Este documento descreve uma análise fitoquímica e teste de atividade antimicrobiana do extrato bruto hidroalcoólico da casca de Bertholletia excelsa contra bactérias gram-negativas. A análise fitoquímica encontrou ácidos orgânicos, açúcares, fenóis, taninos, saponinas e outros metabólitos secundários. Nos testes, o extrato inibiu o crescimento de Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e outra linhagem de E. coli
1. CIÊNCIA EQUATORIAL ISSN 2179-9563
Artigo Original Volume 1 - Número 2 - 2º Semestre 2011
ANÁLISE QUALITATIVA FITOQUÍMICA E ATIVIDADE
ANTIMICROBIANA DO EXTRATO BRUTO HIDROALCOÓLICO DA CASCA DE
Bertholletia excelsa HUMB. & BOMPLE (LECYTIDACEAE) FRENTE A
MICRORGANISMOS GRAM-NEGATIVO
Marília Bastos Campos1
; Anderson Luiz Pena da Costa 2
; Larissa Paula Jardim de Lima Barbosa3
; Flávio Henrique
Ferreira Barbosa4
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo fazer a análise fitoquímica de grupos de Metabólitos Secundários presentes no extrato
bruto hidroalcoólico da casca de Bertholletia excelsa, bem como, pelo método de difusão em disco, analisar a atividade
antimicrobiana do extrato bruto. Através de ensaios fitoquímicos, ficou comprovada a presença de cinco classes de
metabólitos secundários: ácidos orgânicos, açúcares redutos, fenóis e taninos, saponinas e depsídios e depsidonas.
Sendo que no teste de atividade antimicrobiana, observou-se a presença de halos de inibição, o que comprova uma
possível atividade antimicrobiana no extrato frente aos microrganismos. Dentre os microrganismos testados, o mais
susceptível ao extrato foi a Klebsiella pneumoniae (ATCC 13883), seguido de Escherichia coli (ATCC 25522), e
menos susceptívela a Escherichia coli (ATCC 29212).
Palavras-chave: Bertholletia excelsa, Análise fitoquímica, Antimicrobiano.
PHYTOCHEMISTRY AND QUALITATIVE ANALYSIS OF ANTIMICROBIAL ACTIVITY
OF BARK HYDROALCOHOLIC TINCTURE OF Bertholletia excelsa HUMB. & BOMPLE
(LECYTIDACEAE) AGAINST TO GRAM-NEGATIVE MICROORGANISMS
ABSTRACT
This study aimed to make the phytochemical analysis of groups of Secondary Metabolites present in the crude extract
from the bark of Bertholletia excelsa, as well as the disk diffusion method to analyze the antimicrobial activity of crude
extract. Through phytochemical tests, it was proved the presence of five classes of secondary metabolites, organic acids,
sugars strongholds, phenols and tannins, saponins and depsídios and depsidonas. Since the test of antimicrobial activity,
we observed the presence of inhibition halos, which proves one can extract the antimicrobial activity against
microorganisms. Among the microorganisms more susceptible to the extract was Klebsiella pneumoniae (ATCC
13883), followed by Escherichia coli (ATCC 25522), and less susceptívela Escherichia coli (ATCC 29212).
Keywords: Bertholletia excelsa, Phytochemistry analysis, Antimicrobial.
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INTRODUÇÃO
O conhecimento sobre o potencial
terapêutico dos vegetais tem despertado o
interesse científico, buscando nesse
conhecimento, novos caminhos para o controle
e tratamento de diversas doenças
(COUTINHO, 2004 apud FERREIRA et al.,
2011). Pesquisas de tal natureza no Brasil são
de grande valia, pelo fato do país ser
considerado um dos maiores reservatórios de
biodiversidade do mundo e, além disso, a
grande extensão territorial abriga diversos
tipos de ecossistemas, cada um com suas
particularidades, o que o torna verdadeira
fonte quase que inesgotável fonte de moléculas
a serem descobertas (FERREIRA et al., 2011).
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), as plantas medicinais são a
melhor fonte para se obter uma variedade de
drogas, e cerca de 80% da população mundial
usa a medicina tradicional na busca de alívio
de alguma sintomatologia dolorosa ou
desagradável (NASCIMENTO et al., 2000;
CAETANO et al., 2002 apud SANTOS et al.,
2007). A seleção de plantas a partir de
informações da medicina tradicional ou
popular pode conduzir a descoberta de
moléculas promissoras, como é o caso dos
metabólitos secundários.
(HOSTETTMANNET al., 2003; AGRA et al.,
2007 apud SANTOS et al., 2007).
Os produtos secundários têm um papel
importante na adaptação das plantas aos seus
ambientes (HARBORNE, 1988; AERTSET
al., 1991 apud FUMAGALI, 2008). Essas
moléculas aumentam a probabilidade de
sobrevivência de uma espécie, pois são
responsáveis por diversas atividades biológicas
com este fim como, por exemplo, podem atuar
como antibióticos, antifúngicos e antivirais
para proteger as plantas dos patógenos, e
também apresentando atividades
antigerminativas ou tóxicas para outras plantas
(LI et al., 1993 apud FUMAGALI, 2008).
Embora muitas indústrias
farmacêuticas tenham produzido novos
antibióticos e modificado algumas drogas já
existentes, nas últimas três décadas, a
resistência a essas moléculas pelos
microrganismos vem aumentando. Tal fato
tem causado preocupação, pois cresce o
número de pacientes em hospitais que tem a
imunidade suprimida com concomitante
surgimento de linhagens de bactérias e fungos
que apresentam novos perfis de resistência a
antibióticos. Consequentemente, novas
infecções poderão ocorrer em hospitais e/ou
residências resultando em elevada morbidade e
mortalidade (FARIAS et al., 1997;
NASCIMENTO et al., 2000; CAETANO et
al., 2002; OLIVEIRA et al., 2006 apud
SANTOS et al., 2007).
A busca por novos agentes
antimicrobianos, para aplicação em produtos
farmacêuticos e cosméticos, faz-se cada vez
mais necessário, devido ao surgimento de
microrganismos resistentes aos antibióticos em
uso clínico, e aos microrganismos oportunistas
que levam a infecções fatais. Desta forma,
compostos provenientes de extratos de plantas
podem contribuir para o desenvolvimento de
antibióticos mais eficazes e menos tóxicos, na
corrida contra a resistência e o surgimento de
microrganismos patogênicos (OSTROSKYET
al., 2008 apud SILVA, et al. 2011).
Considerando a diversidade de plantas
existentes nos diferentes ecossistemas
brasileiros, a importância reconhecida de
algumas no tratamento de doenças, e tendo
relatos do agravamento da resistência à
antimicrobianos em populações bacterianas,
fica notória a necessidade da busca de novas
substâncias com propriedades antimicrobianas
para serem utilizadas frente a esses
microrganismos (OKEKE et al., 1999 apud
SANTOS et al., 2010). Tal fato reforça a
crescente investigação do potencial terapêutico
de plantas medicinais, onde alguns de seus
compostos com propriedade antimicrobiana
como flavonoides, alcaloides, triterpenos,
sesquiterpenos, taninos e saponinas têm sido
objetos de interesse para o tratamento de
vários tipos de infecções humanas (VERDI et
al., 2005 apud SANTOS et al., 2010).
Dentre esses microrganismos que
podem apresentar resistência aos
antimicrobianos e mesmo ser prejudiciais aos
seres humanos, destacam-se bactérias da
família Enterobactereaceae, uma das
importantes famílias bacterianas que
compreende o ser vivo mais conhecido
(Escherichia coli K12) e muitos dos patógenos
mais isolados para homens e os animais. Com
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relação ao homem, estes patógenos estão entre
os principais agentes de infecção hospitalar e
sem dúvida, constituem a principal causa de
infecção intestinal em muitos países
(TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).
À família Enterobactereaceae
pertencem microrganismos ubíquos, sendo
encontrados em todo o mundo, no solo, na
água e na vegetação, e fazem parte da
microbiota normal intestinal da maioria dos
animais, incluindo os seres humanos. Essas
bactérias causam uma variedade de doenças,
entre elas muitas infecções intestinais. Alguns
microrganismos (Salmonellatyphi, espécies de
shigella, Yersiniapestis) estão sempre
associadasà doença, enquanto outros
(Escherichia coli, Klebsiellapneumoniae,
Proteusmirabilis) são membros da microbiota
comensal normal, podendo causar infecções
oportunistas. Essa família constitui a maior e
mais heterogênea coleção de bacilos Gram-
negativo (MURRAY et al., 2002).
A castanheira-do-Brasil (Bertholletia
excelsa, H.B.K.) é originária da região
amazônica (SOUZA; MENEZES, 2004 apud
CECHETTIET al., 2011), sendo uma espécie
arbórea de grande porte, da família das
lecitidáceas. (SOUZA, 2006 apud
CECHETTIET al., 2011).
Possui um grande valor nutricional,
devido ao alto teor de ácidos graxos
insaturados, monoinsaturados e
polinsaturados. Representando também uma
fonte de proteínas e aminoácidos,
principalmente os sulfurados (aminoácidos
essenciais) como a metionina que apresenta
uma concentração alta na castanha-do-brasil,
assim como vitaminas e minerais (FELBERG,
et al., 2004).
A amêndoa da castanha-do-brasil é
considerada um alimento rico em lipídios,
além de se constituir em excelente fonte de
selênio (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002;
OLIVEIRA; MARCHINI, 2003;
KANNAMKUMARATH; WROBEL;
WUILLOUD, 2004; TEODORO, 2006 apud
SANTOS et al., 2011). Seu conteúdo em
lipídios apresenta boa qualidade, com altos
índices de ácidos graxos insaturados, os quais
auxiliam nos processos oxidativos de frações
de gorduras prejudiciais ao organismo, como
as frações de LDL colesterol (GLÓRIA;
REGITANO-D’ÁRCE, 2000; ENRÍQUEZ;
SILVA; CABRAL, 2003; SOUZA;
MENEZES, 2004 apud SANTOS et al., 2011).
A partir dos itens expostos, fica
evidente a necessidade do desenvolvimento de
mais trabalhos científicos que comprovem a
atividade antimicrobiana de plantas medicinais
oriunda da “Amazônia Brasileira”. Então, o
propósito do presente estudo foi testar in vitro
a susceptibilidade de espécies de bactérias
Gram-negativo (Escherichia coli - ATCC
25522, E.coli– ATCC 29212 e Klebsiella
pneumoniae – ATCC 13883), ao extrato bruto
hidroalcoólico da casca do fuste de
Bertholletia excelsa.
MATERIAL E MÉTODOS
Preparo do extrato
O extrato hidroalcoólico da casca de
Bertholletia excelsa foi fornecido pelo
Laboratório de Absorção Atômica e
Bioprospecção da Universidade Federal do
Amapá, já preparado, macerado em etanol e
filtrado. A metodologia utilizada pelo
laboratório foi a mesma descrita por
Gonçalvez (2007). Primeiramente foi feita a
escolha das cascas de Bertholletia excelsa
utilizadas para a preparação do extrato. Essas
cascas foram limpas com água destilada
estérea e posteriormente foram desidratadas
em estufa a 50°C até obter-se um teor-padrão
de umidade de 20%. Em seguida, o material
foi triturado e posteriormente macerado. O
macerado foi misturado a um volume de 1000
mL de etanol (C2H5OH) 70% em uma
titulação de 20% (p/v). Após a mistura, a
solução foi estocada à temperatura ambiente,
protegida da luz, por um período de 25 dias,
quando se procedeu à filtragem do material. A
partir da solução filtrada, produziu-se o
extrato, pela evaporação a 50°C com auxílio
de roto evaporador, para eliminação do
solvente. O extrato hidroalcoólico resultante
utilizado no screening fitoquímico e nas
análises antimicrobianas foi armazenado em
frascos âmbar e acondicionado em geladeira à
temperatura de 10°C até o início dos
experimentos.
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Pesquisa de metabólitos secundários
O extrato foi submetido à triagem
fitoquímica preliminar para detecção das
principais classes de metabólitos secundários
através de reações químicas que resultam no
desenvolvimento de coloração e/ou
precipitado, característico para cada classe de
substâncias (MATOS, 1997, SIMÕES et al.,
2004 apud ARAÚJO, 2010).
Para a pesquisa de metabólitos
secundários utilizou-se o protocolo descrito
por BARBOSA et al., 2001) e os métodos
utilizados por CARVALHO eta al (2008).
Ácidos orgânicos
Para a pesquisa de ácidos orgânicos, foi
feito o seguinte procedimento. Foi dissolvido
alguns miligramas do extrato seco em 5mL de
água destilada, posteriormente a solução foi
filtrada. Em seguida adicionou-se ao filtrado
2mL do reativo de Fehling A e algumas gotas
do reativo de Pascová. Se houver a presença
de ácidos orgânicos, ou seja, se a reação for
positiva, vai ocorrer a descoloração do reativo.
Açúcares redutores
Para a detecção de açúcares redutors no
extrato hidroalcoólico da casca de
Bertholletiaexcelsa, foi dissolvido alguns
miligramas do extrato seco em 5mL de água
destilada. Posteriormente à dissolução, a
solução foi filtrada. Foi adicionado ao filtrado
2mL do reativo de Fehling A e 2 mL do
reativo de Fehling B. Após este processo a
solução resultante foi aquecida em banho
maria durante 5 minutos. Ao final foi feita
uma observação, se houvesse a formação de
um precipitado de cor vermelho tijolo, a
reação então seria considerada positiva para
açúcares redutores.
Polissacarídeos
Para detectar a presença de
polissacarídeos no extrato hidroalcoólico da
casca de Bertholletia excelsa foi feita a
utilização de lugol, pois o mesmo possui a
capacidade de formar complexos com as
moléculas de polissacarídeos. O extrato seco
foi solubilizado em 5mL de água destilada e
posteriormente foram adicionados algumas
gotas de lugol, que indicam a presença dessas
moléculas, através do aparecimento de uma
coloração azul intensa.
Fenóis e taninos
Para a pesquisa de fenóis e taninos no
extrato da casca de Bertholletia excelsa,
utilizou-se algumas gotas de solução alcoólica
de FeCl3à 1%, sendo que estas foram
adicionadas a alguns miligramas do extrato
que inicialmente havia sido solubilizado em
água destilada. Se a reação der positiva para
fenóis ocorrerá o surgimento de uma coloração
entre o azul e o vermelho. E se ocorrer a
presença de um precipitado de tonalidade azul
(detecção de taninos pirogálicos) e verde
(detecção de taninos catequéticos).
Flavonóides
Para a detecção de flavonóides, foram
dissolvidos alguns miligramas do extrato seco
em 10 mL de metanol. A solução resultante foi
filtrada e em seguida foram adicionados a este
filtrado algumas gotas de HCl concentrado e
ao final foram adicionados ainda alguns
miligramas de óxido de magnésio. A reação é
positiva para flavonóides se ocorrer o
surgimento de uma tonalidade rósea.
Alcalóides
Para a pesquisa de alcalóides, foram
solubilizados alguns miligramas do extrato
seco de Bertholleia excelsaem 5mL de HCl a
5%. A solução resultante foi separada em
quatro tubos de ensaio, sendo que para cada
tubo foi usado 1mL da solução. No primeiro
tubo foi adicionado o reativo de Bouchardat,
sendo que a utilização deste reativo detecta a
presença de alcaloide se houver a formação de
um precipitado de coloração laranja
avermelhado. Já no segundo tubo foi
adicionado outro reativo, o Drangendorff, que
confirma a presença de alcalóides se houver a
formação de um precipitado vermelho tijolo.
No terceiro tubo foi colocado o reativo de
Mayer e no quarto o reativo de Bertrand,
ambos indicam a presença de alcalóides se
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houver a formação de um precipitado de
coloração branca.
Purinas
Para a análise de purinas no extrato
seco de Bertholletia excelsa, foi utilizada uma
cápsula de porcelana, sendo que nesta cápsula
foram depositados alguns miligramas do
extrato seco e posteriormente adicionados 3
gotas de HCl 6N e duas gotas de H2O2 a 30%,
em seguida ocorreu a evaporação em banho
maria, devendo ocorrer a formação de um
resíduo de coloração avermelhada, ao qual é
adicionado 3 gotas de NH4OH 6N. Se houver a
formação de uma coloração violeta, a reação
será positiva para purinas.
Esteróides e triterpenóides
Para a análise de esteróides e
triterpenóides, foram utilizados alguns
miligramas do extrato seco, sendo que o
mesmo foi solubilizado em 10 mL de
clorofórmio, filtrado sobre carvão ativado. Ao
filtrado resultante foi adicionado 1mL de
anidrido acético, sendo que essa solução foi
agitada suavemente e em seguida adicionado 3
gotas de H2SO4, sendo que a solução foi
agitada novamente e posteriormente foi feita a
observação se ocorreu um rápido
desenvolvimento de cores variantes entre o
azul evanescente e o verde persistente, que
nesse caso indicam reação positiva para
esteróides e triterpenóides.
Depsídeos e depsidonas
Para a detecção de depsídeos e
depsidonas, foram dissolvidos alguns
miligramas do extrato seco em 5mL de éter
etílico, que posteriormente foi evaporado em
banho maria e em seguida adicionado 3 mL de
metanol, juntamente com 3 gotas de FeCl3.
Sendo que a formação de coloração azul, verde
ou cinza indica a presença do respectivo
metabólito secundário.
Antraquinonas
Para a detecção deste metabólito
secundário foram dissolvidos alguns
miligramas do extrato seco em 5mL de
tolueno, essa solução foi filtrada e
posteriormente foi adicionado a ela 2 mL da
solução de NH4OH a 10%. Se ocorrer a
formação de uma coloração rósea, vermelha
ou violeta na fase aquosa , indica a presença de
antraquinonas, ou seja, a reação será positiva
para este metabólito secundário.
Heterosídeos antociânicos
Para a pesquisa de metabólitos
secundários da classe dos
heterosídeosantociânicos foi realizada a
solubilização de alguns miligramas do extrato
seco de Bertholletia excelsa em 5mL de água
destilada e em seguida foi colocado em três
tubos de ensaio. Sendo que o primeiro tubo foi
acidificado com a utilização de ácido
sulfúrico, até obter pH 1. Já o segundo tubo foi
alcalinizado com a utilização de hidróxido de
amônia até atingir p pH 10, e por último, o
terceiro tubo, que foi neutralizado. A reação é
positiva para estes metabólitos secundários se
houver o aparecimento de diferentes
colorações.
Heterosídeos saponícos
Para a detecção de
heterosídeossaponícos, foi feita a utilização
dos mesmos tubos de ensaio utilizados para a
pesquisa de heterosídeosantociânicos. Porém
para a análise de heterosídeossaponícos, os
tubos foram agitados energicamente por
aproximadamente 5 minutos e em seguida
deixados em repouso por 30 minutos, se
houver o aparecimento de espuma maior ou
igual a um centímetro, indica que a reação é
positiva para estes metabólitos secundários.
Após a triagem fitoquímica, realizada
para determinar quais as classes de metabólitos
secundários estão presentes na casca do fuste
de Bertholletia excelsa, foi feito o teste de
atividade antimicrobiana, com o objetivo de
avaliar a sensibilidade dos microrganismos
frente ao extrato a ser utilizado.
Microrganismos
Para a determinação da atividade
antimicrobiana foram utilizadas cepas padrão
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provenientes da “American Type Culture
Collection” (ATCC): Escherichia coli (ATCC
25522), Escherichia coli (ATCC 29212), e
klebsiela pneumoniae (ATCC 13883), todas
bactérias Gram-negativo da família
Enterobactereaceae.
Preparo dos meios de cultura e
esterilização
O experimento foi realizado no
Laboratório de Microbiologia do bloco de
Ciências da Saúde da Universidade Federal do
Amapá. Para a realização dos testes, utilizou-
se o meio de cultura Ágar McConkey, a fim de
se obter a viabilidade dos microrganismos e,
para o cultivo bacteriano, o meio Ágar Müller-
Hinton. Sendo que os mesmos foram
preparados de acordo com as recomendações
do fabricante.
Preparação dos inóculos
Os inóculos foram preparados
tomando-se de três a quatro colônias da cepa
isolada em ágar McConkey e diluídos em
solução salina a 0,85% até atingirem a turbidez
correspondente ao tubo 0,5 da escala de Mac-
Farland, contendo aproximadamente 108
unidades formadoras de colônia (CLSI,
2003a). Em seguida com auxílio de swabs foi
feita a inoculação dos microrganismos em
placas de petri (150 mm) contendo 40 mL do
meio de cultura Ágar Miller Hinton, para
obtenção de um inóculo uniforme.
Teste de atividade antimicrobiana
Para avaliação da atividade
antimicrobiana dos extratos etanólicos secos,
foi empregado o método de disco difusão em
ágar. Cada suspensão de microrganismo foi
semeada (em triplicata), com auxílio de um
swab descartável, em toda a superfície de meio
Ágar Muller Hinton. Em seguida, foram
adicionados discos de papel-filtro (Whatman –
tipo 3), de 6 mm de diâmetro, impregnados
com 10 µL do extrato hidroalcoólico da casca
do fuste da Bertholletia excelsa nas
concentrações de 25, 50 e 100 mg/mL,
dissolvidos em dimetilsulfóxido (DMSO).
Sendo colocado ainda sobre o meio três
concentrações teste, um controle negativo
(DMSO) e os controles positivos (gentamicina
e tetraciclina), com uma distância de
aproximadamente um centímetro da parede da
placa, com cuidado para não danificar o meio
de cultura. Em seguida procedeu-se com a
incubação das placas a 35°C em estufa
bacteriológica por 24h. Posteriormente foi
realizada a leitura dos resultados medindo-se o
halo formado ao redor dos discos contendo os
extratos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A abordagem fitoquímica revelou a
presença de algumas classes de metabólitos
secundários, sendo que as reações
apresentaram-se positivas para Ácidos
Orgânicos, Açúcares Redutores, Fenóis e
Taninos, Depsídeos e Depsidonas e
HeterosídeosAntociânicos, a partir do Extrato
Bruto Hidroalcoólico da casca da Bertholletia
excelsa, como mostrados no quadro 1,
juntamente com os outros metabólitos
pesquisados.
Quadro 1: Classes de Metabólitos Secundários
presentes no extrato de Bertholletia excelsa.
Classe de Metabólito Secundário Resultado
Ácidos Orgânicos +
Açúcares Redutores +
Polissacarídeos -
Fenóis e Taninos +
Flavonóides -
Alcalóides -
Purinas -
Esteróides e Triterpenóides -
Depsídeos e Depsidonas +
Saponinas Espumicidas -
HeterosídeosAntociânicos +
Na verificação preliminar da atividade
antimicrobiana do extrato bruto de bertholletia
excelsa, observou-se atividade antibacteriana
mais satisfatória quando testado em klebsiella
pneumoniae (ATCC 13883), seguindo-se em
ordem decrescente de tamanho dos halos
apresentados, Escherichia coli (ATCC 25522)
e Escherichia coli (ATCC 29212).
O extrato de Bertholletia excelsa frente
à K. pneumoniae (ATCC 13883) apresentou
como média dos halos de inibição 14,53 mm
de diâmetro na concentração de 25 mg/mL,
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halo de 15,41 mm na concentração de 50
mg/mL e halo de 19,48 mm na concentração
de 100 mg/ml. Para a Escherichia coli (ATCC
25522) a média dos halos obtidos foram:
12,48, 16,43 e 16,98 mm de diâmetro nas
concentrações de 25, 50 e 100 mg/mL,
respectivamente e para a Escherichia coli
(ATCC 29212), a média dos halos foram as
seguintes: 12,78, 12,27 e 16,05 mm de
diâmetro para as concentrações de 25, 50 e
100 mg/mL do extrato.
Os resultados da análise da atividade
antimicrobiana do extrato hidroalcoólico da
casca da Bertholletia excelsa feitos a partir do
método de difusão em discos foram
submetidos ao t-test, com a utilização de um
programa estatístico, o BioEstat 3.0®.
Os valores dos diâmetros dos halos de
inibição para cada bactéria está disposto nos
quadros 2, 3 e 4, a seguir:
Quadro 2: Diâmetro dos halos de inibição (mm) do
extrato hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa
frente à Klebsiella pneumoniae (ATCC 13883)
25mg/mL 50mg/mL 100mg/mL
MA DP MA DP MA DP
14,53 0,2 15,41 0,2 19,48 0,2
MA: Média Aritmética
DP: Desvio Padrão
Quadro 3: Diâmetro dos halos de inibição (mm) do
extrato hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa
frente à E. coli (ATCC 25522)
25mg/mL 50mg/mL 100mg/mL
MA DP MA DP MA DP
12,48 0,6 16,43 0,4 16,98 0,6
MA: Média Aritmética
DP: Desvio Padrão
Quadro 4: Diâmetro dos halos de inibição (mm) do
extrato hidroalcoólico de casca de Bertholletia excelsa
frente à E. coli (ATCC 29212)
25mg/mL 50mg/mL 100mg/mL
MA DP MA DP MA DP
12,78 0,5 12,27 0,9 16,05 06
MA: Média Aritmética
DP: Desvio Padrão
Com relação às observações feitas a
partir da análise antimicrobiana, percebeu-se
que o extrato em questão, apresentou em todas
as concentrações testadas atividade
bacteriostática (inibição do crescimento
bacteriano) e bactericida (capacidade de matar
bactérias), uma vez que ocorreu a formação de
halos de inibição com um pequeno
desenvolvimento de bactérias ao redor dos
mesmos. A ação bactericida ficou evidenciada
em concentrações mais elevadas do extrato,
sendo esta observada devido a presença de um
halo de inibição total das bactérias ao redor
dos discos e acima deste halo observou-se um
halo que pode ser o que representa a ação
bacteriostática do extrato.
Levando em consideração os
antibióticos utilizados como controles
positivos (Tetraciclina e Gentamicina),
observou-se que em relação à tetraciclina, o
halo formado foi menor quando comparado ao
halo formado pela gentamicina para cada
microrganismo. Portanto, para a gentamicina a
sensibilidade foi maior, pois se observou a
formação de halo de inibição maior.
Para a tetraciclina os halos em diâmetro
observados foram: 7,86 para Klebsiella
pneumoniae (ATCC 13883), 7,77 para E. coli
(ATCC 25522) e 8,30 mm para a E. coli
(29212). Para a gentamicina os halos formados
foram 22,90 para Klebsiella pneumoniae
(ATCC 13883), 23,17 para E. coli (ATCC
25522) e 21,35 mm para a E. coli (ATCC
29212). Os valores dos diâmetros dos halos de
inibição de ambos os antibióticos analisados
frente a cada microrganismo estão descritos no
quadro 5.
Quadro 5: Diâmetro dos halos de inibição (mm) dos
Antibióticos.
Microrganismo Tetraci
clina
Gentami
cina
Klebsiela pneumoniae –
13883
7,86 22,90
Escherichia coli – 25522 7,77 23,17
Escherichia coli - 29212 8,30 21,35
Dentre os microrganismos testados
com extrato bruto hidroalcoólico da casca da
Bertholletia excelsa, o mais susceptível ao
extrato foi a K. pneumoniae (ATCC 13883),
seguida pela E. coli (ATCC 25522) e
apresentando menores halos, E. coli (29212).
Em comparação aos controles positivos, todos
os halos nas diferentes concentrações do
extrato foram superiores aos halos formados
pela tetraciclina, porém o halo formado pela
Gentamicina foi superior ao das diferentes
concentrações utilizadas do extrato. Como
mostradas nas figuras 1, 2 e 3.
8. Ciência Equatorial, Volume 1 - Número 2 - 2º Semestre 2011 Página 13
Figura 1: Teste de difusão em disco em K. pneumoniae
(13883).
Figura 2: Teste de difusão em disco em E. coli.(25522).
Figura 3: Teste de difusão em disco em E. coli (29212).
Segundo alguns autores, a presença de
taninos pode conferir atividade antimicrobiana
a um extrato (SCALBERT, 1991; HARBONE,
2000; VELURIET al., 2004; BYLKA et al.,
2004 apud MENDES et al., 2010). Dessa
maneira, a presença desse e de outros
compostos no extrato de Bertholletia excelsa,
leva à expectativa de uma atividade
antimicrobiana nesse extrato. Portanto, como a
análise feita foi somente qualitativa, entendeu-
se que se o extrato formasse algum halo de
inibição frente aos microrganismos utilizados,
indicaria a provável presença de atividade
antimicrobiana.
Dentre os microrganismos analisados,
o mais susceptível ao extrato foi K.
pneumoniae (ATCC 13883), apresentando
como maior halo de inibição 19,48 mm de
diâmetro na maior concentração do extrato
(100 mg/mL). O que apresentou o segundo
maior halo na maior concentração utilizada foi
a E. coli (ATCC 25522) e apresentando
menor halo na maior concentração, E. coli
(29212).
Com relação os antibióticos utilizados
como controle positivo, o extrato utilizado
apresentou a presença de menores halos para
ambos os microrganismos quando comparados
à gentamicina e maiores halos em relação à
tetraciclina.
CONCLUSÃO
Portanto, com os resultados obtidos
comprovou-se que o extrato mostrou-se
eficiente em ambas às concentrações e para
todos os microrganismos testados. Então, os
resultados deste estudo sugerem que a planta
analisada pode representar novas opções no
arsenal de substâncias antimicrobianas, sendo
necessário o desenvolvimento de mais
pesquisas para comprovação da sua eficácia e
aplicabilidade clinica.
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_____________________________________
1 – Marília Bastos Campos, Acadêmico do Curso de
Bacharelado em Ciências Farmacêuticas da UNIFAP.
2 – Anderson Luiz Pena da Costa, Acadêmico do Curso
de Bacharelado em Ciências Biológicas da UNIFAP.
3 – Larissa Paula Jardim de Lima Barbosa, BSc,
Bióloga / Especialista
Real Biológica Ltda.
4 – Prof. Flávio Henrique Ferreira Barbosa, PhD
Biólogo / Professor Adjunto I
Colegiado Ciências Farmacêuticas
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
flavio.barbosa@unifap.br