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Tabu e proibições
Freud – Vol.XIII – Tabu e ambivalência (II)
A palavra ‘tabu’ denota tudo – seja uma pessoa, um lugar, uma coisa ou uma condição transitória – que é
o veículo ou fonte desse misterioso atributo. Também denota as proibições advindas do mesmo atributo.
E, finalmente, possui uma conotação que abrange igualmente ‘sagrado’ e ‘acima do comum’, bem como
‘perigoso’, ‘impuro’ e ‘misterioso’.
As transformações operadas desde as tribos e as comunidades mais primitivas transportam
consigo até aos dias de hoje tabus, entendidos como costumes, resistindo ao tempo e á
evolução do ser humano, pelo que nos faz saber, que as proibições fazem-se sentir nas
gerações vindouros, muito embora ao fim de alguns séculos possa existir alguma
transformação, mantém sua essência.
Não parece possível falarmos deste assunto sem resistir à tentação de referenciar o sagrado,
os espíritos, que por sua vez nos garante determinado grau de pureza herdado pela proibição
daquilo que é tabu, que não deve ser transgredido, porquanto o indivíduo torna-se impuro, e
ele próprio tabu, como algo também proibido.
Daqui deriva uma valorização determinada pelo bem e o mal como atributos, que neste caso
seu grau de valorização é maior quando se trata do mal, como forma do cérebro operar em
determinado sentido.
Assim, a uma certa quantidade de energia está atrelado um atributo, uma designação,
significando o mal que possa cair sobre si, ou os seus, sendo fator de dor e sofrimento,
desprazer, que o ser humano deseja evitar.
Esta carga energética está conectada diretamente com o desprazer como forma de
preservação da vida do indivíduo perante a agressividade, tantas vezes desconhecida, mas que
julga existir.
Por outro lado, surge a fantasia, em que o indivíduo tenta dar uma imagem real a um sentido,
como algo adquirido por seus progenitores, de que nada sabe, em que nos coloca perante a
crença, como primeiro atributo da existência humana.
Essa dualidade ambivalente, não é questionável pela maioria, e todo aquele que possui a
ousadia de a colocar em causa é visto como transgressor, mas a realidade nos faz saber, que
será por eles, e devido a suas atitudes não crentes em determinados tabus, que a relação
social tende à alteração.
Desse modo, o não compreendido, e um desejo profundo de mais saber entram em conflito,
em que podemos perceber de forma clara um debate político interno entre instintos, em que
uns tentam cortar a liberdade de outros, numa guerra de desejos, de que não podemos saber
quem possa ganhar.
A transgressão é uma ação, como afirmação do instinto, que conseguiu romper a barreira da
impossibilidade, ficando o indivíduo exposto às consequências, pelo que devemos perceber
quais as transgressões que possam ser levadas á prática, sem que daí possa resultar algum
dano para os demais.
Como o tabu foi coisa engendrada pelos homens, em que sua observância era exigida pelos
chefes tribais, outros homens julgando ter herdado tal poder, os substitui nessa grandiosa
tarefa de se cumprir a lei totémica.
Não foi Deus, nem os Deuses que lhes incutiu tal tarefa, foram eles mesmos, que bebendo do
seu poder, pretendem ser tão, ou mais poderosos que essas figuras simbólicas, em que para
eles o simbólico apresenta um grau de importância maior, proveniente de um medo oculto.
Daí, que possam lançar mão da argumentação, julgada por outros como ridícula, sem sentido,
a que devemos dar a importância devida, face a um medo embutido de que não se conseguem
libertar.
A proibição é a base do transtorno neurótico, e por isso este tema foi tratado por Freud de
forma exaustiva, a partir do qual nascem sentimentos diversos que tendem a corromper o
sentido de liberdade de um corpo, e a uniformizar o sentido de vida do indivíduo, contra o
qual o corpo se rebela.
Diz Freud:
- Essas proibições dirigem-se principalmente contra a liberdade de prazer e contra a liberdade de
movimento e comunicação.
O que é tabu é proibido, pertence ao mundo do misterioso, do mítico, regulado pelos rituais,
como compulsão á repetição para que não se percam.
Afirma Freud:.
- Tudo é proibido, e eles não têm nenhuma ideia por quê e não lhes ocorre levantar a questão.
Como não lhes ocorre investigar, colocar em causa, só quem poderá responder a esse
questionamento serão essas forças divinas, ás quais são submissos, esperando deles o que o
Pai na terra não lhes pode dar, uma explicação, pelo que morrem vivendo esperando por algo
que não pode vir.
De acordo com Wundt, esta característica original do tabu – a crença num poder ‘demoníaco’ que jaz
oculto num objeto e que, se este for tocado ou utilizado ilegalmente, vinga-se lançando um encantamento
sobre o transgressor – ainda é inteira e unicamente ‘medo objetivado’.
