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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Colóquio Vita Contemplativa - Mãe Natureza, Terra Viva
Ecosofia, Ecologia Profunda e
Ecologia Espiritual perante a crise
ambiental - Parte I
Textos e Fotos_Alcide Gonçalves [Arquiteta Paisagista] e Jorge Moreira [Ambientalista e Investigador]
Contribuiu ainda com fotos José Alex Gandum [Instalador]
O universo teve um começo.
O começo do universo é a nossa mãe original.
Conhecer a mãe original
É conhecer os seus filhos,
Conhecendo seus filhos,
É regressar para os braços da mãe original.
Então, a existência será longa e tranquila.
Lao Tzu
Minha mãe é a Terra e eu sou seu filho
Prthivi Sukta
Nos bosques (…) não sou nada; vejo tudo;
as correntes do Ser Universal circulam através de mim;
sou parte ou parcela de Deus
Ralph Waldo Emerson
Se pudéssemos ver toda a verdade de qualquer situação,
a nossa única resposta seria a compaixão
Mingyur Rinpoche
O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com 87
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
O Colóquio do Seminário Permanente
“Vita Contemplativa - Práticas Contempla-
tivas e Cultura Contemporânea" do Grupo
Praxis do Centro de Filosofia da Universi-
dade de Lisboa, com o apoio do Círculo
do Entre-Ser, trouxe este ano [14-15 Maio
2018] à reflexão o tema Mãe-Natureza,
Terra Viva com o enfoque nos contributos
da ecosofia, da ecologia profunda e da
ecologia espiritual face à crise ecológica.
Antes de mais, convém referir que os au-
tores do presente artigo também estiveram
presentes com comunicações, cujo con-
teúdo se encontra um pouco disseminado
por este texto. Portanto, esta também é a
nossa visão do Colóquio.
Durante dois dias, e de formas particula-
res, celebrou-se a Natureza, tornaram-se
vivas memórias dessa Natureza em nós,
apresentaram-se excelentes exemplos de
sustentabilidade, formularam-se utopias
possíveis e desejáveis de concretização,
partilharam-se testemunhos, reforçaram-
-se laços e debateram-se contributos tão
diversos para o tema: da Espiritualidade às
práticas Eco-espirituais; do Xamanismo ao
Yoga; do Taoísmo ao Budismo; do Cristia-
nismo ao Islamismo; da cosmovisão dos
povos primevos às experiências místicas,
das metatopias urbanas às alimentares, da
perspetiva de Heidegger à Física Quântica,
da igualdade de gênero aos direitos da
Natureza; da Transição à Permacultura; do
Papa Francisco ao Compromisso com a
Casa Comum; do contato com a Natureza
às psicoterapias; do Caos a Gaia, passan-
do por Eros - da Mitologia à Filosofia; da
consciência do corpo à consciência da
Terra, da Arte (cinema, arquitetura, pintura
escultura, música, etc.) à Ciência holística;
do Ecocentrismo ao Princípio feminino; da
Ética à Ontologia e vice-versa.
As várias participações trouxeram visões
e contributos preciosos que não podem
ficar guardados com o encerramento do
evento, pelo que deixamos aqui algumas
das mensagens e ideias-chave debatidas.
Da Crise Ecológica à Ética
Ambiental e desta à Ecolo-
gia Espiritual
A crise ecológica surgiu com a Revolução
Industrial. Contudo, foi a partir dos anos 50
do século passado que se deu a Grande
Aceleração e o aparecimento de uma nova
idade geológica, o Antropoceno, dado o
impacto brutal do Homo sapiens sobre
o planeta. Uma década depois a crise foi
efetivamente percecionada, com a publi-
cação de alguns artigos que retratavam
problemas ambientais e refletiam sobre a
origem deles, com especial atenção para
o lançamento do livro Primavera Silenciosa
de Rachel Carson, que alertava cientifi-
camente para os danos generalizados da
utilização dos agrotóxicos. A partir desse
momento emergiram pequenos grupos
académicos que se debruçaram sobre as
raízes da crise ecológica. Nasce assim uma
nova disciplina filosófica, a Ética Ambiental
com o intuito de dar uma resposta à crise
emergente.
Vários estudos apontam o surgimento
de uma ciência com raízes puramente
cartesianas, reducionistas e dominada por
uma cultura judaico-cristã antropocêntrica,
onde o homem é agente de domínio e sub-
jugação de toda a criação divina, conjunta-
mente e reciprocamente com a Revolução
Industrial, que fez surgir uma tecnociência
desumanizada. A Natureza foi dessacrali-
zada e passou a ser vista como um recurso
88 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
à disposição da máquina. Entretanto,
surge outro produto associado, o sistema
económico globalizado e o seu tecnocapi-
talismo, onde a Natureza, seres humanos
e seres não-humanos foram submetidos
a um nível de exploração inimaginável.
Paralelamente à crise ecológica e com a
devida reciprocidade, apareceu também a
crise social e humana e as constantes flu-
tuações das crises económica e financeira.
Resumidamente, uma visão puramente
antropocêntrica, conjuntamente com a
tecnociência e o tecnocapital, colocaram
os sistemas que suportam a vida na Terra
em risco, dando origem à sexta extinção
em massa no Planeta, extinção essa agora
de origem antrópica.
Também para fugir a esta visão antro-
pocentrada e pouco real dos fenómenos
da vida, surgiram correntes da ética
ambiental holísticas, como a Ética da Terra,
o Ecofeminismo e a Ecologia Profunda,
assim como as éticas práticas Ecosofia e
a Ecologia Espiritual, com o papel de re-
-sacralizar e re-fundir a Natureza Humana
com o cosmos.
As éticas ecocêntricas, como a Ecologia
Profunda, defendem o valor intrínseco da
Natureza em oposição ao valor instrumen-
tal contido na visão económica vigente.
