Nos últimos tempos temos assistido a uma série imparável de calamidades. E, embora muitas delas sejam de natureza diferente, têm muito em comum, quer pela sua origem, quer pela intensidade dos fenómenos naturais. Furacões sucessivos nas Caraíbas e nos Estados Unidos da América, que bateram
recordes e deixaram um rasto de destruição maciça; cheias na Ásia, que ‘afogaram’ mais de um milhar de pessoas; incêndios devastadores em vários países e com muitas vidas humanas e não humanas a lamentar; avalanches que engoliram povoações inteiras; cidades irrespiráveis na China; seca severa em muitos locais; rios moribundos, sem água ou poluídos, são alguns exemplos que têm assolado ultimamente o nosso planeta. Muitos destes fenómenos, bem como a sua dimensão, têm a sua origem direta ou indiretamente na sequência da atividade humana.
A Ciência (que) Quer Salvar a Humanidade II - A Extinção em Massa, Jorge More...Jorge Moreira
Todos os relatórios/avisos da comunidade científica dizem que o que temos feito para salvar o Planeta é insuficiente e precisamos de alterações profundas na nossa sociedade, de uma ‘mudança transformadora’ para restaurar e proteger a Natureza e garantir um futuro para a Humanidade. Ainda não é tarde demais, mas amanhã já vai ser tarde demais. É necessário começar hoje, agora, e podemos fazê-lo através das nossas escolhas, nomeadamente com o que comemos, o que vestimos, como nos deslocamos, etc. Sejamos proativos. Mas também é necessário desconstruir os interesses instalados na sociedade, para dar primazia ao bem-comum, fazendo com que a defesa do bem-comum seja sinónimo de defesa da Natureza. O relatório do IPBES diz que a ‘mudança transformadora’, implica uma reorganização fundamental de todo o sistema, incluindo paradigmas, metas e valores.
“Chegámos junto da velha loba a tempo de observar um
altivo fogo verde a morrer nos olhos dela. Compreendi
nesse momento, e nunca mais deixei de o saber, que havia
algo de novo para mim naqueles olhos – algo que apenas
ela e a montanha conheciam. Nesse tempo […] pensava
[…] que o desaparecimento total dos lobos seria o paraíso
dos caçadores. Mas depois de ter visto aquele fogo verde a
extinguir-se, senti que nem o[a] lobo[a] nem a montanha
concordavam com essa maneira de ver (Leopold, 2008, p.
130)”
Artigo publicado na Revista Vento e Água - Ritmos da Terra nº 30, Setembro de 2021 https://ventoeagua.com/produto/revista-numero-30-21-setembro-2021/
Tal como aconteceu a John Muir, a montanha chamou-o, e Naess teve de ir para junto dela. As suas palavras são bem elucidativas: Estou a obedecer, a obedecer ao desejo de Hallingskarvet de vir (Naess, 1995). Parece que as experiências místicas junto à montanha que o filósofo norueguês descreve desde pequeno eram equivalentes à epifania que Aldo Leopold teve junto à loba moribunda. Neste caso, através do fogo verde que se soltava do olhar por da loba, a montanha revelou a Leopold a importância da harmonia, da beleza e da estabilidade ecológica.
Desde que Naess terminou a construção da cabana, em 1938, passou lá cerca de catorze anos da sua vida, onde desenvolveu o conceito de ecologia profunda, que viria a reinventar o olhar do ser humano sobre si mesmo e sobre o Ambiente envolvente.
Revista 'Vento e Água' nº 27
https://ventoeagua.com/revistas/27/
Resgatar a Humanidade, Alcide Gonçalves e Jorge Moreira, O Instalador, março ...Jorge Moreira
A palavra ‘humanidade’ deriva do latim’ humanitas’ e ‘humanitatis’, que significa cultura, civilização, natureza humana, carácter, sentimento, bondade, benevolência, cortesia e compaixão. Trata-se de uma palavra que exprime uma série de qualidades nobres, que residem profundamente no coração do ser humano.
Mas, esta palavra, significa também um conjunto de seres humanos, sendo ‘humanos’, relativo ao homem, que por sua vez é derivado de ‘homo’, relacionado como ‘humus’, terra. Quando vamos à raiz das coisas, acabamos por perceber que a Humanidade é simultaneamente um conjunto de qualidades e seres da terra. Isto sugere, que no sentido lato, todos os seres da terra podem ser considerados Humanidade. Todas as espécies, incluindo a Homo sapiens. Na verdade, não estaríamos cá sem o papel das outras espécies, tanto no que concerne a nível evolutivo, como ecológico. Não conseguiríamos existir e viver sem o contributo delas. Mas a palavra ‘terra’ também significa chão, solo, território, região de origem, nação, ou o próprio planeta Terra. Neste contexto, a Humanidade pode também ser considerada toda a Terra - a nossa grande Mãe. Há um traço de familiaridade cósmica.
Disciplina de Ciências do Ambiente
Curso de Engenharia de Produção - UEMA
Capítulo 1: Conceitos Básicos - Ecologia
Conteúdo: Ecologia, ecossistemas, cadeia alimentar e ciclos biogeoquímicos.
A Ciência (que) Quer Salvar a Humanidade II - A Extinção em Massa, Jorge More...Jorge Moreira
Todos os relatórios/avisos da comunidade científica dizem que o que temos feito para salvar o Planeta é insuficiente e precisamos de alterações profundas na nossa sociedade, de uma ‘mudança transformadora’ para restaurar e proteger a Natureza e garantir um futuro para a Humanidade. Ainda não é tarde demais, mas amanhã já vai ser tarde demais. É necessário começar hoje, agora, e podemos fazê-lo através das nossas escolhas, nomeadamente com o que comemos, o que vestimos, como nos deslocamos, etc. Sejamos proativos. Mas também é necessário desconstruir os interesses instalados na sociedade, para dar primazia ao bem-comum, fazendo com que a defesa do bem-comum seja sinónimo de defesa da Natureza. O relatório do IPBES diz que a ‘mudança transformadora’, implica uma reorganização fundamental de todo o sistema, incluindo paradigmas, metas e valores.
