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MEMORIAL DO CONVENTO 
José Saramago 
Tudo é autobiografia 
«Um dia escrevi que tudo é autobiografia, que a vida de cada um 
de nós a estamos contando em tudo quanto fazemos e dizemos, 
nos gestos, na maneira como nos sentamos, como andamos e 
olhamos, como viramos a cabeça ou apanhamos um objecto do 
chão.» Ontem como hoje, «pergunto-me se o que move o leitor 
à leitura não será a secreta esperança ou a simples possibilidade 
de vir a descobrir, dentro do livro, mais do que a história 
contada, a pessoa invisível, mas omnipresente, que é o autor». 
In Diário de Notícias, 1998-10-09 
1
MEMORIAL DO CONVENTO 
«Como escritor, sou um produto do 25 de Novembro. Com o 25 de 
Novembro, fiquei sem trabalho e com pouca esperança de conseguir um 
sítio onde o encontrar. Eu estava muito marcado. Decidi, aos 53 anos, que 
seria "agora ou nunca". Se as circunstâncias me retiraram a possibilidade 
de trabalhar, iria escrever. Não foi fácil. Durante uns anos vivi de traduções. 
Eu já não estava no circuito, ninguém pensou mais em mim e ainda bem. 
Fechei-me em casa a traduzir para ganhar a vida e para escrever. Publico, 
em 1977, o Manual de Pintura e Caligrafia; em 1978, o Objecto Quase. 
Ainda nesse ano vou para o Alentejo e daí saiu o Levantado do Chão. O 
Memorial do Convento, em 1982, e acho que também O Ano da Morte de 
Ricardo Reis confirmaram que estava ali um escritor. A partir daí não tinha 
nada que provar a não ser a mim mesmo, até onde poderia chegar. Cheguei 
às Intermitências da Morte, aos 83 anos, e espero que haja mais.» 
In Diário de Notícias, 2005-11-09 
José Saramago 
2
MEMORIAL DO CONVENTO 
"Memorial do Convento", de 1982, é o romance 
que o vai tornar célebre. É um texto multifacetado 
e plurissignificativo que tem, ao mesmo tempo, 
uma perspectiva histórica, social e individual. A 
inteligência e a riqueza de imaginação aqui 
expressas caracterizam, de uma maneira geral, a 
obra saramaguiana. 
A ópera "Blimunda", do compositor italiano Corghi, baseia-se neste romance. 
José Saramago 
3
MEMORIAL DO CONVENTO 
José Saramago 
As epígrafes do romance 
Padre Manuel Velho 
Concepção determinista da História – existem forças e leis sociais que 
ultrapassam a vontade individual de cada homem. 
Marguerite Yourcenar 
Concepção contingente da História – aceita a existência de uma 
realidade social não passível de ser epistemologicamente conhecida 
com rigor e exactidão. 
[Poderia existir uma terceira extraída do poema de Bretch “Perguntas de 
um Operário Letrado” que começa pelos versos: “Quem construiu Tebas, a 
das sete portas / Nos livros vem o nome dor reis. / Mas foram os reis que 
transportaram as pedras?”] 
4 
Entrevista
MEMORIAL DO CONVENTO 
Era uma vez um rei que fez a promessa de 
levantar convento em Mafra… 
«Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos 
na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia 
em que estamos…» 
Cap. I, p. 14 
José Saramago 
5
MEMORIAL DO CONVENTO 
Era uma vez a gente que construiu esse 
convento… 
«Em que posso então eu trabalhar, irmão, isto perguntou Baltasar a Álvaro Diogo, 
seu cunhado […] Há aqui mais quem esteja dormindo […] só tem doze anos […] 
este é o filho que ficou, chega à noite morto de dar serventia, andaime acima, 
andaime abaixo, acaba de cear e adormece logo, Querendo, há trabalho para toda 
a gente, disse Álvaro Diogo, podes ir de servente ou fazer carretos com os carros de 
mão, o teu gancho é quanto basta para amparares o varal» 
Cap. XVII, pp. 212 
José Saramago 
6
MEMORIAL DO CONVENTO 
Era uma vez um soldado maneta e uma 
mulher que tinha poderes… 
«Este que por desafrontada aparência, sacudir da espada e desparelhadas 
vestes, ainda que descalço, parece soldado, é Baltasar Mateus, o Sete-Sóis. Foi 
mandado embora do exército por já não ter serventia nele, depois de lhe 
cortarem a mão esquerda pelo nó do pulso, estraçalhada por uma bala em 
frente de Jerez de los Caballeros» 
Cap. IV, p. 35 
«Lembras-te da primeira vez que dormiste comigo, teres dito que te olhei por dentro, Lembro-me, 
Não sabias o que estavas a dizer, nem soubeste o que estavas a ouvir quando eu te disse que nunca te 
olharia por dentro. […] Eu posso olhar por dentro das pessoas. 
[…] mas só vejo quando estou em jejum, perco o dom quando muda o quarto da lua, mas volta logo a 
seguir, quem me dera que o não tivesse» 
Cap. VIII, pp. 79/80 
José Saramago 
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MEMORIAL DO CONVENTO 
Era uma vez um padre que queria voar e 
morreu doido… 
Aquele que ali vem é o padre Bartolomeu Lourenço, a quem 
chamam o Voador» 
Cap. VI, p. 61 
«Tenho sido a risada da corte e dos poetas, um deles, Tomás Pinto Brandão, chamou ao meu 
invento coisa de vento que se há-de acabar cedo, se não fosse a protecção de el-rei não sei o 
que seria de mim, mas el-rei acreditou na minha máquina» 
Cap. VI, p. 64 
«És um homem natural, nem cascos de mula nem asas de passarola, É assim que se chama a 
sua máquina, perguntou Baltasar, e o padre respondeu, Assim lhe têm chamado por 
desprezo.» 
Cap. VI, pp. 65/66 
José Saramago 
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MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
O romance histórico é um tipo de narrativa ficcional em que, de maneira 
evidente, se manifestam as chamadas modalidades mistas de existência 
(…) o que significa que personalidades, eventos e espaços que conhecemos 
ou podemos conhecer como históricas (…) coexistem com personagens, 
eventos e espaços ficcionais. 
Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, in Dicionário de Narratologia, Coimbra, Almedina 
Memorial do Convento integra-se nesta tipologia de romance que concilia História e ficção? 
Análise dos elementos da História e ficcionais (personalidades, eventos, 
José Saramago 
espaços) 
9 
O que diz o narrador? E o 
autor? 
Consultar
MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
José Saramago 
10 
Personagens reais Personagens fictícias 
D. João V Sebastiana Maria de Jesus, feiticeira e mãe de 
Blimunda 
D. Maria Ana Josefa Blimunda, com poderes visionários 
D. Francisco e D. Miguel (irmãos do rei) Baltasar, soldado, maneta, operário 
Maria Bárbara, Pedro e José (os infantes) João Francisco e Marta Maria, pais de Baltasar 
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão Inês Antónia, irmã de Baltasar 
Domenico Scarlatti Álvaro Diogo, cunhado de Baltasar 
Arquitecto alemão Ludwig João Elvas, amigo de Baltasar e antigo soldado 
Outras figuras da época (Madre Paula de Odivelas, 
Bispo inquisidor D. Nuno da Cunha, Frei Boaventura 
de S. Gião, censor do Paço) 
Trabalhadores do convento: Manuel Milho, Francisco 
Marques, José Pequeno, Joaquim Rocha, João Anes, 
Julião Mau-Tempo
MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
José Saramago 
11 
Factos históricos 
Casamento real - 1709 Epidemias de cólera e febre-amarela, em Lisboa - 1723 
A construção da passarola pelo padre Bartolomeu 
de Gusmão e voo da máquina voadora, na Casa da 
Índia (1709) 
A presença em Portugal do músico Domenico Scarlatti, 
como professor de D. Maria Bárbara 
Três anos após o casamento de D. João V com 
Maria Ana de Áustria, auto-de-fé (1711) 
Abalo sísmico - 1723 
O voto do rei Cortejos nupciais - 1729 
Construção do convento de Mafra – 1717 a 1730 Cerimónia de sagração da Basílica de Mafra (22 de 
Outubro de 1730) e todo o esforço que a antecedeu 
(recrutamento de homens em todo o país, 
movimentação das pedras desde Pêro Pinheiro, morte 
de operários) 
A Inquisição 
Touradas 
Procissões religiosas – ex: Corpo de Deus, 8 de 
Junho de 1719 
Auto-de-fé em que morre António José da Silva, o Judeu 
- 1739
MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
José Saramago 
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Situações ficcionais 
A amizade entre Bartolomeu de Gusmão, Baltasar e 
Blimunda e seu envolvimento na construção da 
passarola; 
A cumplicidade de Scarlatti nesta construção. 