Com este princípio, surgiram em alguns
países a consagração do reconhecimento
jurídico de alguns rios ou troços deles, de
glaciares, florestas, aves ou ordens de ma-
míferos (cetáceos). Na verdade, reconhecer
direitos a Natureza é dar corpo aos princí-
pios acolhidos na Carta da Terra, firmada
no dia 14 de Março de 2000 na UNESCO,
em Paris, por 46 países e que se assume
como um tratado dos povos e expressão
das aspirações da sociedade civil emer-
gente. Tais princípios estão ancorados nos
mais recentes conhecimentos da ciência,
na sabedoria das grandes tradições religio-
sas e filosóficas do mundo e nos relatórios
de diversas conferências mundiais da
ONU - bases do movimento ético mundial,
dirigido à edificação de um mundo pautado
pelo respeito pela Natureza e por todos
os viventes, fundamentos de uma cultura
da fraternidade e da paz mundiais que se
assume como pilar da nova civilização do
século XXI. Neste sentido, Alexandra Mar-
celino apresentou no Colóquio a petição
Reconhecimento dos Direitos Intrínsecos
da Natureza e de Todos os Seres Vivos,
que pretende ver reconhecido os direitos
O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com 89
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
subjectivos à Natureza e aos componen-
tes ambientais naturais, assente no seu
valor intrínseco e não meramente utilitário,
consagrando, nomeadamente, o direito ao
respeito pela sua vida e integridade, que
inclui o direito à manutenção e regeneração
dos seus ciclos vitais ou ecossistemas,
estrutura, funções e processos evolutivos;
que legisle no sentido de investir o Estado e
todos os cidadãos do dever de promover o
respeito por todos os elementos integrantes
de qualquer ecossistema, onde se incluem
todos os seres vivos, dotados igualmente
de valor intrínseco. A petição é uma ini-
ciativa nacional de cidadãos, promovida
pelo Círculo do Entre-Ser e inserida numa
iniciativa Europeia também de cidadãos,
que visa verter no plano normativo um
acervo de leis consonantes com a visão
da Natureza e seus constituintes como
entidades vivas (http://peticaopublica.com/
pview.aspx?pi=direitosdanatureza).
A Unidade da Vida
A ideia de vermos a Natureza como algo
separado de nós, quando somos filhos
dela, constituintes dela, alimentamo-nos
dela, vivemos no seio dela, inspiramo-nos
nela e evoluímos através dela, só pode ser
fruto de um déficit de perceção da nossa
parte. Curiosamente nunca a ciência teve
tanto relevo na sociedade, mas esta pró-
pria ciência dividiu tudo, desfez a vida e a
Natureza em mil pedaços inertes, criou o
dualismo epistemológico (sujeito - objeto,
homem - natureza, corpo - mente, etc.) e,
por esse motivo, afastou-se da realidade
sentida e vivida pelos povos primevos
e por culturas alavancadas em certas
filosofias orientais ou na experiência de
místicos como São Francisco de Assis,
onde todo o cosmos é sentido como uma
unidade indivisível à qual o ser humano, os
animais, as plantas, os rios, as montanhas
e as estrelas fazem parte. Por conseguinte,
esta separatividade é uma ilusão em que
grande parte da humanidade vive mergu-
lhada, porque, tal como nos diz a ciência
holística (e.g., Ecologia, Quântica, Teoria
de Gaia), toda a vida está ligada entre si,
formando uma enorme e complexa teia
de fios invisíveis, mas que o são somente
aos nossos sentidos externos. A Vida é
UNA e acontece num continuum. Esta
distorção, fruto da sua própria alienação,
conduziu o ser humano ao afastamento
e, consequentemente, à desconexão com
a Mãe-Natureza da qual é e faz parte. Na
verdade, ao fazê-lo incorreu no maior dos
actos contraditórios, pois desligou-se de si
mesmo (da sua Natureza interna).
Para Boff, ter esquecido nossa união com
a Terra foi o equívoco do racionalismo em
todas as suas formas de expressão. Ele
gerou a ruptura com a Mãe. Deu origem ao
antropocentrismo, na ilusão de que, pelo
facto de pensarmos a Terra e podermos in-
tervir em seus ciclos, podemos colocar-nos
sobre ela para dominá-la e para dispor dela
a seu bel prazer. [Ética & Eco-espiritualida-
de (2003:56)].
Paulo Borges explora esta questão dual
(sujeito/objecto) interrogando acerca da
Natureza e da Terra serem vistas como
um objecto, ou seja, “algo que está aí fora,
como uma entidade existente em si e por si,
lançado contra o sujeito que o percepciona
como distinto de si? E coloca-nos perante
alguns questões acerca da possibilidade
de haver uma dualidade inscrita nos hábi-
tos de percepção e por consequência nos
planos de acção dos próprios pensadores
e ativistas que mais rejeitam essa dualida-
de, como é o caso dos adeptos da ecologia
profunda. [adapt. texto original].
90 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
A Ligação à Natureza e as
Terapias Integrativas
Parece ser unânime quanto à necessida-
de de (re)estabelecer ou reforçar laços com
a Natureza. Na verdade, ao fazê-lo, esta-
mos a reconetarmo-nos connosco mesmo.
Não no sentido “selfie”, narcisista, que a
sociedade de consumo e o nosso ego se
alimenta, mas no sentido da nossa verda-
deira natureza interior, que tem raízes com
os elementos naturais. Somos literalmente
parte do cosmos, tanto a nível físico e quí-
mico, como energético. A consciência que
habita uma planta tem a mesma natureza
profunda que a consciência que habita em
cada um de nós. A vida pode-se manifestar
em milhões de formas, mas todas elas são
expressões da Vida Una. Cada ser vivo é
um elo dessa Vida, cujo plano de ação e
ligação é o planeta Terra.
Daniela Velho, falando sobre o Corpo
Consciência diz-nos que quando habita-
mos profundamente o corpo e largamos
a mente conceptual, todas as percepções
sensoriais se tornam portas abertas à com-
preensão profunda do mundo e da vida e
ao reconhecimento da conexão íntima que
temos com os mares, as montanhas, as
florestas, os céus, as estrelas e com todos
os seres. Precisamos, pois, de “despertar
a consciência no corpo e abrirmo-nos ao
conhecimento não judicativo da Vida que
surge nele e através dele para descobrir
aquilo que a todos nos liga e abrir espaço
ao florescimento de um respeito profundo e
transformador capaz de alterar radicalmen-
te a nossa relação com a realidade.
