Pedro Alexandrino foi um pintor brasileiro do século XIX especializado em naturezas-mortas. Ele estudou pintura no Brasil e na França, onde foi influenciado pelo pintor francês Antoine Vollon. Suas naturezas-mortas detalhadas de frutas, flores e objetos eram muito populares e lhe trouxeram reconhecimento no Brasil e na Europa.
O mestre das naturezas-mortas Pedro Alexandrino (1856-1942
1. PEDRO ALEXANDRINO Borges (1856-1942). Nascido e falecido em São Paulo. Filho de um
músico e pintor amador, desde cedo sentiu-se inclinado para a pintura, e aos 11 anos tornou-se
ajudante de Barandier, artista francês então de passagem por São Paulo. Mais tarde foi
aprendiz e auxiliar de Esteveau, Simão da Costa e outros pintores decorativistas, trabalhando
sob sua orientação em casas e igrejas. Após novo estágio, agora sob João Boaventura da
Cruz, aos 24 anos já se achava apto a trabalhar por conta própria como pintor decorativista.
Em 1883 travou conhecimento com Almeida Júnior, que aliás o retratou em pelo menos duas
ocasiões: no personagem ajoelhado de Caipiras Negaceando, e na figura do santo, na
Conversão de Paulo. E foi Almeida Júnior quem certo dia lhe teria aconselhado, observando
uma natureza-morta por ele pintada:
- Não pinta senão isso: é a tua arte.
Conselho, diga-se de passagem, que talvez tenha matado no nascedouro um bom paisagista, a
se deduzir de algumas paisagens de Pedro Alexandrino conservadas na Pinacoteca de São
Paulo e em algumas coleções particulares, paisagens que revelam um lirismo e uma liberdade
que em vão se procuraria nas naturezas-mortas.
Entre Almeida Júnior e Pedro Alexandrino, imediatamente, estabeleceu-se um clima de
compreensão e mútuo respeito. No ocaso da vida, Alexandrino confessava ainda,
humildemente, a quantos quisessem ouví-lo:
- Tudo o que sei da minha arte, devo a Almeida Júnior.
Em 1887, com bolsa do Governo de São Paulo, Pedro Alexandrino está matriculado na
Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, que cursará até 1893 como aluno de José
Maria de Medeiros e Zeferino da Costa, entre outros. Na Exposição Geral de 1894 recebe
medalha de ouro de 3ª classe, só voltando a ser contemplado nesse certame em 1922, com a
grande medalha de ouro, e em 1939, com a medalha de honra.
De novo em São Paulo tão logo concluído o curso no Rio, Pedro Alexandrino retoma seus
estudos com Almeida Júnior. Conhece, por essa época, Antônio Parreiras, que ao admirar uma
natureza-morta em casa de Dona Viridiana Prado, publica na imprensa paulista um artiguete
em que afirmava:
- Declaro que em natureza-morta ainda não vi coisa melhor pintada no Brasil, e que este
quadro encerra enorme promessa para um futuro de glórias, aliás não muito remoto, se os
paulistas auxiliarem o meu distinto colega. Pedro Alexandrino necessita ir ver os quadros dos
grandes mestres, necessita ir à Europa, faltando-lhe para isto os meios, o que em geral
acontece a todo aquele que se dedica às artes no Brasil.
A opinião do grande paisagista calou fundo e já em 1896, com pensão do Governo de São
Paulo, Pedro Alexandrino seguia para a Europa, em companhia de Almeida Júnior. De 1897 a
1905 demorou-se o artista em Paris, estudando no Ateliê Cormon com Renê Chrétien e Antoine
Vollon, e tomando também lições com Lauri e Monroy. Chrétien (que o retratou) e sobretudo
Vollon muito o marcaram. Com Vollon, foi que Pedro Alexandrino aprendeu os segredos do
difícil gênero que escolhera, captando algo da poesia que o grande pintor francês tão bem
sabia imprimir a seus quadros.
Durante sua estada em Paris Pedro Alexandrino tornou-se bastante conhecido nos meios
artísticos, tendo exposto nos Salons de 1899, 1900, 1901, 1903 e 1907 com êxito. Além disso
lecionava, e vendia relativamente bem. O Barão de Rotschild chegou a convidá-lo a se
transferir para os Estados Unidos, o que recusou por achar chegada a hora de retornar ao
Brasil.
