REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Artigo_Bioterra_V23_N2_05
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 23 - Número 2 - 2º Semestre 2023
EFEITOS INIBITÓRIOS DOS ÓLEOS ESSENCIAIS DE Citrus bergamia E Syzigium
aromaticum NO DESENVOLVIMENTO IN VITRO DE Sporothrix sckenckii
Breno Moreira; Esther Izaías Ribeiro; Fernanda Prieto Bruckner; Swiany Silveira Lima;
Marisa Cristina da Fonseca Casteluber
RESUMO
A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungos do gênero Sporothrix, organismo
termodimórfico cuja infecção resulta em nódulos cutâneos, ulcerados ou verrugosos locais, com
capacidade de disseminação para outros órgãos. A infecção ocorre por lesões traumáticas, inalação
de esporos ou transmissão zoonótica, especialmente pela espécie Felis catus (gato doméstico). O
número de casos de esporotricose tem aumentado exponencialmente no mundo, incluindo o Brasil, e
o Itraconazol corresponde à primeira linha de defesa no tratamento. Pesquisas utilizando fitoterápicos
têm sido realizadas como alternativa no tratamento dos fungos multirresistentes. O presente trabalho
teve como objetivo analisar a ação antifúngica dos óleos essenciais das espécies Syzygium
aromaticum (cravo-da-Índia) e Citrus aurantium bergamia (Bergamota) sobre S. schenckii
comparados ao Itraconazol in vitro. Os resultados revelaram capacidades de inibição desses extratos
e a ação fungicida dos óleos essenciais investigados, através do teste Kirb-Bauer e determinação da
Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Fungicida Mínima (CFM).
Palavras-chave: Esporotricose, Fitoterápicos, Resistência fúngica.
INHIBITORY EFFECTS OF ESSENTIAL OILS OF Citrus bergamia AND Syzigium
aromaticum ON THE IN VITRO DEVELOPMENT OF Sporothrix sckenckii
ABSTRACT
Sporotrichosis is a subcutaneous mycosis caused by fungi of the genus Sporothrix, a thermodimorphic
organism whose infection results in local cutaneous nodules, ulcerated or warty, capable of spreading
to other organs. Infection occurs by traumatic injuries, inhalation of spores or zoonotic transmission,
especially by the Felis catus (domestic cat) species. The number of cases of sporotrichosis has
increased exponentially in the world, including Brazil, and Itraconazole corresponds to the first choice
of defense in the treatment. Research using herbal medicines has been carried out as an alternative in
the treatment of multiresistant fungal. This study aimed to analyze the antifungal action of essential
oils from the species Syzygium aromaticum (clove) and Citrus aurantium bergamia (bergamot) on S.
schenckii compared to Itraconazole in vitro. The results revealed inhibition of S. schenckii by tested
extracts through the Kirb-Bauer test and fungicidal action in assay of Minimum Inhibitory
Concentration (MIC) and Minimum Fungicide Concentration (MFC).
Keywords: Sporotrichosis, Herbal medicines, Resistant fungal.
42
2. INTRODUÇÃO
A esporotricose é uma micose cutânea ou
subcutânea decorrente da infecção causada por
fungos das espécies do complexo patogênico
Sporothrix. Recentemente foram descritas seis
espécies desse gênero incluindo S. schenckii, S.
brasiliensis, S. globosa, S. mexicana, S. luriei e
S. albicans. Esses fungos são termodimórficos
comumente encontrados em locais de clima
quente e úmido. Podem ser isolados a partir de
solo, matéria orgânica vegetal e matéria orgânica
em decomposição em sua fase micelial ou
saprofítica, enquanto sofrem dimorfismo e são
encontrados no hospedeiro na fase leveduriforme
(GARCIA- CARNEIRO et al.,2022).
A infecção causada pelo Sporothrix sckenckii
apresenta-se como nódulos cutâneos subagudos
ou infecciosos, ulcerados ou verrucosos,
podendo ocorrer disseminação linfática local ou
propagação para outros órgãos e sistemas. Em
casos mais graves podem ocorrer lesões
pulmonares, oculares chegando até à infecção
generalizada (QUEIROZ-FERNANDES e
MAGALHÃES, 2021). Estudos recentes
apontam fatores de virulência fúngica que
auxiliam diretamente na patogenicidade do S.
schenckii e no dano ao hospedeiro, sendo esses
fatores: (1) Proteínas da parede celular que estão
envolvidas na adesão do fungo ao hospedeiro; (2)
Quinases e proteínas de choque térmico as quais
contribuem para a termotolerância e para o
dimorfismo; (3) Proteinases extracelulares e
intracelulares que auxiliam na colonização do
fungo nos tecidos do hospedeiro; (4) Melanina
que protege o fungo contra fatores ambientais de
estresse; (5) Vesículas Extracelulares
responsáveis por- transportar elementos
necessários para fora das células; (6) Biofilme,
que forma uma estrutura que participa da
resistência ao antifúngico (RUIZ-BACA et
al.,2021, GARCIA-CARNEIRO, et al.,2022).
