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Universidade Federal de Lavras – UFLA
Centro de Educação a Distância – CEAD
GÊNEROS TEXTUAIS E
DISCURSIVOS
Guia de Estudos
Helena Maria Ferreira
Mauricéia Silva de Paula Vieira
Lavras/MG
2013
Gêneros textuais e discursivos
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos
da Biblioteca da UFLA
Ferreira, Helena Maria.
Gêneros textuais e discursivos : guia de estudos / Helena
Maria Ferreira, Mauricéia Silva de Paula Vieira. – Lavras :
UFLA, 2013.
115 p. : il.
Uma publicação do Centro de Educação a Distância da
Universidade Federal de Lavras.
1. Formação de professores. 2. Gêneros textuais. 3. Gêneros
discursivos. I. Vieira, Mauricéia Silva de Paula. II.
Universidade Federal de Lavras. III. Título.
CDD –
372.6
2
Gêneros textuais e discursivos
Governo Federal
Presidente da República: Dilma Viana Rousseff
Ministro da Educação: Aloizio Mercadante
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES)
Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Reitor: José Roberto Soares Scolforo
Vice-Reitora: Édila Vilela Resende von Pinho
Pró-Reitora de Graduação: Soraya Alvarenga Botelho
Centro de Educação a Distância
Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins
Coordenadora Pedagógica: Elaine das Graças Frade
Coordenador de Projetos: Cleber Carvalho de Castro
Coordenadora de Apoio Técnico: Fernanda Barbosa Ferrari
Coordenador de Tecnologia da Informação: Raphael Winckler de Bettio
Departamento de Ciências Humanas
Letras Português (modalidade à distância)
Coordenadora do Curso: Mauricéia Silva de Paula Vieira
Coordenadora de Tutoria: Débora Cristina de Carvalho
Revisor Textual: Marco Antônio Villarta-Neder
3
Gêneros textuais e discursivos
Sumário
UNIDADE 1........................................................................................................5
TEXTO, CONTEXTO E DISCURSO................................................................5
1.1 Texto e Discurso.......................................................................................6
1.2 Texto......................................................................................................16
1.3 Texto e Contexto.....................................................................................19
UNIDADE 2......................................................................................................28
GÊNEROS DISCURSIVOS E GÊNEROS TEXTUAIS: SISTEMATIZANDO
E APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS.............................................28
2.1 Os gêneros na Antiguidade Clássica......................................................29
2.2 Gêneros discursivos e gêneros textuais:.................................................31
2.3 Gêneros discursivos................................................................................32
2.3.1 Bakhtin e os estudos sobre os gêneros discursivos.........................32
2.3.3 A teoria dos gêneros em Marcuschi ...............................................47
2.3.4 A teoria dos gêneros em Bazerman.................................................51
UNIDADE 3......................................................................................................54
TIPOS TEXTUAIS E SUPORTES TEXTUAIS...............................................54
3.2 Analisando os tipos textuais....................................................................65
3.3 Os suportes textuais................................................................................82
UNIDADE 4 ....................................................................................................86
GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS NA ESCOLA: MEDIAÇÕES
PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM...............................86
4.1 A utilização das sequências didáticas para o estudo dos gêneros textuais
em sala de aula..............................................................................................97
4.3 Construindo a sequência didática........................................................100
REFERÊNCIAS..............................................................................................113
4
Gêneros textuais e discursivos
UNIDADE 1
TEXTO, CONTEXTO E DISCURSO
5
Gêneros textuais e discursivos
1.1 Texto e Discurso
Ao interagirem por meio da língua, os sujeitos sociais
produzem discursos, ou seja, praticam ações verbais dotadas de
intencionalidade. Os discursos produzidos se manifestam por meio de
textos. Mas...
Nesta unidade, trataremos da noção de texto, contexto e
discurso a fim de compreendermos o tema central de nosso estudo: a
questão dos gêneros textuais e discursivos. Primeiro, vamos refletir
sobre algumas questões:
• Para quê produzimos textos?
• Como os textos circulam socialmente?
• Uma palavra pode ser considerada um texto?
A primeira pergunta pode ser respondida da seguinte forma:
produzimos textos para interagir com alguém. Nós, seres humanos,
nos diferenciamos de outras espécies por nossa capacidade de
linguagem. “Na” e “pela” linguagem nos constituímos e nos
construímos como sujeitos sociais. A faculdade de linguagem pode ser
entendida como uma característica própria e diferenciadora da espécie
humana. Ao utilizarmos a linguagem, estamos utilizando um conjunto
de recursos que nos permitem expressar sentimentos, opiniões,
crenças, desejos, etc. Podemos nos valer de gestos, de cores, de
expressão facial; podemos empregar a linguagem matemática, a
dança, a música, e etc. Podemos, também, nos valer de uma outra
dimensão da linguagem: a verbal, isto é, a linguagem que se estrutura
e se organiza através da palavra, seja falada, seja escrita. Essa
dimensão da linguagem é compreendida como língua. Assim, quando
contamos uma piada a um amigo, ou quando deixamos um bilhete
6
Gêneros textuais e discursivos
escrito para avisar, por exemplo, que iremos nos atrasar para chegar
em casa, usamos a língua/ linguagem com uma intenção comunicativa:
produzir humor, no caso da piada, e avisar sobre o atraso,
considerando-se o bilhete.
Quando utilizamos a linguagem nós produzimos discursos.
Segundo Maingueneau (2001), o termo discurso possui diversos
sentidos. Podemos dizer “o presidente fez um discurso”, “tudo isso é só
discurso”, o discurso islâmico”, “ o discurso dos jovens”, etc. Trata-se,
segundo Maingueneau, de empregos usuais, comuns. Assim, o termo
discurso pode se referir a um enunciado solene (“o presidente fez um
discurso sobre o bolsa família”), a uma fala inconsequente (“o Brasil
erradicou a pobreza”) e o conjunto de textos produzidos em um dado
sistema (“discurso comunista”).
Nas ciências da linguagem, o termo discurso surgiu aliado a
uma concepção de linguagem como atividade interativa. Nessa
concepção, há um conjunto de fatores que nos orientam na
compreensão dos dizeres, dos textos, enfim, dos usos que fazemos da
língua. Trata-se de uma série de fatores reunidos sob o rótulo da
pragmática. Quando falamos em pragmática, estamos nos referindo a
um conjunto de fatores que consideram não só a materialidade
linguística, mas também uma dimensão mais ampla da língua (os
interlocutores, os objetivos, o contexto sócio histórico cultural, etc).
Para fazer referência às produções verbais, orais ou escritas,
não dispomos apenas do termo discurso: utilizamos também os termos
enunciado, frase e texto. O enunciado é compreendido como uma
unidade básica da comunicação verbal, uma sequência dotada de
sentido e sintaticamente completa, considerando-se, ainda, o contexto
em que foi produzido. Essa noção de enunciado opõe-se à noção de
frase, em que uma sequência linguística é analisada fora de contexto.
Vejamos:
7
Gêneros textuais e discursivos
Figura 1: Vagas de emprego
Fonte: http://presencaonline.com/wp-content/uploads/2012/07/h%C3%A1-vagas.png
Figura 2: Disponibilidade para namoro
Fonte: http://www.vibeflog.com/carlagomes2009/p/25684287
Figura 3: Vagas para deficientes
Fonte: http://adjcomunicacao.files.wordpress.com/2010/06/arte-ha-vagas.jpg?
w=250&h=181
8
Gêneros textuais e discursivos
A expressão “Há vaga(s)” pode ser considerada como uma
frase se a considerarmos fora de uma situação comunicativa, de um
contexto comunicacional. Mas, se inscrita na recepção de uma
empresa, ou se nos referimos a uma condição de pessoa que está sem
namorado(a), ou se essa inscrição aparece acompanhada de um
símbolo de um cadeirante, consideramos que temos três enunciados
distintos, uma vez que considerados os aspectos linguísticos e também
a situação de comunicação. Essa acepção de enunciado possui um
sentido equivalente ao de texto. Quando empregamos o termo texto,
estamos nos referindo a produções verbais orais ou escritas,
produzidas como um todo, como uma totalidade coerente.
Consideramos que há interlocutores que procuram interagir em um
determinado contexto, com uma intenção comunicativa. Voltaremos a
essa questão.
Para compreendermos a relação entre texto e discurso, vamos
analisar o texto a seguir:
O CAPITALISMO MAIS REACIONÁRIO
Tragédia em um ato
Personagens - o patrão e o empregado
Época - atual
ATO ÚNICO
Empregado - Patrão, eu queria lhe falar seriamente. Há
quarenta anos que trabalho na empresa e até hoje só cometi
um erro.
Patrão - Está bem, meu filho, está bem. Mas de agora em
diante tome mais cuidado.
(Pano bem rápido)
9
Gêneros textuais e discursivos
O texto “O capitalismo mais reacionário”, de Millôr Fernandes,
trata da questão das relações de trabalho entre empregado e patrão. O
título Tragédia em um ato, já nos deixa antever o final da história. A
fala do patrão, embora se refira ao empregado como “meu filho”, traz a
presença de uma voz social, presente em uma ideologia capitalista,
cujo sentido é o de que o empregado não pode errar e de que precisa
tomar mais cuidado. Embora, explicitamente, não haja uma ameaça de
demissão, tal ameaça pode ser inferida se considerarmos não só a
palavra “tragédia” presente no título, mas também o nosso
conhecimento sobre os pilares do capitalismo, sistema que busca o
lucro acima de tudo.
Há, no texto, um discurso capitalista e as posições sociais são
bem definidas: o patrão e o empregado. O termo discurso, nesse
sentido, refere-se
ao uso da língua em um contexto específico, ou seja, à
relação entre os usos da língua e os fatores extralinguísticos
presentes no momento em que esse uso ocorre. Por isso, o
discurso é o espaço da materialização das formações
ideológicas, sendo por elas determinado. Nesse sentido,
pode ser visto como uma abstração, porque corresponde à
“voz” de um grupo social. (ABAURRE; ABAURRE, 2007, p.
10).
Assim, há o discurso capitalista, o discurso ambiental, o
discurso feminista, o discurso nacionalista, etc. Tais discursos se
sustentam em sistemas sociais de representações, de normas, de
regras, de preceitos e de valores que procuram explicitar a realidade e
regular comportamentos. Esses sistemas sociais são como filtros que
organizam uma cultura e mesmo que não percebamos a existência
desses filtros, eles estão sempre presentes e é por esses filtros que
avaliamos a realidade em que estamos inseridos. Tais sistemas sociais
são as formações ideológicas, um conjunto de valores e de crenças
que permeia a sociedade em dado momento sócio histórico.
Vejamos o texto publicitário, a seguir, para compreendermos
10
Gêneros textuais e discursivos
melhor essa questão:
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/reclames-do-estadao/2010/08/11/sua-mulher-vai-
bater-o-fusca/
A propaganda anterior foi veiculada para um determinado
público- alvo e argumenta que uma das razões para que o homem
adquira um Volkswagen é o fato de que um dia, “mais cedo ou mais
tarde sua esposa vai dirigir”. O texto é construído a partir das
vantagens e das facilidades para se trocar peças do Volkswagen. Há
um discurso presente: o fato de que mulher não sabe dirigir e que
pode bater o carro, amassar o capô, soltar o para-choque. etc. Tal
discurso perdurou durante muito tempo e ainda faz parte da crença de
alguns que saem com piadinhas como: “mulher no volante, perigo
constante” ou “mulher não precisa tirar carteira para ser piloto de
11
Gêneros textuais e discursivos
fogão”. Claro que se considerarmos o momento atual, veremos que
muitas seguradoras de automóveis têm preços mais atraentes para as
mulheres uma vez que há dados que comprovam o menor
envolvimento do sexo feminino em acidentes com carros. Mas, a
piadinha não deixa de estar alicerçada em uma crença, ou em uma
ideologia sobre a mulher. Trata-se, portanto de uma formação
ideológica.
As diferentes visões de mundo/formação ideológica sobre
determinado referente (mulher, homem, empregado, patrão) se
materializam nos textos através da linguagem. A cada formação
ideológica corresponde uma formação discursiva. Uma formação
discursiva pode ser compreendida como
um conjunto de temas (categorias ordenadoras do mundo
natural: alegria, medo, vergonha, solidariedade, honra,
liberdade, opressão, etc.) e de termos (elementos que
estabelecem uma relação com o mundo natural: mesa,
carro, árvore, mulher, etc.) que concretizam uma visão de
mundo específica. (ABAURRE; ABAURRE, 2007, p.07)
Em outros termos: as formações discursivas são formações
componentes das formações ideológicas. Cada visão de mundo está
ligada a um contexto mais amplo, que envolve discussões sociais,
políticas, religiosas, etc. Desse modo, uma formação ideológica não é a
atitude de uma pessoa, mas é um conjunto de representações que
estão ligadas a determinada classe/grupo social.
Quando interagimos com alguém, interagimos por meio de
textos, ou seja, nosso discurso se materializa no texto. Produzimos
textos orais (conversa, telefonema), textos escritos (bilhete, relatório,
carta) e textos que congregam várias semioses (no e-mail podemos
empregar cores, emoticons, etc) com a finalidade de alcançar
determinado efeito de sentido. Para convencer, podemos empregar um
12
Gêneros textuais e discursivos
discurso mais autoritário ou mais sedutor. Vai depender do nosso
interlocutor, da situação comunicativa, das crenças e dos valores que
nos orientam. Enfim, há uma série de fatores que interferem nos modo
de dizer, ou de produzir um texto.
Socialmente, os textos que produzimos circulam em padrões
mais ou menos estabelecidos, em formas que foram construídas em
um processo histórico e cultural, considerando-se as tecnologias
disponíveis em cada época, as necessidades sócio-comunicativas dos
sujeitos sociais. Por exemplo: a carta e o telegrama dividem espaço
com o e-mail. Os diários e os álbuns de fotografias convivem com os
blogs e com o facebook.
Essa discussão sobre os textos será objeto de estudo na
próxima seção. Agora, iremos refletir sobre o que estudamos, a partir
das atividades propostas.
ATIVIDADES
1.Assista aos vídeos indicados a seguir e reflita: Por que grandes empresas
aderiram ao discurso ambiental e sustentável? O que está em jogo?
Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=soStcC3c_TE
Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=G2mPJdeSypM&feature=endscreen
Vídeo 3: https://www.youtube.com/watch?v=StTLavxzpac
Produza um artigo de opinião em que você discuta a adesão ao discurso ambiental e
sustentável de grandes empresas.
2. A seguir, apresentamos alguns textos (letra de música, soneto e uma propaganda)
produzidos em diferentes momentos e que foram construídos a partir de
determinadas representações sobre a mulher. Analise, em cada texto, o tema e os
temos (ou imagens) correspondentes à formação ideológica por ela representada.
Para orientá-lo (a), busque informações sobre o texto e o contexto em que foi
produzido. Finalmente, faça um texto discutindo as diferentes
13
Gêneros textuais e discursivos
representações/discursos sobre a mulher, a partir das análises efetuadas. Socialize
as suas discussões com os colegas.
Ai, que saudades da Amélia
Roberto Carlos
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Disponível em: http://letras.mus.br/roberto-carlos/87939/
A D. ÂNGELA
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara?
Quem vira uma tal flor que a não cortara
De verde pé, da rama florescente;
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus o não idolatrara?
14
Gêneros textuais e discursivos
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo que me tenta, e não me guarda.
Gregório de Matos
Fonte: http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/
Show das Poderosas
Anitta
Prepara que agora
É a hora do show das poderosas
Que descem e rebolam
Afrontam as fogosas só as que incomodam
Expulsam as invejosas
Que ficam de cara quando toca
Prepara
Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei
Quando começo a dançar eu te enlouqueço, eu sei
Meu exército é pesado e a gente tem poder
15
Gêneros textuais e discursivos
Ameaça coisa do tipo: Você
Vai! Solta o som, que é pra me ver dançando
Até você vai ficar babando
Pare o baile pra me ver dançando
Chama atenção à toa
Perde a linha, fica louca
http://letras.mus.br/mc-anitta/show-das-poderosas/
Após as atividades, vamos continuar nossa conversa. O que
vem a ser um texto? Uma palavra pode ser considerada texto? Reflita
sobre essas questões e anote a resposta em seu caderno.
1.2 Texto
Etimologicamente, a palavra texto origina-se do latim textum,
que significa tecido, entrelaçamento. Tecer um texto significa “trançar
os fios das palavras”. Definir o que é um texto, embora pareça fácil,
mostra-se uma tarefa complexa, uma vez que esta noção varia de
acordo com a corrente teórica que se adote e também com noções
como língua e linguagem. Assim, um texto já foi considerado como
“frase complexa”, como “signo complexo”, como “ato de fala complexo”,
como “produto acabado de uma concepção discursiva”, como “meio
específico de realização da comunicação verbal”, como “processo que
mobiliza operações e processos cognitivos”, como “o lugar de interação
entre atores sociais e de construção interacional de sentidos” (KOCH,
2006, p. 34).
Consideramos, embasados em Koch e Travaglia (2000), que o
texto é uma unidade linguística concreta, que é tomada pelos usuários
da língua (falante/ouvinte, escritor/leitor) em uma situação de interação,
como uma unidade de sentido completo que preenche uma função
comunicativa.
Vejamos um exemplo:
16
Gêneros textuais e discursivos
Fonte: http://cardosinho.blog.br/wp-content/uploads/2011/06/charge-duke-para-o-
tempo.jpg
A charge é um texto que circula com a finalidade de criticar,
usando como estratégia o humor. Trata-se de função social. Todo
texto, ao circular socialmente, procura cumprir uma função. Na charge
acima, o tema tratado é o desvio de verbas por parlamentares. Ao
lermos o primeiro quadrinho causa-nos estranheza o fato de o
parlamentar afirmar que nunca fez caixa 2, que nunca aceitou propina
e que nunca desviou verbas. Por que a estranheza? Ora, se o objetivo
da charge é o de criticar, o que haveria de errado em encontrarmos
políticos honestos? Que crítica estaria sendo produzida? Ao lermos o
segundo quadrinho nosso estranhamento se desfaz e achamos graça
no texto, pois a afirmação “meu único defeito é falar mentira” nos faz
reconstruir o sentido de tudo que o parlamentar afirmou no primeiro
quadrinho e percebemos que ele já aceitou propina, já fez caixa 2, e,
também que é mentiroso. Lembramo-nos dos desvios de verba, do
dinheiro na mala, na cueca, dos caixas 2, tão divulgados em nosso
país, e percebemos uma crítica a alguns parlamentares e a alguns
políticos que nos representam.
17
Gêneros textuais e discursivos
IMPORTANTE
Qualquer enunciado, de qualquer tamanho, pode ser considerado um texto. Para
tanto, precisará preencher uma função comunicativa, em uma situação específica de
interlocução.
O texto – oral ou escrito – é composto por enunciados que, articulados entre si,
podem fazer sentido numa dada situação comunicativa, considerando-se os
elementos de contextualização. Assim, na construção do sentido é preciso
considerar os fatores pragmáticos, isto é, quem produziu o texto, com qual o
objetivo, para qual leitor, em que gênero, onde e em que suporte circulará o texto
final. Tais considerações deixam à mostra duas premissas:
1- Não existe sentido pronto no texto;
2- Na produção de sentido é necessário considerar não só a materialidade
linguística (as palavras, as imagens, cores, etc.) mas também o contexto (condições
de produção) e o nosso conhecimento prévio.
Em síntese: o sentido não está dado no texto, mas é
produzido pelo leitor em cada evento de uso de uso da língua. Embora
produza o sentido, o leitor não é livre para produzir qualquer sentido.
Como seres socioculturais, nós, os integrantes de uma mesma cultura
partilhamos conhecimentos, crenças, valores. Partilhamos
conhecimentos linguísticos, textuais, pragmáticos, etc. Assim, o sentido
construído é dependente do contexto sócio histórico cultural em que
estamos inseridos.
Atualmente, é preciso considerar que a globalização e as
tecnologias da informação e comunicação têm possibilitado a produção
18
Gêneros textuais e discursivos
de textos que congregam várias linguagens ou semioses. São os
chamados textos multimodais e ou multissemióticos. A expressão
“multimodal” e ou “multissemiótico” acompanhando o termo texto
engloba, não apenas, aspectos visuais como fotografias, desenhos,
pinturas, caricaturas, mas também a própria disposição gráfica do texto
no papel ou na tela do computador. O termo refere-se, portanto, aos
textos que congregam, em sua constituição, vários recursos
semióticos: sons, escrita, imagens, cores, ícones (emoticons).
1.3 Texto e Contexto
Sempre que lemos um texto precisamos ficar atentos às
circunstâncias de produção que o envolvem. De forma mais
específica, precisamos ficar atentos ao contexto em que o texto se
insere. Mas o que vem a ser o contexto e qual sua importância?
Na leitura e na produção de sentido, é preciso que o leitor
considere uma série de fatores. Vamos imaginar que, em uma
recepção de uma clínica, encontra-se pendurada uma placa com os
seguintes dizeres:
Fonte: http://paolocazu.blogspot.com.br/2009/07/e-proibido-fumar-partir-de-6-de-
agosto.html
Qualquer falante nativo do português sabe que, nesta situação,
há claramente uma intenção, por parte dos proprietários da clínica, de
19
Gêneros textuais e discursivos
que esse texto seja lido e entendido como uma norma a ser seguida e
que a não-observância dessa regra pode provocar uma repreensão
verbal ao infrator. Agora, imaginemos que o enunciado/texto “Proibido
fumar” tenha sido escrito em uma parede de uma galeria de arte, com
um spray de cor preta. E imaginemos que, ao lado desse texto,
apareçam outras proibições como “Proibido beber”, “Proibido viver”,
etc. e, com spray colorido, estivesse a seguinte inscrição na parede “É
proibido proibir”. Os visitantes da galeria, acostumados com exposição
de arte, provavelmente, não entenderiam o texto “Proibido fumar” como
uma proibição explícita ao fumo, tal como interpretariam na situação da
clínica.
