2. NarradorNarrador (quanto à participação)(quanto à participação)
Geralmente, é HETERODIEGÉTICO
(na 3.ª pessoa e não participa na ação p. 11)
Por vezes, assume o ponto de vista de algumas
personagens (usando a 1.ª pessoa do singular e até do
plural) sendo assim HOMODIEGÉTICO (quando
assume o pensamento de algumas personagens, como
o Patriarca ou o rei na procissão do Corpo de Deus
(XIII, 162), ou o guai turístico (XIX, p, 254).
Há situações em que aparece como
AUTODIEGÉTICO, quando é protagonista da sua
própria narrativa, como acontece nos sete relatos
pessoais dos trabalhadores no episódio da “epopeia da
3. HETERODIEGÉTICO
“D. João, quinto na tabela real, irá esta
noite ao quarto de sua mulher, (…)” (p.
11)
HOMODIEGÉTICO
“(…) e esta sou eu, Sebastiana Maria de
Jesus, um quarto de cristã-nova, que
tenho visões e revelações (…)” (p. 53)
AUTODIEGÉTICO
“O meu nome é João Anes, vim do Porto,
e sou tanoeiro (…)” (p. 241)
4. NARRADORNARRADOR
((quanto àquanto à focalização)focalização)
Geralmente, o narrador assume
uma focalização omnisciente
Revela assim uma perspetiva transcendente
em relação às personagens e move-se à
vontade no tempo, saltando facilmente
entre passado, presente e futuro.
5. Focalização omniscienteFocalização omnisciente
◦ "Mas também não faltam lazeres, por isso, quando a comichão aperta,
Baltasar pousa a cabeça no regaço de Blimunda e ela cata-lhe os bichos,
que não é de espantar terem-nos os apaixonados e os construtores de
aeronaves, se tal palavra já se diz nestas épocas, como se vai dizendo
armistício em vez de pazes. " [pág. 91]
◦ "Mas em Lisboa dirá o guarda-livros a el-rei, Saiba vossa majestade que na
inauguração do convento de Mafra se gastaram, números redondos,
duzentos mil cruzados, e el-rei respondeu, Põe na conta, disse-o porque
ainda estamos no princípio da obra, um dia virá em que quereremos saber,
Afinal, quanto terá custado aquilo, e ninguém dará satisfação dos dinheiros
gastos, nem facturas, nem recibos, nem boletins de registo de importação,
sem falar de mortes e sacrifícios, que esses são baratos. " [pág. 138]
6. Focalização internaFocalização interna
Por vezes, o narrador assume a
perspetiva das personagens que vivem a ação,
conferindo mais vivacidade à narrativa.
É o que se passa quando Sebastiana de Jesus,
a mãe de Blimunda, descreve o desfile dos
condenados num auto de fé (V, pp. 52-52)
Ou quando o rei pensa na forma como aplicar as
suas riquezas: “Medita D. João V no que fará a
tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema
riqueza (…) (XVIII, p. 234)
7. FocalizaçãoFocalização
internainterna
“ (…) e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um
quarto de cristã-nova, que tenho visões e
revelações, mas disseram-me no tribunal que era
fingimento, que ouço vozes do céu, mas
explicaram-me que era demoníaco, que sei que
posso ser santa como os santos o são, (…), aqui
vou (…) condenada a ser açoitada em público e a
oito anos de degredo no reino de Angola (...)”
