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Mesclagem de voz e tipos de discursos..                                      291




   MESCLAGEM DE VOZ E TIPOS DE DISCURSOS NO
   PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA DE
        SINAIS PARA O PORTUGUÊS ORAL



                                                     Neiva de Aquino Albres
                                                   Universidade de São Paulo
                                                        neivaaquino@yahoo.com.br




   Resumo: Pretende-se descrever o fenômeno da linguagem no momento
   da interpretação simultânea – captar o caráter singular da significação do
   ver a enunciação, do processamento da mesma, e da produção para língua
   alvo com as equivalências na mesclagem da voz e dos discursos que estão
   sendo proferidos na língua fonte. O foco privilegiado nessa investigação
   é a escolha da modulação da voz feita pelo intérprete de Língua de Sinais
   para Língua portuguesa na modalidade oral. Envolve análise do corpus de
   fala de uma surda universitária que participou de mesa redonda intitulada
   “A Universidade e o Surdo: um encontro inevitável” envolvida por um
   discurso militante que reivindicava a presença do intérprete de Língua de
   Sinais e adaptações educacionais na Universidade.
   Palavras-chave: mesclagem de voz, tipos discursivos, interpretação da
   libras.


   Abstract: This article describes the phenomenon of language in the act of
   simultaneous interpretation – to capture the unique character of the signi-
   fication of seeing the enunciation, of processing it, and of the production
   into the target language with the equivalences between tone of voice and
   the utterances made in the source language. The focus of this investigation
   is the preference of voice modulation made by sign language interpre-
   ters for the oral Portuguese language. It analyzes the speech corpus of a
   deaf university student who took part in a roundtable discussion entitled
   “The University and the Deaf: an inevitable encounter” with a speech by
   a campaigner demanding the presence of sign language interpreters and
   educational changes at University.
   Keywords: tone of voice, discourse typology, libras interpretation.
292                                          Neiva de Aquino Albres




   Introdução

   Ao longo de décadas, a interpretação simultânea vem ajudando
pessoas e empresas a superarem barreiras lingüísticas. No caso da
Língua de Sinais sua evidência vem aumentando ainda mais devi-
do ao movimento de inclusão social. A interpretação simultânea
é mais adequada para encontros e eventos com público bilíngüe,
quando se quer uma comunicação fluída.
   Para interpretação de língua oral para língua oral enquanto o
conferencista apresenta o discurso na sua língua, o intérprete em
cabinas insonorizadas, geralmente localizadas ao fundo do espa-
ço, interpreta dois a três segundos atrás da seqüência do discurso
da língua fonte, não estando fisicamente presente entre emissor e
receptor, pois a usa-se auscultadores como equipamento eficiente
nesses eventos.
   Já na interpretação de uma língua de modalidade gestual-visual
para oral, geralmente quando o conferencista é surdo, o intérprete
senta-se na primeira fileira e toma o microfone para que sua voz
seja captada em todo ambiente. (FENEIS, 1988)
   Uma das críticas feitas aos intérpretes orais de Congressos é que
os participantes do evento são levados a um processo de sonolência
com as vozes monótonas dos intérpretes simultâneos. Considera-
mos que a voz é o espelho das emoções, pois nela transparece o
estado de espírito, a credibilidade da enunciação, e a função que
seu discurso quer afetar.
   Há muitas discussões sobre o Intérprete de Língua de Sinais e a
necessidade do uso de expressividade facial e corporal, intensidade
de articulação dos movimentos conforme a enunciação do falante
do português, mas pouco se estuda sobre tipos de discursos e mes-
clagem de voz na interpretação oral.
   O pequeno estudo nessa área é conseqüência, também, do fato
de surdos terem uma participação consideravelmente maior como
receptores de mensagens do que como emissores, principalmente
quando se trata de espaço acadêmico em que há necessidade da
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                          293




interpretação entre Libras e Língua portuguesa. Ou seja, os surdos
mais vêem do que tem espaço para se expressar, sendo mais fre-
qüente o intérprete de Língua de Sinais atuar na interpretação da
língua oral para Língua de Sinais.




   Considerações preliminares para interpretação da Língua
   de Sinais para língua portuguesa oral



   A invisibilidade da interpretação oral
    Nesse tipo de interpretação o profissional não fica entre o emis-
sor e o receptor, o destaque vai para o sinalizador e não para o
intérprete. Assim, sua voz deve passar a credibilidade e segurança
para os ouvintes.
294                                            Neiva de Aquino Albres




   A entonação
    O profissional precisa ter uma boa voz, não essencialmente grave.
Isto porque o microfone amplia e define eventuais falhas na voz.
    Seria interessante o intérprete ter um treinamento para desenvol-
ver vozes de crianças, idosos, medo, agressiva, entre outras. Isso
não quer dizer que se formos interpretar uma criança teríamos que
ficar imitando a fala infantilizada. Mas, em casos de uma narrativa,
fabula que se constroem diferentes personagens é interessante que
o intérprete oral o faça pela voz, podendo o interlocutor distinguir
mais facilmente a fala de cada personagem, como o sinalizador o
fará pelo referente local ou usando o espaço mental subrogado,
pela expressão corporal e facial.
    A mesclagem de voz consiste da variação emocional (alegria, tris-
teza, euforia,) e variação da entonação da impostação vocal (projeção,
relação grave agudo, ressonância). (BERNHARD, 1988) O intérprete
necessita de subsídios vocais para desempenhar seu papel.

   Altura da Voz
    A altura da voz corresponde ao volume da emissão, ou seja, o
grau de energia que é empregado; a força da voz. O intérprete deve
conhecer seu próprio potencial vocal.
    É importante conhecer previamente o local onde desenvolverá a
interpretação, fazer uma avaliação do espaço, verificar a acústica
da sala, as barreiras de propagação do som (carpetes forrando as
paredes, muitas janelas e vidros) e seus mascaradores (ar-condicio-
nado barulhentos, portas e janelas abertas com pessoas conversan-
do nos corredores). É importante saber se terá o microfone como
recurso, se não houver então deve se atentar à distância dos últi-
mos ouvintes. Após essa avaliação poderá ou não utilizar a técnica
respiratória de apoio a produção das altas intensidades vocais e a
coordenação fono/respiratória.
    Quando tiver como recurso o microfone deve procurar posicio-
ná-lo um pouco abaixo da boca, mais ou menos na altura do quei-
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                            295




xo, entre e 5 e 10 centímetros da boca, pois se assim não o fizer
será desagradável ouvi-lo com uma voz abafada.