Na compreensão de um texto, os falantes mobilizam um
conjunto de conhecimentos para produzir sentido para o que leem ou
ouvem. De um modo geral, consideram:
• A materialidade linguística, isto é, o conjunto se palavras e
de imagens e o modo como estão articuladas;
• Os conhecimentos prévios sobre normas sociais e sobre o
ambiente em que estão inseridos (uma clínica ou uma galeria, por
exemplo);
• A intenção comunicativa de quem o produziu: instituir uma
norma ou provocar uma reflexão de caráter estético.
Vamos analisar outro texto:
20
Gêneros textuais e discursivos
Fonte: http://pontoecontraponto.com.br/category/lingua-portuguesa/
21
Gêneros textuais e discursivos
Na leitura desse texto, precisamos considerar:
• A materialidade linguística que constitui o texto: os
elementos verbais (palavras, tamanho das letras), as cores, os
números que definem uma sequência para a leitura, o logotipo, as
instituições envolvidas, etc.
• O gênero textual cartaz de campanha e sua função
social: orientar, informar e instruir sobre o tema;
• O tema proposto relativo à proibição legal de dirigir após
consumo de bebida alcoólica;
• O público-alvo para o qual o texto se dirige: motoristas
jovens.
• A instituição social de onde esse “discurso” partiu. Trata-
se de um discurso institucional que emanou de um poder público.
• A data de veiculação (após a “lei seca”) e o meio em que
o texto foi veiculado.
Todos os elementos elencados nos exemplos anteriores fazem
parte do contexto em que o texto foi produzido. O termo contexto
possui vários sentidos. No início dos estudos sobre o texto, o termo
contexto referia-se ao entorno verbal, isto é, ao contexto linguístico. No
caso, por exemplo, do seguinte trecho “pegar carona com a gatinha
que não bebeu pega muito bem”, o termo bebeu deve ser entendido
em relação à gatinha, que se encontra no início do período. Aos
poucos, o conceito de contexto ampliou-se para dar conta de uma série
de fatores que interferem na produção de sentido, uma vez que a
linguagem se insere no interior de uma cultura, marcada por tradições,
por crenças, por costumes. Assim, o contexto engloba não só o
contexto linguístico (também chamado de cotexto) mas também a
situação de interação imediata, ou o entorno social, político e cultural
em que o texto foi produzido. Engloba, ainda, um conjunto de saberes
que são compartilhados pelos falantes ( saberes linguísticos, de
22
Gêneros textuais e discursivos
mundo, sobre os textos, sobre as regras sociais etc.).
IMPORTANTE
O termo contexto refere-se, portanto:
• ao cotexto, isto é, as sequências verbais encontradas antes ou depois da
unidade/palavra que queremos interpretar no interior do mesmo texto.
• ao ambiente físico, ou o contexto situacional. Por exemplo, unidades como
“eu”, você”, “aqui” podem ser interpretadas pelo contexto situacional da interação.
• aos saberes anteriores, isto é, os conhecimentos prévios que possuímos.
Por exemplo, sabemos que a lei seca foi instituída no país recentemente.
Vamos agora responder a outra questão: qual a importância do
contexto?
Koch (2006) elenca os seguintes motivos que justificam a
importância do contexto:
a- Certos enunciados são ambíguos, mas o contexto permite
fazer uma interpretação unívoca.
b- O contexto permite preencher as lacunas do texto. Todo
texto possui lacunas a serem preenchidas e o contexto nos permite
preencher tais espaços.
c- Os fatores contextuais podem alterar o que se diz. Por
exemplo, se alguém diz “Que bonito!”, saberemos se se trata de um
elogio ou de uma crítica pelo tom empregado.
d- O contexto justifica por que se disse isso e não aquilo.
Nosso dizer é escolhido de acordo com o contexto em que estamos
inseridos. Seguimos as regras desse contexto e por isso dizemos que é
o contexto que nos permite dizer o que dizemos.
Vamos ler a charge a seguir para compreendermos a
importância do contexto:
23
Gêneros textuais e discursivos
Fonte:http://venicios.blogspot.com.br/2009/11/apagao-no-congresso.html
Essa charge foi publicada em 2009, após um apagão que
ocorreu em diversos estados do país. Se observarmos a referência
embaixo da charge perceberemos o ano 2009 e o número 11 (o
apagão ocorreu em novembro de 2009). Nesse mesmo ano, diversos
escândalos envolvendo o Congresso estavam presentes na mídia.
Assim, na leitura da charge precisamos considerar a função social do
gênero, a materialidade linguística (articulação entre o texto verbal e as
imagens) e também o contexto extralinguístico (contexto sócio
histórico) em que ela foi produzida.
Para finalizar essa unidade e para sistematizar discussões,
vamos ler um fragmento dos Parâmetros Curriculares Nacionais que
tratam da articulação entre texto e discurso.
O discurso, quando produzido, manifesta-se
linguisticamente por meio de textos. O produto da atividade
discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo,
qualquer que seja sua extensão, é o texto, uma sequência
verbal constituída por um conjunto de relações que se
estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras
palavras, um texto só é um texto quando pode ser
compreendido como unidade significativa global. Caso
contrário, não passa de um amontoado aleatório de
24
Gêneros textuais e discursivos
enunciados.
A produção de discursos não acontece no vazio. Ao
contrário, todo discurso se relaciona, de alguma forma, com
os que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos, como
resultantes da atividade discursiva, estão em constante e
contínua relação uns com os outros, ainda que, em sua
linearidade, isso não se explicite. A esta relação entre o
texto produzido e os outros textos é que se tem chamado
intertextualidade.
Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em
função das intenções comunicativas, como parte das
condições de produção dos discursos, as quais geram usos
sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto,
determinados historicamente, constituindo formas
relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na
cultura.
Interagir pela linguagem significa realizar uma atividade
discursiva: dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma,
num determinado contexto histórico e em determinadas circunstâncias
de interlocução. Isso significa que as escolhas feitas ao produzir um
discurso não são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes,
mas decorrentes das condições em que o discurso é realizado. Quer
dizer: quando um sujeito interage verbalmente com outro, o discurso se
organiza a partir das finalidades e intenções do locutor, dos
conhecimentos que acredita que o interlocutor possua sobre o assunto,
do que supõe serem suas opiniões e convicções, simpatias e
antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que têm,
da posição social e hierárquica que ocupam. Isso tudo determina as
escolhas do gênero no qual o discurso se realizará, dos procedimentos
de estruturação e da seleção de recursos linguísticos. É evidente que,
num processo de interlocução, isso nem sempre ocorre de forma
deliberada ou de maneira a antecipar-se à elocução. Em geral, é
durante o processo de produção que as escolhas são feitas, nem
25
Gêneros textuais e discursivos
sempre (e nem todas) de maneira consciente.
Pensar em textos, orais ou escritos, como padrões recorrentes
de linguagem nos remete a questões sobre os gêneros textuais e
discursivos, conceito que será abordado na próxima unidade.
IMPORTANTE
• Os termos formação ideológica e formação discursiva estão ligados a
estudos no campo da Análise do Discurso.
• A formação ideológica tem como um de seus componentes uma ou várias
formações discursivas. Assim, os discursos são regidos por formações
ideológicas.
ATIVIDADES
Leia os textos abaixo para discutir o conceito de contexto.
Texto 1: Propaganda
26
Gêneros textuais e discursivos
Fonte:http://vpatalano.blogspot.com.br/
Texto 2: Charge
Após a leitura dos dois textos, produza um texto, mostrando qual a importância do
contexto para a produção do sentido:
27
Gêneros textuais e discursivos
UNIDADE 2
GÊNEROS DISCURSIVOS E GÊNEROS
TEXTUAIS: SISTEMATIZANDO E
APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS
28
Gêneros textuais e discursivos
2.1 Os gêneros na Antiguidade Clássica
O estudo sobre os gêneros esteve, ao longo da história da
humanidade e das investigações sobre a língua(gem), ligado, de
alguma forma, à tentativa de classificação de diferentes aspectos da
realidade, principalmente de fatos linguísticos. Assim, tanto o objeto de
estudo em si (como a oratória, a literatura,...), quanto o modo de
classificar os diferentes gêneros, assim como a determinação dos
fatores predominantes nessa classificação, fizeram com que diferentes
estudos, em diversos campos do conhecimento, surgissem e se
desenvolvessem. Nesse contexto, podemos falar em gêneros retóricos,
que estão ligados aos vários campos do saber desde a filosofia
clássica. Aristóteles propôs, em Arte Retórica, a organização da
oratória em três gêneros: a) o deliberativo (dirigido a um auditório que
se tem a intenção de aconselhar ou dissuadir); b) o forense ou
judiciário (orador acusa ou defende) e; c) o demonstrativo ou epidítico
(discurso religioso ou de repreensão ao cidadão). Esses discursos
seriam definidos pelas circunstâncias em que são produzidos,
considerando a categoria dos seus ouvintes.
Ainda na Antiguidade Clássica, a noção de gêneros passou a
ser relacionar aos textos com valor social ou literário reconhecido.
Assim, o recorte feito contemplou os gêneros literários classificando-os
como líricos, épicos e dramáticos. Essa classificação associa os
gêneros à representação do autor e dos personagens nas obras.
Assim, as obras em que apenas o autor fala, pertenceriam ao gênero
lírico; as em que autores e personagens têm direito à voz, ao gênero
épico; e, ao gênero dramático estariam associadas as obras em que
apenas os personagens falam. Essa divisão estava então
fundamentada no modo de enunciação dos textos. Além disso, o
gênero lírico estaria relacionado ao tempo presente, que
corresponderia à categoria da recordação; o épico, ao passado,
29
Gêneros textuais e discursivos
correspondendo à categoria da apresentação; e o dramático, ao futuro,
correspondendo à categoria da tensão.
Em momento bem posterior, no início do século XX, por volta
da segunda década, com o Formalismo Russo o estudo dos gêneros
ocupa posição de destaque, momento em que se defenderam caráter
evolutivo dos gêneros, considerando tanto o seu desenvolvimento
quanto sua história literária como um processo dinâmico. Para os
formalistas, essa evolução ocorreria nos aspectos constitutivos do
gênero, isto é, forma e função (uma nova forma surgiria uma vez que a
antiga teria esgotado suas possibilidades de exercer determinada
função), ao mesmo tempo em que seria uma resposta ao surgimento
de novos gêneros e/ou ao desenvolvimento de outros. Nesse sentido,
um gênero seria sempre a transformação de outro gênero
anteriormente existente, por inversão, deslocamento ou combinação.
Todorov (1980) destaca a dificuldade da definição de gênero na
literatura moderna, afirmando que não há nada que determine seu
lugar ou sua forma. Assim, os gêneros existem como uma instituição,
revelando traços constitutivos da sociedade à qual pertencem,
funcionando como "horizontes de expectativa" para leitores e como
"modelos de escritura para autores" (p. 163).
Todorov (1980), procurando definir a origem dos gêneros, diz
que
De onde vêm os gêneros? Pois bem, simplesmente de
outros gêneros. Um novo gênero é sempre a transformação
de um ou de vários gêneros antigos: por inversão, por
deslocamento, por combinação. Um “texto” de hoje (também
isso é um gênero num de seus sentidos) deve tanto à
“poesia” quanto ao romance” do século XIX, do mesmo
modo que a “comédia lacrimejante” combinava elementos
da comédia e da tragédia do século precedente. Nunca
houve literatura sem gêneros; é um sistema em contínua
transformação e a questão das origens não pode
abandonar, historicamente, o terreno dos próprios gêneros:
no tempo, nada há de “anterior” aos gêneros (TODOROV, 1980,
46).
30
Gêneros textuais e discursivos
Podemos perceber que a noção de gêneros, no decorrer da
história, esteve sujeita aos diferentes estágios do desenvolvimento do
pensamento teórico, em variadas áreas do conhecimento, até chegar à
atualidade, quando pesquisadores se ocupam da caracterização do
chamado cibergênero (ARAÚJO, 2003). Alguns gêneros presentes na
Antiguidade foram se modificando de acordo com as demandas
sociais, com as tecnologias e com a cultura. Atualmente, interessa-nos
uma discussão que perpassa os estudos da linguagem: a questão dos
gêneros discursivos e dos gêneros textuais.
2.2 Gêneros discursivos e gêneros textuais:
Os termos gênero discursivo e gênero textual ganham
destaque no cenário dos estudos sobre ensino de língua portuguesa,
sobretudo a partir das diretrizes apresentadas pelos dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, ao postularem que
(...) a unidade básica do ensino só pode ser o texto.
Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições
de natureza temática, composicional e estilística, que os
caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero.
Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto,
precisa ser tomada como objeto de ensino.
Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades
de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas
em função de sua relevância social, mas também pelo fato
de que textos pertencentes a diferentes gêneros são
organizados de diferentes formas. (BRASIL, p. 23)
Entretanto, se há uma clareza em relação à orientação de
que o texto deve se constituir como a unidade de ensino e o
gênero como objeto de ensino, a noção de gênero encontra-se
presente em um terreno em que os termos discursivo e textual
precisam ser explicitados. Esses conceitos estão inseridos em
vertentes teóricas distintas, mas que possuem em comum as
31
Gêneros textuais e discursivos
bases dos estudos de Bakhtin. Segundo Rojo (2005)
(...) a primeira – teoria dos gêneros do discurso – centrava-
se sobretudo no estudo das situações de produção dos
enunciados ou textos e em seus aspectos sócio-históricos e
a segunda – teoria dos gêneros de textos - na descrição da
materialidade textual. (ROJO 2005, 185)
Rojo (2005) esclarece que os trabalhos que adotam a teoria de
gêneros de texto buscam analisar elementos da materialidade relativos
à estrutura ou forma composicional, noções articuladas à linguística
textual. Por sua vez, os trabalhos que adotam a vertente discursiva
tendem a selecionar em suas análises os aspectos da materialidade
linguística relativos à situação da enunciação, ou discursiva, sem
buscar esgotar os aspectos linguísticos ou textuais. A seguir,
discutiremos com mais detalhamento a noção de gêneros discursivos
e a de textuais.
2.3 Gêneros discursivos
2.3.1 Bakhtin e os estudos sobre os gêneros discursivos
Grande parte dos estudos atuais sobre os gêneros buscam em
Bakhtin uma base de sustentação. Teórico da literatura, Bakhtin tornou-
se autor de destaque nos estudos contemporâneos. Para o autor, a
língua é de natureza social e seu estudo deve dar conta da significação
completa. A palavra não existe fora de contexto social e os falantes
servem-se da língua para suas necessidades comunicativas, pois
Na prática viva da língua, a consciência linguística do
locutor e do receptor nada tem a ver com um sistema
abstrato de formas normativas, mas apenas com a
linguagem no sentido de conjunto de contextos possíveis de
uso de cada forma particular (BAKHTIN/VOLOCHINOV,
1992, p,25)
32
Gêneros textuais e discursivos
Para Bakhtin, a língua não pode ser considerada como um
conjunto abstrato de normas e de regras imutáveis e não existe falante
e nem enunciado individualizado. Falante e ouvinte são sujeitos
sociais, históricos e inseridos numa cultura. Esses sujeitos se
constituem nas relações sociais das quais participam e nas interações
que estabelecem com o outro através da linguagem e dos enunciados
que produzem. Esses enunciados pressupõem enunciados que o
precederam e outros que lhe sucederão, constituindo, assim, um
verdadeiro diálogo. Em outras palavras: na interação, todo discurso
concreto se entrelaça a outros discursos, a outras vozes e a outros
pontos de vista, constituindo uma rede ampla de diálogos. Segundo o
autor, o objeto de discurso de um locutor concentra em si uma
pluralidade de vozes. Assim:
O enunciado existente, surgido de maneira significativa num
determinado momento social e histórico, não pode deixar de
tocar os milhares de fios dialógicos existentes, tecidos pela
consciência ideológica em torno de um dado objeto de
enunciação, não pode deixar de ser participante ativo do
diálogo social. (BAKHTIN, 1998, p. 86)
O discurso, segundo Bakhtin, nasce do diálogo. O termo
diálogo, na acepção bakhtiniana, refere-se a toda comunicação verbal
e deve ser compreendido em um sentido amplo, isto é, como
propriedade intrínseca à linguagem e não apenas como uma
comunicação face a face. Todo texto dialoga com outros textos; toda
cultura dialoga com outras culturas. Por isso, na interpretação de um
texto é preciso considerar esses fios dialógicos que se entrecruzam a
outros fios produzidos. Todorov nos esclarece que:
Um discurso não é feito de frases mas de frases
enunciadas, ou, resumidamente, de enunciados. Ora, a
interpretação é determinada, por um lado, pela frase que se
enuncia, e por outro, por sua própria enunciação. Esta
enunciação inclui um locutor que enuncia, um alocutário a
quem se dirige, um tempo e um lugar, um discurso que
33
Gêneros textuais e discursivos
precede e que se segue; enfim, um contexto de enunciação.
(TODOROV, 1980, p. 27)
Partindo da interação entre língua e sociedade, Bakhtin afirma
que, em cada uma das esferas sociais, ou domínios discursivos,
existem “tipos relativamente estáveis de enunciados”- os gêneros do
discurso.
Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de
utilização da língua elabora seus tipos relativamente
estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do
discurso. (BAKHTIN, 2003, p.277)
Bakhtin usa o termo “esferas sociais” ou campo de utilização
da língua para se referir aos espaços sociais das atividades humanas.
Assim, há a esfera científica, a literária, a religiosa, a jurídica, a
acadêmica, a familiar, a jornalística etc. e em cada uma dessas
esferas existem necessidades comunicativas específicas. Cada uma
dessas esferas possui, segundo Bakhtin, os “tipos relativamente
estáveis de enunciados”. Esses enunciados estão inseridos nessas
esferas sociais e, portanto, refletem aspectos temporais, históricos
dessa esfera. Refletem ainda a finalidade e as condições de produção
específicas dessas instituições. Por exemplo, na esfera religiosa
circulam ladainhas, salmos, evangelhos e orações, entre outros, que
abordam conteúdos como súplicas de perdão, ensinamentos,
doutrinações e pecado. Por sua vez, na jurídica encontraremos
conteúdos temáticos relativos à normatização e regulamentação de
condutas sociais, a sanções e assim por diante. Na esfera literária,
encontramos poemas, contos, romances que tratam de assuntos
diversos.
Para Bakhtin:
“as formas da língua e as formas típicas de enunciados, isto
é, os gêneros do discurso, introduzem-se em nossa
experiência e em nossa consciência conjuntamente. (...)
Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque
34
Gêneros textuais e discursivos
falamos por enunciados e não por orações isoladas e,
menos ainda, é óbvio, por palavras). Os gêneros do
discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a
organizam as formas gramaticais (sintáticas). Aprendemos a
moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do
outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras
pressentir-lhe o gênero, adivinhar-lhe o volume (extensão
aproximada do todo discursivo), a dada estrutura
composicional, prever-lhe o fim, ou seja, desde o início,
somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no
processo da fala, evidenciará suas diferenciações. Se não
existissem os gêneros do discurso e se não os
dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez
no processo fala, se tivéssemos de construir cada um de
nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase
impossível.” (BAKHTIN, 2003, p. 302)
Assim, numa situação comunicativa, quando algum dos
participantes começa seu dizer afirmando “agora vou contar uma de
português”, imediatamente nos preparamos para ouvir uma piada e
sabemos que o objetivo do participante é o de produzir humor. Por isso,
Bakhtin afirma que moldamos nossa fala e nossa escuta a essas
formas relativamente de enunciados e que se não houvesse os
gêneros discursivos a comunicação verbal seria quase impossível.
Os gêneros do discurso ou gêneros discursivos estão
intrinsecamente ligados à esfera de comunicação do qual fazem parte
e refletem as condições específicas e as finalidades dessas esferas
através de três elementos básicos, a saber:
35
Gêneros textuais e discursivos
a- Conteúdo temático: A expressão conteúdo temático refere-se aos
temas das diferentes atividades humanas, ou seja, o assunto de que
vai tratar o enunciado em questão. Trata-se de um domínio de sentido.
Por exemplo, vejamos como o tema aquecimento global é tratado em
esferas distintas.
Texto 01
Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com.
Texto 02
O aquecimento global é uma consequência das alterações
36
Gêneros textuais e discursivos
climáticas ocorridas no planeta. Diversas pesquisas confirmam o
aumento da temperatura média global. Conforme cientistas do Painel
Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da Organização das
Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos
cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse
aumento pode parecer insignificante, mas é suficiente para modificar
todo clima de uma região e afetar profundamente a biodiversidade,
desencadeando vários desastres ambientais.