[págs. 52-53]
8. O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)
Narrador polivalente
Cumpre diversas funções
Narrador heterodiegético:
“El-rei foi a Mafra escolher
o sítio onde há de ser
levantado o convento.” (l. 7)
Narrador homodiegético:
“[…] porém sosseguemos,
a pobre não emprestes, a
rico não devas, a frade não
prometas, e D. João V é rei
de palavra. Haveremos
convento.” (ll. 5-6)
Narrador reflexivo
e descritivo:
“[…] um homem pode ser
grande voador, mas é-lhe
muito conveniente que saia
bacharel, licenciado e doutor,
e então, ainda que não voe, o
consideram.” (ll. 13-15)
“[…] estava a abegoaria em
abandono, dispersos pelo
chão os materiais que não
valera a pena arrumar,
ninguém adivinharia o que ali
se andara perpetrando. Dentro
do casarão esvoaçavam
pardais […]” (ll. 17-20)
9. Narrador sentenciador
e moralizador:
“Nem sempre se pode ter
tudo […]” (l. 1)
“[…] a pobre não
emprestes, a rico não
devas, a frade não
prometas […]” (ll. 5-6)
Narrador crítico
e irónico:
“[…] com todas as disposições,
licenças e matriculações
necessárias, partiu o padre
Bartolomeu Lourenço para
Coimbra […]” (ll. 25-28)
“[…] uma multidão de homens,
exagero será dizer multidão,
enfim, umas centenas deles
[…]” (ll. 36-38)
“[…] como se vê não há
diferença nenhuma.” (ll. 50-51)
Expressões, 12.º ano
O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)
10. Narrador omnisciente
(gestor da matéria
histórica e ficcional)
“Haveremos convento.” (l. 6)
“Até à vila de Mafra, aonde primeiro vai, não tem a viagem
história, salvo a das pessoas que por estes lugares moram […].”
(ll. 29-32)
11. Narrador polivalente
Cumpre diversas funções
Narrador polivalente
Cumpre diversas funções
Narra
Descreve
Reflete
Comenta Critica Ironiza
Manipula (o tempo/a História/a ficção)
Conversa com o(s)
narrador(es) Julga
Moraliza
Recorda e prenuncia
Adaptado de REAL, Miguel, 1996. Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em
Memorial do Convento de José Saramago. Lisboa: Caminho
Expressões, 12.º ano
O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)
12. O espaçoO espaço
Espaço físico – cenários em que decorre a ação
Espaço social – local de acontecimentos sociais,
encontro de multidões, para atos religiosos, trabalho
ou diversão: autos de fé, procissão da Quaresma e do
Corpo de Deus, sagração da basílica.
13. São dois os espaços físicos fulcrais nos quais
se desenrola a ação: Lisboa e Mafra.
Lisboa é um macroespaço que integra:
ROSSIO,
TERREIRO DO PAÇO,
SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA
14. Espaço físicoEspaço físico
Terreiro do Paço
Local onde Baltasar trabalha
num açougue, após a sua chegada
a Lisboa.
Aí decorre a procissão
do Corpo de Deus.
“Desce o povo ao Terreiro do Paço, a ver os preparos da festa.” cap. XIII, p.
152)
Rossio
Este espaço aparece no início da obra
como o local onde decorrem
os autos-de-fé
e a procissão da penitência
na Quaresma. (cap III)
15. O Rossio, em Lisboa Um auto-de- fé
Aqui se faziam os autos de fé. “(…) está o Rossio cheio de
povo, duas vezes em festa por ser domingo e haver auto-de-
fé, nunca se chegará a saber de que mais gostam os
moradores, se disto, se das touradas.” (cap. V, p. 50)
Aqui se conheceram Blimunda e Baltasar, aqui ela o viu
pela última vez – “(…) virou em direção ao Rossio, repetia um
itinerário de há 28 anos. (…) Naquele extremo arde um
homem a quem falta a mão esquerda. (cap. XXV, p. 373)
16. Terreiro do Paço, em LisboaTerreiro do Paço, em Lisboa
Aqui decorriam as touradas
“(…) vamos às touradas, que é bem bom divertimento.
Em Mafra nunca as houve, diz Baltasar e, não
chegando o dinheiro para os quatro dias da função, que
este ano foi arrematado caro o Terreiro do Paço,
iremos ao último, que é o fim da festa.” (cap. IX, p. 101)
17. S. Sebastião da PedreiraS. Sebastião da Pedreira
Trata-se de um espaço relacionado com aTrata-se de um espaço relacionado com a “passarola voadora”“passarola voadora”..
