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Hipersensibilidade do corpo
Eu sou Borderline - Acho que a impulsão se deve à incapacidade de enxergar uma saída, uma solução,
estando a pessoa irritada como eu ficava, logo se desespera por não achar saída e por desespero tenta
ela mesma resolver isso da forma dela, ou seja, automutilação, em certos casos chega em
autoextermínio.
Então diante dessa lógica não acho que sejam forças ocultas não, acho que é até um sistema de defesa
do próprio cérebro do border, que para conseguir desfocar de uma dor tão grande e insuportável, causa
uma outra dor no corpo que transfere um pouco dessa energia localizada em um só ponto e distribui
para outra parte do corpo causando o alivio não da dor pois sentiremos ela novamente, mas da pressão
psicológica que ela exerce sobre o cérebro.
Aline fala em dor insuportável, transferível de um corpo que pensa para um corpo que sente
afetando o metabolismo, pelo que o próprio organismo desenvolve um mecanismo de defesa,
como que induzindo o corpo a tomar uma atitude face a uma avalanche energética que deve
ser expulsa de qualquer jeito.
Por medo de perder os objetos de desejo e amor, o que faria aumentar ainda mais a dor e
sofrimento, por horror a um possível abandono por parte daqueles a quem ama, apresentam-
se outras alternativas inconscientes, em que uma delas é a automutilação, ou até mesmo o
suicídio.
Será o horror ao abandono e não o sentimento de culpa, neste caso, que parece provocar a
decisão pela automutilação, que a meu ver, deve ser entendido como impossibilidade de
procurar outros canais de descarga dessa energia em excesso no corpo.
Penso, que deve ter alguma razão quando refere o cérebro, como parte do corpo, que provoca
essa decisão no indivíduo Borderline, como síntese de uma relação de sentidos, em que o
afeto e o horror ao abandono podem despertar, em que uma das alternativas será a
automutilação.
Os sentimentos decorrentes derivados da impotência em solucionar uma emergência
energética podem conduzir à sensação de um sentimento de culpa, em que se sente um
entrave à felicidade dos outros e de si própria, devido a uma incapacidade do próprio
pensamento em apresentar uma alternativa válida, que possa satisfazer o indivíduo e a relação
dele com seus familiares.
O que parece atrapalhar de fato o Borderline será a compreensão dessa relação, porque
incompreendida pelos outros e por si mesma, em que o mundo da afetação é sentido em sua
interioridade como a ferida aberta devido à relação na infância, parece não ter solução à vista.
Serão os registros psíquicos dessa relação familiar primeva que o cérebro parece levar em
conta, que sem pedir autorização ao corpo que pensa, tende a executar a tarefa de aliviar a
dor e o sofrimento por si mesmo, em que o impulso (impulsividade) dirigido ao próprio corpo,
por impossibilidade de ser projetado no exterior pode ter diversos desfechos.
Aberto o canal de descarga, que repito pode ser de diversa ordem, a tendência será a energia
percorrer o mesmo caminho da próxima vez, dando lugar a uma repetição imitando o já
conhecido.
Poderá o Borderline desviar a energia excedente desse caminho descobrindo outro ?
Existem relatos que isso é possível, porém, subsiste a mesma intenção de automutilação, o
que nos quer dizer, que as causas que a despertam não foram resolvidas.
Mas o mais comum será o indivíduo exercer uma força de repressão sobre suas intenções, o
que, a meu ver, o faz entrar num quadro depressivo devido à impossibilidade de uma descarga
energética necessária, o que nos coloca perante um outro quadro, a impotência.
Ou seja, exatamente para não se sentir impotente o próprio corpo provoca a projeção, ou a
automutilação, sendo a demonstração de uma vontade de poder, neste caso destruidora, e
quando sente a impotência e a incorpora como sua realidade, a aceitando, a depressão não se
faz esperar, em que se sente a pior pessoa do mundo.
Julgo que aqui é nos dado a conhecer o sentimento de culpa em sua plenitude, como também
a sua inutilidade em estar na vida, por não encontrar um sentido para a sua vida, hibernando
num sono profundo, ou no isolamento, que a meu ver, deve ser entendido, muito mais, como
recuperação do corpo, do que a aproximação da morte.
Talvez seja, exatamente para escapar da morte anunciada, que o isolamento terá lugar,
mesmo não tendo noção alguma se dela pode escapar.
Este procedimento é muito comum nos animais, em que procuram de forma instintiva a
natureza, isolando-se dos demais, talvez como forma de enfrentar a morte ou dela fugir, pelo
que a teoria de curar a si mesmo parece ter alguma razão para existir.
A saída de um foco que provoca dor e sofrimento tende a encontrar um outro foco em que
possa centralizar sua atenção, saindo da associação promove a dissociação retornando a um
outro foco a que se associa, determina apenas a substituição de um ato por outro, e não
resolve o problema da dor e sofrimento.
Assim, a questão parece centrar-se num grau de excitabilidade exagerada, que não será
compatível com a organização genética  biológica de um ser vivo, pelo que a reação do corpo
não se faz esperar.
Estamos perante aquilo que Freud designa por economia psíquica, que deve ser estudada e
investigada, que em associação com uma dinâmica psíquica construída parece provocar o
acelerar do metabolismo rumo à desorganização.
Eu sou Borderline – Apesar de pedir autorização para publicar seus depoimentos, que
concedeu de pronto, achei por bem ocultar sua verdadeira identidade.
