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Jovem, ao encontro de Jesus!
de
Luzum olhar na história
rastros 2017
nº 4
março
Despretensioso convite para o
retorno às coisas simples, belas
e profundas do Evangelho.
este é o
filho do
carpinteiro?
3
atentação de
A palavra demônio não
implica a ideia de Espírito
mau, senão na sua acepção
moderna, porquanto o termo
grego daimon, donde ela
derivou, significa gênio,
inteligência e se aplica aos
seres incorpóreos, bons ou
maus, indistintamente.
Jesus
4 5RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
eSEGUNDO MATEUS
Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto,
para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e
quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome.
Então, aproximando-se o tentador, disse-lhe:
“Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
transformem em pães”. Mas Jesus respondeu: “Está
escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus.”
Então o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou
sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de
Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará
ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão
pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma
pedra. “ Respondeu-lhe Jesus: “Também está escrito:
Não tentarás ao Senhor teu Deus.”
Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte
muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo
com o seu esplendor e disse-lhe: “Tudo isto te darei,
se, prostrado, me adorares”. Aí Jesus lhe disse: “Vai-
te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus
adorarás e só a ele prestarás culto. “
Com isso, o diabo o deixou. E os
anjos de Deus se aproximaram e
puseram-se a servi-lo. (Mateus, 4:1-11)
SEGUNDO MARCOS
E logo o Espírito o impeliu para
o deserto. E Ele esteve no deserto
quarenta dias, sendo tentado por
Satanás; e vivia entre as feras, e os
anjos o serviam. (Marcos 1:12-13)
SEGUNDO LUCAS
Jesus, pleno do Espírito Santo,
voltou do Jordão; era conduzido pelo
Espírito através do deserto durante
quarenta dias e tentado pelo diabo.
Nada comeu nesses dias e, passado esse tempo, teve fome.
Disse-lhe, então, o diabo: “Se és filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Replicou-lhe
Jesus: “Está escrito: Não só de pão vive o homem”.
O diabo, levando-o para mais alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos da terra e disse-lhe: “Eu te darei
todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem eu quiser.7Por isso, se
te prostrares diante de mim, toda ela será tua”. Replicou-lhe Jesus: “Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e
só a ele prestarás culto”.
Conduziu-o depois a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-
te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, para que te guardem... E ainda: E
eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra”. Mas Jesus lhe respondeu: “Foi dito: Não
tentarás ao Senhor, teu Deus”.
Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo oportuno.” (Lucas 4:1-15)
6 7RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Antes de mais nada, alguns
apontamentos iniciais, ressaltando
que o estudo das letras sagradas não
pode ser feito através de uma simples
leitura que nos leve a seu entendimento
literal. Para sua correta interpretação,
mister que se busque a essência da
mensagem, contida no simbolismo de
seus versículos.
Nas culturas orientais, demônios
seriam todas as criaturas tidas como
místicas ou espirituais. Mas não
necessariamente de natureza maligna,
como nos casos das fadas, gnomos, etc.
Um demônio, ou ainda, daimon
ou daemon tipicamente é descrito
como um espírito do Mal, embora
originalmente, para os gregos, pudesse
também ser um ser benigno.
Satanás ou Satã (do hebraico
adversário/acusador) é um termo
originário da tradição judaico e
geralmente aplicado à encarnação do
Mal em religiões ditas monoteístas.
Demônios, satanás, diabos não
existem. Deus, ao criá-los, estaria
derrogando suas leis e contradizendo-
se, uma vez que Lhe são atribuídos os
fatores divinizadores sendo um deles a
BONDADE. Deus não criaria seres para
perturbar a vida dos homens.
Preferimos, assim, os termos “o
antagonista” (satanás), “o adversário”
(diabo) e “o tentador”. Os estudiosos
desses termos originários do hebraico e
do grego, nos trazem essa conclusão.
Encontraremos, para qualquer tema
que se pense na vida, posicionamentos
diferentes. No contexto das religiões
e filosofias, não seria diferente. Sobre
a questão de Anjos e Demônios, mais
ainda.
Sempre afirmaremos que todas
as considerações, por mais díspares
que sejam umas frente a outras, são
respeitáveis e merecem ser examinadas
com imparcialidade e bom-senso. É a
liberdade de pensar e de se expressar.
Encontramos no Bhagavad-Gita: O
homem é feito de sua crença. E o que
ele acredita, ele é.
A crença é essa convicção que
anima o homem e o arrasta para outros
objetivos.
Há a crença em si mesmo, numa obra
material qualquer, a crença política, a
crença na pátria. Para o artista, o poeta,
o pensador, a crença é o sentimento
de ideal, a visão desse foco sublime,
iluminado pela mão divina nos píncaros
eternos, para guiar a Humanidade na
direção do belo e do verdadeiro.
As crenças são generalizações que
fazemos a nosso respeito, acerca de
outras pessoas e do mundo ao nosso
redor. Elas são os princípios que
orientam nossas ações e efetivamente
formam nosso mundo social.
De modo próprio, detalhamos aqui
explicações colhidas em O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec, sobre Anjos
e Demônios, pela sua serenidade e
clareza lógica, sem prejuízo de outras
interpretações que sejam encontradas
aqui e ali.
Leiamos:
128. Os seres a que chamamos
anjos, arcanjos, serafins, formam uma
categoria especial, de natureza diferente
da dos outros Espíritos?
“Não; são Espíritos puros: os que se
acham no mais alto grau da escala e
reúnem todas as perfeições.”
A palavra anjo desperta geralmente a
ideia de perfeição moral. Entretanto, ela
se aplica muitas vezes à designação de
todos os seres, bons e maus, que estão
fora da Humanidade. Diz-se: o anjo bom
e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das
trevas. Neste caso, o termo é sinônimo
de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui
na sua melhor acepção.
129. Os anjos hão percorridos todos
os graus da escala?
“Percorreram todos os graus, mas do
modo que havemos dito: uns, aceitando
sem murmurar suas missões, chegaram
depressa; outros, gastaram mais ou
menos tempo para chegar à perfeição.”
130. Sendo errônea a opinião dos que
admitem a existência de seres criados
perfeitos e superiores a todas as outras
criaturas, como se explica que essa
crença esteja na tradição de quase todos
os povos?
“Fica sabendo que o mundo onde te
achas não existe de toda a eternidade
e que, muito tempo antes que ele
existisse, já havia Espíritos que tinham
atingido o grau supremo.
Acreditaram os homens que eles
eram assim desde todos os tempos”.
131. Há demônios, no sentido que se
dá a esta palavra?
“Se houvesse demônios, seriam
obra de Deus. Mas, porventura, Deus
seria justo e bom se houvera criado
seres destinados eternamente ao
mal e a permanecerem eternamente
desgraçados? Se há demônios, eles se
encontram no mundo inferior em que
habitais e em outros semelhantes. São
esses homens hipócritas que fazem de
um Deus justo um Deus mau e vingativo
e que julgam agradá-lo por meio das
abominações que praticam em seu
nome”.
A palavra demônio não implica a
ideia de Espírito mau, senão na sua
acepção moderna, porquanto o termo
grego daimon, donde ela derivou,
significa gênio, inteligência e se aplica
aos seres incorpóreos, bons ou maus,
indistintamente.
Por demônios, segundo a acepção
vulgar da palavra, se entendem seres
essencialmente malfazejos. Como todas
as coisas, eles teriam sido criados por
Deus. Ora, Deus, que é soberanamente
justo e bom, não pode ter criado seres
prepostos, por sua natureza, ao mal e
condenados por toda a eternidade. Se
não fossem obra de Deus, existiriam,
como Ele, desde toda a eternidade,
ou então haveria muitas potências
soberanas.
A primeira condição de toda doutrina
é ser lógica. Ora, à dos demônios,
no sentido absoluto, falta esta base
essencial. Concebe-se que povos
atrasados, os quais, por desconhecerem
os atributos de Deus, admitem em
suas crenças divindades maléficas,
também admitam demônios; mas, é
ilógico e contraditório que quem faz da
bondade um dos atributos essenciais
de Deus suponha haver Ele criado
seres destinados ao mal e a praticá-lo
perpetuamente, porque isso equivale a
Lhe negar a bondade. Os partidários dos
demônios se apoiam nas palavras do
Cristo. Não seremos nós quem conteste
a autoridade de seus ensinos, que
desejáramos ver mais no coração do que
na boca dos homens; porém, estarão
aqueles partidários certos do sentido
que ele dava a esse vocábulo? Não é
sabido que a forma alegórica constitui
um dos caracteres distintivos da sua
linguagem? Dever-se-á tomar ao pé da
8 9RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
letra tudo o que o Evangelho contém?
Não precisamos de outra prova além da
que nos fornece esta passagem:
“Logo após esses dias de aflição, o
Sol escurecerá e a Lua não mais dará
sua luz, as estrelas cairão do céu e
as potências do céu se abalarão. Em
verdade vos digo que esta geração não
passará, sem que todas estas coisas se
tenham cumprido”.
Não temos visto a Ciência contraditar
a forma do texto bíblico, no tocante à
Criação e ao movimento da Terra? Não
se dará o mesmo com algumas figuras
de que se serviu o Cristo, que tinha de
falar de acordo com os tempos e os
lugares? Não é possível que ele haja
dito conscientemente uma falsidade.
Assim, pois, se nas suas palavras há
coisas que parecem chocar a razão, é
que não as compreendemos bem, ou as
interpretamos mal.
Os homens fizeram com os demônios
o que fizeram com os anjos. Como
acreditaram na existência de seres
perfeitos desde toda a eternidade,
tomaram os Espíritos inferiores por seres
perpetuamente maus. Por demônios se
devem entender os Espíritos impuros,
que muitas vezes não valem mais do
que as entidades designadas por esse
nome, mas com a diferença de ser
transitório o estado deles. São Espíritos
imperfeitos, que se rebelam contra as
provas que lhes tocam e que, por isso,
as sofrem mais longamente, porém que,
a seu turno, chegarão a sair daquele
estado, quando o quiserem. Poder-se-ia,
pois, aceitar o termo demônio com esta
restrição. Como o entendem atualmente,
dando-se-lhe um sentido exclusivo, ele
induziria em erro, com o fazer crer na
existência de seres especiais criados
para o mal.
Satanás é evidentemente a
personificação do mal sob forma
alegórica, visto não se poder admitir
que exista um ser mau a lutar, como de
potência a potência, com a Divindade
e cuja única preocupação consistisse
em lhe contrariar os desígnios. Como
precisa de figuras e imagens que
lhe impressionem a imaginação, o
homem pintou os seres incorpóreos
sob uma forma material, com atributos
que lembram as qualidades ou os
defeitos humanos. É assim que os
antigos, querendo personificar o
Tempo, o pintaram com a figura de
um velho munido de uma foice e uma
ampulheta. Representá-lo pela figura
de um mancebo fora contrassenso. O
mesmo se verifica com as alegorias da
fortuna, da verdade, etc. Os modernos
representaram os anjos, os puros
Espíritos, por uma figura radiosa, de
asas brancas, emblema da pureza;
e Satanás com chifres, garras e os
atributos da animalidade, emblema das
paixões vis. O vulgo, que toma as coisas
ao pé da letra, viu nesses emblemas
individualidades reais, como vira outrora
Saturno na alegoria do Tempo.
*
O notável Cairbar Schutel, em seu
livro O Espírito do Cristianismo,
aborda essa passagem da Boa Nova, ora
em exame, apontada pelos evangelistas
Mateus, Marcos e Lucas, sobre a estada
de Jesus no deserto e seu encontro com
o diabo.
Assim comenta Cairbar:
Os Evangelhos não representam mais
que as narrativas dos evangelistas.
Duas partes distintas neles se
observa; primeira, a
Doutrina de Jesus, com a reprodução
dos ensinos do
Mestre e seus feitos; segunda, as
narrativas dos evangelistas contendo
o seu modo de ver sobre os fatos que
observavam e lhes foram contados,
de acordo com a versão popular e os
costumes daqueles tempos.
A nossa tarefa ao escrever O Espírito
do Cristianismo não compreende
certamente defender opiniões pessoais,
transviando a inteligência dos leitores,
para encerrá-la em artigos de fé que
não são sancionados pela razão e
repugnam à consciência. Para tornar
grande o Cristo, não é preciso revesti-lo
do sobrenatural, nem elevá-lo às regiões
do mistério; basta que o apresentemos
tal como foi, em sua Palavra, em suas
ações, nos seus feitos, durante toda a
sua dolorosa existência neste mundo,
em que até hoje o Espírito das Trevas
parece ter maior ação que o Espírito
Divino.
A “tentação do Cristo” explica
perfeitamente este nosso modo de ver.
Planeta ainda muito inferior, em que
as Potestades Inferiores têm ação mais
direta que as Potestades Superiores, é
bem provável que Jesus tivesse lutado
contra essa poderosa “Falange dos Ares”
que transvia reis e vassalos, governos
e governados, sacerdotes e religiões,
sábios e discípulos, do seu esforço de se
encaminharem para Deus, libertando-se
do orgulho e do egoísmo que se querem
eternizar no mundo. Hoje sabemos
que os dominadores daqui levam para
o Além-túmulo a sua indisciplina e
a sua maldade, bem como a ciência
que aqui e em outras existências
adquiriram; como os bons, os humildes,
os verdadeiramente sábios, os santos,
levam a ciência e santidade que são as
Suas insígnias no Mundo Espiritual.
10 11RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Sabemos também que os Espíritos
Superiores não permanecem
chumbados à superfície da Terra, nem
tampouco, na baixa atmosfera que
nos circunda, mas gozam de uma vida
mais suave, em mundos aéreos que,
embora circundando o nosso mundo,
são constituídos de matéria mais
quintessenciada, de ares mais puros,
em virtude do seu progresso espiritual
e para com mais facilidade realizarem
maior evolução, pois o progresso é
constante e a perfeição infinita. Assim
também os Espíritos inferiores, presos
à Terra, sem poderem elevar-se acima
da pesada atmosfera que respiramos,
são os que estão em contato direto com
o mundo corporal, em virtude do seu
perispírito, ainda muito grosseiro, não
lhes permitir maior surto.
Cada mundo atmosférico tem,
naturalmente, seu governo de acordo
com a natureza da sua população.
E tendo estes espíritos ação sobre o
nosso meio, nossos governadores,
nossa população, os “graúdos” que
daqui partem agem sobre os similares
que aqui estão, daí o desvairamento
que tem predominado, as revoltantes
injustiças, a falta de critério, de
senso, de lisura, de honestidade, e a
predominância do personalismo, do
orgulho, do egoísmo, em detrimento
das leis divinas que absolutamente não
são praticadas. Esses príncipes, deste e
do outro mundo, constituem a falange
denominada no Evangelho pelo nome de
Satanás ou Diabo. São os adversários,
os inimigos da Justiça, do Bem, da
Verdade.
Jesus veio ao mundo para dar
cumprimento à Lei para que a Justiça
aparecesse, o Bem fosse a norma da
vida e a Verdade a orientadora dos
povos.
Ele tinha de se manifestar com todos
esses predicados para ser reconhecido,
porque se é verdade que, segundo narra
o Evangelho, muitos espíritos obsessores
o reconheciam e obedeceram, não
é menos verdade que outros, talvez
mais “graúdos” do que esses, não o
conheciam. Esperavam a vinda do Filho
de Deus e procuravam o Filho de Deus,
desejando reconhecê-lo por algum sinal
maravilhoso por algum milagre, por
alguma obra capaz de os impressionar.
Certamente o Diabo não teve por
fim tentar o Filho de Deus, mas, sim,
reconhecê-lo, embora os evangelistas
pensassem que o escopo do Diabo era
fazer o Filho de Deus prevaricar.
Na vida popular de Jesus, vemos que
os diabos que representavam o governo
também pediam milagres, pediam
sinais, para apreciarem melhor se, de
fato, Jesus era o Messias; e aqueles
que receberam provas demonstrativas
de que Jesus, com efeito era o Cristo,
se converteram. Vemos, por exemplo,
a conversação de Jairo, que era chefe
de sinagoga; a de Zaqueu; vamos dizer
também a de Nicodemos e outras.
Contudo, a maioria não teve senão
provas morais, porque o Mestre não
dava nem um Sinal à geração perversa.
Só o “sinal de Jonas” poderia ser dado,
assim como não quis dar nem um sinal
a Satanás, ao Diabo, que no deserto, no
pico do monte e no pináculo do templo,
tentou tirar provas se de fato Jesus era
o filho de Deus.
Se o Mestre quisesse, Ele, que
era acompanhado de um exército de
Espíritos seus auxiliares, de uma milícia
de anjos, podia, sem desdouro para
si mesmo converter pedras em pão,
como converteu a água em vinho nas
Bodas de Caná; podia demonstrar ao
Diabo que os reinos da Terra, Ele e
a milícia que o seguia tomariam de
um jato, independente da vontade do
Diabo, assim como ressuscitou contra
a vontade de Satanás, que até chegou
a mandar soldados lhe guardarem o
túmulo; podia lançar-se do pináculo
do templo, assim como andou a pés
enxutos no Mar da Galileia; mas não
quis satisfazer as exigências do Diabo,
porque o único sinal que o Diabo
precisava receber era o de ser Ele o
Filho de Deus, era vê-lo cumprir a Lei
de Deus. E, de fato, esse sinal foi o
bastante para que Jesus dominasse o
poder do Diabo e se tornasse conhecido
do Diabo; “O Diabo o deixou; e eis que
vieram anjos e o serviam.”
Não se conclua do que ficou dito que
só os espíritos inferiores agem sobre
a Humanidade. Naturalmente, sendo
nosso mundo ainda muito atrasado,
e seus habitantes muito apegados á
matéria, esses espíritos predominam.
É preciso, entretanto, não excluir do
nosso nome o os Espíritos Superiores.
Monte da Quarentena. Que, por tradição, é tido como o local em que Jesus teria
estado por quarenta dias.
12 13RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Muitos deles se acham encarnados
em missão na Terra, e grande número
deles, desencarnados, vive em missão
na baixa atmosfera, para fazer progredir
aqueles que se acham preparados para
receber seus ensinos, porque a missão
dos Espíritos consiste em intensificar o
progresso. Haja vista a tarefa de Jesus,
que era seguido por uma dúzia de
espíritos encarnados de certa evolução,
que a acompanhavam em sua missão,
assim como era também seguido por
uma plêiade de espíritos que, vivendo
no Espaço, corroboravam no trabalho
que o mestre executava. Era a “Milícia
Celestial” que acompanhou Jesus desde
o seu nascimento até a sua morte e
depois da sua ressurreição. Dentre estes
espíritos desencarnados, dois bem se
deram a conhecer como tendo vivido
no mundo em eras passadas. Eram
os grandes missionários da Lei e dos
Profetas: Moisés e Elias.
Aclarando a narração dos Evangelhos,
vemos que logo depois de haver-se dado
Jesus a conhecer a João Batista, que era
o seu precursor, o seu “apresentador”,
conhecimento que mereceu a sanção
do Espírito “que desceu sobre Jesus”
imediatamente o Espírito o impeliu para
o deserto, diz o Apóstolo Marcos, e o
Apóstolo Lucas acrescenta que “cheio do
Espírito Santo voltou Jesus do Jordão e
foi levado pelo Espírito ao deserto, onde
permaneceu durante quarenta dias,
sendo tentado pelo Diabo”.
O trecho dá a entender bem que
quem levou Jesus ao deserto não foi o
Diabo, mas sim o Espírito Santo, que
com Ele se manteve durante todo o
tempo em que Jesus lá estivera “com as
feras, e servido pelos anjos”, como diz
Marcos.
O “tentador”, certamente poderoso,
pois chegou a afirmar que “a autoridade
e glória dos reinos da Terra lhe havia
sido entregues e que destes poderia
dispor como melhor entendesse”
(Lucas 4:6), o “tentador”, maravilhado
ante a imponência do quadro que se
desdobrava a suas vistas - um homem
no deserto cercado de Espíritos de
Luz - inclinou-se a saber se, de fato,
seria aquele homem o Filho de Deus, o
Messias esperado e prometido. Daí as
provas cruciais a que quis submeter o
Senhor.
“O homem, para ser olhado na Terra,
procurado, invejado, precisa mostrar-se
pelo seu ventre, pelo seu estômago, e
se Jesus fosse capaz de converter uma
pedra em pão, estava dada a prova de
que ele disporia de todos os manjares
que regalam o estômago e intumescem
o abdome:
“O homem, para ser poderoso,
precisa dispor do mundo, dos reinos e
impérios; dos governos e das nações,
e; para que assim aconteça, tem ele de
“dobrar a espinha” a uns e se curvar,
genuflexo, a outros; e se Jesus se
submetesse aos convites do “tentador”,
não haveria dúvida para este, em ser
Jesus o Filho de Deus;
“O homem, para se distinguir de
seus semelhantes e mostrar a sua
superioridade, deve ser prodigioso,
porque os sinais e prodígios seguem
sempre os homens extraordinários. Se
aquele homem do deserto, que subiu ao
cume do monte e anda acompanhado
de uma milícia de gênios for o Filho
de Deus, não relutará em dar provas,
lançando-se daí abaixo, porque nenhum
mal sofrerá;
“Se a Escritura reza que o Filho de
Deus será o Maravilhoso, o Deus Forte,
o Pai da Eternidade, e que Ele será o
Grande Príncipe para firmar e fortificar o
zelo do Senhor dos Exércitos;
“Se corre uma voz pelo mundo e pelo
espaço que Ele será o dominador do
mundo;
“Submetamo-lo desde já à prova,
examinemo-lo detidamente”.
Não podia ser outro o raciocínio de
Satanás, ansioso por verificar se, de
fato, Jesus era o Filho de Deus, que
vinha redimir, não um povo, uma nação,
mas o mundo todo.
Sem conhecimento do Deus Vivo que
impera no universo todo, sustentando os
sóis, multiplicando os mundos, criando
humanidades, como poderia Satanás
o Príncipe do mundo, como o chamou
Jesus, reconhecer o Mestre Nazareno
como sendo o Filho de Deus?
Se na época atual Ele outra vez
aparecesse na Terra, seria reconhecido
pelos reis, pelos governadores, pelos
sacerdotes, pelos papas? E os papas e
os césares que se conservam no Espaço,
como reis e príncipes deste mundo,
reconhecê-lo-ão, porventura?
Não exigirão, como o fez Satanás,
que o Senhor produza a conversão da
pedra em pão, que o Senhor os adore
para poder andar livremente no mundo,
pregando o seu mister, que o Senhor se
atire dos pináculos das Catedrais e dos
Vaticanos e das sacadas das Academias,
para que eles possam crer que Jesus é
o Filho de Deus, o Messias cujo advento
todos os sacerdotes anunciam para
breve, o Cristo que todas as religiões
dizem estar chegando?
Haja vista o martirológio de médiuns
que, submetidos a tantas experiências e
provas, apesar dos prodígios operados,
prodígios relatados em livres que
enchem hoje bibliotecas, entretanto,
não conseguiram impor sequer
crença na Imortalidade, quanto mais
estabelecerem a lei da Fraternidade na
Terra!
Jesus não podia ser tentado pelo
Diabo, nem Deus podia submeter o Seu
Eleito, o Seu Enviado, o Seu Escolhido,
a essa humilhação. O Diabo não teve
por objetivo tentar a Jesus, mas, sim,
investigar, examinar, observar se Jesus
era, com efeito, o Messias que se
esperava. o Filho de Deus.
Os nababos do Espaço que formam o
“cortejo satânico” não eram oniscientes,
não sabiam se o “homem do deserto”,
vestido duma simples túnica e calçado
de sandálias; que não carregava um pão
para o seu retiro espiritual, nem sequer
levava um travesseiro para reclinar sua
cabeça, e mesmo assim era respeitado
pelas feras e servido pelos anjos, seria
o Cristo, o Filho de Deus. Eles não
sabiam, mas desconfiavam, e a dúvida
os encaminhou para o exame.
A “tentação de Jesus” não passa dum
título posto nas Escrituras por opiniões
pessoais, que não interpretaram bem a
tradução dos originais dos Evangelhos.