Quando criamos condições internas, atra-
vés da meditação, ou externas, com o con-
tato com a Natureza silvestre (wilderness),
estamos a ir ao encontro dessa inesgotável
fonte. Quanto mais mergulharmos nesses
“elementos” mais a nossa consciência se
expande e mais sentimos aquele preen-
chimento interior e bem-estar que nos
falta nas zonas degradadas de uma urbe.
Muitos problemas do foro físico e mental
devem-se ao stress e ao afastamento com
essas “Naturezas”. Não é por acaso que
agora se vê prescritas uma série de terapias
integrativas ligadas a práticas na Natureza e
mindfulness. As caminhadas, por exemplo,
podem dar um grande contributo tanto para
a boa forma física, como para o bem-estar
mental. Podemos caminhar e meditar ao
mesmo tempo, aliás como são as práticas
do Budismo Zen - Kinhin -, e a própria arte
meditativa taoísta - o Tai Chi. Podemos
aproveitar para ouvir o vento, os pássaros,
os rios no seu percurso ou as ondas do mar.
Sentir os aromas das flores ou da chuva que
cai após um dia de sol. Existem bactérias
no solo que o simples contato com elas
faz aumentar a produção da serotonina e
a sensação de felicidade associada. Os
japoneses têm o shinrin-yoku - o banho da
Floresta - com estudos a demonstrar os
benefícios para a saúde física e psicológica,
nomeadamente a redução da sensação do
stress, da pressão arterial, o fortalecimento
do sistema imunitário, entre outros. A
psicoterapeuta Therezinha Ebert-Gomes
apresentou duas formas de psicoterapias
ligadas à imersão na Natureza, a Marterapia
e Jardinagem Terapia. A primeira liga-nos
à fonte da vida que surgiu do mar, à imen-
sidão e unidade que o mar representa. O
tempo e o espaço são diferentes da nossa
sociedade frenética. Certas técnicas de
imersão acompanhadas pela terapeuta têm
um efeito fantástico na cura do paciente.
Mesmo quando temos dificuldade em nos
deslocarmos da cidade para a Natureza,
podemos sempre utilizar um pequeno
jardim ou uma horta comunitária ou até
uma janela ou varanda para colocar vasos
de plantas e começar a tratar delas. Esse
cuidado, esse contato, esse tempo utilizado,
e o tempo que a Natureza tem para crescer,
são fatores terapêuticos. Já Joana Miranda
foca a concepção e a experienciação da
natureza do xamanismo, analisando as
potencialidades de transformação e cura a
ele associadas: De facto, falar nas línguas
do mar e da pedra, do pássaro e do animal,
ou ir além da língua é uma forma de cura
perceptual (Halifax, 1994: 92).
O Mestre Liu Pai Lin, a propósito do Tai
Chi Chuan, explica-nos que esta é uma
prática da longevidade e do sentimento do
Amor pois segue os princípios e a energia
da natureza. Amor-próprio mas também
Amor por todos os seres. Ou seja, práticas
como o Tai Chi permitem-nos estabelecer
contacto com a natureza, alimentarmo-nos
dela - energia, sem ter que a depauperar,
agredir ou danificar. Lin acrescenta, o sábio
exercita a sua natureza cultivando-a sem
cessar. Observando, e.g., o movimento de
rotação da terra, ele constrói diariamente o
frescor da vida nova. Nesta observação o
homem aprende o caminho da espontanei-
dade. É como se a Terra estivesse a fazer o
Tai Chi Chuan, renovando o ar, impregnado
novo frescor a todas as coisas. Pois a maior
virtude da natureza é fazer nascer vida
nova. O mesmo acontece com o Homem,
obtendo ar puro, o sangue se renova e o
espírito fica límpido. A prática do Tai Chi
Chuan é a forma de renovarmos a nossa
natureza criadora ligando-nos à Natureza
conservando com naturalidade o amor no
coração. E, com amor no coração - energia
de cura - vem com espontaneidade a
Compaixão, a Humildade e a Simplicidade
- os chamados Três Tesouros no taoísmo,
princípios éticos que fomentam o respeito
por todos os seres e faz desenvolver esta
experiência de conexão com o Todo e
fortalece o laço fraterno que nos une.
A Dimensão Espiritual da
Natureza e do Ser Humano
Com a industrialização e a concentração
da população mundial nas cidades, o ser
humano afastou-se da natureza e de si
próprio. Perdeu o sentido de "Ser Terra", da
vivência com os ciclos naturais, e com isso,
a intuição segura de que Nós e a Terra for-
mamos uma mesma realidade complexa,
diversa e única. Esse sentido de pertença
à Terra permitiu o desenvolvimento de uma
sensibilidade e respeito notáveis, presentes
em várias culturas e antigas tradições
espirituais, onde cada elemento natural
era considerado sagrado e desempenhava
um papel no cosmos. Qualquer ação
pressupunha cuidado, pedido e gratidão
aos elementos envolvidos, porque os seres
humanos também comungavam dessa Na-
tureza. O rio e a montanha eram sagrados.
Ainda hoje temos várias culturas que lutam
para defender os seus locais sagrados
da cobiça das grandes corporações, que
querem destruir só para lucrar.
Embora as religiões abraâmicas tivessem
contribuído para o paradigma antropocen-
trado e até androcentrado, devido às pala-
vras de domínio e subjugação encontradas
O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com 91
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
no Génesis, algo que alguns investigadores
referem à má tradução dos originais, a ima-
gem do Jardim de Éden, criado por Deus
é, em si, motivador para cuidar dele. Por
conseguinte, temos assistido a uma nova
preocupação dos movimentos religiosos
no sentido de preservar a Obra de Deus.
Maria José Varandas e Daniel Faria
trouxeram à reflexão contributos muito inte-
ressantes que nos permitem relembrar as
raízes do Ser Humano e, recentrar o papel
que lhe cabe na protecção e preservação
do ambiente onde este reside - planeta
Terra - sendo que isso pode vir a significar
a transformação e a elevação da consciên-
cia individual e colectiva da humanidade
e, consequentemente gerar a mudança
de paradigma que já há muito se impõe.
Assim, Varandas centrou a sua comunica-
ção na proposta apresentada na Encíclica
Laudato Si, do Papa Francisco, que nos
conduz à visão da Ecologia Integral e que,
na prática, contempla uma acção de maior
respeito e comunhão com a Terra. Parte da
constatação do esquecimento - Esquece-
mo-nos de que nós mesmos somos terra
(ELS,2). A palavra “homem” vem do latim
humus, que quer dizer terra. Esta é a raiz da
humanidade e ao lembrar esta raiz surge
uma via de evocação/celebração do ser em
sintonia com a terra. Faria exalta a Ecologia
Espiritual que subjaz na base do Cristia-
nismo. Ambos encontram-se no sentido
de que o ser humano deve deixar o papel
de explorador da Natureza para se tornar
num guardião do jardim de Éden. Fabrizio
Boscaglia deu-nos a dimensão islâmica,
diríamos sufi, da ligação entre esta religião
e a dimensão ecológica. Clarifica a ideia de
religião no Islão, dando-lhe um sentido de
paz e pureza. Cita passagens do Alcorão
que fogem ao conceito estritamente antro-
pocêntrico da sua origem comum com o
Judaísmo e o Cristianismo - O Mensageiro
de Allah (...) disse: “Esta montanha nos ama
e nós a amamos” (Muhammad, Tirmidhi);
(...) as árvores e as rochas (...) declararam:
“A paz esteja com você, ó Mensageiro de
Deus! (Idem).
Num outro registo, o aforismo grego
Conhece-te a Ti Mesmo e Conhecerás o
Universo, inscrito nos pórticos do Oráculo
de Delfos, refere-nos a semelhança entre
estes dois universos Homem-Natureza, e
esta mesma ideia do Homem ser a repre-
sentação microcósmica de um Macrocos-
mos traduz igualmente a visão pragmática
taoísta de milénios e está contida nas
tradições herméticas.
A via do TAO, é um caminho que segue a
natureza e no qual, o Homem seguindo-O,
ou harmonizando-se com Ele, vivencia essa
dimensão espiritual. Trata-se de uma Lei
Cósmica que respeitada permite viver em
total comunhão com a Natureza/Universo.
O capítulo 25 do livro O Caminho da Virtude
[Tao Te Ching] de LaoTzu, explica-nos esta
ordem cósmica que deveria ser seguida:
O Homem segue a terra
A Terra segue o céu
O Céu segue o Tao
O Tao segue a si mesmo
Esta prática milenar pelo TAO, oriunda
na China antiga, permite o homem viver a
espiritualidade do Ser e alcançar a fase bú-
dica tão almejada - a Iluminação - podendo
92 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
esta ser entendida tão simplesmente como
experienciar a União. E, ao fazê-lo, entramos
em sintonia com Todos os Seres compreen-
dendo essa realidade única universal. Por
observação cuidada da natureza, o antigo
taoísta, soube perceber as relações existen-
tes entre estes dois cosmos e estabelecer
correspondências entre os elementos natu-
rais e o corpo humano. Cuidar da Natureza
é cuidar de si mesmo pois a natureza exter-
na que surge ao nosso olhar é somente o
reflexo da natureza interna do ser humano.
E, é aqui que radica o segredo da resolução
da crise ambiental. Só aprimorando esta
visão e seguindo a direcção deste caminho
[prática] que leva à união, os problemas
ambientais se resolverão. Só quando nos
alinharmos pelo TAO - Céu-Homem-Terra, é
que entraremos no Grande Fluxo Universal
de abundância, saúde, prosperidade e
teremos a possibilidade de experienciar a
total felicidade. Esta é a promessa.
Na cultura Védica, e através da filosofia
prática do Yoga encontramos a mesma con-
ceptualização acerca do Ser Humano, da
Natureza, considerando que o desequilíbrio
exterior (ambiental) é fruto do desequilíbrio
interior do Homem. Nesta acepção, e nas
palavras de Paula Morais, Samkhya é a
dimensão cósmica humana e Dharma sim-
plesmente é o cuidar da natureza. Segundo
a mesma autora, o yogi tem um compromis-
so de sustentabilidade do Planeta, que não
é, de todo, indissociável do cuidar da sua
mente, dos seus pensamentos, dos seus
actos porque quando se inicia o processo
de svádhyáya (auto-estudo), compreende-
mos que somos um contínuo de relações.
Tudo interage, a todos os níveis. Para Morais
o Yoga implica uma alquimia do coração,
da empatia, uma forma de redescoberta
constante da dimensão do sagrado e da
responsabilidade, superando radicalmente
a noção de uma natureza-máquina, para a
Natureza como entidade viva. Isto é possível
pela vivência em pleno com a Natureza Mãe
- Mahá Shakti, na terminologia do Yoga e do
Sámkhya. O mesmo nos diz Cláudia Martins
que, enquanto praticantes de Yoga temos
um papel neste cuidar do nosso Planeta,
sendo os Áshrama (Centros filosóficos do
Yoga) importantes locais de formação de
uma consciência ecológica e de seres
humanos mais fraternos. Todos podemos
e devemos influenciar positivamente o
Mundo, tornando-o num lugar melhor para
viver, contribuindo para a Paz e para a sua
Sustentabilidade. Tanto Morais como P.
Martins evocam os Yamas e Niyamas que
são um conjunto de regras éticas, que todo
o Yogui deverá seguir. A prática da não-vio-
lência com qualquer ser vivo é uma regra
básica no Yoga. Também por esse motivo, o
vegetarianismo é uma prática comum entre
yoguis.
O desenho e a arte em geral, como
expressão individual ou colectiva, pode ser
também uma via de experienciação da di-
mensão do Sagrado. Na descrição poética
dos desenhos de Sara Inácio, Linhas e as
manchas desprendem-se dos lápis de cor
como fios de vida pulsante. Fluxos verme-
lhos … interior do corpo? ... correntes íg-
neas da Terra? Serpentes celebram a vida
em uniões místicas no meio do cosmos. (...)
As espirais têm um movimento ascendente,
como o fogo. O círculo dourado anuncia a
alvorada. Honra a Beleza e a Unidade.
Nota de Redacção:
Esta é a primeira parte do artigo. A II parte será publicada na edição de Julho/Agosto da nossa revista.

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Colóquio Vita Contemplativa - Mãe Natureza, Terra Viva Ecosofia, Ecologia Profunda e Ecologia Espiritual perante a crise ambiental - Parte I

  • 1.
  • 2. 86 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS Colóquio Vita Contemplativa - Mãe Natureza, Terra Viva Ecosofia, Ecologia Profunda e Ecologia Espiritual perante a crise ambiental - Parte I Textos e Fotos_Alcide Gonçalves [Arquiteta Paisagista] e Jorge Moreira [Ambientalista e Investigador] Contribuiu ainda com fotos José Alex Gandum [Instalador] O universo teve um começo. O começo do universo é a nossa mãe original. Conhecer a mãe original É conhecer os seus filhos, Conhecendo seus filhos, É regressar para os braços da mãe original. Então, a existência será longa e tranquila. Lao Tzu Minha mãe é a Terra e eu sou seu filho Prthivi Sukta Nos bosques (…) não sou nada; vejo tudo; as correntes do Ser Universal circulam através de mim; sou parte ou parcela de Deus Ralph Waldo Emerson Se pudéssemos ver toda a verdade de qualquer situação, a nossa única resposta seria a compaixão Mingyur Rinpoche
  • 3. O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com 87 Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS O Colóquio do Seminário Permanente “Vita Contemplativa - Práticas Contempla- tivas e Cultura Contemporânea" do Grupo Praxis do Centro de Filosofia da Universi- dade de Lisboa, com o apoio do Círculo do Entre-Ser, trouxe este ano [14-15 Maio 2018] à reflexão o tema Mãe-Natureza, Terra Viva com o enfoque nos contributos da ecosofia, da ecologia profunda e da ecologia espiritual face à crise ecológica. Antes de mais, convém referir que os au- tores do presente artigo também estiveram presentes com comunicações, cujo con- teúdo se encontra um pouco disseminado por este texto. Portanto, esta também é a nossa visão do Colóquio. Durante dois dias, e de formas particula- res, celebrou-se a Natureza, tornaram-se vivas memórias dessa Natureza em nós, apresentaram-se excelentes exemplos de sustentabilidade, formularam-se utopias possíveis e desejáveis de concretização, partilharam-se testemunhos, reforçaram- -se laços e debateram-se contributos tão diversos para o tema: da Espiritualidade às práticas Eco-espirituais; do Xamanismo ao Yoga; do Taoísmo ao Budismo; do Cristia- nismo ao Islamismo; da cosmovisão dos povos primevos às experiências místicas, das metatopias urbanas às alimentares, da perspetiva de Heidegger à Física Quântica, da igualdade de gênero aos direitos da Natureza; da Transição à Permacultura; do Papa Francisco ao Compromisso com a Casa Comum; do contato com a Natureza às psicoterapias; do Caos a Gaia, passan- do por Eros - da Mitologia à Filosofia; da consciência do corpo à consciência da Terra, da Arte (cinema, arquitetura, pintura escultura, música, etc.) à Ciência holística; do Ecocentrismo ao Princípio feminino; da Ética à Ontologia e vice-versa. As várias participações trouxeram visões e contributos preciosos que não podem ficar guardados com o encerramento do evento, pelo que deixamos aqui algumas das mensagens e ideias-chave debatidas. Da Crise Ecológica à Ética Ambiental e desta à Ecolo- gia Espiritual A crise ecológica surgiu com a Revolução Industrial. Contudo, foi a partir dos anos 50 do século passado que se deu a Grande Aceleração e o aparecimento de uma nova idade geológica, o Antropoceno, dado o impacto brutal do Homo sapiens sobre o planeta. Uma década depois a crise foi efetivamente percecionada, com a publi- cação de alguns artigos que retratavam problemas ambientais e refletiam sobre a origem deles, com especial atenção para o lançamento do livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson, que alertava cientifi- camente para os danos generalizados da utilização dos agrotóxicos. A partir desse momento emergiram pequenos grupos académicos que se debruçaram sobre as raízes da crise ecológica. Nasce assim uma nova disciplina filosófica, a Ética Ambiental com o intuito de dar uma resposta à crise emergente. Vários estudos apontam o surgimento de uma ciência com raízes puramente cartesianas, reducionistas e dominada por uma cultura judaico-cristã antropocêntrica, onde o homem é agente de domínio e sub- jugação de toda a criação divina, conjunta- mente e reciprocamente com a Revolução Industrial, que fez surgir uma tecnociência desumanizada. A Natureza foi dessacrali- zada e passou a ser vista como um recurso