No mesmo ano do regresso, 1905, expõe no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo 110 obras,
entre as quais 84 naturezas-mortas. Venceslau de Queiroz, que visitou a exposição, assim
descreve o pintor:
2. - Alexandrino lá estava, radiante de alegria, se tal manifestação se pode dar em um homem
como ele, que sempre se vestiu de preto (longa sobrecasaca e calças pretas), e trazia
inalteravelmente um rosto de poucos amigos, máscara dura e nada expressiva de caboclo
desconfiado. Nesse tempo devia contar o pintor paulista mais de 30 anos. Negros cabelos
untuosos e corredios, olhos pardos escuros e pestanudos, pele morena, barba preta e rala,
estatura meã, eis os traços característicos de seu tipo físico, que jamais fazia esquecer o seu
lídimo creoulismo de origem.
De então por diante, não deixou mais Pedro Alexandrino de produzir naturezas-mortas, que
encontraram enorme acolhida entre críticos e colecionadores, a ponto de em certo momento a
sua quantidade se ter tornado alarmante com o conseqüente declínio na qualidade. A essa
atividade pictórica alternava Pedro Alexandrino seu trabalho de professor, por seu ateliê tendo
passado, entre tantos outros, Tarsila e Bonadei, Lucilia Fraga e Alice Gonçalves. As duas
últimas foram decerto as que mais lhe assimilaram a maneira, a ponto de seus melhores
quadros serem por vezes confundidos com os do mestre.
À medida em que avançava em anos Alexandrino via-se reconhecido: em 1910 ganhou o título
de Oficial da Academia de Belas Artes de França, e em 1936 o de Comendador da Ordem da
Coroa da Itália. Sua arte, contudo, manteve-se praticamente estacionária, e por volta de 1927
dela podia Angyone Costa escrever, com ironia:
- De Pedro Alexandrino, o mais justo conceito que a sua arte pode inspirar à nossa crítica, é
que a sua fábrica de artefatos, tachos e metais se mantém a mais ativa e perfeita da pintura
nacional. As suas naturezas-mortas continuam a dar bons preços no mercado embora o mestre
já se haja habituado a truques normais para conseguir determinados efeitos, especialmente
quanto pinta metais.
Pedro Alexandrino foi talvez o melhor pintor brasileiro de naturezas-mortas, dono de técnica
esmerada. Tendo bebido a Vollon o melhor da tradição francesa, remontável a Chardin, sua
arte caracterizava-se por acentuado amor a formas, cores e texturas opulentas de objetos
inanimados, que retrataria com fidelidade e, em seus melhores momentos, não sem emoção.
Nada possui, é fato, de um inovador: acha-se próximo de um Joseph Bail, não de um Cézanne.
Mas é artista de extrema probidade, e em certas obras deu vazas a acentuado sentimento
poético, que se traduz em sutis diálogos entres formas e cores, planos e volumes. Flores,
frutas, animais mortos, vasos e copos de cristal e chaleiras de cobre, porcelanas orientais,
têxteis, talheres de prata, peixes, pães e fatias de queijo protegidas sob campânulas
absolutamente imateriais constituem o seu mundo de idéias e o seu arsenal de formas. Nunca
entendeu, e jamais aceitou a chamada arte moderna - "importada da Rússia", como declarou
certa vez numa entrevista; mas louvem-se-lhe, como o fez Monteiro Lobato em artigo de 1918,
seu "ódio a tudo que é falso, charlatenesco, kyrialesco, idiota, cúbico ou futurístico, e o seu
amor à verdade e à sinceridade".
Aspargos, óleo s/ tela, s/ data;
1,00 X 1,37, Pinacoteca do Estado de São Paulo
Frutas e flores, óleo s/ tela, s/ data;
0,69 X 1,24, Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Cozinha na roça, óleo s/ tela, 1894;
1,31 X 1,10, Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Peru depenado, óleo s/ tela, cerca de 1903;
1,64 X 1,31, Pinacoteca do Estado de São Paulo.