Entretanto, o que se evidência nessas
passagens, o que se pode auferir dessas
narrativas, é que os espíritos malévolos
não respeitam individualidades, por
maiores que elas sejam. Todos estão
sujeitos à ação das potestades invisíveis,
sejam elas boas ou más. E se os maus
se põem em relação conosco, com
ou sem intuito de nos prejudicar, em
compensação os bons vêm auxiliar-nos:
“Jesus, tentado por Satanás, tinha, por
outro lado, os anjos para O servirem”.
Deus, quando permite o convívio dum
espírito inferior conosco, é certamente
para que ele progrida, e, não, para que
nos prejudique; por isso envia também
14 15RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
espíritos superiores para nos auxiliarem.
O que é preciso é que nos tornemos inflexíveis no cumprimento da Lei. Já que
“nem só de pão vive o homem”, e “só ao Senhor nosso Deus pertence o culto e a
adoração”, para que tiremos bom proveito na nossa tarefa terrestre cumpramos
esses mandamentos, e Satanás nos deixará, submisso ao nosso exemplo,
propondo-se também, quiçá, a renunciar às suas pompas, que tanto o fazem sofrer.
O Espírito do Evangelho é a Religião de Jesus Cristo, religião natural, pura,
verdadeira, que dispensa retórica e sofismas, milagres e mistérios que só podem
desestruturá-lo.
Olhemos para Jesus e caminhemos. Sua Vida é a vida que precisamos viver.
*
Além dessas considerações de Cairbar, podemos ainda, para efeito de raciocínio,
notar a passagem evangélica em apreço, como se fosse uma metáfora, e de modo
mais filosófico, lermos no texto como o grande desafio da vivência na Terra, com os
apelos das trevas e a necessidade da luz, em cuja luta devemos posicionar Jesus
no comando, de quem colheremos todas as condições para a superação definitiva
sobre nós mesmos e o mundo. Foi Jesus que orientou vivermos no mundo sem
sermos do mundo. E o texto evangélico demonstra que, apesar de todos os desafios
propostos pela vida, ou os apelos da vida mundana, com Jesus venceremos a nós
mesmos.
Esse ir ao deserto é o mesmo que procurar o silêncio mental onde o homem a si
próprio se encara, face a face, como num espelho mágico, e onde todas as vozes
interiores se erguem, para os debates supremos, em tempestuosos turbilhões.
Podemos perguntar, sem termos as respostas: que se
passa entre Jesus e o deserto? Entre Jesus e o silêncio?
Entre Jesus e o céu azul profundo, fulgurando nos poentes
de fogo, nas auroras incendiadas, na chama azul tranquila
do meio-dia e na apoteose sideral da noite?
Que se passa entre Jesus e o Pai? Entre Jesus e o
Espírito?
Até que ponto a meditação do Homem? Onde termina
Jesus de Nazaré e onde começa Jesus, o Cristo de Deus?
Que pensamentos humanos povoam sua alma e que
pensamentos divinos resplandecem na essência misteriosa
do seu Ser?
De certo modo, a missão humana circunscrita à vida
privada terminara. Sua estada com João, o Batista, foi o
marco divisório.
Jesus, de agora em diante, já não possui um lar. Dirá que
“até as raposas possuem um covil, mas o Filho do Homem
não tem onde repousar a cabeça”.
O essencial é superar o “efêmero” e não perder de vista
o Infinito. Manter o sentido das harmonias eternas. Assim
seria e assim foi com Ele.
Tudo isso, talvez, fossem os pensamentos do Homem.
Nunca poderemos conceber quais os pensamentos do Cristo.
MAR DA
GALILEIA
16 17RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Nesse silêncio meditativo, também se vislumbrava a presença do Mal.
E esse mal veste a roupa dos apelos do corpo humano e da fome dos apetites, vestindo a imagem do desafio de que as pedras fossem transformadas
em pães, a fim de que se despontasse a fraqueza muito comum entre os homens comuns: o orgulho. No caso, que Jesus, desafiado, agisse por orgulho e
lançasse mão de seus poderes divinos.
E o Bom-Senso Divino responde que nem só de pão vive o homem.
O mal recua momentaneamente, mas não desiste da batalha.
Tenta ferir Jesus na segunda fraqueza humana: a vaidade.
O mal tentador propõe que Jesus se atirasse do pináculo do Templo, uma vez estar escrito de os Anjos de Deus não deixariam que nada acontecesse ao
Enviado.
Dificilmente um homem escapa a esta cilada. Quase sempre o Espírito do Mal a prepara pela boca dos nossos mais próximos: amigos, familiares,
admiradores.
18 19RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
“Se você fosse forte, agiria assim ou
assado”, “se fosse inteligente, resolveria
de tal forma”, “se tivesse poder, não se
sujeitaria a tais coisas”, “mostra que
você não é um qualquer”, “age como
homem” ... Tais são algumas das frases
que cegam os homens desejosos de
aparecer de modo superior e diferente
aos olhos do mundo.
E o Poder do Amor contrapõe: não
tentará ao Senhor teu Deus.
O mal não se dá por vencido. Ataca
pela fraqueza da ambição, que encerra
a fraqueza do orgulho e todas as
fraquezas materiais.
E do alto do monte se pode
vislumbrar a grandeza e a opulência, a
força do ouro, da volúpia, do orgulho e
da brutalidade.
No entanto, os Olhos de Luz, naquele
mesmo alto da montanha, contempla
os reinos do mundo e vê, lá em baixo,
no ar trêmulo, as cidades, os vales e a
maior das riquezas... a Humanidade.
E o Verbo Sublime responde ao mal:
retire-se, porque está escrito: adorarás
ao Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Findo o seu tempo e registrada
mais esta lição para os homens, Jesus
caminha vagarosamente descendo a
montanha, sai do deserto do silêncio.
Caminha firmemente, sem se curvar.
Vai de retorno à Galileia.
Reflexivamente, as marcantes
imagens da passagem evangélica, se
configuram para nós um teste sobre
tentações, onde se destaca a dualidade
do Bem e do Mal, da Treva e da Luz,
convidando-nos a uma viagem à
vastidão de nosso mundo íntimo, e ali
nos confrontarmos conosco mesmo, a
fim de identificarmos as razões de nossa
existência e firmarmos duro embate
contra nossas fraquezas morais, como
orgulho, egoísmo, vaidade, cobiça e
outros.
Considerando que nenhum dos
evangelistas esteve com Jesus nesse
episódio, e que o conhecimento de tal
ocorrência só pode ter se dado por
comentários do próprio Messias, não se
incorre em erro pensar nessa passagem
bíblica, como mais uma das lições de
Jesus ao povo, na qual, como diante
de outros tantos exemplos contidos no
Novo Testamento em que o mestre por
excelência, lançou mão, didaticamente,
de aspectos do cotidiano e da natureza,
para lecionar seus belos ensinos através
de suas parábolas: figueiras, grão de
mostarda, moedas e outros, também
poderá ter lançado mão da figura de
um deserto como cenário, onde o ser
humano é o protagonista, e os anjos
e demônios, a dualidade entre o bem
e o mal, a fim de lecionar sobre as
fraquezas e as virtudes, sobre a vida
dessa centelha divina (o Homem) no
planeta Terra, entre criaturas involuídas,
bem como perante si próprio e suas
tendências. E a passagem do Homem
pela Terra tem justamente a finalidade
de “ser tentado”, ou melhor, ser
“experimentado” através da sua vivência
no dia a dia e das suas vicissitudes. Mais
tarde, os evangelistas que abordaram
a lição, o fizeram ao sabor de suas
lembranças e do seu estilo de escrita.
Mas então, por que quarenta? É
um número simbólico e cabalístico, que
vemos repetido no Velho Testamento:
o dilúvio dura quarenta dias (Gên.
7:17); Moisés jejua no Sinai, por duas
vezes, durante quarenta dias de cada
vez (Deut. 9:9 e 9:18); os israelitas
ficam 40 anos a peregrinar pelo deserto
(Núm. 14:33) ; Elias jejua 40 dias (1
Reis 19:8); David e Salomão reinam
quarenta anos cada um (1 Reis, 2:11
e 11:42) e outros passos ainda. Na
própria vida de Jesus temos esse jejum
e mais tarde sua permanência na Terra
entre a ressurreição e a ascensão,
durante quarenta dias (At. 1:3).
Deve haver algum significado nesse
número.
Além do mais, os evangelistas
viveram entre povo de grande apego às
tradições bíblicas e históricas. De certo
modo, todos nós ainda temos esses
apegos às tradições.
Em vários outros momentos dos
escritos sagrados, nos deparamos
com Jesus se recolhendo para orar, se
afastando para orar, como no Monte
das Oliveiras. Eram seus momentos de
recolhimento, meditação, oração, de
comunhão com Deus.
Buscava lugares mais isolados, onde
pudesse ficar a sós.
Não é de se estranhar, e nem seria
ocorrência excepcional, que Jesus, na
ocasião dos escritos que ora estudamos,
tenha também se retirado à algum lugar
mais isolado na região, a fim de meditar,
tendo ali ficado um certo tempo, não
necessariamente 40 dias. Lugar de
silêncio, não necessariamente com as
agrestias de um deserto, propriamente
dito (aliás, o mais difícil seria encontrar
um lugar mais habitável pelas cercanias,
já que, no geral, a região ainda é
pedregosa e seca). Para jejuar, meditar,
sim; não necessariamente para jejuar
como geralmente assim entendemos,
apesar de o jejum nas Escrituras
estar quase sempre relacionado à
comida, mas há outras maneiras de
jejuar. Tudo que você pode abrir mão
temporariamente, se abster, para que
melhor se concentre em Deus pode ser
considerado um jejum. Para antever
o contexto de provas e expiações, de
tentações e de experiências, a que a
Humanidade estava e está sujeita, sim;
não necessariamente para Ele próprio
necessitar se submeter a tentações
de qualquer espécie e modo, pois Ele
é o Governador da Terra, e sobre Ele
escreveu-nos João, dando-nos a ideia
da grandeza desse Espírito, ainda hoje
muito comentado, sobre Ele muito
se escrevendo, mas ainda pouco
conhecido e menos ainda vivido como
guia e modelo, decorrendo de nossa
identificação com Ele:
“Estava no mundo, e o mundo
foi feito por ele, e o mundo não o
conheceu.” (João 1 : 10)
Em outro momento, Ele mesmo se
afirma muito antes de tudo e de todos
nós: “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo que antes que Abraão
existisse, eu sou.” (João 8 : 58)
A primeira condição de toda doutrina
é ser lógica, conforme dito por Allan
Kardec, em seus comentários à questão
131 de O Livro dos Espíritos, como
acima transcrevemos.
21
reflexões
Eis porque se pode afirmar
que o Bem faz muito bem,
enquanto que o Mal faz muito
mal. A simples mudança,
portanto, de atitude mental
do indivíduo en-seja-lhe o
encontro com o Bem que
irá desenvolver-lhe os
sentimentos profundos da sua
semelhança com Deus.
sobre
e
o Mal
o Bem
22 23RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
nNa passagem evangélica tratada
neste fascículo, nossas reflexões nos
remetem à dualidade do bem e do mal.
Ninguém, portador de consciência,
pode peregrinar pela Terra, sem um
sentido existencial que se espraie
além das denominadas necessidades
imediatas, que deixam de atender as
exigências emocionais, logo que são
vivenciadas.
Por essa razão, a experiência interior
torna-se de relevante significado, sem
a qual todas as realizações externas
perdem a significação, porque passam a
ser possuídas sem atender as exigências
emocionais, que, não resolvidas,
desencadeiam o vazio existencial.
Nessa viagem interna, que pode ser
comparada a uma aventura interior,
a consciência amplia-se ao infinito,
portanto, indo muito além dos limites
habituais adstritos aos desejos do ter e
do prazer.
O Espírito tem necessidade de
superar os impedimentos da matéria
em que se encontra retido durante o
processo da evolução, para desvelar as
potências nele adormecidas, o seu deus
interno.
O divino em cada um luta
inevitavelmente contra o humano, a
força transcendente em alerta contra o
poder do animal ególatra e escravizador.
Em outras palavras, é o esforço
imenso para emergir da escuridão
da ignorância para a claridade do
discernimento e da razão.
Desde quando a razão e a consciência
começaram a desenvolver-se no ser
humano, a divisão do bem e do mal se
apresentou de maneira conflitiva.
No livro Em Busca da Verdade,
capítulo 8, Joanna de Ângelis ensina:
O que significa, porém, o bem? Tudo
aquilo que contribui em favor da vida,
do seu desenvolvimento ético e moral, a
sua construção edificante e propiciadora
de satisfações emocionais, é considerado
como o bem. Necessário, no entanto,
evitar confundir o de natureza física com
a emoção de harmonia, de equilíbrio
interior, de felicidade que se adquire por
meio de pensamentos, palavras e ações
dignificantes, não geradoras de culpa.
O mal, por sua vez, é tudo quanto
gera aflição, que se transforma
em problema, que trabalha pelo
prejuízo de outrem e do grupo social,
levando ao desconforto moral, à
destruição... Entretanto, do ponto de
vista educacional, se for observada
criteriosamente essa ocorrência,
poder-se-á constatar que muito mal de
determinado momento, administrado
corretamente pode transformar-se
em grande bem. Por outro lado, o que
pode parecer um mal para determinado
indivíduo, proporciona-lhe o despertar
da consciência, o caminho que o levará
ao autodescobrimento.
Allan Kardec, em O Livro dos
Espíritos, interrogou os Espíritos
superiores, conforme questão de nº
630:
Como se pode distinguir o bem do
mal?
E eles responderam:
“O bem é tudo o que é conforme à
lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é
contrário. Assim, fazer o bem é proceder
de acordo com a lei de Deus. Fazer o
mal é infringi-la.”
A dualidade do bem e do mal no
ser humano é fenômeno natural
de desenvolvimento da psique,
apresentando situações antagônicos,
como alto e baixo, belo e feio, claro e
escuro, bom e mau, certo e errado...
Sobre o bem e do mal, Jesus também
utilizou-se de uma bela imagem para
essa dualidade quando se referiu ao joio
e ao trigo, portanto, àquilo que é danoso
na seara e o que é benéfico, porque
fomentador da vida. Ao mesmo tempo,
propôs que não se resistisse ao mal, ao
que equivale dizer, que através da ação
cordial e perseverante, sem entrar em
oposição ao pernicioso, consegue-se a
situação ideal, a vitória sobre o que é
prejudicial.
Parábola do joio
Mateus 13: 24-30
Propôs-lhes outra parábola: “O Reino
dos Céus é semelhante a um homem
que semeou boa semente no seu campo.
Enquanto todos dormiam, veio o seu
inimigo e semeou o joio no meio do trigo
e foi-se embora. Quando o trigo cresceu
e começou a granar, apareceu também
o joio, Os servos do proprietário foram
procurá-lo e lhe disseram: ‘Senhor, não
semeaste boa semente no teu campo?
Como então está cheio de joio?’ Ao
que este respondeu: ‘Um inimigo é que
fez isso’. Os servos perguntaram-lhe:
‘Queres, então, que vamos arrancá-
lo?’ Ele respondeu: ‘Não, para não
acontecer que, ao arrancar o joio, com
ele arranqueis também o trigo. Deixaios
crescer juntos até a colheita. No tempo
da colheita, direi aos ceifeiros: ‘Arrancai
primeiro o joio e atai-o em feixes
para ser queimado; quanto ao trigo,
recolhei-o no meu celeiro’”.
Explicação da parábola do joio
Mateus 13: 36-43
Então, deixando as multidões, entrou
em casa. E os discípulos chegaram-
se a ele, pedindo-lhe: “Explica-nos
a parábola do joio no campo”. Ele
respondeu: “O que semeia a boa
semente é o Filho do Homem. O campo
é o mundo. A boa semente são os
filhos do Reino. O joio são os filhos do
Maligno. O inimigo que o semeou é o
Diabo. A colheita é o fim do mundo.
Os ceifadores são os anjos. Da mesma
forma que se junta o joio e se queima
no fogo, assim será no fim do mundo:
o Filho do Homem enviará seus anjos
e eles apanharão do seu Reino todos
os escândalos e os que praticam a
iniquidade e os lançarão na fornalha
ardente. Ali haverá choro e ranger de
dentes. Então os justos brilharão como
o sol no Reino de seu Pai. O que tem
ouvidos, ouça!
24 25RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
O bem, portanto, não é ausência do
mal, assim como o mal não pode ser
considerado como fora do bem, mas
experiências que poder ser conduzidas
criteriosamente pela consciência para a
autoconquista.
E como regra fundamental, para
que ninguém tenha dúvida quanto à
vigência de um ou de outro no cotidiano,
asseverou Jesus com sabedoria: “Vede
o que queríeis que vos fizessem ou não
vos fizessem. Tudo se resume nisso.
Não vos enganareis.” (O Livro dos
Espíritos, resposta à questão nº 632).
*
Joanna de Ângelis, Benfeitora
Espiritual, pela mediunidade de Divaldo
Franco, no livro Amor, Imbatível Amor,
apresenta-nos a mensagem que segue,
trazendo-nos material precioso para
reflexão amadurecida a respeito do
temário que tratamos aqui.
Leiamos:
— Igualmente deformada —
redarguiu, o anfitrião.
O homem nobre concluiu,
informando-o: — Se entenderes isso,
serás um rico feliz.
Depois que se foi, o anfitrião começou
a meditar e, a partir daí, passou a
repartir com os necessitados, aquilo
que lhe parecia excedente, tornando-se
generoso.
Todos os opostos, afirma o antigo
koan, bem e mal, ter e não ter, ganhar
e perder, eu e os outros, dividem a
mente. Quando são aceitos, afastam as
pessoas da mente original, sucumbindo
ao dualismo.
A sabedoria, concluiu a narração
sintética, está no meio, no Zen, que é o
caminho.
A dualidade sempre esteve
presente no ser humano, desde o
momento em que ele começou a
pensar, desenvolvendo a capacidade
de discernir. Os opostos têm-lhe
constituído desafios para a consciência,
que deve eleger o que lhe é melhor, em
detrimento daquilo que lhe é pernicioso,
perturbador, gerador de conflitos.
Não poucas vezes, por imaturidade,
toma decisões compulsivas e derrapa
em estados de perturbação, demarcando
fronteiras e evitando atravessá-
las, assim perdendo contato com as
possibilidades existentes em ambos os
lados, que podem auxiliar na definição
de rumos. Essa definição, no entanto,
não pode ser cerceadora das vivências
educativas, produtoras. Devem
caracterizar-se pela eleição natural
do roteiro a seguir, de maneira que
nenhuma forma de tormento pelo não
experimentado passe a gerar frustração.
DUALIDADE DO BEM E DO MAL
DO LIVRO: Amor, Imbatível
Amor. Joanna de Ângelis,. Divaldo Franco)
Um velho koan Zen-Budista narra que um homem muito avarento recebeu,
oportunamente, a visita de um mestre.
O sábio, depois de saudá-lo, perguntou-lhe: — Se eu fechar a minha mão para sempre, não
a abrindo nunca, como te parecerá?
O avaro respondeu-lhe sem titubear: — Deformada.
Muito bem, prosseguiu o interlocutor: — E se eu a abrir para sempre, como a verás?
26 27RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
A experiência ensina a conquistar os
valores legítimos, aqueles que propiciam
a evolução, facultando, na análise dos
contrários, a opção pelo que constitui
estímulo ao crescimento, sem que gere
danos para o próprio indivíduo, para o
meio onde se encontra, para outrem.
Somente assim, é possível a aquisição
do comportamento ideal, propiciador
de paz, porque não traz, no seu bojo,
qualquer proposta conflitiva.
Do ponto de vista ético, definem os
dicionaristas, o bem é a qualidade
atribuída a ações e a obras humanas
que lhes confere um caráter
moral. (Esta qualidade se anuncia
através de fatores subjetivos
— o sentimento de aprovação,
o sentimento de dever — que
levam à busca e à definição de um
fundamento que os possa explicar.)
O mal é tudo aquilo que se apresenta
negativo e de feição perniciosa, que
deixa marcas perturbadoras e afligentes.
Na sua origem, o ser não possui
a consciência do bem nem do mal.
Vivendo sob a injunção do instinto, é
levado a preservar a sobrevivência, a
reprodução, atuando por automatismos,
que irão abrindo-lhe espaços para
os diferenciados patamares do
conhecimento, do pensamento, da
faculdade de discernir.
A seleção do que deve em relação ao
que não deve realizar dá-se mediante
a sensação da dor física, depois
emocional, mais tarde de caráter moral,
ascendendo na escala dos valores éticos.
Percebe que nem tudo quanto lhe é lícito
executar, pode fazê-lo, assim realizando
o que lhe é de melhor, no sentido de
descobrir os resultados, porquanto
aquilo que lhe é facultado, não poucas
vezes fere os direitos do próximo,
da vida em si mesma, quanto da sua
realidade espiritual.
Essa percepção torna-se a presença
da capacidade de eleger o bem em
detrimento do mal. Faz-se a realidade
livre da sombra; o avanço psicológico
sem trauma, a ausência de retentivas na
retaguarda.
Embora haja o bem social, o de
natureza legal, aquele que muda
de conceito conforme os valores
éticos estabelecidos geográfica ou
genericamente, paira, soberano, o Bem
transcendental, que o tempo não altera,
as situações políticas não modificam,
as circunstâncias não confundem. É
aquele que está inscrito na consciência
de todos os seres pensantes que, não
obstante, muitas vezes, anestesiem-no,
permanece e se impõe oportunamente,
convidando o infrator à recomposição do
equilíbrio, ao refazimento da ação.
O mal, remanescente dos instintos
agressivos, predomina enquanto
a razão deles não se liberta, sob a
dominação arbitrária do ego, que
elabora interesses hedonistas, pessoais,
impondo-se em detrimento de todas as
demais pessoas e circunstâncias.
O seu ferrete é tão especial que,
à medida que fere quantos se lhe
acercam, termina por dilacerar aquele
que se lhe entrega ao domínio,
tombando, exaurido, pelo caminho do
seu falso triunfo.
O ser humano foi criado à imagem
de Deus, isto é, fadado à perfeição,
superando os impositivos do trânsito
evolutivo, nessa marcha inexorável a
que se encontra compelido.
Possuindo os atributos da beleza,
da harmonia, da felicidade, do amor,
deve romper, a pouco e pouco, a casca
que o envolve — herança do período primário por onde tem que passar — a fim
de desenvolver as aptidões adormecidas, que lhe servem temporariamente de
obstáculo a esses tesouros imarcescíveis.
O Bem pode ser personificado no amor, enquanto o mal pode ser apresentado
como sendo-lhe a ausência.
Tudo aquilo que promove e eleva o ser, aumentando-lhe a capacidade de viver
em harmonia com a vida, prolongá-la, torná-la edificante, é expressão do Bem.
Entretanto, tudo quanto conspira contra a sua elevação, o seu crescimento e os
valores éticos já logrados pela Humanidade, é o mal.
O mal, todavia, é de duração efêmera, porque resultado de uma etapa do
processo evolutivo, enquanto o Bem é a fatalidade última reservada a todos os
indivíduos, que se não poderão furtar desse destino, mesmo quando o posterguem
por algum tempo, jamais o conseguindo definitivamente.
Eis porque o ser tem a tendência inevitável de buscar o amor, de entregar-se-
28 29RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
lhe, de fruí-lo.
Encarcerado no egoísmo e acostumado às buscas externas, recorre aos expedientes do prazer pessoal,
em vãs tentativas de desfrutar as benesses que dele decorrem, tombando na exaustão dos sentidos ou na
frustração dos engodos que se permite.
Oportunamente um aprendiz indagou ao seu mestre:
— Dize-nos o que é o amor.
— E o sábio, após ligeira reflexão, redarguiu com um sorriso:
— Nós somos o amor.
Esse sentimento que temos todos os seres viventes
expressa o Supremo Bem, que nos cumpre buscar, embora
estejamos na faixa da libertação da ignorância, errando, ainda
praticando o mal temporário por falta da experiência evolutiva,
que nos junge às sensações, em detrimento das emoções
superiores que alcançaremos.
Há uma tendência para a experiência do Bem, face à paz e à
beleza interior que se experimenta, constituindo-se um grande
desafio ao pensamento psicológico estabelecer realmente o que
é de melhor para o ser humano, graças aos impositivos dos
instintos que prometem gozo, enquanto que a sua libertação,
às vezes, dolorosa, em catarse de lágrimas, proporciona em
plenitude.