“Chegámos junto da velha loba a tempo de observar um
altivo fogo verde a morrer nos olhos dela. Compreendi
nesse momento, e nunca mais deixei de o saber, que havia
algo de novo para mim naqueles olhos – algo que apenas
ela e a montanha conheciam. Nesse tempo […] pensava
[…] que o desaparecimento total dos lobos seria o paraíso
dos caçadores. Mas depois de ter visto aquele fogo verde a
extinguir-se, senti que nem o[a] lobo[a] nem a montanha
concordavam com essa maneira de ver (Leopold, 2008, p.
130)”
Artigo publicado na Revista Vento e Água - Ritmos da Terra nº 30, Setembro de 2021 https://ventoeagua.com/produto/revista-numero-30-21-setembro-2021/
Tal como aconteceu a John Muir, a montanha chamou-o, e Naess teve de ir para junto dela. As suas palavras são bem elucidativas: Estou a obedecer, a obedecer ao desejo de Hallingskarvet de vir (Naess, 1995). Parece que as experiências místicas junto à montanha que o filósofo norueguês descreve desde pequeno eram equivalentes à epifania que Aldo Leopold teve junto à loba moribunda. Neste caso, através do fogo verde que se soltava do olhar por da loba, a montanha revelou a Leopold a importância da harmonia, da beleza e da estabilidade ecológica.
Desde que Naess terminou a construção da cabana, em 1938, passou lá cerca de catorze anos da sua vida, onde desenvolveu o conceito de ecologia profunda, que viria a reinventar o olhar do ser humano sobre si mesmo e sobre o Ambiente envolvente.
Revista 'Vento e Água' nº 27
https://ventoeagua.com/revistas/27/
Resgatar a Humanidade, Alcide Gonçalves e Jorge Moreira, O Instalador, março ...Jorge Moreira
A palavra ‘humanidade’ deriva do latim’ humanitas’ e ‘humanitatis’, que significa cultura, civilização, natureza humana, carácter, sentimento, bondade, benevolência, cortesia e compaixão. Trata-se de uma palavra que exprime uma série de qualidades nobres, que residem profundamente no coração do ser humano.
Mas, esta palavra, significa também um conjunto de seres humanos, sendo ‘humanos’, relativo ao homem, que por sua vez é derivado de ‘homo’, relacionado como ‘humus’, terra. Quando vamos à raiz das coisas, acabamos por perceber que a Humanidade é simultaneamente um conjunto de qualidades e seres da terra. Isto sugere, que no sentido lato, todos os seres da terra podem ser considerados Humanidade. Todas as espécies, incluindo a Homo sapiens. Na verdade, não estaríamos cá sem o papel das outras espécies, tanto no que concerne a nível evolutivo, como ecológico. Não conseguiríamos existir e viver sem o contributo delas. Mas a palavra ‘terra’ também significa chão, solo, território, região de origem, nação, ou o próprio planeta Terra. Neste contexto, a Humanidade pode também ser considerada toda a Terra - a nossa grande Mãe. Há um traço de familiaridade cósmica.
Disciplina de Ciências do Ambiente
Curso de Engenharia de Produção - UEMA
Capítulo 1: Conceitos Básicos - Ecologia
Conteúdo: Ecologia, ecossistemas, cadeia alimentar e ciclos biogeoquímicos.
Processos Interativos Homem-Meio Ambiente David DrewCristiano Vilaça
Fichamento do Livro Processos Interativos Homem-Meio Ambiente, feito para a Disciplina de Ecologia, no 3º Ano do Curso de Geografia da UNESPAR, Campus Paranavaí
A Ciência (que) quer salvar a Humanidade – porque em breve será tarde demaisJorge Moreira
Passados 25 anos, e perante um cenário ainda mais devastador, os cientistas voltam a avisar a humanidade, agora em maior número e intensidade discursiva. Foram 15.364 elementos da comunidade científica, alguns deles laureados com o Nobel, de 184 países, incluindo mais de 200 portugueses. A nova carta aberta dirigida à Humanidade é um alerta para a ameaça que paira sobre a continuidade da nossa espécie. Curiosamente, não estamos perante um evento catastrófico à escala global, como de um corpo celeste que se dirige ameaçador contra o nosso planeta ou na iminência de uma série de cataclismos naturais à superfície. Trata-se simplesmente da ação humana, em franco crescimento sobre os recursos naturais, que tem levado à perda desastrosa da biodiversidade e dos serviços que suportam a vida na Terra.
Onde é que nos encontramos para aonde estamos a ir e onde devemos estarJorge Moreira
A ascensão de um populismo bruto, que temos assistido ultimamente, reflete o mal-estar das populações com a classe política, mas este caminho ainda é pior do que o anterior. Não leva em conta os factos mais importantes como as alterações climáticas, a destruição do suporte de vida na terra, a nossa relação com os outros, com os animais e a vida em geral. A realidade é alienada para dar origem a mais uma história de entretimento, neste caso, nacionalista. Mas, independentemente das narrativas que inventados como alternativas à realidade, a natureza não tem fronteiras antrópicas, não quer saber das nossas histórias e reflete sempre a verdade.