  • 4. 88 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS à disposição da máquina. Entretanto, surge outro produto associado, o sistema económico globalizado e o seu tecnocapi- talismo, onde a Natureza, seres humanos e seres não-humanos foram submetidos a um nível de exploração inimaginável. Paralelamente à crise ecológica e com a devida reciprocidade, apareceu também a crise social e humana e as constantes flu- tuações das crises económica e financeira. Resumidamente, uma visão puramente antropocêntrica, conjuntamente com a tecnociência e o tecnocapital, colocaram os sistemas que suportam a vida na Terra em risco, dando origem à sexta extinção em massa no Planeta, extinção essa agora de origem antrópica. Também para fugir a esta visão antro- pocentrada e pouco real dos fenómenos da vida, surgiram correntes da ética ambiental holísticas, como a Ética da Terra, o Ecofeminismo e a Ecologia Profunda, assim como as éticas práticas Ecosofia e a Ecologia Espiritual, com o papel de re- -sacralizar e re-fundir a Natureza Humana com o cosmos. As éticas ecocêntricas, como a Ecologia Profunda, defendem o valor intrínseco da Natureza em oposição ao valor instrumen- tal contido na visão económica vigente. Com este princípio, surgiram em alguns países a consagração do reconhecimento jurídico de alguns rios ou troços deles, de glaciares, florestas, aves ou ordens de ma- míferos (cetáceos). Na verdade, reconhecer direitos a Natureza é dar corpo aos princí- pios acolhidos na Carta da Terra, firmada no dia 14 de Março de 2000 na UNESCO, em Paris, por 46 países e que se assume como um tratado dos povos e expressão das aspirações da sociedade civil emer- gente. Tais princípios estão ancorados nos mais recentes conhecimentos da ciência, na sabedoria das grandes tradições religio- sas e filosóficas do mundo e nos relatórios de diversas conferências mundiais da ONU - bases do movimento ético mundial, dirigido à edificação de um mundo pautado pelo respeito pela Natureza e por todos os viventes, fundamentos de uma cultura da fraternidade e da paz mundiais que se assume como pilar da nova civilização do século XXI. Neste sentido, Alexandra Mar- celino apresentou no Colóquio a petição Reconhecimento dos Direitos Intrínsecos da Natureza e de Todos os Seres Vivos, que pretende ver reconhecido os direitos
  • 5. O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com 89 Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS subjectivos à Natureza e aos componen- tes ambientais naturais, assente no seu valor intrínseco e não meramente utilitário, consagrando, nomeadamente, o direito ao respeito pela sua vida e integridade, que inclui o direito à manutenção e regeneração dos seus ciclos vitais ou ecossistemas, estrutura, funções e processos evolutivos; que legisle no sentido de investir o Estado e todos os cidadãos do dever de promover o respeito por todos os elementos integrantes de qualquer ecossistema, onde se incluem todos os seres vivos, dotados igualmente de valor intrínseco. A petição é uma ini- ciativa nacional de cidadãos, promovida pelo Círculo do Entre-Ser e inserida numa iniciativa Europeia também de cidadãos, que visa verter no plano normativo um acervo de leis consonantes com a visão da Natureza e seus constituintes como entidades vivas (http://peticaopublica.com/ pview.aspx?pi=direitosdanatureza). A Unidade da Vida A ideia de vermos a Natureza como algo separado de nós, quando somos filhos dela, constituintes dela, alimentamo-nos dela, vivemos no seio dela, inspiramo-nos nela e evoluímos através dela, só pode ser fruto de um déficit de perceção da nossa parte. Curiosamente nunca a ciência teve tanto relevo na sociedade, mas esta pró- pria ciência dividiu tudo, desfez a vida e a Natureza em mil pedaços inertes, criou o dualismo epistemológico (sujeito - objeto, homem - natureza, corpo - mente, etc.) e, por esse motivo, afastou-se da realidade sentida e vivida pelos povos primevos e por culturas alavancadas em certas filosofias orientais ou na experiência de místicos como São Francisco de Assis, onde todo o cosmos é sentido como uma unidade indivisível à qual o ser humano, os animais, as plantas, os rios, as montanhas e as estrelas fazem parte. Por conseguinte, esta separatividade é uma ilusão em que grande parte da humanidade vive mergu- lhada, porque, tal como nos diz a ciência holística (e.g., Ecologia, Quântica, Teoria de Gaia), toda a vida está ligada entre si, formando uma enorme e complexa teia de fios invisíveis, mas que o são somente aos nossos sentidos externos. A Vida é UNA e acontece num continuum. Esta distorção, fruto da sua própria alienação, conduziu o ser humano ao afastamento e, consequentemente, à desconexão com a Mãe-Natureza da qual é e faz parte. Na verdade, ao fazê-lo incorreu no maior dos actos contraditórios, pois desligou-se de si mesmo (da sua Natureza interna). Para Boff, ter esquecido nossa união com a Terra foi o equívoco do racionalismo em todas as suas formas de expressão. Ele gerou a ruptura com a Mãe. Deu origem ao antropocentrismo, na ilusão de que, pelo facto de pensarmos a Terra e podermos in- tervir em seus ciclos, podemos colocar-nos sobre ela para dominá-la e para dispor dela a seu bel prazer. [Ética & Eco-espiritualida- de (2003:56)]. Paulo Borges explora esta questão dual (sujeito/objecto) interrogando acerca da Natureza e da Terra serem vistas como um objecto, ou seja, “algo que está aí fora, como uma entidade existente em si e por si, lançado contra o sujeito que o percepciona como distinto de si? E coloca-nos perante alguns questões acerca da possibilidade de haver uma dualidade inscrita nos hábi- tos de percepção e por consequência nos planos de acção dos próprios pensadores e ativistas que mais rejeitam essa dualida- de, como é o caso dos adeptos da ecologia profunda. [adapt. texto original].
