, SP, in- vestiu em corredores internos para evitar o afunilamento excessivo da maioria dos piquetes, pois eles cortam suas “pontas”, como é possível ver na figura. Além disso, es- ses corredores funcionam como extensões ou prolonga- mentos da área de lazer, facilitando o acesso dos animais à água e à comida. Visto de cima, o conjunto – corredor mais área de lazer – lembra uma colher com cabo longo (confira detalhe na ilustração). Atalla também aprovei- tou o espaço desses corredores para instalar linhas duplas de cocho com 40 m de cumprimento cada. Para evitar erosão, as áreas de lazer quadradas, onde ficam os bebe- douros, foram posicionadas em pontos mais altos do ter- reno e os corredores foram construídos em nível, para fa- cilitar o escoamento da água. No rotacionado da Barreiro, que tem até 20% de declividade, foram levantados ter- raços a cada 6 m nos pontos mais críticos. É importante lembrar que se gasta mais com cerca em áreas declivosas, pois toda vez que se ultrapassa a curva de nível, é preci- so instalar um poste no lado esquerdo do terraço, um em cima e outro em seu lado direito (veja figura à pág 78). A topografia manda O controle da erosão não foi o único fator a influenciar na configuração do rotacionado da Barreiro. No mapa, pode-se ver que a pastagem se estende como uma faixa alongada, em torno de duas represas. Se usasse o mode- lo de pizza tradicional, Atalla teria um problema opera- cional, pois os piquetes afunilados demais dificultariam, por exemplo, a distribuição de fertilizantes e a aplicação de herbicidas ou inseticidas. “Certamente haveria sobre- posição de faixas (de pastagem), já que os piquetes esta- riam muito próximos entre si”, explica Aguiar, da Bovi- plan. Outra justificativa para o uso de corredores internos nos módulos da fazenda foi a intenção de, futuramente, irrigar as pastagens para intensificar a produção. “Se escolhêssemos um autopropelido (sistema de ir- rigação por aspersão do tipo móvel), por exemplo, ficaria mais fácil transferir seu carretel entre piquetes de forma- to mais quadrado e menos afunilado. No formato de pi- zza tradicional, teríamos de fazer muitas manobras com o maquinário. Se o sistema fosse de aspersores fixos, terí- amos menos pontos de registro e sobreposição da irriga- ção”, explica o consultor da Boviplan. No dia em que a reportagem de DBO visitou a propriedade, no fim de mar- O produtor Jorge Atalla Jr. vistoria um lote de tourinhos Nelore PO Tourinhos recebem ração em dupla linha de cocho no corredor interno Corredor de manejo, que garante acesso aos piquetes (lado esquerdo) é delimitado por alambrado. fotosrenatovillela ESPECIAL Instalações e Equipamentos 76 DBO maio 2018
  • 3. ço, Atalla estava construindo um “corredor de manejo ou tráfego” para servir todos os módulos de pastejo rotacio- nado, facilitando a distribuição de insumos e a condução dos animais até o curral. “Um funcionário sozinho con- segue tocar o lote, em pouco tempo”, garante o produtor. Na Barreiro, não foi possível posicionar esse corredor de manejo entre os módulos, também por causa da erosão. A saída foi construí-lo na parte inferior (veja mapa aci- ma) e criar acessos, em sentido perpendicular, até a área de lazer de cada módulo. Essa alternativa pode não pare- cer ideal, pois o produtor perde uma parcela de pasto e o gado, que prefere caminhos limpos para chegar aos co- chos e bebedouros, pode transformar esses acessos em tri- Criatório completa 50 anos na seleção do Nelore A Fazenda São Francisco do Barreiro chama a atenção logo na entrada. O trajeto até a sede, onde já funcionou uma central de inseminação, é todo as- faltado. No interior da propriedade, que foi vendida e depois recomprada pela família Atalla em 2010, há uma espécie de arena, coberta e em formato circular, onde os tourinhos Nelore PO desfilavam durante os antigos leilões, que agora são virtuais. A seleção, iniciada por Jorge Sidney Atalla, pai de Jorge Sidney Atalla Jr., completa 50 anos em 2018. A fazenda conta com um conjunto de grandes e pe- quenas represas, emolduradas pelo belo gramado e paineiras. Uma ponte feita de pedra empresta um ar bucólico à paisagem. Os 264 hectares de pastagens da propriedade estão divididos em 10 módulos de rotacionado, com três a seis piquetes, medindo entre 3 e 5 hectares cada. Há também dois módulos subdivididos em pi- quetes ainda menores, que servem de show room para compradores de tourinhos – ano passado fo- ram vendidos 180 – ou de cavalos Quarto-de-Milha. Nos demais módulos de rotacionado, giram machos meio-sangue Angus, vindos de outras duas fazen- das da família e, que, neste ano, formam exportados vivos para a Turquia. A intenção de Jorge Sidney Atalla Jr., gestor da fazenda, é intensificar as pas- tagens para aumentar a produção de tourinhos e cruzados. Desenho tipo “flex” Modelos básicos de rotacionado Módulo tipo “pizza” Módulo com corredor lheiros, mas a topografia novamente deu as cartas. “Nossa ideia inicial era construir o corredor no meio e faríamos isso, se a área fosse plana. Desistimos porque, em função do terreno declivoso, para o corredor passar pelas áreas de lazer dos rotacionados, teríamos de ‘cortar’os terraços em vários pontos, e estes perderiam a função de segurar a água da chuva”, explica o proprietário JorgeAtalla Jr. Personalização crescente Os modelos com corredores têm ganhado espaço no Família Atalla vendeu e depois recomprou a São Francisco do Barreiro, sede da família, onde funcionou uma central. Linha de cocho posicionado na divisa com o corredor facilita o fornecimento de suplemento. DBO maio 2018 77