Acho que de uma forma ou de outra todos estamos a perceber que caminhamos para o abismo. Vivemos uma crise multidimensional, isto é: ecológica, ambiental, climática, pessoal, social, demográfica, económica, financeira, de saúde pública, de perceção, etc. porque na realidade todos estas dimensões se cruzam. Nada existe separado. Muitas das consequências já são tão profundas que as mudanças são inevitáveis e irreversíveis. Por esse motivo fala-se agora em adaptações, porque não há que voltar atrás. Mas o futuro constrói-se no presente e já provamos que somos uma força transformadora global. Só precisamos de mudar o rumo das nossas ações, da nossa forma de ver e estar no mundo. Precisamos de derrubar muros e fronteiras entre povos e culturas; criar pontes de diálogo; incentivar a cidadania e a governança; cuidar, respeitar e proteger a natureza que é fonte de bem-estar; abandonar qualquer prática que fomente a exploração ou crueldade de seres sencientes, imprópria de uma sociedade evoluida e apostar nas energias descentralizadas. Está na hora de acordar. De dar o salto quântico da nossa evolução como sociedade do século XXI. Está na hora de construirmos um futuro novo, mais belo, humana e esteticamente. Temos de voltar à verdade, mas não aquela verdade que só olha para os números. Temos de observar a verdade no coração das pessoas, nos olhos dos animais e na paisagem natural. Desconstruir a tecnociência e a economia fria
e materialista, que esmaga tudo à sua volta e voltar a pintar o mundo com cores alegres que se soltam da alegria de viver em harmonia e partilha com os outros.
Processos Interativos Homem-Meio Ambiente David DrewCristiano Vilaça
Fichamento do Livro Processos Interativos Homem-Meio Ambiente, feito para a Disciplina de Ecologia, no 3º Ano do Curso de Geografia da UNESPAR, Campus Paranavaí
A Ciência (que) quer salvar a Humanidade – porque em breve será tarde demaisJorge Moreira
Passados 25 anos, e perante um cenário ainda mais devastador, os cientistas voltam a avisar a humanidade, agora em maior número e intensidade discursiva. Foram 15.364 elementos da comunidade científica, alguns deles laureados com o Nobel, de 184 países, incluindo mais de 200 portugueses. A nova carta aberta dirigida à Humanidade é um alerta para a ameaça que paira sobre a continuidade da nossa espécie. Curiosamente, não estamos perante um evento catastrófico à escala global, como de um corpo celeste que se dirige ameaçador contra o nosso planeta ou na iminência de uma série de cataclismos naturais à superfície. Trata-se simplesmente da ação humana, em franco crescimento sobre os recursos naturais, que tem levado à perda desastrosa da biodiversidade e dos serviços que suportam a vida na Terra.
Onde é que nos encontramos para aonde estamos a ir e onde devemos estarJorge Moreira
A ascensão de um populismo bruto, que temos assistido ultimamente, reflete o mal-estar das populações com a classe política, mas este caminho ainda é pior do que o anterior. Não leva em conta os factos mais importantes como as alterações climáticas, a destruição do suporte de vida na terra, a nossa relação com os outros, com os animais e a vida em geral. A realidade é alienada para dar origem a mais uma história de entretimento, neste caso, nacionalista. Mas, independentemente das narrativas que inventados como alternativas à realidade, a natureza não tem fronteiras antrópicas, não quer saber das nossas histórias e reflete sempre a verdade.
Acho que de uma forma ou de outra todos estamos a perceber que caminhamos para o abismo. Vivemos uma crise multidimensional, isto é: ecológica, ambiental, climática, pessoal, social, demográfica, económica, financeira, de saúde pública, de perceção, etc. porque na realidade todos estas dimensões se cruzam. Nada existe separado. Muitas das consequências já são tão profundas que as mudanças são inevitáveis e irreversíveis. Por esse motivo fala-se agora em adaptações, porque não há que voltar atrás. Mas o futuro constrói-se no presente e já provamos que somos uma força transformadora global. Só precisamos de mudar o rumo das nossas ações, da nossa forma de ver e estar no mundo. Precisamos de derrubar muros e fronteiras entre povos e culturas; criar pontes de diálogo; incentivar a cidadania e a governança; cuidar, respeitar e proteger a natureza que é fonte de bem-estar; abandonar qualquer prática que fomente a exploração ou crueldade de seres sencientes, imprópria de uma sociedade evoluida e apostar nas energias descentralizadas. Está na hora de acordar. De dar o salto quântico da nossa evolução como sociedade do século XXI. Está na hora de construirmos um futuro novo, mais belo, humana e esteticamente. Temos de voltar à verdade, mas não aquela verdade que só olha para os números. Temos de observar a verdade no coração das pessoas, nos olhos dos animais e na paisagem natural. Desconstruir a tecnociência e a economia fria
e materialista, que esmaga tudo à sua volta e voltar a pintar o mundo com cores alegres que se soltam da alegria de viver em harmonia e partilha com os outros.
Os eventos climáticos e naturais passam a ser impactantes quando ocorrem em áreas onde não deveriam existir assentamentos humanos. Na falta de medidas mitigadoras essas populações terminam reféns da Natureza. mesmo assim, os Humanos ainda continuam desmatando as encostas, obstruindo leitos de rios, avançando suas obras em direção ao mar, enfim, duelando contra a própria natureza.
O artigo trata dos problemas sociais causados pelos fenômenos naturais, que não são tratados como deveriam pelas autoridades gestoras, provocando, como consequência, graves tragédias, principalmente sociais.
Da cidade distópica à utopia possível - Jorge Moreira - Prisma.SOCJorge Moreira
O crescimento rápido da urbe não trouxe só vantagens. Com ele surgiram muitos problemas ambientais, com as cidades a gerar 70% das emissões globais de CO2 e o uso de mais de 60% dos recursos (United Nations,
2019). O primeiro fator tem um
papel preponderante na
problemática das alterações climáticas, e o segundo no esgotamento dos recursos naturais, desflorestação e perda dramática da biodiversidade. Em muitas cidades a poluição do ar tornou-se um fator de risco para a saúde pública...