  • 6. 90 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS A Ligação à Natureza e as Terapias Integrativas Parece ser unânime quanto à necessida- de de (re)estabelecer ou reforçar laços com a Natureza. Na verdade, ao fazê-lo, esta- mos a reconetarmo-nos connosco mesmo. Não no sentido “selfie”, narcisista, que a sociedade de consumo e o nosso ego se alimenta, mas no sentido da nossa verda- deira natureza interior, que tem raízes com os elementos naturais. Somos literalmente parte do cosmos, tanto a nível físico e quí- mico, como energético. A consciência que habita uma planta tem a mesma natureza profunda que a consciência que habita em cada um de nós. A vida pode-se manifestar em milhões de formas, mas todas elas são expressões da Vida Una. Cada ser vivo é um elo dessa Vida, cujo plano de ação e ligação é o planeta Terra. Daniela Velho, falando sobre o Corpo Consciência diz-nos que quando habita- mos profundamente o corpo e largamos a mente conceptual, todas as percepções sensoriais se tornam portas abertas à com- preensão profunda do mundo e da vida e ao reconhecimento da conexão íntima que temos com os mares, as montanhas, as florestas, os céus, as estrelas e com todos os seres. Precisamos, pois, de “despertar a consciência no corpo e abrirmo-nos ao conhecimento não judicativo da Vida que surge nele e através dele para descobrir aquilo que a todos nos liga e abrir espaço ao florescimento de um respeito profundo e transformador capaz de alterar radicalmen- te a nossa relação com a realidade. Quando criamos condições internas, atra- vés da meditação, ou externas, com o con- tato com a Natureza silvestre (wilderness), estamos a ir ao encontro dessa inesgotável fonte. Quanto mais mergulharmos nesses “elementos” mais a nossa consciência se expande e mais sentimos aquele preen- chimento interior e bem-estar que nos falta nas zonas degradadas de uma urbe. Muitos problemas do foro físico e mental devem-se ao stress e ao afastamento com essas “Naturezas”. Não é por acaso que agora se vê prescritas uma série de terapias integrativas ligadas a práticas na Natureza e mindfulness. As caminhadas, por exemplo, podem dar um grande contributo tanto para a boa forma física, como para o bem-estar mental. Podemos caminhar e meditar ao mesmo tempo, aliás como são as práticas do Budismo Zen - Kinhin -, e a própria arte meditativa taoísta - o Tai Chi. Podemos aproveitar para ouvir o vento, os pássaros, os rios no seu percurso ou as ondas do mar. Sentir os aromas das flores ou da chuva que cai após um dia de sol. Existem bactérias no solo que o simples contato com elas faz aumentar a produção da serotonina e a sensação de felicidade associada. Os japoneses têm o shinrin-yoku - o banho da Floresta - com estudos a demonstrar os benefícios para a saúde física e psicológica, nomeadamente a redução da sensação do stress, da pressão arterial, o fortalecimento do sistema imunitário, entre outros. A psicoterapeuta Therezinha Ebert-Gomes apresentou duas formas de psicoterapias ligadas à imersão na Natureza, a Marterapia e Jardinagem Terapia. A primeira liga-nos à fonte da vida que surgiu do mar, à imen- sidão e unidade que o mar representa. O tempo e o espaço são diferentes da nossa sociedade frenética. Certas técnicas de imersão acompanhadas pela terapeuta têm um efeito fantástico na cura do paciente. Mesmo quando temos dificuldade em nos deslocarmos da cidade para a Natureza, podemos sempre utilizar um pequeno jardim ou uma horta comunitária ou até uma janela ou varanda para colocar vasos de plantas e começar a tratar delas. Esse cuidado, esse contato, esse tempo utilizado, e o tempo que a Natureza tem para crescer, são fatores terapêuticos. Já Joana Miranda foca a concepção e a experienciação da natureza do xamanismo, analisando as potencialidades de transformação e cura a ele associadas: De facto, falar nas línguas do mar e da pedra, do pássaro e do animal, ou ir além da língua é uma forma de cura perceptual (Halifax, 1994: 92). O Mestre Liu Pai Lin, a propósito do Tai Chi Chuan, explica-nos que esta é uma prática da longevidade e do sentimento do Amor pois segue os princípios e a energia da natureza. Amor-próprio mas também Amor por todos os seres. Ou seja, práticas como o Tai Chi permitem-nos estabelecer contacto com a natureza, alimentarmo-nos dela - energia, sem ter que a depauperar, agredir ou danificar. Lin acrescenta, o sábio exercita a sua natureza cultivando-a sem cessar. Observando, e.g., o movimento de rotação da terra, ele constrói diariamente o frescor da vida nova. Nesta observação o homem aprende o caminho da espontanei- dade. É como se a Terra estivesse a fazer o Tai Chi Chuan, renovando o ar, impregnado novo frescor a todas as coisas. Pois a maior virtude da natureza é fazer nascer vida nova. O mesmo acontece com o Homem, obtendo ar puro, o sangue se renova e o espírito fica límpido. A prática do Tai Chi Chuan é a forma de renovarmos a nossa natureza criadora ligando-nos à Natureza conservando com naturalidade o amor no coração. E, com amor no coração - energia de cura - vem com espontaneidade a Compaixão, a Humildade e a Simplicidade - os chamados Três Tesouros no taoísmo, princípios éticos que fomentam o respeito por todos os seres e faz desenvolver esta experiência de conexão com o Todo e fortalece o laço fraterno que nos une. A Dimensão Espiritual da Natureza e do Ser Humano Com a industrialização e a concentração da população mundial nas cidades, o ser humano afastou-se da natureza e de si próprio. Perdeu o sentido de "Ser Terra", da vivência com os ciclos naturais, e com isso, a intuição segura de que Nós e a Terra for- mamos uma mesma realidade complexa, diversa e única. Esse sentido de pertença à Terra permitiu o desenvolvimento de uma sensibilidade e respeito notáveis, presentes em várias culturas e antigas tradições espirituais, onde cada elemento natural era considerado sagrado e desempenhava um papel no cosmos. Qualquer ação pressupunha cuidado, pedido e gratidão aos elementos envolvidos, porque os seres humanos também comungavam dessa Na- tureza. O rio e a montanha eram sagrados. Ainda hoje temos várias culturas que lutam para defender os seus locais sagrados da cobiça das grandes corporações, que querem destruir só para lucrar. Embora as religiões abraâmicas tivessem contribuído para o paradigma antropocen- trado e até androcentrado, devido às pala- vras de domínio e subjugação encontradas