A terapia do Bem — essa eleição dos valores éticos que
propiciam paz de consciência — constitui proposta excelente
para a área da saúde emocional e psíquica, consequentemente,
também física dos seres humanos, que não deve ser
desconsiderada.
À medida que se amplia o desenvolvimento psicológico,
seu amadurecimento, são eliminadas as distâncias entre o eu
e os outros, superando o mal pelo bem natural, suas ações
de fraternidade e de compreensão dos diferentes níveis de
transição moral, compreendendo-se que o mal que a muitos
aflige, por eles mesmos buscado, transforma-se na sua lição de
vida.
Eis porque é necessária a terapia da realização edificante,
produzindo sempre em favor de si mesmo, do próximo e do
meio ambiente, evitando qualquer tentativa de destruição, de
perturbação, de desequilíbrio.
Por isso, não realizar o bem é fazer-se a si mesmo um
grande mal. Dificultar-se a ascensão, é forma de comprazer-
se na vulgaridade, na desdita, assumindo um comportamento
masoquista, no qual se sente valorizado.
Certamente, nem todos os indivíduos conseguem de
imediato uma mudança de conduta mental, portanto,
emocional, da patologia em que se encarcera, para viver a
liberdade de ser feliz. Isso exige um esforço hercúleo que,
normalmente, o paciente não envida. Acredita que a simples
assistência psicológica irá resolver-lhe os estados interiores
que o agradam, quase que a passo de mágica, transferindo
para o psicoterapeuta a tarefa que lhe compete desenvolver.
30 31RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Para esse cometimento, o do
reequilíbrio, a assistência especializada é
indispensável, somada à contribuição de
um grupo de apoio e ao interesse dele
próprio para conseguir a meta a que se
propõe.
A religião bem orientada, pelo
conteúdo psicológico de que se reveste,
desempenha um papel de alta relevância
em favor do equilíbrio de cada pessoa
e, por extensão, do conjunto social, no
qual se encontra localizada.
A religião que se fundamenta,
no entanto, na conduta científica de
comprovação dos seus ensinamentos,
que documenta a realidade do Espírito
imortal e a sua transitoriedade nos
acontecimentos do corpo, como é o
caso do Espiritismo, melhores condições
possui para auxiliá-la na escolha do
caminho a trilhar com os próprios
pés, propondo-lhe renovação interior
e adesão natural aos princípios que
promovem a vida, que a dignificam,
portanto, que representam o Bem.
Por outro lado, proporciona-lhe uma
conduta responsável, esclarecendo-a
que cada qual é responsável pelos
atos que executa, sendo semeadora
e colhedora de resultados, cabendo-
lhe sempre enfrentar os desafios de
superar-se, porque toda conquista
valiosa é resultado do esforço daquele
que a consegue. Nada existe que não
haja sido resultado de laborioso esforço.
Ainda mais, faculta-lhe o
entendimento de como funcionam as
Leis da Vida, em cuja vigência todos os
seres somos participantes, sem exceção,
cada qual respondendo de acordo com
o seu nível de consciência, o seu grau
de pensamento, as suas intenções
intelecto-morais.
Abre, ademais, um elenco de novas
informações que a capacitam para a
luta em prol da saúde, explicando-lhe
que existe um intercâmbio mental e
espiritual entre as criaturas que habitam
os dois planos do mundo: o espiritual
ou da energia pensante e o físico ou da
condensação material.
A morte do corpo, não extinguindo
o ser, apenas altera-lhe a compleição
molecular, mantendo-lhe, não
obstante, os valores intrínsecos à sua
individualidade, o que faculta, muitas
vezes, o intercâmbio psíquico.
Quando se trata de alguém cuja
existência foi pautada em ações
elevadas, a influência é agradável,
rica de saúde e de harmonia. Quando,
porém, foi negativa, inquieta ou
doentia, perturbada ou insatisfeita,
transmite desarmonia, enfermidades,
depressões e alucinações cruéis, que
passam a constituir psicopatologias de
classificação muito complexa, na área
das obsessões espirituais e de libertação
demorada, que exigem muito esforço e
tenacidade nos propósitos em favor da
recuperação da saúde.
O Bem, portanto, é o grande antídoto
a esse mal, como o é também para
quaisquer outros estados perturbadores
e traumáticos da personalidade humana.
Outrossim, a experiência do Bem
se dará plena após o trânsito pelas
ocorrências do Mal, os insucessos, as
perturbações, as reações emocionais
conflitivas, que facultam o natural
selecionar dos comportamentos
agradáveis, tranqüilos, que validam o
esforço de haver-se optado pelo que é
saudável. Caso contrário, a aquisição
positiva não se faz total, porque será
mais o resultado de repressão aos
instintos do que superação deles, graças
ao que se pode adquirir virtudes —
sentimentos bons, conquistas do Bem
—, no entanto, perder-se a integridade,
a naturalidade do processo de elevação.
A pessoa torna-se frustrada por não
haver enfrentado as lutas convencionais,
evitando-as, ocasionando um
sentimento de culpa, que é, por sua vez,
uma oposição à proposta encetada para
a vida correta.
A experiência do Bem e do Mal
começa na infância diante das atitudes
dos pais e dos demais familiares. Por
temor a criança obedece, porém, não
compreende o que é certo e aquilo que
é errado, que lhe querem incutir os
genitores, muitas vezes por imposição
sem o esclarecimento correspondente
para a análise lenta e à assimilação da
razão.
Se a criança não consegue entender
aquilo que lhe é ministrado e exigido,
passa a aceitar a informação por medo
de punição, até o momento em que se
liberta da imposição, transformando
o sentimento em culpa, e temendo
reagir pelo ódio ou pelo ressentimento,
ou, noutras situações, reprimindo-se,
tomba na depressão. O inconsciente,
utilizando-se do mecanismo de
preservação do ego, resolve aceitar o
que foi ministrado, passando a insuflar
a conduta reta, no entanto, em forma
de máscara que oculta a realidade
reprimida.
A conquista paulatina do Bem produz
equilíbrio e segurança, eliminando
as armadilhas do ego, que mais tem
interesse em promover-se do que em
ser substituído pelo valor novo, inabitual
no seu comportamento.
Por isso mesmo, o Bem não pode
ser repressor, o que é mal, porém,
libertador de tudo quanto submete, se
impõe, aflige. A sua dominação é suave,
não constritora, porque passa a ser uma
diferente expressão de conduta moral
e emocional, dando prosseguimento
à assimilação dos valores que foram
propostos no período infantil, e que
constituem reminiscências agradáveis
que ajudam nos procedimentos dos
diferentes períodos existenciais, na
juventude, na idade adulta, na velhice.
Em razão disso, torna-se mais
difícil a assimilação e incorporação
dos valores do Bem em um adulto
aclimatado à agressão, às lutas, nas
quais predominou o Mal, houve a sua
vitória, os resultados prazerosos do
ego, a vitalização dos comportamentos
esmagadores, que geraram heróis e
poderosos, mas que não escaparam das
áreas dos conflitos por onde continuam
transitando.
Somente através da renovação
de valores desde cedo é que o Bem
triunfará nas criaturas.
Quando adultas, o labor é mais
demorado, porque terá que substituir
as constrições do ego e, através da
reflexão, dos exercícios de meditação
e avaliação da conduta, substituir
os hábitos enraizados por novos
comportamentos compensadores para o
eu superior.
Eis porque se pode afirmar que o
Bem faz muito bem, enquanto que o
Mal faz muito mal. A simples mudança,
portanto, de atitude mental do indivíduo
enseja- lhe o encontro com o Bem que
irá desenvolver-lhe os sentimentos
profundos da sua semelhança com
Deus.
33
NÃO
Nem só de pão vive o
homem...- Jesus.
Mateus 4:4
SOMENTE
34 35RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
nNão somente agasalho que proteja
o corpo, mas também o refúgio
de conhecimentos superiores que
fortaleçam a alma.
Não só a beleza da máscara
fisionômica, mas igualmente a
formosura e nobreza dos sentimentos.
Não apenas a eugenia que aprimora
os músculos, mas também a educação
que aperfeiçoa as maneiras.
Não somente a cirurgia que extirpa
o defeito orgânico, mas igualmente
o esforço próprio que anula o defeito
íntimo.
Não só o domicílio confortável para
a vida física, mas também a casa
invisível dos princípios edificantes em
que o espírito se faça útil, estimado e
respeitável.
Não apenas os títulos honrosos que
ilustram a personalidade transitória, mas
igualmente as virtudes comprovadas,
na luta objetiva, que enriqueçam a
consciência eterna.
Não somente claridade para os olhos
mortais, mas também luz divina para o
entendimento imperecível.
Não só aspecto agradável, mas
igualmente utilidade viva.
Não apenas flores, mas também
frutos.
Não somente ensino continuado, mas
igualmente demonstração ativa...
Não só teoria excelente, mas também prática santificante.
Não apenas nós, mas igualmente os outros.
Disse o Mestre: - “Nem só de pão vive o homem”.
Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo do mundo.
Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos
esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos
dirigimos para a Eternidade.1
Emmanuel
1	 XAVIER, F. Cândido. Fonte Viva. Emmanuel, Cap. 18.
37
Ali, Jesus situou o fulcro do
Seu ministério, e foi na casa
de Simão Bar Jonas que Ele
estabeleceu o piloti para
erguer posteriormente o Seu
reino.
ele foi
Cafarnaumem
morar
Sinagoga de Cafarnaum
38 39RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
aAo ouvir que João tinha sido preso,
ele voltou para a Galileia e, deixando
Nazara, foi morar em Cafarnaum, à
beira-mar, nos confins de Zabulon e
Neftali, para que se cumprisse o que
foi dito pelo profeta Isaías: Terra de
Zabulon, terra de Neftali, caminho do
mar, região além do Jordão, Galiléia das
nações! O povo que jazia nas trevas
viu uma grande luz; aos que jaziam na
região sombria da morte, surgiu uma
luz. A partir desse momento, começou
Jesus a pregar e a dizer: “Arrependei-
vos, porque está próximo o Reino dos
Céus”. (Mateus, 4: 12-17)
PRESENÇA EM CAFARNAUM
A região escolhida para a base operacional do
Seu ministério não poderia ser outra em Israel.
De Jerico até às águas profundas do Genezaré,
o verde luxuriante confraternizava com o azul
transparente dos céus.
A terra, sorrindo flores silvestres e recoberta
de árvores generosas, recebia os ventos gentis do
entardecer e das noites agradáveis, salpicadas de
estrelas luminíferas.
Por isso, Jesus elegeu a Galileia, onde a alma simples e nobre das gentes
afeiçoadas ao trabalho poderia fascinar-se com a música da Sua palavra
libertadora.
Em Nazaré, as dificuldades familiares e as lutas derivadas da inveja
colocaram as primeiras barreiras ante o desafio de implantar nas paisagens
dos corações o reino de Deus.
Na Galileia bucólica, porém, beijada pelas espumas incessantes das
vagas do mar, entre tamarindeiros e latadas floridas, os pescadores, os
vinhateiros, os agricultores, tinham os ouvidos abertos para a mensagem
40 41RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
da luz.
Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta,
faziam recordar pérolas engastadas na
coroa de um rei, a duzentos metros
abaixo do nível do Mediterrâneo,
encravadas como um diamante estelar
para refletir a beleza do firmamento.
Cafarnaum notabilizara-se pela sua
Sinagoga, pelo movimentado comércio e
pelas águas piscosas de onde se retirava
o alimento diário. E pelas terras férteis
que escorrem na direção das águas,
atendidas por filetes de córregos velozes
que se avolumavam.
Ali, Jesus situou o fulcro do Seu
ministério, e foi na casa de Simão Bar
Jonas que Ele estabeleceu o piloti para
erguer posteriormente o Seu reino.
Crivado de interrogações que a
ingenuidade dos pescadores arquitetava,
Ele respondia mediante a linguagem
florida das parábolas, enternecendo-
lhes as almas por usar as palavras
simples da boca do povo e profundas da
sabedoria divina.
Inquirido a respeito da política
arbitrária pela governança injusta,
desviava o assunto, apontando a política
do amor e a governança divina em cujo
bojo todas as criaturas se encontram.
Observado com suspeição pela
massa, e aceito sob desconfiança, Ele
enriquecia as mentes com os mais
belos fenômenos da Sua poderosa
força, demonstrando, pelos sucessivos
silêncios, ser o Messias esperado.
*
A doença que fere o corpo procede do
espírito mutilado.
O espírito enfermo tem as suas raízes
nas imperfeições que o caracterizam.
Enquanto o homem não realiza o
ministério da santificação interior, o
corpo se abrirá em chagas purulentas
e o coração ficará despedaçado de
angústia.
Não seja, pois, de estranhar, que o
séquito das dores compunha a sinfonia
trágica das necessidades humanas, onde
quer que Ele aparecesse.
Cantor da vida, mergulhava no barro
pegajoso das inquietações e injunções
dolorosas daqueles a quem veio
socorrer.
Consolador, via-se constrangido a
descer às questiúnculas do poviléu, para
dirimir conflitos e conduzir a Deus com
segurança as almas ingênuas.
Mensageiro da cura total, detinha-se
a remendar os farrapos orgânicos que as
mentes invigilantes voltavam a romper.
Não se cansava nunca.
Jamais se escusava.
Em tempo algum se omitia, a ponto
de entregar-se em pujança de vida para
redimir todas as vidas.
*
Iniciando o ministério, chegou à casa
de Simão e encontrou-lhe enferma a
sogra que definhava sob injunção de
febre, e, tocando-lhe a mão, fez que se
arrefecesse a temperatura elevada.
Feliz, de imediato, a veneranda
mulher, recuperada nas forças, serviu
ao ritmo da festa que lhe estrugia no
sentimento como flores de gratidão.
Porque a notícia corresse pela
circunvizinhança, que Ele ali se
encontrava na condição de Grande
Luz, afluíram, desesperados, os
enfermos, para que lhes retificassem as
conjunturas orgânicas...
Médiuns em aturdimento, sob
injunção de obsessores vorazes,
receberam a mão generosa que os
libertou da alucinação alienadora.
Subjugados em largos períodos
de obsessões, foram desalgemados
e colocados na claridade inefável da
saúde.
Portadores de tormentos profundos
do ser, sob o domínio impiedoso de
hostes infelizes, recuperaram a lucidez
para resgatarem sob outras condições,
com a mente livre das punições
selvagens da treva dominadora...
Por essa razão, o Seu nome foi
repetido de boca em boca, enquanto o
mar, em vagas sucessivas* aplaudia as
homenagens que Lhe eram dirigidas em
ósculos de espumas brancas nas areias
ávidas.
*
Jesus é o ápice das aspirações
humanas.
Enquanto todos sorriam de júbilos,
Ele compreendia quanto era célere
o reconhecimento humano e fugaz a
afeição daqueles amigos.
Não obstante, os amou, a fim de que
eles tivessem vida e vida abundante.
Não foi sem razão que escolheu
aquela região, especialmente
Cafarnaum, para que nas noites
perfumadas da Galileia ridente, em
arameu Ele cantasse a epopeia do
Evangelho aos corações, onde a
musicalidade sublime da natureza em
flor inaugurasse a era do amor para todo
o sempre.
Amélia Rodrigues 1
1	 FRANCO, Divaldo. Trigo de Deus. Amélia
Rodrigues, Cap. 2.
Cafarnaumnosdiasdehoje
43
osprimeiros
raios
E assim ecoava seu canto para
os ouvidos do povo, que viam
os primeiros raios de luz que
penetravam a noite, a fim de
transformá-la em dia de festa,
que viria depois.
de luz
44 45RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
a
A noite moral, aziaga e triste, dominava as paisagens espirituais da
Palestina quando brilhou a Sua luz. À semelhança de um sol morno
e suave de primavera, Sua irradiação emocional penetrava os poros
das almas e revitalizava-as. A apatia e a violência, que se sucediam
periodicamente nos poderosos tanto quanto nos infelizes, eram alteradas
em razão da onda de magnetismo especial que tomava conta dos
sentimentos humanos.
Foram tantos os profetas que vieram antes e prometeram bênçãos
uns, enquanto outros haviam amaldiçoado grande parte da mole
humana, que este, recém-apresentado, se destacava pela originalidade
das suas alocuções, sempre sustentadas pelo exemplo de abnegação e
cimentadas pelo sentimento de amor.
Nunca antes se ouvira algo ou alguém igual, que se Lhe equiparasse.
Dele se irradiava um poderoso magnetismo que enlevava e
conquistava aqueles que O ouviam. Sua voz era meiga e forte, como
a brisa que musica o ar e murmura, ou como a flauta que alteia o seu
canto e desce em soluço quase inaudível.
A treva era poderosa, mas a luz que ora clareava o mundo jamais se
apagaria...
As espigas de trigo dourado oscilavam ao vento brando, enquanto o
mar gentil debruçado sobre as praias largas erguia o dorso levemente
açoitado pelo sopro que vinha do Norte.
Era um dia qualquer, no calendário da Galileia, porém, se tornaria
especial e inesquecível. Aqueles homens e mulheres que foram
convocados jamais O esqueceriam.
Encontravam-se na faina a que se acostumaram, quando escutaram
o Seu chamado. Não saberiam informar o que lhes acontecera.
Simplesmente abandonaram os quefazeres e O seguiram, fascinados e
felizes, mesmo sem O conhecerem. Nele havia tanto poder de sedução,
que nem sequer pensaram em resistir. Não houve tempo mental nem
titubeio. Aquela voz dulcificara-os e arrebatara-os. E o acompanharam
sem saber para qual destino ou por que assim o faziam.
Nunca, porém, iriam arrepender-se. Ele estava reunindo os obreiros
A TREVA E A LUZ
DO LIVRO: Vivendo com Jesus. Amélia Rodrigues,
Cap. 3. Divaldo Franco
... e, dirigindo-se para a sua pátria,
pôs-se a ensinar as pessoas que
estavam na sinagoga, de tal sorte
que elas se maravilhavam e diziam:
“De onde lhe vêm essa sabedoria e
esses milagres? Não é ele o filho do
carpinteiro? Não se chama a mãe
dele Maria e os seus irmãos Tiago,
José, Simão e Judas? E as suas irmãs
não vivem todas entre nós? Donde
então lhe vêm todas essas coisas?”
E se escandalizavam dele. Mas Jesus
lhes disse: “Não há profeta sem honra,
exceto em sua pátria e em sua casa”. E
não fez ali muitos milagres, por causa
da incredulidade deles. (Mateus 13: 54-58)
46 47RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
da Nova Era, a fim de que edificassem
com Ele, o Reino dos Céus, sem
fronteiras nas paisagens infinitas dos
corações humanos.
A Galileia gentil e franca,
caracterizada pela simplicidade do
seu povo e pela Natureza em festa
constante, com o imenso espelho
do mar, orlava-o do multicolorido da
vegetação luxuriante e rica de espécies.
O seu dia a dia estava circunscrito
aos deveres comezinhos a que todos
estavam acostumados. As notícias da
capital do país ou de outras cidades do
além-Jordão chegavam pela voz dos
viajantes que lhe venciam a Casa da
Passagem, demandando outras terras.
Por isso mesmo, as novidades eram
poucas e estavam acostumados ao labor
das redes, das colheitas de frutas e do
trigo maduro que bordava com ouro as
terras mais baixas.
Desse modo, quando Ele apareceu
houve um impacto, e as Suas palavras,
especialmente as Suas ações, foram
tomadas com arrebatamento e viajaram
com celeridade de coração a coração, de
porta em porta.
Ele abandonara Nazaré e fora para
Cafarnaum, a cidade encantadora,
nos confins de Zebulon e Naftali, onde
começou a derramar a Sua taça de luz
inapagável.
(...) E o povo, após ouvi-lo, deixava-
se arrastar pelo fascínio da palavra que
Ele enunciava.
Parecia que todos O aguardavam,
embora não soubessem
conscientemente. Ele tornou-se,
então, o motivo básico de todos os
comentários, também de todas as
esperanças e receios...
48 49RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
A felicidade dos sofredores é feita de
medo de perdê-la. Tão acostumados se
encontram com a dor, que não sabem
fruir do encantamento da alegria,
malbaratando, não raro, os momentos
melhores, que não sabem aproveitar.
Diante dele, todos os problemas
perdiam a significação e a gravidade,
porque se faziam diluídos ante os
esclarecimentos simples que ministrava,
utilizando-se de imagens corriqueiras,
conhecidas e vivenciadas.
— A semente que morrer, essa viverá
- dizia com encantamento na voz -,
mas aquela que teimar em viver, essa
morrerá.
Olhai para as aves do céu, que nem
semeiam, nem segam, nem ajuntam
em celeiros; e vosso Pai celestial as
alimenta... E qual de vós poderá, com
todos os seus cuidados, acrescentar um
cavado à sua estatura?... Olhai para os
lírios do campo, como eles crescem; não
trabalham nem fiam; e eu vos digo que
nem mesmo Salomão, em toda a sua
glória, se vestiu como qualquer deles.
(Mateus, 6:26-29)
Não havia nenhuma contradição,
nem impossibilidade de assimilar-se
esse ensinamento. Claro e belo, oferecia
confiança em qualquer tribulação.
Ninguém se encontra abandonado
pelo Pai, que se encarrega de vestir a
Natureza de cor e harmonia, cuidando-a,
sem que ninguém o saiba ou o perceba,
como iria abandonar os Seus filhos nas
experiências de iluminação?!
Era tão maravilhoso, que talvez não
passasse de um sonho bom. Despertava
aquela gente e, em cada manhã acorria
no Seu encalço, a fim de confirmar que
se tratava de realidade.
A Sua presença trouxera uma
O Reino de Deus é comparado a um
homem que lança a sua barca nas águas
calmas do mar, na expectativa de pescar
para o próprio sustento, mas quando se
encontra preparado para atirar as redes,
as águas se encrespam açoitadas pelos
ventos rudes e se tornam ameaçadoras,
diante de nuvens carregadas e sombrias.
Mas ele confia nos remos frágeis e nos
braços fortes, insistindo sem temor,
até que a tempestade passa e tudo
se acalma, facultando-lhe recolher o
fruto da paciência e da perseverança.
Ao retornar à praia, com o barco
carregado de peixes, comentando sobre
as ameaças da tormenta, por mais
que os outros desejem entendê-lo,
somente ele sabe o que sofreu e lutou,
porque somente ele foi testemunha do
desafio e da provação. O mesmo se dá
com aquele que sai na busca do Pai no
mar traiçoeiro da humanidade, e não
desanima, nem teme as ocorrências
infelizes, porque sabe que, um pouco
depois, chega a hora do encontro...
Ninguém antes falara assim, com
naturalidade, a linguagem que todos
entendiam.
Mas esses eram os primeiros raios
de luz que penetravam a noite, a fim de
transformá-la em dia de festa, que viria
depois.
Amélia Rodrigues
indescritível onda de alegria e toda a Galileia, desconsiderada e ridicularizada pela opulenta
Judeia e pela jactância dos sacerdotes, doutores, saduceus, fariseus, refinados na arte da ironia
e da humilhação.
Ele, porém, erguia-os a altiplanos dantes nunca conquistados, de onde podiam enxergar
psiquicamente o que lhes aguardava em bênçãos.
(...) O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo;... (
Mateus, 13:24)
Afirmara com júbilo e simplicidade:
— O Reino dos Céus é semelhante a um homem que saiu a semear, e que experimentou
a rudeza da terra, vencendo-a pelo trabalho, a canícula causticante, superando-a, e colocou
as suas sementes no colo amigo do solo, cuidando através de irrigação, e resguardando-a de
pragas e mau tempo, quando ressurgiu em débil plântula de esperança, até que se transformou
em vida exuberante a ornar-se de flores e frutos, oferecendo sombra e apoio. Assim sucede
com todo aquele que espera a colheita de felicidade, sendo convidado a plantar antes e atender
a sua seara.