Pensar a Humanidade e as Redes através da Teia da Vida, Revista Cescontexto 3...Jorge Moreira
A comunidade científica aponta-nos cenários apocalípticos de caos climático e ecológico. Um futuro cada vez mais presente, que emerge de uma força transformadora antropogénica de larga escala. Este trabalho, apresentado na International Conference Beyond Modernity: Alternative Incursions into the Anthropocene do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em 2021, aborda uma nova forma de pensar as redes sociais, ampliando a dimensão reticular da vida social, integrando-a numa rede maior, a teia da vida, que liga todas a formas de vida e entrelaça todos os fenómenos naturais.
A «Floresta» em Portugal Porquê uma Aliança pela Floresta AutóctoneJorge Moreira
Cerna Nº 83, 2020
A pedido da Cerna, e para tornar mais compreensível aos conservacionistas e ecologistas da Galiza a situação da floresta autóctone em Portugal, enviamos estas notas que poderão ter alguma utilidade. Expomos por ordem cronológica, ao longo de cinco anos, como surgiu a Aliança pela Floresta Autóctone e como tem vindo a desenvolver-se e enraizar-se, muito lentamente é certo, como iniciativa informal.
Adiante tentamos explicar o que pretendemos com ela.
Estado do Ambiente - uma retrospetiva de 2019 - O Instalador 284Jorge Moreira
Em Portugal as ameaças ambientais sucedem-se num ritmo vertiginoso: novo aeroporto no Montijo, dragagens no Sado e noutros locais sensíveis, construção na orla costeira e zonas de cheias, projetos megalómanos para locais ainda preservados, exploração de lítio, agricultura superintensiva no Alentejo, monocultura de eucaliptos, continuação com o uso do glifosato e de outros pesticidas perigosos, etc. O mais infeliz desta situação é termos institutos estatais de defesa do Ambiente e da Natureza que dão aval, mesmo sabendo que há violações graves aos meios que tutelam.
"Eu também tenho um sonho: que governos, partidos políticos e empresas compreendam a urgência da crise climática e ecológica e se unam apesar das suas diferenças - como vocês fariam em caso de emergência - e tomem as medidas necessárias para salvaguardar as condições de uma vida digna para todos na terra"
Greta Thunberg, discurso no Congresso Norte-Americano, 2019
Educação para a emergência ecológica I Jorge Moreira
Este modelo educativo está longe de formar indivíduos livres pensadores, eticamente responsáveis e cidadãos conscientes, que consigam atender às exigências prementes de si mesmos, da sociedade e do Ambiente. O resultado deste sistema é a crise multidimensional, cuja crise ecológica é a sua manifestação mais evidente
As flores silvestre contribuem para a diversidade biológica, aumentam a produção agrícola, diminuem o uso de pesticidas e tornam a agricultura mais sustentável e sadia.
Tudo isto, e ainda pintam com o aroma da cor, da forma e fragrância onde se encontram. São realmente seres especiais, que merecem toda a nossa atenção e consideração.
Reutilização, Reparação e Reciclagem de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos,...Jorge Moreira
A reciclagem, a reparação e a reutilização de equipamentos elétricos e eletrónicos contribuem para minimizar os problemas ambientais e trazem ainda vantagens sociais e económicas para os consumidores. Veja como:
Resíduos Urbanos: um problema com valor acrescentado, Alcide Gonçalves e Jorg...Jorge Moreira
Somos efetivamente uma sociedade de resíduos, com um impacto enorme no Ambiente e na qualidade de vida das pessoas. Os mares estão cheios de plástico e já começamos a comer micropartículas de plástico oriundas dos alimentos. Já foram tomadas medidas para diminuir o seu uso, mas não chega. É necessário voltar ao granel, aos mercados locais, à devolução das garrafas e embalagens, à compostagem caseira dos resíduos orgânicos mas, acima de tudo, é necessário uma nova Educação capaz de fomentar uma consciência limpa e livre de consumismos, capaz de cuidar de si e da Terra
A Vida no Centro do Universo, Revista o instalador 271Jorge Moreira
A Ecologia olha para o ser humano, da mesma forma que olha para as outras formas de vida, como um produto de um processo evolutivo, num complexo sistema interdependente e interconectado constituído pelos seres vivos. Esta forma científica reverte para um juízo moral, em que não há seres mais importantes do que outros. Para Taylor, cada organismo é per se um centro teleológico de vida, portador de dignidade inerente, o que lhe confere o estatuto de sujeito moral, não devendo ser tratado como meio para o fim de alguém. Assim, o ser humano é moralmente obrigado a proteger e promover o bem dos membros da comunidade biótica por si próprios.
Decrescimento – Crescer no Essencial, Jorge Moreira, Revista O Instalador 270Jorge Moreira
O decrescimento propõe-nos uma utopia concreta - um caminho diferente de uma sociedade de consumo, que consome pessoas e a Natureza, para uma sociedade de abundância frugal e de prosperidade humana e ecológica
Colóquio Vita Contemplativa - Mãe Natureza, Terra Viva Ecosofia, Ecologia Pro...Jorge Moreira
Quando observamos a Terra de fora, todos os indivíduos, todas as etnias humanas, todas as espécies de seres vivos, todas as serras, florestas, rios, lagos e mares, todos os Reinos da Natureza não têm fronteiras e são em conjunto a Terra.
Da mesma forma decorreu o Colóquio Vita Contemplativa Mãe Natureza, Terra Viva. Muitos contributos, de áreas tão distintas, mas todas apontaram caminhos ecosóficos idênticos.
(Esta é a segunda e última parte do artigo publicado, inicialmente, na edição de Junho de 2018 da Revista O Instalador)
Colóquio Vita Contemplativa - Mãe Natureza, Terra Viva Ecosofia, Ecologia Pro...Jorge Moreira
O Colóquio do Seminário Permanente “Vita Contemplativa - Práticas Contemplativas e Cultura Contemporânea" do Grupo Praxis do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, com o apoio do Círculo do Entre-Ser, trouxe este ano [14-15 Maio 2018] à reflexão o tema Mãe-Natureza, Terra Viva com o enfoque nos contributos da ecosofia, da ecologia profunda e da ecologia espiritual face à crise ecológica.