João António Fernandes
Psicanalista Freudiano
ANALIZZARE – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise

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  • 1. Tabu e proibições Freud – Vol.XIII – Tabu e ambivalência (II) A palavra ‘tabu’ denota tudo – seja uma pessoa, um lugar, uma coisa ou uma condição transitória – que é o veículo ou fonte desse misterioso atributo. Também denota as proibições advindas do mesmo atributo. E, finalmente, possui uma conotação que abrange igualmente ‘sagrado’ e ‘acima do comum’, bem como ‘perigoso’, ‘impuro’ e ‘misterioso’. As transformações operadas desde as tribos e as comunidades mais primitivas transportam consigo até aos dias de hoje tabus, entendidos como costumes, resistindo ao tempo e á evolução do ser humano, pelo que nos faz saber, que as proibições fazem-se sentir nas gerações vindouros, muito embora ao fim de alguns séculos possa existir alguma transformação, mantém sua essência. Não parece possível falarmos deste assunto sem resistir à tentação de referenciar o sagrado, os espíritos, que por sua vez nos garante determinado grau de pureza herdado pela proibição daquilo que é tabu, que não deve ser transgredido, porquanto o indivíduo torna-se impuro, e ele próprio tabu, como algo também proibido. Daqui deriva uma valorização determinada pelo bem e o mal como atributos, que neste caso seu grau de valorização é maior quando se trata do mal, como forma do cérebro operar em determinado sentido. Assim, a uma certa quantidade de energia está atrelado um atributo, uma designação, significando o mal que possa cair sobre si, ou os seus, sendo fator de dor e sofrimento, desprazer, que o ser humano deseja evitar. Esta carga energética está conectada diretamente com o desprazer como forma de preservação da vida do indivíduo perante a agressividade, tantas vezes desconhecida, mas que julga existir. Por outro lado, surge a fantasia, em que o indivíduo tenta dar uma imagem real a um sentido, como algo adquirido por seus progenitores, de que nada sabe, em que nos coloca perante a crença, como primeiro atributo da existência humana. Essa dualidade ambivalente, não é questionável pela maioria, e todo aquele que possui a ousadia de a colocar em causa é visto como transgressor, mas a realidade nos faz saber, que será por eles, e devido a suas atitudes não crentes em determinados tabus, que a relação social tende à alteração. Desse modo, o não compreendido, e um desejo profundo de mais saber entram em conflito, em que podemos perceber de forma clara um debate político interno entre instintos, em que uns tentam cortar a liberdade de outros, numa guerra de desejos, de que não podemos saber quem possa ganhar. A transgressão é uma ação, como afirmação do instinto, que conseguiu romper a barreira da impossibilidade, ficando o indivíduo exposto às consequências, pelo que devemos perceber quais as transgressões que possam ser levadas á prática, sem que daí possa resultar algum dano para os demais. Como o tabu foi coisa engendrada pelos homens, em que sua observância era exigida pelos chefes tribais, outros homens julgando ter herdado tal poder, os substitui nessa grandiosa tarefa de se cumprir a lei totémica. Não foi Deus, nem os Deuses que lhes incutiu tal tarefa, foram eles mesmos, que bebendo do seu poder, pretendem ser tão, ou mais poderosos que essas figuras simbólicas, em que para eles o simbólico apresenta um grau de importância maior, proveniente de um medo oculto. Daí, que possam lançar mão da argumentação, julgada por outros como ridícula, sem sentido, a que devemos dar a importância devida, face a um medo embutido de que não se conseguem libertar.
  • 2. A proibição é a base do transtorno neurótico, e por isso este tema foi tratado por Freud de forma exaustiva, a partir do qual nascem sentimentos diversos que tendem a corromper o sentido de liberdade de um corpo, e a uniformizar o sentido de vida do indivíduo, contra o qual o corpo se rebela. Diz Freud: - Essas proibições dirigem-se principalmente contra a liberdade de prazer e contra a liberdade de movimento e comunicação. O que é tabu é proibido, pertence ao mundo do misterioso, do mítico, regulado pelos rituais, como compulsão á repetição para que não se percam. Afirma Freud:. - Tudo é proibido, e eles não têm nenhuma ideia por quê e não lhes ocorre levantar a questão. Como não lhes ocorre investigar, colocar em causa, só quem poderá responder a esse questionamento serão essas forças divinas, ás quais são submissos, esperando deles o que o Pai na terra não lhes pode dar, uma explicação, pelo que morrem vivendo esperando por algo que não pode vir. De acordo com Wundt, esta característica original do tabu – a crença num poder ‘demoníaco’ que jaz oculto num objeto e que, se este for tocado ou utilizado ilegalmente, vinga-se lançando um encantamento sobre o transgressor – ainda é inteira e unicamente ‘medo objetivado’. João António Fernandes Psicanalista Freudiano ANALIZZARE – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise