O documento discute como os sintomas e transtornos mentais são originados por fatores biológicos e experiências vividas, não por explicações superficiais. Também argumenta que as políticas de saúde mental precisam considerar as causas profundas dentro do indivíduo, em vez de apenas proibir ou punir comportamentos. A relação entre pais e filhos na primeira infância é crucial para o desenvolvimento mental posterior.
Milagres não acontecem: a importância do corpo e do inconsciente
1. Milagres não acontecem
Tenho dúvidas, que possamos ajudar o outro, quando desconhecemos as bases científicas que
originam as respostas do corpo, e formam os sintomas e os transtornos psíquicos.
Os argumentos sucedem-se após um ato cometido, uma evidência, para o qual o ser humano
tenta dar uma explicação, se posicionando para além do ato, com o desconhecimento de tudo
aquilo que o possa ter provocado.
Formas de aliviar a dor e o sofrimento corporal e psíquico são apenas balsámos contra a
instabilidade, o mal estar, que será necessário apaziguar, mas que nada explica porque o
acontecido aconteceu daquela forma sofrida, dolorosa.
Para a próxima você deverá fazer desta, ou daquela maneira, diz o observador atento, sem
perceber, que a interioridade de cada um é constituída de formas particulares, cuja dicas, por
isso, podem não resultar, e se seguidas podem apresentar resultados bem mais desastrosos.
Esta coisa da verbalização, da consciência, se desse o resultado esperado, o mundo e as
pessoas estariam bem melhores, bem pelo contrário, tudo parece caminhar para a uma
situação de caos, incontrolável, as estatísticas falam por si, sem que possamos visualizar
nohorizonte o remédio que opere o milagre.
Estou a lembrar-me da carta enviada como resposta a Einstein de Freud dissertando sobre a
inevitabilidade da guerra, por não estarem constituídas as condições necessárias para uma paz
duradoira, em que a irreversibilidade de um processo, è devida ao que dele não consta, e que
seria necessário para a evitação.
O que está fora do discurso parece ser mais importante que ele próprio, o oculto, que se
desconhece, ou que muitos não ligam importância, em que as questões consideradas por
muitos como pormenores, se apresentam mais definidoras e fundamentais.
O radical sempre foi o provocador, e os pormenores se revelam organizadores.
Retirar o radicalismo ao próprio radical não será possível, sem a incorporação de algo que seja
capaz de o modificar, pelo que nenhum de nós consegue retirar nada de nós, nem dos outros,
mas pode oferecer algo, que uma vez aceite, possa levar à transformação.
É a lei da própria natureza das coisas, da matéria, e do corpo, que seguem suas instruções sem
querer saber do pensamento humano.
Aqui, também, o pensamento é um derivado de atos cometidos, experiências vividas, do
imaginário conseguido através dos sentidos, de algo antes organizado no corpo, que pode até
não fazer sentido algum para o sujeito e para os outros.
È a perfeita loucura dizem uns, apenas por não reconhecerem a resposta do corpo, por não ser
compreendido sob a égide de uma organização genética biológica, que não carece do
pensamento humana para reger-se a si própria e ter respostas.
Ao continuar a renegar o corpo, daremos como respostas científicas algo que se encontra
aquém ou além dela, sem de fato a tocar, em que a superficialidade das afirmações produzidas
por uma determinada mentalidade construída, nos leva a ter políticas públicas em saúde
mental desajustadas da realidade interior do sujeito que padece.
Daí, a ser refletida na sociedade é uma questão de tempo, em que os resultados estão aí para
quem os pretenda enxergar.
A questão da proibição e punição nunca sairá do horizonte humano, porque necessária, mas é
muito pouco, faltando uma política de prevenção, cujas bases assentam num profundo
conhecimento científico das causas que despertam as manifestações corporais destruidoras,
não respeitando e considerando o outro, colocando em causa a própria existência.
As respostas do corpo resultam em primeiro lugar de uma relação objetal, da relação pais
filhos, em que a verbalização ainda não apresenta um significado, até aos 12 meses de
existência, em que os quadros eventuais patológicos são construídos por imagens que possam
afetar a criança.
Por outro lado, nos é dado a observar que a verbalização entre pais e filhos, serve apenas para
vincular suas atitudes, que desde sempre foram conhecidas e sentidas pela criança.