Ou então, cantarolava com um meigo sorriso nos lábios:
(...) O reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda
qualidade de peixes. (Mateus, 13; 47; 6:19-29)
51
a
começaria
(...) E eles se tornaram os
construtores do Novo Mundo,
deram-se integralmente
à causa que abraçaram,
testemunharam, após
as fraquezas humanas,
a grandeza de que eram
constituídos.
silenciosa
revolução
52 53RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
n
No dia seguinte, João se achava lá
de novo, com dois de seus discípulos.
Ao ver Jesus que passava, disse: “Eis
o Cordeiro de Deus”. Os dois discípulos
ouviram-no falar e seguiram Jesus.
Jesus voltou-se e, vendo que eles
o seguiam, disse-lhes: “Que estais
procurando?” Disseram-lhe: “Rabi
(que, traduzido, significa Mestre), onde
moras?” Disse-lhes: “Vinde e vede”.
Então eles foram e viram onde morava,
e permaneceram com ele aquele dia. Era
OS PRIMEIROS
DISCÍPULOS
Segundo João
a hora décima, aproximadamente.
André, o irmão de Simão Pedro, era
um dos dois que ouviram as palavras
de João e seguiram Jesus. Encontrou
primeiramente Simão e lhe disse:
“Encontramos o Messias (que quer
dizer Cristo)”. Ele o conduziu a Jesus.
Fitando-o, disse-lhe Jesus: “Tu és
Simão, o filho de João; chamar-te-ás
Cefas” (que quer dizer Pedra). ( João 1: 35-42)
*
No dia seguinte, Jesus resolveu partir
para a Galileia e encontrou Filipe. Jesus
lhe disse: “Segue-me”. Filipe era de
Betsaida, a cidade de André e de Pedro.
Filipe encontrou Natanael e lhe
disse: “Encontramos aquele de
quem escreveram Moisés, na Lei, e
os profetas: Jesus, filho de José, de
Nazaré”. Perguntou-lhe Natanael: “De
Nazaré pode sair algo de bom?” Filipe
lhe disse: “Vem e vê”.
Jesus viu Natanael vindo até ele e
disse a seu respeito: “Eis um verdadeiro
israelita, em quem não há fraude”.
Natanael lhe disse: “De onde me
conheces?” Respondeu-lhe Jesus: “Antes
que Filipe te chamasse, eu te vi quando
estavas sob a figueira”.
Então Natanael exclamou: “Rabi,
tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de
Israel”. Jesus lhe respondeu: “Crês, só
porque te disse: ‘Eu te vi sob a figueira’?
Verás coisas maiores do que essas”. E
lhe disse: “Em verdade, em verdade,
vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos
de Deus subindo e descendo sobre o
Filho do Homem”. (João 1: 43-51)
*
Aqui aparece pela primeira vez o
título que Jesus se atribuía de Filho do
Homem, já usado por alguns profetas,
por exemplo Daniel 7:13-14.
A esse respeito, em o livro Os
evangelhos e o Espiritismo, que reuniu
entrevistas com Divaldo Franco e Raul
Teixeira, a pergunta 29 esclarece:
Jesus intitula-se, em algumas
passagens do Evangelho, como
o “Filho do Homem”. Qual o
significado dessa expressão?
RAUL: Filho do Homem, na alusão do
Messias, tem o sentido d indicar alguém
que, embora se ache nas cumeadas do
progresso espiritual – como era o Seu
caso -, realizou sua evolução no sei da
espécie humana, independentemente de
ter sido na Terra ou em outras moradas
do Pai.
Mesmo tendo se desenvolvido sem
máculas, ou tendo-as superado com
mérito, todos os seres angélicos têm
que ter atravessado os sendeiros
dos aprendizes planetário, fazendo
a aquisição dos mais acendrados
valores da alma na vasta fieira das
indispensáveis reencarnações.
Todo e qualquer Espírito que já se
encontre dispensado dos mergulhos
reencarnatórios que hajam superados as
humanas limitações, a fim de realizarem
outros níveis de aprendizado em novos
campos evolucionários, será chamado
de Filho do Homem.
Os a quem Jesus chamava de
nascidos de mulher ou filhos de
mulher, eram os Espíritos ainda
sujeitos, por necessidade evolutiva, aos
renascimentos corporais.
DIVALDO: Considerando-se a
tradição hebraica, Deus é o Homem –
com H maiúsculo – diferindo da criatura
humana pela sua majestade e grandeza.
O Mestre reforça a informação de
ser o Messias, demonstrando que é
Ele, o Filho de Deus por excelência,
incumbido do ministério de libertação
das consciências e orientação espiritual.
Proibidos de pronunciar o nome
de Deus, os israelitas utilizavam-se
do artifício de, às vezes, chamá-lO o
Homem.
*
Segundo Mateus
Estando ele a caminhar junto ao mar
da Galileia, viu dois irmãos: Simão,
chamado Pedro, e seu irmão André,
que lançavam a rede ao mar, pois eram
pescadores. Disse-lhes: “Segui-me e
eu vos farei pescadores de homens”.
Eles, deixando imediatamente as redes,
o seguiram. Continuando a caminhar,
viu outros dois irmãos: Tiago, filho de
Zebedeu, e seu irmão João, no barco
com o pai Zebedeu, a consertar as
redes. E os chamou. Eles, deixando
imediatamente o barco e o pai, o
seguiram. (Mateus, 4:18-22)
*
As narrativas dos evangelistas
se deram em separado no tempo e
segundo as lembranças e as informações
de cada um deles.
Isso nos permite entender porque,
comparativamente entre cada um
deles, encontraremos diferente ordem
cronológica, algumas diferentes
abordagens sobre certas passagens e
outros aspectos pontuais.
54 55RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Quanto a formação do colegiado,
também acontece.
João apresenta os primeiros
discípulos antes de Jesus voltar para
a Galileia. Enquanto Marcos e Mateus
relatam os primeiros convites quando
Jesus já estava em Cafarnaum.
Ao final, que é o incontestável e o
que mais nos interessa saber, é que
Jesus reuniu seus doze apóstolos e
mudou o curso da História.
A nossa abordagem se fixa na
formação do colegiado apostólico como
um todo, sem distinção das narrativas
entre os evangelistas.
O apóstolo João apresenta-se como
testemunha ocular do que ele descreve
em João 1:35 – 42, como se deras as
aproximações com Jesus dos primeiros
construtores dos novos tempos. Assim,
ao partir para Galileia logo depois, Jesus
já contava com três dos integrantes do
colégio apostólico: André, João e Simão
Pedro.
Voltavam os quatro para a terra
natal de Jesus, quando o pequeno
grupo encontra Filipe, que aderiu de
imediato. Podia confiar em seus amigos
e conterrâneos. E logo se encanta com
o que ouve do novo mestre, tentando
arranjar outro prosélito. Vai chamar
Natanael (o nome de Natanael não mais
aparece em o Novo Testamento; por isso
os comentaristas o identificaram com
Bartolomeu - filho de Tolmai -, que é
sempre citado ao lado de Filipe em todas
as listas dos apóstolos (Mat. 10:3; Marc.
3:18; Luc. 6:14).
Segundo informações do próprio João
(21: 2), Filipe era natural da cidade de
Caná da Galileia (hoje, parece, Kefr-
Kenna), que fica a 8 quilômetros de
Nazaré, a aldeia de Jesus.
Temos a impressão de que Natanael
já conhecia Jesus, porque Filipe, ao
anunciar-lhe o encontro daquele de
quem Moisés escreveu na Lei e os
profetas falaram, cita o nome familiar:
Jesus, filho de José, esclarecendo o de
Nazaré... Esses pormenores deviam
recordar algo a Natanael que com isso o
identificaria.
Conhecendo Jesus, um operário
braçal que vivia em minúscula aldeola,
Natanael indaga: e de Nazaré pode sair
algo de importante?
Filipe, porém, não procura fazer a
apologia de Jesus: convida-o apenas
a verificá-lo pessoalmente. E Natanael
aceita e vai.
O primeiro choque vem do primeiro
contato, quando ouve Jesus anunciar
ao grupo: vejam um israelita em quem
não há simulação. Admirado com o
elogio inesperado, Natanael indaga
donde Jesus o conhece. Poderia ter tido
informações. Mas o Rabbi (palavra que
hebraico-talmúdico quer dizer Mestre,
era o título reservado aos Doutores
da Lei. Mas também se aplicava
por delicadeza ou para demonstrar
admiração por alguém mais sábio) quer
revelar seu poder. Sabe que Natanael
é pessoa íntegra, cumpridor de seus
deveres religiosos, convicto de sua fé. E
revela-lhe algo que o estarrece.
Mas o evangelista registra apenas
uma frase simples: antes que Filipe te
chamasse, eu te vi debaixo da figueira.
Para nós, não faz sentido. Mas para
Natanael deve ter constituído uma
prova irretorquível, por aludir a algo
que ele deveria estar fazendo debaixo
da figueira, e a frase de Jesus deve ter
tido significado profundo para ele, que
exclama: Rabbi, tu és o Filho de Deus (o
Enviado especial), tu és o Rei de Israel
(o Messias aguardado)!
A resposta de Jesus vem ampliar
de muito o horizonte mental dos cinco
primeiros escolhidos para participarem
da campanha de transfiguração do
planeta.
Começa dizendo que a alusão à
estada sob a figueira era de somenos
importância e que muitas coisas, ainda
mais extraordinárias, seriam por eles
testemunhadas.
Passa então a esclarecer: Em
verdade, em verdade (locução típica
quando um israelita afirma ‘com força
de juramento’, mas sem jurar, para não
tornar em vão o nome de Deus. Essa
fórmula era com frequência empregada
por Jesus, quando revelava fatos que
desejava fossem compreendidos e
lembrados por seus discípulos), vereis o
céu aberto e os anjos de Deus subindo e
descendo. Essa afirmativa é uma alusão
indiscutível a Gên. 28:10-17, onde se
narra o sonho de Jacob, em Bethel,
quando de partida para a Mesopotâmia.
Agora já em Nazaré, o grupo de
reformadores já contava com João,
André, Pedro, Filipe e Natanael (ou
Bartolomeu).
A figueira é um tipo de árvore bastante comum na Palestina. Essa árvore tem uma característica bastante peculiar –
os seus frutos aparecem antes das folhas.
57
... e Ele os fez
de
Com esse grupo de galileus
e, mais tarde, com um judeu
de Keriot, iniciou-se a mais
fantástica façanha de que a
História guarda notícia.
pescadores
almas!
58 59RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
U
Uma psicosfera inusual dominava a
paisagem das almas naqueles dias.
A região do mar da Galileia,
especialmente no lado em que
repousavam próximas às suas
praias as cidades movimentadas de
Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta e as
aldeias humildes com o seu casario
em tonalidade cinza, fruía de uma
desconhecida paz.
Praticamente dedicada à pesca nas
águas quase sempre tranquilas do
mar gentil, vivia-se naquela região um
período de estranha harmonia.
Suas gentes pobres, com as raras
exceções dos poderosos transitórios
que nunca ambicionaram sair dali ou
desfrutar dos prazeres da fortuna, sem
que pudessem explicar, experimentavam
estranho bem-estar. Os pescadores
estavam acostumados à sua diária
labuta: conserto de redes, aventuras
nas águas, movimentação na praia e
discussão com os compradores dos
peixes, conversas infindáveis sobre as
questões modestas dos seus interesses,
pagamentos dos impostos absurdos,
todos descendiam de outros que se
haviam dedicado ao mesmo mister.
A rotina era quase insuportável,
o mesmo acontecendo com os
agricultores, oleiros, marceneiros,
construtores e comerciantes...
Cafarnaum era uma cidade grandiosa,
considerando-se os padrões da época,
pois que ali havia uma sinagoga
importante e possuía ruas calçadas,
praças formosas, mansões e casebres
como em toda parte.
O luxo de uns humilhava a miséria
de outros. Mas todos conviviam dentro
dos seus padrões, acostumados
que estavam às circunstâncias e às
condições existentes.
A política infame de César esmagava
os dominados em toda parte; e a
luxúria, o fausto, os constantes desafios
do tetrarca, desde há muito silenciaram
os ideais libertários, esmagando com os
impostos exorbitantes os trabalhadores
e o povo sempre reduzido à miséria.
Nesse quase lúgubre cenário humano,
soprava uma diferente brisa de paz e
de espontânea alegria, como se algo
estivesse acontecendo, o que, em
verdade, ocorria...
SUBLIME
ENCANTAMENTO
DO LIVRO: Vivendo com Jesus. Amélia
Rodrigues, Cap. 4. Divaldo Franco
MAR DA
GALILEIA
60 61RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Chegara o momento em que Jesus
deveria iniciar o Seu ministério.
Ele havia elegido aquela região
simples, de onde, por ironia,
asseverava-se que nada de bom poderia
sair. Seria, portanto, um paradoxo,
porque os fatos iriam demonstrar o
equívoco desse comentário desairoso.
Num magnífico dia de sol, enquanto
todos laboravam como de costume,
Ele saiu a pescar homens para o Seu
Reino, Vivendo com Jesus para a
implantação de uma diferente Era, como
jamais dantes ou depois houvera, ou se
repetiria.
Caminhando vagarosamente acercou-
se de uma barca onde os irmãos
Pedro e André, os irmãos Boanerges
(por Jesus apelidados como filhos do
trovão) se encontravam, e, após fitá-
los demoradamente, produzindo nos
observados certa estranheza, pois que O
não conheciam, disse:
— (...) Vinde após mim, e eu vos
farei pescadores de homens. (Mateus,
4:19)
Uma harmonia incomum penetrou-
lhes as almas e eles ficaram extasiados.
Ninguém nunca lhes falara naquele tom,
daquela forma. O estranho continuou
olhando-os de maneira transparente e
doce, aguardando.
Na acústica do ser identificaram
aquela voz que parecia adormecida
por muito tempo e agora ecoava
suavemente.
Não sabiam qual era a intenção dele,
nem os recursos que possuía, nem
sequer podiam identificar o a que se
referia, percebendo somente que era
irresistível Seu convite.
Desse modo, magnetizados pela Sua
presença, deixaram o que estavam diligenciando e O seguiram.
Ele não deu explicação nenhuma, tampouco os convidados fizeram qualquer pergunta. Poder-se-ia pensar que era o
senhor chamando os seus servidores, que o atenderam sem protesto, sem vacilação. (Mateus, 4:21)
De certo, a sua rotina era cansativa e estavam saturados, mas era aquele o único recurso de sobrevivência de que
dispunham, por isso, amavam o que faziam.
Aquele foi-lhes o momento definitivo da existência, que se modificaria para sempre.
Caminhando com alegria em silêncio, Jesus foi adiante e convidou outros dois pescadores, um dos quais muito jovem e
de aparência sonhadora, e falou-lhes com a mesma candura.
Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no. (Mateus, 4:20)
Eles não relutaram nada indagaram, como se estivessem apenas aguardando o convite, e as redes que estavam
consertando caíram nas areias, e deixando imediatamente o barco e o pai, O seguiram.
No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. (João, 1:43)
62 63RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
Ele levantou a cabeça quando O
viu chegar e sorriu, enquanto ouvia a
invitação: — Segue-me!
A partir dali toda a região foi
modificada. Os comentários tornaram-
se focos de controvérsias e de
considerações incongruentes. Ninguém
entendia o que acontecera com aqueles
antigos pescadores e outros, como
o cobrador de impostos, que deixou
também a sua coletoria para segui-lo,
apenas recebeu o chamado...
Pode-se asseverar que todos haviam
sido escolhidos muito antes daqueles
momentos e que somente aguardavam
ser convocados.
O mundo, no entanto, é fascinante
nas suas ilusões, e os desejos humanos
em forma de ambições de poder e de
gozo tem suas raízes profundamente
fincadas no solo da memória por
atavismo e imposição das vivências
anteriores.
Trata-se de um grande risco
abandonar tudo e seguir um estranho.
Isso se, realmente, Ele fosse um
estranho, o que não tinha fundamento,
porque todos experimentavam a
sensação de O conhecerem, de O
amarem, de Lhe sentirem a ausência...
Afinal, a vida na Terra é uma
sucessão de riscos calculados ou não, de
tentativas de erros e de acertos.
Aquela desconhecida aventura, no
entanto, era tecida pelos sonhos de
um mundo melhor, um amálgama de
anseios do coração e da mente anelando
por melhores condições de vida, por
felicidade.
Jesus, porém, nada lhes ofereceu
por enquanto. Somente os convidou,
reunindo-os como discípulos para o
grande empreendimento que viria
depois.
*
Aquele chamado era aguardado por
Israel, que esperava um rei ameaçador e
perverso, que lhe restituísse a liberdade
política, dando-lhe poderes para tornar-
se tão cruel quanto o Império que o
estraçalhava.
Com esse grupo de galileus e, mais
tarde, com um judeu de Keriot, iniciou-
se a mais fantástica façanha de que a
História guarda notícia.
O primeiro encontro foi na casa de
Pedro, que era casado, e certamente o
mais velho de todos, embora ainda não
houvesse alcançado os cinquenta anos.
Todos estavam dominados pelo brilho
dos Seus olhos e pela ternura da Sua
presença.
De alguma forma eles sonhavam
com esse futuro que chegara somente
que não sabiam como se apresentaria,
de que era constituído, o que deveriam
fazer.
Tudo, porém, foi-se apresentando a
seu tempo e as revelações começaram a
diluir a cortina de sombras e a vitalizar a
debilidade das forças.
Em breve, a revolução iria começar
e, para tanto, era necessário que se
fortalecessem, que abandonassem os
velhos hábitos do egoísmo e passassem
a viver em grupo, repartindo o pão e o
teto, a alegria e a tristeza, a esperança
e as dúvidas que, periodicamente, os
assaltavam...
Eram quase todos analfabetos, com
exceção de Mateus, de Judas, de Tiago,
e de Pedro e João, que adquiririam o
conhecimento das letras mais tarde,
deixando a grandeza de sua epístola e
as narrações evangélicas assim como o
Apocalipse...
Judas, o mais letrado e hábil em
administração, que foi encarregado
de guardar as pequenas reservas
monetárias do grupo, era dedicado
e fiel enquanto se deslumbrava ante
as promessas do Senhor, até quando
começou a atormentar-se ao constatar
que o Seu Reino era outro, muito
diferente daquele que excogitava e tinha
ânsias por fruir.
Insinuando-se-lhe a dúvida, o
ressentimento encontrou guarida nos
seus sentimentos, e ele tornou-se vítima
infeliz de si mesmo, quando se permitiu
perder na ambição acalentada.
O grupo humilde tinha tudo para
fracassar, menos o Mestre que o guiava,
que lhe trabalhava as anfractuosidades
íntimas, que lhe construía a nova
personalidade, modelando a pedra bruta
representativa da ignorância atual, para
arrancar o que se encontrava oculto, a
essência sublime da vida...
(...) E eles se tornaram os
construtores do Novo Mundo, deram-se
integralmente à causa que abraçaram,
testemunharam, após as fraquezas
humanas, a grandeza de que eram
constituídos.
Nunca mais a sociedade seria a
mesma, jamais se repetiriam aqueles
dias, que se transformaram no marco
definidor do futuro, bem diferente do
passado...
Amélia Rodrigues
64 65RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
OS DISCÍPULOS
DO LIVRO: Boa Nova. Humberto de Campos,
Cap. 5. Francisco C. Xavier
Frequentemente, era nas
proximidades de Cafarnaum que o
Mestre reunia a grande comunidade dos
seus seguidores. Numerosas pessoas
o aguardavam ao longo do caminho,
ansiosas por lhe ouvirem a palavra
instrutiva. Não tardou, porém, que ele
compusesse o seu reduzido colégio de
discípulos.
Depois de uma das suas pregações
do novo reino, chamou os doze
companheiros que, desde então, seriam
os intérpretes de suas ações e de seus
ensinos. Eram eles os homens mais
humildes e simples do lago de Genesaré.
Pedro, André e Filipe eram filhos de
Betsaida, de onde vinham igualmente
Tiago e João, descendentes de Zebedeu.
Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua
esposa Cleofas, parenta de Maria, eram
nazarenos e amavam a Jesus desde a
infância, sendo muitas vezes chamados
“os irmãos do Senhor”, à vista de suas
profundas afinidades afetivas. Tomé
descendia de um antigo pescador
de Dalmanuta e Bartolomeu nascera
de uma família laboriosa de Caná da
Galileia. Simão, mais tarde denominado
“o Zelote”, deixara a sua terra de
Canaã para dedicar-se à pescaria, e
somente um deles, Judas, destoava um
pouco desse concerto, pois nascera em
Iscariotes e se consagrara ao pequeno
comércio em Cafarnaum, onde vendia
peixes e quinquilharias.
O reduzido grupo de companheiros
do Messias experimentou a princípio
certas dificuldades para harmonizar-
se. Pequeninas contendas geravam a
separatividade entre eles. De vez em
quando, o Mestre os surpreendia em
discussões inúteis sobre qual deles seria
o maior no reino de Deus; de outras
vezes, desejavam saber qual, dentre
todos, revelava sabedoria maior, no
Todos os nomes em Israel têm uma significação. André significa “varão forte”; João quer dizer
“cheio de graça”; e Simão, “o que escuta e obedece”. Mas Jesus, ao divisar o irmão de André, vê
nele, “a pedra”. Pedro. A pedra com que se constroem os templos e as fortalezas.
66 67RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
campo do Evangelho.
Levi continuava nos seus trabalhos
da coletoria local, enquanto Judas
prosseguia nos seus pequenos negócios,
embora se reunissem diariamente aos
demais companheiros. Os dez outros
viviam quase que constantemente com
Jesus, junto às águas transparentes do
Tiberíades, como se participassem de
uma festa incessante de luz.
Iniciando-se, entretanto, o período
de trabalhos ativos pela difusão da nova
doutrina, o Mestre reuniu os doze em
casa de Simão Pedro e lhes ministrou
as primeiras instruções referentes ao
grande apostolado.
*
De conformidade com a narrativa
de Mateus, as recomendações iniciais
do Messias aclaravam as normas de
ação que os discípulos deviam seguir
para as realizações que lhes competiam
concretizar.
— Amados — entrou Jesus a dizer-
lhes, com mansidão extrema —, não
tomareis o caminho largo por onde anda
toda gente, levada pelos interesses
fáceis e inferiores; buscareis a estrada
escabrosa e estreita dos sacrifícios
pelo bem de todos. Também não
penetrareis nos centros de discussões
estéreis, à moda dos samaritanos, nos
das contendas que nada aproveitam
às edificações do verdadeiro reino nos
corações com sincero esforço.
Ide antes em busca das ovelhas
perdidas da casa de nosso Pai que se
encontram em aflição e voluntariamente
desterradas de seu divino amor. Reuni
convosco todos os que se encontram
de coração angustiado e dizeilhes, de
minha parte, que é chegado o reino de
Deus.
Trabalhai em curar os enfermos,
limpar os leprosos, ressuscitar os que
estão mortos nas sombras do crime
ou das desilusões ingratas do mundo,
esclarecei todos os espíritos que se
encontram em trevas, dando de graça o
que de graça vos é concedido.
Não exibais ouro ou prata em vossas
vestimentas, porque o reino do céu
reserva os mais belos tesouros para os
simples. Não ajunteis o supérfluo em
alforjes, túnicas ou alpercatas para o
caminho, porque digno é o operário do
seu sustento.
Em qualquer cidade ou aldeia onde
entrardes, buscai saber quem deseje
aí os bens do céu, com sinceridade
e devotamento a Deus, e reparti as
bênçãos do Evangelho com os que
sejam dignos, até que vos retireis.
Quando penetrardes nalguma casa,
saudai-a com amor.
Se essa casa merecer as bênçãos
de vossa dedicação, desça sobre ela a
vossa paz; se, porém, não for digna,
torne essa mesma paz aos vossos
corações.
Se ninguém vos receber, nem desejar
ouvir as vossas instruções, retirai-vos
sacudindo o pó de vossos pés, isto é,
sem conservardes nenhum rancor e sem
vos contaminardes da alheia iniquidade.
Em verdade vos digo que dia virá
em que menos rigor haverá para os
grandes pecadores, do que para quantos
procuram a Deus com os lábios da falsa
crença, sem a sinceridade do coração.
É por essa razão que vos envio
como ovelhas ao antro dos lobos,
recomendando-vos a simplicidade das
pombas e a prudência das serpentes.
Acautelai-vos, pois, dos homens,
nossos irmãos, porque sereis entregues
aos seus tribunais e sereis açoitados nos
seus templos suntuosos, de onde está
exilada a ideia de Deus.
Sereis conduzidos, como réus, à
presença de governadores e reis,
de tiranos e descrentes, a fim de
testemunhardes a minha causa.
Mas, nos dias dolorosos da
humilhação, não vos dê cuidado como
haveis de falar, porque minha palavra
estará convosco e sereis inspirados,
quanto ao que houverdes de dizer.
Porque não somos nós que falamos; o
espírito amoroso de Nosso Pai é que fala
em todos nós.
Nesses dias de sombra, em que se
lutará no mundo por meu nome, o irmão
68 69RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO?
entregará à morte o próprio irmão, o pai
os filhos, espalhando-se nos caminhos o
rastro sinistro dos lobos da iniquidade.
Os que me seguirem serão
desprezados e odiados por minha causa,
mas aquele que perseverar, até o fim,
será salvo.
Quando, pois, fordes perseguidos
numa cidade, transportai-vos para
outra, porque em verdade vos afirmo
que jamais estareis nos caminhos
humanos sem que vos acompanhe o
meu pensamento.
Se tendes de sofrer, considerai que
também eu vim à Terra para dar o
testemunho e não é o discípulo mais do
que o mestre, nem o servo mais que o
seu senhor.
Se o adversário da luz vai reunir
contra mim as tentações e as zombarias,
o ridículo e a crueldade, que não fará
aos meus discípulos?
Todavia, sabeis que acima de tudo
está o Nosso Pai e que, portanto, é
preciso não temer, pois um dia toda a
verdade será revelada e todo o bem
triunfará.
O que vos ensino em particular,
difundi-o publicamente; porque o que
agora escutais aos ouvidos será o
objeto de vossas pregações de cima dos
telhados.
Trabalhai pelo reino de Deus e não
temais os que matam o corpo, mas
não podem aniquilar a alma; temei
antes os sentimentos malignos que
mergulham o corpo e a alma no inferno
da consciência.
Não se vendem dois passarinhos por
um ceitil? Entretanto, nenhum deles cai
dos seus ninhos sem a vontade do nosso
Pai. Até mesmo os cabelos de nossas
cabeças estão contados.
Não temais, pois, porque um homem
vale mais que muitos passarinhos.
Empregai-vos no amor do Evangelho
e qualquer de vós que me confessar,
diante dos homens, eu o confessarei
igualmente diante de meu Pai que está
nos céus.
*
As recomendações de Jesus foram
ouvidas ainda por algum tempo
e, terminada a sua alocução, no
semblante de todos perpassava a
nota íntima da alegria e da esperança.
Os apóstolos queriam contemplar o
glorioso porvir do Evangelho do Reino
e estremeciam do júbilo de seus
corações. Foi quando Judas Iscariotes,
como que despertando, antes de todos
os companheiros, daquelas profundas
emoções de encantamento, se adiantou
para o Messias, declarando em termos
respeitosos e resolutos:
— Senhor, os vossos planos são
justos e preciosos; entretanto, é
razoável considerarmos que nada
poderemos edificar sem a contribuição
de algum dinheiro.
Jesus contemplou-o serenamente e
redarguiu:
— Será que Deus precisou das
riquezas precárias para construir as
belezas do mundo? Em mãos que
saibam dominá-lo, o dinheiro é um
instrumento útil, mas nunca será tudo,
porque, acima dos tesouros perecíveis,
está o amor com os seus infinitos
recursos.
Em meio da surpresa geral, Jesus,
depois de uma pausa, Continuou:
— No entanto, Judas, embora eu não
tenha qualquer moeda do mundo, não
posso desprezar o primeiro alvitre dos que contribuirão comigo para a edificação do reino de
meu Pai no espírito das criaturas. Põe em prática a tua lembrança, mas tem cuidado com a
tentação das posses materiais. Organiza a tua bolsa de cooperação e guarda-a contigo; nunca,
porém, procures o que ultrapasse o necessário.
Ali mesmo, pretextando a necessidade de incentivar os movimentos iniciais da grande
causa, o filho de Iscariotes fez a primeira coleta entre os discípulos. Todas as Possibilidades
eram mínimas, mas alguns pobres denários foram recolhidos com interesse. O Mestre
observava a execução daquela primeira providência, com um sorriso cheio de apreensões,
enquanto Judas guardava cuidadosamente o fruto modesto de sua lembrança material. Em
seguida, apresentando a Jesus a bolsa minúscula, que se perdia nas dobras de sua túnica,
exclamou, satisfeito:
— Senhor, a bolsa é pequenina, mas constitui o primeiro passo para que se possa realizar
alguma coisa...
Jesus fitou-o serenamente e retrucou em tom profético:
— Sim, Judas, a bolsa é pequenina; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu
peso!
Humberto de Campos
70
de
Luzum olhar na história
rastros
PRÓXIMO FASCÍCULO:
Algo de novo esplende de Seu rosto.
Revista eletrônica de circulação dirigida e gratuíta
Redação, organização e diagramação: Maurício Silva
Contato: redator@resenhaespiritaonline.com.br
Curitiba - PR
CRÉDITOS DESTE FASCÍCULO:
Imagens: acervo próprio ou baixadas da
Internet: Google Imagens e The Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints
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O encontro de Jesus no deserto

  • 1. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida Jovem, ao encontro de Jesus! de Luzum olhar na história rastros 2017 nº 4 março Despretensioso convite para o retorno às coisas simples, belas e profundas do Evangelho. este é o filho do carpinteiro?
  • 2. 3 atentação de A palavra demônio não implica a ideia de Espírito mau, senão na sua acepção moderna, porquanto o termo grego daimon, donde ela derivou, significa gênio, inteligência e se aplica aos seres incorpóreos, bons ou maus, indistintamente. Jesus
  • 3. 4 5RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? eSEGUNDO MATEUS Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo. Por quarenta dias e quarenta noites esteve jejuando. Depois teve fome. Então, aproximando-se o tentador, disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”. Mas Jesus respondeu: “Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” Então o diabo o levou à Cidade Santa e o colocou sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra. “ Respondeu-lhe Jesus: “Também está escrito: Não tentarás ao Senhor teu Deus.” Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor e disse-lhe: “Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares”. Aí Jesus lhe disse: “Vai- te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto. “ Com isso, o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a servi-lo. (Mateus, 4:1-11) SEGUNDO MARCOS E logo o Espírito o impeliu para o deserto. E Ele esteve no deserto quarenta dias, sendo tentado por Satanás; e vivia entre as feras, e os anjos o serviam. (Marcos 1:12-13) SEGUNDO LUCAS Jesus, pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias e tentado pelo diabo. Nada comeu nesses dias e, passado esse tempo, teve fome. Disse-lhe, então, o diabo: “Se és filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Replicou-lhe Jesus: “Está escrito: Não só de pão vive o homem”. O diabo, levando-o para mais alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos da terra e disse-lhe: “Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem eu quiser.7Por isso, se te prostrares diante de mim, toda ela será tua”. Replicou-lhe Jesus: “Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto”. Conduziu-o depois a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira- te para baixo, porque está escrito: Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, para que te guardem... E ainda: E eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra”. Mas Jesus lhe respondeu: “Foi dito: Não tentarás ao Senhor, teu Deus”. Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo oportuno.” (Lucas 4:1-15)
  • 4. 6 7RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Antes de mais nada, alguns apontamentos iniciais, ressaltando que o estudo das letras sagradas não pode ser feito através de uma simples leitura que nos leve a seu entendimento literal. Para sua correta interpretação, mister que se busque a essência da mensagem, contida no simbolismo de seus versículos. Nas culturas orientais, demônios seriam todas as criaturas tidas como místicas ou espirituais. Mas não necessariamente de natureza maligna, como nos casos das fadas, gnomos, etc. Um demônio, ou ainda, daimon ou daemon tipicamente é descrito como um espírito do Mal, embora originalmente, para os gregos, pudesse também ser um ser benigno. Satanás ou Satã (do hebraico adversário/acusador) é um termo originário da tradição judaico e geralmente aplicado à encarnação do Mal em religiões ditas monoteístas. Demônios, satanás, diabos não existem. Deus, ao criá-los, estaria derrogando suas leis e contradizendo- se, uma vez que Lhe são atribuídos os fatores divinizadores sendo um deles a BONDADE. Deus não criaria seres para perturbar a vida dos homens. Preferimos, assim, os termos “o antagonista” (satanás), “o adversário” (diabo) e “o tentador”. Os estudiosos desses termos originários do hebraico e do grego, nos trazem essa conclusão. Encontraremos, para qualquer tema que se pense na vida, posicionamentos diferentes. No contexto das religiões e filosofias, não seria diferente. Sobre a questão de Anjos e Demônios, mais ainda. Sempre afirmaremos que todas as considerações, por mais díspares que sejam umas frente a outras, são respeitáveis e merecem ser examinadas com imparcialidade e bom-senso. É a liberdade de pensar e de se expressar. Encontramos no Bhagavad-Gita: O homem é feito de sua crença. E o que ele acredita, ele é. A crença é essa convicção que anima o homem e o arrasta para outros objetivos. Há a crença em si mesmo, numa obra material qualquer, a crença política, a crença na pátria. Para o artista, o poeta, o pensador, a crença é o sentimento de ideal, a visão desse foco sublime, iluminado pela mão divina nos píncaros eternos, para guiar a Humanidade na direção do belo e do verdadeiro. As crenças são generalizações que fazemos a nosso respeito, acerca de outras pessoas e do mundo ao nosso redor. Elas são os princípios que orientam nossas ações e efetivamente formam nosso mundo social. De modo próprio, detalhamos aqui explicações colhidas em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, sobre Anjos e Demônios, pela sua serenidade e clareza lógica, sem prejuízo de outras interpretações que sejam encontradas aqui e ali. Leiamos: 128. Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos? “Não; são Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.” A palavra anjo desperta geralmente a ideia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção. 129. Os anjos hão percorridos todos os graus da escala? “Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à perfeição.” 130. Sendo errônea a opinião dos que admitem a existência de seres criados perfeitos e superiores a todas as outras criaturas, como se explica que essa crença esteja na tradição de quase todos os povos? “Fica sabendo que o mundo onde te achas não existe de toda a eternidade e que, muito tempo antes que ele existisse, já havia Espíritos que tinham atingido o grau supremo. Acreditaram os homens que eles eram assim desde todos os tempos”. 131. Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra? “Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Mas, porventura, Deus seria justo e bom se houvera criado seres destinados eternamente ao mal e a permanecerem eternamente desgraçados? Se há demônios, eles se encontram no mundo inferior em que habitais e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo e que julgam agradá-lo por meio das abominações que praticam em seu nome”. A palavra demônio não implica a ideia de Espírito mau, senão na sua acepção moderna, porquanto o termo grego daimon, donde ela derivou, significa gênio, inteligência e se aplica aos seres incorpóreos, bons ou maus, indistintamente. Por demônios, segundo a acepção vulgar da palavra, se entendem seres essencialmente malfazejos. Como todas as coisas, eles teriam sido criados por Deus. Ora, Deus, que é soberanamente justo e bom, não pode ter criado seres prepostos, por sua natureza, ao mal e condenados por toda a eternidade. Se não fossem obra de Deus, existiriam, como Ele, desde toda a eternidade, ou então haveria muitas potências soberanas. A primeira condição de toda doutrina é ser lógica. Ora, à dos demônios, no sentido absoluto, falta esta base essencial. Concebe-se que povos atrasados, os quais, por desconhecerem os atributos de Deus, admitem em suas crenças divindades maléficas, também admitam demônios; mas, é ilógico e contraditório que quem faz da bondade um dos atributos essenciais de Deus suponha haver Ele criado seres destinados ao mal e a praticá-lo perpetuamente, porque isso equivale a Lhe negar a bondade. Os partidários dos demônios se apoiam nas palavras do Cristo. Não seremos nós quem conteste a autoridade de seus ensinos, que desejáramos ver mais no coração do que na boca dos homens; porém, estarão aqueles partidários certos do sentido que ele dava a esse vocábulo? Não é sabido que a forma alegórica constitui um dos caracteres distintivos da sua linguagem? Dever-se-á tomar ao pé da
  • 5. 8 9RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? letra tudo o que o Evangelho contém? Não precisamos de outra prova além da que nos fornece esta passagem: “Logo após esses dias de aflição, o Sol escurecerá e a Lua não mais dará sua luz, as estrelas cairão do céu e as potências do céu se abalarão. Em verdade vos digo que esta geração não passará, sem que todas estas coisas se tenham cumprido”. Não temos visto a Ciência contraditar a forma do texto bíblico, no tocante à Criação e ao movimento da Terra? Não se dará o mesmo com algumas figuras de que se serviu o Cristo, que tinha de falar de acordo com os tempos e os lugares? Não é possível que ele haja dito conscientemente uma falsidade. Assim, pois, se nas suas palavras há coisas que parecem chocar a razão, é que não as compreendemos bem, ou as interpretamos mal. Os homens fizeram com os demônios o que fizeram com os anjos. Como acreditaram na existência de seres perfeitos desde toda a eternidade, tomaram os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. Por demônios se devem entender os Espíritos impuros, que muitas vezes não valem mais do que as entidades designadas por esse nome, mas com a diferença de ser transitório o estado deles. São Espíritos imperfeitos, que se rebelam contra as provas que lhes tocam e que, por isso, as sofrem mais longamente, porém que, a seu turno, chegarão a sair daquele estado, quando o quiserem. Poder-se-ia, pois, aceitar o termo demônio com esta restrição. Como o entendem atualmente, dando-se-lhe um sentido exclusivo, ele induziria em erro, com o fazer crer na existência de seres especiais criados para o mal. Satanás é evidentemente a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau a lutar, como de potência a potência, com a Divindade e cuja única preocupação consistisse em lhe contrariar os desígnios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imaginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos. É assim que os antigos, querendo personificar o Tempo, o pintaram com a figura de um velho munido de uma foice e uma ampulheta. Representá-lo pela figura de um mancebo fora contrassenso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna, da verdade, etc. Os modernos representaram os anjos, os puros Espíritos, por uma figura radiosa, de asas brancas, emblema da pureza; e Satanás com chifres, garras e os atributos da animalidade, emblema das paixões vis. O vulgo, que toma as coisas ao pé da letra, viu nesses emblemas individualidades reais, como vira outrora Saturno na alegoria do Tempo. * O notável Cairbar Schutel, em seu livro O Espírito do Cristianismo, aborda essa passagem da Boa Nova, ora em exame, apontada pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas, sobre a estada de Jesus no deserto e seu encontro com o diabo. Assim comenta Cairbar: Os Evangelhos não representam mais que as narrativas dos evangelistas. Duas partes distintas neles se observa; primeira, a Doutrina de Jesus, com a reprodução dos ensinos do Mestre e seus feitos; segunda, as narrativas dos evangelistas contendo o seu modo de ver sobre os fatos que observavam e lhes foram contados, de acordo com a versão popular e os costumes daqueles tempos. A nossa tarefa ao escrever O Espírito do Cristianismo não compreende certamente defender opiniões pessoais, transviando a inteligência dos leitores, para encerrá-la em artigos de fé que não são sancionados pela razão e repugnam à consciência. Para tornar grande o Cristo, não é preciso revesti-lo do sobrenatural, nem elevá-lo às regiões do mistério; basta que o apresentemos tal como foi, em sua Palavra, em suas ações, nos seus feitos, durante toda a sua dolorosa existência neste mundo, em que até hoje o Espírito das Trevas parece ter maior ação que o Espírito Divino. A “tentação do Cristo” explica perfeitamente este nosso modo de ver. Planeta ainda muito inferior, em que as Potestades Inferiores têm ação mais direta que as Potestades Superiores, é bem provável que Jesus tivesse lutado contra essa poderosa “Falange dos Ares” que transvia reis e vassalos, governos e governados, sacerdotes e religiões, sábios e discípulos, do seu esforço de se encaminharem para Deus, libertando-se do orgulho e do egoísmo que se querem eternizar no mundo. Hoje sabemos que os dominadores daqui levam para o Além-túmulo a sua indisciplina e a sua maldade, bem como a ciência que aqui e em outras existências adquiriram; como os bons, os humildes, os verdadeiramente sábios, os santos, levam a ciência e santidade que são as Suas insígnias no Mundo Espiritual.
  • 6. 10 11RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Sabemos também que os Espíritos Superiores não permanecem chumbados à superfície da Terra, nem tampouco, na baixa atmosfera que nos circunda, mas gozam de uma vida mais suave, em mundos aéreos que, embora circundando o nosso mundo, são constituídos de matéria mais quintessenciada, de ares mais puros, em virtude do seu progresso espiritual e para com mais facilidade realizarem maior evolução, pois o progresso é constante e a perfeição infinita. Assim também os Espíritos inferiores, presos à Terra, sem poderem elevar-se acima da pesada atmosfera que respiramos, são os que estão em contato direto com o mundo corporal, em virtude do seu perispírito, ainda muito grosseiro, não lhes permitir maior surto. Cada mundo atmosférico tem, naturalmente, seu governo de acordo com a natureza da sua população. E tendo estes espíritos ação sobre o nosso meio, nossos governadores, nossa população, os “graúdos” que daqui partem agem sobre os similares que aqui estão, daí o desvairamento que tem predominado, as revoltantes injustiças, a falta de critério, de senso, de lisura, de honestidade, e a predominância do personalismo, do orgulho, do egoísmo, em detrimento das leis divinas que absolutamente não são praticadas. Esses príncipes, deste e do outro mundo, constituem a falange denominada no Evangelho pelo nome de Satanás ou Diabo. São os adversários, os inimigos da Justiça, do Bem, da Verdade. Jesus veio ao mundo para dar cumprimento à Lei para que a Justiça aparecesse, o Bem fosse a norma da vida e a Verdade a orientadora dos povos. Ele tinha de se manifestar com todos esses predicados para ser reconhecido, porque se é verdade que, segundo narra o Evangelho, muitos espíritos obsessores o reconheciam e obedeceram, não é menos verdade que outros, talvez mais “graúdos” do que esses, não o conheciam. Esperavam a vinda do Filho de Deus e procuravam o Filho de Deus, desejando reconhecê-lo por algum sinal maravilhoso por algum milagre, por alguma obra capaz de os impressionar. Certamente o Diabo não teve por fim tentar o Filho de Deus, mas, sim, reconhecê-lo, embora os evangelistas pensassem que o escopo do Diabo era fazer o Filho de Deus prevaricar. Na vida popular de Jesus, vemos que os diabos que representavam o governo também pediam milagres, pediam sinais, para apreciarem melhor se, de fato, Jesus era o Messias; e aqueles que receberam provas demonstrativas de que Jesus, com efeito era o Cristo, se converteram. Vemos, por exemplo, a conversação de Jairo, que era chefe de sinagoga; a de Zaqueu; vamos dizer também a de Nicodemos e outras. Contudo, a maioria não teve senão provas morais, porque o Mestre não dava nem um Sinal à geração perversa. Só o “sinal de Jonas” poderia ser dado, assim como não quis dar nem um sinal a Satanás, ao Diabo, que no deserto, no pico do monte e no pináculo do templo, tentou tirar provas se de fato Jesus era o filho de Deus. Se o Mestre quisesse, Ele, que era acompanhado de um exército de Espíritos seus auxiliares, de uma milícia de anjos, podia, sem desdouro para si mesmo converter pedras em pão, como converteu a água em vinho nas Bodas de Caná; podia demonstrar ao Diabo que os reinos da Terra, Ele e a milícia que o seguia tomariam de um jato, independente da vontade do Diabo, assim como ressuscitou contra a vontade de Satanás, que até chegou a mandar soldados lhe guardarem o túmulo; podia lançar-se do pináculo do templo, assim como andou a pés enxutos no Mar da Galileia; mas não quis satisfazer as exigências do Diabo, porque o único sinal que o Diabo precisava receber era o de ser Ele o Filho de Deus, era vê-lo cumprir a Lei de Deus. E, de fato, esse sinal foi o bastante para que Jesus dominasse o poder do Diabo e se tornasse conhecido do Diabo; “O Diabo o deixou; e eis que vieram anjos e o serviam.” Não se conclua do que ficou dito que só os espíritos inferiores agem sobre a Humanidade. Naturalmente, sendo nosso mundo ainda muito atrasado, e seus habitantes muito apegados á matéria, esses espíritos predominam. É preciso, entretanto, não excluir do nosso nome o os Espíritos Superiores. Monte da Quarentena. Que, por tradição, é tido como o local em que Jesus teria estado por quarenta dias.
  • 7. 12 13RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Muitos deles se acham encarnados em missão na Terra, e grande número deles, desencarnados, vive em missão na baixa atmosfera, para fazer progredir aqueles que se acham preparados para receber seus ensinos, porque a missão dos Espíritos consiste em intensificar o progresso. Haja vista a tarefa de Jesus, que era seguido por uma dúzia de espíritos encarnados de certa evolução, que a acompanhavam em sua missão, assim como era também seguido por uma plêiade de espíritos que, vivendo no Espaço, corroboravam no trabalho que o mestre executava. Era a “Milícia Celestial” que acompanhou Jesus desde o seu nascimento até a sua morte e depois da sua ressurreição. Dentre estes espíritos desencarnados, dois bem se deram a conhecer como tendo vivido no mundo em eras passadas. Eram os grandes missionários da Lei e dos Profetas: Moisés e Elias. Aclarando a narração dos Evangelhos, vemos que logo depois de haver-se dado Jesus a conhecer a João Batista, que era o seu precursor, o seu “apresentador”, conhecimento que mereceu a sanção do Espírito “que desceu sobre Jesus” imediatamente o Espírito o impeliu para o deserto, diz o Apóstolo Marcos, e o Apóstolo Lucas acrescenta que “cheio do Espírito Santo voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde permaneceu durante quarenta dias, sendo tentado pelo Diabo”. O trecho dá a entender bem que quem levou Jesus ao deserto não foi o Diabo, mas sim o Espírito Santo, que com Ele se manteve durante todo o tempo em que Jesus lá estivera “com as feras, e servido pelos anjos”, como diz Marcos. O “tentador”, certamente poderoso, pois chegou a afirmar que “a autoridade e glória dos reinos da Terra lhe havia sido entregues e que destes poderia dispor como melhor entendesse” (Lucas 4:6), o “tentador”, maravilhado ante a imponência do quadro que se desdobrava a suas vistas - um homem no deserto cercado de Espíritos de Luz - inclinou-se a saber se, de fato, seria aquele homem o Filho de Deus, o Messias esperado e prometido. Daí as provas cruciais a que quis submeter o Senhor. “O homem, para ser olhado na Terra, procurado, invejado, precisa mostrar-se pelo seu ventre, pelo seu estômago, e se Jesus fosse capaz de converter uma pedra em pão, estava dada a prova de que ele disporia de todos os manjares que regalam o estômago e intumescem o abdome: “O homem, para ser poderoso, precisa dispor do mundo, dos reinos e impérios; dos governos e das nações, e; para que assim aconteça, tem ele de “dobrar a espinha” a uns e se curvar, genuflexo, a outros; e se Jesus se submetesse aos convites do “tentador”, não haveria dúvida para este, em ser Jesus o Filho de Deus; “O homem, para se distinguir de seus semelhantes e mostrar a sua superioridade, deve ser prodigioso, porque os sinais e prodígios seguem sempre os homens extraordinários. Se aquele homem do deserto, que subiu ao cume do monte e anda acompanhado de uma milícia de gênios for o Filho de Deus, não relutará em dar provas, lançando-se daí abaixo, porque nenhum mal sofrerá; “Se a Escritura reza que o Filho de Deus será o Maravilhoso, o Deus Forte, o Pai da Eternidade, e que Ele será o Grande Príncipe para firmar e fortificar o zelo do Senhor dos Exércitos; “Se corre uma voz pelo mundo e pelo espaço que Ele será o dominador do mundo; “Submetamo-lo desde já à prova, examinemo-lo detidamente”. Não podia ser outro o raciocínio de Satanás, ansioso por verificar se, de fato, Jesus era o Filho de Deus, que vinha redimir, não um povo, uma nação, mas o mundo todo. Sem conhecimento do Deus Vivo que impera no universo todo, sustentando os sóis, multiplicando os mundos, criando humanidades, como poderia Satanás o Príncipe do mundo, como o chamou Jesus, reconhecer o Mestre Nazareno como sendo o Filho de Deus? Se na época atual Ele outra vez aparecesse na Terra, seria reconhecido pelos reis, pelos governadores, pelos sacerdotes, pelos papas? E os papas e os césares que se conservam no Espaço, como reis e príncipes deste mundo, reconhecê-lo-ão, porventura? Não exigirão, como o fez Satanás, que o Senhor produza a conversão da pedra em pão, que o Senhor os adore para poder andar livremente no mundo, pregando o seu mister, que o Senhor se atire dos pináculos das Catedrais e dos Vaticanos e das sacadas das Academias, para que eles possam crer que Jesus é o Filho de Deus, o Messias cujo advento todos os sacerdotes anunciam para breve, o Cristo que todas as religiões dizem estar chegando? Haja vista o martirológio de médiuns que, submetidos a tantas experiências e provas, apesar dos prodígios operados, prodígios relatados em livres que enchem hoje bibliotecas, entretanto, não conseguiram impor sequer crença na Imortalidade, quanto mais estabelecerem a lei da Fraternidade na Terra! Jesus não podia ser tentado pelo Diabo, nem Deus podia submeter o Seu Eleito, o Seu Enviado, o Seu Escolhido, a essa humilhação. O Diabo não teve por objetivo tentar a Jesus, mas, sim, investigar, examinar, observar se Jesus era, com efeito, o Messias que se esperava. o Filho de Deus. Os nababos do Espaço que formam o “cortejo satânico” não eram oniscientes, não sabiam se o “homem do deserto”, vestido duma simples túnica e calçado de sandálias; que não carregava um pão para o seu retiro espiritual, nem sequer levava um travesseiro para reclinar sua cabeça, e mesmo assim era respeitado pelas feras e servido pelos anjos, seria o Cristo, o Filho de Deus. Eles não sabiam, mas desconfiavam, e a dúvida os encaminhou para o exame. A “tentação de Jesus” não passa dum título posto nas Escrituras por opiniões pessoais, que não interpretaram bem a tradução dos originais dos Evangelhos. Entretanto, o que se evidência nessas passagens, o que se pode auferir dessas narrativas, é que os espíritos malévolos não respeitam individualidades, por maiores que elas sejam. Todos estão sujeitos à ação das potestades invisíveis, sejam elas boas ou más. E se os maus se põem em relação conosco, com ou sem intuito de nos prejudicar, em compensação os bons vêm auxiliar-nos: “Jesus, tentado por Satanás, tinha, por outro lado, os anjos para O servirem”. Deus, quando permite o convívio dum espírito inferior conosco, é certamente para que ele progrida, e, não, para que nos prejudique; por isso envia também
  • 8. 14 15RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? espíritos superiores para nos auxiliarem. O que é preciso é que nos tornemos inflexíveis no cumprimento da Lei. Já que “nem só de pão vive o homem”, e “só ao Senhor nosso Deus pertence o culto e a adoração”, para que tiremos bom proveito na nossa tarefa terrestre cumpramos esses mandamentos, e Satanás nos deixará, submisso ao nosso exemplo, propondo-se também, quiçá, a renunciar às suas pompas, que tanto o fazem sofrer. O Espírito do Evangelho é a Religião de Jesus Cristo, religião natural, pura, verdadeira, que dispensa retórica e sofismas, milagres e mistérios que só podem desestruturá-lo. Olhemos para Jesus e caminhemos. Sua Vida é a vida que precisamos viver. * Além dessas considerações de Cairbar, podemos ainda, para efeito de raciocínio, notar a passagem evangélica em apreço, como se fosse uma metáfora, e de modo mais filosófico, lermos no texto como o grande desafio da vivência na Terra, com os apelos das trevas e a necessidade da luz, em cuja luta devemos posicionar Jesus no comando, de quem colheremos todas as condições para a superação definitiva sobre nós mesmos e o mundo. Foi Jesus que orientou vivermos no mundo sem sermos do mundo. E o texto evangélico demonstra que, apesar de todos os desafios propostos pela vida, ou os apelos da vida mundana, com Jesus venceremos a nós mesmos. Esse ir ao deserto é o mesmo que procurar o silêncio mental onde o homem a si próprio se encara, face a face, como num espelho mágico, e onde todas as vozes interiores se erguem, para os debates supremos, em tempestuosos turbilhões. Podemos perguntar, sem termos as respostas: que se passa entre Jesus e o deserto? Entre Jesus e o silêncio? Entre Jesus e o céu azul profundo, fulgurando nos poentes de fogo, nas auroras incendiadas, na chama azul tranquila do meio-dia e na apoteose sideral da noite? Que se passa entre Jesus e o Pai? Entre Jesus e o Espírito? Até que ponto a meditação do Homem? Onde termina Jesus de Nazaré e onde começa Jesus, o Cristo de Deus? Que pensamentos humanos povoam sua alma e que pensamentos divinos resplandecem na essência misteriosa do seu Ser? De certo modo, a missão humana circunscrita à vida privada terminara. Sua estada com João, o Batista, foi o marco divisório. Jesus, de agora em diante, já não possui um lar. Dirá que “até as raposas possuem um covil, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. O essencial é superar o “efêmero” e não perder de vista o Infinito. Manter o sentido das harmonias eternas. Assim seria e assim foi com Ele. Tudo isso, talvez, fossem os pensamentos do Homem. Nunca poderemos conceber quais os pensamentos do Cristo. MAR DA GALILEIA
  • 9. 16 17RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Nesse silêncio meditativo, também se vislumbrava a presença do Mal. E esse mal veste a roupa dos apelos do corpo humano e da fome dos apetites, vestindo a imagem do desafio de que as pedras fossem transformadas em pães, a fim de que se despontasse a fraqueza muito comum entre os homens comuns: o orgulho. No caso, que Jesus, desafiado, agisse por orgulho e lançasse mão de seus poderes divinos. E o Bom-Senso Divino responde que nem só de pão vive o homem. O mal recua momentaneamente, mas não desiste da batalha. Tenta ferir Jesus na segunda fraqueza humana: a vaidade. O mal tentador propõe que Jesus se atirasse do pináculo do Templo, uma vez estar escrito de os Anjos de Deus não deixariam que nada acontecesse ao Enviado. Dificilmente um homem escapa a esta cilada. Quase sempre o Espírito do Mal a prepara pela boca dos nossos mais próximos: amigos, familiares, admiradores.
  • 10. 18 19RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? “Se você fosse forte, agiria assim ou assado”, “se fosse inteligente, resolveria de tal forma”, “se tivesse poder, não se sujeitaria a tais coisas”, “mostra que você não é um qualquer”, “age como homem” ... Tais são algumas das frases que cegam os homens desejosos de aparecer de modo superior e diferente aos olhos do mundo. E o Poder do Amor contrapõe: não tentará ao Senhor teu Deus. O mal não se dá por vencido. Ataca pela fraqueza da ambição, que encerra a fraqueza do orgulho e todas as fraquezas materiais. E do alto do monte se pode vislumbrar a grandeza e a opulência, a força do ouro, da volúpia, do orgulho e da brutalidade. No entanto, os Olhos de Luz, naquele mesmo alto da montanha, contempla os reinos do mundo e vê, lá em baixo, no ar trêmulo, as cidades, os vales e a maior das riquezas... a Humanidade. E o Verbo Sublime responde ao mal: retire-se, porque está escrito: adorarás ao Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Findo o seu tempo e registrada mais esta lição para os homens, Jesus caminha vagarosamente descendo a montanha, sai do deserto do silêncio. Caminha firmemente, sem se curvar. Vai de retorno à Galileia. Reflexivamente, as marcantes imagens da passagem evangélica, se configuram para nós um teste sobre tentações, onde se destaca a dualidade do Bem e do Mal, da Treva e da Luz, convidando-nos a uma viagem à vastidão de nosso mundo íntimo, e ali nos confrontarmos conosco mesmo, a fim de identificarmos as razões de nossa existência e firmarmos duro embate contra nossas fraquezas morais, como orgulho, egoísmo, vaidade, cobiça e outros. Considerando que nenhum dos evangelistas esteve com Jesus nesse episódio, e que o conhecimento de tal ocorrência só pode ter se dado por comentários do próprio Messias, não se incorre em erro pensar nessa passagem bíblica, como mais uma das lições de Jesus ao povo, na qual, como diante de outros tantos exemplos contidos no Novo Testamento em que o mestre por excelência, lançou mão, didaticamente, de aspectos do cotidiano e da natureza, para lecionar seus belos ensinos através de suas parábolas: figueiras, grão de mostarda, moedas e outros, também poderá ter lançado mão da figura de um deserto como cenário, onde o ser humano é o protagonista, e os anjos e demônios, a dualidade entre o bem e o mal, a fim de lecionar sobre as fraquezas e as virtudes, sobre a vida dessa centelha divina (o Homem) no planeta Terra, entre criaturas involuídas, bem como perante si próprio e suas tendências. E a passagem do Homem pela Terra tem justamente a finalidade de “ser tentado”, ou melhor, ser “experimentado” através da sua vivência no dia a dia e das suas vicissitudes. Mais tarde, os evangelistas que abordaram a lição, o fizeram ao sabor de suas lembranças e do seu estilo de escrita. Mas então, por que quarenta? É um número simbólico e cabalístico, que vemos repetido no Velho Testamento: o dilúvio dura quarenta dias (Gên. 7:17); Moisés jejua no Sinai, por duas vezes, durante quarenta dias de cada vez (Deut. 9:9 e 9:18); os israelitas ficam 40 anos a peregrinar pelo deserto (Núm. 14:33) ; Elias jejua 40 dias (1 Reis 19:8); David e Salomão reinam quarenta anos cada um (1 Reis, 2:11 e 11:42) e outros passos ainda. Na própria vida de Jesus temos esse jejum e mais tarde sua permanência na Terra entre a ressurreição e a ascensão, durante quarenta dias (At. 1:3). Deve haver algum significado nesse número. Além do mais, os evangelistas viveram entre povo de grande apego às tradições bíblicas e históricas. De certo modo, todos nós ainda temos esses apegos às tradições. Em vários outros momentos dos escritos sagrados, nos deparamos com Jesus se recolhendo para orar, se afastando para orar, como no Monte das Oliveiras. Eram seus momentos de recolhimento, meditação, oração, de comunhão com Deus. Buscava lugares mais isolados, onde pudesse ficar a sós. Não é de se estranhar, e nem seria ocorrência excepcional, que Jesus, na ocasião dos escritos que ora estudamos, tenha também se retirado à algum lugar mais isolado na região, a fim de meditar, tendo ali ficado um certo tempo, não necessariamente 40 dias. Lugar de silêncio, não necessariamente com as agrestias de um deserto, propriamente dito (aliás, o mais difícil seria encontrar um lugar mais habitável pelas cercanias, já que, no geral, a região ainda é pedregosa e seca). Para jejuar, meditar, sim; não necessariamente para jejuar como geralmente assim entendemos, apesar de o jejum nas Escrituras estar quase sempre relacionado à comida, mas há outras maneiras de jejuar. Tudo que você pode abrir mão temporariamente, se abster, para que melhor se concentre em Deus pode ser considerado um jejum. Para antever o contexto de provas e expiações, de tentações e de experiências, a que a Humanidade estava e está sujeita, sim; não necessariamente para Ele próprio necessitar se submeter a tentações de qualquer espécie e modo, pois Ele é o Governador da Terra, e sobre Ele escreveu-nos João, dando-nos a ideia da grandeza desse Espírito, ainda hoje muito comentado, sobre Ele muito se escrevendo, mas ainda pouco conhecido e menos ainda vivido como guia e modelo, decorrendo de nossa identificação com Ele: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.” (João 1 : 10) Em outro momento, Ele mesmo se afirma muito antes de tudo e de todos nós: “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.” (João 8 : 58) A primeira condição de toda doutrina é ser lógica, conforme dito por Allan Kardec, em seus comentários à questão 131 de O Livro dos Espíritos, como acima transcrevemos.
  • 11. 21 reflexões Eis porque se pode afirmar que o Bem faz muito bem, enquanto que o Mal faz muito mal. A simples mudança, portanto, de atitude mental do indivíduo en-seja-lhe o encontro com o Bem que irá desenvolver-lhe os sentimentos profundos da sua semelhança com Deus. sobre e o Mal o Bem
  • 12. 22 23RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? nNa passagem evangélica tratada neste fascículo, nossas reflexões nos remetem à dualidade do bem e do mal. Ninguém, portador de consciência, pode peregrinar pela Terra, sem um sentido existencial que se espraie além das denominadas necessidades imediatas, que deixam de atender as exigências emocionais, logo que são vivenciadas. Por essa razão, a experiência interior torna-se de relevante significado, sem a qual todas as realizações externas perdem a significação, porque passam a ser possuídas sem atender as exigências emocionais, que, não resolvidas, desencadeiam o vazio existencial. Nessa viagem interna, que pode ser comparada a uma aventura interior, a consciência amplia-se ao infinito, portanto, indo muito além dos limites habituais adstritos aos desejos do ter e do prazer. O Espírito tem necessidade de superar os impedimentos da matéria em que se encontra retido durante o processo da evolução, para desvelar as potências nele adormecidas, o seu deus interno. O divino em cada um luta inevitavelmente contra o humano, a força transcendente em alerta contra o poder do animal ególatra e escravizador. Em outras palavras, é o esforço imenso para emergir da escuridão da ignorância para a claridade do discernimento e da razão. Desde quando a razão e a consciência começaram a desenvolver-se no ser humano, a divisão do bem e do mal se apresentou de maneira conflitiva. No livro Em Busca da Verdade, capítulo 8, Joanna de Ângelis ensina: O que significa, porém, o bem? Tudo aquilo que contribui em favor da vida, do seu desenvolvimento ético e moral, a sua construção edificante e propiciadora de satisfações emocionais, é considerado como o bem. Necessário, no entanto, evitar confundir o de natureza física com a emoção de harmonia, de equilíbrio interior, de felicidade que se adquire por meio de pensamentos, palavras e ações dignificantes, não geradoras de culpa. O mal, por sua vez, é tudo quanto gera aflição, que se transforma em problema, que trabalha pelo prejuízo de outrem e do grupo social, levando ao desconforto moral, à destruição... Entretanto, do ponto de vista educacional, se for observada criteriosamente essa ocorrência, poder-se-á constatar que muito mal de determinado momento, administrado corretamente pode transformar-se em grande bem. Por outro lado, o que pode parecer um mal para determinado indivíduo, proporciona-lhe o despertar da consciência, o caminho que o levará ao autodescobrimento. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, interrogou os Espíritos superiores, conforme questão de nº 630: Como se pode distinguir o bem do mal? E eles responderam: “O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.” A dualidade do bem e do mal no ser humano é fenômeno natural de desenvolvimento da psique, apresentando situações antagônicos, como alto e baixo, belo e feio, claro e escuro, bom e mau, certo e errado... Sobre o bem e do mal, Jesus também utilizou-se de uma bela imagem para essa dualidade quando se referiu ao joio e ao trigo, portanto, àquilo que é danoso na seara e o que é benéfico, porque fomentador da vida. Ao mesmo tempo, propôs que não se resistisse ao mal, ao que equivale dizer, que através da ação cordial e perseverante, sem entrar em oposição ao pernicioso, consegue-se a situação ideal, a vitória sobre o que é prejudicial. Parábola do joio Mateus 13: 24-30 Propôs-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a granar, apareceu também o joio, Os servos do proprietário foram procurá-lo e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Como então está cheio de joio?’ Ao que este respondeu: ‘Um inimigo é que fez isso’. Os servos perguntaram-lhe: ‘Queres, então, que vamos arrancá- lo?’ Ele respondeu: ‘Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo. Deixaios crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ‘Arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’”. Explicação da parábola do joio Mateus 13: 36-43 Então, deixando as multidões, entrou em casa. E os discípulos chegaram- se a ele, pedindo-lhe: “Explica-nos a parábola do joio no campo”. Ele respondeu: “O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o Diabo. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. Da mesma forma que se junta o joio e se queima no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles apanharão do seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha ardente. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. O que tem ouvidos, ouça!
  • 13. 24 25RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? O bem, portanto, não é ausência do mal, assim como o mal não pode ser considerado como fora do bem, mas experiências que poder ser conduzidas criteriosamente pela consciência para a autoconquista. E como regra fundamental, para que ninguém tenha dúvida quanto à vigência de um ou de outro no cotidiano, asseverou Jesus com sabedoria: “Vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.” (O Livro dos Espíritos, resposta à questão nº 632). * Joanna de Ângelis, Benfeitora Espiritual, pela mediunidade de Divaldo Franco, no livro Amor, Imbatível Amor, apresenta-nos a mensagem que segue, trazendo-nos material precioso para reflexão amadurecida a respeito do temário que tratamos aqui. Leiamos: — Igualmente deformada — redarguiu, o anfitrião. O homem nobre concluiu, informando-o: — Se entenderes isso, serás um rico feliz. Depois que se foi, o anfitrião começou a meditar e, a partir daí, passou a repartir com os necessitados, aquilo que lhe parecia excedente, tornando-se generoso. Todos os opostos, afirma o antigo koan, bem e mal, ter e não ter, ganhar e perder, eu e os outros, dividem a mente. Quando são aceitos, afastam as pessoas da mente original, sucumbindo ao dualismo. A sabedoria, concluiu a narração sintética, está no meio, no Zen, que é o caminho. A dualidade sempre esteve presente no ser humano, desde o momento em que ele começou a pensar, desenvolvendo a capacidade de discernir. Os opostos têm-lhe constituído desafios para a consciência, que deve eleger o que lhe é melhor, em detrimento daquilo que lhe é pernicioso, perturbador, gerador de conflitos. Não poucas vezes, por imaturidade, toma decisões compulsivas e derrapa em estados de perturbação, demarcando fronteiras e evitando atravessá- las, assim perdendo contato com as possibilidades existentes em ambos os lados, que podem auxiliar na definição de rumos. Essa definição, no entanto, não pode ser cerceadora das vivências educativas, produtoras. Devem caracterizar-se pela eleição natural do roteiro a seguir, de maneira que nenhuma forma de tormento pelo não experimentado passe a gerar frustração. DUALIDADE DO BEM E DO MAL DO LIVRO: Amor, Imbatível Amor. Joanna de Ângelis,. Divaldo Franco) Um velho koan Zen-Budista narra que um homem muito avarento recebeu, oportunamente, a visita de um mestre. O sábio, depois de saudá-lo, perguntou-lhe: — Se eu fechar a minha mão para sempre, não a abrindo nunca, como te parecerá? O avaro respondeu-lhe sem titubear: — Deformada. Muito bem, prosseguiu o interlocutor: — E se eu a abrir para sempre, como a verás?
  • 14. 26 27RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? A experiência ensina a conquistar os valores legítimos, aqueles que propiciam a evolução, facultando, na análise dos contrários, a opção pelo que constitui estímulo ao crescimento, sem que gere danos para o próprio indivíduo, para o meio onde se encontra, para outrem. Somente assim, é possível a aquisição do comportamento ideal, propiciador de paz, porque não traz, no seu bojo, qualquer proposta conflitiva. Do ponto de vista ético, definem os dicionaristas, o bem é a qualidade atribuída a ações e a obras humanas que lhes confere um caráter moral. (Esta qualidade se anuncia através de fatores subjetivos — o sentimento de aprovação, o sentimento de dever — que levam à busca e à definição de um fundamento que os possa explicar.) O mal é tudo aquilo que se apresenta negativo e de feição perniciosa, que deixa marcas perturbadoras e afligentes. Na sua origem, o ser não possui a consciência do bem nem do mal. Vivendo sob a injunção do instinto, é levado a preservar a sobrevivência, a reprodução, atuando por automatismos, que irão abrindo-lhe espaços para os diferenciados patamares do conhecimento, do pensamento, da faculdade de discernir. A seleção do que deve em relação ao que não deve realizar dá-se mediante a sensação da dor física, depois emocional, mais tarde de caráter moral, ascendendo na escala dos valores éticos. Percebe que nem tudo quanto lhe é lícito executar, pode fazê-lo, assim realizando o que lhe é de melhor, no sentido de descobrir os resultados, porquanto aquilo que lhe é facultado, não poucas vezes fere os direitos do próximo, da vida em si mesma, quanto da sua realidade espiritual. Essa percepção torna-se a presença da capacidade de eleger o bem em detrimento do mal. Faz-se a realidade livre da sombra; o avanço psicológico sem trauma, a ausência de retentivas na retaguarda. Embora haja o bem social, o de natureza legal, aquele que muda de conceito conforme os valores éticos estabelecidos geográfica ou genericamente, paira, soberano, o Bem transcendental, que o tempo não altera, as situações políticas não modificam, as circunstâncias não confundem. É aquele que está inscrito na consciência de todos os seres pensantes que, não obstante, muitas vezes, anestesiem-no, permanece e se impõe oportunamente, convidando o infrator à recomposição do equilíbrio, ao refazimento da ação. O mal, remanescente dos instintos agressivos, predomina enquanto a razão deles não se liberta, sob a dominação arbitrária do ego, que elabora interesses hedonistas, pessoais, impondo-se em detrimento de todas as demais pessoas e circunstâncias. O seu ferrete é tão especial que, à medida que fere quantos se lhe acercam, termina por dilacerar aquele que se lhe entrega ao domínio, tombando, exaurido, pelo caminho do seu falso triunfo. O ser humano foi criado à imagem de Deus, isto é, fadado à perfeição, superando os impositivos do trânsito evolutivo, nessa marcha inexorável a que se encontra compelido. Possuindo os atributos da beleza, da harmonia, da felicidade, do amor, deve romper, a pouco e pouco, a casca que o envolve — herança do período primário por onde tem que passar — a fim de desenvolver as aptidões adormecidas, que lhe servem temporariamente de obstáculo a esses tesouros imarcescíveis. O Bem pode ser personificado no amor, enquanto o mal pode ser apresentado como sendo-lhe a ausência. Tudo aquilo que promove e eleva o ser, aumentando-lhe a capacidade de viver em harmonia com a vida, prolongá-la, torná-la edificante, é expressão do Bem. Entretanto, tudo quanto conspira contra a sua elevação, o seu crescimento e os valores éticos já logrados pela Humanidade, é o mal. O mal, todavia, é de duração efêmera, porque resultado de uma etapa do processo evolutivo, enquanto o Bem é a fatalidade última reservada a todos os indivíduos, que se não poderão furtar desse destino, mesmo quando o posterguem por algum tempo, jamais o conseguindo definitivamente. Eis porque o ser tem a tendência inevitável de buscar o amor, de entregar-se-
  • 15. 28 29RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? lhe, de fruí-lo. Encarcerado no egoísmo e acostumado às buscas externas, recorre aos expedientes do prazer pessoal, em vãs tentativas de desfrutar as benesses que dele decorrem, tombando na exaustão dos sentidos ou na frustração dos engodos que se permite. Oportunamente um aprendiz indagou ao seu mestre: — Dize-nos o que é o amor. — E o sábio, após ligeira reflexão, redarguiu com um sorriso: — Nós somos o amor. Esse sentimento que temos todos os seres viventes expressa o Supremo Bem, que nos cumpre buscar, embora estejamos na faixa da libertação da ignorância, errando, ainda praticando o mal temporário por falta da experiência evolutiva, que nos junge às sensações, em detrimento das emoções superiores que alcançaremos. Há uma tendência para a experiência do Bem, face à paz e à beleza interior que se experimenta, constituindo-se um grande desafio ao pensamento psicológico estabelecer realmente o que é de melhor para o ser humano, graças aos impositivos dos instintos que prometem gozo, enquanto que a sua libertação, às vezes, dolorosa, em catarse de lágrimas, proporciona em plenitude. A terapia do Bem — essa eleição dos valores éticos que propiciam paz de consciência — constitui proposta excelente para a área da saúde emocional e psíquica, consequentemente, também física dos seres humanos, que não deve ser desconsiderada. À medida que se amplia o desenvolvimento psicológico, seu amadurecimento, são eliminadas as distâncias entre o eu e os outros, superando o mal pelo bem natural, suas ações de fraternidade e de compreensão dos diferentes níveis de transição moral, compreendendo-se que o mal que a muitos aflige, por eles mesmos buscado, transforma-se na sua lição de vida. Eis porque é necessária a terapia da realização edificante, produzindo sempre em favor de si mesmo, do próximo e do meio ambiente, evitando qualquer tentativa de destruição, de perturbação, de desequilíbrio. Por isso, não realizar o bem é fazer-se a si mesmo um grande mal. Dificultar-se a ascensão, é forma de comprazer- se na vulgaridade, na desdita, assumindo um comportamento masoquista, no qual se sente valorizado. Certamente, nem todos os indivíduos conseguem de imediato uma mudança de conduta mental, portanto, emocional, da patologia em que se encarcera, para viver a liberdade de ser feliz. Isso exige um esforço hercúleo que, normalmente, o paciente não envida. Acredita que a simples assistência psicológica irá resolver-lhe os estados interiores que o agradam, quase que a passo de mágica, transferindo para o psicoterapeuta a tarefa que lhe compete desenvolver.