A infecção pelo S. schenckii ocorre por meio de
lesões traumáticas como fonte primária da
infecção, normalmente ocasionadas por
partículas vegetais ou espinhos contaminados
pelo fungo. Outra forma de contaminação é
zoonótica. Como representante principal na
transmissão está a espécie Felix catus (felinos
domésticos), sendo o principal animal acometido
por esta infecção e consequentemente o principal
hospedeiro transmissor da micose (MACÊDO-
SALES, et al., 2018). Embora as lesões sejam
restritas à pele, podem ser encontradas lesões
linfocutâneas fixas, sendo o tipo mais comum
encontrado, ou lesões linfocutâneas
disseminadas observadas principalmente em
pacientes imunocomprometidos. A última forma,
menos comum, é a inalação de esporos, podendo
evoluir para esporotricose pulmonar
(QUEIROZ-TELLES et al., 2019).
Em 1898 Benjamin R. Schenck descreveu o
primeiro caso de esporotricose (SCHENCK,
1898). Desde então, a esporotricose vem sendo
descrita como uma das mais importantes micoses
de implantação traumática, que tende a aumentar
exponencialmente, apresentando dismorfismos
no perfil de transmissão e contaminação. Em
números crescentes, acomete hospedeiros em
todo território brasileiro incluindo o estado de
Minas Gerais que corresponde a uma área
endêmica cujos casos devem ser notificados
(MACÊDO-SALES et al., 2018).
Os estudos de Lecca em 2019, apontaram os
casos de esporotricose felina em Belo Horizonte,
com alta incidência na região do Barreiro, a qual
é responsável por 57,52% dos casos de
esporotricose na capital mineira entre os anos de
2015 e 2018. Casos humanos também foram
reportados na mesma região entre 2016 e 2018,
totalizando 62,49% dos casos encontrados. Tal
achado ganha maior relevância dada a
proximidade do Barreiro com Ibirité, município
alvo deste estudo a deficiente em estudos que
demonstrem os índices de infecções causadas por
S. schenckii. No entanto, existe relato de casos de
esporotricose felina em Ibirité, no qual o fungo
mostra-se resistente ao medicamento de escolha
clínica, o Itraconazol (DOS SANTOS e
CASTELUBER 2020).
A utilização do antifúngico Itraconazol ainda
corresponde à principal forma de tratamento e
profilaxia para a infecção cutânea e cutâneo-
linfática da esporotricose, sendo alvo de diversos
estudos a respeito da sua eficiência e da
sensibilidade do S. schenckii ao medicamento
3. (ROSA et al., 2017). Uma pesquisa in vitro
realizada em 2007 por Meinerz e colaboradores
avaliou a sensibilidade de 12 isolados de S.
schenckii frente ao Itraconazol. O experimento
contou com amostras frescas inoculadas a partir
da infecção presente em felinos, cães, seres
humanos saudáveis e imunocomprometidos. Foi
observada a resistência fúngica nas amostras de
felinos e cães, e apontada uma predisposição da
resistência fúngica nas amostras de seres
humanos, incluindo os imunocomprometidos.
Entender os mecanismos de resistência ou
susceptibilidade antifúngica do S. schenckii é
relevante para o desenvolvimento de métodos
que possam impedir o crescimento desse fungo e
o controle das infecções nos animais e humanos.
Mecanismos de susceptibilidade tem sido
relacionado à produção de biofilme pelo fungo e
sua capacidade de gerar dimorfismo. O biofilme
atua formando uma barreira que impede o acesso
dos antifúngicos, como o Itraconazol, nas células
alvo, seja por adsorção, inativação ou
neutralização, fazendo com que a micose seja
recalcitrante (SILVA, 2017, GARCIA-
CARNEIRO, 2022).
Portanto, a busca de métodos alternativos, dentre
eles, o uso de fitoterápicos como antifúngico vem
ganhando destaque na tentativa de contornar os
mecanismos de resistência microbiana. De
acordo com Santos et al. (2011), a fitoterapia
como forma de medicina integrativa é crescente
ao longo dos anos, devido ao uso das plantas
medicinais como saberes tradicionais entre as
populações, principalmente de baixa renda.
Nesse sentido o presente estudo enfatiza a
proposta do uso de fitoterápicos que podem
auxiliar no combate à esporotricose. Alguns
estudos demonstraram efeitos de plantas
medicinais contra a esporotricose em ensaios in
vitro, como a utilização dos óleos essenciais
(OE’S) de melaleuca (DOS SANTOS e
CASTELUBER, 2020), manjerona, orégano e
alecrim (WALLER, 2015). Tais estudos sugerem
que as plantas, já empregadas pela população
humana para tratamento de inúmeras
enfermidades, cujas utilizações são descritas de
longas datas, podem ser efetivas no tratamento de
S. schenkii multirresistentes (SILVA et al.,
2021).
O cravo-da-índia (Syzygidium aromaticum)
corresponde a uma espécie de árvore nativa da
Indonésia da família Myrtaceae. A parte
comumente comercializada desta espécie são os
botões florais, tratados como iguarias e utilizados
para diferentes fins, desde culinários até
tratamentos fitoterápicos (RADUNZ et al.,
2019). Cerca de 95% da composição química do
OE’s de cravo-da-índia é formada por eugenol
um composto aromático de 4-alil-2-metoxifenol,
que confere propriedades anti-inflamatória,
anestésica, inseticida, acaricida e fungicida
(ZANCHETTIN, 2021). No entanto, ainda não
foi relatado o efeito desse óleo como fungicida
contra cepas do S. schenckii.
Além dos eugenóis, outros compostos bioativos
são relevantes na ação fitoterápica das plantas,
como exemplo os compostos fenólicos. A
espécie Citrus aurantium bergamia conhecida
popularmente como bergamota apresenta em sua
composição de OE’s cerca de 25-53% de
limoneno; 2-20% de linalol e 15-40% de acetato
de linalila (ARAÚJO; FARIAS, 2003) presentes
majoritariamente na casca do fruto. Conferindo à
planta propriedades fungicidas. Estudos recentes
demonstraram a inibição do S. sckenckii pelo
óleo essencial de Citrus limon, rico em limoneno
(DOS SANTOS E CASTELUBER, 2020) e esse
achado permite inferir a possibilidade do óleo de
C. aurantium como um potencial antifúngico
contra o mesmo fungo.
Em vista disso, o presente estudo avaliou in vitro
a ações antifúngica dos OE’s das espécies
Syzygium aromaticum (Cravo-da-índia) e Citrus
aurantium bergamia (Bergamota) frente ao
agente infeccioso S. schenckii, com o propósito
de identificar capacidades fungicidas desses
OE’s quando comparado ao medicamento de
escolha clínica, o Itraconazol. Os dados
apresentados neste trabalho poderão ser
utilizados futuramente para delinear estudos de
tratamentos alternativos in vivo no combate à
esporotricose, o que poderá atribuir aos OE’s de
cravo-da-índia e bergamota finalidades
medicamentosas em medicina integrativa contra
o S. schenckii.
4. METODOLOGIA
1 Materiais e Métodos
O microrganismo utilizado neste estudo foi o
isolado LM –18 da espécie Sporothrix schenckii
que faz parte da coleção dos microrganismos
utilizados no Laboratório de Microbiologia
Aplicada (LAMAP) da Universidade do Estado
de Minas Gerais (UEMG). Este microrganismo
foi isolado e identificado a partir de lesão de
felino no município de Ibirité- MG. A
identificação seguiu o Manual de Detecção e
Identificação dos Fungos de Importância Médica
(ANVISA, 2004). Esse processo foi realizado a
partir de tecido subcutâneo coletado após
antissepsia e colocado em recipiente estéril e
lacrado, conforme orientação para pesquisa do
agente, em quantidade suficiente (>2 mL ou 0,5
cm3
ou duas vezes). O tecido foi cultivado em
Ágar Sabouraud Dextrose de acordo com as
recomendações do fabricante para observação de
hifas hialinas finas, septadas com esporos em
arranjos como flor de margarida. Essa
visualização foi possível após 10 dias de cultivo
a 25 graus. A amostra de tecido também foi
cultivada a 35 graus, o que após 24 horas
permitiu a confecção de lâminas para observação
de pequenas leveduras em KOH 20%, e por
coloração de Gram, para visualização de
leveduras tipo charuto características de S.
schenckii. A análise genômica por PCR foi
realizada por um laboratório veterinário quando
a amostra foi coletada ainda na clínica,
confirmando tratar-se de S. schenckii. Após
confirmação do fungo, este foi cultivado em àgar
Yeast Peptone Dextrose (YPD), preparado de
acordo com a instrução do fabricante, e mantido
em estufa por 7 dias a 35°C, seguida da
confirmação microscópica do fungo com aspecto
leveduriforme, utilizando o corante azul de
algodão.
1.1 Fitoterápicos
Os OE’s de Cravo e Bergamota testados foram
obtidos por meio comercial em farmácia, na
concentração de 10 mg.mL-1
e pertenciam à
empresa Phytoterapica®
. Tais óleos foram
utilizados sem novas diluições.
1.2 Teste de Kirb-Bauer
Para os testes de Kirb-Bauer foi seguida a
orientação do CSLI (2018) e para isso foi
inoculado em triplicata, 20 µL de S. schenckii
(1 x 108
UFC mL-1) em placas de Petri contendo
Ágar Mueller-Hinton (AMH) preparado a partir
de composto desidratado, de acordo com as
recomendações do fabricante. Em seguida, o
inóculo foi espalhado utilizando-se alça de
Drigalsky e sobre ele foram adicionados os
discos de papel estéreis e embebidos nos extratos
testes. Para confecção dos discos, foi utilizado o
papel filtro cortado em círculos, por perfurador
de papéis com 0,4 mm de diâmetro, como
proposto por Nascimento e colaboradores
(2012). Em seguida, foram autoclavados por 20
minutos a 121°C e 1 atm. Dentro da capela de
fluxo laminar, os discos foram embebidos com
10µL de cada um dos extratos
individualmente: C – OE de Cravo (10 mg.mL-
1
); B - OE de Bergamota (10 mg.mL-1
); I -
Itraconazol (10 mg.mL-1
). Após a colocação dos
discos sobre as placas contendo o inóculo
fúngico, o cultivo foi incubado em estufa a 35°C
por 24h. Em seguida, as zonas de inibição foram
medidas com o auxílio de um paquímetro para
posterior análise estatística.
1.3 Teste de Concentração Inibitória Mínima
(MIC)
O teste de Concentração Inibitória Mínima
(MIC) foi realizado a partir do método de micro
diluição em microplacas de 96 poços conforme
sugerido pelo CSLI (2018). Esse ensaio permitiu
a determinação da concentração mínima dos
extratos com potencial antifúngico contra o S.
schenckii. Para isso, foram distribuídos 100μL de
RPMI em poços de uma placa de micro titulação;
e em seguida, 100 μL de cada fitoterápico teste
foi adicionado ao primeiro poço de sua respectiva
coluna. Após homogeneização, foi transferido
100 μL para o segundo poço e assim
sucessivamente. A preparação do inóculo
consistiu em ressuspender, a partir de colônias
desenvolvidas no ágar Muller-Hinton, uma
suspensão microbiana de S. Schenckii em solução
salina 0,9%, com turvação equivalente ao tubo
0,5 da Escala Mac Farland (1 x 108
UFC mL-1
ou
80% de transmitância a 530 nm). Em seguida, foi
diluída esta suspensão 1:100 com RPMI, obtendo
se como inóculo 1 x 106
UFC mL-1
em cada poço
já contendo os óleos essenciais. As microplacas
5. foram incubadas a 35°C por 24h. Todos os testes
foram realizados em triplicata.
1.4 Concentração Fungicida Mínima (CFM)
O teste de Concentração Fungicida Mínima
(CFM) foi feito a partir da metodologia de
Santurio et al. (2007). Esse ensaio permitiu a
determinação da menor concentração dos
extratos capazes de eliminar o S. schenckii,
demonstrando efeito fungicida contra o
microrganismo. A partir dos poços que não
obtiveram crescimento fúngico visível nos testes
de Concentração Inibitória Mínima (MIC), foi
retirado 10 µL dessa suspensão que foi cultivada
em placas com YPD. O experimento foi
realizado em triplicada e incubado a 35°C por
24h.
1.5 Estatística
Os testes estatísticos foram realizados pelo
programa GraphPad Prism 7.0 por meio do One-
Way Anova, utilizando o teste de Tukey para
comparação de médias, a fim de obter
comparações sobre o potencial inibitório dos
extratos estudados. Foram considerados
significativas comparações com p-valor < 0.05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos por meio do teste Kirby-
Bauer podem ser visualizados na Tabela 1 na
qual estão representadas as médias das zonas de
inibição observadas e expressas em centímetros
(cm).
TABELA1- Diâmetro médio das zonas de inibição do
crescimento de S.schenckii in vitro em comparação com o
Itraconazol, droga de escolha clínica.
Cravo Bergamota Itraconazol
Média de
Halos
3,0 cm 2,77 cm 1,5 cm
Desvio
Padrão
0,163 0,10 0,808
Os valores dos halos correspondem a média de três
replicadas biológicas.
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Os dados foram também plotados no GRÁFICO
1, a fim de favorecer a comparação estatística
entre os grupos avaliados em comparação ao
antifúngico Itraconazol e ilustra a média
estatística comparativa dos valores das zonas de
inibição do crescimento do S. schenckii in vitro.
GRÁFICO 1- Perfil de inibição do crescimento de S.
schenckii in vitro
Gráfico 1- Comparação do valor médio de inibição do
crescimento de S. schenckii in vitro expresso em
centímetros. As médias foram comparadas por ANOVA
seguida do teste de Tukey, com nível de significância de
5%. As barras de erro indicam o desvio padrão, enquanto
as letras nas barras indicam a equivalência estatística entre
os grupos. Letras diferentes apresentam diferença
estatisticamente significativa pelo teste de Tukey (p<0,05).
Fonte: Dados da Pesquisa, 2023
Os resultados do gráfico, obtidos por meio da
análise no programa GraphPad Prism 7.0 pelo
One-Way Anova, pelo teste de Tukey, permite
inferir que os tratamentos realizados com o
Itaconazol foram menos eficientes em inibir o
desenvolvimento do S. schenckii in vitro quando
comparados aos testes onde foram utilizados os
óleos essenciais de bergamota e cravo. Entre os
óleos essenciais não foram observadas diferenças
estatisticamente relevantes, apontando um efeito
similar de inibição do fungo no ensaio de Kirb-
Bauer. Nos ensaios realizados em triplicatas o
OE de Cravo-da-índia (10 mg.mL-1
) apresentou
uma diferença significativa, uma vez que sua
zona de inibição foi correspondente a 3,0 cm, já
o OE de Bergamota (10 mg.mL-1
) apresentou
uma média correspondente 2,77 cm, enquanto o
Itraconazol (10 mg.mL-1
) apresentou uma média
correspondente a 1,5 cm, neste teste a leitura dos
resultados é representada pelo tamanho das zonas
de inibição, sendo que quanto maior for o
diâmetro dessas zonas, maior será a capacidade
dos óleos essenciais em inibir o desenvolvimento
do S. schenckii.
6. Nos testes de CIM, foi possível observar a ação
inibitória dos OE’s testados, conforme a tabela 3.
O OE de Cravo-da-índia e de Bergamota
demonstraram efeitos como fungicidas, ou seja,
possuem a capacidade de impedir o
desenvolvimento do S. schenckii até a diluição de
10⁻⁶ (0,312 mg. mL-1
) este para o OE de Cravo-
da-Índia e o OE de bergamota até a diluição de
10⁻⁵ (0,625 mg. mL-1
). O antifúngico Itraconazol
apresentou capacidade fungicida contra o S.
schenckii até a diluição 10⁻³ (1,25 mg. mL-1
).
Estes resultados estão plotados na Tabela 2
mostrando que os OE’s de cravo-da Índia e
bergamota apresentam capacidades inibitórias
significantes e promissoras frente ao S.schenckii
quando comparados ao Itraconazol.
TABELA 2 - CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA
MÍNIMA (MIC) dos óleos essenciais testados em
comparação ao medicamento de escolha clínica,
Itraconazol.
ITRACO
NAZOL
BERGA
MOTA
CRAVO-
DA-ÍNDIA
10-1
- - -
10-2
- - -
10-3
- - -
10-4
+ - -
10-5
+ - -
10-6
+ + -
10-7
+ + +
10-8
+ + +
10-9
+ + +
1010
+ + +
(-) Representa a concentração em que não houve
crescimento do S. schenckii
(+) Representa a concentração em houve crescimento do
S. schenckii
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Quando avaliada a capacidade desses extratos
como fungicida (MFC), foi possível observar que
tanto bergamota contra o cravo da índia são
capazes de inibir o desenvolvimento do fungo em
concentrações muito baixas dos óleos testados
(0,312 mg. mL-1
) e (0,625 mg. mL-1
)
respectivamente nas diluções 10-6
e10-5
apontando um efeito que supera a inibição
encontrada pelo Itraconazol (diluição 10-3
), o
qual apontou efeito fungicida apenas até a
concentração de 1,25 mg. mL-1
conforme pode
ser observado na Tabela 3.
TABELA 3- CONCENTRAÇAO FUNGICIDA
MÍNIMA (MFC) de cada óleo essencial testado em
comparação ao Itraconazol frente ao S. schenckii
ITRACONA
ZOL
BERGA
MOTA
CRAVO-DA-
ÍNDIA
10-1 - - -
10-2 - - -
10-3 - - -
10-4 + - -
10-5 + - -
10-6 + + -
10-7 + + +
10-8 + + +
10-9 + + +
1010 + + +
Nota: (-) Concentração onde não ocorreu crescimento de
S. schenckii; (+) Concentração onde ocorreu crescimento
de S. Schenckii.
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Os óleos essenciais de cravo-da-índia e
bergamota foram promissores nesse estudo como
agentes fitoterápicos para combater o S.
schenckii. Componentes como os monoterpenos,
limoneno e linalol estão diretamente associados
às ações antifúngicas presentes no OE’s de
bergamota. Souza (2020) utilizou o OE de
bergamota para tratamento de onicomicose, uma
infecção fúngica da unha, frente aos fungos
dermatófitos Microsporum canis e Trichophyton
sp, obtendo resultados que indicaram ação
fungicidas através dos testes de CIM e CFM, na
fase micelial do fungo. Eles observaram que os
componentes bioativos presentes na composição
química do OE estudado estão diretamente
relacionados à ação fungicida observada,
atribuindo a este óleo a capacidade de combater
e driblar os diferentes fatores de virulência
fúngica. Esses autores sugerem o uso do OE de
bergamota como fitoterápico para tratamento
alternativo e seguro dos casos de
onicomicose. Essa afirmação corrobora também
com os dados de Dos Santos e Casteluber (2020),
cujas observações permitiram sugerir a utilização
dos óleos essenciais como alternativas que
podem complementar o tratamento realizado
com o Itraconazol. Eles ressaltam ainda a
importância de ensaios in vivo para confirmar a
funcionalidade dos OE’s e análisedo perfil de
toxicidade que eles possam apresentar.
Por meio do teste Kirb-Bauer foi possível
comparar a ação inibitória dos óleos estudados
7. frente ao S.schenckii com aquela inibição
apresentada pelo Itraconazol por meio da média
das zonas de inibição formadas após o cultivo do
fungo na presença dos inibidores testados. Por
meio da análise estatística não foi observada
diferença significativa entre os óleos essenciais
estudados, sugerindo que ambos exercem efeitos
inibitórios equivalentes sobre o crescimento do
fungo in vitro. No entanto, os dados apontam
diferença estatística significativa quando
comparado aos efeitos de inibição exercidos pelo
Itraconazol, que por sua vez, apresentou a menor
média de halos observada. Tais resultados são
suportados pelos dados de Henrique (2021) que
analisou a onicomicose causada pela
levedura Candida albicans frente ação
antifúngica do OE’s do cravo-da-índia e
reforçando o efeito do eugenol como principal
fator de inibição em teste de Kirb-Bauer. Esses
autores observaram o efeito da inibição
provocada pelo cravo durante 2 anos de
conservação da mesma placa e concluíram que o
óleo essencial de cravo-da-Ìndia conseguiu
manter o perfil de inibição antifúngico durante
esse período, sugerindo seu uso em casos de
onicomicoses causadas pela C. albicans.
Em uma pesquisa realizada por Zanchettin
(2021), a autora verificou a ação antifúngica dos
óleos essenciais de cravo-da-índia frente aos
fungos filamentosos Aspergillus flavus e
Fusarium verticillioides, a partir da
determinação da CIM e CFM. Foram observados
resultados significativos de propriedades
antifúngicas presentes nesse OE’ e os autores
atribuem estes resultados à composição química,
como a alta concentração de eugenol na
composição do cravo-da-índia
Assim como nos estudos in vitro de Dos Santos
e Casteluber (2020), que demonstraram o
potencial antimicrobiano dos óleos essenciais de
C. limon, M. alternifolia e do extrato da Própolis
contra o S. schenckii, por meio do teste de difusão
em ágar, que permitiu observar que as médias dos
halos de inibição testados com os OEs, foram
superiores ao Itraconazol e que este último
apresentava halos de até 1,0 cm, corroborando a
média de halos encontrados no presente estudo
que foi de 1,5 cm. Ainda que os óleos essenciais,
testados no presente estudo, permitissem
visualizar zonas de inibição ou concentrações
inibitórias mínimas similares ou idênticas
àquelas encontradas nos ensaios com o
Itraconazol, a proposição de uso desses óleos
essenciais para o tratamento da esporotricose já
se justificaria devido ao efeito de inibição
demonstrado em todos os testes.
A ineficiência na ação fungicida do Itraconazol
limita a eficácia e a utilidade do mesmo em casos
mais graves da infecção cutânea e linfocutânea
por S. schenckii, possibilitando a disseminação
da infecção para outros órgãos e
consequentemente a morte do indivíduo
(MAGALHÃES JCS; 2021).
Diante disso, o presente estudo reafirma a
importância da utilização de plantas medicinais,
como proposto por Soares, (2020) na forma de
fitoterápicos para o tratamento e controle de
infecções, como é o caso da esporotricose.
CONCLUSÃO
Os resultados revelaram que os OE’s
investigados, das espécies Citrus aurantium
bergamia (Bergamota) e Syzygium aromaticum
(Cravo-da-índia), exibiram atividade antifúngica
contra o S. schenckii em condições in vitro,
superiores ao antifúngico Itraconazol.
Estes resultados indicam o potencial de uso dos
fitoterápicos estudados com ação fungicida no
desenvolvimento do S. schenckii em sua fase
leveduriforme. A presença de substâncias com
propriedades antifúngicas nestes
compostos como eugenol, limoneno, linalol
dentre outros, podem auxiliar no surgimento de
novos estudos para avaliar in vivo a utilização
desses OE’s como fitoterápicos para tratamento
sozinho ou em conjunto ao Itraconazol e para
profilaxia no desenvolvimento da infecção
cutânea e linfocutânea induzidas pelo fungo.
A relevância deste estudo, está relacionada ao
aumento exponencial de casos de esporotricose
animal e humana em todo o mundo, assim como
a insuficiência profilática atribuída aos fármacos
utilizados no tratamento da esporotricose.
Os dados obtidos neste trabalho sugerem
alternativas viáveis para estudos posteriores in
vivo, assim como a criação de fármacos com base
8. nos compostos químicos e bioquímicos presentes
nos OE’s de bergamota e cravo-da-índia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Júlio Maria de Andrade; FARIAS,
Ana Paula Santa Fé. Redução do teor de
limoneno e bergapteno do óleo essencial de
bergamota adsorvido em sílica gel pelo CO2-
supercrítico. Food Science and Technology, v.
23, p. 112-115, 2003.
DA ROSA, Cristiano Silva et al.
TERAPÊUTICA DA
ESPOROTRICOSE. Science and Animal
Health, v. 5, n. 3, p. 212-228, 2017.
DE MACÊDO-SALES, Pãmella Antunes et al.
Diagnóstico laboratorial da esporotricose felina
em amostras coletadas no estado do Rio de
Janeiro, Brasil: limitações da citopatologia por
imprint. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v.
9, n. 2, p. 7-7, 2018.
DOS SANTOS, Júlio Róger Evangelista; DA
FONSECA CASTELUBER, Marisa Cristina.
Citrus limon, Melaleuca alternifolia E Psidium
guajava COMO INIBIDORES NATURAIS DE
Sporothrix schenckii. Uningá Review, v. 35, p.
eRUR3520-eRUR3520, 2020.
GARCÍA-CARNERO, Laura Cristina;
MARTÍNEZ-ÁLVAREZ, José Ascención.
Virulence factors of Sporothrix schenckii.
Journal of Fungi, v. 8, n. 3, p. 318, 2022.
HEIDRICH, Daiane et al. Sucesso terapêutico da
terbinafina em um caso de esporotricose. Anais
Brasileiros de Dermatologia, v. 86, p. 182-185,
2011.
HEKTOEN, Ludvig; PERKINS, C. F.
Refractory subcutaneous abscesses caused by
Sporothrix schenckii. A new pathogenic fungus.
The Journal of experimental medicine, v. 5, n.