A recolha de vontades A participação da música de Scarlatti na cura de 
Blimunda 
O voo tripulado da passarola A peregrinação de Blimunda durante nove anos
MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
José Saramago 
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Espaços reais Espaços fictícios 
Lisboa e arredores: Palácio Real, Ribeira, 
Terreiro do Paço, Rossio, Palácio dos 
Estais, Rua Nova, Quinta do Duque de 
Aveiro em S. Sebastião da Pedreira, 
Odivelas, Azeitão Arrábida 
Abegoaria 
Casa de Blimunda 
Mafra e arredores: Alto da Vela, Pêro 
Pinheiro, Serra do Barregudo, Serra de 
Montejunto 
Casa dos pais de Baltasar 
Alentejo: Aldegalega, Palácio de Vendas 
Novas, Montemor, Évora, Vila Viçosa, 
Fronteira do Caia, Elvas 
Outros espaços 
ligação
MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
“… passando tempo, sempre se encontrará alguém para imaginar que estas 
coisas poderiam ter sido ditas, ou fingi-las, e, fingindo, passam então as histórias 
a ser mais verdadeiras que os casos verdadeiros que elas contam… “ (p. 139) 
José Saramago 
A voz do narrador… 
…e a voz do autor 
“Não há nada fora da história, a ficção acaba por reflectir sempre a história, a 
história está nela mesmo que seja na última franja do que se narra.” 
“A minha arte consiste em tentar mostrar que não existe diferença entre o 
imaginário e o vivido. O vivido pode ser imaginário, e vice-versa.” 
“Se não ligasse o meu trabalho à História não faria qualquer trabalho (…) o 
que eu quero escrever liga-se aos factos e aos homens passados, mas não em 
termos de arqueologia. O que eu quero é desenterrar os homens vivos.” 
14 
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MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
José Saramago 
15
MEMORIAL DO CONVENTO 
Tipologia da narrativa 
O romance histórico teve o seu apogeu no romantismo, 
passando para segundo plano nas últimas décadas do século 
XIX com o romance realista, centrado na pintura da sociedade 
da época ; a partir dos anos oitenta do século XX, assiste-se a 
um renascer do romance histórico, introduzindo temáticas de 
ordem acentuadamente social. 
Memorial do Convento enquadra-se nesta tipologia : romance 
histórico, mas também social e de intervenção, pois para além 
da crónica de costumes, apresenta-nos a história repressiva 
portuguesa. 
José Saramago 
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MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
1. A estrutura (Cf. Apresentação do romance 4-7) 
17
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
2. O tempo – contrastes de uma época 
Relação de D. João V e de D. Maria Ana 
18 
Josefa 
Relação de Baltasar Sete-Sóis e de Blimunda 
Sete-Luas 
• Relação contratual: cumprimento do 
dever conjugal – “duas vezes por semana 
cumpre vigorosamente o seu dever real e 
conjugal” (p. 11). 
• Ausência de amor 
• Ausência de contrato matrimonial. 
• Relação de amor; partilha de sonhos e de 
desejos – “Para dentro da barraca o levou 
Blimunda, não era a primeira vez que ali 
entravam a horas nocturnas, ora por 
vontade de um, ora por vontade do outro, 
faziam-no quando a necessidade da carne 
se anunciava mais expansiva…” (p. 333).
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 2. O tempo – contrastes de uma época 
Vida luxuosa da nobreza e do clero Vida miserável do povo 
A alimentação – “há quem morra por muito 
ter comido durante a vida toda” (p. 27); 
“El-rei, com os infantes seus manos e suas manas 
infantas, jantará na Inquisição depois de 
terminado o acto de fé, e estando já aliviado do 
seu incómodo honrará a mesa do inquisidor-mor, 
José Saramago 
soberbíssima de tigelas de caldo de galinha, 
de perdigões, de peitos de vitela, de pastelões, 
de pastéis de carneiro com açúcar e canela, de 
cozido à castelhana com tudo quanto lhe 
compete, e açafroado, de manjar-branco, e 
enfim doces fritos e frutas do tempo.” (p. 51). 
19 
A alimentação – “Mas não falta […] quem 
morra por ter comido pouco durante toda a vida, 
ou que dela resistiu a um triste passadio de 
sardinha e arroz.” (p. 27); 
“Comeu duas sardinhas fritas sobre um pedaço 
de pão, usando a ponta e o fio da navalha com a 
arte de quem abre miniaturas em marfim, 
quando terminou limpou a lâmina às ervas, a 
mão ao calção, e dirigiu-se à máquina.”(p. 336)
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 2. O tempo – contrastes de uma época 
Vida luxuosa da nobreza e do clero Vida miserável do povo 
José Saramago 
Os espaços habitacionais 
“Já se deitaram. Esta é a cama que veio da 
Holanda quando a rainha veio da Áustria 
[…]. A um desprevenido olhar nem se sabe 
se é de madeira o magnífico móvel, coberto 
como está pela armação preciosa, tecida e 
bordada de florões e relevos de ouro, isto 
não falando do dossel que poderia servir 
para cobrir o papa.” (p. 16). 
20 
Os espaços habitacionais 
“O padre Bartolomeu Lourenço esperou 
que Blimunda acabasse de comer da panela 
as sopas que sobejavam, deitou-lhe a 
bênção, com ela cobrindo a pessoa, a 
comida e a colher, o regaço, o lume na 
lareira, a esteira no chão…” (p. 56).
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
• Início da narrativa – 1711 – deduzida a partir das seguintes afirmações: 
“um homem que ainda não fez vinte e dois anos” (D. João V, nascido em 1689); 
“S. Francisco andava pelo mundo precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze”. 
• 1717: A data da bênção da primeira pedra do convento de Mafra conhece-se pela expressão 
“se não foi dito já, sempre são seis anos de casos decorridos” . A indicação 17 de Novembro de 
1717 surge como dado cronológico. 
• “oito de Junho de mil setecentos e dezanove”: procissão de Corpo de Deus. 
• 1728 “dezasseis anos passaram desde que a (Blimunda) vimos pela primeira vez” (no auto-de- 
fé em que sua mãe fora condenada). Pode ainda deduzir-se pelas referências aos príncipes 
D. José, 14 anos, e Maria Bárbara, de 17 anos… A ordem para que se acabe o convento no 
espaço de 2 anos…. 
• 22 de Outubro de 1730, dia do 41º aniversário de D. João V: 
“Então D. João V disse A sagração da basílica de Mafra será feita no dia vinte e dois de Outubro de 
mil setecentos e trinta, tanto faz que o tempo sobre como falte”. (pp. 291, 352) 
• 1739: “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar”: Auto-de-fé (condenação e morte 
de Baltasar); 
José Saramago 
2. O Tempo da história – 28 anos 
21
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
2. O Tempo da história – 28 anos 
Baltasar 
Sete-Sóis 
22 
Passagem do tempo sobre as personagens Blimunda 
Sete-Luas 
26 anos Conhecem-se (auto-de-fé em que a mãe de Blimunda é condenada) 19 anos 
40 anos Diz aos companheiros de trabalho que esteve perto do sol 33 anos 
45 anos Baltasar desaparece no dia 21 de Outubro de 1730 38 anos 
54 anos Blimunda procura Baltasar durante nove anos. Encontra-o na hora da 
sua morte. 
47 anos
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
A situação do narrador fora do tempo cronológico explica 
as sucessivas analepses e prolepses e a elipse que 
encontramos no texto. Assim, o tempo da história dura 28 
anos e o tempo do discurso abre brechas nesse período 
cronológico para o integrar num tempo uno, em que 
passado, presente e futuro se misturam. 
José Saramago 
2. O Tempo da história – 28 anos 
23 
Anacronias do Tempo do Discurso
MEMORIAL DO CONVENTO 
2.1 Anacronias do tempo do discurso Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
Analepse 
- Referência a 1624: 
“Tanto mais que o Convento de 
Mafra o anda a querer a ordem de 
S. Francisco desde mil seiscentos e 
vinte e quatro, ainda estava rei de 
Portugal um Filipe espanhol”. 
- Referência a 1709: 
“dois anos depois de se queimarem 
pessoas em Lisboa”. 
-O narrador relembra a 
primeira vez que Baltasar e 
Blimunda entraram na quinta 
do duque de Aveiro: 
-“nada havia que pudesse lembrar a 
brava selva de há dez anos, quando 
pela primeira vez Baltasar e 
Blimunda aqui entraram”. 
24 
Prolepse 
- Prenúncio da morte da filha do Visconde 
de Mafra para daí a dez anos: 
“não vai haver muita música na vida desta 
criança (…) daqui a dez anos morrerá e será 
sepultada na igreja de santo André”. 
- Antecipação da morte de Álvaro Diogo: 
“em breve cairá duma parede onde não tinha de 
subir (…) quase de trinta metros de altura será a 
queda e dela morrerá”. 
- Antecipação do número de bastardos de 
D. João V: 
“por isso se diverte tanto com as freiras (…) que 
quando acabar a sua história se hão-de contar 
por dezenas os filhos assim arranjados”. 
- Antecipação da revolução de 25 de Abril 
de 1974: 
“ai o destino das flores, um dia as meterão nos 
canos das espingardas”. 
Elipse 
- Baltasar desaparece 
no dia anterior à 
Sagração do Convento 
(21 de Outubro de 
1730) e Blimunda 
percorre o país, numa 
busca constante do seu 
companheiro, durante 
nove anos. Acerca do 
que se passou durante 
este período temporal 
nada sabemos a não 
ser que “Durante nove 
anos, Blimunda 
procurou Baltasar. (…) 
Milhares de léguas 
andou”.
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
3. O espaço 
3.1 espaço físico 
ESPAÇOS PRIVILEGIADOS: 
Lisboa: Terreiro do Paço, Ribeira, Rossio (Casa da Índia e Palácio do Corte Real), 
S. Sebastião da Pedreira (a abegoaria), na quinta do Duque de Aveiro 
Mafra: Alto da Vela, Ilha da Madeira, Monte Junto, Pêro Pinheiro, Torres Vedras. 
Outros espaços: 
Jerez de los Caballeros, Montemor, Évora, Elvas, Coimbra, Holanda, Áustria. 
Lisboa - cidade que contém em si ricos e pobres 
Alentejo - permite conhecer a miséria do povo 
Mafra - deu trabalho a muita gente, mas, socialmente, destruiu famílias e criou 
marginalização. 
25
MEMORIAL DO CONVENTO 
3. O espaço Categorias do texto narrativo 
3.2 O espaço social (ambientes / atmosferas sociais) 
A vida social no século XVIII – feitiçaria, escravatura, Inquisição, epidemias, 
rituais da corte e da igreja, alquimia, festividades – grandes quadros da 
sociedade cortesã e popular. 
LISBOA 
• Procissão da Quaresma 
• Autos-de-fé 
• A tourada 
• Procissão do Corpo de Deus, 
José Saramago 
8/06/1719 
MAFRA 
• Recrutamento dos trabalhadores 
para a construção do convento 
• Início da construção 
• Condições de vida e alojamento 
• Condições laborais 
• Momentos de lazer 
• A sagração da basílica 
A visão oficial da História exalta os poderosos, Saramago eleva o povo e os seus 
mártires ao estatuto de verdadeiros fazedores da História. 
26
MEMORIAL DO CONVENTO 
José Saramago 
3. O espaço 
Categorias do texto narrativo 
3.3 espaço psicológico 
27 
Vivências, experiências, filtradas pelas emoções, 
reflexões, meditações. 
• Blimunda procura Baltasar: errância caracterizada por profunda 
angústia e amor 
• Meditações do rei, espécie de monólogos interiores 
• Sonhos da rainha com D. Francisco
MEMORIAL DO CONVENTO 
José Saramago 
4. As personagens (principais) 
Categorias do texto narrativo 
1. O grupo do poder 
• D. Maria Ana Josefa 
• D. João V 
2. O grupo do contra-poder 
• Padre Bartolomeu Lourenço de 
Gusmão 
• Domenico Scarlatti 
• Baltasar Sete-Sóis 
• Blimunda Sete-Luas 
O povo: todos os anónimos que 
construíram a História são representados 
através daqueles a 
quem o autor dá nome: Alcino, Brás, 
Nicanor, etc. 
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MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
5. O narrador (as suas vozes/funções discursivas) 
• sentencia, segue ou inventa provérbios 
• dialoga com o narrador 
• manipula as personagens 
• apaga-se face às personagens 
• ironiza / assume-se /compromete-se 
• domina e autolimita-se face ao conhecimento da história 
• profetiza 
• descreve paisagens, situações, factos acontecidos (e a 
acontecer) 
Este narrador ultrapassa o habitual estatuto de narrador 
omnisciente, próprio do romance histórico, ele conduz a narrativa a 
seu bel-prazer, interessado , acima de tudo, em denunciar. 
29
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
José Saramago 
5. O narrador – (as suas vozes/funções discursivas) 
5.1 Intertextualidade com outras obras e outros autores, ultrapassando as barreiras 
do tempo (referências ao Padre Ant.º Vieira e sua oratória, Pessoa e Mensagem, 
Camões e Os Lusíadas . 
5.2 Mudança de focalização do narrador para a de uma personagem 
• para Sebastiana Maria de Jesus, no auto-de-fé; 
• para o patriarca e para o rei, na procissão do Corpo de Deus; 
• para Ludwig aquando do desejo do rei de construir uma igreja na corte, como a 
de S. Pedro de Roma. 
30
MEMORIAL DO CONVENTO 
Categorias do texto narrativo 
5. O narrador – (as suas vozes/funções discursivas) 
5.3 Mudança repentina do convencional discurso de terceira pessoa para o de 
primeira pessoa, indiciando uma proximidade do narrador, por vezes afectiva, com 
as personagens e acontecimentos, embora não seja personagem da diegese. (pp. 35, 
273) 
5.4 Permanente ansiedade do narrador pela contemporaneidade que conduz a 
uma constante reflexão sobre a vida humana. 
5.5 O conhecimento de histórias da tradição e do imaginário popular – o vulto do 
homem na lua. (p. 253) 
5.6 Os juízos pessoais, amargamente irónicos, mas também simpáticos. (pp. 88, 222) 
José Saramago 
31
MEMORIAL DO CONVENTO 
5. O narrador – (as suas vozes/funções discursivas) 
Categorias do texto narrativo 
5.7 Apartes que revelam cumplicidade com o leitor. (pp. 266, 289) 
5.8 A partilha de referentes comuns ao narrador e ao leitor do século XX, 
profundamente irónica: 
• o nome de Saramago (p.97) 
• a moda do bronzeado (p. 153) 
• flores de Abril (156) 
• o cinema como forma de lazer (p. 221) 
• o parto sem dor (p. 234) 
5.9 A actualização de conceitos, uma vez que o narrador tem consciência de 
que o leitor não domina o universo do século XVIII. (p. 81) 
5.10 A conversão de pesos e medidas aquando da apresentação da pedra da 
varanda do convento. (p. 247) 
32 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A dimensão simbólica do romance 
Ao longo do romance há vários elementos simbólicos que se conjugam com o universo 
verídico e histórico. 
1. A máquina voadora - constitui um símbolo da liberdade, mas igualmente de luz, 
de guia. 
2. Sete-Sóis – “baptismo” de Baltasar porque só pode ver à luz. 
3. Sete-Luas – “baptismo de Blimunda, porque só vê no escuro, evidenciando os dotes 
da clarividência. 
4. Algarismo sete – totalidade completa e perfeita – é referenciado várias vezes ao 
longo da obra. 
5. Algarismo nove – “o nove parece ser a medida das gestações, das buscas 
frutíferas e simboliza o coroamento dos esforços, o concluir de uma criação.” 
33 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A dimensão simbólica do romance 
6. O convento – “o esforço mortífero”. 
7. A figura feminina – no mundo dos pobres ela possui as virtudes de uma heroína 
anónima, embora sem ser reconhecida. 
8. O sonho – muitas personagens têm o seu espaço onírico, mas o sonho de voar 
domina o romance. 
9. A vontade - simboliza o querer humano sem o qual nada é possível concretizar. 
10. A trindade – Bartolomeu, Baltasar e Blimunda é uma tríade indissociável, 
harmoniosa e perfeita. 
Para além deste elementos simbólicos, também as personagens assumem um valor 
simbólico, mesmo as que pertencem à realidade histórica, o que atesta, sem dúvida, que o 
Memorial do Convento é muito mais do que um simples romance histórico, permanecendo, 
ao longo de todo a obra uma conjugação entre o real e o simbólico. 
34 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A dimensão simbólica do romance 
O paralelismo simbólico dos episódios iniciais e finais 
Auto-de-fé de Sebastiana 
Maria de Jesus, mãe de 
Blimunda 
Primeiro encontro entre 
Blimunda e Baltasar 
- "Que nome é o seu, e o homem 
disse, naturalmente, assim 
reconhecendo o direito de esta 
mulher lhe fazer perguntas". 
Espaço – Rossio 
- "O Rossio está cheio de 
povo“ 
As últimas 
páginas… 
Blimunda "repetia um 
itinerário de há vinte e 
oito anos". 
-O rio como imagem da 
precariedade da vida. 
- Blimunda está em 
Lisboa pela sétima vez: 
encerramento de um 
ciclo de vida. 
Auto-de-fé de Baltasar 
Sete-Sóis 
Último encontro de 
Blimunda e Baltasar 
- "Naquele extremo arde um 
homem a quem falta a mão 
Esquerda". 
Espaço - Rossio 
- "Meteu-se pela Rua Nova dos 
Ferros, virou para a direita na 
igreja de Nossa 
Senhora de Oliveira, em Direcção 
ao Rossio“ 
35 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
Ambiente soturno: 
-"sobre o Rossio caem as 
grandes sombras do convento 
do Carmo; 
- "e as pessoas voltarão às 
suas casas, refeitas na fé, 
levando agarrada à sola dos 
sapatos alguma fuligem, 
pegajosa poeiras de carnes 
negras, sangue acaso ainda 
viscoso se nas brasas não se 
evaporou.“ 
A dimensão simbólica do romance 
Ambiente soturno: 
-"caminhava no meio de 
fantasmas, de neblinas que 
eram gente"; 
- "Entre os mil cheiros fétidos 
da cidade, a aragem nocturna 
trouxe-lhe o da carne 
queimada". 
36 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A multidão reúne-se 
- "O Rossio está cheio de 
povo". 
As condenações da 
Inquisição: 
- condenação da mãe de 
Blimunda (ao degredo). 
Ritual de morte 
Blimunda comunica 
enigmaticamente com a 
Mãe 
- "não fales, Blimunda, olha só 
com esses olhos que tudo são 
capazes de ver; 
- "adeus Blimunda que não te 
verei mais". 
A dimensão simbólica do romance 
Blimunda que, no primeiro 
encontro com Baltasar, 
prometera que nunca o veria 
por dentro, usa os seus dons 
nos momentos finais da vida 
de Baltasar e vê uma nuvem 
fechada que está no centro do 
seu corpo - RECOLHE A SUA 
VONTADE. 
A multidão reúne-se 
-"havia multidão em S. 
Domingos“ 
As condenações da 
Inquisição: 
- condenação de António José 
da Silva, "autor de comédias de 
bonifrates"; 
-condenação de Baltasar Sete- 
Sóis. 
Blimunda comunica 
enigmaticamente com 
Baltasar 
- "Então Blimunda disse, Vem. 
Desprendeu-se a vontade de 
Baltasar Sete-Sóis". 
37 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A dimensão simbólica do romance 
Lisboa é o último (grande) espaço a ganhar 
importância e a fechar o círculo iniciado no capítulo V, 
verdadeiro incipit do romance (funcionando os 
primeiros capítulos como amostras das peças de 
encaixe do romance como construção). É num dia de 
auto-de-fé que Blimunda (re)encontra Baltasar, agora 
no lugar de condenado, a arder na fogueira, e acolhe a 
sua vontade comungada com ela. Esta vontade 
acolhida em si transforma o momento em espaço de 
encontro e de partilha. 
38 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A visão crítica 
1. Desde o início que Memorial do Convento se apresenta como uma crítica cheia de 
ironia e sarcasmo à opulência do rei e de alguns nobres por oposição à extrema 
pobreza do povo. “Esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo 
para um lado e de escasso para o outro”; A tropa andava descalça e rota, roubava os 
lavradores. 
2. O adultério e a corrupção dos costumes são factores de sátira ao longo da obra. 
Critica a mulher porque, entre duas igrejas, foi encontrar-se com um homem; critica 
uns tantos maridos cucos e não perdoa aos frades que içam as mulheres para 
dentro das celas e com elas se gozam; não escapam os nobres e o próprio rei, até 
porque este considera que as freiras o recebem nas suas camas, nomeadamente a 
madre Paula de Odivelas. 
39 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A visão crítica 
3. Há uma constante denúncia da Inquisição e dos seus métodos e uma crítica às 
pessoas que dançam em volta das fogueiras onde se queimaram os condenados. 
4. A sátira estende-se a Mafra e à situação dos trabalhadores; à atitude do rei 
em obrigar todo o homem válido a trabalhar no convento; 
5. Não deixa de fora os príncipes, como D. Francisco, que se entretém a 
espingardear os marinheiros ou quer seduzir a rainhas, sua cunhada, e tomar o 
trono. 
40 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A linguagem e estilo 
A escrita de Saramago caracteriza-se pela qualidade e pelo inédito, nomeadamente no 
que diz respeito às alterações das normas relativas à expressão gráfica e pontuação. 
Entre as características principais, podemos salientar: 
1. no discurso directo, verifica-se a abolição do uso do travessão e dos dois pontos, a 
substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de pontuação pela vírgula, o 
simples uso da maiúscula inicial das palavras marca a mudança de interlocutor; 
2. a vírgula apresenta-se como o mais recorrente e importante sinal de pontuação : 
separa as várias falas das personagens (dando-lhes um certo ritmo e marca 
momentos de enumeração); 
3. a coexistência de várias modalidades discursivas sem marcação gráfica (narração, 
descrição, discurso directo, discurso indirecto, discurso indirecto livre, monólogo 
interior e apartes) , tornando as frases longas e próximas da oralidade; 
41 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A linguagem e estilo 
4. as invectivas e as interpelações directas ao leitor (narratário), criando um estilo 
próximo da oratória barroca e uma maior cumplicidade entre narrador/narratário; 
5. o uso predominante do presente do indicativo, apoiando a perspectiva 
tridimensional do tempo (narrador movimenta-se entre o passado, o presente e o 
futuro); 
6. o uso do polissíndeto; 
7. o uso da enumeração de cariz popular – “ele é os ourives…, ele é os fundidores… , 
ele é os escultores…”; 
8. o aproveitamento de aforismos e provérbios; 
9. o uso do trocadilho; 
10. o uso da ironia; 
42 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
A linguagem e estilo 
11. o uso da metáfora sugestiva (o transporte da pedra é visto como um jogo de 
lançar papagaios); 
12. o jogo de expressões antinómicas; 
13. o uso de uma linguagem barroca, caracterizada pelo detalhe excessivo 
(apresentação do noivado da infanta Maria Bárbara e do noivado do infante José; 
referências à estrutura do sermão…); 
14. a apropriação / interpretação subjectiva do discurso evangélico (“Pater noster que 
non estis in coelis”…); 
15. a criação de neologismos; 
16. o uso de termos anacrónicos; 
17. a intertextualidade frequente, sobretudo com Os Lusíadas de Luís de Camões. 
… 
43 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
Subversão (transgressão) no romance 
Memorial do Convento pode ser considerado um romance transgressor quer na 
construção da própria narrativa (relações entre personagens, estatuto do narrador), 
quer no domínio da escrita. 
Os elementos que podemos apontar como transgressores são: 
1. especificidade do amor de Blimunda e Baltasar, vivido à margem das regras 
socialmente aceites: não são casados, uniram-se pelo ritual do sangue e da colher, 
vivem uma relação de igualdade, num estado de perfeição que não é deste mundo; 
2. Padre Bartolomeu desafia o poder da Igreja, seguindo o seu sonho e acreditando 
na ciência; 
3. Passarola que voa, que ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio de 
Deus, subvertendo as leis do universo; 
4.Conjugação inusitada de saberes: o saber científico associado ao trabalho artesanal 
e à magia; 
44 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
Subversão (transgressão) no romance 
5. O estatuto do narrador: acompanha a acção, comentando e criticando, 
estabelecendo uma interacção permanente entre passado, presente e futuro 
(presença do anacronismo); 
6. Concepção das personagens: as tradicionais figuras históricas, como o rei D. 
João V e a rainha, assumem uma feição caricatural; as personagens Baltasar e 
Blimunda assumem, contra as expectativas iniciais, o estatuto de protagonistas da 
narrativa; 
7. A escrita literária: supressão das marcas gráficas do discurso directo (diálogos), 
multiplicação das vírgulas que substituem os pontos finais, criando uma leitura 
contínua; o uso das maiúsculas no meio da frase para introduzir as falas das 
personagens. 