João António Fernandes
Psicanalista Freudiano
Analizzare – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise

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Hipersensibilidade do corpo e automutilação no transtorno borderline

  • 1. Hipersensibilidade do corpo Eu sou Borderline - Acho que a impulsão se deve à incapacidade de enxergar uma saída, uma solução, estando a pessoa irritada como eu ficava, logo se desespera por não achar saída e por desespero tenta ela mesma resolver isso da forma dela, ou seja, automutilação, em certos casos chega em autoextermínio. Então diante dessa lógica não acho que sejam forças ocultas não, acho que é até um sistema de defesa do próprio cérebro do border, que para conseguir desfocar de uma dor tão grande e insuportável, causa uma outra dor no corpo que transfere um pouco dessa energia localizada em um só ponto e distribui para outra parte do corpo causando o alivio não da dor pois sentiremos ela novamente, mas da pressão psicológica que ela exerce sobre o cérebro. Aline fala em dor insuportável, transferível de um corpo que pensa para um corpo que sente afetando o metabolismo, pelo que o próprio organismo desenvolve um mecanismo de defesa, como que induzindo o corpo a tomar uma atitude face a uma avalanche energética que deve ser expulsa de qualquer jeito. Por medo de perder os objetos de desejo e amor, o que faria aumentar ainda mais a dor e sofrimento, por horror a um possível abandono por parte daqueles a quem ama, apresentam- se outras alternativas inconscientes, em que uma delas é a automutilação, ou até mesmo o suicídio. Será o horror ao abandono e não o sentimento de culpa, neste caso, que parece provocar a decisão pela automutilação, que a meu ver, deve ser entendido como impossibilidade de procurar outros canais de descarga dessa energia em excesso no corpo. Penso, que deve ter alguma razão quando refere o cérebro, como parte do corpo, que provoca essa decisão no indivíduo Borderline, como síntese de uma relação de sentidos, em que o afeto e o horror ao abandono podem despertar, em que uma das alternativas será a automutilação. Os sentimentos decorrentes derivados da impotência em solucionar uma emergência energética podem conduzir à sensação de um sentimento de culpa, em que se sente um entrave à felicidade dos outros e de si própria, devido a uma incapacidade do próprio pensamento em apresentar uma alternativa válida, que possa satisfazer o indivíduo e a relação dele com seus familiares. O que parece atrapalhar de fato o Borderline será a compreensão dessa relação, porque incompreendida pelos outros e por si mesma, em que o mundo da afetação é sentido em sua interioridade como a ferida aberta devido à relação na infância, parece não ter solução à vista. Serão os registros psíquicos dessa relação familiar primeva que o cérebro parece levar em conta, que sem pedir autorização ao corpo que pensa, tende a executar a tarefa de aliviar a dor e o sofrimento por si mesmo, em que o impulso (impulsividade) dirigido ao próprio corpo, por impossibilidade de ser projetado no exterior pode ter diversos desfechos. Aberto o canal de descarga, que repito pode ser de diversa ordem, a tendência será a energia percorrer o mesmo caminho da próxima vez, dando lugar a uma repetição imitando o já conhecido. Poderá o Borderline desviar a energia excedente desse caminho descobrindo outro ? Existem relatos que isso é possível, porém, subsiste a mesma intenção de automutilação, o que nos quer dizer, que as causas que a despertam não foram resolvidas. Mas o mais comum será o indivíduo exercer uma força de repressão sobre suas intenções, o que, a meu ver, o faz entrar num quadro depressivo devido à impossibilidade de uma descarga energética necessária, o que nos coloca perante um outro quadro, a impotência. Ou seja, exatamente para não se sentir impotente o próprio corpo provoca a projeção, ou a automutilação, sendo a demonstração de uma vontade de poder, neste caso destruidora, e quando sente a impotência e a incorpora como sua realidade, a aceitando, a depressão não se faz esperar, em que se sente a pior pessoa do mundo.
  • 2. Julgo que aqui é nos dado a conhecer o sentimento de culpa em sua plenitude, como também a sua inutilidade em estar na vida, por não encontrar um sentido para a sua vida, hibernando num sono profundo, ou no isolamento, que a meu ver, deve ser entendido, muito mais, como recuperação do corpo, do que a aproximação da morte. Talvez seja, exatamente para escapar da morte anunciada, que o isolamento terá lugar, mesmo não tendo noção alguma se dela pode escapar. Este procedimento é muito comum nos animais, em que procuram de forma instintiva a natureza, isolando-se dos demais, talvez como forma de enfrentar a morte ou dela fugir, pelo que a teoria de curar a si mesmo parece ter alguma razão para existir. A saída de um foco que provoca dor e sofrimento tende a encontrar um outro foco em que possa centralizar sua atenção, saindo da associação promove a dissociação retornando a um outro foco a que se associa, determina apenas a substituição de um ato por outro, e não resolve o problema da dor e sofrimento. Assim, a questão parece centrar-se num grau de excitabilidade exagerada, que não será compatível com a organização genética biológica de um ser vivo, pelo que a reação do corpo não se faz esperar. Estamos perante aquilo que Freud designa por economia psíquica, que deve ser estudada e investigada, que em associação com uma dinâmica psíquica construída parece provocar o acelerar do metabolismo rumo à desorganização. Eu sou Borderline – Apesar de pedir autorização para publicar seus depoimentos, que concedeu de pronto, achei por bem ocultar sua verdadeira identidade. João António Fernandes Psicanalista Freudiano Analizzare – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise