O documento descreve as etapas do atendimento inicial a vítimas de trauma, incluindo: 1) controle de cena e mecanismo de trauma; 2) abordagem primária rápida e completa utilizando o "ABCD do trauma"; 3) abordagem secundária e avaliação de sinais vitais. O objetivo é identificar rapidamente situações que coloquem a vida em risco e fornecer os primeiros socorros necessários.
1. Atendimento Inicial
CAPÍTULO 7
ATENDIMENTO INICIAL
O objetivo do atendimento inicial à vítima de trauma é identificar rapidamente situa-
ções que coloquem a vida em risco e que demandem atenção imediata pela equipe de so-
corro. Deve ser rápido, organizado e eficiente de forma que permita decisões quanto ao
atendimento e ao transporte adequados, assegurando à vítima maiores chances de so-
brevida.
O atendimento inicial à vítima de trauma se divide em quatro etapas seqüenciais:
1) Controle de cena;
2) Abordagem primária;
3) Abordagem secundária;
4) Sinais vitais e escalas de coma e
trauma.
1. Controle de Cena
1.1. Segurança do Local
Antes de iniciar o atendimento propria-
mente dito, a equipe de socorro deve garantir
sua própria condição de segurança, a das víti-
mas e a dos demais presentes. De nenhuma
forma qualquer membro da equipe deve se
expor a um risco com chance de se transfor-
mar em vítima, o que levaria a deslocar ou di-
vidir recursos de salvamento disponíveis para
aquela ocorrência.
1.2. Mecanismo de Trauma
Enquanto se aproxima da cena do aci-
dente, o socorrista examina o mecanismo de
trauma (ver capítulo 4), observando e colhen-
do informações pertinentes. Em uma colisão
entre dois veículos, por exemplo, avaliar o tipo
de colisão (frontal, lateral, traseira), veículos
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Fig. 7.1 - Abordagem inicial de vítima em decú-
bito dorsal. Socorrista aproxima-se da vítima
pelo lado para o qual a face da mesma está vol-
ta, garantindo-lhe o controle cervical sem mobili-
za-la da posição inicial e, tocando-lhe o ombro
do lado oposto, diz: “Eu sou o... (nome), do Cor-
po de Bombeiros, e estou aqui para te ajudar. O
que aconteceu contigo?”
Fig. 7.2 - Abordagem inicial de vítima em decú-
bito ventral. Mesmo procedimento utilizado para
abordagem de vítima em decúbito dorsal.
2. Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR
envolvidos, danos nos veículos, número de vítimas, posição dos veículos e das vítimas,
etc.
2. Abordagem Primária
Visa identificar e manejar situações de ameaça à vida, A abordagem inicial é reali-
zada sem mobilizar a vítima de sua posição inicial, salvo em situações especiais que pos-
sam comprometer a segurança ou agravar o quadro da vítima, tais como:
● Situações climáticas extremas:
Geada, chuva, frio, calor, etc.;
● Risco de explosão ou incêndio;
● Risco de choque elétrico;
● Risco de desabamento.
Obs.: Só se justifica mobilizar a vítima
de sua posição inicial na abordagem primária
quando a situação de risco não possa ser
afastada. Por exemplo: Havendo risco de cho-
que elétrico e sendo possível a interrupção da
passagem de energia, não há necessidade de
mobilizar a vítima.
Na abordagem primária, havendo mais
de uma vítima, o atendimento deve ser priori-
zado conforme o risco, ou seja, primeiro as
que apresentem risco de morte, em seguida as que apresentem risco de perda de mem-
bros e, por último todas as demais. Esta recomendação não se aplica no caso de acidente
com múltiplas vítimas (ver capítulo 28), onde os recursos para o atendimento são insufici-
entes em relação ao número de vítimas e, por tanto, o objetivo é identificar as vítimas com
maiores chances de sobrevida.
A abordagem primária é realizada em duas fases:
1) Abordagem primária rápida;
2) Abordagem primária completa.
2.1. Abordagem Primária Rápida
É a avaliação sucinta da respiração, circulação e nível de consciência. Deve ser
completada em no máximo 30 segundos. Tem por finalidade a rápida identificação de
condições de risco de morte, o início precoce do suporte básico de vida (SBV) e o desen-
cadeamento de recursos de apoio, tais como médico no local e aeronave para o transpor-
te.
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Fig. 7.3 - Enchimento capilar – técnica utilizada
para avaliação da perfusão dos tecidos periféri-
cos. É realizada fazendo-se uma pressão na
base da unha ou nos lábios, passando a colora-
ção de rosada para pálida. Retirando a pressão,
a coloração rosada deve retomar num tempo in-
ferior a dois segundos. Se o tempo ultrapassar
dois segundos é sinal de que a circulação peri-
férica está comprometida (oxigenação/perfusão
inadequadas). Lembre-se que à noite e com frio
essa avaliação é prejudicada.
3. Atendimento Inicial
Na abordagem primária rápida devem ser seguidos os seguintes passos:
1) Aproximar-se da vítima pelo lado para o qual a face da mesma está volta,
garantindo-lhe o controle cervical.
2) Observar se a vítima está consciente e respirando. Tocando o ombro da víti-
ma do lado oposto ao da abordagem, apresente-se, acalme-a e pergunte o que
aconteceu com ela: “Eu sou o... (nome do socorrista), do Corpo de Bombeiros, e
estou aqui para te ajudar. O que aconteceu contigo?”. Uma resposta adequada
permite esclarecer que a vítima está consciente, que as vias aéreas estão permeá-
veis e que respira. Caso não haja resposta, examinar a respiração. Se ausente a
respiração, iniciar as manobras de controle de vias aéreas e a ventilação artificial.
3) Simultaneamente palpar pulso radial (em vítima inconsciente palpar direto o
pulso carotídeo) e definir se está pre-
sente, muito rápido ou lento. Se ausen-
te, palpar pulso de artéria carótida ou
femoral (maior calibre) e, caso confir-
mado que a vítima está sem pulso, ini-
ciar manobras de reanimação cardio-
pulmonar (ver capítulo 9).
4) Verificar temperatura, umidade e
coloração da pele e enchimento capilar.
Palidez, pele fria e úmida e tempo de
enchimento capilar acima de dois se-
gundos são sinais de comprometimento
da perfusão oxigenação dos tecidos
(choque hipovolêmico por hemorragia
interna ou externa, por exemplo), que
exigem intervenção imediata.
5) Observar rapidamente da cabe-
ça aos pés procurando por hemorragias
ou grandes deformidades.
6) Repassar as informações para a
Central de Emergência.
2.2. Abordagem Primária Completa
Na abordagem primária completa segue-se uma seqüência fixa de passos estabe-
lecida cientificamente. Para facilitar a memorização, convencionou-se o “ABCD do trau-
ma” para designar essa seqüência fica de passos, utilizando-se as primeiras letras das
palavras (do inglês) que definem cada um dos passos:
1) Passo “A” (Airway) – Vias aéreas com controle cervical;
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Fig. 7.4 - Avaliação de vias aéreas. Socorrista
verifica se há corpos estranhos na cavidade oral
da vítima.
Fig. 7.5 - Avaliação da respiração – ver, ouvir e
sentir.
4. Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR
2) Passo “B” (Breathing) – Respiração (existente e qualidade);
3) Passo “C” (Circulation) – Circulação com controle de hemorragias;
4) Passo “D” (Disability) – Estado neurológico;
5) Passo “E” (Exposure) – Exposição da vítima (para abordagem secundária).
Lembre-se de somente passar para próximo passo após ter completado o passo
imediatamente anterior. Durante toda a abordagem da vítima o controle cervical deve ser
mantido. Suspeitar de lesão de coluna cervical em toda vítima de trauma.
2.2.1. Passo “A” – Vias Aéreas com Controle Cervical
Após o controle cervical e a identifica-
ção, pergunte à vítima o que aconteceu. Uma
pessoa só consegue falar se tiver ar nos pul-
mões e se ele passar pelas cordas vocais.
Portanto, se a vítima responder normalmente,
é porque as vias aéreas estão permeáveis
(passo "A" resolvido) e respiração espontânea
(passo "B" resolvido). Seguir para o passo "C".
Se a vítima não responder normalmen-
te, examinar as vias aéreas. Desobstruir vias
aéreas de sangue, vômito, corpos estranhos
ou queda da língua, garantindo imobilização
da coluna cervical. Para a manutenção da
abertura das vias aéreas pode ser utilizada cânula orofaríngea ou nasofaríngea (ver capí-
tulo 8). Estando as vias aéreas desobstruídas, passar para o exame da respiração (passo
"B").
2.2.2. Passo “B” – Respiração
Checar se a respiração está presente e efetiva (ver, ouvir e sentir). Se a respiração
estiver ausente, iniciar respiração artificial (passo "B" resolvido temporariamente). Estan-
do presente a respiração, analisar sua qualidade: lenta ou rápida, superficial ou profunda,
de ritmo regular ou irregular, silenciosa ou ruidosa.
Se observar sinais de respiração difícil (rápida, profunda, ruidosa), reavaliar vias
aéreas (passo "A") e solicitar a presença do médico no local. A necessidade de interven-
ção médica é muito provável. Se observar sinais que antecedam parada respiratória (res-
piração superficial, lenta ou irregular), ficar atento para iniciar respiração artificial.
Iniciar a administração de oxigênio a 12 litros por minuto, sob máscara de contorno
facial bem-ajustado. Garantir que os passos "A" e "B" não sejam interrompidos antes de
passar ao exame da circulação ("C").
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Fig. 7.6 - Avaliação do pulso – palpação do pul-
so carotídeo.
5. Atendimento Inicial
2.2.3. Passo “C” – Circulação com Controle de Hemorragias
O objetivo principal do passo "C" é estimar as condições do sistema circulatório e
controlar grandes hemorragias. Para tanto devem ser avaliados: pulso; perfusão periféri-
ca; coloração, temperatura e umidade da pele. Neste passo também devem ser controla-
das as hemorragias que levem a risco de vida eminente.
2.2.3.1. Pulso
Em vítima consciente, verificar inicialmente o pulso radial; se este não for percebi-
do, tentar palpar o pulso carotídeo ou o femoral; em vítima inconsciente, examinar o pulso
carotídeo do lado em que você se encontre.
A avaliação do pulso dá uma estimativa da pressão arterial. Se o pulso radial não
estiver palpável, possivelmente a vítima apresenta um estado de choque hipovolêmico
descompensado, situação grave que demanda intervenção imediata.
Se o pulso femoral ou carotídeo estiver ausente, iniciar manobras de reanimação
cardiopulmonar. Estando presente o pulso, analisar sua qualidade: lento ou rápido, forte
ou fraco, regular ou irregular.
2.2.3.2. Perfusão Periférica
A perfusão periférica é avaliada através
da técnica do enchimento capilar. É realizada
fazendo-se uma pressão na base da unha ou
nos lábios, de modo que a coloração passe de
rosada para pálida. Retirando-se a pressão a
coloração rosada deve retomar num tempo in-
ferior a dois segundos. Se o tempo ultrapas-
sar dois segundos é sinal de que a perfusão
periférica está comprometida (oxigenação/per-
fusão inadequadas). Lembre-se que à noite e
com frio essa avaliação é prejudicada.
2.2.3.3. Coloração, Temperatura e
Umidade da Pele
Cianose e palidez são sinais de comprometimento da oxigenação/perfusão dos te-
cidos. Pele fria e úmida indica choque hipovolêmico (hemorrágico).
2.2.3.4. Controle de Hemorragias
Se o socorrista verificar hemorragia externa, deve utilizar métodos de controle (ver
capítulo 10). Observando sinais que sugerem hemorragia interna, deve agilizar o atendi-
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Fig. 7.7 - Avaliação do nível de consciência –
estímulo doloroso aplicado comprimindo-se a
borda do músculo trapézio.
6. Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR
mento e transportar a vítima o mais brevemente possível ao hospital, seguindo sempre as
orientações da Central de Emergências.
2.2.4. Passo “D” – Estado Neurológico
Tomadas as medidas possíveis para garantir o “ABC”, importa conhecer o estado
neurológico da vítima (passo "D"), para melhor avaliar a gravidade e a estabilidade do
quadro.
O registro evolutivo do estado neurológico tem grande valor. A vítima que não apre-
sente alterações neurológicas num dado momento, mas passe a apresentá-las progressi-
vamente, seguramente está em situação mais grave que outra cujo exame inicial tenha
mostrado algumas alterações que permane-
çam estáveis no tempo.
Na avaliação do estado neurológico o
socorrista deve realizar a avaliação do nível
de consciência e o exame das pupilas.
2.2.4.1. Avaliação do Nível de Cons-
ciência
Deve sempre ser avaliado o nível de
consciência porque, se alterado, indica maior
necessidade de vigilância da vítima no que se
refere às funções vitais, principalmente à res-
piração. A análise do nível de consciência é
feita pelo método “AVDI”, de acordo com o ní-
vel de resposta que a vítima tem dá aos estí-
mulos:
● A – Vítima acordada com res-
posta adequada ao ambiente.
● V – Vítima adormecida. Os olhos
se abrem mediante estímulo verbal.
● D – Vítima com os olhos fechados que só se abrem mediante estímulo dolo-
roso. O estímulo doloroso deve ser aplicado sob a forma de compressão intensa
na borda do músculo trapézio, na região póstero-lateral do pescoço.
● I – Vítima não reage a qualquer estímulo.
A alteração do nível de consciência pode ocorrer pelos seguintes motivos:
● Diminuição da oxigenação cerebral (hipóxia ou hipoperfusão);
● Traumatismo cranioencefálico (hipertensão intracraniana);
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Fig. 7.8 - Pupilas de tamanhos desiguais (ani-
socóricas) – olho direito apresentando midríase
e esquerdo miose.
Fig. 7.9 - Avaliação das pupilas quanto à reação
à luz.
7. Atendimento Inicial
● Intoxicação por álcool ou droga;
● Problema clínico metabólico.
2.2.4.2. Exame das Pupilas
Em condições normais as pupilas reagem à luz, aumentando ou diminuindo seu di-
âmetro conforme a intensidade da iluminação do ambiente. O aumento do diâmetro, ou
midríase, ocorre na presença de pouca luz, enquanto a diminuição, ou miose, ocorre em
presença de luz intensa.
Quanto à simetria, as pupilas são classificadas em isocóricas (pupilas normais ou
simétricas), que possuem diâmetros iguais, e anisocóricas (pupilas anormais ou assimétri-
cas), de diâmetros desiguais.
O socorrista deve avaliar as pupilas da
vítima em relação ao tamanho, simetria e rea-
ção à luz. Pupilas anisocóricas sugerem trau-
matismo ocular ou cranioencefálico. Neste
caso a midríase em uma das pupilas pode ser
conseqüência da compressão do nervo oculo-
motor no nível do tronco encefálico, sugerindo
um quadro de gravidade.
Pupilas normais se contraem quando
submetidas à luz, diminuindo seu diâmetro. Se
a pupila permanece dilatada quando submeti-
da à luz, encontra-se em midríase paralítica,
normalmente observada em pessoas inconsci-
entes ou em óbito. Pupilas contraídas (miose)
em presença de pouca luz podem indicar into-
xicação por drogas ou doença do sistema ner-
voso central.
Se houver depressão do nível de cons-
ciência e anisocoria, ficar alerta, pois existe o
risco de parada respiratória. Manter-se atento
para o “ABC”.
3. Abordagem Secundária
Finalmente, no passo "E", expor a vítima, à procura de lesões. Entretanto, em nível
pré-hospitalar, as roupas da vítima só serão removidas para expor lesões sugeridas por
suas queixas ou reveladas pelo exame segmentar, respeitando seu pudor no ambiente
público. No hospital, ao contrário, é imperdoável deixar de despir completamente a vítima
antes de iniciar a abordagem secundária.
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Fig. 7.10 - Exame segmentar da cabeça. Socor-
rista verifica se há hematoma retroauricular.
Fig. 7.11 - Exame segmentar do pescoço.
8. Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR
Só iniciar a abordagem secundária de-
pois de completada a abordagem primária.
Examinar todos os segmentos do corpo, sem-
pre na mesma ordem (exame segmentar): crâ-
nio, face, pescoço, tórax, abdômen, quadril,
membros inferiores, membros superiores e
dorso. Nesta fase, realizar:
● Inspeção: cor da pele, sudorese,
simetria, alinhamento, deformidade e
ferimento;
● Palpação: deformidade, crepita-
ção, rigidez, flacidez, temperatura e su-
dorese;
● Ausculta: tórax (campos pleuro-
pulmonares e precordial) - procedimen-
to exclusivo do médico.
Durante todo o exame segmentar, man-
ter-se atento a sinais de dor ou a modificações
das condições constatadas na abordagem pri-
mária da vítima. Exame segmentar:
1) Cabeça: palpar o crânio com os
polegares fixos na região frontal, man-
tendo o controle cervical. Palpar as ór-
bitas. Simultaneamente, inspecionar
cor e integridade da pele da face, he-
morragia e liqüorragia pelo nariz e ouvi-
dos, hematoma retroauricular (sugesti-
vo de fratura de coluna cervical alta ou
base de crânio), simetria da face, he-
morragia e laceração dos olhos e fotor-
reatividade pupilar (não a valorize em
olho traumatizado). Retirar corpos es-
tranhos (lentes de contato e próteses
dentárias móveis) eventualmente rema-
nescentes.
2) Pescoço: inspecionar o alinha-
mento da traquéia e a simetria do pes-
coço. Palpar a cartilagem tireóide e a
musculatura bilateral. Inspecionar as
veias jugulares: se ingurgitadas, princi-
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Fig. 7.12 - Exame segmentar do tórax.
Fig. 7.13 - Exame segmentar do abdômen.
Fig. 7.14 - Exame segmentar do quadril.
Fig. 7.15 - Palpação dos membros inferiores.
9. Atendimento Inicial
palmente com piora na inspiração, preocupar-se com lesão intratorácica grave
(derrame de sangue no pericárdio, impedindo os movimentos normais do coração:
hemopericárdio com tamponamento
cardíaco). Palpar as artérias carótidas
separadamente e a coluna cervical, ve-
rificando alinhamento, aumento de vo-
lume, crepitação e rigidez muscular.
Completado o exame, colocar o colar
cervical.
3) Tórax: inspecionar a caixa toráci-
ca (face anterior), buscando simetria
anatômica e funcional, respiração para-
doxal, áreas de palidez, eritema ou he-
matoma (sinais de contusão) e ferimen-
tos. Palpar as clavículas separadamen-
te, buscando dor e crepitação. Palpar
os arcos costais e esterno em busca de
rigidez muscular, flacidez e crepitação.
Examinar até a linha axilar posterior.
Realizar ausculta pulmonar e cardíaca
(procedimento médico).
4) Abdômen: inspecionar sinais de
contusão, distensão e mobilidade. Pal-
par delicadamente, analisando sensibi-
lidade e rigidez de parede (abdômen
em tábua).
5) Quadril: afastar e aproximar as
asas ilíacas em relação à linha média, analisando mobilidade anormal e produção
de dor. Palpar o púbis no sentido antero-posterior. A região genital também deve
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Fig. 7.16 - Avaliação do enchimento capilar dos
membros inferiores.
Fig. 7.17 - Teste de mobilidade passiva.
Fig. 7.18 - Exame segmentar dos membros su-
periores.
Fig. 7.19 - Exame segmentar do dorso. Vítima
sofre rolamento de 90º lateralmente. Ao retornar
a vítima já é depositada sobre a tábua de imobi-
lização dorsal.
10. Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR
ser avaliada, sugerindo haver lesão conforme as queixas da vítima ou o mecanis-
mo de trauma.
6) Membros inferiores: inspecionar e palpar da raiz das coxas até os pés. Ob-
servar ferimento, alinhamento, deformidade, flacidez, rigidez e crepitação. Cortar a
roupa onde suspeitar de ferimento ou fratura. Retirar calçados e meias. Examinar a
mobilidade articular ativa e passiva. Executar movimentos suaves e firmes de fle-
xão, extensão e rotação de todas as articulações. Palpar pulsos em tornozelos e
pés. Testar sensibilidade, motricidade e enchimento capilar.
7) Membros superiores: inspecionar e palpar dos ombros às mãos. Observar
ferimento, alinhamento, deformidade, flacidez, rigidez e crepitação. Cortar a roupa
onde suspeitar de ferimento ou fratura. Palpar os pulsos radiais. Testar a mobilida-
de ativa e passiva. Executar movimentos suaves e firmes de flexão, extensão e ro-
tação de todas as articulações. Testar a simetria da força muscular nas mãos. Veri-
ficar sensibilidade, motricidade e enchimento capilar.
8) Dorso: realizar a manobra de rolamento a noventa graus para examinar o
dorso. Inspecionar alinhamento da coluna vertebral e simetria das duas metades
do dorso. Palpar a coluna vertebral em toda a extensão, à procura de edema, he-
matoma e crepitação. Terminado o exame do dorso, rolar a vítima sobre a tábua de
imobilização dorsal.
Após completar o exame segmentar, fazer curativos, imobilizações e outros proce-
dimentos necessários.
Fazem também parte da abordagem secundária os seguintes procedimentos, que
são realizados por médicos no ambiente hospitalar: radiografias, sonda gástrica, toque re-
tal, cateterismo vesical e lavagem peritonial.
Durante a abordagem secundária, o socorrista deva reavaliar o ABCD quantas ve-
zes forem necessárias, principalmente em vítimas inconscientes.
Após a abordagem secundária, realizar a verificação de dados vitais (ver capítulo
6) e escalas de coma e trauma.
4. Sinais Vitais e Escalas de Coma e Trauma
4.1. Sinais Vitais
Avaliar pulso, respiração, pressão arterial e temperatura (ver capítulo 6).
4.2. Escala de Coma
A Escala de Coma de Glasgow, é baseada na avaliação da abertura dos olhos
(AO), da melhor resposta motora (MRM) e da melhor resposta verbal (MRV). É uma esca-
la prática para se avaliar a evolução do nível de consciência da vítima. Para cada um dos
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11. Atendimento Inicial
três itens avaliados é atribuído um número, conforme a resposta da vítima, que somados
irão nos mostrar o nível de consciência da vítima no momento da avaliação.
Abertura dos Olhos
Espontânea 04 pontos Olhos abertos espontaneamente, com movimentos normais.
À Voz 03 pontos
Olhos fechados que só se abrem mediante um estímulo verbal (não ne-
cessariamente à ordem de "abra os olhos").
À Dor 02 pontos Olhos fechados que só se abrem mediante estímulo doloroso.
Ausente 01 ponto Não abre os olhos
Melhor Resposta Verbal
Orientada 05 pontos Consegue descrever quem é, o que aconteceu etc.
Confusa 04 pontos
Responde às perguntas, mas não sabe descrever quem é, onde está ou
o que aconteceu.
Palavras Des-
conexas
03 pontos
Diz palavras isoladas e desconexas, não conseguindo formar frases
completas.
Sons Ininteligí-
veis
02 pontos
Não consegue sequer articular palavras, emitindo apenas murmúrios ou
grunhidos.
Ausente 01 ponto Não emite qualquer som vocal.
Obs.: Impossível avaliar resposta verbal de vítima que não possa falar (trauma de
face ou intubação oro traqueal). Nesse caso, registrar a impossibilidade no formulário pró-
prio (RAS).
Melhor Resposta Motora
Obedece a Co-
mandos
06 pontos
É capaz de executar movimentos mediante solicitação verbal, do tipo
"mova a mão", "levante a perna".
Movimento
Apropriado à
Dor
05 pontos
Consegue localizar a região onde está sendo estimulado dolorosamente
e tenta remover a mão do examinador para impedi-lo.
Retirada à Dor 04 pontos
Localiza o estímulo doloroso e tenta escapar dele, retraindo a região es-
timulada.
Flexão Anor-
mal
03 pontos
Ao ser estimulado, flexiona as extremidades superiores (e estende as
extremidades inferiores), assumindo a chamada "atitude de decortica-
ção."
Extensão
Anormal
02 pontos
Ao ser estimulado, estende as extremidades superiores e inferiores, as-
sumindo a chamada "atitude de descerebração".
Ausência de
Resposta
01 ponto Não apresenta qualquer resposta motora.
Obs.: Considerar sempre a melhor resposta motora observada, embora ela possa
ser isolada (em apenas uma extremidade).
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12. Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR
A avaliação da gravidade do comprometimento neurológico será feita com base no
resultado da escala de coma de Glasgow:
● TCE grave: 03 a 08;
● TCE moderado: 09 a 12;
● TCE leve: 13 a 15.
Sempre que na avaliação da Escala de Coma de Glasgow, o estado neurológico
for avaliado como igual ou menor que 9 (nove), torna-se necessário o acionamento de
apoio médico no local da ocorrência.
4.3. Escala de Trauma
A escala de trauma leva em consideração os seguintes itens: freqüência respirató-
ria, pressão sistólica e escala de coma. Com base no valor de cada ítem, a cada um deles
é atribuída pontuação de zero a quatro, cuja soma será o resultado da escala de trauma,
que pode variar de zero a doze.
Pontuação Freqüência respiratória Pressão sistólica Escala de coma
04 10 a 29 >89 13 a 15
03 >29 76 a 89 09 a 12
02 06 a 09 50 a 75 06 a 08
01 01 a 05 01 a 49 04 a 05
0 0 0 03
Interpretação do resultado da escala de trauma:
● Trauma grave: 0 a 06;
● Trauma moderado: 07 a 10;
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Fig. 7.20 - Flexão anormal – atitude de decortica-
ção.
Fig. 7.21 - Extensão anormal – atitude de descere-
bração.
13. Atendimento Inicial
● Trauma mínimo: 11 a 12.
Sempre que na avaliação da Escala de Trauma, for obtido resultado menor que 9
(nove), torna-se necessário o acionamento de apoio médico no local da ocorrência.
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