Era umEra um espaço ruralespaço rural, onde existiam várias quintas com, onde existiam várias quintas com
palacetes.palacetes.
Diz o padre Bartolomeu: “Vou a S. Sebastião da Pedreira
ver a minha máquina, queres tu vir comigo, a mula pode com
os dois (…). Todas as portas e janelas do palácio estavam
fechadas, a quinta abandonada, sem cultivo. A um lado do
pátio espaçoso ficava um celeiro, ou abegoaria, ou adega,
estando vazio não se podia saber que serventia fora a sua
(…)” (cap. VI, p. 66-67)
18. Espaço físicoEspaço físico MafraMafra
Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção
do convento, a vida de Mafra decorria na vila velha
e no antigo castelo, próximo da igreja de Sto. André.
A Alto da Vela foi o local escolhido para a
construção do convento, que deu lugar à vila nova, à
volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a
"Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar
dez mil trabalhadores, ascendendo, mais tarde,
a 52 mil (sendo 7 mil guardas).
Além de Mafra, são ainda referidos espaços
como Pêro Pinheiro, a serra
do Barregudo, Montejunto
(onde aterrou a “Passarola Voadora)
e a casa da família Sete-Sóis.
19. Outros espaços físicosOutros espaços físicos
Há referências à Holanda,
onde o padre foi estudar o
segredo do éter, Espanha,
onde Baltasar ficou ferido e
onde o Padre Bartolomeu
morreu louco; mas também
a várias localidades do Sul,
que Baltasar percorreu até
chegar de Évora a Lisboa e
Monte Junto, onde aterrou a
“passarola voadora” após o
primeiro voo.
20. OO espaço socialespaço social
O espaço social é construído, na obra,
através do relato de determinados
momentos (ou episódios) e do percurso de
personagens que tipificam um determinado
grupo social, caracterizando-o.
Ao nível da construção do
espaço social, destacam-se:
PROCISSÃO DA QUARESMA
AUTOS DE FÉ
A TOURADA
PROCISSÃO DO CORPO DE DEUSO TRABALHO NO
Obras e sagração do CONVENTO
21. Espaço socialEspaço social
Os autos de fé e as touradas caracterizam Lisboa como
um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo
efeito exorcizante amaldiçoa um mal momentâneo que
motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.
“(...) mas não
faltou povo à festa
[auto de fé]”
22. Espaço socialEspaço social
As touradas são vistas como um “(...) bom divertimento (...)”
apreciadas por toda a população “Estão as bancadas e os terrados
formigando de povo (...)” (IX, 101)
“Cheira a carne queimada, mas é um cheiro que não ofende estes
narizes, habituados que estão ao churrasco do auto de fé, (...)”
23. OO espaço socialespaço social
Procissão da Quaresma
excessos praticados durante o Entrudo
(satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras
carnavalescas - as pessoas comiam e bebiam
demasiado, davam "umbigadas pelas esquinas",
atiravam água à cara umas das outras, batiam nas
mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se
nas ruas”. (p. 28)
penitência física e mortificação da alma após
os desregramentos durante o Entrudo (é tempo de
"mortificar a alma para que o corpo finja
arrepender-se”. (p. 28)
24. OO espaço socialespaço social
Procissão da QuaresmaProcissão da Quaresma
descrição da procissão (os penitentes à cabeça, atrás
dos frades, o bispo, as imagens nos andares, as confrarias e
as irmandades)
manifestações de fé que tocavam a histeria (as
pessoas arrastam-se pelo chão, arranham-se, puxam os
cabelos, esbofeteiam-se) enquanto o bispo faz sinais da cruz
e um acólito balança o incensório; os penitentes recorrem
à autoflagelação
o narrador afirma que, apesar da tentativa de purificação
através do incenso, Lisboa permanecia uma cidade
suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela
hipocrisia de uma alma que, ironicamente, este define
como "perfumada“.