1, p. 77, 1900.
HENRIQUE, Priscila Lima. Ação antifúngica de
base ungueal aditivada com óleo essencial
essencial Syzygium aromaticum (L.)(Cravo da
Índia) Sobre Candida albicans. 2022.
LECCA, Lívian Otávio et al. Diagnóstico
epidemiológico da esporotricose em Belo
Horizonte, Minas Gerais, 2015 a 2018. 2019
Prefeitura de Belo Horizonte. Esporotricose.
Disponível em:
https://prefeitura.pbh.gov.br/saude/esporotricose
. Data de acesso: 26 jun. 2023
QUEIROZ-FERNANDES, Geisiany; DOS
SANTOS MAGALHÃES, Jamile Cristine. Perfil
de resistência de agentes de micoses oportunistas
no Brasil. InterAmerican Journal of Medicine
and Health, v. 4, 2021.
QUEIROZ-TELLES, Flavio; BUCCHERI,
Renata; BENARD, Gil. Sporotrichosis in
immunocompromised hosts. Journal of Fungi,
v. 5, n. 1, p. 8, 2019.
RUIZ-BACA, Estela et al. The role of
macrophages in the host’s defense against
Sporothrix schenckii. Pathogens, v. 10, n. 7, p.
905, 2021.
SANTOS, Ravely L. et al. Análise sobre a
fitoterapia como prática integrativa no Sistema
Único de Saúde. Revista brasileira de plantas
medicinais, v. 13, p. 486-491, 2011.
SCHENK, B.R. On refractory subcutaneous
abscesses caused by a fungus possibly related to
Sporotrichia. Bull Johns Hopkins Hosp., v. 9, p.
286–290, 1898.
SILVA, Líllian Oliveira Pereira; NOGUEIRA,
Joseli Maria da Rocha. Resistência bacteriana:
potencial de plantas medicinais como alternativa
para antimicrobianos. Rev. bras. anal. clin, p. 21-
27, 2021.
SILVA, Maria Lucilene Queiroz da. Efeito
inibitório, in vitro, do iodeto de potássio e da
miltefosina frente a cepas do complexo
Sporothrix schenckii em biofilme nas formas
filamentosa e leveduriforme. 2017.
SOARES, A. J. S. et al. Potencialidades da
prática da atenção farmacêutica no uso de
fitoterápicos e plantas medicinais. Journal Of
Applied Pharmaceutical Sciences. Minas
Gerais, p. 10-21, 2020.
9. SOUZA, Ana Maura Machado de. Avaliação da
atividade antifúngica in vitro de um bioproduto
contendo óleo essencial de bergamota (Citrus
reticulata b.) no tratamento de onicomicoses.
2020.
WALLER, Stefanie Bressan. "Potencial anti-
Sporothrix spp. de plantas da família lamiaceae."
(2015).
ZANCHETTIN, Mellide. Efeito antifúngico de
óleos essenciais isolados e combinados frente a
fungos filamentosos. 2021. Trabalho de
Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica
Federal do Paraná.
______________________________________
Breno Moreira
breno.1393414@discente.uemg.br
Graduando do Curso de Ciências Biológicas,
Laboratório de Microbiologia Aplicada,
Departamento de
Ciências Biológicas da Universidade do Estado
de Minas Gerais – Ibirité
Esther Izaías Ribeiro
esther.1393419@discente.uemg.br
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas,
Laboratório de Microbiologia Aplicada,
Departamento de
Ciências Biológicas da Universidade do Estado
de Minas Gerais – Ibirité
Fernanda Prieto Bruckner
fernanda.bruckner@uemg.br
Professora Adjunta de Genética e Biologia
Molecular do Departamento de Ciências
Biológicas,
Laboratório de Microbiologia Aplicada,
Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado
de Minas Gerais – Ibirité
Swiany Silveira Lima
swiany.lima@uemg.br
Professora Adjunta de Bioquímica do
Departamento de Ciências Biológicas,
Laboratório de
Microbiologia Aplicada, Departamento de
Ciências Biológicas da Universidade do Estado
de Minas
Gerais – Ibirité
Marisa Cristina da Fonseca Casteluber
marisa.casteluber@uemg.br
Professora Adjunta de Microbiologia e
Imunologia do Departamento de Ciências
Biológicas,
Coordenadora do Laboratório de Microbiologia
Aplicada, Departamento de Ciências Biológicas
da
Universidade do Estado de Minas Gerais – Ibirité
50