… 
45 José Saramago
MEMORIAL DO CONVENTO 
Subversão (transgressão) no romance 
Para finalizar… 
A subversão conhece o seu grau mais elevado no tratamento das grandes 
figuras históricas. Ao contrário do que acontece no romance histórico de 
Scott e Tolstoi onde Maria Stuart, Luís XI ou Kutusov são figuras 
inesquecíveis de recorte pessoal epocal, pessoal e humano, em 
Saramago as figuras históricas perdem a sua grandeza histórica e são 
pintadas com as cores da caricatura. São exemplos máximos o rei e a 
rainha, meros instrumentos da necessidade nacional em produzir um 
herdeiro. 
Luís Francisco Rebelo, Memorial do Convento, José Saramago, 
25 anos da 1ª edição: a recepção da crítica na época, Lisboa, Caminho 
46 José Saramago

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Convento de Mafra

  • 1. MEMORIAL DO CONVENTO José Saramago Tudo é autobiografia «Um dia escrevi que tudo é autobiografia, que a vida de cada um de nós a estamos contando em tudo quanto fazemos e dizemos, nos gestos, na maneira como nos sentamos, como andamos e olhamos, como viramos a cabeça ou apanhamos um objecto do chão.» Ontem como hoje, «pergunto-me se o que move o leitor à leitura não será a secreta esperança ou a simples possibilidade de vir a descobrir, dentro do livro, mais do que a história contada, a pessoa invisível, mas omnipresente, que é o autor». In Diário de Notícias, 1998-10-09 1
  • 2. MEMORIAL DO CONVENTO «Como escritor, sou um produto do 25 de Novembro. Com o 25 de Novembro, fiquei sem trabalho e com pouca esperança de conseguir um sítio onde o encontrar. Eu estava muito marcado. Decidi, aos 53 anos, que seria "agora ou nunca". Se as circunstâncias me retiraram a possibilidade de trabalhar, iria escrever. Não foi fácil. Durante uns anos vivi de traduções. Eu já não estava no circuito, ninguém pensou mais em mim e ainda bem. Fechei-me em casa a traduzir para ganhar a vida e para escrever. Publico, em 1977, o Manual de Pintura e Caligrafia; em 1978, o Objecto Quase. Ainda nesse ano vou para o Alentejo e daí saiu o Levantado do Chão. O Memorial do Convento, em 1982, e acho que também O Ano da Morte de Ricardo Reis confirmaram que estava ali um escritor. A partir daí não tinha nada que provar a não ser a mim mesmo, até onde poderia chegar. Cheguei às Intermitências da Morte, aos 83 anos, e espero que haja mais.» In Diário de Notícias, 2005-11-09 José Saramago 2
  • 3. MEMORIAL DO CONVENTO "Memorial do Convento", de 1982, é o romance que o vai tornar célebre. É um texto multifacetado e plurissignificativo que tem, ao mesmo tempo, uma perspectiva histórica, social e individual. A inteligência e a riqueza de imaginação aqui expressas caracterizam, de uma maneira geral, a obra saramaguiana. A ópera "Blimunda", do compositor italiano Corghi, baseia-se neste romance. José Saramago 3
  • 4. MEMORIAL DO CONVENTO José Saramago As epígrafes do romance Padre Manuel Velho Concepção determinista da História – existem forças e leis sociais que ultrapassam a vontade individual de cada homem. Marguerite Yourcenar Concepção contingente da História – aceita a existência de uma realidade social não passível de ser epistemologicamente conhecida com rigor e exactidão. [Poderia existir uma terceira extraída do poema de Bretch “Perguntas de um Operário Letrado” que começa pelos versos: “Quem construiu Tebas, a das sete portas / Nos livros vem o nome dor reis. / Mas foram os reis que transportaram as pedras?”] 4 Entrevista
  • 5. MEMORIAL DO CONVENTO Era uma vez um rei que fez a promessa de levantar convento em Mafra… «Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em que estamos…» Cap. I, p. 14 José Saramago 5
  • 6. MEMORIAL DO CONVENTO Era uma vez a gente que construiu esse convento… «Em que posso então eu trabalhar, irmão, isto perguntou Baltasar a Álvaro Diogo, seu cunhado […] Há aqui mais quem esteja dormindo […] só tem doze anos […] este é o filho que ficou, chega à noite morto de dar serventia, andaime acima, andaime abaixo, acaba de cear e adormece logo, Querendo, há trabalho para toda a gente, disse Álvaro Diogo, podes ir de servente ou fazer carretos com os carros de mão, o teu gancho é quanto basta para amparares o varal» Cap. XVII, pp. 212 José Saramago 6
  • 7. MEMORIAL DO CONVENTO Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes… «Este que por desafrontada aparência, sacudir da espada e desparelhadas vestes, ainda que descalço, parece soldado, é Baltasar Mateus, o Sete-Sóis. Foi mandado embora do exército por já não ter serventia nele, depois de lhe cortarem a mão esquerda pelo nó do pulso, estraçalhada por uma bala em frente de Jerez de los Caballeros» Cap. IV, p. 35 «Lembras-te da primeira vez que dormiste comigo, teres dito que te olhei por dentro, Lembro-me, Não sabias o que estavas a dizer, nem soubeste o que estavas a ouvir quando eu te disse que nunca te olharia por dentro. […] Eu posso olhar por dentro das pessoas. […] mas só vejo quando estou em jejum, perco o dom quando muda o quarto da lua, mas volta logo a seguir, quem me dera que o não tivesse» Cap. VIII, pp. 79/80 José Saramago 7
  • 8. MEMORIAL DO CONVENTO Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido… Aquele que ali vem é o padre Bartolomeu Lourenço, a quem chamam o Voador» Cap. VI, p. 61 «Tenho sido a risada da corte e dos poetas, um deles, Tomás Pinto Brandão, chamou ao meu invento coisa de vento que se há-de acabar cedo, se não fosse a protecção de el-rei não sei o que seria de mim, mas el-rei acreditou na minha máquina» Cap. VI, p. 64 «És um homem natural, nem cascos de mula nem asas de passarola, É assim que se chama a sua máquina, perguntou Baltasar, e o padre respondeu, Assim lhe têm chamado por desprezo.» Cap. VI, pp. 65/66 José Saramago 8
  • 9. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa O romance histórico é um tipo de narrativa ficcional em que, de maneira evidente, se manifestam as chamadas modalidades mistas de existência (…) o que significa que personalidades, eventos e espaços que conhecemos ou podemos conhecer como históricas (…) coexistem com personagens, eventos e espaços ficcionais. Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, in Dicionário de Narratologia, Coimbra, Almedina Memorial do Convento integra-se nesta tipologia de romance que concilia História e ficção? Análise dos elementos da História e ficcionais (personalidades, eventos, José Saramago espaços) 9 O que diz o narrador? E o autor? Consultar
  • 10. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa José Saramago 10 Personagens reais Personagens fictícias D. João V Sebastiana Maria de Jesus, feiticeira e mãe de Blimunda D. Maria Ana Josefa Blimunda, com poderes visionários D. Francisco e D. Miguel (irmãos do rei) Baltasar, soldado, maneta, operário Maria Bárbara, Pedro e José (os infantes) João Francisco e Marta Maria, pais de Baltasar Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão Inês Antónia, irmã de Baltasar Domenico Scarlatti Álvaro Diogo, cunhado de Baltasar Arquitecto alemão Ludwig João Elvas, amigo de Baltasar e antigo soldado Outras figuras da época (Madre Paula de Odivelas, Bispo inquisidor D. Nuno da Cunha, Frei Boaventura de S. Gião, censor do Paço) Trabalhadores do convento: Manuel Milho, Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim Rocha, João Anes, Julião Mau-Tempo
  • 11. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa José Saramago 11 Factos históricos Casamento real - 1709 Epidemias de cólera e febre-amarela, em Lisboa - 1723 A construção da passarola pelo padre Bartolomeu de Gusmão e voo da máquina voadora, na Casa da Índia (1709) A presença em Portugal do músico Domenico Scarlatti, como professor de D. Maria Bárbara Três anos após o casamento de D. João V com Maria Ana de Áustria, auto-de-fé (1711) Abalo sísmico - 1723 O voto do rei Cortejos nupciais - 1729 Construção do convento de Mafra – 1717 a 1730 Cerimónia de sagração da Basílica de Mafra (22 de Outubro de 1730) e todo o esforço que a antecedeu (recrutamento de homens em todo o país, movimentação das pedras desde Pêro Pinheiro, morte de operários) A Inquisição Touradas Procissões religiosas – ex: Corpo de Deus, 8 de Junho de 1719 Auto-de-fé em que morre António José da Silva, o Judeu - 1739
  • 12. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa José Saramago 12 Situações ficcionais A amizade entre Bartolomeu de Gusmão, Baltasar e Blimunda e seu envolvimento na construção da passarola; A cumplicidade de Scarlatti nesta construção. A recolha de vontades A participação da música de Scarlatti na cura de Blimunda O voo tripulado da passarola A peregrinação de Blimunda durante nove anos
