Este documento discute a formação do professor de química à luz da epistemologia de Gaston Bachelard. Apresenta os principais conceitos de Bachelard sobre racionalismo e empirismo na ciência e propõe que o ensino de química considere o processo histórico de desenvolvimento dos conceitos. Também enfatiza a importância da mediação do professor entre os conhecimentos prévios dos alunos e os conceitos científicos.
Ensino de Química e formação docente segundo Bachelard
1. Universidade Federal de Goiás
Programa de Mestrado em Educação em
Ciências e Matemática
Disciplina: A Formação do Professor de Ciências e Matemática
no Contexto Educacional
Prof: Dra. Dalva Eterna Gonçalves Rosa e
Prof: Dr. Juan Bernardino Marques Barrio
2. O Ensino de Química e a
formação do Educador
Químico, sob o olhar
bachelardiano
Soraia Freaza Lôbo
Discentes:
SIMPLÍCIO, Ari
CÂNDIDO, Renato
HOFFMANN, Zara
3. Soraia Freaza Lôbo
Formação Acadêmica:
- Bacharel em Química e Doutora em Educação
Formação Profissional:
Professora do IQ/UFBA;
Trabalha com Educação Científica nos seguintes
temas: ensino de química, epistemologia, ensino
médio de química, currículo e ensino de ciências.
4. Eduardo Fleury Mortimer
Bacharel e Licenciado, Mestre em Educação pelo
Instituto de Química/UFMG
Doutor em Educação pela USP
Professor e pesquisador em Ensino de Química,
Formação do Professores, uso da linguaguem em sala
de aula relacionada a formação de conceito e
história e filosofia da ciência. Autor do livro junto com
a Andréia Horta Machado Química para o Ensino
Médio
5. Gaston Bachelard
Nasceu em (Champagne- Fr)
-Estudou filosofia na Soborne
Atuação Profissional:
Professor do Ensino Médio das disciplinas de química,
física e filosofia;
Foi membro da Academia de Ciências Morais e
Políticas da França, e influenciou vários jovens c,
principalmente, no campo da história e filosofia
das ciências;
Morreu em Paris (1884-1962) com 78 anos.
6. OBJETIVOS
Discutir alguns aspectos do
Ensino de Química e da
Formação do professor de
Química com base em
alguns elementos da
epistemologia bachelardiana
7. O que pensava Bachelard?
Bachelard criticava os filósofos e os cientistas:
“Para o filósofo, a filosofia da ciência nunca está
totalmente no reino dos fatos”. (Bachelard, 1991, p. 8)
“Para o cientista, a filosofia das ciências ainda está no
reino dos fatos”. (Bachelard, 1991, p. 9)
O racionalismo puro dos filósofos e o empirismo vazio
dos cientistas, são, para Bachelard, obstáculos
epistemológicos
8. Proposta Filosófica de
Bachelard
“ Pensar cientificamente é colocar-se no campo
epistemológico intermediário entre a
teoria(racionalismo) e a prática (empirismo)”.
(Bachelard, 1991, p. 10 – Filosofia do Não)
Uma filosofia em que o racionalismo aplicado (não-
vazio e reflexivo) e o materialismo técnico (empirismo
desconexo) se manifestem num movimento dialético
(diferente do dialético de Marx; diálogo), isto é, uma
síntese da teoria com a prática.
Para Bachelard empirismo e racionalismo estão
sobrepostos (imbricados) no pensamento científico
contemporâneo – numa polaridade epistemológica –
onde estas duas concepções se completam. (p.91)
9. Reflexão sobre a prática dos
cientista e dos professores
“ Como pensais? Quais são as vossas tentativas? os
vossos ensaios, os vossos erros? Quais as motivações
que vos levam a mudar de opinião? [...] digam-nos o
que pensam, não ao sair do laboratório do
laboratório, mas sim nas horas que deixais a vida
comum para entrar na vida científica” . (Bachelard,
1991, p.15)
Porque os alunos não aprendem química?
Porque a química contemporânea não é mais uma
ciência de memória, mas uma química matemática,
teórica e tem uma racionalidade muito diferente da
racionalidade do senso comum. (p.91)
10. Produto x Processo
no Ensino de Ciências
No ensino de química e ciências mostramos a ciência
como pronta e suas leis são apresentadas como
sendo a representação da realidade
Mostramos produto ao invés do processo – o que
provoca algumas sérias consequências para o ensino,
como o reforço na crença positivista (Comte) de que
as leis invariáveis são derivadas da experiência e que
regem os fenômenos (o mundo).
Os porquês (a causa dos fenômenos) são
considerados como metafísica e o ser humano não
deve responder.
11. Ruptura Epistemológica de
Bacherlard
A epistemologia histórica de Bachelard mostra a
necessidade de uma racionalidade cada vez mais
complexa que rompa com as concepções realistas,
substancialistas e com o racionalismo clássico.
A ruptura é fundamental para o ensino de química e
de ciências pois insere-o no contexto histórico em que
foram produzidos e mostram os obstáculos
epistemológicos inerentes a seu processo de produção.
Conhecimento prévio do aluno
Uso da HFC, para tornar o ensino mais crítico e obter
uma visão de ciência como sendo uma produção
humana e sujeita a erros.
12. Ruptura e descontinuidade
A descontinuidade na Ciência ( que não admitimos
que exista..!)
O desenvolvimento das ideias e dos conceitos não foi
homogêneo e nem contínuo
No ensino de química é comum o uso de realismos,
animismos e substancialismos (Exp. bolinhas e
pauzinhos)
E na ciência, alguns conhecimentos permanecem
ainda na fase realista e outros na fase
empirista/positivista, é o que Bachelard chama de
complexidade crescente do conceito.
Cabe saber onde usar os diferentes conhecimentos
nos diferentes contextos (Exp.conceito de molécula)
13. Perfil Epistemológico
Desenvolvimento heterogêneo das idéias e dos
conceitos científicos.
Perfil Epistemológico: Coexistência de diferentes
perspectivas filosóficas para um mesmo conceito
científico.
Similaridade entre o desenvolvimento dos
conhecimentos de um indivíduo em relação a um
conceito e o progresso filosófico desse conceito em
seu desenvolvimento histórico.
15. Perfil Conceitual
Leitura de Mortimer do conceito bachelardiano de
Perfil Epistemológico.
Mortimer reconhece que o ensino de ciências não
deve se limitar a transmitir produtos e ressalta a
importância da história das ciências para a
compreensão do processo.
Perfil conceitual: estratégia didática que utiliza como
eixo articulador a evolução dos conceitos científicos
na história.
17. Perfil Conceitual
Contribui para a compreensão de que podem existir
diferentes representações da realidade, tanto para
um mesmo sujeito em relação a um conceito
científico, como para um mesmo conceito, em
diferentes contextos históricos.
Coloca as questões do ensino e da formação do
professor numa abordagem contextual e crítica
(ciência como produto cultural da humanidade,
sujeito a erros, conflitos, e retificações).
Relativização da ideia de substituição das
concepções prévias dos alunos pelo Conhecimento
científico.
18. Mediação didática
O perfil conceitual que Mortimer sugere como
estratégias de ensino une as ideias de ensino
aprendizagem de Piaget e Vygotsky
Bacherlard preocupou-se com o ensino de ciências
bem como com a produção de ciência.
A ação pedagógica exige uma racionalidade
docente sempre vigilante para superar os obstáculos:
o desconhecimento por parte do professor de que
seu aluno tem pré-conceitos revestidos de realismo
ingênuo (esse é um obstáculo pedagógico).
19. Reflexões sobre o ato de
ensinar
É importante conhecer as ideias prévias dos alunos
para planejar estratégias de ensino de Ciências (seja
qual for a Ciência)
A concepção do professor como mediador entre
conhecimentos conflitantes
Ideia de formação continuada (embora Bachelard
não tenha sido claramente específico sobre isso, o
professor deve ser um eterno estudante, sempre
aberto à reflexão sobre o objeto científico, pela
razão, o que supera a prática docente como
reprodução/transmissão.
20. Reflexões sobre o ato de
ensinar
Ideia de pesquisa na formação do professor –
construção do novo, criação e inventividade –
críticas e retificações constantes na prática docente
Evitar o hábito intelectual (acomodação) que
impede a renovação da razão: o professor substitui
as descobertas (pesquisas) por aulas.
21. Referências
BACHELARD, G. A filosofia do não: filosofia do novo
espírito científico. 5 ed. Lisboa: Editorial Presença,
1991.
BACHELARD, G. A formação do espirito científico:
contribuições para uma psicanálise do
conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996
LÔBO, S.F. O Ensino de Química e a formação do
educador químico, sob o olhar bacherladiano.
Ciência & Educação, v. 14, n.1, p. 89-100, 2008.
MORTIMER, E. F. Pressupostos epistemológicos para
uma metodologia de ensino de Química: mudança
conceitual e perfil epistemológico. Química Nova,
São Paulo, v. 15, n.3, p. 242-249, 1992.