Durante dois dias, e de formas particulares, celebrou-se a Natureza, tornaram-se vivas memórias dessa Natureza em nós, apresentaram-se excelentes exemplos de sustentabilidade, formularam-se utopias possíveis e desejáveis de concretização, partilharam-se testemunhos, reforçaram-se laços e debateram-se contributos tão diversos para o tema: da Espiritualidade às práticas Eco-espirituais; do Xamanismo ao Yoga; do Taoísmo ao Budismo; do Cristianismo ao Islamismo; da cosmovisão dos povos primevos às experiências místicas, das metatopias urbanas às alimentares, da perspetiva de Heidegger à Física Quântica, da igualdade de gênero aos direitos da Natureza; da Transição à Permacultura; do Papa Francisco ao Compromisso com a Casa Comum; do contato com a Natureza às psicoterapias; do Caos a Gaia, passando por Eros - da Mitologia à Filosofia; da consciência do corpo à consciência da Terra, da Arte (cinema, arquitetura, pintura escultura, música, etc.) à Ciência holística; do Ecocentrismo ao Princípio feminino; da Ética à Ontologia e vice-versa.
As várias participações trouxeram visões e contributos preciosos que não podem ficar guardados com o encerramento do evento, pelo que deixamos aqui algumas das mensagens e ideias-chave debatidas.
O nosso dia de Alcide Gonçalves e Jorge Moreira, O Instalador, maio 2018Jorge Moreira
Falta festejar o dia em que cresceremos em consciência e conseguirmos integrar todo o Planeta como se fosse o nosso corpo, as nossas emoções e a nossa mente. Cada espécie passa a ser compreendida como uma célula nossa. Rios, florestas, montanhas, glaciares, lagos e oceanos são como os nossos órgãos. O sofrimento do boi ou da baleia passa a ser o nosso sofrimento. A alegria que emana do canto do rouxinol tem eco na nossa alegria. E nós passamos a compreender e a colaborar na internet micélica da vida
A Vida dos Rios da Vida, Jorge Moreira, Revista O Instalador, Abril 2018Jorge Moreira
A ideia de que os rios são as veias da Terra existe em diferentes geografias, culturas e épocas. Um dos maiores sábios que floresceu no seio da Humanidade foi Leonardo Da Vinci. A sua capacidade de ver mais além do que o comum dos mortais levou-o ao grande axioma hermético, o princípio da
correspondência, que existe entre dimensões e aspectos da vida. A analogia entre um organismo e a Natureza, mais precisamente, entre o funcionamento de um corpo humano e a Terra (...) Estas conclusões remetem também para a Terra como organismo vivo, mais tarde fundamentada cientificamente através da Teoria de Gaia, também conhecida por Hipótese biogeoquímica de James Lovelock e Lynn Margulis.
A Terra é um complexo sistema, cuja a água é peça fundamental para a vida. Assim, os rios saudáveis são os canais de vitalidade da Terra. Transportam água e sedimentos ricos em nutrientes e minerais (...)
As alterações climáticas, a poluição e a destruição das florestas autóctones, fruto do nosso egoísmo e antropocentrismo, afetam gravemente os rios. Sem eles não há vida como a conhecemos e este planeta, outrora lindo, ficará mais parecido do que nunca com o seu vizinho Marte. Certamente que por mais cegos e gananciosos que possamos ser, não vamos querer viver sem as belas curvas dos rios, sem a sua frescura cristalina, sem os rápidos, cachoeiras e deltas, sem os Guarda-rios ou a brincadeira da Lontra. O rio não é um recurso. É a seiva que alimenta a vida! Chegou a hora de defender a vida do fogo da morte.
Práticas sustentáveis e escolhas éticas, Jorge Moreira, Revista o Instalador ...Jorge Moreira
Vivemos num planeta maravilhoso, onde a vida sorri em milhões de formas, cores, sons, paladares e perfumes. Dá-nos ainda mais sentidos e um sentido a tudo. Um planeta onde a vida floresce, evolui e desperta para mundos interiores de consciência infinita. A Terra dá-nos isso tudo, alimenta o nosso corpo, fascina-nos intelectualmente e preenche-nos com a magia da sua beleza. Haverá algo mais incrível? Então porque estamos a destruir este paraíso?
Incêndios florestais tragédia, insensibilidade e irresponsabilidadeJorge Moreira
Quantas vezes me questionei sobre qual deverá ser a área ardida, quantos bens necessitam de ser consumidos, quantas vidas humanas precisarão de ser ceifadas pelo fogo para alterar efetivamente a política e a gestão do espaço florestal?
Quanto sofrimento será necessário para repôr a vida e o bem-estar das populações à frente dos interesses particulares de certas atividades económicas? (...)
Depois do que assistimos no ano passado, faltou colocar em emergência a florestal nacional, como de uma ameaça de guerra se tratasse. Não é por acaso que quando há calamidades, como a de Pedrógão Grande, temos no teatro das operações uma enorme quantidade de recursos disponibilizados, alguns imensamente bem pagos. (...)
De que estão à espera para alterar profundamente o estado
das coisas? De que estão à espera para substituírem o coberto vegetal por espécies mais resilientes aos fogos? De que estão à espera para gerirem o território de forma inteligente,
sustentável e ecológica? De que estão à espera para colocarem a floresta como desígnio nacional? Onde está a insensibilidade e a responsabilidade do Estado?
Direitos da natureza: o simples direito à existência, de Alcide Gonçalves e J...Jorge Moreira
Com o enorme contributo da ciência e da filosofia, que recuperaram a cosmovisão dos povos antigos - um mundo em que tudo se encontra interligado e se relaciona entre si – e que o ser humano é um elo inseparável na cadeia da vida do planeta, é incompreensível dizer que só os seres humanos têm direitos, especialmente quando estes acham que têm o direito de explorar, abusar e destruir toda a vida e toda a beleza da criação. A Natureza tem direitos sim! É a nossa mãe, o nosso suporte, o nosso alimento, a água que sacia a nossa sede, o ar que respiramos, a energia que necessitamos e o perfume que nos inspira. É a Vida que abraça a nossa vida! Como não tem direitos?
A Importância das Ecoaldeias para o Futuro do Planeta - Jorge Moreira, Revist...Jorge Moreira
As ecoaldeias são excelentes exemplos de vida sustentáveis e inspiradores de como o mundo deveria ser – pacífico, saudável e ecológico. São locais especiais para aprender o significado e o propósito da vida, para descobrir a capacidade criativa e espiritual que existe em cada um de nós. A sua missão principal é explorar novas ideias e experimentar soluções concretas para a sustentabilidade. A educação e a investigação transdisciplinar e holística é uma realidade que perfuma estes locais. Nesta busca constante entre sabedoria tradicional e ciência de ponta, elas constroem modelos tecnológicos alternativos, que incluem a ética ecocêntrica, a arte, o cuidado, o respeito e o ativismo não--violento. As ecoaldeias são locais efetivos que combatem a degradação social e ecológica e restabelecem a conexão entre todos os seres.
e a natureza.
Em maio de 2023 pisei no monte das Oliveiras. O que dizer do Monte das Oliveiras??? Aqui Jesus teve vivencias incríveis, do monte das Oliveiras Jesus orou com grande agonia, local que foi construído a igreja de Todas as Nações. Daqui ele subiu aos céus. No Monte das Oliveiras está o túmulo de Zacarias. Aqui, a Igreja Mórmon construiu uma importante Universidade. No monte das Oliveiras se localiza o famoso hotel Sete Arcos, como também está o túmulo de Maria, segundo uma tradição. Aqui está a necrópole de Silwan. No monte das Oliveiras se localiza a caverna de Josafá, e por aqui tem inscrições da época bizantina, o jardim do Getsêmani, o bairro At-tur. A igreja do Pater Noster etc.
O monte das Oliveiras já foi domínio de várias impérios que conquistavam Israel e consequentemente o Monte das Oliveiras, mas na história moderna foi possessão da Jordânia, até que na Guerra dos Seis Dias, Israel reconquistou-a. Diariamente judeus, muçulmanos e cristãos sobem e descem o monte das Oliveiras tratando-o como um lugar sagrado. Aqui está o cemitério mais importante dos judeus, pois acreditam que os primeiros a ressuscitarem se levantarão do gigantesco cemitério judaico que fica aqui.
1. 88 O Instalador Outubro 2017 www.oinstalador.com
Nos últimos tempos temos assistido a uma
série imparável de calamidades. E, embora
muitas delas sejam de natureza diferente,
têm muito em comum, quer pela sua origem,
quer pela intensidade dos fenómenos natu-
rais. Furacões sucessivos nas Caraíbas e nos
Estados Unidos da América, que bateram
recordes e deixaram um rasto de destruição
maciça; cheias na Ásia, que ‘afogaram’ mais
de um milhar de pessoas; incêndios devas-
tadores em vários países e com muitas vidas
humanas e não humanas a lamentar; ava-
lanches que engoliram povoações inteiras;
cidades irrespiráveis na China; seca severa
em muitos locais; rios moribundos, sem água
ou poluídos, são alguns exemplos que têm
assolado ultimamente o nosso planeta.
Muitos destes fenómenos, bem como a sua
dimensão, têm a sua origem direta ou indire-
tamente na sequência da atividade humana.
No final de agosto deste ano, o furacão Har-
vey causou pelo menos 71 mortos, inundou
Houston, a cidade mais populosa do Texas, e
estima-se que provocou prejuízos superiores
a 83 mil milhões de euros. Já em setembro,
surgiu o furacão Irma e os seus ‘irmãos’ Jose
e Katia. Pela primeira vez tivemos três fura-
cões ao mesmo tempo com o potencial de
atingir terra firme. Os cientistas nunca viram
nada assim! O Irma bateu muitos os recordes
como fenómeno meteorológico e em termos
humanos, deixando um rasto de destruição
por onde passou. Foi o furacão registado
com a maior energia acumulada de ciclone.
Destruiu ilhas inteiras na Caraíbas e entrou no
Estado Americano da Flórida. Vitimou cerca
de seis dezenas de pessoas e prevê-se pre-
juízos em cerca de 41 mil milhões de euros
só nos Estados Unidos. Se tivesse passado
um pouco ao lado, os prejuízos rondavam os
166 mil milhões. A recuperação das estru-
turas humanas danificadas pela passagem
do Harvey e do Irma levará décadas. Ainda
em setembro, um novo furacão matou 33
pessoas no Caribe e deixou um rasto de
destruição em Porto Rico. O Maria foi o pior
evento nesta ilha em quase 90 anos.
Não se pode dizer que foram as alterações
climáticas a causa direta dos furacões, mas
é consensual entre a comunidade científica
afirmarqueasalteraçõesclimáticastornamos
furacões mais poderosos, mais numerosos
e mais persistentes, já que as temperaturas
médias globais do ar e do oceano continuam
a subir, proporcionando maiores quantida-
des de energia, que flui através do ar quente
e húmido acima dos oceanos tropicais, que
por sua vez alimenta os furacões. O potencial
de destruição também é significativamente
maior, porque temperaturas mais elevadas
proporcionam mais humidade e o furacão
causa mais inundações. O aumento do nível
do mar local é outro problema normalmente
associado a este fenómeno, invadindo as
zonas costeiras.