  • 13. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa José Saramago 13 Espaços reais Espaços fictícios Lisboa e arredores: Palácio Real, Ribeira, Terreiro do Paço, Rossio, Palácio dos Estais, Rua Nova, Quinta do Duque de Aveiro em S. Sebastião da Pedreira, Odivelas, Azeitão Arrábida Abegoaria Casa de Blimunda Mafra e arredores: Alto da Vela, Pêro Pinheiro, Serra do Barregudo, Serra de Montejunto Casa dos pais de Baltasar Alentejo: Aldegalega, Palácio de Vendas Novas, Montemor, Évora, Vila Viçosa, Fronteira do Caia, Elvas Outros espaços ligação
  • 14. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa “… passando tempo, sempre se encontrará alguém para imaginar que estas coisas poderiam ter sido ditas, ou fingi-las, e, fingindo, passam então as histórias a ser mais verdadeiras que os casos verdadeiros que elas contam… “ (p. 139) José Saramago A voz do narrador… …e a voz do autor “Não há nada fora da história, a ficção acaba por reflectir sempre a história, a história está nela mesmo que seja na última franja do que se narra.” “A minha arte consiste em tentar mostrar que não existe diferença entre o imaginário e o vivido. O vivido pode ser imaginário, e vice-versa.” “Se não ligasse o meu trabalho à História não faria qualquer trabalho (…) o que eu quero escrever liga-se aos factos e aos homens passados, mas não em termos de arqueologia. O que eu quero é desenterrar os homens vivos.” 14 voltar
  • 15. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa José Saramago 15
  • 16. MEMORIAL DO CONVENTO Tipologia da narrativa O romance histórico teve o seu apogeu no romantismo, passando para segundo plano nas últimas décadas do século XIX com o romance realista, centrado na pintura da sociedade da época ; a partir dos anos oitenta do século XX, assiste-se a um renascer do romance histórico, introduzindo temáticas de ordem acentuadamente social. Memorial do Convento enquadra-se nesta tipologia : romance histórico, mas também social e de intervenção, pois para além da crónica de costumes, apresenta-nos a história repressiva portuguesa. José Saramago 16
  • 17. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo José Saramago 1. A estrutura (Cf. Apresentação do romance 4-7) 17
  • 18. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo José Saramago 2. O tempo – contrastes de uma época Relação de D. João V e de D. Maria Ana 18 Josefa Relação de Baltasar Sete-Sóis e de Blimunda Sete-Luas • Relação contratual: cumprimento do dever conjugal – “duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu dever real e conjugal” (p. 11). • Ausência de amor • Ausência de contrato matrimonial. • Relação de amor; partilha de sonhos e de desejos – “Para dentro da barraca o levou Blimunda, não era a primeira vez que ali entravam a horas nocturnas, ora por vontade de um, ora por vontade do outro, faziam-no quando a necessidade da carne se anunciava mais expansiva…” (p. 333).
  • 19. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo 2. O tempo – contrastes de uma época Vida luxuosa da nobreza e do clero Vida miserável do povo A alimentação – “há quem morra por muito ter comido durante a vida toda” (p. 27); “El-rei, com os infantes seus manos e suas manas infantas, jantará na Inquisição depois de terminado o acto de fé, e estando já aliviado do seu incómodo honrará a mesa do inquisidor-mor, José Saramago soberbíssima de tigelas de caldo de galinha, de perdigões, de peitos de vitela, de pastelões, de pastéis de carneiro com açúcar e canela, de cozido à castelhana com tudo quanto lhe compete, e açafroado, de manjar-branco, e enfim doces fritos e frutas do tempo.” (p. 51). 19 A alimentação – “Mas não falta […] quem morra por ter comido pouco durante toda a vida, ou que dela resistiu a um triste passadio de sardinha e arroz.” (p. 27); “Comeu duas sardinhas fritas sobre um pedaço de pão, usando a ponta e o fio da navalha com a arte de quem abre miniaturas em marfim, quando terminou limpou a lâmina às ervas, a mão ao calção, e dirigiu-se à máquina.”(p. 336)
  • 20. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo 2. O tempo – contrastes de uma época Vida luxuosa da nobreza e do clero Vida miserável do povo José Saramago Os espaços habitacionais “Já se deitaram. Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria […]. A um desprevenido olhar nem se sabe se é de madeira o magnífico móvel, coberto como está pela armação preciosa, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, isto não falando do dossel que poderia servir para cobrir o papa.” (p. 16). 20 Os espaços habitacionais “O padre Bartolomeu Lourenço esperou que Blimunda acabasse de comer da panela as sopas que sobejavam, deitou-lhe a bênção, com ela cobrindo a pessoa, a comida e a colher, o regaço, o lume na lareira, a esteira no chão…” (p. 56).
  • 21. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo • Início da narrativa – 1711 – deduzida a partir das seguintes afirmações: “um homem que ainda não fez vinte e dois anos” (D. João V, nascido em 1689); “S. Francisco andava pelo mundo precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze”. • 1717: A data da bênção da primeira pedra do convento de Mafra conhece-se pela expressão “se não foi dito já, sempre são seis anos de casos decorridos” . A indicação 17 de Novembro de 1717 surge como dado cronológico. • “oito de Junho de mil setecentos e dezanove”: procissão de Corpo de Deus. • 1728 “dezasseis anos passaram desde que a (Blimunda) vimos pela primeira vez” (no auto-de- fé em que sua mãe fora condenada). Pode ainda deduzir-se pelas referências aos príncipes D. José, 14 anos, e Maria Bárbara, de 17 anos… A ordem para que se acabe o convento no espaço de 2 anos…. • 22 de Outubro de 1730, dia do 41º aniversário de D. João V: “Então D. João V disse A sagração da basílica de Mafra será feita no dia vinte e dois de Outubro de mil setecentos e trinta, tanto faz que o tempo sobre como falte”. (pp. 291, 352) • 1739: “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar”: Auto-de-fé (condenação e morte de Baltasar); José Saramago 2. O Tempo da história – 28 anos 21
  • 22. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo José Saramago 2. O Tempo da história – 28 anos Baltasar Sete-Sóis 22 Passagem do tempo sobre as personagens Blimunda Sete-Luas 26 anos Conhecem-se (auto-de-fé em que a mãe de Blimunda é condenada) 19 anos 40 anos Diz aos companheiros de trabalho que esteve perto do sol 33 anos 45 anos Baltasar desaparece no dia 21 de Outubro de 1730 38 anos 54 anos Blimunda procura Baltasar durante nove anos. Encontra-o na hora da sua morte. 47 anos
  • 23. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo A situação do narrador fora do tempo cronológico explica as sucessivas analepses e prolepses e a elipse que encontramos no texto. Assim, o tempo da história dura 28 anos e o tempo do discurso abre brechas nesse período cronológico para o integrar num tempo uno, em que passado, presente e futuro se misturam. José Saramago 2. O Tempo da história – 28 anos 23 Anacronias do Tempo do Discurso
  • 24. MEMORIAL DO CONVENTO 2.1 Anacronias do tempo do discurso Categorias do texto narrativo José Saramago Analepse - Referência a 1624: “Tanto mais que o Convento de Mafra o anda a querer a ordem de S. Francisco desde mil seiscentos e vinte e quatro, ainda estava rei de Portugal um Filipe espanhol”. - Referência a 1709: “dois anos depois de se queimarem pessoas em Lisboa”. -O narrador relembra a primeira vez que Baltasar e Blimunda entraram na quinta do duque de Aveiro: -“nada havia que pudesse lembrar a brava selva de há dez anos, quando pela primeira vez Baltasar e Blimunda aqui entraram”. 24 Prolepse - Prenúncio da morte da filha do Visconde de Mafra para daí a dez anos: “não vai haver muita música na vida desta criança (…) daqui a dez anos morrerá e será sepultada na igreja de santo André”. - Antecipação da morte de Álvaro Diogo: “em breve cairá duma parede onde não tinha de subir (…) quase de trinta metros de altura será a queda e dela morrerá”. - Antecipação do número de bastardos de D. João V: “por isso se diverte tanto com as freiras (…) que quando acabar a sua história se hão-de contar por dezenas os filhos assim arranjados”. - Antecipação da revolução de 25 de Abril de 1974: “ai o destino das flores, um dia as meterão nos canos das espingardas”. Elipse - Baltasar desaparece no dia anterior à Sagração do Convento (21 de Outubro de 1730) e Blimunda percorre o país, numa busca constante do seu companheiro, durante nove anos. Acerca do que se passou durante este período temporal nada sabemos a não ser que “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar. (…) Milhares de léguas andou”.
  • 25. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo José Saramago 3. O espaço 3.1 espaço físico ESPAÇOS PRIVILEGIADOS: Lisboa: Terreiro do Paço, Ribeira, Rossio (Casa da Índia e Palácio do Corte Real), S. Sebastião da Pedreira (a abegoaria), na quinta do Duque de Aveiro Mafra: Alto da Vela, Ilha da Madeira, Monte Junto, Pêro Pinheiro, Torres Vedras. Outros espaços: Jerez de los Caballeros, Montemor, Évora, Elvas, Coimbra, Holanda, Áustria. Lisboa - cidade que contém em si ricos e pobres Alentejo - permite conhecer a miséria do povo Mafra - deu trabalho a muita gente, mas, socialmente, destruiu famílias e criou marginalização. 25
  • 26. MEMORIAL DO CONVENTO 3. O espaço Categorias do texto narrativo 3.2 O espaço social (ambientes / atmosferas sociais) A vida social no século XVIII – feitiçaria, escravatura, Inquisição, epidemias, rituais da corte e da igreja, alquimia, festividades – grandes quadros da sociedade cortesã e popular. LISBOA • Procissão da Quaresma • Autos-de-fé • A tourada • Procissão do Corpo de Deus, José Saramago 8/06/1719 MAFRA • Recrutamento dos trabalhadores para a construção do convento • Início da construção • Condições de vida e alojamento • Condições laborais • Momentos de lazer • A sagração da basílica A visão oficial da História exalta os poderosos, Saramago eleva o povo e os seus mártires ao estatuto de verdadeiros fazedores da História. 26
  • 27. MEMORIAL DO CONVENTO José Saramago 3. O espaço Categorias do texto narrativo 3.3 espaço psicológico 27 Vivências, experiências, filtradas pelas emoções, reflexões, meditações. • Blimunda procura Baltasar: errância caracterizada por profunda angústia e amor • Meditações do rei, espécie de monólogos interiores • Sonhos da rainha com D. Francisco
  • 28. MEMORIAL DO CONVENTO José Saramago 4. As personagens (principais) Categorias do texto narrativo 1. O grupo do poder • D. Maria Ana Josefa • D. João V 2. O grupo do contra-poder • Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão • Domenico Scarlatti • Baltasar Sete-Sóis • Blimunda Sete-Luas O povo: todos os anónimos que construíram a História são representados através daqueles a quem o autor dá nome: Alcino, Brás, Nicanor, etc. 28
  • 29. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo José Saramago 5. O narrador (as suas vozes/funções discursivas) • sentencia, segue ou inventa provérbios • dialoga com o narrador • manipula as personagens • apaga-se face às personagens • ironiza / assume-se /compromete-se • domina e autolimita-se face ao conhecimento da história • profetiza • descreve paisagens, situações, factos acontecidos (e a acontecer) Este narrador ultrapassa o habitual estatuto de narrador omnisciente, próprio do romance histórico, ele conduz a narrativa a seu bel-prazer, interessado , acima de tudo, em denunciar. 29
  • 30. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo José Saramago 5. O narrador – (as suas vozes/funções discursivas) 5.1 Intertextualidade com outras obras e outros autores, ultrapassando as barreiras do tempo (referências ao Padre Ant.º Vieira e sua oratória, Pessoa e Mensagem, Camões e Os Lusíadas . 5.2 Mudança de focalização do narrador para a de uma personagem • para Sebastiana Maria de Jesus, no auto-de-fé; • para o patriarca e para o rei, na procissão do Corpo de Deus; • para Ludwig aquando do desejo do rei de construir uma igreja na corte, como a de S. Pedro de Roma. 30
  • 31. MEMORIAL DO CONVENTO Categorias do texto narrativo 5. O narrador – (as suas vozes/funções discursivas) 5.3 Mudança repentina do convencional discurso de terceira pessoa para o de primeira pessoa, indiciando uma proximidade do narrador, por vezes afectiva, com as personagens e acontecimentos, embora não seja personagem da diegese. (pp. 35, 273) 5.4 Permanente ansiedade do narrador pela contemporaneidade que conduz a uma constante reflexão sobre a vida humana. 5.5 O conhecimento de histórias da tradição e do imaginário popular – o vulto do homem na lua. (p. 253) 5.6 Os juízos pessoais, amargamente irónicos, mas também simpáticos. (pp. 88, 222) José Saramago 31
  • 32. MEMORIAL DO CONVENTO 5. O narrador – (as suas vozes/funções discursivas) Categorias do texto narrativo 5.7 Apartes que revelam cumplicidade com o leitor. (pp. 266, 289) 5.8 A partilha de referentes comuns ao narrador e ao leitor do século XX, profundamente irónica: • o nome de Saramago (p.97) • a moda do bronzeado (p. 153) • flores de Abril (156) • o cinema como forma de lazer (p. 221) • o parto sem dor (p. 234) 5.9 A actualização de conceitos, uma vez que o narrador tem consciência de que o leitor não domina o universo do século XVIII. (p. 81) 5.10 A conversão de pesos e medidas aquando da apresentação da pedra da varanda do convento. (p. 247) 32 José Saramago
  • 33. MEMORIAL DO CONVENTO A dimensão simbólica do romance Ao longo do romance há vários elementos simbólicos que se conjugam com o universo verídico e histórico. 1. A máquina voadora - constitui um símbolo da liberdade, mas igualmente de luz, de guia. 2. Sete-Sóis – “baptismo” de Baltasar porque só pode ver à luz. 3. Sete-Luas – “baptismo de Blimunda, porque só vê no escuro, evidenciando os dotes da clarividência. 4. Algarismo sete – totalidade completa e perfeita – é referenciado várias vezes ao longo da obra. 5. Algarismo nove – “o nove parece ser a medida das gestações, das buscas frutíferas e simboliza o coroamento dos esforços, o concluir de uma criação.” 33 José Saramago
  • 34. MEMORIAL DO CONVENTO A dimensão simbólica do romance 6. O convento – “o esforço mortífero”. 7. A figura feminina – no mundo dos pobres ela possui as virtudes de uma heroína anónima, embora sem ser reconhecida. 8. O sonho – muitas personagens têm o seu espaço onírico, mas o sonho de voar domina o romance. 9. A vontade - simboliza o querer humano sem o qual nada é possível concretizar. 10. A trindade – Bartolomeu, Baltasar e Blimunda é uma tríade indissociável, harmoniosa e perfeita. Para além deste elementos simbólicos, também as personagens assumem um valor simbólico, mesmo as que pertencem à realidade histórica, o que atesta, sem dúvida, que o Memorial do Convento é muito mais do que um simples romance histórico, permanecendo, ao longo de todo a obra uma conjugação entre o real e o simbólico. 34 José Saramago
  • 35. MEMORIAL DO CONVENTO A dimensão simbólica do romance O paralelismo simbólico dos episódios iniciais e finais Auto-de-fé de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda Primeiro encontro entre Blimunda e Baltasar - "Que nome é o seu, e o homem disse, naturalmente, assim reconhecendo o direito de esta mulher lhe fazer perguntas". Espaço – Rossio - "O Rossio está cheio de povo“ As últimas páginas… Blimunda "repetia um itinerário de há vinte e oito anos". -O rio como imagem da precariedade da vida. - Blimunda está em Lisboa pela sétima vez: encerramento de um ciclo de vida. Auto-de-fé de Baltasar Sete-Sóis Último encontro de Blimunda e Baltasar - "Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão Esquerda". Espaço - Rossio - "Meteu-se pela Rua Nova dos Ferros, virou para a direita na igreja de Nossa Senhora de Oliveira, em Direcção ao Rossio“ 35 José Saramago
  • 36. MEMORIAL DO CONVENTO Ambiente soturno: -"sobre o Rossio caem as grandes sombras do convento do Carmo; - "e as pessoas voltarão às suas casas, refeitas na fé, levando agarrada à sola dos sapatos alguma fuligem, pegajosa poeiras de carnes negras, sangue acaso ainda viscoso se nas brasas não se evaporou.“ A dimensão simbólica do romance Ambiente soturno: -"caminhava no meio de fantasmas, de neblinas que eram gente"; - "Entre os mil cheiros fétidos da cidade, a aragem nocturna trouxe-lhe o da carne queimada". 36 José Saramago
  • 37. MEMORIAL DO CONVENTO A multidão reúne-se - "O Rossio está cheio de povo". As condenações da Inquisição: - condenação da mãe de Blimunda (ao degredo). Ritual de morte Blimunda comunica enigmaticamente com a Mãe - "não fales, Blimunda, olha só com esses olhos que tudo são capazes de ver; - "adeus Blimunda que não te verei mais". A dimensão simbólica do romance Blimunda que, no primeiro encontro com Baltasar, prometera que nunca o veria por dentro, usa os seus dons nos momentos finais da vida de Baltasar e vê uma nuvem fechada que está no centro do seu corpo - RECOLHE A SUA VONTADE. A multidão reúne-se -"havia multidão em S. Domingos“ As condenações da Inquisição: - condenação de António José da Silva, "autor de comédias de bonifrates"; -condenação de Baltasar Sete- Sóis. Blimunda comunica enigmaticamente com Baltasar - "Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis". 37 José Saramago
  • 38. MEMORIAL DO CONVENTO A dimensão simbólica do romance Lisboa é o último (grande) espaço a ganhar importância e a fechar o círculo iniciado no capítulo V, verdadeiro incipit do romance (funcionando os primeiros capítulos como amostras das peças de encaixe do romance como construção). É num dia de auto-de-fé que Blimunda (re)encontra Baltasar, agora no lugar de condenado, a arder na fogueira, e acolhe a sua vontade comungada com ela. Esta vontade acolhida em si transforma o momento em espaço de encontro e de partilha. 38 José Saramago
  • 39. MEMORIAL DO CONVENTO A visão crítica 1. Desde o início que Memorial do Convento se apresenta como uma crítica cheia de ironia e sarcasmo à opulência do rei e de alguns nobres por oposição à extrema pobreza do povo. “Esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro”; A tropa andava descalça e rota, roubava os lavradores. 2. O adultério e a corrupção dos costumes são factores de sátira ao longo da obra. Critica a mulher porque, entre duas igrejas, foi encontrar-se com um homem; critica uns tantos maridos cucos e não perdoa aos frades que içam as mulheres para dentro das celas e com elas se gozam; não escapam os nobres e o próprio rei, até porque este considera que as freiras o recebem nas suas camas, nomeadamente a madre Paula de Odivelas. 39 José Saramago
  • 40. MEMORIAL DO CONVENTO A visão crítica 3. Há uma constante denúncia da Inquisição e dos seus métodos e uma crítica às pessoas que dançam em volta das fogueiras onde se queimaram os condenados. 4. A sátira estende-se a Mafra e à situação dos trabalhadores; à atitude do rei em obrigar todo o homem válido a trabalhar no convento; 5. Não deixa de fora os príncipes, como D. Francisco, que se entretém a espingardear os marinheiros ou quer seduzir a rainhas, sua cunhada, e tomar o trono. 40 José Saramago
  • 41. MEMORIAL DO CONVENTO A linguagem e estilo A escrita de Saramago caracteriza-se pela qualidade e pelo inédito, nomeadamente no que diz respeito às alterações das normas relativas à expressão gráfica e pontuação. Entre as características principais, podemos salientar: 1. no discurso directo, verifica-se a abolição do uso do travessão e dos dois pontos, a substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de pontuação pela vírgula, o simples uso da maiúscula inicial das palavras marca a mudança de interlocutor; 2. a vírgula apresenta-se como o mais recorrente e importante sinal de pontuação : separa as várias falas das personagens (dando-lhes um certo ritmo e marca momentos de enumeração); 3. a coexistência de várias modalidades discursivas sem marcação gráfica (narração, descrição, discurso directo, discurso indirecto, discurso indirecto livre, monólogo interior e apartes) , tornando as frases longas e próximas da oralidade; 41 José Saramago
  • 42. MEMORIAL DO CONVENTO A linguagem e estilo 4. as invectivas e as interpelações directas ao leitor (narratário), criando um estilo próximo da oratória barroca e uma maior cumplicidade entre narrador/narratário; 5. o uso predominante do presente do indicativo, apoiando a perspectiva tridimensional do tempo (narrador movimenta-se entre o passado, o presente e o futuro); 6. o uso do polissíndeto; 7. o uso da enumeração de cariz popular – “ele é os ourives…, ele é os fundidores… , ele é os escultores…”; 8. o aproveitamento de aforismos e provérbios; 9. o uso do trocadilho; 10. o uso da ironia; 42 José Saramago
  • 43. MEMORIAL DO CONVENTO A linguagem e estilo 11. o uso da metáfora sugestiva (o transporte da pedra é visto como um jogo de lançar papagaios); 12. o jogo de expressões antinómicas; 13. o uso de uma linguagem barroca, caracterizada pelo detalhe excessivo (apresentação do noivado da infanta Maria Bárbara e do noivado do infante José; referências à estrutura do sermão…); 14. a apropriação / interpretação subjectiva do discurso evangélico (“Pater noster que non estis in coelis”…); 15. a criação de neologismos; 16. o uso de termos anacrónicos; 17. a intertextualidade frequente, sobretudo com Os Lusíadas de Luís de Camões. … 43 José Saramago
  • 44. MEMORIAL DO CONVENTO Subversão (transgressão) no romance Memorial do Convento pode ser considerado um romance transgressor quer na construção da própria narrativa (relações entre personagens, estatuto do narrador), quer no domínio da escrita. Os elementos que podemos apontar como transgressores são: 1. especificidade do amor de Blimunda e Baltasar, vivido à margem das regras socialmente aceites: não são casados, uniram-se pelo ritual do sangue e da colher, vivem uma relação de igualdade, num estado de perfeição que não é deste mundo; 2. Padre Bartolomeu desafia o poder da Igreja, seguindo o seu sonho e acreditando na ciência; 3. Passarola que voa, que ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio de Deus, subvertendo as leis do universo; 4.Conjugação inusitada de saberes: o saber científico associado ao trabalho artesanal e à magia; 44 José Saramago
  • 45. MEMORIAL DO CONVENTO Subversão (transgressão) no romance 5. O estatuto do narrador: acompanha a acção, comentando e criticando, estabelecendo uma interacção permanente entre passado, presente e futuro (presença do anacronismo); 6. Concepção das personagens: as tradicionais figuras históricas, como o rei D. João V e a rainha, assumem uma feição caricatural; as personagens Baltasar e Blimunda assumem, contra as expectativas iniciais, o estatuto de protagonistas da narrativa; 7. A escrita literária: supressão das marcas gráficas do discurso directo (diálogos), multiplicação das vírgulas que substituem os pontos finais, criando uma leitura contínua; o uso das maiúsculas no meio da frase para introduzir as falas das personagens. … 45 José Saramago
  • 46. MEMORIAL DO CONVENTO Subversão (transgressão) no romance Para finalizar… A subversão conhece o seu grau mais elevado no tratamento das grandes figuras históricas. Ao contrário do que acontece no romance histórico de Scott e Tolstoi onde Maria Stuart, Luís XI ou Kutusov são figuras inesquecíveis de recorte pessoal epocal, pessoal e humano, em Saramago as figuras históricas perdem a sua grandeza histórica e são pintadas com as cores da caricatura. São exemplos máximos o rei e a rainha, meros instrumentos da necessidade nacional em produzir um herdeiro. Luís Francisco Rebelo, Memorial do Convento, José Saramago, 25 anos da 1ª edição: a recepção da crítica na época, Lisboa, Caminho 46 José Saramago