  • 4. Brasil, principalmente entre os pecuaristas que forne- cem maior quantidade de suplementos ou semiconfinam animais. Estes têm optado por desenhos com corredor central mais largo, para facilitar a passagem dos cami- nhões. Frequentemente a praça de alimentação é amplia- da e os cochos voltados para o corredor, o que favorece o trato (veja o modelo flex, usado para suplementação nas águas e confinamento na seca, objeto de reportagem de DBO em junho de 2015). Além de garantir agilida- de ao trabalho e economizar mão de obra, os modelos com corredor são fáceis de instalar, mas podem ter custo maior, por demandarem mais arame, mourões e estica- dores. Para rotacionados que não fazem suplementação pesada, o posicionamento dos cochos dentro de áreas de lazer centrais pode ser mais econômico. O investimento é menor, já que uma única linha de cocho atende a todo o lote do rotacionado. Modelos com corredor interno demandam atenção em relação à área de lazer, que deve ter tamanho adequa- do ao lote (veja medida sugerida na tabela). Mais im- portante, porém, é a dimensão das porteiras ou colche- tes, que devem corresponder à largura dos corredores. “É preciso facilitar o trânsito dos animais, não somente para minimizar o risco de contusão, mas também para que os dominantes não dificultem a entrada e saída dos domi- nados”, diz Rodrigo Paniago, também da Boviplan. No campo, nem sempre esse detalhe técnico é considerado. “É muito comum o produtor colocar uma cerca de arame ou tábua para economizar no tamanho da porteira ou col- chete”, diz o consultor. Quando o corredor de acesso dos animais à área de lazer é o mesmo usado para manejos, como condução dos animais ao curral ou tráfego de veículos, o produtor deve respeitar uma largura mínima, determinada pelo ta- manho dos lotes a serem manejados: para 100 animais, mínimo de 4 metros de largura; para 100 a 400, 6 me- tros, para mais de 400, 8 metros. Também chamados por alguns técnicos de “circuito gerencial de suplementa- ção”, o corredor de manejo precisa ser mantido sempre em boas condições. “Ele deve permitir que o funcioná- rio percorra todo o rotacionado rapidamente, otimizando tempo e mão de obra” explica Paniago. Pizza ou meia pizza O fato de muitos produtores estarem usando mode- los de rotacionado com corredor não significa, entretanto, que o “tipo pizza” tenha perdido prestígio e seja contrain- dicado. Esse desenho, segundo Paniago, é sempre o pri- meiro que vem à mente quando se projetam módulos de pastejo rotacionado, por ter custo de divisão de piquetes mais baixo e menor perda de área de pastagem. Em geral, ele também permite que os animais percorram distâncias menores entre o fundo do piquete e a área de lazer, que fica no centro do módulo. Segundo o consultor, esse mo- delo também é mais interessante para vacas de cria, pois, se os bezerros cruzarem a cerca, passando de um pique- te para o outro, é mais fácil reconduzi-los até suas mães. Se o módulo tiver corredor interno, podem se distanciar do grupo, ficar perdidos por mais tempo e causar grande alvoroço entre as matrizes. “No modelo tipo pizza, isso dificilmente ocorre, porque o bezerro no máximo fica no piquete ao lado, acompanhando-a, mesmo estando do ou- tro lado da cerca”, explica Paniago. O consultor ressalta, entretanto, que vacas de cria se adaptam bem a qualquer tipo de rotacionado. E se o sistema de produção da fazenda for intensi- vo? Nesse caso é possível usar uma “derivação” desse modelo: a meia pizza, onde a área de lazer é deslocada do centro para uma das laterais do módulo, de prefe- rência na que faz divisa com o corredor. “Isso facilita muito o fornecimento de suplementos por parte do ma- quinário e a vistoria em geral”, afirma Paniago. As res- salvas que se fazem para o tipo pizza também valem para esse desenho de rotacionado. Os piquetes não de- vem ficar muito estreitos e é preciso respeitar a topo- grafia, para minimizar riscos de erosão na área de lazer. Outro aspecto ao qual o produtor deve ficar atento – e isso vale igualmente para os modelos com corredor – é a distância entre o fundo do piquete e a área de lazer. “O ideal é que os animais percorram, no máximo, 500 me- tros entre um ponto e outro”, afirma. n Área de lazer para grandes lotes Nº de animais Medida Até 350 0,25 ha Até 800 0,50 ha Até 4.000 1 ha Fonte: Boviplan/Adaptação: DBO Cerca em terraços ESPECIAL Instalações e Equipamentos 78 DBO maio 2018