  • 16. 30 31RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Para esse cometimento, o do reequilíbrio, a assistência especializada é indispensável, somada à contribuição de um grupo de apoio e ao interesse dele próprio para conseguir a meta a que se propõe. A religião bem orientada, pelo conteúdo psicológico de que se reveste, desempenha um papel de alta relevância em favor do equilíbrio de cada pessoa e, por extensão, do conjunto social, no qual se encontra localizada. A religião que se fundamenta, no entanto, na conduta científica de comprovação dos seus ensinamentos, que documenta a realidade do Espírito imortal e a sua transitoriedade nos acontecimentos do corpo, como é o caso do Espiritismo, melhores condições possui para auxiliá-la na escolha do caminho a trilhar com os próprios pés, propondo-lhe renovação interior e adesão natural aos princípios que promovem a vida, que a dignificam, portanto, que representam o Bem. Por outro lado, proporciona-lhe uma conduta responsável, esclarecendo-a que cada qual é responsável pelos atos que executa, sendo semeadora e colhedora de resultados, cabendo- lhe sempre enfrentar os desafios de superar-se, porque toda conquista valiosa é resultado do esforço daquele que a consegue. Nada existe que não haja sido resultado de laborioso esforço. Ainda mais, faculta-lhe o entendimento de como funcionam as Leis da Vida, em cuja vigência todos os seres somos participantes, sem exceção, cada qual respondendo de acordo com o seu nível de consciência, o seu grau de pensamento, as suas intenções intelecto-morais. Abre, ademais, um elenco de novas informações que a capacitam para a luta em prol da saúde, explicando-lhe que existe um intercâmbio mental e espiritual entre as criaturas que habitam os dois planos do mundo: o espiritual ou da energia pensante e o físico ou da condensação material. A morte do corpo, não extinguindo o ser, apenas altera-lhe a compleição molecular, mantendo-lhe, não obstante, os valores intrínsecos à sua individualidade, o que faculta, muitas vezes, o intercâmbio psíquico. Quando se trata de alguém cuja existência foi pautada em ações elevadas, a influência é agradável, rica de saúde e de harmonia. Quando, porém, foi negativa, inquieta ou doentia, perturbada ou insatisfeita, transmite desarmonia, enfermidades, depressões e alucinações cruéis, que passam a constituir psicopatologias de classificação muito complexa, na área das obsessões espirituais e de libertação demorada, que exigem muito esforço e tenacidade nos propósitos em favor da recuperação da saúde. O Bem, portanto, é o grande antídoto a esse mal, como o é também para quaisquer outros estados perturbadores e traumáticos da personalidade humana. Outrossim, a experiência do Bem se dará plena após o trânsito pelas ocorrências do Mal, os insucessos, as perturbações, as reações emocionais conflitivas, que facultam o natural selecionar dos comportamentos agradáveis, tranqüilos, que validam o esforço de haver-se optado pelo que é saudável. Caso contrário, a aquisição positiva não se faz total, porque será mais o resultado de repressão aos instintos do que superação deles, graças ao que se pode adquirir virtudes — sentimentos bons, conquistas do Bem —, no entanto, perder-se a integridade, a naturalidade do processo de elevação. A pessoa torna-se frustrada por não haver enfrentado as lutas convencionais, evitando-as, ocasionando um sentimento de culpa, que é, por sua vez, uma oposição à proposta encetada para a vida correta. A experiência do Bem e do Mal começa na infância diante das atitudes dos pais e dos demais familiares. Por temor a criança obedece, porém, não compreende o que é certo e aquilo que é errado, que lhe querem incutir os genitores, muitas vezes por imposição sem o esclarecimento correspondente para a análise lenta e à assimilação da razão. Se a criança não consegue entender aquilo que lhe é ministrado e exigido, passa a aceitar a informação por medo de punição, até o momento em que se liberta da imposição, transformando o sentimento em culpa, e temendo reagir pelo ódio ou pelo ressentimento, ou, noutras situações, reprimindo-se, tomba na depressão. O inconsciente, utilizando-se do mecanismo de preservação do ego, resolve aceitar o que foi ministrado, passando a insuflar a conduta reta, no entanto, em forma de máscara que oculta a realidade reprimida. A conquista paulatina do Bem produz equilíbrio e segurança, eliminando as armadilhas do ego, que mais tem interesse em promover-se do que em ser substituído pelo valor novo, inabitual no seu comportamento. Por isso mesmo, o Bem não pode ser repressor, o que é mal, porém, libertador de tudo quanto submete, se impõe, aflige. A sua dominação é suave, não constritora, porque passa a ser uma diferente expressão de conduta moral e emocional, dando prosseguimento à assimilação dos valores que foram propostos no período infantil, e que constituem reminiscências agradáveis que ajudam nos procedimentos dos diferentes períodos existenciais, na juventude, na idade adulta, na velhice. Em razão disso, torna-se mais difícil a assimilação e incorporação dos valores do Bem em um adulto aclimatado à agressão, às lutas, nas quais predominou o Mal, houve a sua vitória, os resultados prazerosos do ego, a vitalização dos comportamentos esmagadores, que geraram heróis e poderosos, mas que não escaparam das áreas dos conflitos por onde continuam transitando. Somente através da renovação de valores desde cedo é que o Bem triunfará nas criaturas. Quando adultas, o labor é mais demorado, porque terá que substituir as constrições do ego e, através da reflexão, dos exercícios de meditação e avaliação da conduta, substituir os hábitos enraizados por novos comportamentos compensadores para o eu superior. Eis porque se pode afirmar que o Bem faz muito bem, enquanto que o Mal faz muito mal. A simples mudança, portanto, de atitude mental do indivíduo enseja- lhe o encontro com o Bem que irá desenvolver-lhe os sentimentos profundos da sua semelhança com Deus.
  • 17. 33 NÃO Nem só de pão vive o homem...- Jesus. Mateus 4:4 SOMENTE
  • 18. 34 35RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? nNão somente agasalho que proteja o corpo, mas também o refúgio de conhecimentos superiores que fortaleçam a alma. Não só a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente a formosura e nobreza dos sentimentos. Não apenas a eugenia que aprimora os músculos, mas também a educação que aperfeiçoa as maneiras. Não somente a cirurgia que extirpa o defeito orgânico, mas igualmente o esforço próprio que anula o defeito íntimo. Não só o domicílio confortável para a vida física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o espírito se faça útil, estimado e respeitável. Não apenas os títulos honrosos que ilustram a personalidade transitória, mas igualmente as virtudes comprovadas, na luta objetiva, que enriqueçam a consciência eterna. Não somente claridade para os olhos mortais, mas também luz divina para o entendimento imperecível. Não só aspecto agradável, mas igualmente utilidade viva. Não apenas flores, mas também frutos. Não somente ensino continuado, mas igualmente demonstração ativa... Não só teoria excelente, mas também prática santificante. Não apenas nós, mas igualmente os outros. Disse o Mestre: - “Nem só de pão vive o homem”. Apliquemos o sublime conceito ao imenso campo do mundo. Bom gosto, harmonia e dignidade na vida exterior constituem dever, mas não nos esqueçamos da pureza, da elevação e dos recursos sublimes da vida interior, com que nos dirigimos para a Eternidade.1 Emmanuel 1 XAVIER, F. Cândido. Fonte Viva. Emmanuel, Cap. 18.
  • 19. 37 Ali, Jesus situou o fulcro do Seu ministério, e foi na casa de Simão Bar Jonas que Ele estabeleceu o piloti para erguer posteriormente o Seu reino. ele foi Cafarnaumem morar Sinagoga de Cafarnaum
  • 20. 38 39RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? aAo ouvir que João tinha sido preso, ele voltou para a Galileia e, deixando Nazara, foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, nos confins de Zabulon e Neftali, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galiléia das nações! O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; aos que jaziam na região sombria da morte, surgiu uma luz. A partir desse momento, começou Jesus a pregar e a dizer: “Arrependei- vos, porque está próximo o Reino dos Céus”. (Mateus, 4: 12-17) PRESENÇA EM CAFARNAUM A região escolhida para a base operacional do Seu ministério não poderia ser outra em Israel. De Jerico até às águas profundas do Genezaré, o verde luxuriante confraternizava com o azul transparente dos céus. A terra, sorrindo flores silvestres e recoberta de árvores generosas, recebia os ventos gentis do entardecer e das noites agradáveis, salpicadas de estrelas luminíferas. Por isso, Jesus elegeu a Galileia, onde a alma simples e nobre das gentes afeiçoadas ao trabalho poderia fascinar-se com a música da Sua palavra libertadora. Em Nazaré, as dificuldades familiares e as lutas derivadas da inveja colocaram as primeiras barreiras ante o desafio de implantar nas paisagens dos corações o reino de Deus. Na Galileia bucólica, porém, beijada pelas espumas incessantes das vagas do mar, entre tamarindeiros e latadas floridas, os pescadores, os vinhateiros, os agricultores, tinham os ouvidos abertos para a mensagem
  • 21. 40 41RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? da luz. Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta, faziam recordar pérolas engastadas na coroa de um rei, a duzentos metros abaixo do nível do Mediterrâneo, encravadas como um diamante estelar para refletir a beleza do firmamento. Cafarnaum notabilizara-se pela sua Sinagoga, pelo movimentado comércio e pelas águas piscosas de onde se retirava o alimento diário. E pelas terras férteis que escorrem na direção das águas, atendidas por filetes de córregos velozes que se avolumavam. Ali, Jesus situou o fulcro do Seu ministério, e foi na casa de Simão Bar Jonas que Ele estabeleceu o piloti para erguer posteriormente o Seu reino. Crivado de interrogações que a ingenuidade dos pescadores arquitetava, Ele respondia mediante a linguagem florida das parábolas, enternecendo- lhes as almas por usar as palavras simples da boca do povo e profundas da sabedoria divina. Inquirido a respeito da política arbitrária pela governança injusta, desviava o assunto, apontando a política do amor e a governança divina em cujo bojo todas as criaturas se encontram. Observado com suspeição pela massa, e aceito sob desconfiança, Ele enriquecia as mentes com os mais belos fenômenos da Sua poderosa força, demonstrando, pelos sucessivos silêncios, ser o Messias esperado. * A doença que fere o corpo procede do espírito mutilado. O espírito enfermo tem as suas raízes nas imperfeições que o caracterizam. Enquanto o homem não realiza o ministério da santificação interior, o corpo se abrirá em chagas purulentas e o coração ficará despedaçado de angústia. Não seja, pois, de estranhar, que o séquito das dores compunha a sinfonia trágica das necessidades humanas, onde quer que Ele aparecesse. Cantor da vida, mergulhava no barro pegajoso das inquietações e injunções dolorosas daqueles a quem veio socorrer. Consolador, via-se constrangido a descer às questiúnculas do poviléu, para dirimir conflitos e conduzir a Deus com segurança as almas ingênuas. Mensageiro da cura total, detinha-se a remendar os farrapos orgânicos que as mentes invigilantes voltavam a romper. Não se cansava nunca. Jamais se escusava. Em tempo algum se omitia, a ponto de entregar-se em pujança de vida para redimir todas as vidas. * Iniciando o ministério, chegou à casa de Simão e encontrou-lhe enferma a sogra que definhava sob injunção de febre, e, tocando-lhe a mão, fez que se arrefecesse a temperatura elevada. Feliz, de imediato, a veneranda mulher, recuperada nas forças, serviu ao ritmo da festa que lhe estrugia no sentimento como flores de gratidão. Porque a notícia corresse pela circunvizinhança, que Ele ali se encontrava na condição de Grande Luz, afluíram, desesperados, os enfermos, para que lhes retificassem as conjunturas orgânicas... Médiuns em aturdimento, sob injunção de obsessores vorazes, receberam a mão generosa que os libertou da alucinação alienadora. Subjugados em largos períodos de obsessões, foram desalgemados e colocados na claridade inefável da saúde. Portadores de tormentos profundos do ser, sob o domínio impiedoso de hostes infelizes, recuperaram a lucidez para resgatarem sob outras condições, com a mente livre das punições selvagens da treva dominadora... Por essa razão, o Seu nome foi repetido de boca em boca, enquanto o mar, em vagas sucessivas* aplaudia as homenagens que Lhe eram dirigidas em ósculos de espumas brancas nas areias ávidas. * Jesus é o ápice das aspirações humanas. Enquanto todos sorriam de júbilos, Ele compreendia quanto era célere o reconhecimento humano e fugaz a afeição daqueles amigos. Não obstante, os amou, a fim de que eles tivessem vida e vida abundante. Não foi sem razão que escolheu aquela região, especialmente Cafarnaum, para que nas noites perfumadas da Galileia ridente, em arameu Ele cantasse a epopeia do Evangelho aos corações, onde a musicalidade sublime da natureza em flor inaugurasse a era do amor para todo o sempre. Amélia Rodrigues 1 1 FRANCO, Divaldo. Trigo de Deus. Amélia Rodrigues, Cap. 2. Cafarnaumnosdiasdehoje
  • 22. 43 osprimeiros raios E assim ecoava seu canto para os ouvidos do povo, que viam os primeiros raios de luz que penetravam a noite, a fim de transformá-la em dia de festa, que viria depois. de luz
  • 23. 44 45RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? a A noite moral, aziaga e triste, dominava as paisagens espirituais da Palestina quando brilhou a Sua luz. À semelhança de um sol morno e suave de primavera, Sua irradiação emocional penetrava os poros das almas e revitalizava-as. A apatia e a violência, que se sucediam periodicamente nos poderosos tanto quanto nos infelizes, eram alteradas em razão da onda de magnetismo especial que tomava conta dos sentimentos humanos. Foram tantos os profetas que vieram antes e prometeram bênçãos uns, enquanto outros haviam amaldiçoado grande parte da mole humana, que este, recém-apresentado, se destacava pela originalidade das suas alocuções, sempre sustentadas pelo exemplo de abnegação e cimentadas pelo sentimento de amor. Nunca antes se ouvira algo ou alguém igual, que se Lhe equiparasse. Dele se irradiava um poderoso magnetismo que enlevava e conquistava aqueles que O ouviam. Sua voz era meiga e forte, como a brisa que musica o ar e murmura, ou como a flauta que alteia o seu canto e desce em soluço quase inaudível. A treva era poderosa, mas a luz que ora clareava o mundo jamais se apagaria... As espigas de trigo dourado oscilavam ao vento brando, enquanto o mar gentil debruçado sobre as praias largas erguia o dorso levemente açoitado pelo sopro que vinha do Norte. Era um dia qualquer, no calendário da Galileia, porém, se tornaria especial e inesquecível. Aqueles homens e mulheres que foram convocados jamais O esqueceriam. Encontravam-se na faina a que se acostumaram, quando escutaram o Seu chamado. Não saberiam informar o que lhes acontecera. Simplesmente abandonaram os quefazeres e O seguiram, fascinados e felizes, mesmo sem O conhecerem. Nele havia tanto poder de sedução, que nem sequer pensaram em resistir. Não houve tempo mental nem titubeio. Aquela voz dulcificara-os e arrebatara-os. E o acompanharam sem saber para qual destino ou por que assim o faziam. Nunca, porém, iriam arrepender-se. Ele estava reunindo os obreiros A TREVA E A LUZ DO LIVRO: Vivendo com Jesus. Amélia Rodrigues, Cap. 3. Divaldo Franco ... e, dirigindo-se para a sua pátria, pôs-se a ensinar as pessoas que estavam na sinagoga, de tal sorte que elas se maravilhavam e diziam: “De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas?” E se escandalizavam dele. Mas Jesus lhes disse: “Não há profeta sem honra, exceto em sua pátria e em sua casa”. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles. (Mateus 13: 54-58)
  • 24. 46 47RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? da Nova Era, a fim de que edificassem com Ele, o Reino dos Céus, sem fronteiras nas paisagens infinitas dos corações humanos. A Galileia gentil e franca, caracterizada pela simplicidade do seu povo e pela Natureza em festa constante, com o imenso espelho do mar, orlava-o do multicolorido da vegetação luxuriante e rica de espécies. O seu dia a dia estava circunscrito aos deveres comezinhos a que todos estavam acostumados. As notícias da capital do país ou de outras cidades do além-Jordão chegavam pela voz dos viajantes que lhe venciam a Casa da Passagem, demandando outras terras. Por isso mesmo, as novidades eram poucas e estavam acostumados ao labor das redes, das colheitas de frutas e do trigo maduro que bordava com ouro as terras mais baixas. Desse modo, quando Ele apareceu houve um impacto, e as Suas palavras, especialmente as Suas ações, foram tomadas com arrebatamento e viajaram com celeridade de coração a coração, de porta em porta. Ele abandonara Nazaré e fora para Cafarnaum, a cidade encantadora, nos confins de Zebulon e Naftali, onde começou a derramar a Sua taça de luz inapagável. (...) E o povo, após ouvi-lo, deixava- se arrastar pelo fascínio da palavra que Ele enunciava. Parecia que todos O aguardavam, embora não soubessem conscientemente. Ele tornou-se, então, o motivo básico de todos os comentários, também de todas as esperanças e receios...
  • 25. 48 49RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? A felicidade dos sofredores é feita de medo de perdê-la. Tão acostumados se encontram com a dor, que não sabem fruir do encantamento da alegria, malbaratando, não raro, os momentos melhores, que não sabem aproveitar. Diante dele, todos os problemas perdiam a significação e a gravidade, porque se faziam diluídos ante os esclarecimentos simples que ministrava, utilizando-se de imagens corriqueiras, conhecidas e vivenciadas. — A semente que morrer, essa viverá - dizia com encantamento na voz -, mas aquela que teimar em viver, essa morrerá. Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta... E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um cavado à sua estatura?... Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. (Mateus, 6:26-29) Não havia nenhuma contradição, nem impossibilidade de assimilar-se esse ensinamento. Claro e belo, oferecia confiança em qualquer tribulação. Ninguém se encontra abandonado pelo Pai, que se encarrega de vestir a Natureza de cor e harmonia, cuidando-a, sem que ninguém o saiba ou o perceba, como iria abandonar os Seus filhos nas experiências de iluminação?! Era tão maravilhoso, que talvez não passasse de um sonho bom. Despertava aquela gente e, em cada manhã acorria no Seu encalço, a fim de confirmar que se tratava de realidade. A Sua presença trouxera uma O Reino de Deus é comparado a um homem que lança a sua barca nas águas calmas do mar, na expectativa de pescar para o próprio sustento, mas quando se encontra preparado para atirar as redes, as águas se encrespam açoitadas pelos ventos rudes e se tornam ameaçadoras, diante de nuvens carregadas e sombrias. Mas ele confia nos remos frágeis e nos braços fortes, insistindo sem temor, até que a tempestade passa e tudo se acalma, facultando-lhe recolher o fruto da paciência e da perseverança. Ao retornar à praia, com o barco carregado de peixes, comentando sobre as ameaças da tormenta, por mais que os outros desejem entendê-lo, somente ele sabe o que sofreu e lutou, porque somente ele foi testemunha do desafio e da provação. O mesmo se dá com aquele que sai na busca do Pai no mar traiçoeiro da humanidade, e não desanima, nem teme as ocorrências infelizes, porque sabe que, um pouco depois, chega a hora do encontro... Ninguém antes falara assim, com naturalidade, a linguagem que todos entendiam. Mas esses eram os primeiros raios de luz que penetravam a noite, a fim de transformá-la em dia de festa, que viria depois. Amélia Rodrigues indescritível onda de alegria e toda a Galileia, desconsiderada e ridicularizada pela opulenta Judeia e pela jactância dos sacerdotes, doutores, saduceus, fariseus, refinados na arte da ironia e da humilhação. Ele, porém, erguia-os a altiplanos dantes nunca conquistados, de onde podiam enxergar psiquicamente o que lhes aguardava em bênçãos. (...) O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo;... ( Mateus, 13:24) Afirmara com júbilo e simplicidade: — O Reino dos Céus é semelhante a um homem que saiu a semear, e que experimentou a rudeza da terra, vencendo-a pelo trabalho, a canícula causticante, superando-a, e colocou as suas sementes no colo amigo do solo, cuidando através de irrigação, e resguardando-a de pragas e mau tempo, quando ressurgiu em débil plântula de esperança, até que se transformou em vida exuberante a ornar-se de flores e frutos, oferecendo sombra e apoio. Assim sucede com todo aquele que espera a colheita de felicidade, sendo convidado a plantar antes e atender a sua seara. Ou então, cantarolava com um meigo sorriso nos lábios: (...) O reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda qualidade de peixes. (Mateus, 13; 47; 6:19-29)
  • 26. 51 a começaria (...) E eles se tornaram os construtores do Novo Mundo, deram-se integralmente à causa que abraçaram, testemunharam, após as fraquezas humanas, a grandeza de que eram constituídos. silenciosa revolução
  • 27. 52 53RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? n No dia seguinte, João se achava lá de novo, com dois de seus discípulos. Ao ver Jesus que passava, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, vendo que eles o seguiam, disse-lhes: “Que estais procurando?” Disseram-lhe: “Rabi (que, traduzido, significa Mestre), onde moras?” Disse-lhes: “Vinde e vede”. Então eles foram e viram onde morava, e permaneceram com ele aquele dia. Era OS PRIMEIROS DISCÍPULOS Segundo João a hora décima, aproximadamente. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Encontrou primeiramente Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias (que quer dizer Cristo)”. Ele o conduziu a Jesus. Fitando-o, disse-lhe Jesus: “Tu és Simão, o filho de João; chamar-te-ás Cefas” (que quer dizer Pedra). ( João 1: 35-42) * No dia seguinte, Jesus resolveu partir para a Galileia e encontrou Filipe. Jesus lhe disse: “Segue-me”. Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro. Filipe encontrou Natanael e lhe disse: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, filho de José, de Nazaré”. Perguntou-lhe Natanael: “De Nazaré pode sair algo de bom?” Filipe lhe disse: “Vem e vê”. Jesus viu Natanael vindo até ele e disse a seu respeito: “Eis um verdadeiro israelita, em quem não há fraude”. Natanael lhe disse: “De onde me conheces?” Respondeu-lhe Jesus: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira”. Então Natanael exclamou: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. Jesus lhe respondeu: “Crês, só porque te disse: ‘Eu te vi sob a figueira’? Verás coisas maiores do que essas”. E lhe disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. (João 1: 43-51) * Aqui aparece pela primeira vez o título que Jesus se atribuía de Filho do Homem, já usado por alguns profetas, por exemplo Daniel 7:13-14. A esse respeito, em o livro Os evangelhos e o Espiritismo, que reuniu entrevistas com Divaldo Franco e Raul Teixeira, a pergunta 29 esclarece: Jesus intitula-se, em algumas passagens do Evangelho, como o “Filho do Homem”. Qual o significado dessa expressão? RAUL: Filho do Homem, na alusão do Messias, tem o sentido d indicar alguém que, embora se ache nas cumeadas do progresso espiritual – como era o Seu caso -, realizou sua evolução no sei da espécie humana, independentemente de ter sido na Terra ou em outras moradas do Pai. Mesmo tendo se desenvolvido sem máculas, ou tendo-as superado com mérito, todos os seres angélicos têm que ter atravessado os sendeiros dos aprendizes planetário, fazendo a aquisição dos mais acendrados valores da alma na vasta fieira das indispensáveis reencarnações. Todo e qualquer Espírito que já se encontre dispensado dos mergulhos reencarnatórios que hajam superados as humanas limitações, a fim de realizarem outros níveis de aprendizado em novos campos evolucionários, será chamado de Filho do Homem. Os a quem Jesus chamava de nascidos de mulher ou filhos de mulher, eram os Espíritos ainda sujeitos, por necessidade evolutiva, aos renascimentos corporais. DIVALDO: Considerando-se a tradição hebraica, Deus é o Homem – com H maiúsculo – diferindo da criatura humana pela sua majestade e grandeza. O Mestre reforça a informação de ser o Messias, demonstrando que é Ele, o Filho de Deus por excelência, incumbido do ministério de libertação das consciências e orientação espiritual. Proibidos de pronunciar o nome de Deus, os israelitas utilizavam-se do artifício de, às vezes, chamá-lO o Homem. * Segundo Mateus Estando ele a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens”. Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram. Continuando a caminhar, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com o pai Zebedeu, a consertar as redes. E os chamou. Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o seguiram. (Mateus, 4:18-22) * As narrativas dos evangelistas se deram em separado no tempo e segundo as lembranças e as informações de cada um deles. Isso nos permite entender porque, comparativamente entre cada um deles, encontraremos diferente ordem cronológica, algumas diferentes abordagens sobre certas passagens e outros aspectos pontuais.
  • 28. 54 55RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Quanto a formação do colegiado, também acontece. João apresenta os primeiros discípulos antes de Jesus voltar para a Galileia. Enquanto Marcos e Mateus relatam os primeiros convites quando Jesus já estava em Cafarnaum. Ao final, que é o incontestável e o que mais nos interessa saber, é que Jesus reuniu seus doze apóstolos e mudou o curso da História. A nossa abordagem se fixa na formação do colegiado apostólico como um todo, sem distinção das narrativas entre os evangelistas. O apóstolo João apresenta-se como testemunha ocular do que ele descreve em João 1:35 – 42, como se deras as aproximações com Jesus dos primeiros construtores dos novos tempos. Assim, ao partir para Galileia logo depois, Jesus já contava com três dos integrantes do colégio apostólico: André, João e Simão Pedro. Voltavam os quatro para a terra natal de Jesus, quando o pequeno grupo encontra Filipe, que aderiu de imediato. Podia confiar em seus amigos e conterrâneos. E logo se encanta com o que ouve do novo mestre, tentando arranjar outro prosélito. Vai chamar Natanael (o nome de Natanael não mais aparece em o Novo Testamento; por isso os comentaristas o identificaram com Bartolomeu - filho de Tolmai -, que é sempre citado ao lado de Filipe em todas as listas dos apóstolos (Mat. 10:3; Marc. 3:18; Luc. 6:14). Segundo informações do próprio João (21: 2), Filipe era natural da cidade de Caná da Galileia (hoje, parece, Kefr- Kenna), que fica a 8 quilômetros de Nazaré, a aldeia de Jesus. Temos a impressão de que Natanael já conhecia Jesus, porque Filipe, ao anunciar-lhe o encontro daquele de quem Moisés escreveu na Lei e os profetas falaram, cita o nome familiar: Jesus, filho de José, esclarecendo o de Nazaré... Esses pormenores deviam recordar algo a Natanael que com isso o identificaria. Conhecendo Jesus, um operário braçal que vivia em minúscula aldeola, Natanael indaga: e de Nazaré pode sair algo de importante? Filipe, porém, não procura fazer a apologia de Jesus: convida-o apenas a verificá-lo pessoalmente. E Natanael aceita e vai. O primeiro choque vem do primeiro contato, quando ouve Jesus anunciar ao grupo: vejam um israelita em quem não há simulação. Admirado com o elogio inesperado, Natanael indaga donde Jesus o conhece. Poderia ter tido informações. Mas o Rabbi (palavra que hebraico-talmúdico quer dizer Mestre, era o título reservado aos Doutores da Lei. Mas também se aplicava por delicadeza ou para demonstrar admiração por alguém mais sábio) quer revelar seu poder. Sabe que Natanael é pessoa íntegra, cumpridor de seus deveres religiosos, convicto de sua fé. E revela-lhe algo que o estarrece. Mas o evangelista registra apenas uma frase simples: antes que Filipe te chamasse, eu te vi debaixo da figueira. Para nós, não faz sentido. Mas para Natanael deve ter constituído uma prova irretorquível, por aludir a algo que ele deveria estar fazendo debaixo da figueira, e a frase de Jesus deve ter tido significado profundo para ele, que exclama: Rabbi, tu és o Filho de Deus (o Enviado especial), tu és o Rei de Israel (o Messias aguardado)! A resposta de Jesus vem ampliar de muito o horizonte mental dos cinco primeiros escolhidos para participarem da campanha de transfiguração do planeta. Começa dizendo que a alusão à estada sob a figueira era de somenos importância e que muitas coisas, ainda mais extraordinárias, seriam por eles testemunhadas. Passa então a esclarecer: Em verdade, em verdade (locução típica quando um israelita afirma ‘com força de juramento’, mas sem jurar, para não tornar em vão o nome de Deus. Essa fórmula era com frequência empregada por Jesus, quando revelava fatos que desejava fossem compreendidos e lembrados por seus discípulos), vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo. Essa afirmativa é uma alusão indiscutível a Gên. 28:10-17, onde se narra o sonho de Jacob, em Bethel, quando de partida para a Mesopotâmia. Agora já em Nazaré, o grupo de reformadores já contava com João, André, Pedro, Filipe e Natanael (ou Bartolomeu). A figueira é um tipo de árvore bastante comum na Palestina. Essa árvore tem uma característica bastante peculiar – os seus frutos aparecem antes das folhas.
  • 29. 57 ... e Ele os fez de Com esse grupo de galileus e, mais tarde, com um judeu de Keriot, iniciou-se a mais fantástica façanha de que a História guarda notícia. pescadores almas!
  • 30. 58 59RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? U Uma psicosfera inusual dominava a paisagem das almas naqueles dias. A região do mar da Galileia, especialmente no lado em que repousavam próximas às suas praias as cidades movimentadas de Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta e as aldeias humildes com o seu casario em tonalidade cinza, fruía de uma desconhecida paz. Praticamente dedicada à pesca nas águas quase sempre tranquilas do mar gentil, vivia-se naquela região um período de estranha harmonia. Suas gentes pobres, com as raras exceções dos poderosos transitórios que nunca ambicionaram sair dali ou desfrutar dos prazeres da fortuna, sem que pudessem explicar, experimentavam estranho bem-estar. Os pescadores estavam acostumados à sua diária labuta: conserto de redes, aventuras nas águas, movimentação na praia e discussão com os compradores dos peixes, conversas infindáveis sobre as questões modestas dos seus interesses, pagamentos dos impostos absurdos, todos descendiam de outros que se haviam dedicado ao mesmo mister. A rotina era quase insuportável, o mesmo acontecendo com os agricultores, oleiros, marceneiros, construtores e comerciantes... Cafarnaum era uma cidade grandiosa, considerando-se os padrões da época, pois que ali havia uma sinagoga importante e possuía ruas calçadas, praças formosas, mansões e casebres como em toda parte. O luxo de uns humilhava a miséria de outros. Mas todos conviviam dentro dos seus padrões, acostumados que estavam às circunstâncias e às condições existentes. A política infame de César esmagava os dominados em toda parte; e a luxúria, o fausto, os constantes desafios do tetrarca, desde há muito silenciaram os ideais libertários, esmagando com os impostos exorbitantes os trabalhadores e o povo sempre reduzido à miséria. Nesse quase lúgubre cenário humano, soprava uma diferente brisa de paz e de espontânea alegria, como se algo estivesse acontecendo, o que, em verdade, ocorria... SUBLIME ENCANTAMENTO DO LIVRO: Vivendo com Jesus. Amélia Rodrigues, Cap. 4. Divaldo Franco MAR DA GALILEIA
  • 31. 60 61RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Chegara o momento em que Jesus deveria iniciar o Seu ministério. Ele havia elegido aquela região simples, de onde, por ironia, asseverava-se que nada de bom poderia sair. Seria, portanto, um paradoxo, porque os fatos iriam demonstrar o equívoco desse comentário desairoso. Num magnífico dia de sol, enquanto todos laboravam como de costume, Ele saiu a pescar homens para o Seu Reino, Vivendo com Jesus para a implantação de uma diferente Era, como jamais dantes ou depois houvera, ou se repetiria. Caminhando vagarosamente acercou- se de uma barca onde os irmãos Pedro e André, os irmãos Boanerges (por Jesus apelidados como filhos do trovão) se encontravam, e, após fitá- los demoradamente, produzindo nos observados certa estranheza, pois que O não conheciam, disse: — (...) Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. (Mateus, 4:19) Uma harmonia incomum penetrou- lhes as almas e eles ficaram extasiados. Ninguém nunca lhes falara naquele tom, daquela forma. O estranho continuou olhando-os de maneira transparente e doce, aguardando. Na acústica do ser identificaram aquela voz que parecia adormecida por muito tempo e agora ecoava suavemente. Não sabiam qual era a intenção dele, nem os recursos que possuía, nem sequer podiam identificar o a que se referia, percebendo somente que era irresistível Seu convite. Desse modo, magnetizados pela Sua presença, deixaram o que estavam diligenciando e O seguiram. Ele não deu explicação nenhuma, tampouco os convidados fizeram qualquer pergunta. Poder-se-ia pensar que era o senhor chamando os seus servidores, que o atenderam sem protesto, sem vacilação. (Mateus, 4:21) De certo, a sua rotina era cansativa e estavam saturados, mas era aquele o único recurso de sobrevivência de que dispunham, por isso, amavam o que faziam. Aquele foi-lhes o momento definitivo da existência, que se modificaria para sempre. Caminhando com alegria em silêncio, Jesus foi adiante e convidou outros dois pescadores, um dos quais muito jovem e de aparência sonhadora, e falou-lhes com a mesma candura. Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no. (Mateus, 4:20) Eles não relutaram nada indagaram, como se estivessem apenas aguardando o convite, e as redes que estavam consertando caíram nas areias, e deixando imediatamente o barco e o pai, O seguiram. No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. (João, 1:43)
  • 32. 62 63RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? Ele levantou a cabeça quando O viu chegar e sorriu, enquanto ouvia a invitação: — Segue-me! A partir dali toda a região foi modificada. Os comentários tornaram- se focos de controvérsias e de considerações incongruentes. Ninguém entendia o que acontecera com aqueles antigos pescadores e outros, como o cobrador de impostos, que deixou também a sua coletoria para segui-lo, apenas recebeu o chamado... Pode-se asseverar que todos haviam sido escolhidos muito antes daqueles momentos e que somente aguardavam ser convocados. O mundo, no entanto, é fascinante nas suas ilusões, e os desejos humanos em forma de ambições de poder e de gozo tem suas raízes profundamente fincadas no solo da memória por atavismo e imposição das vivências anteriores. Trata-se de um grande risco abandonar tudo e seguir um estranho. Isso se, realmente, Ele fosse um estranho, o que não tinha fundamento, porque todos experimentavam a sensação de O conhecerem, de O amarem, de Lhe sentirem a ausência... Afinal, a vida na Terra é uma sucessão de riscos calculados ou não, de tentativas de erros e de acertos. Aquela desconhecida aventura, no entanto, era tecida pelos sonhos de um mundo melhor, um amálgama de anseios do coração e da mente anelando por melhores condições de vida, por felicidade. Jesus, porém, nada lhes ofereceu por enquanto. Somente os convidou, reunindo-os como discípulos para o grande empreendimento que viria depois. * Aquele chamado era aguardado por Israel, que esperava um rei ameaçador e perverso, que lhe restituísse a liberdade política, dando-lhe poderes para tornar- se tão cruel quanto o Império que o estraçalhava. Com esse grupo de galileus e, mais tarde, com um judeu de Keriot, iniciou- se a mais fantástica façanha de que a História guarda notícia. O primeiro encontro foi na casa de Pedro, que era casado, e certamente o mais velho de todos, embora ainda não houvesse alcançado os cinquenta anos. Todos estavam dominados pelo brilho dos Seus olhos e pela ternura da Sua presença. De alguma forma eles sonhavam com esse futuro que chegara somente que não sabiam como se apresentaria, de que era constituído, o que deveriam fazer. Tudo, porém, foi-se apresentando a seu tempo e as revelações começaram a diluir a cortina de sombras e a vitalizar a debilidade das forças. Em breve, a revolução iria começar e, para tanto, era necessário que se fortalecessem, que abandonassem os velhos hábitos do egoísmo e passassem a viver em grupo, repartindo o pão e o teto, a alegria e a tristeza, a esperança e as dúvidas que, periodicamente, os assaltavam... Eram quase todos analfabetos, com exceção de Mateus, de Judas, de Tiago, e de Pedro e João, que adquiririam o conhecimento das letras mais tarde, deixando a grandeza de sua epístola e as narrações evangélicas assim como o Apocalipse... Judas, o mais letrado e hábil em administração, que foi encarregado de guardar as pequenas reservas monetárias do grupo, era dedicado e fiel enquanto se deslumbrava ante as promessas do Senhor, até quando começou a atormentar-se ao constatar que o Seu Reino era outro, muito diferente daquele que excogitava e tinha ânsias por fruir. Insinuando-se-lhe a dúvida, o ressentimento encontrou guarida nos seus sentimentos, e ele tornou-se vítima infeliz de si mesmo, quando se permitiu perder na ambição acalentada. O grupo humilde tinha tudo para fracassar, menos o Mestre que o guiava, que lhe trabalhava as anfractuosidades íntimas, que lhe construía a nova personalidade, modelando a pedra bruta representativa da ignorância atual, para arrancar o que se encontrava oculto, a essência sublime da vida... (...) E eles se tornaram os construtores do Novo Mundo, deram-se integralmente à causa que abraçaram, testemunharam, após as fraquezas humanas, a grandeza de que eram constituídos. Nunca mais a sociedade seria a mesma, jamais se repetiriam aqueles dias, que se transformaram no marco definidor do futuro, bem diferente do passado... Amélia Rodrigues
  • 33. 64 65RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? OS DISCÍPULOS DO LIVRO: Boa Nova. Humberto de Campos, Cap. 5. Francisco C. Xavier Frequentemente, era nas proximidades de Cafarnaum que o Mestre reunia a grande comunidade dos seus seguidores. Numerosas pessoas o aguardavam ao longo do caminho, ansiosas por lhe ouvirem a palavra instrutiva. Não tardou, porém, que ele compusesse o seu reduzido colégio de discípulos. Depois de uma das suas pregações do novo reino, chamou os doze companheiros que, desde então, seriam os intérpretes de suas ações e de seus ensinos. Eram eles os homens mais humildes e simples do lago de Genesaré. Pedro, André e Filipe eram filhos de Betsaida, de onde vinham igualmente Tiago e João, descendentes de Zebedeu. Levi, Tadeu e Tiago, filhos de Alfeu e sua esposa Cleofas, parenta de Maria, eram nazarenos e amavam a Jesus desde a infância, sendo muitas vezes chamados “os irmãos do Senhor”, à vista de suas profundas afinidades afetivas. Tomé descendia de um antigo pescador de Dalmanuta e Bartolomeu nascera de uma família laboriosa de Caná da Galileia. Simão, mais tarde denominado “o Zelote”, deixara a sua terra de Canaã para dedicar-se à pescaria, e somente um deles, Judas, destoava um pouco desse concerto, pois nascera em Iscariotes e se consagrara ao pequeno comércio em Cafarnaum, onde vendia peixes e quinquilharias. O reduzido grupo de companheiros do Messias experimentou a princípio certas dificuldades para harmonizar- se. Pequeninas contendas geravam a separatividade entre eles. De vez em quando, o Mestre os surpreendia em discussões inúteis sobre qual deles seria o maior no reino de Deus; de outras vezes, desejavam saber qual, dentre todos, revelava sabedoria maior, no Todos os nomes em Israel têm uma significação. André significa “varão forte”; João quer dizer “cheio de graça”; e Simão, “o que escuta e obedece”. Mas Jesus, ao divisar o irmão de André, vê nele, “a pedra”. Pedro. A pedra com que se constroem os templos e as fortalezas.
  • 34. 66 67RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? campo do Evangelho. Levi continuava nos seus trabalhos da coletoria local, enquanto Judas prosseguia nos seus pequenos negócios, embora se reunissem diariamente aos demais companheiros. Os dez outros viviam quase que constantemente com Jesus, junto às águas transparentes do Tiberíades, como se participassem de uma festa incessante de luz. Iniciando-se, entretanto, o período de trabalhos ativos pela difusão da nova doutrina, o Mestre reuniu os doze em casa de Simão Pedro e lhes ministrou as primeiras instruções referentes ao grande apostolado. * De conformidade com a narrativa de Mateus, as recomendações iniciais do Messias aclaravam as normas de ação que os discípulos deviam seguir para as realizações que lhes competiam concretizar. — Amados — entrou Jesus a dizer- lhes, com mansidão extrema —, não tomareis o caminho largo por onde anda toda gente, levada pelos interesses fáceis e inferiores; buscareis a estrada escabrosa e estreita dos sacrifícios pelo bem de todos. Também não penetrareis nos centros de discussões estéreis, à moda dos samaritanos, nos das contendas que nada aproveitam às edificações do verdadeiro reino nos corações com sincero esforço. Ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de nosso Pai que se encontram em aflição e voluntariamente desterradas de seu divino amor. Reuni convosco todos os que se encontram de coração angustiado e dizeilhes, de minha parte, que é chegado o reino de Deus. Trabalhai em curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os que estão mortos nas sombras do crime ou das desilusões ingratas do mundo, esclarecei todos os espíritos que se encontram em trevas, dando de graça o que de graça vos é concedido. Não exibais ouro ou prata em vossas vestimentas, porque o reino do céu reserva os mais belos tesouros para os simples. Não ajunteis o supérfluo em alforjes, túnicas ou alpercatas para o caminho, porque digno é o operário do seu sustento. Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes, buscai saber quem deseje aí os bens do céu, com sinceridade e devotamento a Deus, e reparti as bênçãos do Evangelho com os que sejam dignos, até que vos retireis. Quando penetrardes nalguma casa, saudai-a com amor. Se essa casa merecer as bênçãos de vossa dedicação, desça sobre ela a vossa paz; se, porém, não for digna, torne essa mesma paz aos vossos corações. Se ninguém vos receber, nem desejar ouvir as vossas instruções, retirai-vos sacudindo o pó de vossos pés, isto é, sem conservardes nenhum rancor e sem vos contaminardes da alheia iniquidade. Em verdade vos digo que dia virá em que menos rigor haverá para os grandes pecadores, do que para quantos procuram a Deus com os lábios da falsa crença, sem a sinceridade do coração. É por essa razão que vos envio como ovelhas ao antro dos lobos, recomendando-vos a simplicidade das pombas e a prudência das serpentes. Acautelai-vos, pois, dos homens, nossos irmãos, porque sereis entregues aos seus tribunais e sereis açoitados nos seus templos suntuosos, de onde está exilada a ideia de Deus. Sereis conduzidos, como réus, à presença de governadores e reis, de tiranos e descrentes, a fim de testemunhardes a minha causa. Mas, nos dias dolorosos da humilhação, não vos dê cuidado como haveis de falar, porque minha palavra estará convosco e sereis inspirados, quanto ao que houverdes de dizer. Porque não somos nós que falamos; o espírito amoroso de Nosso Pai é que fala em todos nós. Nesses dias de sombra, em que se lutará no mundo por meu nome, o irmão
  • 35. 68 69RASTROS DE LUZ | ESTE É O FILHO DO CARPINTEIRO? entregará à morte o próprio irmão, o pai os filhos, espalhando-se nos caminhos o rastro sinistro dos lobos da iniquidade. Os que me seguirem serão desprezados e odiados por minha causa, mas aquele que perseverar, até o fim, será salvo. Quando, pois, fordes perseguidos numa cidade, transportai-vos para outra, porque em verdade vos afirmo que jamais estareis nos caminhos humanos sem que vos acompanhe o meu pensamento. Se tendes de sofrer, considerai que também eu vim à Terra para dar o testemunho e não é o discípulo mais do que o mestre, nem o servo mais que o seu senhor. Se o adversário da luz vai reunir contra mim as tentações e as zombarias, o ridículo e a crueldade, que não fará aos meus discípulos? Todavia, sabeis que acima de tudo está o Nosso Pai e que, portanto, é preciso não temer, pois um dia toda a verdade será revelada e todo o bem triunfará. O que vos ensino em particular, difundi-o publicamente; porque o que agora escutais aos ouvidos será o objeto de vossas pregações de cima dos telhados. Trabalhai pelo reino de Deus e não temais os que matam o corpo, mas não podem aniquilar a alma; temei antes os sentimentos malignos que mergulham o corpo e a alma no inferno da consciência. Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? Entretanto, nenhum deles cai dos seus ninhos sem a vontade do nosso Pai. Até mesmo os cabelos de nossas cabeças estão contados. Não temais, pois, porque um homem vale mais que muitos passarinhos. Empregai-vos no amor do Evangelho e qualquer de vós que me confessar, diante dos homens, eu o confessarei igualmente diante de meu Pai que está nos céus. * As recomendações de Jesus foram ouvidas ainda por algum tempo e, terminada a sua alocução, no semblante de todos perpassava a nota íntima da alegria e da esperança. Os apóstolos queriam contemplar o glorioso porvir do Evangelho do Reino e estremeciam do júbilo de seus corações. Foi quando Judas Iscariotes, como que despertando, antes de todos os companheiros, daquelas profundas emoções de encantamento, se adiantou para o Messias, declarando em termos respeitosos e resolutos: — Senhor, os vossos planos são justos e preciosos; entretanto, é razoável considerarmos que nada poderemos edificar sem a contribuição de algum dinheiro. Jesus contemplou-o serenamente e redarguiu: — Será que Deus precisou das riquezas precárias para construir as belezas do mundo? Em mãos que saibam dominá-lo, o dinheiro é um instrumento útil, mas nunca será tudo, porque, acima dos tesouros perecíveis, está o amor com os seus infinitos recursos. Em meio da surpresa geral, Jesus, depois de uma pausa, Continuou: — No entanto, Judas, embora eu não tenha qualquer moeda do mundo, não posso desprezar o primeiro alvitre dos que contribuirão comigo para a edificação do reino de meu Pai no espírito das criaturas. Põe em prática a tua lembrança, mas tem cuidado com a tentação das posses materiais. Organiza a tua bolsa de cooperação e guarda-a contigo; nunca, porém, procures o que ultrapasse o necessário. Ali mesmo, pretextando a necessidade de incentivar os movimentos iniciais da grande causa, o filho de Iscariotes fez a primeira coleta entre os discípulos. Todas as Possibilidades eram mínimas, mas alguns pobres denários foram recolhidos com interesse. O Mestre observava a execução daquela primeira providência, com um sorriso cheio de apreensões, enquanto Judas guardava cuidadosamente o fruto modesto de sua lembrança material. Em seguida, apresentando a Jesus a bolsa minúscula, que se perdia nas dobras de sua túnica, exclamou, satisfeito: — Senhor, a bolsa é pequenina, mas constitui o primeiro passo para que se possa realizar alguma coisa... Jesus fitou-o serenamente e retrucou em tom profético: — Sim, Judas, a bolsa é pequenina; contudo, permita Deus que nunca sucumbas ao seu peso! Humberto de Campos
  • 36. 70 de Luzum olhar na história rastros PRÓXIMO FASCÍCULO: Algo de novo esplende de Seu rosto. Revista eletrônica de circulação dirigida e gratuíta Redação, organização e diagramação: Maurício Silva Contato: redator@resenhaespiritaonline.com.br Curitiba - PR CRÉDITOS DESTE FASCÍCULO: Imagens: acervo próprio ou baixadas da Internet: Google Imagens e The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints Livros: A Bíblia de Jerusalém DIREITOS RESERVADOS: todos os direitos de reprodução, cópia, veiculação e comunicação ao público desta obra estão reservados, única e exclusivamente, para Maurício Silva. Proibida a sua reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem expressa autorização, nos termos da Lei 9.610/98.