O documento discute como os estímulos externos são processados pelo cérebro e sistema neural para garantir a auto preservação. Os sentidos captam estímulos do ambiente externo que são descodificados no cérebro. Erros na decodificação podem ocorrer sem informações adicionais de outros sentidos. O cérebro deve respeitar e considerar os estímulos para entendê-los corretamente.
1. Estímulos e processo neural
Se entendermos por qualidades sensoriais a captação de estímulos exteriores através dos cinco sentidos,
podemos perceber que esses órgãos se encontram na periferia do corpo, cujos estímulos serão
descodificados no cérebro, favorecendo a identificação do meio ambiente como forma de o corpo a ele se
adaptar e mover-se. Os sentidos funcionam como sensores do meio ambiente, tentando, em essência, a
auto preservação da vida de um ser vivo.
Podemos perceber nos sentidos uma porta de livre acesso aos estímulos exteriores, a que o cérebro e sua
estrutura neural tenta decodificar e dar uma resposta, visando a preservação da própria vida de um ser
vivo, pelo que devemos considerar que os estímulos são tratados interiormente.
Se existir algum erro de cálculo será devido a uma decodificação neural, talvez por falta de mais
informação derivada de outros estímulos associados que não foram captados pelos sentidos, o que nos
garante um conhecimento limitado da coisa observada.
Somos a considerar que a diversidade perceptiva pode garantir uma ideia mais aproximada da coisa real, e
que a uniformidade tende a restringir o ângulo através da qual a possamos observar e perceber, e que o
processo de auto afirmação é resultante da interiorização dessas duas formas de percepção, que entre si
podem apresentar variáveis e variações.
Se o cérebro, e sua região neural deverá ter em atenção os estímulos derivados do exterior, o primeiro
passo será o respeito e consideração por tais estímulos, que deve incluir a coisa, ou pessoa que os emite,
como forma de a ter em atenção.
Podemos designar a captação de estímulos exteriores de consciência, mas ela não parece garantir a forma
interior de tais estímulos serem organizados tal como nos são presentes, ficando sujeitos a uma ordem
interna pré-estabelecida neural, que julgo processar-se através de um grau valorativo tendo em vista a
preservação da vida, levando em conta a associação de estímulos.
A preservação da vida e sua continuidade implica o sentido de sua própria satisfação em que o corpo tenta
munir-se de tudo quanto a possa favorecer, em que a estabilidade é garantida por um bem estar, designado
por agradável, e a instabilidade por um mal estar, que por isso mesmo será sentido como desagradável.
Assim, o sentir será medido pelo mais ou menos agradável ou desagradável, o mesmo será afirmar, mais
ou menos bem estar, ou mal estar, em determinados momentos da vida.
O patológico parece depender de momentos prolongados de mal estar do corpo, e que os momentos de
algum instabilidade, que têm de existir, ao serem superados faz regressar o corpo à satisfação, e por
conseguinte, ao bem estar interior.
A imagem e o som permitem ao cérebro interpretar uma relação a determinada distância que tenta
decifrar mediante condições sugeridas de alguma agressividade ou passividade, em que os gestos e o som
podem indiciar tais propósitos, mediante parâmetros estabelecidos na própria organização cerebral.
O tato, o paladar e o cheiro desempenham um papel sensitivo mais intimo, em que o corpo tende a
relacionar-se com outro corpo dentro de um raio de ação muito mais próximo, pelo que devem ser
considerados como elementos primários fundamentais no aprendizado e no desenvolvimento da formação
da criança.
A fala que sucede ao som só mais tarde será associada ao gesto, à relação, como afirmação da prática
gestual.
O aparelho de percepção é constituído por esses órgãos dos sentidos, que leva o ser vivo a conhecer o que
o rodeia, em que o conhecido apresenta diversos graus de valorização, e até mesmo se revela através da
indiferença relativamente a alguns estímulos exteriores.
Devemos perguntar quem, ou, o que garante determinado grau de valorização nessa fase primária da
existência de um ser vivo, como no bebê, por exemplo ?
Decerto não será o sujeito, que ainda está sujeito a um processo formativo, que tende a processar-se ao
longo de muitos anos, como fazendo parte de um aprendizado, que de associação em associação tende a
consolidar-se, pelo que devemos considerar o papel que desempenha o corpo, o cérebro e zonas neurais,
como receptor, organizador de estímulos exteriores, aos quais tende a dar uma resposta tendo em vista a
preservação da vida.
João António Fernandes
Psicanalista Freudiano
Analizzare – Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Psicanálise