Em muitos locais, como nos Estados
Unidos da América e no Sul da Europa, os
fogos mostraram-se cada vez mais severos
e incontroláveis, muito devido aos fenómenos
meteorológicos extremos, na sequência
das alterações climáticas. Mesmo em locais
improváveis, tais como algumas áreas do
Canadá e da Gronelândia, ou no nosso país
durante o inverno, surgiram inesperadamente
fogos de grande dimensão. Mas, Portugal, lo-
calizado no globo numa zona muito vulnerável
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
A era das
catástrofes
antrópicas
Texto_Jorge Moreira
[Ambientalista e Investigador]
"E assim o mundo está a morrer, a morrer tanto da nossa exploração industrial, das toxinas
da nossa cultura, da perda de espécies, mas também a morrer da perda do sagrado. Esta
devastação interna e externa anda de mãos dadas no abismo que enfrentamos, mesmo
enquanto continuamos a esquecer ... Se pudermos ouvir o choro da Terra, sentir esse sofrimento
na nossa alma, então algo no nosso coração se abre. Não estamos separados da Terra, a sua
perda é a nossa perda, ela chora o nosso grito. O nosso coração torna-se a oração da Terra,
que chama e adora a resposta a essa chamada".
Llewellyn Vaughan Lee
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Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
às alterações climáticas, tem um exemplo
que deve ser evitado. A alteração profunda
do coberto vegetal, que passou de uma área
resiliente de floresta autóctone cuidada e de
pastorícia, para monoculturas de eucalipto e
pinheiro-bravo, muitas delas abandonadas
e altamente problemáticas na questão dos
fogos florestais, intensificou a dimensão da
catástrofe. Foi um verão seco e violento, com
vastas áreas ardidas, dezenas de vidas huma-
nas perdidas e estruturas queimadas.
Embora pouco coberto pelos media, a
Índia, o Bangladesh e o Nepal enfrentaram
recentemente as piores inundações no sul da
Ásia em décadas de registo. Mais de 1200
pessoas mortas e milhões de desalojados.
De acordo com a ONU foram afetadas pelas
inundações 41 milhões de pessoas. É ver-
dade que nesta época do ano e neste canto
do planeta, as monções são uma realidade
preocupante, mas este ano o problema agra-
vou-se substancialmente. Corinne Ambler
da Cruz Vermelha do Bangladesh, afirmou
à BBC na sequência desta catástrofe: Acho
que no resto do mundo as pessoas não
têm ideia da escala desse desastre. Esta
calamidade vem piorar a situação do Nepal,
na medida que este país ainda se encontra a
recuperar do violento sismo de 2015.
A poluição, conjuntamente com a desflores-
tação e as alterações climáticas, tem deixado
muitas cidades irrespiráveis, com ameaças
sérias à saúde e bem-estar das suas
populações. A imagem de transeuntes chi-
neses com máscaras, faz lembrar cenários
apocalípticos retratados nos filmes de ficção
científica dos anos 80 do século passado.
Em Portugal, com a seca deste verão e os
despejos criminosos de poluentes, secaram
historicamente pequenos rios e muitas
albufeiras ficaram no limiar do abastecimento
seguro de água potável. Houve casos em
que tiveram de diminuir a população de
peixes nas albufeiras para não interferir na
qualidade da água. O maior rio de Portugal
está a morrer e nem o Douro escapa. Nos
dias seguintes ao Red Bull Air Race, que
trouxe uma massa de pessoas às Ribeiras do
Porto e Gaia, ninguém conseguia suportar o
cheiro nauseabundo local que vinha do rio,
especialmente durante a maré baixa.
Tudo o que está a acontecer foi previsto pela
ciência e pelos ambientalistas. Mas políticos
comprometidos com interesses particulares
de algumas corporações negam as evidên-
cias e os cenários projetados pelos modelos
científicos. Ainda hoje, assistimos ao discur-
so do presidente de uma das mais influentes
nações do Planeta, negar as alterações
climáticas e a destruir todo um programa am-
biental orientado para minimizar o problema,
só porque condicionava a economia hege-
mónica. É preciso rever as contas e perceber
se os estragos provocados pelas alterações
climáticas ou a necessárias adaptações
climáticas não trarão maiores prejuízos para
a economia vigente.
Para além das catástrofes acima referidas,
cujo traço de origem é de fácil identificação,
existem outros eventos aos quais atribuímos
causas naturais. Ainda recentemente, o
México sofreu vários terramotos violentos.
Sabemos que geologicamente aquela
localização é naturalmente propícia a este
tipo de fenómenos, devido à proximidade
com a zona de subducção, isto é, uma área
de convergência entre placas tectónicas,
na qual uma delas desliza sob a outra. Mas
será que os eventos do México ou de outros
abalos recentes verificados em vários locais
do Planeta são tão naturais quanto isso?
Dificilmente saberemos a verdade, mas não
podemos excluir que muitos fenómenos
extremos, aparentemente naturais, não
tenham sido originados ou potenciados pela
atividade humana. A Mineração, as expe-
riências com material bélico e a exploração
3. 90 O Instalador Outubro 2017 www.oinstalador.com
de hidrocarbonetos podem originar sismos,
deslizamentos de depósitos e erupções vul-
cânicas. Por exemplo, a revista Nature Geos-
cience, relacionou diretamente a perfuração
hidráulica de uma empresa petrolífera com o
desencadeamento da maior erupção de um
vulcão de lama, que ocorreu em 2006, na
Indonésia, e que destruiu uma área habitada
por cerca de 40.000 pessoas. Como quase
sempre, as empresas envolvidas apontaram
causas naturais para o desastre, embora
as investigações científicas tenham dito o
contrário. Da mesma forma, e como tudo
está relacionado, não podemos descartar
tsunamis com terramotos, nem estes com
a atividade humana sobre o planeta. A Terra
está viva, pelo menos comporta-se como um
organismo vivo que se autorregula, diz-nos a
Teoria de Gaia, baseada na ciência exobioló-
gica. E quando perguntaram ao monge zen
Thich Nhat Hanh: O que é preciso fazer para
salvar o nosso mundo? Ele respondeu: O que
mais precisamos de fazer é ouvir dentro de
nós o som da Terra a chorar.
Não ouvimos o choro da
Terra, será que vamos ouvir
os seus avisos?
Mesmo quando a Terra avisa a humanidade,
há uma indústria que continua a saquear as
suas entranhas. Em agosto passado, uma
tribo isolada da Amazónia foi dizimada e tudo
aponta que tenham sido os mineiros com
interesses na região. O genocídio em muitos
locais no continente africano também está
relacionado com a gestão dos recursos natu-
rais. A busca por um crescimento económico
infinito tornou-se uma máquina infernal que
esmaga a vida. Os Parques Nacionais e
Naturais encontram-se sob ameaça e são
muitas vezes as populações que se insurgem
contra os governos corrompidos na defesa
dos povos e da natureza local. No Brasil, ato-
res e músicos uniram-se e mostraram a sua
indignação contra o Presidente Michel Temer,
que autorizou a extinção de uma reserva
natural de mais de 4 milhões de hectares
na Amazónia, só para permitir a atividade
mineira na área da reserva.
Há muito que sabíamos que o impacto brutal
que a humanidade está a realizar sobre os
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Foto_Matt McClain [AP]
Foto_NOAA
Foto_Richard Carson [Reuters]
4. O Instalador Outubro 2017 www.oinstalador.com 91
sistemas naturais traria consequências
desastrosas. A transformação antropogé-
nica da superfície do planeta foi tão vasta
e abrupta, que se tornou num fenómeno
geológico global, designado Antropoceno.
Os investigadores do International Geosphe-
re-Biosphere Programme e do Stockholm
Resilience Centre, mencionam ainda a gran-
de aceleração, que ocorreu a partir de 1950,
responsabilizando o sistema económico glo-
balizado pelas transformações dramáticas
ocorridas na biosfera. Um sistema económi-
co deplorável, que escraviza vidas humanas,
mata vidas não humanas e rouba a vida do
Planeta. Não há vida para ele, só recursos
a explorar e números que crescem num
infinito de ganância, poluição e destruição.
Mas o ciclo está a fechar-se e o Antropoceno
ficará associado a mais uma extinção em
massa, não só através da desflorestação, da
poluição ou da emissão de gases com efeito
de estufa, mas pelo conjunto dos processos
que geram catástrofes antrópicas. Isto é ine-
vitável, mas vamos ainda a tempo de minorar
o problema, basta para isso ouvirmos dentro
de nós o choro da Terra e os avisos que nos
chegam de fora.
Aldo Leopold aponta um caminho. Ele diz
que abusamos da terra porque a vemos
como um bem que nos pertence. Quando
vemos a terra como uma comunidade à qual
pertencemos, podemos começar a usá-la
com amor e respeito [...] É para mim incon-
cebível que uma relação ética com a terra
possa existir sem amor, respeito e admiração
por ela... Se a Terra é a nossa mãe, berço,
casa, alimento, ensino, cultura, bem-estar
e alegria, como podemos Vê-la como um
recurso a explorar sem qualquer cuidado
ou respeito? Se nós somos matéria da Terra
e para a Terra regressamos, se respiramos
o ar da Terra, bebemos a água da Terra e
alimentamo-nos do fruto que vem da Terra,
porque temos a falsa ideia de que não somos
a Terra e envenenámo-La? Não estamos a
envenenarmo-nos a nós próprios? Somos
uma civilização baseada na ciência e na
tecnologia, mas temos um enorme défice de
perceção da realidade acerca da Natureza
que precisa de ser urgentemente corrigida.
Muitas civilizações antigas e alguns povos
indígenas conseguiram ter uma cosmovisão
mais holística, em consonância com a rea-
lidade do mundo natural. A Terra e os seus
elementos eram considerados sagrados,
tendo a humanidade um papel de guardião
do Planeta. Como seria tão diferente se a
nossa civilização fosse como jardineiros que
cuidam da Obra da criação!
Opinião
AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS
Se tudo continuar na mesma, esperam-nos
momentos duros. Precisamos de nos adaptar
às alterações que causamos. Mudar o nosso
paradigma de ser e estar, neste ainda lindo e
maravilhoso Planeta, que estamos a destruir.
Com a sua destruição, a nossa destruição
é inevitável. Nós somos também o Planeta.
Precisamos de avivar a chama da esperança
e oferecê-la aos nossos filhos e netos. Mas
não só. Precisamos de oferecê-la também às
árvores, às flores, aos pássaros, aos peixes
e restantes animais. A toda a vida e também
às montanhas, florestas, rios, lagos e mares.
Precisamos de voltar a cuidar da Terra, deixar
de perseguir o sonho da riqueza material a
todo o custo e da sua felicidade fugaz, para
uma riqueza interior, alicerçada na perceção
de um mundo interconectado e numa sábia
e cuidada ação no mundo. Isto permite-nos
um preenchimento interior que alimenta uma
alegria perene. Precisamos de voltar a viver
em harmonia com a Natureza, de nos apaixo-
narmos por Ela, abandonar o egoísmo e o an-
tropocentrismo e transitar para uma economia
mais real, solidária e ecológica. Precisamos de
criar um forte movimento social fraterno, uma
nova educação holística, que repõe a sacrali-
dade na vida e de trabalhar dentro de cada um
de nós no despertar espiritual – sentir e ser a
expressão da unidade da vida.
Foto_Gary Lloyd [AP]