O documento discute a natureza dos anjos e demônios. Explica que anjos são espíritos puros que alcançaram o mais alto grau de perfeição após percorrerem todos os estágios como outros espíritos. Demônios são espíritos imperfeitos ainda em processo de purificação, e não seres criados pelo mal como alguns acreditam.
2. Definição Vulgar de Anjo e Demônio
“Os modernos representaram os anjos, os
Espíritos puros, numa figura radiosa, com asas
brancas, símbolo da pureza, e Satanás, com
chifres, garras e os atributos da bestialidade,
símbolos das paixões. O vulgo, que toma as
coisas ao pé da letra, viu nesses símbolos
entidades reais, como outrora tinha visto Saturno
na alegoria do Tempo”. (Comentário de Kardec)
3. 128. Os seres que chamamos anjos, arcanjos, serafins
formam uma categoria especial, de natureza diferente da
dos outros Espíritos?
— Não; são Espíritos puros: estão no mais alto grau da escala
e reúnem em si todas as perfeições.
Comentário de Kardec: A palavra anjo desperta geralmente
a ideia da perfeição moral; não obstante é frequentemente
aplicada a todos os seres, bons e maus, que existam fora da
Humanidade. Diz-se: o bom e o mau anjo; o anjo da luz e o
anjo das trevas; e nesse caso ela é sinônima de Espírito ou de
gênio. Tomamo-la aqui na sua significação boa.
4. Origem e Criação dos Espíritos
As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem
conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém, aptos
para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o
fim - que é a perfeição - é para todos o mesmo. Conseguem-no
mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão
direta dos seus esforços; todos têm os mesmos degraus a franquear,
o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do
que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos, não
tem predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que deve constituir a vossa
norma de conduta; ela só pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for
conforme é o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes
inteira liberdade de observar ou infringir esta lei, e assim sereis os
árbitros da vossa própria sorte.
5. 129. Os anjos também percorreram todos os graus?
— Percorreram todos. Mas, como já dissemos: uns aceitaram a
sua missão sem lamentar e chegaram mais depressa; outros
empregaram maior ou menor tempo para chegar à perfeição.
Espíritos puros ou anjos: são, pois, as almas dos homens chegados ao
grau
de perfeição que a criatura comporta, gozando, em sua plenitude, da
felicidade prometida. Antes, porém, de atingir o grau supremo, desfrutam
de uma felicidade relativa ao seu adiantamento, felicidade que consiste,
não na ociosidade, mas nas funções que apraz a Deus confiar-lhes, e por
cujo desempenho se sentem felizes, visto que tais ocupações representam
para eles um meio de progresso.
7. 130. Se a opinião de que há seres criados
perfeitos e superiores a todos os outros é
errônea, como se explica a sua presença na
tradição de quase todos os povos?
— Aprende que o teu mundo não existe de
toda a eternidade e que muito antes de existir
já havia Espíritos no grau supremo; os
homens por isso, acreditam que eles sempre
haviam sido perfeitos.
8. A Humanidade não se limita à Terra; habita inúmeros mundos que no Espaço circulam; já
habitou os desaparecidos, e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade,
Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a
suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas
fases que ora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que
houvéramos saído das mãos do Criador.
De toda a eternidade tem havido, pois, puros Espíritos ou anjos; mas, como a sua existência
humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre
anjos de todos os tempos.
Realiza-se assim a grande lei de unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve
puros Espíritos, experimentados e esclarecidos, para transmissão de suas ordens e direção do
Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus
necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigações; todos, antigos e novos,
adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio; todos, enfim, são filhos de suas obras.
E, desse modo, completa-se com igualdade a soberana justiça do Criador.
Origem dos “ditos” Anjos
9. 131. Há demônios, no sentido que se dá a essa
palavra?
—Se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus. E
Deus seria justo e bom, criando seres infelizes,
eternamente voltados ao mal? Se há demônios, e no teu
mundo inferior e em outros semelhantes que eles residem:
são esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo
um Deus mau e vingativo, e que pensam lhe ser
agradáveis pelas abominações que cometem, em seu
nome.
10. Comentário de Kardec: A palavra demônio não implica a ideia de Espírito mau, a
não ser na sua acepção moderna, porque o termo grego dáimon. de que ela deriva,
significa gênio, inteligência, e se aplicou aos seres incorpóreos, bons ou maus, sem
distinção.
Os demônios, segundo a significação vulgar do termo, seriam entidades
essencialmente malfazejas: e seriam, como todas as coisas, criação de Deus. Mas
Deus, que é eternamente justo e bom, não pode ter criado seres predispostos ao
mal por sua própria natureza, e condenados pela eternidade.
Atributos da Divindade – comentário de Kardec a pergunta 13 L.E.
Deus é ETERNO.
É IMUTÁVEL.
É IMATERIAL.
É ÚNICO.
É TODO-PODEROSO.
É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM.
11. A palavra demônio deve, portanto, ser entendida como
referente aos Espíritos impuros, que frequentemente não
são melhores que os designados por esse nome, mas
com a diferença de ser o seu estado apenas transitório.
São esses os Espíritos imperfeitos que protestam contra
as suas provações e por isso as sofrem por mais tempo,
mas chegarão por sua vez á perfeição, quando se
dispuserem a tanto.
12. A primeira condição de toda doutrina é a de ser lógica;
ora, a dos demônios, no seu sentido absoluto, falha neste
ponto essencial. Que, na crença dos povos atrasados, que
não conheciam os atributos de Deus, admitindo
divindades malfazejas, também se admitissem os
demônios, é concebível; mas para quem quer que faça da
bondade de Deus um atributo por excelência, é ilógico e
contraditório supor que ele tenha criado seres voltados
ao mal e destinados a praticá-lo perpetuamente, porque
isso seria negar a sua bondade.
13. A propósito de Satanás, é evidente que se trata da
personificação do mal sob uma forma alegórica,
porque não se poderia admitir um ser maligno
lutando de igual para igual com a Divindade, e
cuja única preocupação seria a de contrariar os
seus desígnios. Como o homem necessita de
imagens e figuras para impressionar a sua
imaginação, pintou os seres incorpóreos com
formas materiais dotadas de atributos que lembram
as suas qualidades ou os seus defeitos.
14. Demônios
(...) os demônios são simplesmente as almas dos
maus, ainda não purificadas, mas que podem,
como as outras, ascender ao mais alto cume da
perfeição (...) Kardec, Alan. O livro dos médiuns.
(...) os demônios são almas atrasadas, ainda prenhes
dos vícios da humanidade (...) Kardec, Alan. Obras
póstumas.
15. Como posso me “angelizar”?
Auto Conhecimento (pergunta: 919)
Transformação Moral (pergunta: 909)
Caridade (pergunta: 886)
Fazer o bem no limite de suas forças (pergunta: 642)
Fonte: O Livro dos Espíritos
16. Conclusão
Deus não criou o mal; todas as suas leis são para o bem, e foi o homem
que criou esse mal, divorciando-se dessas leis; se ele as observasse
escrupulosamente, jamais se desviaria do bom caminho.
Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da
existência, e daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-
lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso na senda do mal é um
atraso para a alma, que, sofrendo-lhe as consequências, aprende à sua
custa o que importa evitar. Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve,
aperfeiçoa e adianta na hierarquia espiritual até ao estado de puro Espírito
ou anjo. Os anjos são, pois, as almas dos homens chegados ao grau de
perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida
felicidade. (1ª Parte, cap. III, "O céu".)