Texto 3
Os textos 01, 02 e 03, embora tratem do mesmo assunto, são
provenientes de diferentes instâncias. Assim, o texto 01 busca produzir
humor e ao mesmo tempo propõe uma reflexão; o texto 02 busca
informar sobre o aquecimento global e o texto 03 explora as
multiplicidades da linguagem poética.
b- Estrutura composicional: A estrutura composicional corresponde
ao modo de estruturar o texto. Cada gênero apresenta uma
determinada estrutura. Assim, uma carta possui indicação do local e da
data em que essa foi escrita, a saudação e o nome da pessoa para
quem se escreve, o texto propriamente dito, a despedida e o nome de
quem escreve. Uma receita apresenta o título, ingredientes e modo de
fazer. Vejamos:
37
Gêneros textuais e discursivos
Além desse aspecto estrutural, o termo estrutura composicional
recobre a organização da narração, por exemplo, que se estrutura em
torno de equilíbrio inicial, conflito, clímax e resolução do conflito; por
sua vez, o artigo de opinião se organiza em torno de um ponto de vista
(tese) e de argumentos que sustentem essa posição.
c- Estilo de linguagem: o estilo de linguagem corresponde à seleção
dos recursos linguísticos (vocabulário, estrutura sintática, escolha
lexical, etc.) que serão empregados em função da esfera em que o
gênero circulará. Assim, o vocabulário poderá ser mais formal o menos
formal, poderá apresentar termos técnicos de determinada área de
conhecimento, por exemplo. A estrutura sintática, por sua vez, poderá
privilegiar uma sintaxe mais simples ou com estrutura mais complexa,
exemplificada por períodos mais longos. As classes de palavras, como
conjunções, verbos, nomes (adjetivos e substantivos) também estão
inseridas no estilo de linguagem. Até mesmo questões relacionadas à
paragrafação e à pontuação estão relacionadas ao estilo de linguagem
38
Gêneros textuais e discursivos
para que um gênero atenda às finalidades comunicativas a que se
propõe.
Vejamos na receita acima o uso dos verbos. Você observou
que na primeira parte (ingredientes) não há a presença de verbos? E
que na segunda parte (modo de fazer) os verbos estão no infinitivo
(colocar, bater, juntar, servir, etc.). Geralmente, no gênero receita, os
verbos são empregados como no exemplo acima, ou então no
imperativo (coloque, bata, junte, sirva etc.), pois tal gênero, como
objetiva instruir o leitor, traz sequências injuntivas.
Para tirar a dúvida, vamos ler o texto a seguir, que circulou na
internet. O texto brinca com estilo de linguagem de um texto científico.
Enquanto faz a leitura, preste atenção no vocabulário, na estrutura
sintática, nos tempos e modos verbais, etc. Vá fazendo anotações e
marcando trechos que achar interessante.
COMO SIMPLIFICAR UM TEXTO CIENTÍFICO
Beto Holsel
http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/jokes/simpl-texto.html
Muitos textos científicos são escritos numa linguagem de difícil compreensão para o
grande público. Torna-se necessário traduzi-los para torná-los mais acessíveis ou,
pelo menos, para uma difusão mais extensiva da profundidade do pensamento
científico. Isto pode ser feito com aplicação de um método engenhoso que consiste
na reunião de conceitos fragmentados em outros mais abrangentes que, numa
sucessão progressiva de sínteses - ou estágios - reduzem a complexidade do texto
original até o nível de compreensão desejado.
Se estas colocações parecem ainda obscuras ou abstratas - o que mostra que são
científicas - um exemplo muito simples ilustrará o método e facultará ao leitor
esperto praticá-lo em outros textos. O exemplo que daremos a seguir é o de um
texto altamente informativo em que são discerníveis elementos de Química, Física,
Botânica, Geometria e outras disciplinas.
Como se verificará, entretanto, essa massa de compreensão pode ficar mais
próxima. Ao final do quinto estágio, surgirá, clara e límpida, a síntese mais refinada
daquele texto, antes incompreensível, que brilhará singela e cristalina, evidenciando
a eficácia do nosso método.
TEXTO ORIGINAL
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de
H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus
officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar
39
Gêneros textuais e discursivos
que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos
de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de
base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar
de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as
papilas gustativas, sugerindo a impressão sensorial equivalente provocada pelo
mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no líquido nutritivo de alta
viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifica, Linneu.
No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no
estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica,
apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões
quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em
consequência da pequena deformidade que lhe é peculiar.
PRIMEIRO ESTÁGIO
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo
de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-
piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente ao paladar, lembrando a
sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar
líquido espesso e nutritivo.
Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando
submetida a uma tensão axial em consequência da aplicação de compressões
equivalentes e opostas.
SEGUNDO ESTÁGIO
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos
sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável da
secreção alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando sujeito
à compressão.
TERCEIRO ESTÁGIO
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do
mel. Porém não muda de forma quando pressionado.
QUARTO ESTÁGIO
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.
QUINTO ESTÁGIO
Rapadura é doce, mas não é mole.
Agora responda: A qual conclusão você chegou sobre o estilo
de linguagem empregado no texto lido?
Como dito, o texto acima brinca com a linguagem. Mas o que
queremos que você tenha observado é a exploração dos recursos de
linguagem – estilo – em cada uma das etapas. Se observarmos o
primeiro parágrafo (texto original), verificamos que os períodos são
mais longos e complexos, a seleção lexical (palavras) contempla
termos técnicos como “arestas retilíneas”, Saccharus officinarum,
“papilas gustativas”, etc. Tais recursos são adequados aos gêneros que
40
Gêneros textuais e discursivos
circulam no espaço acadêmico e científico. À medida em que o texto se
desenvolve, as mudanças vão ocorrendo em toda a estrutura textual
(vocabulário, extensão etc.) e, ao fina,l temos um provérbio, em um
estilo de linguagem mais simples com frases curtas e a presença da
repetição.
Bakhtin (2003) ressalta, ainda, a natureza heterogênea dos
gêneros do discurso (orais e escritos) e classifica-os como primários e
secundários. Enquanto os gêneros primários se caracterizam por
serem construídos em situações comunicativas verbais espontâneas,
tais como cumprimentos, elogios, bate-papos informais, conversas
telefônicas, etc. os secundários estão presentes em situações
comunicativas culturais mais complexas, e envolvem a escrita.
Entretanto, esta classificação não coloca os gêneros em
compartimentos fechados, uma vez que os gêneros primários podem
tornar-se componentes dos gêneros secundários e, com isso, perdem
sua relação imediata com a realidade.
Interessa-nos, por fim, compreender que ao analisar um texto
sob a perspectiva de gênero discursivo, precisamos considerar não só
a categorização/classificação do gênero e suas características.
Precisamos, ainda, refletir sobre sua finalidade ou função social,
analisar o conteúdo temático, a forma composicional e o estilo de
linguagem empregado. Nas palavras de Silva:
a noção de gênero discursivo reenvia, em ternos
operacionais, a um estudo do uso, (dimensão pragmático-
social), da forma (dimensão linguístico-textual) e do
conteúdo temático dos discursos, (dimensão
temática/macroestrutural) materializados na forma de texto.
Em suma, para se depreender a natureza do gênero
discursivo, as entradas a serem feitas no texto (aqui tomado
como a unidade de análise) hão de contemplar todas as
dimensões que o constituem, caso contrário, se apenas
iluminar uma delas, deixando as outras à sombra,
neutralizando-as, pode-se correr o risco de lidar com outra
realidade linguística e aí criar outro objeto de estudo.
(SILVA, 1999, p. 86) (grifos nossos)
41
Gêneros textuais e discursivos
Para concluir esta discussão, apresentamos o trecho a seguir,
retirado de Silva (1999). Tal trecho é bastante esclarecedor sobre os
aspectos que são colocados como relevantes quando se adota o termo
gêneros discursivos.
Historicamente gerados no e pelo trabalho linguístico
empreendido pelos sujeitos, os gêneros discursivos
submetem-se a um conjunto de condições que cercam o
seu funcionamento comunicativo, discursivo, definido em e
por seus processos de produção e recepção, bem como o
seu circuito de difusão, a saber: a instância social de uso da
linguagem (pública ou privada); os interlocutores (locutor e
destinatário); o lugar e o papel que cada um desses sujeitos
representa no processo interlocutivo, os quais, em grau
maior ou menor, sofrem as injunções do lugar social que
cada um ocupa na sociedade; a relação de formalidade ou
não entre eles; o jogo de imagens ali presente e o jogo de
vozes socialmente situadas, orientando o que pode ou não
ser dito e como deve fazê-lo; a atitude enunciativa do
locutor (intuito discursivo) em relação ao seu objeto de dizer
e ao seu destinatário; as expectativas e finalidades deste
aliadas a sua a atitude responsiva em relação ao que está
sendo enunciado; o registro e a modalidade linguística e o
veículo de circulação. Todos esses fatores, em sua relação,
imprimem ao discurso uma configuração peculiar no que
tange a: (i) a abordagem do tema (esta varia conforme as
esferas da comunicação verbal); (ii) o arranjo esquemático
(global) em que o conteúdo semântico se assentará; (iii) os
modos de organização discursivos (atualização da narração,
da descrição, etc.); e, por fim, (iv) a seleção dos recursos
linguísticos (o estilo). Enfim, todos esses fatores orientam o
modo como o discurso se materializa no texto, este
pertencente ao um dado gênero, construído na e por uma
esfera da atividade e comunicação humana. (SILVA, 1999,
p.93)
A seguir, vamos discutir o tema gêneros textuais.
2.3.2 Os gêneros textuais na perspectiva de Bronckart
Para Bronckart (2003), os textos são produtos da atividade
humana. Logo, encontram-se articulados aos interesses, às
necessidades e às condições de funcionamento das formações sociais
no seio das quais são produzidos. Os contextos sociais são diversos e
evolutivos: no quadro de cada comunidade verbal são produzidos e
42
Gêneros textuais e discursivos
circulam diferentes espécies de texto/ gêneros. O autor ressalta que a
noção de gêneros – na Antiguidade, aplicada a textos com valor social
ou literário – sofreu, a partir de Bakhtin, ampliações passando a ser
aplicada ao conjunto de produções verbais organizadas: as formas
escritas usuais e ao conjunto de formas textuais orais.
Bronckart dialoga com Bakhtin e o adota em seu quadro
teórico, reconhecendo o destaque dado por Bakhtin à relação de
interdependência entre o domínio das produções de linguagem e o
domínio das ações humanas. Entretanto, considera que a terminologia
“gêneros discursivos”, empregada por Bakhtin, é flutuante (no conjunto
das obras), devido à própria evolução da obra e às traduções.
Segundo Bronckart, os gêneros discursivos são entidades
vagas e, por isso, são de difícil classificação. Aponta como causas
dessa dificuldade:
1- Diversidade de critérios que podem ser utilizados para
definir um gênero (baseados no tipo de atividade humana
envolvida – gênero jornalístico, científico, etc- , centrados no
efeito comunicativo, referentes à natureza, ao suporte, ao
conteúdo temático, etc);
2- Mobilidade dos gêneros no espaço histórico-cultural:
alguns gêneros reaparecem sob formas diferentes, como o e-
mail, por exemplo, que fez com que o gênero carta pessoal
praticamente desaparecesse; a fluidez das fronteiras entre
gêneros (vamos nos lembrar que um gênero pode assumir a
forma de outro gênero, por exemplo, um poema pode assumir
a forma de um anúncio e, finalmente, o fato de que novos
gêneros podem não ter recebido um nome consagrado.
3- Critérios linguísticos que consideram regras linguísticas
especificas, como tempos e modos verbais, uso de pronomes e
43
Gêneros textuais e discursivos
de organizadores, etc. Bronckart ressalta que esse critério
aplica-se somente aos segmentos que compõem o gênero.
Devido a essa dificuldade, Bronckart não considera os gêneros
discursivos como objeto de análise e toma como objeto de análise o
texto, “unidade de produção de linguagem situada, acabada e
autossuficiente” (2003, p.75). Para o autor, o texto é “toda unidade de
produção verbal que veicula uma mensagem linguisticamente
organizada e tende a produzir um efeito de coerência em seu
destinatário” (2003, p.137). Assim, os textos são produtos da atividade
humana e estão articulados às nossas necessidades, aos nossos
interesses e às condições de funcionamento dos contextos sociais em
que estamos inseridos e nos quais produzimos nossos dizeres, sejam
orais ou escritos. Em outros termos, a noção de texto, engloba não só
as produções escritas, mas também os textos orais que produzimos.
Para o autor, em função dos objetivos, dos interesses e questões
específicas às formações sociais (domínios/ esferas da atividade
humana) os falantes elaboram diferentes espécies de texto, que
apresentam características relativamente estáveis. Bronckart usa o
termo gêneros de texto, que constituem modelos indexados para os
usuários da língua.
Nas palavras do autor:
“Na medida em que todo texto se inscreve,
necessariamente, em um conjunto de textos ou em um
gênero, adotamos a expressão gênero de texto em vez de
gênero do discurso.” (BRONCKART, 2003, p.75)
Para Bronckart, todo texto possui uma organização interna em
três níveis superpostos e em parte interativos, como um folhado
textual.
“Concebemos a organização de um texto como um folhado
constituído por três camadas superpostas: a infraestrutura
44
Gêneros textuais e discursivos
geral do texto, os mecanismos de textualização e os
mecanismos enunciativos.” (BRONCKART, 2003, p. 119)
A infraestrutura corresponde ao nível mais profundo e comporta
o plano mais geral do texto – o conteúdo temático - , as articulações
entre os tipos de discurso e articulação entre as sequencias linguísticas
que aparecem. Segundo Bronckart, o plano geral pode assumir formas
variáveis pois está relacionado ao gênero, ao tamanho do texto, ao
conteúdo temático, às condições de produção (suporte, registro oral ou
escrito, à circulação, etc.) e também às sequencias linguísticas que o
texto.
Os mecanismos de textualização compreendem um nível
intermediário e são responsáveis pela coerência temática. Envolvem os
mecanismos de conexão, coesão nominal e coesão verbal.
Por sua vez, os mecanismos enunciativos, um nível superficial,
são responsáveis pela manutenção da coerência pragmática do texto,
contribuem para o esclarecimento dos posicionamentos enunciativos
(quais as vozes e as instâncias que se manifestam?) e indiciam as
diferentes avaliações (julgamentos, opiniões, sentimentos) sobre
aspectos do conteúdo temático. Vejamos a representação desses
planos:
45
Gêneros textuais e discursivos
De um modo geral, podemos afirmar que a análise, na
perspectiva proposta por Bronckart, apresenta-se em diálogo com os
estudos da Linguística Textual. Para o autor, os textos, produtos
concretos das ações de linguagem, são constituídos por
segmentos/sequências linguísticas diferentes (tais como exposição,
relato, diálogo, etc.) e é no nível desses enunciados linguísticos que
podemos encontrar regularidades de organização e de marcação
linguísticas. Tais enunciados são segmentos constitutivos de um
gênero e Bronckart os denomina de tipos de discurso, isto é, “formas
linguísticas que são identificáveis nos textos e que traduzem a criação
de mundos discursivos específicos” (2003, p. 149).
Assim, ao terminarmos esta seção podemos constatar que as
denominações “gênero textual” e “gênero discursivo” aliam-se a uma
perspectiva epistemológica que toma por base os estudos na
perspectiva do texto ou do discurso. De um modo geral, como ambos
buscam em Bakhtin um apoio teórico, há muita semelhança entre as
análises.
IMPORTANTE
• Gêneros do discurso (Bakhtin): tipos relativamente estáveis
de enunciados; produtos da interação verbal.
• Gêneros textuais (Bronckart): constituem modelos indexados
para os usuários da língua.
A seguir apresentaremos outro autor que discute a questão dos
46
Gêneros textuais e discursivos
gêneros.
2.3.3 A teoria dos gêneros em Marcuschi
Segundo Marcuschi (2005, p.19) os gêneros textuais são
fenômenos históricos e intrinsecamente ligados à vida cultural e social.
O aspecto cultural é de suma relevância, conforme se depreende do
trecho a seguir:
Os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se
funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem.
Caracterizam-se muito mais por suas funções
comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas
peculiaridades linguísticas e estruturais. (MARCUSCHI,
2005, p. 20)
Embora tais modelos sirvam para estabilizar as atividades
comunicativas diárias, eles não são modelos estanques: eles surgem e
se modificam na cultura.
Para Marcuschi (2005, p.20), não são as novas tecnologias de
per si que originaram os gêneros, mas sim a intensidade dos usos
dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas
diárias. E-mails, chats, blogs, fotoblogs, etc. são exemplos desses
gêneros emergentes. Entretanto, conforme acentua o autor, eles não
são inovações absolutas uma vez que se ancoram em gêneros já
existentes: cartas, bilhetes, conversações, diário, etc.
O autor estabelece uma distinção entre tipo textual e gênero
textual:
a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma
espécie de construção teórica definida pela natureza
linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos,
tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos
textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias
conhecidas como: narração, argumentação, exposição,
descrição, injunção.
b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção
propositalmente vaga para referir os textos materializados
47
Gêneros textuais e discursivos
que encontramos em nossa vida diária e que apresentam
características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica.
Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são
inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam:
telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal,
romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva,
reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo (...)
carta eletrônica bate-papo por computador, aulas virtuais e
assim por diante (Marcuschi, 2005, 21 et. seq.).
Assim, enquanto os gêneros textuais são os textos
materializados que circulam socialmente – “são artefatos culturais” – os
tipos textuais são as sequências linguísticas que compõem o gênero.
Marcuschi esclarece que os tipos textuais são limitados e que entram
na composição de vários gêneros. Vejamos como o tipo é encontrado
em gêneros diversos, como piada, conto, fábula, história em quadrinho
etc.
Vejamos alguns exemplos:
Texto 01 – Piada
Texto 01 – Piada
Luizinho, do que você tem mais medo?
- Da mula-sem-cabeca, fessora.
- Mas, Luizinho, a mula-sem-cabeca não existe. É apenas uma
lenda... Você não precisa ter medo. Mariazinha, do que você tem mais
medo?
- Do saci-pererê, fessora.
- Mariazinha o saci-pererê também não existe. E somente outra
lenda... Você não precisa ter medo.
- E você, Joãozinho? Do que tem mais medo? - Do MalaMen, fessora.
- Mala Men? Nunca ouvi falar... Quem é esse tal de Mala Men?
- Quem é eu também não sei, fessora. Mas toda noite minha mãe diz
na oração: Não nos deixes cair em tentação mas livrai-nos do Mala-
Men.
Disponível em: http://www.piadasnet.com/piada894joaozinho.htm
48
Gêneros textuais e discursivos
Texto 02- Letra de música
Era um garoto
Que como eu
Amava os Beatles
E os Rolling Stones..
Girava o mundo
Sempre a cantar
As coisas lindas
Da América...
Não era belo
Mas mesmo assim
Havia mil garotas afim
Cantava Help
And Ticket To Ride
Oh Lady Jane, Yesterday...
Cantava viva, à liberdade
Mas uma carta sem esperar
Da sua guitarra, o separou
Fora chamado na América...
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs
Mandado foi ao Vietnã
Lutar com vietcongs...
Ratá-tá tá tá...
Tatá-rá tá tá...
Ratá-tá tá tá...
Tatá-rá tá tá...
Ratá-tá tá tá...
Tatá-rá tá tá...
Ratá-tá tá tá...
49
Gêneros textuais e discursivos
Era um garoto
Que como eu!
Amava os Beatles
E os Rolling Stones
Girava o mundo
Mas acabou!
Fazendo a guerra
No Vietnã...
Cabelos longos
Não usa mais
Nem toca a sua
Guitarra e sim
Um instrumento
Que sempre dá
A mesma nota
Ra-tá-tá-tá...
Não tem amigos
Nem vê garotas
Só gente morta
Caindo ao chão
Ao seu país
Não voltará
Pois está morto
No Vietnã...
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs
No peito um coração não há
Mas duas medalhas sim....
Ratá-tá tá tá...
Tatá-rá tá tá...
Ratá-tá tá tá...
Disponível em :http://www.vagalume.com.br/
50
Gêneros textuais e discursivos
Observem que nos dois gêneros encontramos sequências
narrativas. Em todos temos personagens, enredo, sequências
linguísticas que narram fatos ocorridos (reais ou fictícios), verbos no
passado etc.
Se antes era possível delimitar gêneros pertencentes à
oralidade ou à escrita, hoje o que encontramos são modelos híbridos
que rompem a dicotomia entre fala e escrita e evidenciam que essas
modalidades se apresentam, na verdade, como um continun.
Marcuschi (2001) ressalta que haveria um protótipo de uma
modalidade escrita e que não seria aconselhável compará-lo com um
gênero protótipo da oralidade. Nesse continun, os textos, em alguns
momentos, se entrecruzam e constituem domínios mistos, como, por
exemplo, alguns gêneros televisivos que constituem o Jornal Nacional,
que são escritos para serem “falados”, ou então alguns gêneros atuais
que articulam, em sua composição, oralidade e escrita.
2.3.4 A teoria dos gêneros em Bazerman
Seguindo um viés antropológico e social, Bazerman (2005)
destaca que os gêneros organizam nossa vida diária. Para ele, há um
ciclo ininterrupto de textos e atividades e, socialmente, existem
sistemas organizados e bem articulados dentro dos quais determinados
textos circulam por caminhos previsíveis e produzem fatos sociais, ou
seja, ações linguajeiras significativas que afetam o fazer humano, seus
direitos e deveres. Nesse contexto, há padrões comunicativos mais ou
menos estáveis e regulares que possibilitam uma compreensão
padronizada de determinada situação. Assim, os gêneros são formas
de comunicação reconhecíveis e auto reforçadoras que emergem nos
processos sociais em que as pessoas interagem através de condutas
coordenadas. Bazerman acrescenta que os gêneros podem ser
51
Gêneros textuais e discursivos
compreendidos como fenômenos de reconhecimento psicossocial e
parte de processos de atividades socialmente organizadas. Em síntese,
gêneros são formas tipificadas que tipificam ações sociais.
Ao conceito de gênero, Bazerman alia as noções de conjunto
de gêneros e sistema de gêneros. O conjunto de gêneros refere-se aos
textos que uma pessoa, desempenhando determinado papel, tende a
produzir. Por sua vez, um sistema de gêneros engloba os diversos
conjuntos utilizados por pessoas que trabalham juntas de uma forma
organizada e também as relações padronizadas que se estabelecem
na produção e circulação desses documentos. Assim, ao produzir uma
petição e enviá-la a um juiz competente, um advogado espera o
parecer desse juiz. Nesse processo, diversos gêneros são produzidos
dentro de um fluxo comunicativo próprio do sistema judiciário.
Outra questão colocada por Bazerman, diz respeito à
construção de identidades sociais. A produção de um conjunto de
gêneros dentro de um sistema de atividades permite o
desenvolvimento de identidades social e formas de vida coletivas,
próprias daquele espaço sócio-discursivo.
Bazerman ressalta que apesar do interesse de pesquisadores
em localizar e categorizar os gêneros, essa tarefa é dificílima, uma vez
que os gêneros são fatos sociais e não apenas fatos linguísticos.
Qualquer categorização torna-se redutora e empobrece a realização
individual de cada texto.
ATIVIDADES
1. Após a leitura deste capítulo, faça uma síntese destacando as
principais ideias sobre os gêneros, na perspectiva dos autores
52
Gêneros textuais e discursivos
apresentados.
2. Reflita sobre os gêneros a seguir e preencha o quadro com as
informações solicitadas:
Gênero textual Características
formais
Função social Estilo de linguagem
reportagem
notícia
Carta pessoal
música
poema
53
Gêneros textuais e discursivos
UNIDADE 3
TIPOS TEXTUAIS E SUPORTES TEXTUAIS
54
Gêneros textuais e discursivos
3.1- Compreendendo a noção de tipos textuais
É comum encontrarmos nos textos teóricos, nas diretrizes e
nas propostas curriculares e em livros didáticos, o uso das expressões
“tipo textual” e “tipologias textuais”. Os textos apresentam-se em
diferentes tipos porque esses tipos se concretizam devido à existência
de diferentes modos de interação entre as pessoas. Assim, o estudo
dos textos e dos diferentes gêneros textuais é fundamental para o
desenvolvimento das competências linguística, comunicativa e
discursiva doa aprendizes e não fazê-lo poderá implicar em prejuízos
para o uso adequado da língua. Sem nos prender aos aspectos
históricos que fazem parte dos estudos sobre os tipos textuais,
discutiremos aqui apenas questões conceituais relacionadas à
tipificação mais tradicionalmente difundida pelos teóricos que estudam
a temática. Para entender essa questão, leia a definição apresentada
abaixo:
55
Gêneros textuais e discursivos
Tipologia Textual é um termo que deve ser usado para designar uma
espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística
de sua composição. Em geral, os tipos textuais abrangem as
categorias: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção
(Swales, 1990; Adam, 1990; Bronckart, 1999). Esse termo é usado
para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela
natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos,
tempos verbais, relações lógicas) (MARCUSCHI, 2005, p. 22).
O tipo textual é uma noção que remete ao funcionamento da
constituição estrutural do texto, ou seja, um texto configurado em um
determinado gênero (piada, charge, história em quadrinhos, resenha
etc), pode trazer na sua organização vários tipos textuais, os quais
compõem a tessitura do texto, a estrutura composicional do texto em
questão. De acordo com Travaglia (2007), o tipo pode ser identificado e
caracterizado por instaurar um modo de interação, uma maneira de
interlocução, segundo perspectivas que podem variar constituindo
critérios para o estabelecimento de tipologias diferentes. O autor expõe
várias formas para classificar os tipos textuais, entre as quais merecem
destaque:
a) a proposta de Adam (1993) que elenca as sequências
narrativa, descritiva, argumentativa explicativa e dialógica
(conversacional).
b) a proposta de Dolz e Schneuwly (2004) que enumera cinco
tipos de textos que são comumente referidos como ordens ao
listar gêneros que pertenceriam a cada ordem ou tipo. As cinco
ordens são: narrar, relatar, argumentar, expor e descrever
ações.
56
Gêneros textuais e discursivos
Embora haja outras categorias de tipos, tais tipologias
geralmente são construídas para um objetivo específico de trabalho,
utilizando um ou mais critérios classificatórios e levando em conta a
natureza do material textual que se tem para estudo ou para aplicações
práticas como as de ensino /aprendizagem de produção / compreensão
de textos. Tais classificações também são resultado de abordagens
diversas pelas disciplinas que as constroem: literária, linguística,
antropológica, psicológica, pedagógica, entre outras. Assim, a
construção de uma teoria tipológica geral é dependente dos aspectos
que devem ser levados em conta para construir uma tipologia. Para a
definição dos tipos textuais devem ser observados segundo Travaglia
(2007, p. 97):
a) os parâmetros e critérios utilizados para propor a tipologia;
b) os objetivos com que foi construída e o material textual que
serviu de corpus ou material empírico para sua proposição;
c) os elementos / categorias que compõem a tipologia e se são
da mesma natureza ou não.
Assim, podemos ter teorias baseadas em aspectos internos (ou
estritamente linguísticos), em aspectos externos e em aspectos
internos e externos.
Em geral, os tipos textuais abrangem um número limitado de
categorias (narração, argumentação, exposição, descrição, injunção),
ao contrário dos gêneros textuais que apresentam número ilimitado.
Leia os textos abaixo e observe: podem aparecer na estrutura
composicional de cada um deles mais de um tipo textual. Tente
identificar quais são os tipos mais comuns nos textos lidos:
57
Gêneros textuais e discursivos
Texto 1:
De: anacarolml@yahoo.com.br
Para: carlamfsiva@yahoo.com.br
Assunto: novi
Bom dia, Cá,
Ontem, eu fui na balada e eu preciso te contar dois bafões. Eu estava
na fila esperando para comprar refri e dei de cara com o “baixin”. Fingi q ñ
tinha visto ele, mas ele chegou em mim e me cumprimentou. Fiquei sem ar.
Cá, ele tava lindo, de calça jeans preta, de camiseta branca... filé. Tudo
lindo! Passou... Depois tentei ver se arrumava um jeito de falar com ele.
Procurei ele e achei, tava perto do banheiro. Parei e perguntei se ele tava
gostando... ele disse que sim, rolou um papo e ele me trouxe em casa. Não
teve nada. Ele é do tipo que eu gosto, responsável, estudioso e sério. Acho
que é rapaz para casar. Rsrsrsrs. Não quero. Mas, namorar com ele eu topo.
Outra coisa, se eu fosse vc largava o Robinho, ele tava lá com umas
meninas estranhas, me viu e nem perguntou de vc. Fica aí morrendo por ele
e ele nem aí. Vai tomar banho! Deixa de sê boba, sá! Pula fora! O Gui é
doido por vc.
Texto 2:
Memorando n. 12/2010
Ao chefe de setor: José Maria
Setor de serviços e reparos
Solicito reparo no congelador da sala 8, com urgência. O congelador
apresenta problemas no processo de congelamento, emite barulho
ensurdecedor e desliga sozinho. O funcionário Carlos, ao retirar os produtos
para colocação nas embalagens levou um choque. Diante disso, considero
que seja um problema na distribuição de energia. Por isso, gostaria de
58
Gêneros textuais e discursivos
solicitar que envie um funcionário especializado em parte elétrica, para que o
problema seja resolvido de imediato.
Como você pode observar, não é tão simples identificar os
tipos textuais, pois eles podem aparecer conjuntamente em um dado
texto concreto (e-mail, memorando). Então, como classificar um texto
em uma determinada tipologia? Para classificar um texto, precisamos
observar o tipo predominante. Assim, se há o predomínio da
argumentação, temos um texto argumentativo; se há o predomínio da
narração, temos um texto narrativo. Além disso, a função social e a
intencionalidade do gênero textual também influenciam na
classificação. Vale esclarecer que o tipo textual não se restringe à
materialidade linguística. Para Travaglia (1991), os tipos textuais
podem instaurar um modo de interação, uma maneira de interlocução,
segundo perspectivas que podem variar. Essas perspectivas podem,
segundo o autor, estar ligadas ao produtor do texto em relação ao
objeto do dizer quanto ao fazer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto
à inserção destes no tempo e/ou no espaço.
O anúncio publicitário abaixo ilustra essa questão. O texto é
predominantemente descritivo/expositivo, mas caracteriza-se como um
texto injuntivo em razão do “fazer/acontecer”.
59
Gêneros textuais e discursivos
Mulher Tupperware: [Da sabedoria popular] S. f. A que
tem orgulho de ser mulher. Que é ousada e audaciosa.
Contemporânea. Vencedora. Que tem objetivos de vida e
luta por eles. Sintonizada com o seu tempo. Que rejeita
imitações. Que aprecia o belo e o prático. De todas as
raças. De todas as cores.
Os tipos textuais são tomados como categorias que se prestam
a caracterizar o funcionamento de um dos planos constitutivos do texto
– a estrutura interna da configuração textual. Para uma maior
compreensão da noção de tipos textuais, veja o quadro abaixo
proposto por Marcuschi (2005, p. 22) em que o autor procura
diferenciar tipos e gêneros textuais:
60
Gêneros textuais e discursivos
A partir da discussão feita, podemos considerar que os tipos
textuais são operações textual-discursivas utilizadas pelos autores dos
textos, ou seja, são dimensões micro e macroestruturais da
configuração formal e conceitual do texto, operacionalizadas da
seguinte forma: a) narração, se o que se pretende é contar, apresentar
os fatos, os acontecimentos; b) descrição, se o que se busca é
caracterizar, dizer como é o objeto, a situação, a pessoa, fazendo
conhecê-lo(a); c) dissertação/argumentação, se o que se quer é refletir,
explicar, avaliar, comentar, conceituar, expor posicionamentos, pontos
de vistas, para dar a conhecer, para fazer saber, crer; d) injunção, se o
que busca é incitar a realização de uma ação por parte do interlocutor,
orientando-o e aconselhando-o; e) exposição, se o que se quer é expor
dados, apresentar teorias, conceitos, informações. Além dessas
operações, alguns autores consideram o tipo conversacional, que se
caracteriza pela função dialógica. No quadro a seguir, podemos
observar que cada tipologia apresenta características específicas e que
os gêneros textuais são constituídos por sequências linguísticas (tipos
textuais) que os caracterizam:
TIPOLOGIAS GÊNEROS
1) NARRATIVA
• Liga-se à percepção no tempo;
• Realiza-se por meio de verbos
de mudança no pretérito perfeito
e imperfeito e por expressões
adverbiais de tempo e de lugar.
•ocorre quando uma história é
narrada, incluindo-se, assim,
tempo, espaço, personagens etc.
Conto de fadas; fábula/biografia
romanceada; romances/ conto;
crônicas: literária/social/esportiva;
charge /piada;
notícia/reportagem; casos
contados em rodas de amigos
etc.
2) DESCRITIVA Conto de fadas; Poema
61
Gêneros textuais e discursivos
• Liga-se à nossa percepção de
espaço;
• Permite ao leitor construir um
retrato mental;
•Possui uma estrutura simples
com um verbo estático no
presente do indicativo ou no
pretérito perfeito do indicativo;
•adjetivos, advérbios de lugar e
de modo.
• caracteriza uma pessoa, uma
paisagem, um ambiente, um
objeto.
(descritivo) /fábula; biografia
romanceada; romances; conto;
crônicas:
(literária/social/esportiva); notícia;
reportagem; casos contados em
rodas de amigos etc.
3) ARGUMENTATIVA
Liga-se ao ato de julgar e à
tomada de posição.
Realiza-se por meio de
conectores lógicos;
Predominam as sequências
contrastivas explícitas.
Além de muitas outras relações,
expõem-se ideias para
convencer o leitor/ouvinte de
certos posicionamentos.
Artigos de opinião; carta de Leitor
carta de reclamação; carta de
solicitação; debate regrado;
discurso de defesa (advocacia);
discurso de acusação
(advocacia); resenha
crítica;editorial; ensaio etc.
4) EXPOSITIVA
• É caracterizada pela intenção
de facilitar a compreensão do
leitor/ouvinte através de
informações que normalmente
são feitas por meio de
Texto expositivo (em livro
didático); seminário; conferência;
comunicação oral; palestra;
entrevista de especialista.
Pode ocorrer em trechos de:
62
Gêneros textuais e discursivos
afirmações e logicidade na
ordenação de conceitos, entre
outros aspectos;
• Materializa-se por meio de
conectores lógicos;
• Predominam as sequências
explicitamente explicativas.
artigos científicos, notícias
jornalísticas, verbetes de
enciclopédias.
Também em trechos informativos
de outros gêneros, como
romances, relatórios e cartas.
5) INJUNTIVA
• Liga-se à previsão de
comportamento por meio de
enunciados incitadores à ação.
• Concretiza-se por meio de
verbos no imperativo ou de
perguntas e de expressões
congeladas de cumprimento.
• direta ou indiretamente, se
instrui ou se orienta o
leitor/ouvinte, visto como aquele
que pode tomar uma decisão ou
realizar algo.
Anúncios e peças publicitárias
Receitas de culinária /Instruções
de uso
Instruções de montagem / Regras
de utilização; leis; receitas de
culinária / Guias; regras de
trânsito / obrigações a cumprir/
normas de conduta etc.
Fonte: http://saborparasaber.blogspot.com.br/2012/08/generos-e-tipologias-
textuais.html
Vamos analisar uma fábula e compreender como esses tipos
se articulam na constituição do texto.
O LOBO E O CORDEIRO, de Esopo, recontada por Monteiro
Lobato
Estava o cordeiro a beber água num córrego, quando apareceu um
lobo esfaimado, de horrendo aspecto.
63
Gêneros textuais e discursivos
─ Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? ─ disse o
monstro, arreganhando os dentes. ─ Espere que vou castigar tamanha má-
criação!...
O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:
─ Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do
senhor para mim?
Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta, mas não
deu o rabo a torcer.
─ Além disso ─ inventou ele ─ sei que você andou falando mal de
mim no ano passado.
─ Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este
ano?
Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:
─ Se não foi você foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.
─ Como poderia ser seu irmão mais velho, se sou filho único?
O lobo, furioso, vendo que com razões claras não venceria o
pobrezinho, veio com razão de lobo faminto:
─ Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!
E ─ nhoque ─ sangrou-o no pescoço.
Contra a força não há argumentos.
Disponível em:
http://conscienciapoliticarazaosocial.blogspot.com.br/2013/01/o-lobo-e-o-
cordeiro-de-esopo-recontada.html . Acesso em: 15/08/2013.
O texto acima pertence ao gênero textual fábula. Na análise do
texto percebemos que predomina a sequência narrativa. Temos uma
história em que os personagens o lobo e o cordeiro se encontram em
um espaço (à beira de um córrego). O tempo da narrativa não é
explicitado, uma vez que as fábulas trazem ensinamentos atemporais.
O equilíbrio inicial (cordeiro bebendo água) é quebrado pela chegada
do lobo e a narrativa se desenvolve em uma sucessão de
eventos/conflitos até atingir um clímax final, em que o lobo apresenta a
razão de lobo faminto. O conflito é solucionado com a morte do
cordeiro. Nas sequências narrativas, temos o emprego de verbos no
pretérito imperfeito e no pretérito perfeito. Veja alguns verbos que
destacamos no texto.
Podemos encontrar o tipo descritivo, logo no início da fábula,
quando o autor descreve o lobo: “um lobo esfaimado, de horrendo
aspecto”. Observem a presença de adjetivos acompanhando os
64
Gêneros textuais e discursivos
substantivos. Por sua vez, encontramos tipos dialogais, marcados pelo
diálogo entre os personagens. O tipo injuntivo pode ser identificado no
trecho “Espere que vou castigar tamanha má-criação!...” Note a
presença do verbo no imperativo, marca de sequências injuntivas. Nos
diversos momentos em que lobo e cordeiro dialogam podemos
perceber sequências argumentativas, como em: “como posso turvar a
água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?”. Por
fim, a sequência expositiva pode ser identificada na moral da fábula
“Contra a força não há argumentos”.
Por que muitas vezes classificamos o gênero fábula como texto
narrativo? Por que, como dissemos anteriormente, o texto se organiza
em torno da estrutura da narração (equilíbrio inicial, instauração de um
conflito, clímax e resolução do conflito).
Nossa intenção ao fazer a análise da fábula é mostrar que os
tipos textuais são as sequências linguísticas e que eles podem
aparecer conjuntamente em um dado gênero textual. Trata-se de uma
análise complexa, que considera as marcas linguísticas (uso de verbos,
de operadores argumentativos, de sequenciadores temporais etc.)
presentes no texto e que necessariamente não precisam ser objeto de
análise em sala de aula.
3.2 Analisando os tipos textuais
Nesta seção vamos apresentar mais algumas características dos
tipos textuais.
O tipo narrativo
Segundo Adam (2008), a sequência narrativa caracteriza-se
através de seis constituintes:
65
Gêneros textuais e discursivos
 sucessão de eventos, que consiste na delimitação de um
evento inserido em uma cadeia de eventos alinhados em
ordem temporal;
 unidade temática, que privilegia um sujeito agente, mesmo
existindo vários personagens; um deverá ser o mais importante
e que desencadeará toda a ação narrada;
 predicados transformados, consiste no desenrolar de um
fato que implica a transformação das características do
personagem;
 processo, a narrativa deve apresentar um início, um meio e
um fim;
intriga, que dá sustentação aos fatos narrados, podendo
levar o narrador a alterar a ordem processual natural dos fatos;
moral, uma reflexão sobre o fato narrado, que pode
evidenciar a verdadeira razão de se contar aquela história. A
moral não é parte essencial da narrativa, pois pode estar
implícita.
Após a leitura do texto abaixo, tente identificar nele os
constituintes mencionados anteriormente:
Uma Vela para Dario
Dalton Trevisan
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim
que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede
de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de
66
Gêneros textuais e discursivos
chuva, e descansou na pedra o cachimbo. Dois ou três passantes rodearam-
no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios,
não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer
de ataque. Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o
cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se
afastassem e o deixassem respirar.
Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe
retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no
canto da boca.
Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o
pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as
crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo
repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do
cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-
chuva ou cachimbo ao seu lado. A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele
estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a
metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida?
Concordaram chamar a ambulância.
Dario conduzido de volta e recostado à parede - não tinha os
sapatos nem o alfinete de pérola na gravata. Alguém informou da farmácia
na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do
quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma
peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto
para espantá-las. Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram
apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da
noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o
relógio de pulso. Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis,
retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa
branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na
carteira era de outra cidade.
Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora,
ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a
multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado
dezessete vezes. O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-
lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele
próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou
decidido que o caso era com o rabecão. A última boca repetiu — Ele morreu,
ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para
morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-
lo, tinha todo o ar de um defunto. Um senhor piedoso despiu o paletó de
Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde
fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um
homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias.
Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.
Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do
cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto
desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas
depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem
o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e
67
Gêneros textuais e discursivos
apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.
Disponível em: http://www.releituras.com/daltontrevisan_dario.asp . Acesso
em: 15/08/2013.
O tipo descritivo
O tipo descritivo busca fazer um levantamento de
propriedades, qualidades, sobre seres que podem ser concretos ou
abstratos. Segundo Adam (2008), a sequência descritiva apresenta
uma resposta que descreve passos no sentido de atingir um objetivo.
Adam (2008) considera que uma descrição possui três partes:
1) uma ancoragem (onde se tem um tema-título);
2) uma dispersão de propriedades, contendo dois processos
básicos: a) aspectualização (caracteriza o objeto em seu
aspecto físico, seja das propriedades do objeto, seja das partes
do objeto); b) estabelecimento de relação: consiste em usar as
características de uma parte relatada para compor outra
(situação do objeto no espaço ou no tempo e assimilação de
características para compor um terceiro aspecto).;
3) uma reformulação (onde se tem uma nova visualização geral
do tema).
Após a leitura do texto abaixo, tente identificar nele os
constituintes mencionados anteriormente:
A uma mulher de vida simples
Ana! mulher simples vinda do interior passou muitas
68
Gêneros textuais e discursivos
dificuldades na vida mais sua humildade e esperança fizeram com que
seus objetivos fossem alcançados. Tem 65 anos, 1.45 de altura, tem
olhos castanhos, cabelos pretos, pele negra e pesa 55kg. Quando
criança passou muitas dificuldades nem tendo o que comer, às vezes
tinha que dividir uma banana verde com seus irmãos, após a morte de
seus pais foi morar com seu padrinho sofreu muito, e ainda hoje não
esqueceu as humilhações por que passou por tantos anos. Cresceu
virou mulher casou-se com um homem rude e preguiçoso, tendo oito
filhos não teve estudo e passou a trabalhar em casas de famílias por
vários anos. Em uma dessas casas ficou por 11 anos tendo sua
carteira assinada, teve um bom patrão ele ajudou a conseguir
emprego para dois de seus filhos, mais estava cansada chegando à
idade e com os filhos crescidos e trabalhando saiu de lá. E seu
sobrinho abriu um restaurante e a chamou para trabalhar com ele,
como cozinheira, pois ela sabia fazer pratos deliciosos, ficando quatro
anos com ele mais devido a problemas, saiu de lá também.Com ajuda
de seus filhos foi tentar se aposentar, até que conseguiu hoje seus
filhos trabalham, alguns tem famílias e filhos, outros já fizeram
faculdade, e têm alguns no curso técnico e Ana agradece ao Senhor o
fato de os filhos não terem passado o que ela passou.
Disponível em http://www.scribd.com/doc/56145465/REDACAO-
DESCRITIVA . Acesso em: 15/08/2013
O tipo explicativo
O tipo expositivo/explicativo encontra-se em gêneros textuais
que objetivam informam o leitor sobre determinado assunto. O que
caracteriza a sequência explicativa é o seu estatuto: justificar um fato,
estabelecendo uma relação de causa. A explicação tende a explicitar
claramente uma ideia, um ponto de vista, e responde às perguntas
COMO e POR QUÊ com o objetivo de transformar uma convicção.
Normalmente, o texto apresenta a seguinte estrutura:
TEXTO: ESQUEMATIZAÇÃO INICIAL (o problema) +
explicação (resposta) + conclusão/avaliação (fechamento).
Após a leitura do texto abaixo, tente identificar nele os
constituintes mencionados anteriormente:
69
Gêneros textuais e discursivos
PET, para que te quero?
[...] o PET – sigla para polietileno tereftalato – é usado na
fabricação de uma porção de coisas, como garrafas de refrigerantes,
águas, sucos, óleos comestíveis, medicamentos, produtos de higiene
e limpeza, cosméticos e fibras têxteis. Mas você tem ideia do que é
esse composto presente em produtos tão diferentes?
Resposta: um polímero termoplástico. Diz-se “polímero” porque
o PET é formado por moléculas muito grandes produzidas pela união
de muitas moléculas de um composto menor, o etileno tereftalato. Já o
“termoplástico” quer dizer que pode ser derretido e solidificado
diversas vezes – assim como vidro, ferro e alumínio –, o que torna
possível sua reciclagem.
[...] Na fabricação de embalagens, o PET revolucionou o
mercado da produção de garrafas a partir dos anos de 1970, com a
invenção do processo de injeção e sopro, no qual o PET derretido é
soprado para dentro de um molde, adquirindo a forma desejada
quando resfria. [...] O sucesso em todo o mundo foi grande, pois esse
tipo de embalagem apresenta várias vantagens: são transparentes,
inquebráveis, impermeáveis e leves, o que diminui o custo de
transporte do produto. [...]
Por outro lado, há desvantagens. As matérias primas usadas na
produção do PET são derivadas do petróleo, sendo, por isso,
consideradas matérias primas não renováveis. Além disso, as
embalagens descartadas no lixo geram um grande problema
ambiental, uma vez que demoram mais de 100 anos para decompor.
Por isso, há um grande estímulo para a reciclagem deste material.
Disponível em: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/pet-para-que-te-
quero/. Acesso em: 15/08/2013.
O tipo argumentativo
O tipo argumentativo não deve ser confundido com outros
textos que comportam uma orientação argumentativa. Esse tipo
caracteriza-se pela presença de uma ideia a ser defendida. Dessa
forma, o discurso é orientado em direção a determinadas conclusões e
necessita-se, para isso, elaborar estratégias de persuasão. Segundo
70
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Guia gêneros textuais

  • 1. Universidade Federal de Lavras – UFLA Centro de Educação a Distância – CEAD GÊNEROS TEXTUAIS E DISCURSIVOS Guia de Estudos Helena Maria Ferreira Mauricéia Silva de Paula Vieira Lavras/MG 2013
  • 2. Gêneros textuais e discursivos Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca da UFLA Ferreira, Helena Maria. Gêneros textuais e discursivos : guia de estudos / Helena Maria Ferreira, Mauricéia Silva de Paula Vieira. – Lavras : UFLA, 2013. 115 p. : il. Uma publicação do Centro de Educação a Distância da Universidade Federal de Lavras. 1. Formação de professores. 2. Gêneros textuais. 3. Gêneros discursivos. I. Vieira, Mauricéia Silva de Paula. II. Universidade Federal de Lavras. III. Título. CDD – 372.6 2
  • 3. Gêneros textuais e discursivos Governo Federal Presidente da República: Dilma Viana Rousseff Ministro da Educação: Aloizio Mercadante Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) Universidade Aberta do Brasil (UAB) Universidade Federal de Lavras (UFLA) Reitor: José Roberto Soares Scolforo Vice-Reitora: Édila Vilela Resende von Pinho Pró-Reitora de Graduação: Soraya Alvarenga Botelho Centro de Educação a Distância Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins Coordenadora Pedagógica: Elaine das Graças Frade Coordenador de Projetos: Cleber Carvalho de Castro Coordenadora de Apoio Técnico: Fernanda Barbosa Ferrari Coordenador de Tecnologia da Informação: Raphael Winckler de Bettio Departamento de Ciências Humanas Letras Português (modalidade à distância) Coordenadora do Curso: Mauricéia Silva de Paula Vieira Coordenadora de Tutoria: Débora Cristina de Carvalho Revisor Textual: Marco Antônio Villarta-Neder 3
  • 4. Gêneros textuais e discursivos Sumário UNIDADE 1........................................................................................................5 TEXTO, CONTEXTO E DISCURSO................................................................5 1.1 Texto e Discurso.......................................................................................6 1.2 Texto......................................................................................................16 1.3 Texto e Contexto.....................................................................................19 UNIDADE 2......................................................................................................28 GÊNEROS DISCURSIVOS E GÊNEROS TEXTUAIS: SISTEMATIZANDO E APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS.............................................28 2.1 Os gêneros na Antiguidade Clássica......................................................29 2.2 Gêneros discursivos e gêneros textuais:.................................................31 2.3 Gêneros discursivos................................................................................32 2.3.1 Bakhtin e os estudos sobre os gêneros discursivos.........................32 2.3.3 A teoria dos gêneros em Marcuschi ...............................................47 2.3.4 A teoria dos gêneros em Bazerman.................................................51 UNIDADE 3......................................................................................................54 TIPOS TEXTUAIS E SUPORTES TEXTUAIS...............................................54 3.2 Analisando os tipos textuais....................................................................65 3.3 Os suportes textuais................................................................................82 UNIDADE 4 ....................................................................................................86 GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS NA ESCOLA: MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM...............................86 4.1 A utilização das sequências didáticas para o estudo dos gêneros textuais em sala de aula..............................................................................................97 4.3 Construindo a sequência didática........................................................100 REFERÊNCIAS..............................................................................................113 4
  • 5. Gêneros textuais e discursivos UNIDADE 1 TEXTO, CONTEXTO E DISCURSO 5
  • 6. Gêneros textuais e discursivos 1.1 Texto e Discurso Ao interagirem por meio da língua, os sujeitos sociais produzem discursos, ou seja, praticam ações verbais dotadas de intencionalidade. Os discursos produzidos se manifestam por meio de textos. Mas... Nesta unidade, trataremos da noção de texto, contexto e discurso a fim de compreendermos o tema central de nosso estudo: a questão dos gêneros textuais e discursivos. Primeiro, vamos refletir sobre algumas questões: • Para quê produzimos textos? • Como os textos circulam socialmente? • Uma palavra pode ser considerada um texto? A primeira pergunta pode ser respondida da seguinte forma: produzimos textos para interagir com alguém. Nós, seres humanos, nos diferenciamos de outras espécies por nossa capacidade de linguagem. “Na” e “pela” linguagem nos constituímos e nos construímos como sujeitos sociais. A faculdade de linguagem pode ser entendida como uma característica própria e diferenciadora da espécie humana. Ao utilizarmos a linguagem, estamos utilizando um conjunto de recursos que nos permitem expressar sentimentos, opiniões, crenças, desejos, etc. Podemos nos valer de gestos, de cores, de expressão facial; podemos empregar a linguagem matemática, a dança, a música, e etc. Podemos, também, nos valer de uma outra dimensão da linguagem: a verbal, isto é, a linguagem que se estrutura e se organiza através da palavra, seja falada, seja escrita. Essa dimensão da linguagem é compreendida como língua. Assim, quando contamos uma piada a um amigo, ou quando deixamos um bilhete 6
  • 7. Gêneros textuais e discursivos escrito para avisar, por exemplo, que iremos nos atrasar para chegar em casa, usamos a língua/ linguagem com uma intenção comunicativa: produzir humor, no caso da piada, e avisar sobre o atraso, considerando-se o bilhete. Quando utilizamos a linguagem nós produzimos discursos. Segundo Maingueneau (2001), o termo discurso possui diversos sentidos. Podemos dizer “o presidente fez um discurso”, “tudo isso é só discurso”, o discurso islâmico”, “ o discurso dos jovens”, etc. Trata-se, segundo Maingueneau, de empregos usuais, comuns. Assim, o termo discurso pode se referir a um enunciado solene (“o presidente fez um discurso sobre o bolsa família”), a uma fala inconsequente (“o Brasil erradicou a pobreza”) e o conjunto de textos produzidos em um dado sistema (“discurso comunista”). Nas ciências da linguagem, o termo discurso surgiu aliado a uma concepção de linguagem como atividade interativa. Nessa concepção, há um conjunto de fatores que nos orientam na compreensão dos dizeres, dos textos, enfim, dos usos que fazemos da língua. Trata-se de uma série de fatores reunidos sob o rótulo da pragmática. Quando falamos em pragmática, estamos nos referindo a um conjunto de fatores que consideram não só a materialidade linguística, mas também uma dimensão mais ampla da língua (os interlocutores, os objetivos, o contexto sócio histórico cultural, etc). Para fazer referência às produções verbais, orais ou escritas, não dispomos apenas do termo discurso: utilizamos também os termos enunciado, frase e texto. O enunciado é compreendido como uma unidade básica da comunicação verbal, uma sequência dotada de sentido e sintaticamente completa, considerando-se, ainda, o contexto em que foi produzido. Essa noção de enunciado opõe-se à noção de frase, em que uma sequência linguística é analisada fora de contexto. Vejamos: 7
  • 8. Gêneros textuais e discursivos Figura 1: Vagas de emprego Fonte: http://presencaonline.com/wp-content/uploads/2012/07/h%C3%A1-vagas.png Figura 2: Disponibilidade para namoro Fonte: http://www.vibeflog.com/carlagomes2009/p/25684287 Figura 3: Vagas para deficientes Fonte: http://adjcomunicacao.files.wordpress.com/2010/06/arte-ha-vagas.jpg? w=250&h=181 8
  • 9. Gêneros textuais e discursivos A expressão “Há vaga(s)” pode ser considerada como uma frase se a considerarmos fora de uma situação comunicativa, de um contexto comunicacional. Mas, se inscrita na recepção de uma empresa, ou se nos referimos a uma condição de pessoa que está sem namorado(a), ou se essa inscrição aparece acompanhada de um símbolo de um cadeirante, consideramos que temos três enunciados distintos, uma vez que considerados os aspectos linguísticos e também a situação de comunicação. Essa acepção de enunciado possui um sentido equivalente ao de texto. Quando empregamos o termo texto, estamos nos referindo a produções verbais orais ou escritas, produzidas como um todo, como uma totalidade coerente. Consideramos que há interlocutores que procuram interagir em um determinado contexto, com uma intenção comunicativa. Voltaremos a essa questão. Para compreendermos a relação entre texto e discurso, vamos analisar o texto a seguir: O CAPITALISMO MAIS REACIONÁRIO Tragédia em um ato Personagens - o patrão e o empregado Época - atual ATO ÚNICO Empregado - Patrão, eu queria lhe falar seriamente. Há quarenta anos que trabalho na empresa e até hoje só cometi um erro. Patrão - Está bem, meu filho, está bem. Mas de agora em diante tome mais cuidado. (Pano bem rápido) 9
  • 10. Gêneros textuais e discursivos O texto “O capitalismo mais reacionário”, de Millôr Fernandes, trata da questão das relações de trabalho entre empregado e patrão. O título Tragédia em um ato, já nos deixa antever o final da história. A fala do patrão, embora se refira ao empregado como “meu filho”, traz a presença de uma voz social, presente em uma ideologia capitalista, cujo sentido é o de que o empregado não pode errar e de que precisa tomar mais cuidado. Embora, explicitamente, não haja uma ameaça de demissão, tal ameaça pode ser inferida se considerarmos não só a palavra “tragédia” presente no título, mas também o nosso conhecimento sobre os pilares do capitalismo, sistema que busca o lucro acima de tudo. Há, no texto, um discurso capitalista e as posições sociais são bem definidas: o patrão e o empregado. O termo discurso, nesse sentido, refere-se ao uso da língua em um contexto específico, ou seja, à relação entre os usos da língua e os fatores extralinguísticos presentes no momento em que esse uso ocorre. Por isso, o discurso é o espaço da materialização das formações ideológicas, sendo por elas determinado. Nesse sentido, pode ser visto como uma abstração, porque corresponde à “voz” de um grupo social. (ABAURRE; ABAURRE, 2007, p. 10). Assim, há o discurso capitalista, o discurso ambiental, o discurso feminista, o discurso nacionalista, etc. Tais discursos se sustentam em sistemas sociais de representações, de normas, de regras, de preceitos e de valores que procuram explicitar a realidade e regular comportamentos. Esses sistemas sociais são como filtros que organizam uma cultura e mesmo que não percebamos a existência desses filtros, eles estão sempre presentes e é por esses filtros que avaliamos a realidade em que estamos inseridos. Tais sistemas sociais são as formações ideológicas, um conjunto de valores e de crenças que permeia a sociedade em dado momento sócio histórico. Vejamos o texto publicitário, a seguir, para compreendermos 10
  • 11. Gêneros textuais e discursivos melhor essa questão: Fonte: http://blogs.estadao.com.br/reclames-do-estadao/2010/08/11/sua-mulher-vai- bater-o-fusca/ A propaganda anterior foi veiculada para um determinado público- alvo e argumenta que uma das razões para que o homem adquira um Volkswagen é o fato de que um dia, “mais cedo ou mais tarde sua esposa vai dirigir”. O texto é construído a partir das vantagens e das facilidades para se trocar peças do Volkswagen. Há um discurso presente: o fato de que mulher não sabe dirigir e que pode bater o carro, amassar o capô, soltar o para-choque. etc. Tal discurso perdurou durante muito tempo e ainda faz parte da crença de alguns que saem com piadinhas como: “mulher no volante, perigo constante” ou “mulher não precisa tirar carteira para ser piloto de 11
  • 12. Gêneros textuais e discursivos fogão”. Claro que se considerarmos o momento atual, veremos que muitas seguradoras de automóveis têm preços mais atraentes para as mulheres uma vez que há dados que comprovam o menor envolvimento do sexo feminino em acidentes com carros. Mas, a piadinha não deixa de estar alicerçada em uma crença, ou em uma ideologia sobre a mulher. Trata-se, portanto de uma formação ideológica. As diferentes visões de mundo/formação ideológica sobre determinado referente (mulher, homem, empregado, patrão) se materializam nos textos através da linguagem. A cada formação ideológica corresponde uma formação discursiva. Uma formação discursiva pode ser compreendida como um conjunto de temas (categorias ordenadoras do mundo natural: alegria, medo, vergonha, solidariedade, honra, liberdade, opressão, etc.) e de termos (elementos que estabelecem uma relação com o mundo natural: mesa, carro, árvore, mulher, etc.) que concretizam uma visão de mundo específica. (ABAURRE; ABAURRE, 2007, p.07) Em outros termos: as formações discursivas são formações componentes das formações ideológicas. Cada visão de mundo está ligada a um contexto mais amplo, que envolve discussões sociais, políticas, religiosas, etc. Desse modo, uma formação ideológica não é a atitude de uma pessoa, mas é um conjunto de representações que estão ligadas a determinada classe/grupo social. Quando interagimos com alguém, interagimos por meio de textos, ou seja, nosso discurso se materializa no texto. Produzimos textos orais (conversa, telefonema), textos escritos (bilhete, relatório, carta) e textos que congregam várias semioses (no e-mail podemos empregar cores, emoticons, etc) com a finalidade de alcançar determinado efeito de sentido. Para convencer, podemos empregar um 12
  • 13. Gêneros textuais e discursivos discurso mais autoritário ou mais sedutor. Vai depender do nosso interlocutor, da situação comunicativa, das crenças e dos valores que nos orientam. Enfim, há uma série de fatores que interferem nos modo de dizer, ou de produzir um texto. Socialmente, os textos que produzimos circulam em padrões mais ou menos estabelecidos, em formas que foram construídas em um processo histórico e cultural, considerando-se as tecnologias disponíveis em cada época, as necessidades sócio-comunicativas dos sujeitos sociais. Por exemplo: a carta e o telegrama dividem espaço com o e-mail. Os diários e os álbuns de fotografias convivem com os blogs e com o facebook. Essa discussão sobre os textos será objeto de estudo na próxima seção. Agora, iremos refletir sobre o que estudamos, a partir das atividades propostas. ATIVIDADES 1.Assista aos vídeos indicados a seguir e reflita: Por que grandes empresas aderiram ao discurso ambiental e sustentável? O que está em jogo? Vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=soStcC3c_TE Vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=G2mPJdeSypM&feature=endscreen Vídeo 3: https://www.youtube.com/watch?v=StTLavxzpac Produza um artigo de opinião em que você discuta a adesão ao discurso ambiental e sustentável de grandes empresas. 2. A seguir, apresentamos alguns textos (letra de música, soneto e uma propaganda) produzidos em diferentes momentos e que foram construídos a partir de determinadas representações sobre a mulher. Analise, em cada texto, o tema e os temos (ou imagens) correspondentes à formação ideológica por ela representada. Para orientá-lo (a), busque informações sobre o texto e o contexto em que foi produzido. Finalmente, faça um texto discutindo as diferentes 13
  • 14. Gêneros textuais e discursivos representações/discursos sobre a mulher, a partir das análises efetuadas. Socialize as suas discussões com os colegas. Ai, que saudades da Amélia Roberto Carlos Nunca vi fazer tanta exigência Nem fazer o que você me faz Você não sabe o que é consciência Nem vê que eu sou um pobre rapaz Você só pensa em luxo e riqueza Tudo que você vê você quer Ai, meu Deus, que saudade da Amélia Aquilo sim é que era mulher Às vezes passava fome ao meu lado E achava bonito não ter o que comer E quando me via contrariado Dizia: Meu filho, que se há de fazer Amélia não tinha a menor vaidade Amélia é que era mulher de verdade Amélia não tinha a menor vaidade Amélia é que era mulher de verdade Às vezes passava fome ao meu lado E achava bonito não ter o que comer E quando me via contrariado Dizia: Meu filho, que se há de fazer Amélia não tinha a menor vaidade Amélia é que era mulher de verdade Amélia não tinha a menor vaidade Amélia é que era mulher de verdade Disponível em: http://letras.mus.br/roberto-carlos/87939/ A D. ÂNGELA Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor e Anjo juntamente: Ser Angélica flor e Anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara? Quem vira uma tal flor que a não cortara De verde pé, da rama florescente; E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara? 14
  • 15. Gêneros textuais e discursivos Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu Custódio e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo que me tenta, e não me guarda. Gregório de Matos Fonte: http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/ Show das Poderosas Anitta Prepara que agora É a hora do show das poderosas Que descem e rebolam Afrontam as fogosas só as que incomodam Expulsam as invejosas Que ficam de cara quando toca Prepara Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei Quando começo a dançar eu te enlouqueço, eu sei Meu exército é pesado e a gente tem poder 15
  • 16. Gêneros textuais e discursivos Ameaça coisa do tipo: Você Vai! Solta o som, que é pra me ver dançando Até você vai ficar babando Pare o baile pra me ver dançando Chama atenção à toa Perde a linha, fica louca http://letras.mus.br/mc-anitta/show-das-poderosas/ Após as atividades, vamos continuar nossa conversa. O que vem a ser um texto? Uma palavra pode ser considerada texto? Reflita sobre essas questões e anote a resposta em seu caderno. 1.2 Texto Etimologicamente, a palavra texto origina-se do latim textum, que significa tecido, entrelaçamento. Tecer um texto significa “trançar os fios das palavras”. Definir o que é um texto, embora pareça fácil, mostra-se uma tarefa complexa, uma vez que esta noção varia de acordo com a corrente teórica que se adote e também com noções como língua e linguagem. Assim, um texto já foi considerado como “frase complexa”, como “signo complexo”, como “ato de fala complexo”, como “produto acabado de uma concepção discursiva”, como “meio específico de realização da comunicação verbal”, como “processo que mobiliza operações e processos cognitivos”, como “o lugar de interação entre atores sociais e de construção interacional de sentidos” (KOCH, 2006, p. 34). Consideramos, embasados em Koch e Travaglia (2000), que o texto é uma unidade linguística concreta, que é tomada pelos usuários da língua (falante/ouvinte, escritor/leitor) em uma situação de interação, como uma unidade de sentido completo que preenche uma função comunicativa. Vejamos um exemplo: 16
  • 17. Gêneros textuais e discursivos Fonte: http://cardosinho.blog.br/wp-content/uploads/2011/06/charge-duke-para-o- tempo.jpg A charge é um texto que circula com a finalidade de criticar, usando como estratégia o humor. Trata-se de função social. Todo texto, ao circular socialmente, procura cumprir uma função. Na charge acima, o tema tratado é o desvio de verbas por parlamentares. Ao lermos o primeiro quadrinho causa-nos estranheza o fato de o parlamentar afirmar que nunca fez caixa 2, que nunca aceitou propina e que nunca desviou verbas. Por que a estranheza? Ora, se o objetivo da charge é o de criticar, o que haveria de errado em encontrarmos políticos honestos? Que crítica estaria sendo produzida? Ao lermos o segundo quadrinho nosso estranhamento se desfaz e achamos graça no texto, pois a afirmação “meu único defeito é falar mentira” nos faz reconstruir o sentido de tudo que o parlamentar afirmou no primeiro quadrinho e percebemos que ele já aceitou propina, já fez caixa 2, e, também que é mentiroso. Lembramo-nos dos desvios de verba, do dinheiro na mala, na cueca, dos caixas 2, tão divulgados em nosso país, e percebemos uma crítica a alguns parlamentares e a alguns políticos que nos representam. 17
  • 18. Gêneros textuais e discursivos IMPORTANTE Qualquer enunciado, de qualquer tamanho, pode ser considerado um texto. Para tanto, precisará preencher uma função comunicativa, em uma situação específica de interlocução. O texto – oral ou escrito – é composto por enunciados que, articulados entre si, podem fazer sentido numa dada situação comunicativa, considerando-se os elementos de contextualização. Assim, na construção do sentido é preciso considerar os fatores pragmáticos, isto é, quem produziu o texto, com qual o objetivo, para qual leitor, em que gênero, onde e em que suporte circulará o texto final. Tais considerações deixam à mostra duas premissas: 1- Não existe sentido pronto no texto; 2- Na produção de sentido é necessário considerar não só a materialidade linguística (as palavras, as imagens, cores, etc.) mas também o contexto (condições de produção) e o nosso conhecimento prévio. Em síntese: o sentido não está dado no texto, mas é produzido pelo leitor em cada evento de uso de uso da língua. Embora produza o sentido, o leitor não é livre para produzir qualquer sentido. Como seres socioculturais, nós, os integrantes de uma mesma cultura partilhamos conhecimentos, crenças, valores. Partilhamos conhecimentos linguísticos, textuais, pragmáticos, etc. Assim, o sentido construído é dependente do contexto sócio histórico cultural em que estamos inseridos. Atualmente, é preciso considerar que a globalização e as tecnologias da informação e comunicação têm possibilitado a produção 18
  • 19. Gêneros textuais e discursivos de textos que congregam várias linguagens ou semioses. São os chamados textos multimodais e ou multissemióticos. A expressão “multimodal” e ou “multissemiótico” acompanhando o termo texto engloba, não apenas, aspectos visuais como fotografias, desenhos, pinturas, caricaturas, mas também a própria disposição gráfica do texto no papel ou na tela do computador. O termo refere-se, portanto, aos textos que congregam, em sua constituição, vários recursos semióticos: sons, escrita, imagens, cores, ícones (emoticons). 1.3 Texto e Contexto Sempre que lemos um texto precisamos ficar atentos às circunstâncias de produção que o envolvem. De forma mais específica, precisamos ficar atentos ao contexto em que o texto se insere. Mas o que vem a ser o contexto e qual sua importância? Na leitura e na produção de sentido, é preciso que o leitor considere uma série de fatores. Vamos imaginar que, em uma recepção de uma clínica, encontra-se pendurada uma placa com os seguintes dizeres: Fonte: http://paolocazu.blogspot.com.br/2009/07/e-proibido-fumar-partir-de-6-de- agosto.html Qualquer falante nativo do português sabe que, nesta situação, há claramente uma intenção, por parte dos proprietários da clínica, de 19
  • 20. Gêneros textuais e discursivos que esse texto seja lido e entendido como uma norma a ser seguida e que a não-observância dessa regra pode provocar uma repreensão verbal ao infrator. Agora, imaginemos que o enunciado/texto “Proibido fumar” tenha sido escrito em uma parede de uma galeria de arte, com um spray de cor preta. E imaginemos que, ao lado desse texto, apareçam outras proibições como “Proibido beber”, “Proibido viver”, etc. e, com spray colorido, estivesse a seguinte inscrição na parede “É proibido proibir”. Os visitantes da galeria, acostumados com exposição de arte, provavelmente, não entenderiam o texto “Proibido fumar” como uma proibição explícita ao fumo, tal como interpretariam na situação da clínica. Na compreensão de um texto, os falantes mobilizam um conjunto de conhecimentos para produzir sentido para o que leem ou ouvem. De um modo geral, consideram: • A materialidade linguística, isto é, o conjunto se palavras e de imagens e o modo como estão articuladas; • Os conhecimentos prévios sobre normas sociais e sobre o ambiente em que estão inseridos (uma clínica ou uma galeria, por exemplo); • A intenção comunicativa de quem o produziu: instituir uma norma ou provocar uma reflexão de caráter estético. Vamos analisar outro texto: 20
  • 21. Gêneros textuais e discursivos Fonte: http://pontoecontraponto.com.br/category/lingua-portuguesa/ 21
  • 22. Gêneros textuais e discursivos Na leitura desse texto, precisamos considerar: • A materialidade linguística que constitui o texto: os elementos verbais (palavras, tamanho das letras), as cores, os números que definem uma sequência para a leitura, o logotipo, as instituições envolvidas, etc. • O gênero textual cartaz de campanha e sua função social: orientar, informar e instruir sobre o tema; • O tema proposto relativo à proibição legal de dirigir após consumo de bebida alcoólica; • O público-alvo para o qual o texto se dirige: motoristas jovens. • A instituição social de onde esse “discurso” partiu. Trata- se de um discurso institucional que emanou de um poder público. • A data de veiculação (após a “lei seca”) e o meio em que o texto foi veiculado. Todos os elementos elencados nos exemplos anteriores fazem parte do contexto em que o texto foi produzido. O termo contexto possui vários sentidos. No início dos estudos sobre o texto, o termo contexto referia-se ao entorno verbal, isto é, ao contexto linguístico. No caso, por exemplo, do seguinte trecho “pegar carona com a gatinha que não bebeu pega muito bem”, o termo bebeu deve ser entendido em relação à gatinha, que se encontra no início do período. Aos poucos, o conceito de contexto ampliou-se para dar conta de uma série de fatores que interferem na produção de sentido, uma vez que a linguagem se insere no interior de uma cultura, marcada por tradições, por crenças, por costumes. Assim, o contexto engloba não só o contexto linguístico (também chamado de cotexto) mas também a situação de interação imediata, ou o entorno social, político e cultural em que o texto foi produzido. Engloba, ainda, um conjunto de saberes que são compartilhados pelos falantes ( saberes linguísticos, de 22
  • 23. Gêneros textuais e discursivos mundo, sobre os textos, sobre as regras sociais etc.). IMPORTANTE O termo contexto refere-se, portanto: • ao cotexto, isto é, as sequências verbais encontradas antes ou depois da unidade/palavra que queremos interpretar no interior do mesmo texto. • ao ambiente físico, ou o contexto situacional. Por exemplo, unidades como “eu”, você”, “aqui” podem ser interpretadas pelo contexto situacional da interação. • aos saberes anteriores, isto é, os conhecimentos prévios que possuímos. Por exemplo, sabemos que a lei seca foi instituída no país recentemente. Vamos agora responder a outra questão: qual a importância do contexto? Koch (2006) elenca os seguintes motivos que justificam a importância do contexto: a- Certos enunciados são ambíguos, mas o contexto permite fazer uma interpretação unívoca. b- O contexto permite preencher as lacunas do texto. Todo texto possui lacunas a serem preenchidas e o contexto nos permite preencher tais espaços. c- Os fatores contextuais podem alterar o que se diz. Por exemplo, se alguém diz “Que bonito!”, saberemos se se trata de um elogio ou de uma crítica pelo tom empregado. d- O contexto justifica por que se disse isso e não aquilo. Nosso dizer é escolhido de acordo com o contexto em que estamos inseridos. Seguimos as regras desse contexto e por isso dizemos que é o contexto que nos permite dizer o que dizemos. Vamos ler a charge a seguir para compreendermos a importância do contexto: 23
  • 24. Gêneros textuais e discursivos Fonte:http://venicios.blogspot.com.br/2009/11/apagao-no-congresso.html Essa charge foi publicada em 2009, após um apagão que ocorreu em diversos estados do país. Se observarmos a referência embaixo da charge perceberemos o ano 2009 e o número 11 (o apagão ocorreu em novembro de 2009). Nesse mesmo ano, diversos escândalos envolvendo o Congresso estavam presentes na mídia. Assim, na leitura da charge precisamos considerar a função social do gênero, a materialidade linguística (articulação entre o texto verbal e as imagens) e também o contexto extralinguístico (contexto sócio histórico) em que ela foi produzida. Para finalizar essa unidade e para sistematizar discussões, vamos ler um fragmento dos Parâmetros Curriculares Nacionais que tratam da articulação entre texto e discurso. O discurso, quando produzido, manifesta-se linguisticamente por meio de textos. O produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o texto, uma sequência verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras palavras, um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global. Caso contrário, não passa de um amontoado aleatório de 24
  • 25. Gêneros textuais e discursivos enunciados. A produção de discursos não acontece no vazio. Ao contrário, todo discurso se relaciona, de alguma forma, com os que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos, como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite. A esta relação entre o texto produzido e os outros textos é que se tem chamado intertextualidade. Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura. Interagir pela linguagem significa realizar uma atividade discursiva: dizer alguma coisa a alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico e em determinadas circunstâncias de interlocução. Isso significa que as escolhas feitas ao produzir um discurso não são aleatórias — ainda que possam ser inconscientes, mas decorrentes das condições em que o discurso é realizado. Quer dizer: quando um sujeito interage verbalmente com outro, o discurso se organiza a partir das finalidades e intenções do locutor, dos conhecimentos que acredita que o interlocutor possua sobre o assunto, do que supõe serem suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que têm, da posição social e hierárquica que ocupam. Isso tudo determina as escolhas do gênero no qual o discurso se realizará, dos procedimentos de estruturação e da seleção de recursos linguísticos. É evidente que, num processo de interlocução, isso nem sempre ocorre de forma deliberada ou de maneira a antecipar-se à elocução. Em geral, é durante o processo de produção que as escolhas são feitas, nem 25
  • 26. Gêneros textuais e discursivos sempre (e nem todas) de maneira consciente. Pensar em textos, orais ou escritos, como padrões recorrentes de linguagem nos remete a questões sobre os gêneros textuais e discursivos, conceito que será abordado na próxima unidade. IMPORTANTE • Os termos formação ideológica e formação discursiva estão ligados a estudos no campo da Análise do Discurso. • A formação ideológica tem como um de seus componentes uma ou várias formações discursivas. Assim, os discursos são regidos por formações ideológicas. ATIVIDADES Leia os textos abaixo para discutir o conceito de contexto. Texto 1: Propaganda 26
  • 27. Gêneros textuais e discursivos Fonte:http://vpatalano.blogspot.com.br/ Texto 2: Charge Após a leitura dos dois textos, produza um texto, mostrando qual a importância do contexto para a produção do sentido: 27
  • 28. Gêneros textuais e discursivos UNIDADE 2 GÊNEROS DISCURSIVOS E GÊNEROS TEXTUAIS: SISTEMATIZANDO E APROFUNDANDO OS CONHECIMENTOS 28
  • 29. Gêneros textuais e discursivos 2.1 Os gêneros na Antiguidade Clássica O estudo sobre os gêneros esteve, ao longo da história da humanidade e das investigações sobre a língua(gem), ligado, de alguma forma, à tentativa de classificação de diferentes aspectos da realidade, principalmente de fatos linguísticos. Assim, tanto o objeto de estudo em si (como a oratória, a literatura,...), quanto o modo de classificar os diferentes gêneros, assim como a determinação dos fatores predominantes nessa classificação, fizeram com que diferentes estudos, em diversos campos do conhecimento, surgissem e se desenvolvessem. Nesse contexto, podemos falar em gêneros retóricos, que estão ligados aos vários campos do saber desde a filosofia clássica. Aristóteles propôs, em Arte Retórica, a organização da oratória em três gêneros: a) o deliberativo (dirigido a um auditório que se tem a intenção de aconselhar ou dissuadir); b) o forense ou judiciário (orador acusa ou defende) e; c) o demonstrativo ou epidítico (discurso religioso ou de repreensão ao cidadão). Esses discursos seriam definidos pelas circunstâncias em que são produzidos, considerando a categoria dos seus ouvintes. Ainda na Antiguidade Clássica, a noção de gêneros passou a ser relacionar aos textos com valor social ou literário reconhecido. Assim, o recorte feito contemplou os gêneros literários classificando-os como líricos, épicos e dramáticos. Essa classificação associa os gêneros à representação do autor e dos personagens nas obras. Assim, as obras em que apenas o autor fala, pertenceriam ao gênero lírico; as em que autores e personagens têm direito à voz, ao gênero épico; e, ao gênero dramático estariam associadas as obras em que apenas os personagens falam. Essa divisão estava então fundamentada no modo de enunciação dos textos. Além disso, o gênero lírico estaria relacionado ao tempo presente, que corresponderia à categoria da recordação; o épico, ao passado, 29
  • 30. Gêneros textuais e discursivos correspondendo à categoria da apresentação; e o dramático, ao futuro, correspondendo à categoria da tensão. Em momento bem posterior, no início do século XX, por volta da segunda década, com o Formalismo Russo o estudo dos gêneros ocupa posição de destaque, momento em que se defenderam caráter evolutivo dos gêneros, considerando tanto o seu desenvolvimento quanto sua história literária como um processo dinâmico. Para os formalistas, essa evolução ocorreria nos aspectos constitutivos do gênero, isto é, forma e função (uma nova forma surgiria uma vez que a antiga teria esgotado suas possibilidades de exercer determinada função), ao mesmo tempo em que seria uma resposta ao surgimento de novos gêneros e/ou ao desenvolvimento de outros. Nesse sentido, um gênero seria sempre a transformação de outro gênero anteriormente existente, por inversão, deslocamento ou combinação. Todorov (1980) destaca a dificuldade da definição de gênero na literatura moderna, afirmando que não há nada que determine seu lugar ou sua forma. Assim, os gêneros existem como uma instituição, revelando traços constitutivos da sociedade à qual pertencem, funcionando como "horizontes de expectativa" para leitores e como "modelos de escritura para autores" (p. 163). Todorov (1980), procurando definir a origem dos gêneros, diz que De onde vêm os gêneros? Pois bem, simplesmente de outros gêneros. Um novo gênero é sempre a transformação de um ou de vários gêneros antigos: por inversão, por deslocamento, por combinação. Um “texto” de hoje (também isso é um gênero num de seus sentidos) deve tanto à “poesia” quanto ao romance” do século XIX, do mesmo modo que a “comédia lacrimejante” combinava elementos da comédia e da tragédia do século precedente. Nunca houve literatura sem gêneros; é um sistema em contínua transformação e a questão das origens não pode abandonar, historicamente, o terreno dos próprios gêneros: no tempo, nada há de “anterior” aos gêneros (TODOROV, 1980, 46). 30
  • 31. Gêneros textuais e discursivos Podemos perceber que a noção de gêneros, no decorrer da história, esteve sujeita aos diferentes estágios do desenvolvimento do pensamento teórico, em variadas áreas do conhecimento, até chegar à atualidade, quando pesquisadores se ocupam da caracterização do chamado cibergênero (ARAÚJO, 2003). Alguns gêneros presentes na Antiguidade foram se modificando de acordo com as demandas sociais, com as tecnologias e com a cultura. Atualmente, interessa-nos uma discussão que perpassa os estudos da linguagem: a questão dos gêneros discursivos e dos gêneros textuais. 2.2 Gêneros discursivos e gêneros textuais: Os termos gênero discursivo e gênero textual ganham destaque no cenário dos estudos sobre ensino de língua portuguesa, sobretudo a partir das diretrizes apresentadas pelos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao postularem que (...) a unidade básica do ensino só pode ser o texto. Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas. (BRASIL, p. 23) Entretanto, se há uma clareza em relação à orientação de que o texto deve se constituir como a unidade de ensino e o gênero como objeto de ensino, a noção de gênero encontra-se presente em um terreno em que os termos discursivo e textual precisam ser explicitados. Esses conceitos estão inseridos em vertentes teóricas distintas, mas que possuem em comum as 31
  • 32. Gêneros textuais e discursivos bases dos estudos de Bakhtin. Segundo Rojo (2005) (...) a primeira – teoria dos gêneros do discurso – centrava- se sobretudo no estudo das situações de produção dos enunciados ou textos e em seus aspectos sócio-históricos e a segunda – teoria dos gêneros de textos - na descrição da materialidade textual. (ROJO 2005, 185) Rojo (2005) esclarece que os trabalhos que adotam a teoria de gêneros de texto buscam analisar elementos da materialidade relativos à estrutura ou forma composicional, noções articuladas à linguística textual. Por sua vez, os trabalhos que adotam a vertente discursiva tendem a selecionar em suas análises os aspectos da materialidade linguística relativos à situação da enunciação, ou discursiva, sem buscar esgotar os aspectos linguísticos ou textuais. A seguir, discutiremos com mais detalhamento a noção de gêneros discursivos e a de textuais. 2.3 Gêneros discursivos 2.3.1 Bakhtin e os estudos sobre os gêneros discursivos Grande parte dos estudos atuais sobre os gêneros buscam em Bakhtin uma base de sustentação. Teórico da literatura, Bakhtin tornou- se autor de destaque nos estudos contemporâneos. Para o autor, a língua é de natureza social e seu estudo deve dar conta da significação completa. A palavra não existe fora de contexto social e os falantes servem-se da língua para suas necessidades comunicativas, pois Na prática viva da língua, a consciência linguística do locutor e do receptor nada tem a ver com um sistema abstrato de formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido de conjunto de contextos possíveis de uso de cada forma particular (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992, p,25) 32
  • 33. Gêneros textuais e discursivos Para Bakhtin, a língua não pode ser considerada como um conjunto abstrato de normas e de regras imutáveis e não existe falante e nem enunciado individualizado. Falante e ouvinte são sujeitos sociais, históricos e inseridos numa cultura. Esses sujeitos se constituem nas relações sociais das quais participam e nas interações que estabelecem com o outro através da linguagem e dos enunciados que produzem. Esses enunciados pressupõem enunciados que o precederam e outros que lhe sucederão, constituindo, assim, um verdadeiro diálogo. Em outras palavras: na interação, todo discurso concreto se entrelaça a outros discursos, a outras vozes e a outros pontos de vista, constituindo uma rede ampla de diálogos. Segundo o autor, o objeto de discurso de um locutor concentra em si uma pluralidade de vozes. Assim: O enunciado existente, surgido de maneira significativa num determinado momento social e histórico, não pode deixar de tocar os milhares de fios dialógicos existentes, tecidos pela consciência ideológica em torno de um dado objeto de enunciação, não pode deixar de ser participante ativo do diálogo social. (BAKHTIN, 1998, p. 86) O discurso, segundo Bakhtin, nasce do diálogo. O termo diálogo, na acepção bakhtiniana, refere-se a toda comunicação verbal e deve ser compreendido em um sentido amplo, isto é, como propriedade intrínseca à linguagem e não apenas como uma comunicação face a face. Todo texto dialoga com outros textos; toda cultura dialoga com outras culturas. Por isso, na interpretação de um texto é preciso considerar esses fios dialógicos que se entrecruzam a outros fios produzidos. Todorov nos esclarece que: Um discurso não é feito de frases mas de frases enunciadas, ou, resumidamente, de enunciados. Ora, a interpretação é determinada, por um lado, pela frase que se enuncia, e por outro, por sua própria enunciação. Esta enunciação inclui um locutor que enuncia, um alocutário a quem se dirige, um tempo e um lugar, um discurso que 33
  • 34. Gêneros textuais e discursivos precede e que se segue; enfim, um contexto de enunciação. (TODOROV, 1980, p. 27) Partindo da interação entre língua e sociedade, Bakhtin afirma que, em cada uma das esferas sociais, ou domínios discursivos, existem “tipos relativamente estáveis de enunciados”- os gêneros do discurso. Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p.277) Bakhtin usa o termo “esferas sociais” ou campo de utilização da língua para se referir aos espaços sociais das atividades humanas. Assim, há a esfera científica, a literária, a religiosa, a jurídica, a acadêmica, a familiar, a jornalística etc. e em cada uma dessas esferas existem necessidades comunicativas específicas. Cada uma dessas esferas possui, segundo Bakhtin, os “tipos relativamente estáveis de enunciados”. Esses enunciados estão inseridos nessas esferas sociais e, portanto, refletem aspectos temporais, históricos dessa esfera. Refletem ainda a finalidade e as condições de produção específicas dessas instituições. Por exemplo, na esfera religiosa circulam ladainhas, salmos, evangelhos e orações, entre outros, que abordam conteúdos como súplicas de perdão, ensinamentos, doutrinações e pecado. Por sua vez, na jurídica encontraremos conteúdos temáticos relativos à normatização e regulamentação de condutas sociais, a sanções e assim por diante. Na esfera literária, encontramos poemas, contos, romances que tratam de assuntos diversos. Para Bakhtin: “as formas da língua e as formas típicas de enunciados, isto é, os gêneros do discurso, introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente. (...) Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque 34
  • 35. Gêneros textuais e discursivos falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras). Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gênero, adivinhar-lhe o volume (extensão aproximada do todo discursivo), a dada estrutura composicional, prever-lhe o fim, ou seja, desde o início, somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no processo da fala, evidenciará suas diferenciações. Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível.” (BAKHTIN, 2003, p. 302) Assim, numa situação comunicativa, quando algum dos participantes começa seu dizer afirmando “agora vou contar uma de português”, imediatamente nos preparamos para ouvir uma piada e sabemos que o objetivo do participante é o de produzir humor. Por isso, Bakhtin afirma que moldamos nossa fala e nossa escuta a essas formas relativamente de enunciados e que se não houvesse os gêneros discursivos a comunicação verbal seria quase impossível. Os gêneros do discurso ou gêneros discursivos estão intrinsecamente ligados à esfera de comunicação do qual fazem parte e refletem as condições específicas e as finalidades dessas esferas através de três elementos básicos, a saber: 35
  • 36. Gêneros textuais e discursivos a- Conteúdo temático: A expressão conteúdo temático refere-se aos temas das diferentes atividades humanas, ou seja, o assunto de que vai tratar o enunciado em questão. Trata-se de um domínio de sentido. Por exemplo, vejamos como o tema aquecimento global é tratado em esferas distintas. Texto 01 Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://3.bp.blogspot.com. Texto 02 O aquecimento global é uma consequência das alterações 36
  • 37. Gêneros textuais e discursivos climáticas ocorridas no planeta. Diversas pesquisas confirmam o aumento da temperatura média global. Conforme cientistas do Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento pode parecer insignificante, mas é suficiente para modificar todo clima de uma região e afetar profundamente a biodiversidade, desencadeando vários desastres ambientais. Texto 3 Os textos 01, 02 e 03, embora tratem do mesmo assunto, são provenientes de diferentes instâncias. Assim, o texto 01 busca produzir humor e ao mesmo tempo propõe uma reflexão; o texto 02 busca informar sobre o aquecimento global e o texto 03 explora as multiplicidades da linguagem poética. b- Estrutura composicional: A estrutura composicional corresponde ao modo de estruturar o texto. Cada gênero apresenta uma determinada estrutura. Assim, uma carta possui indicação do local e da data em que essa foi escrita, a saudação e o nome da pessoa para quem se escreve, o texto propriamente dito, a despedida e o nome de quem escreve. Uma receita apresenta o título, ingredientes e modo de fazer. Vejamos: 37
  • 38. Gêneros textuais e discursivos Além desse aspecto estrutural, o termo estrutura composicional recobre a organização da narração, por exemplo, que se estrutura em torno de equilíbrio inicial, conflito, clímax e resolução do conflito; por sua vez, o artigo de opinião se organiza em torno de um ponto de vista (tese) e de argumentos que sustentem essa posição. c- Estilo de linguagem: o estilo de linguagem corresponde à seleção dos recursos linguísticos (vocabulário, estrutura sintática, escolha lexical, etc.) que serão empregados em função da esfera em que o gênero circulará. Assim, o vocabulário poderá ser mais formal o menos formal, poderá apresentar termos técnicos de determinada área de conhecimento, por exemplo. A estrutura sintática, por sua vez, poderá privilegiar uma sintaxe mais simples ou com estrutura mais complexa, exemplificada por períodos mais longos. As classes de palavras, como conjunções, verbos, nomes (adjetivos e substantivos) também estão inseridas no estilo de linguagem. Até mesmo questões relacionadas à paragrafação e à pontuação estão relacionadas ao estilo de linguagem 38
  • 39. Gêneros textuais e discursivos para que um gênero atenda às finalidades comunicativas a que se propõe. Vejamos na receita acima o uso dos verbos. Você observou que na primeira parte (ingredientes) não há a presença de verbos? E que na segunda parte (modo de fazer) os verbos estão no infinitivo (colocar, bater, juntar, servir, etc.). Geralmente, no gênero receita, os verbos são empregados como no exemplo acima, ou então no imperativo (coloque, bata, junte, sirva etc.), pois tal gênero, como objetiva instruir o leitor, traz sequências injuntivas. Para tirar a dúvida, vamos ler o texto a seguir, que circulou na internet. O texto brinca com estilo de linguagem de um texto científico. Enquanto faz a leitura, preste atenção no vocabulário, na estrutura sintática, nos tempos e modos verbais, etc. Vá fazendo anotações e marcando trechos que achar interessante. COMO SIMPLIFICAR UM TEXTO CIENTÍFICO Beto Holsel http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/jokes/simpl-texto.html Muitos textos científicos são escritos numa linguagem de difícil compreensão para o grande público. Torna-se necessário traduzi-los para torná-los mais acessíveis ou, pelo menos, para uma difusão mais extensiva da profundidade do pensamento científico. Isto pode ser feito com aplicação de um método engenhoso que consiste na reunião de conceitos fragmentados em outros mais abrangentes que, numa sucessão progressiva de sínteses - ou estágios - reduzem a complexidade do texto original até o nível de compreensão desejado. Se estas colocações parecem ainda obscuras ou abstratas - o que mostra que são científicas - um exemplo muito simples ilustrará o método e facultará ao leitor esperto praticá-lo em outros textos. O exemplo que daremos a seguir é o de um texto altamente informativo em que são discerníveis elementos de Química, Física, Botânica, Geometria e outras disciplinas. Como se verificará, entretanto, essa massa de compreensão pode ficar mais próxima. Ao final do quinto estágio, surgirá, clara e límpida, a síntese mais refinada daquele texto, antes incompreensível, que brilhará singela e cristalina, evidenciando a eficácia do nosso método. TEXTO ORIGINAL O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar 39
  • 40. Gêneros textuais e discursivos que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo a impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no líquido nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifica, Linneu. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em consequência da pequena deformidade que lhe é peculiar. PRIMEIRO ESTÁGIO A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco- piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente ao paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em consequência da aplicação de compressões equivalentes e opostas. SEGUNDO ESTÁGIO O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão. TERCEIRO ESTÁGIO Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel. Porém não muda de forma quando pressionado. QUARTO ESTÁGIO Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível. QUINTO ESTÁGIO Rapadura é doce, mas não é mole. Agora responda: A qual conclusão você chegou sobre o estilo de linguagem empregado no texto lido? Como dito, o texto acima brinca com a linguagem. Mas o que queremos que você tenha observado é a exploração dos recursos de linguagem – estilo – em cada uma das etapas. Se observarmos o primeiro parágrafo (texto original), verificamos que os períodos são mais longos e complexos, a seleção lexical (palavras) contempla termos técnicos como “arestas retilíneas”, Saccharus officinarum, “papilas gustativas”, etc. Tais recursos são adequados aos gêneros que 40
  • 41. Gêneros textuais e discursivos circulam no espaço acadêmico e científico. À medida em que o texto se desenvolve, as mudanças vão ocorrendo em toda a estrutura textual (vocabulário, extensão etc.) e, ao fina,l temos um provérbio, em um estilo de linguagem mais simples com frases curtas e a presença da repetição. Bakhtin (2003) ressalta, ainda, a natureza heterogênea dos gêneros do discurso (orais e escritos) e classifica-os como primários e secundários. Enquanto os gêneros primários se caracterizam por serem construídos em situações comunicativas verbais espontâneas, tais como cumprimentos, elogios, bate-papos informais, conversas telefônicas, etc. os secundários estão presentes em situações comunicativas culturais mais complexas, e envolvem a escrita. Entretanto, esta classificação não coloca os gêneros em compartimentos fechados, uma vez que os gêneros primários podem tornar-se componentes dos gêneros secundários e, com isso, perdem sua relação imediata com a realidade. Interessa-nos, por fim, compreender que ao analisar um texto sob a perspectiva de gênero discursivo, precisamos considerar não só a categorização/classificação do gênero e suas características. Precisamos, ainda, refletir sobre sua finalidade ou função social, analisar o conteúdo temático, a forma composicional e o estilo de linguagem empregado. Nas palavras de Silva: a noção de gênero discursivo reenvia, em ternos operacionais, a um estudo do uso, (dimensão pragmático- social), da forma (dimensão linguístico-textual) e do conteúdo temático dos discursos, (dimensão temática/macroestrutural) materializados na forma de texto. Em suma, para se depreender a natureza do gênero discursivo, as entradas a serem feitas no texto (aqui tomado como a unidade de análise) hão de contemplar todas as dimensões que o constituem, caso contrário, se apenas iluminar uma delas, deixando as outras à sombra, neutralizando-as, pode-se correr o risco de lidar com outra realidade linguística e aí criar outro objeto de estudo. (SILVA, 1999, p. 86) (grifos nossos) 41
  • 42. Gêneros textuais e discursivos Para concluir esta discussão, apresentamos o trecho a seguir, retirado de Silva (1999). Tal trecho é bastante esclarecedor sobre os aspectos que são colocados como relevantes quando se adota o termo gêneros discursivos. Historicamente gerados no e pelo trabalho linguístico empreendido pelos sujeitos, os gêneros discursivos submetem-se a um conjunto de condições que cercam o seu funcionamento comunicativo, discursivo, definido em e por seus processos de produção e recepção, bem como o seu circuito de difusão, a saber: a instância social de uso da linguagem (pública ou privada); os interlocutores (locutor e destinatário); o lugar e o papel que cada um desses sujeitos representa no processo interlocutivo, os quais, em grau maior ou menor, sofrem as injunções do lugar social que cada um ocupa na sociedade; a relação de formalidade ou não entre eles; o jogo de imagens ali presente e o jogo de vozes socialmente situadas, orientando o que pode ou não ser dito e como deve fazê-lo; a atitude enunciativa do locutor (intuito discursivo) em relação ao seu objeto de dizer e ao seu destinatário; as expectativas e finalidades deste aliadas a sua a atitude responsiva em relação ao que está sendo enunciado; o registro e a modalidade linguística e o veículo de circulação. Todos esses fatores, em sua relação, imprimem ao discurso uma configuração peculiar no que tange a: (i) a abordagem do tema (esta varia conforme as esferas da comunicação verbal); (ii) o arranjo esquemático (global) em que o conteúdo semântico se assentará; (iii) os modos de organização discursivos (atualização da narração, da descrição, etc.); e, por fim, (iv) a seleção dos recursos linguísticos (o estilo). Enfim, todos esses fatores orientam o modo como o discurso se materializa no texto, este pertencente ao um dado gênero, construído na e por uma esfera da atividade e comunicação humana. (SILVA, 1999, p.93) A seguir, vamos discutir o tema gêneros textuais. 2.3.2 Os gêneros textuais na perspectiva de Bronckart Para Bronckart (2003), os textos são produtos da atividade humana. Logo, encontram-se articulados aos interesses, às necessidades e às condições de funcionamento das formações sociais no seio das quais são produzidos. Os contextos sociais são diversos e evolutivos: no quadro de cada comunidade verbal são produzidos e 42
  • 43. Gêneros textuais e discursivos circulam diferentes espécies de texto/ gêneros. O autor ressalta que a noção de gêneros – na Antiguidade, aplicada a textos com valor social ou literário – sofreu, a partir de Bakhtin, ampliações passando a ser aplicada ao conjunto de produções verbais organizadas: as formas escritas usuais e ao conjunto de formas textuais orais. Bronckart dialoga com Bakhtin e o adota em seu quadro teórico, reconhecendo o destaque dado por Bakhtin à relação de interdependência entre o domínio das produções de linguagem e o domínio das ações humanas. Entretanto, considera que a terminologia “gêneros discursivos”, empregada por Bakhtin, é flutuante (no conjunto das obras), devido à própria evolução da obra e às traduções. Segundo Bronckart, os gêneros discursivos são entidades vagas e, por isso, são de difícil classificação. Aponta como causas dessa dificuldade: 1- Diversidade de critérios que podem ser utilizados para definir um gênero (baseados no tipo de atividade humana envolvida – gênero jornalístico, científico, etc- , centrados no efeito comunicativo, referentes à natureza, ao suporte, ao conteúdo temático, etc); 2- Mobilidade dos gêneros no espaço histórico-cultural: alguns gêneros reaparecem sob formas diferentes, como o e- mail, por exemplo, que fez com que o gênero carta pessoal praticamente desaparecesse; a fluidez das fronteiras entre gêneros (vamos nos lembrar que um gênero pode assumir a forma de outro gênero, por exemplo, um poema pode assumir a forma de um anúncio e, finalmente, o fato de que novos gêneros podem não ter recebido um nome consagrado. 3- Critérios linguísticos que consideram regras linguísticas especificas, como tempos e modos verbais, uso de pronomes e 43
  • 44. Gêneros textuais e discursivos de organizadores, etc. Bronckart ressalta que esse critério aplica-se somente aos segmentos que compõem o gênero. Devido a essa dificuldade, Bronckart não considera os gêneros discursivos como objeto de análise e toma como objeto de análise o texto, “unidade de produção de linguagem situada, acabada e autossuficiente” (2003, p.75). Para o autor, o texto é “toda unidade de produção verbal que veicula uma mensagem linguisticamente organizada e tende a produzir um efeito de coerência em seu destinatário” (2003, p.137). Assim, os textos são produtos da atividade humana e estão articulados às nossas necessidades, aos nossos interesses e às condições de funcionamento dos contextos sociais em que estamos inseridos e nos quais produzimos nossos dizeres, sejam orais ou escritos. Em outros termos, a noção de texto, engloba não só as produções escritas, mas também os textos orais que produzimos. Para o autor, em função dos objetivos, dos interesses e questões específicas às formações sociais (domínios/ esferas da atividade humana) os falantes elaboram diferentes espécies de texto, que apresentam características relativamente estáveis. Bronckart usa o termo gêneros de texto, que constituem modelos indexados para os usuários da língua. Nas palavras do autor: “Na medida em que todo texto se inscreve, necessariamente, em um conjunto de textos ou em um gênero, adotamos a expressão gênero de texto em vez de gênero do discurso.” (BRONCKART, 2003, p.75) Para Bronckart, todo texto possui uma organização interna em três níveis superpostos e em parte interativos, como um folhado textual. “Concebemos a organização de um texto como um folhado constituído por três camadas superpostas: a infraestrutura 44
  • 45. Gêneros textuais e discursivos geral do texto, os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos.” (BRONCKART, 2003, p. 119) A infraestrutura corresponde ao nível mais profundo e comporta o plano mais geral do texto – o conteúdo temático - , as articulações entre os tipos de discurso e articulação entre as sequencias linguísticas que aparecem. Segundo Bronckart, o plano geral pode assumir formas variáveis pois está relacionado ao gênero, ao tamanho do texto, ao conteúdo temático, às condições de produção (suporte, registro oral ou escrito, à circulação, etc.) e também às sequencias linguísticas que o texto. Os mecanismos de textualização compreendem um nível intermediário e são responsáveis pela coerência temática. Envolvem os mecanismos de conexão, coesão nominal e coesão verbal. Por sua vez, os mecanismos enunciativos, um nível superficial, são responsáveis pela manutenção da coerência pragmática do texto, contribuem para o esclarecimento dos posicionamentos enunciativos (quais as vozes e as instâncias que se manifestam?) e indiciam as diferentes avaliações (julgamentos, opiniões, sentimentos) sobre aspectos do conteúdo temático. Vejamos a representação desses planos: 45
  • 46. Gêneros textuais e discursivos De um modo geral, podemos afirmar que a análise, na perspectiva proposta por Bronckart, apresenta-se em diálogo com os estudos da Linguística Textual. Para o autor, os textos, produtos concretos das ações de linguagem, são constituídos por segmentos/sequências linguísticas diferentes (tais como exposição, relato, diálogo, etc.) e é no nível desses enunciados linguísticos que podemos encontrar regularidades de organização e de marcação linguísticas. Tais enunciados são segmentos constitutivos de um gênero e Bronckart os denomina de tipos de discurso, isto é, “formas linguísticas que são identificáveis nos textos e que traduzem a criação de mundos discursivos específicos” (2003, p. 149). Assim, ao terminarmos esta seção podemos constatar que as denominações “gênero textual” e “gênero discursivo” aliam-se a uma perspectiva epistemológica que toma por base os estudos na perspectiva do texto ou do discurso. De um modo geral, como ambos buscam em Bakhtin um apoio teórico, há muita semelhança entre as análises. IMPORTANTE • Gêneros do discurso (Bakhtin): tipos relativamente estáveis de enunciados; produtos da interação verbal. • Gêneros textuais (Bronckart): constituem modelos indexados para os usuários da língua. A seguir apresentaremos outro autor que discute a questão dos 46
  • 47. Gêneros textuais e discursivos gêneros. 2.3.3 A teoria dos gêneros em Marcuschi Segundo Marcuschi (2005, p.19) os gêneros textuais são fenômenos históricos e intrinsecamente ligados à vida cultural e social. O aspecto cultural é de suma relevância, conforme se depreende do trecho a seguir: Os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. Caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades linguísticas e estruturais. (MARCUSCHI, 2005, p. 20) Embora tais modelos sirvam para estabilizar as atividades comunicativas diárias, eles não são modelos estanques: eles surgem e se modificam na cultura. Para Marcuschi (2005, p.20), não são as novas tecnologias de per si que originaram os gêneros, mas sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias. E-mails, chats, blogs, fotoblogs, etc. são exemplos desses gêneros emergentes. Entretanto, conforme acentua o autor, eles não são inovações absolutas uma vez que se ancoram em gêneros já existentes: cartas, bilhetes, conversações, diário, etc. O autor estabelece uma distinção entre tipo textual e gênero textual: a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados 47
  • 48. Gêneros textuais e discursivos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo (...) carta eletrônica bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante (Marcuschi, 2005, 21 et. seq.). Assim, enquanto os gêneros textuais são os textos materializados que circulam socialmente – “são artefatos culturais” – os tipos textuais são as sequências linguísticas que compõem o gênero. Marcuschi esclarece que os tipos textuais são limitados e que entram na composição de vários gêneros. Vejamos como o tipo é encontrado em gêneros diversos, como piada, conto, fábula, história em quadrinho etc. Vejamos alguns exemplos: Texto 01 – Piada Texto 01 – Piada Luizinho, do que você tem mais medo? - Da mula-sem-cabeca, fessora. - Mas, Luizinho, a mula-sem-cabeca não existe. É apenas uma lenda... Você não precisa ter medo. Mariazinha, do que você tem mais medo? - Do saci-pererê, fessora. - Mariazinha o saci-pererê também não existe. E somente outra lenda... Você não precisa ter medo. - E você, Joãozinho? Do que tem mais medo? - Do MalaMen, fessora. - Mala Men? Nunca ouvi falar... Quem é esse tal de Mala Men? - Quem é eu também não sei, fessora. Mas toda noite minha mãe diz na oração: Não nos deixes cair em tentação mas livrai-nos do Mala- Men. Disponível em: http://www.piadasnet.com/piada894joaozinho.htm 48
  • 49. Gêneros textuais e discursivos Texto 02- Letra de música Era um garoto Que como eu Amava os Beatles E os Rolling Stones.. Girava o mundo Sempre a cantar As coisas lindas Da América... Não era belo Mas mesmo assim Havia mil garotas afim Cantava Help And Ticket To Ride Oh Lady Jane, Yesterday... Cantava viva, à liberdade Mas uma carta sem esperar Da sua guitarra, o separou Fora chamado na América... Stop! Com Rolling Stones Stop! Com Beatles songs Mandado foi ao Vietnã Lutar com vietcongs... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá... 49
  • 50. Gêneros textuais e discursivos Era um garoto Que como eu! Amava os Beatles E os Rolling Stones Girava o mundo Mas acabou! Fazendo a guerra No Vietnã... Cabelos longos Não usa mais Nem toca a sua Guitarra e sim Um instrumento Que sempre dá A mesma nota Ra-tá-tá-tá... Não tem amigos Nem vê garotas Só gente morta Caindo ao chão Ao seu país Não voltará Pois está morto No Vietnã... Stop! Com Rolling Stones Stop! Com Beatles songs No peito um coração não há Mas duas medalhas sim.... Ratá-tá tá tá... Tatá-rá tá tá... Ratá-tá tá tá... Disponível em :http://www.vagalume.com.br/ 50
  • 51. Gêneros textuais e discursivos Observem que nos dois gêneros encontramos sequências narrativas. Em todos temos personagens, enredo, sequências linguísticas que narram fatos ocorridos (reais ou fictícios), verbos no passado etc. Se antes era possível delimitar gêneros pertencentes à oralidade ou à escrita, hoje o que encontramos são modelos híbridos que rompem a dicotomia entre fala e escrita e evidenciam que essas modalidades se apresentam, na verdade, como um continun. Marcuschi (2001) ressalta que haveria um protótipo de uma modalidade escrita e que não seria aconselhável compará-lo com um gênero protótipo da oralidade. Nesse continun, os textos, em alguns momentos, se entrecruzam e constituem domínios mistos, como, por exemplo, alguns gêneros televisivos que constituem o Jornal Nacional, que são escritos para serem “falados”, ou então alguns gêneros atuais que articulam, em sua composição, oralidade e escrita. 2.3.4 A teoria dos gêneros em Bazerman Seguindo um viés antropológico e social, Bazerman (2005) destaca que os gêneros organizam nossa vida diária. Para ele, há um ciclo ininterrupto de textos e atividades e, socialmente, existem sistemas organizados e bem articulados dentro dos quais determinados textos circulam por caminhos previsíveis e produzem fatos sociais, ou seja, ações linguajeiras significativas que afetam o fazer humano, seus direitos e deveres. Nesse contexto, há padrões comunicativos mais ou menos estáveis e regulares que possibilitam uma compreensão padronizada de determinada situação. Assim, os gêneros são formas de comunicação reconhecíveis e auto reforçadoras que emergem nos processos sociais em que as pessoas interagem através de condutas coordenadas. Bazerman acrescenta que os gêneros podem ser 51
  • 52. Gêneros textuais e discursivos compreendidos como fenômenos de reconhecimento psicossocial e parte de processos de atividades socialmente organizadas. Em síntese, gêneros são formas tipificadas que tipificam ações sociais. Ao conceito de gênero, Bazerman alia as noções de conjunto de gêneros e sistema de gêneros. O conjunto de gêneros refere-se aos textos que uma pessoa, desempenhando determinado papel, tende a produzir. Por sua vez, um sistema de gêneros engloba os diversos conjuntos utilizados por pessoas que trabalham juntas de uma forma organizada e também as relações padronizadas que se estabelecem na produção e circulação desses documentos. Assim, ao produzir uma petição e enviá-la a um juiz competente, um advogado espera o parecer desse juiz. Nesse processo, diversos gêneros são produzidos dentro de um fluxo comunicativo próprio do sistema judiciário. Outra questão colocada por Bazerman, diz respeito à construção de identidades sociais. A produção de um conjunto de gêneros dentro de um sistema de atividades permite o desenvolvimento de identidades social e formas de vida coletivas, próprias daquele espaço sócio-discursivo. Bazerman ressalta que apesar do interesse de pesquisadores em localizar e categorizar os gêneros, essa tarefa é dificílima, uma vez que os gêneros são fatos sociais e não apenas fatos linguísticos. Qualquer categorização torna-se redutora e empobrece a realização individual de cada texto. ATIVIDADES 1. Após a leitura deste capítulo, faça uma síntese destacando as principais ideias sobre os gêneros, na perspectiva dos autores 52