  • 7. O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com 91 Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS no Génesis, algo que alguns investigadores referem à má tradução dos originais, a ima- gem do Jardim de Éden, criado por Deus é, em si, motivador para cuidar dele. Por conseguinte, temos assistido a uma nova preocupação dos movimentos religiosos no sentido de preservar a Obra de Deus. Maria José Varandas e Daniel Faria trouxeram à reflexão contributos muito inte- ressantes que nos permitem relembrar as raízes do Ser Humano e, recentrar o papel que lhe cabe na protecção e preservação do ambiente onde este reside - planeta Terra - sendo que isso pode vir a significar a transformação e a elevação da consciên- cia individual e colectiva da humanidade e, consequentemente gerar a mudança de paradigma que já há muito se impõe. Assim, Varandas centrou a sua comunica- ção na proposta apresentada na Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, que nos conduz à visão da Ecologia Integral e que, na prática, contempla uma acção de maior respeito e comunhão com a Terra. Parte da constatação do esquecimento - Esquece- mo-nos de que nós mesmos somos terra (ELS,2). A palavra “homem” vem do latim humus, que quer dizer terra. Esta é a raiz da humanidade e ao lembrar esta raiz surge uma via de evocação/celebração do ser em sintonia com a terra. Faria exalta a Ecologia Espiritual que subjaz na base do Cristia- nismo. Ambos encontram-se no sentido de que o ser humano deve deixar o papel de explorador da Natureza para se tornar num guardião do jardim de Éden. Fabrizio Boscaglia deu-nos a dimensão islâmica, diríamos sufi, da ligação entre esta religião e a dimensão ecológica. Clarifica a ideia de religião no Islão, dando-lhe um sentido de paz e pureza. Cita passagens do Alcorão que fogem ao conceito estritamente antro- pocêntrico da sua origem comum com o Judaísmo e o Cristianismo - O Mensageiro de Allah (...) disse: “Esta montanha nos ama e nós a amamos” (Muhammad, Tirmidhi); (...) as árvores e as rochas (...) declararam: “A paz esteja com você, ó Mensageiro de Deus! (Idem). Num outro registo, o aforismo grego Conhece-te a Ti Mesmo e Conhecerás o Universo, inscrito nos pórticos do Oráculo de Delfos, refere-nos a semelhança entre estes dois universos Homem-Natureza, e esta mesma ideia do Homem ser a repre- sentação microcósmica de um Macrocos- mos traduz igualmente a visão pragmática taoísta de milénios e está contida nas tradições herméticas. A via do TAO, é um caminho que segue a natureza e no qual, o Homem seguindo-O, ou harmonizando-se com Ele, vivencia essa dimensão espiritual. Trata-se de uma Lei Cósmica que respeitada permite viver em total comunhão com a Natureza/Universo. O capítulo 25 do livro O Caminho da Virtude [Tao Te Ching] de LaoTzu, explica-nos esta ordem cósmica que deveria ser seguida: O Homem segue a terra A Terra segue o céu O Céu segue o Tao O Tao segue a si mesmo Esta prática milenar pelo TAO, oriunda na China antiga, permite o homem viver a espiritualidade do Ser e alcançar a fase bú- dica tão almejada - a Iluminação - podendo
  • 8. 92 O Instalador Junho 2018 www.oinstalador.com Opinião AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS esta ser entendida tão simplesmente como experienciar a União. E, ao fazê-lo, entramos em sintonia com Todos os Seres compreen- dendo essa realidade única universal. Por observação cuidada da natureza, o antigo taoísta, soube perceber as relações existen- tes entre estes dois cosmos e estabelecer correspondências entre os elementos natu- rais e o corpo humano. Cuidar da Natureza é cuidar de si mesmo pois a natureza exter- na que surge ao nosso olhar é somente o reflexo da natureza interna do ser humano. E, é aqui que radica o segredo da resolução da crise ambiental. Só aprimorando esta visão e seguindo a direcção deste caminho [prática] que leva à união, os problemas ambientais se resolverão. Só quando nos alinharmos pelo TAO - Céu-Homem-Terra, é que entraremos no Grande Fluxo Universal de abundância, saúde, prosperidade e teremos a possibilidade de experienciar a total felicidade. Esta é a promessa. Na cultura Védica, e através da filosofia prática do Yoga encontramos a mesma con- ceptualização acerca do Ser Humano, da Natureza, considerando que o desequilíbrio exterior (ambiental) é fruto do desequilíbrio interior do Homem. Nesta acepção, e nas palavras de Paula Morais, Samkhya é a dimensão cósmica humana e Dharma sim- plesmente é o cuidar da natureza. Segundo a mesma autora, o yogi tem um compromis- so de sustentabilidade do Planeta, que não é, de todo, indissociável do cuidar da sua mente, dos seus pensamentos, dos seus actos porque quando se inicia o processo de svádhyáya (auto-estudo), compreende- mos que somos um contínuo de relações. Tudo interage, a todos os níveis. Para Morais o Yoga implica uma alquimia do coração, da empatia, uma forma de redescoberta constante da dimensão do sagrado e da responsabilidade, superando radicalmente a noção de uma natureza-máquina, para a Natureza como entidade viva. Isto é possível pela vivência em pleno com a Natureza Mãe - Mahá Shakti, na terminologia do Yoga e do Sámkhya. O mesmo nos diz Cláudia Martins que, enquanto praticantes de Yoga temos um papel neste cuidar do nosso Planeta, sendo os Áshrama (Centros filosóficos do Yoga) importantes locais de formação de uma consciência ecológica e de seres humanos mais fraternos. Todos podemos e devemos influenciar positivamente o Mundo, tornando-o num lugar melhor para viver, contribuindo para a Paz e para a sua Sustentabilidade. Tanto Morais como P. Martins evocam os Yamas e Niyamas que são um conjunto de regras éticas, que todo o Yogui deverá seguir. A prática da não-vio- lência com qualquer ser vivo é uma regra básica no Yoga. Também por esse motivo, o vegetarianismo é uma prática comum entre yoguis. O desenho e a arte em geral, como expressão individual ou colectiva, pode ser também uma via de experienciação da di- mensão do Sagrado. Na descrição poética dos desenhos de Sara Inácio, Linhas e as manchas desprendem-se dos lápis de cor como fios de vida pulsante. Fluxos verme- lhos … interior do corpo? ... correntes íg- neas da Terra? Serpentes celebram a vida em uniões místicas no meio do cosmos. (...) As espirais têm um movimento ascendente, como o fogo. O círculo dourado anuncia a alvorada. Honra a Beleza e a Unidade. Nota de Redacção: Esta é a primeira parte do artigo. A II parte será publicada na edição de Julho/Agosto da nossa revista.