   A articulação
   O intérprete deve expressar-se com clareza e propriedade em por-
tuguês, levando em conta os aspectos culturais e lingüísticos e respei-
tando o registro usado no discurso original, mas uma boa articulação
e pronuncia são essenciais. Assim, dicção significa a clareza, beleza,
sensibilidade e inteligibilidade de comunicação da língua.
   Uma voz bem postada, sonora, com timbre melodioso não é o
único pré-requisito, pois deve estar associada a forma como se fala.

   A velocidade da fala
   Não há uma velocidade-padrão para falar. As pessoas falam
mais rápido ou mais devagar a depender da sua capacidade de res-
piração, da sua emoção, da maneira como pronunciam as palavras,
do que estão sentindo no momento, ou de como pretendem afetar o
outro com quem fala. Mas, o intérprete deve acompanhar o ritmo
do conferencista que faz uso da língua de sinais (emissor), a depen-
der da característica deste pode utilizar alguns recursos que serão
importantes para melhorar a qualidade da sua comunicação.

       Emissor que fala rápido: então o intérprete pode acompa-
       nhar a velocidade, mas deve aprimorar a dicção. Pode fazer
       uma leve pausa no final do pensamento. Assim, os recepto-
       res terão mais facilidade para compreender.

       Emissor que fala devagar: parece que com a fala mais de-
       vagar o intérprete teria mais facilidade para processar os si-
       nais e procurar seus equivalentes em língua portuguesa, mas
       deve cuidar da inflexão de voz correta para a pausa. Pois na
       fala devagar podem cometer o erro de usar a inflexão de voz
       de encerramento quando ainda estão no meio da frase, ou de
296                                           Neiva de Aquino Albres




      continuidade quando estão encerrando. Isso atrapalha a com-
      preensão dos ouvintes e os desestimula a continuar prestando
      atenção. É importante eliminar os ruídos desagradáveis de
      ããã, ééé nas pausas, apenas fique em silêncio se o emissor
      assim o fizer, ou se ele parar como se estivesse refletindo
      sobre o assunto.

   Polito nos lembra que:

      O segredo da comunicação eficiente, entretanto, não está
      na velocidade da fala ou no volume da voz isoladamente.
      A comunicação expressiva, envolvente, está na alternância
      desses dois aspectos. Em determinados momentos devemos
      falar mais alto, em outros mais baixo, até sussurrando,
      como se convidássemos os ouvintes a prestar atenção re-
      dobrada; em alguns instantes devemos falar mais rápido,
      em outros mais lentamente. Assim, com esse ritmo vamos
      envolvendo e motivando as pessoas a acompanhar a mensa-
      gem que transmitimos. (POLITO, 2005)


   Consideramos que o intérprete pode usar esses recursos e al-
ternâncias de velocidade, a depender da sinalização do emissor
quando for conveniente, portanto deve estar atento a sutileza ou
agilidade no processo de sinalização.

   Conhecimento na temática do discurso e escolhas lexicais
    A interpretação em Eventos exige um profissional com maior
preparo, pois é mais complexo o trabalho junto ao microfone, nes-
ses espaços se fala mais termos específicos à área científica, quan-
do nesse processo falta o termo1 parece travar a continuidade da
interpretação.
    Bonalume e Camargo (2004) consideram que o uso de marcado-
res de reformulação pode ser visto como uma estratégia de fluência
para alguns teóricos, pois proporciona um tempo para tomada de
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                             297




decisão, consciente ou inconscientemente, para tornar os textos de
chegada mais acessíveis aos interlocutores.
    Seria interessante nesse momento o trabalho em conjunto. Des-
sa forma outro intérprete ao lado pode sussurrar palavras para ala-
vancar à continuidade da interpretação.
    As expressões variam segundo a época ou os grupos sociais.
Assim, ao se interpretar um determinado surdo, deve ser mantida
uma correspondência ética com o discurso e não fazendo uma adap-
tação das idéias dele, deve-se buscar expressões de jovens, mas não
repletos de gírias, quando se está em ambiente acadêmico.

   Trabalho em equipe
    O trabalho em equipe na interpretação da língua de sinais para
língua oral é diferente da língua oral para língua de sinais, tanto no
espaço que o intérprete ocupa como na atuação do apoio. Pois, neste o
intérprete de apoio deve estar sentado ao lado do intérprete da vez, o
intérprete apoio deve estar atento acompanhando a sinalização do con-
ferencista e a interpretação do colega para quando o intérprete da vez
necessitar, o apoio esteja interado do contexto do discurso. Os dois de-
vem combinar um leve toque na perna quando precisar de ajuda, e se o
apoio perceber que o intérprete da vez se perdeu lhe de um toque se ele
balançar a cabeça positivamente o colega pode sussurrar a ajuda.
    Nunca o intérprete de apoio deve falar alto de forma a competir
com a voz do intérprete da vez, o apoio não deve interpretar várias
frases junto com o intérprete da vez, ou para que este fique copian-
do, deve procurar usar palavras chaves para que intérprete da vez
reencontre o caminho do discurso e de continuidade sozinho.
    É interessante fazer a troca a cada vinte minutos, com um outro
toque previamente combinado.

   Capturar o perfil do Sinalizador
   Os estilos de comunicação variam conforme o estilo da pessoa,
suas condições culturais, sociais e de personalidade.
298                                             Neiva de Aquino Albres




      Dessa forma, a idéia que aqui se defende é a de que, em-
      bora a tradução seja uma nova situação de comunicação,
      por opção do tradutor, ela pode – e deve – confluir no
      dito e no modo de dizer, criando uma similaridade apar-
      ente entre o texto da LP e o da LC. Cabe ao tradutor, na
      perspectiva proposta, recuperar a enunciação através de re-
      cursos de captação e de imitação do texto-base. Para tanto,
      é necessário que sejam identificados valores ideológicos,
      ethos, figuras, vozes e tom que compõem o texto-base e que
      esses elementos sejam reproduzidos e imitados. Se isto não
      acontecer, corre-se o risco da ocorrência de erros, ou pelo
      menos de um reducionismo, uma superficialidade que leva
      à perda do tom do texto-base, descaracterizando a tradução.
      (JORGE, 2004, p. 3)


   Nesse caso o intérprete tem certa autonomia para captação
e imitação do texto-base, sempre levando em consideração as
características culturais e lingüísticas inerentes ao emissor.