  • 53. Gêneros textuais e discursivos apresentados. 2. Reflita sobre os gêneros a seguir e preencha o quadro com as informações solicitadas: Gênero textual Características formais Função social Estilo de linguagem reportagem notícia Carta pessoal música poema 53
  • 54. Gêneros textuais e discursivos UNIDADE 3 TIPOS TEXTUAIS E SUPORTES TEXTUAIS 54
  • 55. Gêneros textuais e discursivos 3.1- Compreendendo a noção de tipos textuais É comum encontrarmos nos textos teóricos, nas diretrizes e nas propostas curriculares e em livros didáticos, o uso das expressões “tipo textual” e “tipologias textuais”. Os textos apresentam-se em diferentes tipos porque esses tipos se concretizam devido à existência de diferentes modos de interação entre as pessoas. Assim, o estudo dos textos e dos diferentes gêneros textuais é fundamental para o desenvolvimento das competências linguística, comunicativa e discursiva doa aprendizes e não fazê-lo poderá implicar em prejuízos para o uso adequado da língua. Sem nos prender aos aspectos históricos que fazem parte dos estudos sobre os tipos textuais, discutiremos aqui apenas questões conceituais relacionadas à tipificação mais tradicionalmente difundida pelos teóricos que estudam a temática. Para entender essa questão, leia a definição apresentada abaixo: 55
  • 56. Gêneros textuais e discursivos Tipologia Textual é um termo que deve ser usado para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição. Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção (Swales, 1990; Adam, 1990; Bronckart, 1999). Esse termo é usado para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) (MARCUSCHI, 2005, p. 22). O tipo textual é uma noção que remete ao funcionamento da constituição estrutural do texto, ou seja, um texto configurado em um determinado gênero (piada, charge, história em quadrinhos, resenha etc), pode trazer na sua organização vários tipos textuais, os quais compõem a tessitura do texto, a estrutura composicional do texto em questão. De acordo com Travaglia (2007), o tipo pode ser identificado e caracterizado por instaurar um modo de interação, uma maneira de interlocução, segundo perspectivas que podem variar constituindo critérios para o estabelecimento de tipologias diferentes. O autor expõe várias formas para classificar os tipos textuais, entre as quais merecem destaque: a) a proposta de Adam (1993) que elenca as sequências narrativa, descritiva, argumentativa explicativa e dialógica (conversacional). b) a proposta de Dolz e Schneuwly (2004) que enumera cinco tipos de textos que são comumente referidos como ordens ao listar gêneros que pertenceriam a cada ordem ou tipo. As cinco ordens são: narrar, relatar, argumentar, expor e descrever ações. 56
  • 57. Gêneros textuais e discursivos Embora haja outras categorias de tipos, tais tipologias geralmente são construídas para um objetivo específico de trabalho, utilizando um ou mais critérios classificatórios e levando em conta a natureza do material textual que se tem para estudo ou para aplicações práticas como as de ensino /aprendizagem de produção / compreensão de textos. Tais classificações também são resultado de abordagens diversas pelas disciplinas que as constroem: literária, linguística, antropológica, psicológica, pedagógica, entre outras. Assim, a construção de uma teoria tipológica geral é dependente dos aspectos que devem ser levados em conta para construir uma tipologia. Para a definição dos tipos textuais devem ser observados segundo Travaglia (2007, p. 97): a) os parâmetros e critérios utilizados para propor a tipologia; b) os objetivos com que foi construída e o material textual que serviu de corpus ou material empírico para sua proposição; c) os elementos / categorias que compõem a tipologia e se são da mesma natureza ou não. Assim, podemos ter teorias baseadas em aspectos internos (ou estritamente linguísticos), em aspectos externos e em aspectos internos e externos. Em geral, os tipos textuais abrangem um número limitado de categorias (narração, argumentação, exposição, descrição, injunção), ao contrário dos gêneros textuais que apresentam número ilimitado. Leia os textos abaixo e observe: podem aparecer na estrutura composicional de cada um deles mais de um tipo textual. Tente identificar quais são os tipos mais comuns nos textos lidos: 57
  • 58. Gêneros textuais e discursivos Texto 1: De: anacarolml@yahoo.com.br Para: carlamfsiva@yahoo.com.br Assunto: novi Bom dia, Cá, Ontem, eu fui na balada e eu preciso te contar dois bafões. Eu estava na fila esperando para comprar refri e dei de cara com o “baixin”. Fingi q ñ tinha visto ele, mas ele chegou em mim e me cumprimentou. Fiquei sem ar. Cá, ele tava lindo, de calça jeans preta, de camiseta branca... filé. Tudo lindo! Passou... Depois tentei ver se arrumava um jeito de falar com ele. Procurei ele e achei, tava perto do banheiro. Parei e perguntei se ele tava gostando... ele disse que sim, rolou um papo e ele me trouxe em casa. Não teve nada. Ele é do tipo que eu gosto, responsável, estudioso e sério. Acho que é rapaz para casar. Rsrsrsrs. Não quero. Mas, namorar com ele eu topo. Outra coisa, se eu fosse vc largava o Robinho, ele tava lá com umas meninas estranhas, me viu e nem perguntou de vc. Fica aí morrendo por ele e ele nem aí. Vai tomar banho! Deixa de sê boba, sá! Pula fora! O Gui é doido por vc. Texto 2: Memorando n. 12/2010 Ao chefe de setor: José Maria Setor de serviços e reparos Solicito reparo no congelador da sala 8, com urgência. O congelador apresenta problemas no processo de congelamento, emite barulho ensurdecedor e desliga sozinho. O funcionário Carlos, ao retirar os produtos para colocação nas embalagens levou um choque. Diante disso, considero que seja um problema na distribuição de energia. Por isso, gostaria de 58
  • 59. Gêneros textuais e discursivos solicitar que envie um funcionário especializado em parte elétrica, para que o problema seja resolvido de imediato. Como você pode observar, não é tão simples identificar os tipos textuais, pois eles podem aparecer conjuntamente em um dado texto concreto (e-mail, memorando). Então, como classificar um texto em uma determinada tipologia? Para classificar um texto, precisamos observar o tipo predominante. Assim, se há o predomínio da argumentação, temos um texto argumentativo; se há o predomínio da narração, temos um texto narrativo. Além disso, a função social e a intencionalidade do gênero textual também influenciam na classificação. Vale esclarecer que o tipo textual não se restringe à materialidade linguística. Para Travaglia (1991), os tipos textuais podem instaurar um modo de interação, uma maneira de interlocução, segundo perspectivas que podem variar. Essas perspectivas podem, segundo o autor, estar ligadas ao produtor do texto em relação ao objeto do dizer quanto ao fazer/acontecer, ou conhecer/saber, e quanto à inserção destes no tempo e/ou no espaço. O anúncio publicitário abaixo ilustra essa questão. O texto é predominantemente descritivo/expositivo, mas caracteriza-se como um texto injuntivo em razão do “fazer/acontecer”. 59
  • 60. Gêneros textuais e discursivos Mulher Tupperware: [Da sabedoria popular] S. f. A que tem orgulho de ser mulher. Que é ousada e audaciosa. Contemporânea. Vencedora. Que tem objetivos de vida e luta por eles. Sintonizada com o seu tempo. Que rejeita imitações. Que aprecia o belo e o prático. De todas as raças. De todas as cores. Os tipos textuais são tomados como categorias que se prestam a caracterizar o funcionamento de um dos planos constitutivos do texto – a estrutura interna da configuração textual. Para uma maior compreensão da noção de tipos textuais, veja o quadro abaixo proposto por Marcuschi (2005, p. 22) em que o autor procura diferenciar tipos e gêneros textuais: 60
  • 61. Gêneros textuais e discursivos A partir da discussão feita, podemos considerar que os tipos textuais são operações textual-discursivas utilizadas pelos autores dos textos, ou seja, são dimensões micro e macroestruturais da configuração formal e conceitual do texto, operacionalizadas da seguinte forma: a) narração, se o que se pretende é contar, apresentar os fatos, os acontecimentos; b) descrição, se o que se busca é caracterizar, dizer como é o objeto, a situação, a pessoa, fazendo conhecê-lo(a); c) dissertação/argumentação, se o que se quer é refletir, explicar, avaliar, comentar, conceituar, expor posicionamentos, pontos de vistas, para dar a conhecer, para fazer saber, crer; d) injunção, se o que busca é incitar a realização de uma ação por parte do interlocutor, orientando-o e aconselhando-o; e) exposição, se o que se quer é expor dados, apresentar teorias, conceitos, informações. Além dessas operações, alguns autores consideram o tipo conversacional, que se caracteriza pela função dialógica. No quadro a seguir, podemos observar que cada tipologia apresenta características específicas e que os gêneros textuais são constituídos por sequências linguísticas (tipos textuais) que os caracterizam: TIPOLOGIAS GÊNEROS 1) NARRATIVA • Liga-se à percepção no tempo; • Realiza-se por meio de verbos de mudança no pretérito perfeito e imperfeito e por expressões adverbiais de tempo e de lugar. •ocorre quando uma história é narrada, incluindo-se, assim, tempo, espaço, personagens etc. Conto de fadas; fábula/biografia romanceada; romances/ conto; crônicas: literária/social/esportiva; charge /piada; notícia/reportagem; casos contados em rodas de amigos etc. 2) DESCRITIVA Conto de fadas; Poema 61
  • 62. Gêneros textuais e discursivos • Liga-se à nossa percepção de espaço; • Permite ao leitor construir um retrato mental; •Possui uma estrutura simples com um verbo estático no presente do indicativo ou no pretérito perfeito do indicativo; •adjetivos, advérbios de lugar e de modo. • caracteriza uma pessoa, uma paisagem, um ambiente, um objeto. (descritivo) /fábula; biografia romanceada; romances; conto; crônicas: (literária/social/esportiva); notícia; reportagem; casos contados em rodas de amigos etc. 3) ARGUMENTATIVA Liga-se ao ato de julgar e à tomada de posição. Realiza-se por meio de conectores lógicos; Predominam as sequências contrastivas explícitas. Além de muitas outras relações, expõem-se ideias para convencer o leitor/ouvinte de certos posicionamentos. Artigos de opinião; carta de Leitor carta de reclamação; carta de solicitação; debate regrado; discurso de defesa (advocacia); discurso de acusação (advocacia); resenha crítica;editorial; ensaio etc. 4) EXPOSITIVA • É caracterizada pela intenção de facilitar a compreensão do leitor/ouvinte através de informações que normalmente são feitas por meio de Texto expositivo (em livro didático); seminário; conferência; comunicação oral; palestra; entrevista de especialista. Pode ocorrer em trechos de: 62
  • 63. Gêneros textuais e discursivos afirmações e logicidade na ordenação de conceitos, entre outros aspectos; • Materializa-se por meio de conectores lógicos; • Predominam as sequências explicitamente explicativas. artigos científicos, notícias jornalísticas, verbetes de enciclopédias. Também em trechos informativos de outros gêneros, como romances, relatórios e cartas. 5) INJUNTIVA • Liga-se à previsão de comportamento por meio de enunciados incitadores à ação. • Concretiza-se por meio de verbos no imperativo ou de perguntas e de expressões congeladas de cumprimento. • direta ou indiretamente, se instrui ou se orienta o leitor/ouvinte, visto como aquele que pode tomar uma decisão ou realizar algo. Anúncios e peças publicitárias Receitas de culinária /Instruções de uso Instruções de montagem / Regras de utilização; leis; receitas de culinária / Guias; regras de trânsito / obrigações a cumprir/ normas de conduta etc. Fonte: http://saborparasaber.blogspot.com.br/2012/08/generos-e-tipologias- textuais.html Vamos analisar uma fábula e compreender como esses tipos se articulam na constituição do texto. O LOBO E O CORDEIRO, de Esopo, recontada por Monteiro Lobato Estava o cordeiro a beber água num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado, de horrendo aspecto. 63
  • 64. Gêneros textuais e discursivos ─ Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? ─ disse o monstro, arreganhando os dentes. ─ Espere que vou castigar tamanha má- criação!... O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência: ─ Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim? Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta, mas não deu o rabo a torcer. ─ Além disso ─ inventou ele ─ sei que você andou falando mal de mim no ano passado. ─ Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano? Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu: ─ Se não foi você foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo. ─ Como poderia ser seu irmão mais velho, se sou filho único? O lobo, furioso, vendo que com razões claras não venceria o pobrezinho, veio com razão de lobo faminto: ─ Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô! E ─ nhoque ─ sangrou-o no pescoço. Contra a força não há argumentos. Disponível em: http://conscienciapoliticarazaosocial.blogspot.com.br/2013/01/o-lobo-e-o- cordeiro-de-esopo-recontada.html . Acesso em: 15/08/2013. O texto acima pertence ao gênero textual fábula. Na análise do texto percebemos que predomina a sequência narrativa. Temos uma história em que os personagens o lobo e o cordeiro se encontram em um espaço (à beira de um córrego). O tempo da narrativa não é explicitado, uma vez que as fábulas trazem ensinamentos atemporais. O equilíbrio inicial (cordeiro bebendo água) é quebrado pela chegada do lobo e a narrativa se desenvolve em uma sucessão de eventos/conflitos até atingir um clímax final, em que o lobo apresenta a razão de lobo faminto. O conflito é solucionado com a morte do cordeiro. Nas sequências narrativas, temos o emprego de verbos no pretérito imperfeito e no pretérito perfeito. Veja alguns verbos que destacamos no texto. Podemos encontrar o tipo descritivo, logo no início da fábula, quando o autor descreve o lobo: “um lobo esfaimado, de horrendo aspecto”. Observem a presença de adjetivos acompanhando os 64
  • 65. Gêneros textuais e discursivos substantivos. Por sua vez, encontramos tipos dialogais, marcados pelo diálogo entre os personagens. O tipo injuntivo pode ser identificado no trecho “Espere que vou castigar tamanha má-criação!...” Note a presença do verbo no imperativo, marca de sequências injuntivas. Nos diversos momentos em que lobo e cordeiro dialogam podemos perceber sequências argumentativas, como em: “como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?”. Por fim, a sequência expositiva pode ser identificada na moral da fábula “Contra a força não há argumentos”. Por que muitas vezes classificamos o gênero fábula como texto narrativo? Por que, como dissemos anteriormente, o texto se organiza em torno da estrutura da narração (equilíbrio inicial, instauração de um conflito, clímax e resolução do conflito). Nossa intenção ao fazer a análise da fábula é mostrar que os tipos textuais são as sequências linguísticas e que eles podem aparecer conjuntamente em um dado gênero textual. Trata-se de uma análise complexa, que considera as marcas linguísticas (uso de verbos, de operadores argumentativos, de sequenciadores temporais etc.) presentes no texto e que necessariamente não precisam ser objeto de análise em sala de aula. 3.2 Analisando os tipos textuais Nesta seção vamos apresentar mais algumas características dos tipos textuais. O tipo narrativo Segundo Adam (2008), a sequência narrativa caracteriza-se através de seis constituintes: 65
  • 66. Gêneros textuais e discursivos  sucessão de eventos, que consiste na delimitação de um evento inserido em uma cadeia de eventos alinhados em ordem temporal;  unidade temática, que privilegia um sujeito agente, mesmo existindo vários personagens; um deverá ser o mais importante e que desencadeará toda a ação narrada;  predicados transformados, consiste no desenrolar de um fato que implica a transformação das características do personagem;  processo, a narrativa deve apresentar um início, um meio e um fim; intriga, que dá sustentação aos fatos narrados, podendo levar o narrador a alterar a ordem processual natural dos fatos; moral, uma reflexão sobre o fato narrado, que pode evidenciar a verdadeira razão de se contar aquela história. A moral não é parte essencial da narrativa, pois pode estar implícita. Após a leitura do texto abaixo, tente identificar nele os constituintes mencionados anteriormente: Uma Vela para Dario Dalton Trevisan Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de 66
  • 67. Gêneros textuais e discursivos chuva, e descansou na pedra o cachimbo. Dois ou três passantes rodearam- no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque. Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca. Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda- chuva ou cachimbo ao seu lado. A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata. Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las. Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso. Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade. Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes. O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá- lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão. A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê- lo, tinha todo o ar de um defunto. Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos. Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva. Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e 67
  • 68. Gêneros textuais e discursivos apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair. Disponível em: http://www.releituras.com/daltontrevisan_dario.asp . Acesso em: 15/08/2013. O tipo descritivo O tipo descritivo busca fazer um levantamento de propriedades, qualidades, sobre seres que podem ser concretos ou abstratos. Segundo Adam (2008), a sequência descritiva apresenta uma resposta que descreve passos no sentido de atingir um objetivo. Adam (2008) considera que uma descrição possui três partes: 1) uma ancoragem (onde se tem um tema-título); 2) uma dispersão de propriedades, contendo dois processos básicos: a) aspectualização (caracteriza o objeto em seu aspecto físico, seja das propriedades do objeto, seja das partes do objeto); b) estabelecimento de relação: consiste em usar as características de uma parte relatada para compor outra (situação do objeto no espaço ou no tempo e assimilação de características para compor um terceiro aspecto).; 3) uma reformulação (onde se tem uma nova visualização geral do tema). Após a leitura do texto abaixo, tente identificar nele os constituintes mencionados anteriormente: A uma mulher de vida simples Ana! mulher simples vinda do interior passou muitas 68
  • 69. Gêneros textuais e discursivos dificuldades na vida mais sua humildade e esperança fizeram com que seus objetivos fossem alcançados. Tem 65 anos, 1.45 de altura, tem olhos castanhos, cabelos pretos, pele negra e pesa 55kg. Quando criança passou muitas dificuldades nem tendo o que comer, às vezes tinha que dividir uma banana verde com seus irmãos, após a morte de seus pais foi morar com seu padrinho sofreu muito, e ainda hoje não esqueceu as humilhações por que passou por tantos anos. Cresceu virou mulher casou-se com um homem rude e preguiçoso, tendo oito filhos não teve estudo e passou a trabalhar em casas de famílias por vários anos. Em uma dessas casas ficou por 11 anos tendo sua carteira assinada, teve um bom patrão ele ajudou a conseguir emprego para dois de seus filhos, mais estava cansada chegando à idade e com os filhos crescidos e trabalhando saiu de lá. E seu sobrinho abriu um restaurante e a chamou para trabalhar com ele, como cozinheira, pois ela sabia fazer pratos deliciosos, ficando quatro anos com ele mais devido a problemas, saiu de lá também.Com ajuda de seus filhos foi tentar se aposentar, até que conseguiu hoje seus filhos trabalham, alguns tem famílias e filhos, outros já fizeram faculdade, e têm alguns no curso técnico e Ana agradece ao Senhor o fato de os filhos não terem passado o que ela passou. Disponível em http://www.scribd.com/doc/56145465/REDACAO- DESCRITIVA . Acesso em: 15/08/2013 O tipo explicativo O tipo expositivo/explicativo encontra-se em gêneros textuais que objetivam informam o leitor sobre determinado assunto. O que caracteriza a sequência explicativa é o seu estatuto: justificar um fato, estabelecendo uma relação de causa. A explicação tende a explicitar claramente uma ideia, um ponto de vista, e responde às perguntas COMO e POR QUÊ com o objetivo de transformar uma convicção. Normalmente, o texto apresenta a seguinte estrutura: TEXTO: ESQUEMATIZAÇÃO INICIAL (o problema) + explicação (resposta) + conclusão/avaliação (fechamento). Após a leitura do texto abaixo, tente identificar nele os constituintes mencionados anteriormente: 69
  • 70. Gêneros textuais e discursivos PET, para que te quero? [...] o PET – sigla para polietileno tereftalato – é usado na fabricação de uma porção de coisas, como garrafas de refrigerantes, águas, sucos, óleos comestíveis, medicamentos, produtos de higiene e limpeza, cosméticos e fibras têxteis. Mas você tem ideia do que é esse composto presente em produtos tão diferentes? Resposta: um polímero termoplástico. Diz-se “polímero” porque o PET é formado por moléculas muito grandes produzidas pela união de muitas moléculas de um composto menor, o etileno tereftalato. Já o “termoplástico” quer dizer que pode ser derretido e solidificado diversas vezes – assim como vidro, ferro e alumínio –, o que torna possível sua reciclagem. [...] Na fabricação de embalagens, o PET revolucionou o mercado da produção de garrafas a partir dos anos de 1970, com a invenção do processo de injeção e sopro, no qual o PET derretido é soprado para dentro de um molde, adquirindo a forma desejada quando resfria. [...] O sucesso em todo o mundo foi grande, pois esse tipo de embalagem apresenta várias vantagens: são transparentes, inquebráveis, impermeáveis e leves, o que diminui o custo de transporte do produto. [...] Por outro lado, há desvantagens. As matérias primas usadas na produção do PET são derivadas do petróleo, sendo, por isso, consideradas matérias primas não renováveis. Além disso, as embalagens descartadas no lixo geram um grande problema ambiental, uma vez que demoram mais de 100 anos para decompor. Por isso, há um grande estímulo para a reciclagem deste material. Disponível em: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/pet-para-que-te- quero/. Acesso em: 15/08/2013. O tipo argumentativo O tipo argumentativo não deve ser confundido com outros textos que comportam uma orientação argumentativa. Esse tipo caracteriza-se pela presença de uma ideia a ser defendida. Dessa forma, o discurso é orientado em direção a determinadas conclusões e necessita-se, para isso, elaborar estratégias de persuasão. Segundo 70