25. EEspaço socialspaço social
Os autos-de-féOs autos-de-fé
Autos de fé no Rossio.
Neste relato, são de salientar os seguintes aspetos:
o Rossio está novamente cheio de assistência; a
população está duplamente em festa, porque é
domingo e porque vai assistir a um auto de fé (passaram
dois anos após o último evento deste tipo).
o narrador revela a sua dificuldade em perceber se o
povo gosta mais de autos de fé ou de touradas,
evidenciando com esta afirmação a sua ironia crítica
perante um povo que revela um gosto
sanguinário e procura nas emoções fortes uma
forma de preencher o vazio da sua existência.
26. OO espaço social -espaço social - Os autos de féOs autos de fé
a assistência feminina, à janela, exibe as
suas toilettes, preocupa-se com
pormenores fúteis relativos à sua
aparência (a segurança dos sinaizinhos no
rosto, a borbulha encoberta), e aproveita a
ocasião para se entregar a jogos de
sedução com os pretendentes que se
passeiam em baixo.
a proximidade da morte dos
condenados constitui o motivo do
ambiente de festa; esta constatação
suscita, mais uma vez, a crítica do narrador -
na realidade, o facto de as pessoas saberem
que alguns dos sentenciados iriam, em
breve, arder nas fogueiras não as inibia de se
refrescarem com água, limonada e talhadas
de melancia e de se consolarem com
tremoços, pinhões, tâmaras e queijadas.
“Grita o povinho furiosos impropérios aos
condenados, guincham as mulheres (…)” (cap.
V, p. 52)
27. OO espaço social –espaço social – os autos de féos autos de fé
Autos de féAutos de fé
sai a procissão - à frente os dominicanos;
depois, os inquisidores
distinção entre os vários sentenciados
(através do gorro e sambenito),
assim como o crucifixo de costas voltadas,
para as mulheres que irão arder na fogueira;
menção dos nomes de alguns dos
condenados (inclusive o de Sebastiana
Maria de Jesus, mãe de Blimunda)
punição dos condenados
pelo Santo Ofício –
o povo dança perante as fogueiras.
29. OO espaço social -espaço social - TouradaTourada
Tourada (Terreiro do Paço)
o espetáculo começa e o narrador enfatiza a forma
como os touros são torturados, exibindo o
sangue, as feridas, as "tripas“ ao público que, em
exaltação, se liberta de inibições (“os homens
em delírio apalpam as mulheres delirantes, e elas
esfregam-se por eles sem disfarce” (cap. IX, p. 102)
30. Dois toiros saem do curro e investem contra bonecos
de barro colocados na praça; de um saem coelhos
que acabam por ser mortos pelos capinhas, de outro,
pombas que acabam por ser apanhadas pela multidão.
A ironia do narrador é ainda traduzida pela
constatação de que, em Lisboa, as pessoas não
estranham o cheiro a carne queimada,
acrescentando ainda numa perspectiva crítica, que a
morte dos judeus é positiva, pois os seus bens são
deixados à Coroa.
31. OO espaço socialespaço social
Procissão do Corpo de DeusProcissão do Corpo de Deus
descrição dos "preparos da festa” feita pelo narrador, que
assume o olhar do povo (as colunas, as figuras, os medalhões, as
ruas toldadas, os mastros enfeitados com seda e ouro, as janelas
ornamentadas com cortinas e sanefas de damasco e franjas de ouro),
que se sente maravilhado com a riqueza da decoração).
32. OO espaço socialespaço social
Procissão do Corpo de DeusProcissão do Corpo de Deus
referência do narrador às damas que aparecem
às janelas, exibindo penteados, rivalizando com
as vizinhas e gritando motes
à noite, passam pessoas que tocam e dançam,
improvisa-se uma tourada
de madrugada, reúnem-se aqueles que irão formar
as alas da procissão, devidamente fardados
33. OO espaço socialespaço social
Procissão do Corpo de DeusProcissão do Corpo de Deus
Começa logo de manhã cedo.
Descrição do aparato:
à frente, as bandeiras dos ofícios da Casa dos Vinte e Quatro,
em primeiro lugar a dos carpinteiros em honra a S. José;
atrás, a imagem de S. Jorge, os tambores, os trombeteiros, as
irmandades, o estandarte do Santíssimo Sacramento, as
comunidades (de S. Francisco, capuchinhos, carmelitas,
dominicanos, entre outros)
e o rei, atrás, segurando uma vara dourada, Cristo crucificado
e cantores de hinos sacros
Realização da procissão:
34. OO espaço socialespaço social
Procissão do Corpo de DeusProcissão do Corpo de Deus
crítica do narrador às crenças e
interditos religiosos;
visão oficial da procissão como forma de
purificação das almas, que tentam
libertar-se dos pecados cometidos
CRÍTICAS DO NARRADOR:
35. Censura ao luxo da igreja e à luxúria
do Rei (“varrasco”) (Cap. XIII)
histeria coletiva das pessoas que se batem
a si próprias e aos outros como
manifestação da sua condição de pecadores.
CRÍTICAS DO NARRADOR
36. EM SÍNTESEEM SÍNTESE
As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa
como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos
cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que
motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.
A desmistificação dos dogmas e a crítica irónica do
narrador ao clero subjazem ao ideário marxista que
condena a religião enquanto "ópio do povo", isto é,
condena-se a visão redutora do mundo apresentada
pela Igreja, que condiciona os comportamentos, manipula
os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas.
A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao
povo que, obscuro e ignorante, se diverte sensualmente
com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que
vive.
37. O TRABALHO NO CONVENTOO TRABALHO NO CONVENTO
Mafra simboliza o espaço da servidão
desumana a que D. João V sujeitou todos os
seus súbditos para alimentar a sua vaidade.
“Ordeno que a todos os corregedores do reino
se mande que reúnam e enviem para Mafra
quantos operários se encontrarem” (XXI, 302)
Vivendo em condições deploráveis, os cerca
de quarenta mil portugueses foram
obrigados, à força de armas, o abandonar as
suas casas e a erigir o convento para cumprir a
promessa do seu rei e aumentar a sua glória.
38. Espaço psicológicoEspaço psicológico
o espaço psicológico é constituído pelo
conjunto de elementos que traduz a
interioridade das personagens.
Nesta obra, o espaço psicológico é constituído
fundamentalmente através de dois processos:
os sonhos das personagens, que funcionam
como forma de caracterização das mesmas ou
que, num processo que lhes confere densidade
humana, traduzem relações com as suas
vivências (rainha X, 118);
e os seus pensamentos (Patriarca e rei, XIII,
162).
39. Os sonhosOs sonhos
Salienta-se o sonho do rei e da rainha.
O rei sonha com a sua descendência e com o convento.
“Também D. João V sonhará esta noite. Verá erguer-se do
seu exo uma árvore de Jessé frondosa e toda povoada dos
ascendentes de Cristo (…) um convento de franciscanos.
(Cap. I, p. 18)
A rainha tem sonhos eróticos co o infante D. Francisco
“Porém vossa majestade sonha comigo quase todas as
noites, que eu bem no sei, É verdade que sonho, são
fraquezas de mulher guardadas no meu coração. (cap. X,
p. 118)
41. TEMPOTEMPO O tempo diegéticoO tempo diegético
(tempo da história(tempo da história))
Trata-se do tempo em que decorre a acção.
O tempo da história é constituído por algumas datas
fundamentais.