   Tipos de discursos
   O enunciador pode expressar-se de diversas formas, Quadros
(2004) considera que o intérprete deve estar atento aos tipos de
discursos e preparado para utilizar elementos pertinentes a cada
discurso. Apresenta seis tipos de discursos: narrativo, persuasivo,
explicativo, argumentativo, conversacional e procedural.
   Beneditti (2004, p. 19) ao discutir sobre a visão empirista da
tradução, apresenta que é comum a concepção inadequada de que se
deve “valorizar em excesso ou com exclusividade o aspecto termino-
lógico de um texto, sem atentar para seu aspecto discursivo”.
   Assim, o intérprete deve estar atento ao objetivo do emissor
em Libras. Se o mesmo estiver centralizado no emissor, revelan-
do sua opinião, sua emoção então deve prevalece a 1ª pessoa do
singular, interjeições e exclamações. Mas, se a mensagem estiver
centralizada no referente, apresentando informações da realidade,
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                       299




sendo objetivo, direto, usando uma linguagem denotativa, então
deve prevalecer o uso da 3ª pessoa do singular.

   Outras habilidades
   Há outras habilidades necessárias para a atuação como intér-
pretes de língua de sinais para língua portuguesa, entre elas, têm
a memória de curta duração, concentração, rapidez em encontrar
soluções imediatas


   Análise dos dados

    Nos dia 29 e 30 de novembro de 2004 foi realizado o I Encontro
do Curso de Libras em Contexto da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul - UFMS. A mesa redonda intitulada “A Universi-
dade e o Surdo: um encontro inevitável” teve a fala de professo-
res da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS e da
Universidade Católica Dom Bosco - UCDB enquanto professores
e coordenadores de curso e departamento, pesquisadores da área;
como também de uma acadêmica surda do curso de Pedagogia para
falar de suas experiências enquanto aluna de uma Universidade
particular da cidade de Campo Grande - MS.
    Os componentes da mesa, professores (interpretação da língua
portuguesa na modalidade oral para Libras) utilizaram um discurso
informativo e, principalmente, técnico-científico. O que cria um
efeito de objetividade, pois com certo distanciamento relatavam o
processo de inserção o surdo na universidade apresentando poucos
exemplos das dificuldades desse processo. Mas reconhecendo a ne-
cessidade da universidade se preparar para desenvolver as adapta-
ções adequadas para atender as necessidades educacionais especiais
desses acadêmicos.
    Já a acadêmica surda (interpretação da Libras para língua por-
tuguesa na modalidade oral), em sua fala apresenta uma linguagem
300                                            Neiva de Aquino Albres




menos técnico-científica, seguindo uma narrativa de fatos que mar-
caram seu percurso na universidade.
   O trabalho não foi desenvolvido em equipe, pois o tempo de fala
dos componentes da mesa era de vinte minutos, e nesse momento
o outro intérprete do evento estava desenvolvendo outra função, na
realidade tínhamos um escasso número de intérpretes para desen-
volver tal trabalho; segue a analise da interpretação língua de sinais
para Língua oral:
   Não transcreveremos todo discurso, pois esse demandaria muito
espaço. Assim, apresentamos os pontos importantes encontrados
com pequenas análises.



   a) tipos de discursos
   Na construção do discurso da acadêmica surda observamos um
predomínio da função referencial sempre na voz ativa, com uso do
discurso narrativo, pelo relato dos fatos dos vestibulares que parti-
cipou e discurso argumentativo, quando apresenta as necessidades
acadêmicas dos surdos. Assim, o intérprete utilizou o pronome
pessoal singular de primeira pessoa, geralmente funcionando como
sujeito das orações.
   Uso do discurso narrativo: o tempo verbal predominante é no
passado. Na reconstrução dos fatos a surda utilizou referentes
locais para seus interlocutores naquele momento, como na dis-
cussão com o fiscal do vestibular. O intérprete percebeu a partir
da concordância dos verbos, ou seja, de sua direção, quem disse
o que a quem nessa discussão. Quadros (1997, p. 64) firma que
“a direção do movimento do verbo define as relações gramati-
cais da sentença.
   No início da fala da acadêmica foi predominante o uso de dis-
curso narrativo. Exemplo de interpretação:
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                              301




 LIBRAS         CHEGAR398 LEGAL(2)804 AVISAR-ME252 CONTRA-
                TO458 INTÉRPRETAR7642
 Português      Ao chegar à sala de aula foi muito legal receber a notí-
 oral           cia de que a intérprete foi contratada.
 comentário     O contexto anterior nos serviu como dado de que o
                emissor estava no espaço da faculdade e dirigindo-se à
                sala de aula.


    Percebemos também a necessidade de adaptações quanto ao teor
das afirmações, pois poderiam ser interpretadas como acusações,
já que a universidade por muito tempo errou no processo do vesti-
bular como também no atendimento em todo percurso acadêmico
de surdos. A língua de Sinais é muito direta. Barbosa (2003) con-
sidera que ao intérprete cabe desenvolver essas adaptações, revela
que “se, por exemplo, encontro, no original, alguma maneira de
dizer que seria indelicada na língua de chegada, tomo todos os
cuidados para fazer as necessárias alterações para que a tradução
tenha o tom certo”. (BARBOSA, 2003, p. 58)
    Na continuidade de sua fala, a acadêmica assumiu o discurso ar-
gumentativo na tentativa de provar a importância das universidades
contratarem os intérpretes de Língua de Sinais e de desenvolverem um
trabalho de conscientização prévia do corpo docente sobre as peculia-
ridades lingüísticas dos surdos e as adaptações necessárias para sua in-
clusão. No final desse discurso o intérprete assume uma voz enfática,
já que a emissora passa a se pronunciar com sinais mais “tensos”.
    A língua é o reflexo “das relações sociais estáveis dos falantes”
(Bakhtin 1988, p. 147). Essa afirmação nos leva a refletir que por
meio da língua, no uso da entonação revelamos elementos impor-
tantes para a construção de sentido. A prosódia está no âmbito da
sentença e revela, entre outras questões, o que enfatizamos para
nosso interlocutor.
    A acadêmica vivenciou quatro anos de dificuldades, apesar da
universidade, em questão, contratar o intérprete quando cursava o
302                                              Neiva de Aquino Albres




segundo semestre, considera que apenas esse recurso não corres-
ponde à inclusão. Seu objetivo era também alertar para as outras
necessidades.

   b) mesclagem de voz
    Quando a emissora (acadêmica surda) passa a narrar, a contar
os fatos que ocorreram com ela e outros personagens, em local e
tempo definidos; por muitas vezes assume o discurso direto. No
caso da língua oral, os diferentes personagens são facilmente iden-
tificados com a mudança na entonação da voz.
    Nesse caso foi usado o narrador de 1ª pessoa, que participa da
ação, ou seja, que se inclui na narrativa e estava definido como
personagem principal. Dentre o corpus de interpretação feita, es-
crevemos aqui uma parte da enunciação do intérprete:

      Quando eu fui pra prova de vestibular, entrei na sala que
      estava na minha inscrição e me identifiquei como surda,
      logo a pessoa fez gestos e falou ao mesmo tempo: ___Aqui
      não, outra sala. Foi o que entendi daquele fiscal. (interpre-
      tação oral)


    Vejam que nessa pequena parte do texto, entra um segundo per-
sonagem, o fiscal. E esse é apresentado na história em Libras com
discurso direto, pois a surda “incorpora” a pessoa do fiscal fazendo
até os trejeitos de quem não sabe LIBRAS e tenta se comunicar
falando e fazendo sinais.
     Trata-se do narrador-personagem, que faz uso intensivo da
dêixis. Esse é um assunto de muito interesse para a lingüística das
línguas de sinais, mas pouco descrito. Viotti (2006 afirma que:

      Na criação de discursos, os surdos fazem a sobreposição de
      várias situações de fala, especialmente com a criação da-
      quilo que tem sido chamado de “espaço sub-rogado”. Esse
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                              303




       espaço é aquele em que o surdo incorpora o personagem de
       uma história que ele está contando. Quando ele sinaliza o
       pronome de 1ª pessoa nesse espaço, ele não está se referin-
       do a si mesmo, que é quem está contando a história, mas ao
       personagem que ele está representando. (VIOTTI, 2006)


   Para que o intérprete de Libras perceba, processe e transforme
essa informação de fala de diferentes personagens compreensível
na língua alvo, ou seja, no português oral; é importante que faça
uso da mesclagem de voz mesmo que use 1ª pessoa para todos os
personagens.
   Esse processo envolve a percepção visual do uso do espaço de
sinalização e o mapeamento dos referentes dos pronomes nesse
espaço que estão sendo apresentados pelo emissor em Libras. Na
língua de modalidade gestual-visual se distingue essas vozes com a
percepção da produção simultânea de sinais e movimento-postura
do corpo construindo o espaço sub-rogado. (VIOTTI e MCCLE-
ARY, 2006)
   A opção de assumir o discurso direto, desenvolvendo uma pe-
quena mudança de voz para cada personagem e ainda a utilização
de marcadores para apresentação de novo emissor, como: “ele me
disse”, fui informada que”, “o fiscal falou” são estratégias interes-
santes para que essa informação não se perca para a língua que se
esta traduzindo, ou seja, na língua portuguesa oral.


   Considerações finais

   A tradução analisada envolveu a situação de um evento acadê-
mico, com mesa redonda. A fala da academica surda apresentou
o momento histórico, em que era inevitável a presença do surdo
na universidade, e essa presença carregata direitos aos mesmos e
deveres à instituição.
304                                                    Neiva de Aquino Albres




    Interessa destacar que, dessa foram, as palavras dos componen-
tes da mesa que se referem a um mesmo tema não se encontraram
dispostos de uma mesma forma e mesma tonalidade de voz.
    A interpretação, assim não se trata de mera reprodução das
ídeias do emissor, mas é necessário entender essa expressão orien-
tada para um fim, no caso analisado, afetar o público com certo
grau de indignação e apelo para que mude dessa história, narrando
fatos sofridos pelos surdos, dessa forma foi construído pela autora.
(acadêmica surda)
    Consideramos que diante dos pontos aqui levantados o intérpre-
te de Língua de Sinais esteve atento ao tipo de discurso (narrativo
e argumentativo) e mesclagem de voz, esses dois pontos dão vida
a expressão.
    Este trabalho leva à conclusão que a interpretação da Libras
para língua oral é muito complexa e pouco estudada. O ato de
interpretar é uma tarefa mais complexa do que se presume e exi-
ge dos envolvidos, não somente a prática de interpretação, mas
profundo conhecimento teórico sobre a área. É indispensável que
programas de pós-graduação contemplem essa discussão, relacio-
nando-a especialmente à interpretação em língua de sinais, visando
a qualificação do intérprete.




                                     Notas


1. Este momento do ato interpretativo implica em um outro aspecto, a escolha
lexical, determinada por parâmetros semântico-culturais, que serão objeto de um
outro trabalho. Aqui vamos observar genericamente esse recurso.


2. Para a glosa aqui apresentada foram usados nomes de sinais e uma anotação
subscrita para informar a pagina que podem ser encontrados os verbetes no dicio-
nário enciclopédico ilustrado trilíngue da lingua de sinais brasileira – Libras, de
Mesclagem de voz e tipos de discursos..                                    305




Capovilla & Raphael, segunda edição(2001), pois nele tem a forma da execução
do sinal.




                                Bibliografia


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RA, Leslie Piccoloto (org.) Voz: Vários Enfoques em Fonoaudiologia. São Paulo:
Summus, 1988.


BONALUMI, Emiliana Fernandes; CAMARGO, Diva Cardoso De ;. Uma Aná-
lise De Similaridades E Diferenças Na Tradução De Elementos Coesivos Rela-
cionados A Marcadores De Reformulação Apresentadas Nas Obras Family Ties E
Soulstorm De Clarice Lispector


CHIAVEGATTO, V. C. Mesclagem de vozes e o processo de interpretação. In:
V Congresso de Ciências Humanas Letras e Artes das Universidades Mineiras,
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FENEIS - Federação Nacional de Educação e integração de Surdos. A impor-
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Senado Federal. 1988.


POLITO, Reinaldo. Faça de sua voz uma aliada poderosa. Acesso disponível em
http://www.reinaldopolito.com.br/artigos/vencer/vencer.asp?txt=54
306                                                  Neiva de Aquino Albres




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Mesclagem de voz e interpretação de Libras

  • 1. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 291 MESCLAGEM DE VOZ E TIPOS DE DISCURSOS NO PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS PARA O PORTUGUÊS ORAL Neiva de Aquino Albres Universidade de São Paulo neivaaquino@yahoo.com.br Resumo: Pretende-se descrever o fenômeno da linguagem no momento da interpretação simultânea – captar o caráter singular da significação do ver a enunciação, do processamento da mesma, e da produção para língua alvo com as equivalências na mesclagem da voz e dos discursos que estão sendo proferidos na língua fonte. O foco privilegiado nessa investigação é a escolha da modulação da voz feita pelo intérprete de Língua de Sinais para Língua portuguesa na modalidade oral. Envolve análise do corpus de fala de uma surda universitária que participou de mesa redonda intitulada “A Universidade e o Surdo: um encontro inevitável” envolvida por um discurso militante que reivindicava a presença do intérprete de Língua de Sinais e adaptações educacionais na Universidade. Palavras-chave: mesclagem de voz, tipos discursivos, interpretação da libras. Abstract: This article describes the phenomenon of language in the act of simultaneous interpretation – to capture the unique character of the signi- fication of seeing the enunciation, of processing it, and of the production into the target language with the equivalences between tone of voice and the utterances made in the source language. The focus of this investigation is the preference of voice modulation made by sign language interpre- ters for the oral Portuguese language. It analyzes the speech corpus of a deaf university student who took part in a roundtable discussion entitled “The University and the Deaf: an inevitable encounter” with a speech by a campaigner demanding the presence of sign language interpreters and educational changes at University. Keywords: tone of voice, discourse typology, libras interpretation.
  • 2. 292 Neiva de Aquino Albres Introdução Ao longo de décadas, a interpretação simultânea vem ajudando pessoas e empresas a superarem barreiras lingüísticas. No caso da Língua de Sinais sua evidência vem aumentando ainda mais devi- do ao movimento de inclusão social. A interpretação simultânea é mais adequada para encontros e eventos com público bilíngüe, quando se quer uma comunicação fluída. Para interpretação de língua oral para língua oral enquanto o conferencista apresenta o discurso na sua língua, o intérprete em cabinas insonorizadas, geralmente localizadas ao fundo do espa- ço, interpreta dois a três segundos atrás da seqüência do discurso da língua fonte, não estando fisicamente presente entre emissor e receptor, pois a usa-se auscultadores como equipamento eficiente nesses eventos. Já na interpretação de uma língua de modalidade gestual-visual para oral, geralmente quando o conferencista é surdo, o intérprete senta-se na primeira fileira e toma o microfone para que sua voz seja captada em todo ambiente. (FENEIS, 1988) Uma das críticas feitas aos intérpretes orais de Congressos é que os participantes do evento são levados a um processo de sonolência com as vozes monótonas dos intérpretes simultâneos. Considera- mos que a voz é o espelho das emoções, pois nela transparece o estado de espírito, a credibilidade da enunciação, e a função que seu discurso quer afetar. Há muitas discussões sobre o Intérprete de Língua de Sinais e a necessidade do uso de expressividade facial e corporal, intensidade de articulação dos movimentos conforme a enunciação do falante do português, mas pouco se estuda sobre tipos de discursos e mes- clagem de voz na interpretação oral. O pequeno estudo nessa área é conseqüência, também, do fato de surdos terem uma participação consideravelmente maior como receptores de mensagens do que como emissores, principalmente quando se trata de espaço acadêmico em que há necessidade da
  • 3. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 293 interpretação entre Libras e Língua portuguesa. Ou seja, os surdos mais vêem do que tem espaço para se expressar, sendo mais fre- qüente o intérprete de Língua de Sinais atuar na interpretação da língua oral para Língua de Sinais. Considerações preliminares para interpretação da Língua de Sinais para língua portuguesa oral A invisibilidade da interpretação oral Nesse tipo de interpretação o profissional não fica entre o emis- sor e o receptor, o destaque vai para o sinalizador e não para o intérprete. Assim, sua voz deve passar a credibilidade e segurança para os ouvintes.
  • 4. 294 Neiva de Aquino Albres A entonação O profissional precisa ter uma boa voz, não essencialmente grave. Isto porque o microfone amplia e define eventuais falhas na voz. Seria interessante o intérprete ter um treinamento para desenvol- ver vozes de crianças, idosos, medo, agressiva, entre outras. Isso não quer dizer que se formos interpretar uma criança teríamos que ficar imitando a fala infantilizada. Mas, em casos de uma narrativa, fabula que se constroem diferentes personagens é interessante que o intérprete oral o faça pela voz, podendo o interlocutor distinguir mais facilmente a fala de cada personagem, como o sinalizador o fará pelo referente local ou usando o espaço mental subrogado, pela expressão corporal e facial. A mesclagem de voz consiste da variação emocional (alegria, tris- teza, euforia,) e variação da entonação da impostação vocal (projeção, relação grave agudo, ressonância). (BERNHARD, 1988) O intérprete necessita de subsídios vocais para desempenhar seu papel. Altura da Voz A altura da voz corresponde ao volume da emissão, ou seja, o grau de energia que é empregado; a força da voz. O intérprete deve conhecer seu próprio potencial vocal. É importante conhecer previamente o local onde desenvolverá a interpretação, fazer uma avaliação do espaço, verificar a acústica da sala, as barreiras de propagação do som (carpetes forrando as paredes, muitas janelas e vidros) e seus mascaradores (ar-condicio- nado barulhentos, portas e janelas abertas com pessoas conversan- do nos corredores). É importante saber se terá o microfone como recurso, se não houver então deve se atentar à distância dos últi- mos ouvintes. Após essa avaliação poderá ou não utilizar a técnica respiratória de apoio a produção das altas intensidades vocais e a coordenação fono/respiratória. Quando tiver como recurso o microfone deve procurar posicio- ná-lo um pouco abaixo da boca, mais ou menos na altura do quei-
  • 5. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 295 xo, entre e 5 e 10 centímetros da boca, pois se assim não o fizer será desagradável ouvi-lo com uma voz abafada. A articulação O intérprete deve expressar-se com clareza e propriedade em por- tuguês, levando em conta os aspectos culturais e lingüísticos e respei- tando o registro usado no discurso original, mas uma boa articulação e pronuncia são essenciais. Assim, dicção significa a clareza, beleza, sensibilidade e inteligibilidade de comunicação da língua. Uma voz bem postada, sonora, com timbre melodioso não é o único pré-requisito, pois deve estar associada a forma como se fala. A velocidade da fala Não há uma velocidade-padrão para falar. As pessoas falam mais rápido ou mais devagar a depender da sua capacidade de res- piração, da sua emoção, da maneira como pronunciam as palavras, do que estão sentindo no momento, ou de como pretendem afetar o outro com quem fala. Mas, o intérprete deve acompanhar o ritmo do conferencista que faz uso da língua de sinais (emissor), a depen- der da característica deste pode utilizar alguns recursos que serão importantes para melhorar a qualidade da sua comunicação. Emissor que fala rápido: então o intérprete pode acompa- nhar a velocidade, mas deve aprimorar a dicção. Pode fazer uma leve pausa no final do pensamento. Assim, os recepto- res terão mais facilidade para compreender. Emissor que fala devagar: parece que com a fala mais de- vagar o intérprete teria mais facilidade para processar os si- nais e procurar seus equivalentes em língua portuguesa, mas deve cuidar da inflexão de voz correta para a pausa. Pois na fala devagar podem cometer o erro de usar a inflexão de voz de encerramento quando ainda estão no meio da frase, ou de
  • 6. 296 Neiva de Aquino Albres continuidade quando estão encerrando. Isso atrapalha a com- preensão dos ouvintes e os desestimula a continuar prestando atenção. É importante eliminar os ruídos desagradáveis de ããã, ééé nas pausas, apenas fique em silêncio se o emissor assim o fizer, ou se ele parar como se estivesse refletindo sobre o assunto. Polito nos lembra que: O segredo da comunicação eficiente, entretanto, não está na velocidade da fala ou no volume da voz isoladamente. A comunicação expressiva, envolvente, está na alternância desses dois aspectos. Em determinados momentos devemos falar mais alto, em outros mais baixo, até sussurrando, como se convidássemos os ouvintes a prestar atenção re- dobrada; em alguns instantes devemos falar mais rápido, em outros mais lentamente. Assim, com esse ritmo vamos envolvendo e motivando as pessoas a acompanhar a mensa- gem que transmitimos. (POLITO, 2005) Consideramos que o intérprete pode usar esses recursos e al- ternâncias de velocidade, a depender da sinalização do emissor quando for conveniente, portanto deve estar atento a sutileza ou agilidade no processo de sinalização. Conhecimento na temática do discurso e escolhas lexicais A interpretação em Eventos exige um profissional com maior preparo, pois é mais complexo o trabalho junto ao microfone, nes- ses espaços se fala mais termos específicos à área científica, quan- do nesse processo falta o termo1 parece travar a continuidade da interpretação. Bonalume e Camargo (2004) consideram que o uso de marcado- res de reformulação pode ser visto como uma estratégia de fluência para alguns teóricos, pois proporciona um tempo para tomada de
  • 7. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 297 decisão, consciente ou inconscientemente, para tornar os textos de chegada mais acessíveis aos interlocutores. Seria interessante nesse momento o trabalho em conjunto. Des- sa forma outro intérprete ao lado pode sussurrar palavras para ala- vancar à continuidade da interpretação. As expressões variam segundo a época ou os grupos sociais. Assim, ao se interpretar um determinado surdo, deve ser mantida uma correspondência ética com o discurso e não fazendo uma adap- tação das idéias dele, deve-se buscar expressões de jovens, mas não repletos de gírias, quando se está em ambiente acadêmico. Trabalho em equipe O trabalho em equipe na interpretação da língua de sinais para língua oral é diferente da língua oral para língua de sinais, tanto no espaço que o intérprete ocupa como na atuação do apoio. Pois, neste o intérprete de apoio deve estar sentado ao lado do intérprete da vez, o intérprete apoio deve estar atento acompanhando a sinalização do con- ferencista e a interpretação do colega para quando o intérprete da vez necessitar, o apoio esteja interado do contexto do discurso. Os dois de- vem combinar um leve toque na perna quando precisar de ajuda, e se o apoio perceber que o intérprete da vez se perdeu lhe de um toque se ele balançar a cabeça positivamente o colega pode sussurrar a ajuda. Nunca o intérprete de apoio deve falar alto de forma a competir com a voz do intérprete da vez, o apoio não deve interpretar várias frases junto com o intérprete da vez, ou para que este fique copian- do, deve procurar usar palavras chaves para que intérprete da vez reencontre o caminho do discurso e de continuidade sozinho. É interessante fazer a troca a cada vinte minutos, com um outro toque previamente combinado. Capturar o perfil do Sinalizador Os estilos de comunicação variam conforme o estilo da pessoa, suas condições culturais, sociais e de personalidade.
  • 8. 298 Neiva de Aquino Albres Dessa forma, a idéia que aqui se defende é a de que, em- bora a tradução seja uma nova situação de comunicação, por opção do tradutor, ela pode – e deve – confluir no dito e no modo de dizer, criando uma similaridade apar- ente entre o texto da LP e o da LC. Cabe ao tradutor, na perspectiva proposta, recuperar a enunciação através de re- cursos de captação e de imitação do texto-base. Para tanto, é necessário que sejam identificados valores ideológicos, ethos, figuras, vozes e tom que compõem o texto-base e que esses elementos sejam reproduzidos e imitados. Se isto não acontecer, corre-se o risco da ocorrência de erros, ou pelo menos de um reducionismo, uma superficialidade que leva à perda do tom do texto-base, descaracterizando a tradução. (JORGE, 2004, p. 3) Nesse caso o intérprete tem certa autonomia para captação e imitação do texto-base, sempre levando em consideração as características culturais e lingüísticas inerentes ao emissor. Tipos de discursos O enunciador pode expressar-se de diversas formas, Quadros (2004) considera que o intérprete deve estar atento aos tipos de discursos e preparado para utilizar elementos pertinentes a cada discurso. Apresenta seis tipos de discursos: narrativo, persuasivo, explicativo, argumentativo, conversacional e procedural. Beneditti (2004, p. 19) ao discutir sobre a visão empirista da tradução, apresenta que é comum a concepção inadequada de que se deve “valorizar em excesso ou com exclusividade o aspecto termino- lógico de um texto, sem atentar para seu aspecto discursivo”. Assim, o intérprete deve estar atento ao objetivo do emissor em Libras. Se o mesmo estiver centralizado no emissor, revelan- do sua opinião, sua emoção então deve prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações. Mas, se a mensagem estiver centralizada no referente, apresentando informações da realidade,
  • 9. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 299 sendo objetivo, direto, usando uma linguagem denotativa, então deve prevalecer o uso da 3ª pessoa do singular. Outras habilidades Há outras habilidades necessárias para a atuação como intér- pretes de língua de sinais para língua portuguesa, entre elas, têm a memória de curta duração, concentração, rapidez em encontrar soluções imediatas Análise dos dados Nos dia 29 e 30 de novembro de 2004 foi realizado o I Encontro do Curso de Libras em Contexto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. A mesa redonda intitulada “A Universi- dade e o Surdo: um encontro inevitável” teve a fala de professo- res da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS e da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB enquanto professores e coordenadores de curso e departamento, pesquisadores da área; como também de uma acadêmica surda do curso de Pedagogia para falar de suas experiências enquanto aluna de uma Universidade particular da cidade de Campo Grande - MS. Os componentes da mesa, professores (interpretação da língua portuguesa na modalidade oral para Libras) utilizaram um discurso informativo e, principalmente, técnico-científico. O que cria um efeito de objetividade, pois com certo distanciamento relatavam o processo de inserção o surdo na universidade apresentando poucos exemplos das dificuldades desse processo. Mas reconhecendo a ne- cessidade da universidade se preparar para desenvolver as adapta- ções adequadas para atender as necessidades educacionais especiais desses acadêmicos. Já a acadêmica surda (interpretação da Libras para língua por- tuguesa na modalidade oral), em sua fala apresenta uma linguagem
  • 10. 300 Neiva de Aquino Albres menos técnico-científica, seguindo uma narrativa de fatos que mar- caram seu percurso na universidade. O trabalho não foi desenvolvido em equipe, pois o tempo de fala dos componentes da mesa era de vinte minutos, e nesse momento o outro intérprete do evento estava desenvolvendo outra função, na realidade tínhamos um escasso número de intérpretes para desen- volver tal trabalho; segue a analise da interpretação língua de sinais para Língua oral: Não transcreveremos todo discurso, pois esse demandaria muito espaço. Assim, apresentamos os pontos importantes encontrados com pequenas análises. a) tipos de discursos Na construção do discurso da acadêmica surda observamos um predomínio da função referencial sempre na voz ativa, com uso do discurso narrativo, pelo relato dos fatos dos vestibulares que parti- cipou e discurso argumentativo, quando apresenta as necessidades acadêmicas dos surdos. Assim, o intérprete utilizou o pronome pessoal singular de primeira pessoa, geralmente funcionando como sujeito das orações. Uso do discurso narrativo: o tempo verbal predominante é no passado. Na reconstrução dos fatos a surda utilizou referentes locais para seus interlocutores naquele momento, como na dis- cussão com o fiscal do vestibular. O intérprete percebeu a partir da concordância dos verbos, ou seja, de sua direção, quem disse o que a quem nessa discussão. Quadros (1997, p. 64) firma que “a direção do movimento do verbo define as relações gramati- cais da sentença. No início da fala da acadêmica foi predominante o uso de dis- curso narrativo. Exemplo de interpretação:
  • 11. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 301 LIBRAS CHEGAR398 LEGAL(2)804 AVISAR-ME252 CONTRA- TO458 INTÉRPRETAR7642 Português Ao chegar à sala de aula foi muito legal receber a notí- oral cia de que a intérprete foi contratada. comentário O contexto anterior nos serviu como dado de que o emissor estava no espaço da faculdade e dirigindo-se à sala de aula. Percebemos também a necessidade de adaptações quanto ao teor das afirmações, pois poderiam ser interpretadas como acusações, já que a universidade por muito tempo errou no processo do vesti- bular como também no atendimento em todo percurso acadêmico de surdos. A língua de Sinais é muito direta. Barbosa (2003) con- sidera que ao intérprete cabe desenvolver essas adaptações, revela que “se, por exemplo, encontro, no original, alguma maneira de dizer que seria indelicada na língua de chegada, tomo todos os cuidados para fazer as necessárias alterações para que a tradução tenha o tom certo”. (BARBOSA, 2003, p. 58) Na continuidade de sua fala, a acadêmica assumiu o discurso ar- gumentativo na tentativa de provar a importância das universidades contratarem os intérpretes de Língua de Sinais e de desenvolverem um trabalho de conscientização prévia do corpo docente sobre as peculia- ridades lingüísticas dos surdos e as adaptações necessárias para sua in- clusão. No final desse discurso o intérprete assume uma voz enfática, já que a emissora passa a se pronunciar com sinais mais “tensos”. A língua é o reflexo “das relações sociais estáveis dos falantes” (Bakhtin 1988, p. 147). Essa afirmação nos leva a refletir que por meio da língua, no uso da entonação revelamos elementos impor- tantes para a construção de sentido. A prosódia está no âmbito da sentença e revela, entre outras questões, o que enfatizamos para nosso interlocutor. A acadêmica vivenciou quatro anos de dificuldades, apesar da universidade, em questão, contratar o intérprete quando cursava o
  • 12. 302 Neiva de Aquino Albres segundo semestre, considera que apenas esse recurso não corres- ponde à inclusão. Seu objetivo era também alertar para as outras necessidades. b) mesclagem de voz Quando a emissora (acadêmica surda) passa a narrar, a contar os fatos que ocorreram com ela e outros personagens, em local e tempo definidos; por muitas vezes assume o discurso direto. No caso da língua oral, os diferentes personagens são facilmente iden- tificados com a mudança na entonação da voz. Nesse caso foi usado o narrador de 1ª pessoa, que participa da ação, ou seja, que se inclui na narrativa e estava definido como personagem principal. Dentre o corpus de interpretação feita, es- crevemos aqui uma parte da enunciação do intérprete: Quando eu fui pra prova de vestibular, entrei na sala que estava na minha inscrição e me identifiquei como surda, logo a pessoa fez gestos e falou ao mesmo tempo: ___Aqui não, outra sala. Foi o que entendi daquele fiscal. (interpre- tação oral) Vejam que nessa pequena parte do texto, entra um segundo per- sonagem, o fiscal. E esse é apresentado na história em Libras com discurso direto, pois a surda “incorpora” a pessoa do fiscal fazendo até os trejeitos de quem não sabe LIBRAS e tenta se comunicar falando e fazendo sinais. Trata-se do narrador-personagem, que faz uso intensivo da dêixis. Esse é um assunto de muito interesse para a lingüística das línguas de sinais, mas pouco descrito. Viotti (2006 afirma que: Na criação de discursos, os surdos fazem a sobreposição de várias situações de fala, especialmente com a criação da- quilo que tem sido chamado de “espaço sub-rogado”. Esse
  • 13. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 303 espaço é aquele em que o surdo incorpora o personagem de uma história que ele está contando. Quando ele sinaliza o pronome de 1ª pessoa nesse espaço, ele não está se referin- do a si mesmo, que é quem está contando a história, mas ao personagem que ele está representando. (VIOTTI, 2006) Para que o intérprete de Libras perceba, processe e transforme essa informação de fala de diferentes personagens compreensível na língua alvo, ou seja, no português oral; é importante que faça uso da mesclagem de voz mesmo que use 1ª pessoa para todos os personagens. Esse processo envolve a percepção visual do uso do espaço de sinalização e o mapeamento dos referentes dos pronomes nesse espaço que estão sendo apresentados pelo emissor em Libras. Na língua de modalidade gestual-visual se distingue essas vozes com a percepção da produção simultânea de sinais e movimento-postura do corpo construindo o espaço sub-rogado. (VIOTTI e MCCLE- ARY, 2006) A opção de assumir o discurso direto, desenvolvendo uma pe- quena mudança de voz para cada personagem e ainda a utilização de marcadores para apresentação de novo emissor, como: “ele me disse”, fui informada que”, “o fiscal falou” são estratégias interes- santes para que essa informação não se perca para a língua que se esta traduzindo, ou seja, na língua portuguesa oral. Considerações finais A tradução analisada envolveu a situação de um evento acadê- mico, com mesa redonda. A fala da academica surda apresentou o momento histórico, em que era inevitável a presença do surdo na universidade, e essa presença carregata direitos aos mesmos e deveres à instituição.
  • 14. 304 Neiva de Aquino Albres Interessa destacar que, dessa foram, as palavras dos componen- tes da mesa que se referem a um mesmo tema não se encontraram dispostos de uma mesma forma e mesma tonalidade de voz. A interpretação, assim não se trata de mera reprodução das ídeias do emissor, mas é necessário entender essa expressão orien- tada para um fim, no caso analisado, afetar o público com certo grau de indignação e apelo para que mude dessa história, narrando fatos sofridos pelos surdos, dessa forma foi construído pela autora. (acadêmica surda) Consideramos que diante dos pontos aqui levantados o intérpre- te de Língua de Sinais esteve atento ao tipo de discurso (narrativo e argumentativo) e mesclagem de voz, esses dois pontos dão vida a expressão. Este trabalho leva à conclusão que a interpretação da Libras para língua oral é muito complexa e pouco estudada. O ato de interpretar é uma tarefa mais complexa do que se presume e exi- ge dos envolvidos, não somente a prática de interpretação, mas profundo conhecimento teórico sobre a área. É indispensável que programas de pós-graduação contemplem essa discussão, relacio- nando-a especialmente à interpretação em língua de sinais, visando a qualificação do intérprete. Notas 1. Este momento do ato interpretativo implica em um outro aspecto, a escolha lexical, determinada por parâmetros semântico-culturais, que serão objeto de um outro trabalho. Aqui vamos observar genericamente esse recurso. 2. Para a glosa aqui apresentada foram usados nomes de sinais e uma anotação subscrita para informar a pagina que podem ser encontrados os verbetes no dicio- nário enciclopédico ilustrado trilíngue da lingua de sinais brasileira – Libras, de
  • 15. Mesclagem de voz e tipos de discursos.. 305 Capovilla & Raphael, segunda edição(2001), pois nele tem a forma da execução do sinal. Bibliografia BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Editora Hucitec, 1988. BARBOSA, Heloisa Gonçalves. In: BENEDITTI, Ivone C; SOBRAL, Adail (orgs.) Conversas com tradutores: balanços e perspectivas da tradução. São Paulo Parábola Ediorial, 2003. – (Série Conversas com; 2) BERNHARD, Cristina Caribe Lima. A fonoaudiologia no teatro. In: FERREI- RA, Leslie Piccoloto (org.) Voz: Vários Enfoques em Fonoaudiologia. São Paulo: Summus, 1988. BONALUMI, Emiliana Fernandes; CAMARGO, Diva Cardoso De ;. Uma Aná- lise De Similaridades E Diferenças Na Tradução De Elementos Coesivos Rela- cionados A Marcadores De Reformulação Apresentadas Nas Obras Family Ties E Soulstorm De Clarice Lispector CHIAVEGATTO, V. C. Mesclagem de vozes e o processo de interpretação. In: V Congresso de Ciências Humanas Letras e Artes das Universidades Mineiras, 2001, Ouro Preto, 2001. FENEIS - Federação Nacional de Educação e integração de Surdos. A impor- tância dos intérpretes da linguagem de sinais. Rio de Janeiro: Centro gráfico do Senado Federal. 1988. POLITO, Reinaldo. Faça de sua voz uma aliada poderosa. Acesso disponível em http://www.reinaldopolito.com.br/artigos/vencer/vencer.asp?txt=54
  • 16. 306 Neiva de Aquino Albres QUADROS, Ronice Muller. O Intérprete e os discursos à interpretar.In: QUA- DROS, Ronice Müller de. O Tradutor e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEESP, 2001. QUINTEIRO, Eudosia Acunã. Atores & fonos – um ponto de encontro. In: FER- REIRA, Leslie Piccoloto (org.) Voz: Vários Enfoques em Fonoaudiologia. São Paulo: Summus, 1988. VIOTTI, Evani de Carvalho. Estudos Lingüísticos. Curso Letras Libras, UFSC, 2006. VIOTTI, Evani; MCCLEARY, Leland Emerson. Conceptual integracion and nar- rative voices in brazilian sign language. In: Congresso Internacional de Aspec- tos Teóricos das Pesquisas nas Línguas de Sinais. Florianópolis: Lagoa Editora, 2006.