O documento discute o surgimento da bioética como campo de estudo, seus princípios fundamentais estabelecidos no Relatório Belmont e a configuração do biopoder na sociedade moderna. O Relatório Belmont estabeleceu três princípios centrais da bioética: autonomia, beneficência e justiça. Além disso, discute como o poder moderno passou a regular a vida biológica através de estratégias de biopolítica para gestão da população.
3. Surgimento e definição de
bioética:
● A constituição da Bioética como um saber autônomo é
recente e o seu processo de surgimento esteve ligado a
certos fatores históricos e socioculturais;
● Ética médica tradicional:
● Juramento hipocrático “ Juro por Apolo, médico,... que
aplicarei os regimes para o bem dos doentes, segundo o
meu saber e a minha razão, e nunca para prejudicar ou
fazer mal a quem quer que seja. A ninguém darei, para
agradar, remédio mortal nem conselho que induza à
destruição. Também não fornecerei a uma senhora
pessário abortivo. Conservarei pura minha vida e minha
arte”;
4. ● Thomás Percival, em 1803, utiliza o termo
“Ética médica”. sistematizou, Tornou-se pai
da Ética médica moderna por sistematizá la;
● Nascia na Inglaterra normas para atuarem
de maneira honesta enquanto médicos.
Assim nascendo um regulamento de
comportamento entre colegas.
● Código de Ética Médica do Conselho Federal
de Medicina;
● Este código continua presente na maioria
das faculdades de medicina do Brasil e
determina a perspectiva deontológica do
ensino da Ética médica;
● Atualmente, os desafios na área da saúde
são as mais diversas e complexas que a
Ética médica hipocrática não consegue
responder;
zé
5. Contexto do surgimento da Bioética:
zé
● Nos anos 60, a opinião pública dos
Estados Unidos tomou conhecimento de
casos de manipulação em pesquisas
com enfermos social e mentalmente
fragilizados (pacientes de diálise, de
síndrome de Down e sifilíticos negros);
● Nos anos 70, aparece a Carta dos
direitos do enfermo, aprovada pelos
hospitais dos EUA;
● Esta carta busca superar a Ética médica
tradicional que tratava o enfermo como
um menor de idade, para superar essa
mentalidade e introduzir a necessidade
do “consentimento informado” a este;
Foram usadas 600 homens sifilíticos como
cobaias em um experimento científico: 399 para
observar a progressão natural da sífilis sem o
uso de medicamentos e outros 201 indivíduos
saudáveis, que serviram como base de
comparação em relação aos infectados.
6. Abrangência e definição da Bioética:
● Em 1988, V.R. Potter, criador do termo “bioética”, publicou em sua
primeira obra Bioethics bridg to the future, sua proposta abrangia
uma perspetiva globalizante que incluía o interesse ecológico pelo
meio ambiente;
● A bioética era compreendida como a ciência da sobrevivência
diante das diferentes ameaças contra a vida;
● Segundo Potter, precisamos de uma ciência da sobrevivência do
ser humano, da promoção da qualidade da vida. a Bioética
responde a esta necessidade;
zé
7. ● A bioética é uma sabedoria biologicamente fundada a partir do ideal: um conhecimento de
como usar o saber para o bem da sociedade;
● Potter manteve sua luta académica por uma abrangência mais globalizante foi importante
e teve a sua repercussão no sentido de não reduzir a Bioética ao enfoque médico;
● A melhor maneira de definir bioética é como: ética das ciências da vida e da saúde.
Portanto vai além das questões éticas relativas à medicina para incluir temas de saúde
pública, problemas populacionais, genética, saúde ambiental, práticas e tecnologias
reprodutivas, saúde e bem-estar animal, e assim por diante;
8. Princípios da Bioética
● 1974: lei americana que identificaria os princípios éticos básicos que deveriam
nortear as experimentações em seres humanos;
● Relatório Belmont: Autonomia, Beneficência e Justiça;
● Estes conceitos serviriam para nortear a Bioética na solução de conflitos éticos;
9. Autonomia:
● Necessidade do consentimento informado;
● Paternalismo médico: tratavam o enfermo como uma criança e o médico devia agir
pelo bem do enfermo;
● Casos de abusos e manipulações questionam o paternalismo;
● Enfermos não queriam mais ser tratados como crianças nas mãos dos médicos;
10. ● “O enfermo, devido à sua dignidade como sujeito, tem o direito de decidir
autonomamente a aceitação ou rejeição do que se quer fazer com ele, seja do
ponto de vista do diagnóstico como da terapêutica.” (p.42);
● Este princípio exige uma grande comunicação entre o profissional da saúde e o
enfermo (consentimento informado);
● Entretanto, é necessário ter condições físicas e psicológicas para tomar estas
decisões;
11. ● Exemplo: indivíduo que se nega a receber transfusão de sangue por motivos
religiosos;
● Porém, em certos casos, quem está autorizado a decidir? (crianças, suicidas
potenciais, dependentes de drogas, excepcionais)
● Decisão com a equipe médica em conjunto com os familiares;
● O que faria o enfermo se estivesse em condições racionais?
12. Beneficência:
● Atenção aos riscos e benefícios;
● É o princípio que regula as instâncias éticas da profissão médica;
● O profissional da saúde deve agir sempre pelo bem da pessoa;
● Como definir o bem do paciente? Quem decide entre as indicações
do médico e as preferências do enfermo?
13. ● A saúde do enfermo não se reduz ao físico: os elementos psíquicos
e espirituais também contam;
● Entretanto, o médico não pode ser um mero executor dos desejos do
paciente;
● Prover benefícios e ponderar benefícios e danos;
14. Princípio da não-maleficência:
● Não fazer mal; não infligir mal aos outros;
● Maleficência é diferente da Malevolência;
● Pode-se infligir dano a alguém evitando um mal maior;
● Exemplo: operação cirúrgica ou prisão;
15. ● Na ética médica tradicional, especialmente a de cunho católico,
existem vários princípios que justificariam os efeitos negativos de
uma
● Princípio de Duplo Efeito: quando uma ação tem duas
consequências: negativa e positiva.
● Princípio da Totalidade: confronto entre a parte e o todo. Ex:
amputação de um membro.
● Princípio do Mal Menor: todos os efeitos de uma ação são negativos,
e neste caso deve-se escolher o mal menor.
16. Justiça:
● Fundamenta-se na premissa de que as pessoas tem direito a terem suas
necessidades de saúde atendidas livres de preconceitos ou segregações sociais.
● Obrigação ética de tratar cada indivíduo conforme o que é moralmente correto e
adequado, de dar a cada um o que lhe é devido.
● O médico deve atuar com imparcialidade, evitando ao máximo que aspectos
sociais, culturais, religiosos, financeiros ou outros interfiram na relação
médico-paciente.
● Os recursos devem ser equilibradamente distribuídos, com o objetivo de alcançar,
com melhor eficácia, o maior número de pessoas assistidas.
17. O Relatório Belmont colocava a seguintes
ponderações a respeito do princípio da justiça:
● Uma injustiça ocorre quando um benefício que uma pessoa merece é negado sem
uma boa razão, ou quando algum encargo lhe é imposto indevidamente;
● Uma outra maneira de conceber o Princípio da Justiça é que os iguais devem ser
tratados igualmente. Entretanto esta proposição necessita uma explicação;
● Quem é igual e quem é não-igual ?
● Quais considerações justificam afastar-se da distribuição igual ? (...) Existem
muitas formulações amplamente aceitas de como distribuir os benefícios e os
encargos;
18. Beneficência
(atenção por parte
do pesquisador
aos riscos e
benefícios para o
envolvido)
Justiça
(busca de eqüidade
quanto aos sujeitos de
experimentação)
Autonomia
(necessidade do
consentimento
informado do
envolvido)
Relatório
Belmont
19. Cada uma delas faz alusão a algumas propriedades relevantes sobre as quais os
benefícios e encargos devam ser distribuídos.
Tais como as propostas de que:
•a cada pessoa uma parte igual;
•a cada pessoa de acordo com a sua necessidade;
•a cada pessoa de acordo com o seu esforço individual;
•a cada pessoa de acordo com a sua contribuição à sociedade;
•a cada pessoa de acordo com o seu mérito;
20. A PESSOA HUMANA COMO CATEGORIA
FUNDAMENTAL DA BIOÉTICA
• Valorização da vida é a referência primordial da Bioética;
• Vida de um ser pessoal;
• Categoria pessoa é fundamental: necessário explicar
antropologicamente;
• Antropologia personalista ou antropologia relacional: entende a
pessoa como relação;
• Visão unitária da pessoa é necessário para se entender os conflitos
entre direitos e deveres;
22. BIOÉTICA E DIREITO
• Ética e Direito: agir humano;
• Ordem moral e ordem jurídica;
• Ausência de um biodireito;
• Dificuldade de definições: vida humana, dignidade humana, pessoa
humana;
• Pluralidade de configurações do direito;
23. Configuração do Biopoder/Biopolítica
zé
Os gregos tinham duas palavras para
designar a vida: zoé que se refere à vida
biológica comum entre humanos e animais
e bios que expressa a vida especificamente
humana em sua dimensão moral e política.
Até os tempos modernos a zoé dos
humanos, isto é, a sua vida física e a sua
saúde, eram assuntos privados do âmbito
do pater familiae, não sendo preocupações
da pólis. O âmbito público da política, ao
contrário, se interessava exclusivamente
pelo bios dos seus cidadãos.
A vida física e biológica, ao contrário, que
antes eram preocupações privadas da
família, passou a fazer parte do interesse
público do Estado. Assim a vida que os
humanos têm em comum com os animais
foi integrada na soberania e no poder do
Estado que começou a desenvolver
estratégias políticas para a sua gestão
Da Grécia ao período moderno:
Hipócrates
Caça às bruxas entre o
Séc XV e XVIII
24. A função do poder não é mais matar,
mas investir sobre a vida. A potência da
morte é substituída pela administração
dos corpos e a gestão calculista da vida.
Para Foucault a organização do
biopoder foi necessário para o
desenvolvimento do capitalismo, porque
era necessário, por um lado, inserir os
corpos disciplinados dos trabalhadores
no aparelho da produção e, por outro,
regular e ajustar o fenômeno da
população aos processos econômicos
25.
26. São as duas tradições que a bioética carrega em sua identidade: uma mais
ecológica, legada por Potter; e a outra mais clínica, introduzida por Hellegers
zé
Assumiu mais a forma de
crítica cultural do uso das
biotecnologias e sua
influência sobre o entorno
natural e social.
Desenvolveu-se como
busca de soluções práticas
aos problemas enfrentados
pelos profissionais na
clínica e pelos cientistas
nas pesquisas envolvendo
seres humanos.
Assim, podemos falar de duas faces da bioética: uma mais de cunho
hermenêutico-crítico, que tenta interpretar os pressupostos culturais do uso
das biotecnologias e outra mais casuística, que busca soluções concretas
para os dilemas.
27. Atendo-se a uma análise
nominalista,Foucault recusa-se
a pensar o poder enquanto
coisa ou substância, as quais
seriam possuídas por uns e
extorquidas de outros.
O poder opera de modo difuso,
espalhando-se por uma rede
social que inclui instituições
diversas como a família, a
escola, o hospital, a clínica. Ele
é, por assim dizer, um conjunto
de relações de força
multilaterais (Foucault, 1999).
28. Contesta a ideia consagrada segundo a qual o poder agiria por meio da supressão, da
repressão, coibindo e impedindo a manifestação de condutas indesejáveis. Ele
atuaria, ao contrário, de maneira a produzir, incitar comportamentos.
A sociedade ocidental teria menos reprimido os sujeitos, que os levado a emitir certos
padrões de resposta (Foucault, 1976/2010a)
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LIBERALISMO
NEOLIBERALISMO
BIOPOLÍTICA
Do século XV ao XVII, o
cenário político europeu
foi povoado por reflexões
que buscavam ampliar as
forças do Estado, tem-se
agora a configuração de
“uma razão do governo
mínimo”
32.
33.
34.
35. A EUTANÁSIA E O DIREITO DE MORTE DIGNA
➔ Morte como tabu;
➔ “O que acontece quando alguém é informado de sua morte próxima devida a
alguma doença detectada?” (JUNGES, p. 175);
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36. ➔ Kübler-Ross - cinco fases;
◆ Fase da negação explícita;
◆ Fase da ira;
◆ Fase da negociação;
◆ Fase da depressão;
◆ Fase da aceitação.
37. ➔ Diante do estudo de Kübler-Ross, Sporken busca compreender as fases
que antecedem o diagnóstico;
◆ Fase da ignorância;
◆ Fase da insegurança;
◆ Fase da negação implícita;
◆ Informação da verdade.
38. ➔ Diante destas constatações se percebe que o processo de morte é muito
importante para a pessoa moribunda;
➔ Diante desta importância, estabelecem-se alguns direitos ao paciente
terminal, são eles:
◆ Morrer com dignidade, respeito e humanidade;
◆ Saber a verdade da sua situação com informação adequada;
◆ Receber os cuidados ordinários para o seu bem-estar físico;
◆ Recordar o amor vivido e sentir os benefícios de uma vida compartilhada e, se o
desejar, receber visita de familiares e amigos;
◆ Aclarar as suas relações, expressar os seus desejos, compartilhar os seus desejos;
◆ Planejar com seus familiares as mudanças que a sua morte imporá aos que o rodeiam;
◆ Ter em conta o interesse pelos sentimentos daqueles que ficam;
◆ Receber assistência religiosa.
39. ➔ Eutanásia - surge do não respeito aos direitos dos moribundos;
➔ Definição de Eutanásia: “Uma ação ou omissão que, por sua natureza ou
intenção, causa a morte com o fim de eliminar qualquer dor. A eutanásia
situa-se, portanto no nível das intenções e dos métodos usados”
◆ Eutanásia - busca pela morte para aliviar a dor;
◆ Ortotanásia/Adistanásia (morte correta) - deixar morrer em paz, respeitando os
direitos do enfermo;
◆ Distanásia (morte difícil) - prolongar a todo o custo a vida sem respeitar os direitos da
pessoa moribunda;
40. REFERÊNCIAS
•BEAUCHAMP, Tom, L.; CHILDRESS, James, F. Princípios de ética
biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. BOFF, Leonardo. Ética da vida. Brasília:
Letraviva, 2000.
•JUNGES, José Roque. Bioética. São Leopoldo: Unisinos, 1999.
•JUNGES, José Roque. O nascimento da bioética e a constituição do
biopoder. 2011. Disponível em:
<https://scielo.conicyt.cl/pdf/abioeth/v17n2/a03.pdf>. Acesso em: 23 set.
2018.