A acção inicia-se em 1711. D. João V ainda não fizera
vinte e dois anos e D. Maria Ana Josefa chegara há mais
de dois anos da Áustria.
O fluir do tempo, mais do que através da recorrência
a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas
transformações sofridas pelas personagens e por
alguns espaços e objetos ao longo da obra.
42. TEMPOTEMPO O tempo diegético (tempo da históriaO tempo diegético (tempo da história))
O tempo histórico
Logo no início do romance, podemos
inferir que a acção tem início no ano de
1711, através da seguinte referência do
narrador:
"(. ..) S. Francisco andava pelo mundo,
precisamente há quinhentos anos, em mil
duzentos e onze (. . .)"
43. TEMPOTEMPO Referências cronológicas
Em 1717, tem lugar a bênção da primeira pedra do
Convento de Mafra
em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a
Lisboa para trabalhar na passarola do padre
Bartolomeu de Gusmão
em 1729, celebra-se o casamento de D. José com
Mariana Vitória e de Maria Bárbara com o príncipe D.
Fernando (VI de Espanha) ( XXII, 211)
em 1730, mais propriamente no dia 22 de Outubro, o
dia do quadragésimo primeiro aniversário do rei,
realiza-se a sagração da basílica do Convento de
Mafra
a ação termina em 1739, no momento em que
Blimunda vê Baltasar a ser queimado em Lisboa,
num auto-de-fé. (28 anos após o início da ação)
44. TEMPOTEMPO O tempo diegético (tempo da históriaO tempo diegético (tempo da história))
Muitas vezes, a passagem do tempo é anunciada por situações
precisas "Para D. Maria Ana é que lhe vem chegando o tempo. A barriga não
aguenta crescer mais por muito que a pele estique (.. .)"
ou por referências temporais que se integram em marcações referenciais
"(…) tendo partido daqui há vinte meses (…)" p. 72
"Meses inteiros se passaram desde então, o ano é já outro" p. 77
"Entretanto, nasceu o infante D. Pedro (...)" p. 88
"Bartolomeu Lourenço foi à quinta de S. Sebastião da Pedreira, três anos
inteiros haviam passado desde que partira (. .)” p. 117
"(...) é certo que há seis anos que vivem como marido e mulher (…)" p.
130
"(...) se não ficou dito já, sempre são seis anos de casos acontecidos (…) "
p. 134
"(…) e já vão onze anos passados (...)" p. 162
"(...) passaram catorze anos (…) " p. 214
"Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi lançada a primeira
pedra da basílica (…)" p. 231
45. TEMPOTEMPO O tempo do discursoO tempo do discurso
O tempo do discurso é revelado
através da forma como
o narrador relata os acontecimentos.
Este pode apresentá-los de forma linear,
optar por retroceder no tempo em relação
ao momento da narrativa em que se encontra
ou antecipar situações (prolepses).
46. TEMPOTEMPO
As analepses (recuos no tempo)
As analepses explicam, geralmente,
acontecimentos anteriores, contribuindo
para a coesão da narrativa.
É de assinalar, anteriormente ao ano do início da
acção (1711 ), a analepse que explica, em parte, a
construção do convento como consequência
do desejo expresso, em 1624, pelos
franciscanos, de possuírem um convento em
Mafra.
47. TEMPOTEMPO O tempo do discursoO tempo do discurso
a visão globalizante de tempos distintos por
parte do narrador (o tempo da história e, num
tempo futuro, o do momento da escrita) –
cabem aqui as referências aos cravos (outrora,
nas pontas das varas dos capelães; muito mais
tarde, símbolos da revolução do 25 de Abril)(XIII,
161),
a associação entre os possíveis voos da
passarola e o facto de os homens terem ido
à Lua, no século XX,
a alusão ao tipo de diversões que se vivia no
século XVII e ao cinema, entre outras.
As prolepses (ações futuras)
A antecipação de alguns acontecimentos serve os
seguintes objectivos: