1. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
1
TESTE DE ANTAGONISMO IN VITRO DE MICRORGANISMOS PRODUTORES DE
ÁCIDO LÁCTICO (Lactobacillus spp.) ISOLADOS DAS FEZES DE SUÍNOS (Sus
scrofa domesticus) FRENTE A MICRORGANISMOS INDICADORES
IN VITRO ANTAGONISM TEST OF LACTIC ACID PRODUCING MICRO-ORGANISMS (Lactobacillus
spp.) ISOLATED FROM SWINE FEES (Sus scrofa domesticus) IN FRONT OF INDICATOR MICRO-
ORGANISMS
FLÁVIO HENRIQUE FERREIRA BARBOSA1; FELIPE HENRIQUE SILVA BAMBIRRA2; LEANDRO
HENRIQUE SILVA BAMBIRRA3; RUBENS ALEX DE OLIVEIRA MENEZES4
RESUMO
A produção de alimentos saudáveis e nutritivos em grande quantidade tem se tornado um desafio para todos os
profissionais que trabalham com toda a cadeia produtiva alimentícia. A produção mundial de suínos cresceu e o Brasil
teve um aumento significativo nas exportações de carne suína. Para que a atividade de criação de suínos se mantenha
produtiva, com a geração de lucros, promotores de crescimento têm sido incorporados às rações, com objetivo de
melhorar o processo digestivo e o desempenho zootécnico dos animais, resultando em maior ganho de peso e redução
do número de doenças. Entretanto, nos últimos anos tem aumentado a conscientização sobre o uso excessivo destes
produtos, bem como se tornado evidente os possíveis transtornos à saúde destes animais e do homem, como
consequências desta suplementação. As alternativas disponíveis para substituição dos antimicrobianos na suinocultura
incluem a utilização de probióticos, prebióticos, simbióticos e agentes fitoterápicos. Seguindo esta linha de raciocínio, este
trabalho se propôs a avaliar a capacidade de proteção das bactérias lácticas (Lactobacillus spp.) contra enteropatógenos
bacterianos, verificando a inibição do crescimento de patógenos in vitro. De acordo com a característica probiótica
estudada (antagonismo in vitro), algumas amostras de microrganismos isolados do conteúdo fecal de suínos se destacam
quando o objetivo almejado é a utilização para a elaboração de produtos probióticos que poderão ser administrados via
oral para os animais, logo após o nascimento, durante o desmame (creche) e em outras fases da cadeia produtiva. Todos
apresentaram bons resultados de inibição do desenvolvimento das amostras de bactérias utilizadas como reveladoras se
mostrando efetivos contra os patógenos testados, porém, L. johnsonii - 18 J e L. reuteri - 11 A apresentaram efeito
antagonista contra espécie relacionada (Lactobacillus acidophilus), sugerindo a produção de substâncias antagonistas,
por exemplo, bacteriocinas.
PALAVRAS-CHAVE: Lactobacillus, bactérias lácticas, suínos, probiótico.
ABSTRACT
The production of healthy and nutritious food in large quantities has become a challenge for all professionals who work
with the entire food production chain. World swine production grew and Brazil saw a significant increase in exports. In
order for the pig breeding activity to remain productive, with the generation of profits, growth promoters have been
incorporated into the rations, with the objective of improving the digestive process and the zootechnical performance of
the animals, resulting in greater weight gain and reduced number of diseases. However, in recent years there has been
an increase in awareness about the excessive use of these products, as well as the possible health disorders of these
animals and man, as consequences of this supplementation, have become evident. The alternatives available to replace
antimicrobials in pig farming include the use of probiotics, prebiotics, symbiotics and herbal agents. Following this line of
reasoning, this work aimed to evaluate the protection capacity of lactic acid bacteria (Lactobacillus spp.) Against bacterial
enteropathogens, verifying the inhibition of the growth of pathogens in vitro. According to the probiotic characteristic studied
(antagonism in vitro), some samples of microorganisms isolated from the faecal content of swine stand out when the aim
is to use probiotic products that can be administered orally to the animals, right after birth, during weaning (day care) and
at other stages of the production chain. All of them showed good results in inhibiting the development of the samples of
bacteria used as developers, proving effective against the pathogens tested, however, L. johnsonii – 18 J and L. reuteri –
11 A showed an antagonistic effect against related species (Lactobacillus acidophilus), suggesting the production of
antagonistic substances, for example, bacteriocins.
KEYWORDS: Lactobacillus, lactic bacteria, swine, probiotic.
2. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
2
INTRODUÇÃO
A produção de alimentos saudáveis e
nutritivos em grande quantidade tem se
tornado um desafio para todos os profissionais
que trabalham com toda a cadeia produtiva
alimentícia. Estimativas indicam que o
suprimento de alimentos necessários para
atender aos requerimentos nutricionais da
população humana durante os próximos
quarenta anos equivale à quantidade
previamente produzida ao longo de toda a
história. Para atender a esta grande demanda
de alimentos de origem animal, os
pesquisadores têm se esforçado na busca de
novas tecnologias a fim de aumentar a
eficiência e a produtividade dos animais de
criação.
A suinocultura é um dos setores
agropecuários que mais tem crescido nas
últimas décadas. Segundo dados da
EMBRAPA, a produção de carne suína no
Brasil vem crescendo mais 5% ao ano desde
o ano de 2006. A produção mundial de suínos
cresceu sistematicamente nos últimos 30
anos e o Brasil teve um aumento significativo
nas exportações de carne suína, chegando à
quarta colocação mundial e, atualmente, esse
produto pode ser encontrado até na Rússia. A
este fato, associa-se um marcante aumento
no comércio e consumo de carne de suínos
em todo o mundo, sendo que sua produção
está rapidamente se expandindo em muitos
países em desenvolvimento, como o Brasil, o
que faz aumentar o rigor no manejo dos
animais e na produção da carne.
Para que a atividade de criação de
suínos se mantenha produtiva, com a geração
de lucros, muitos aditivos (incluindo
promotores de crescimento, como drogas
antimicrobianas) têm sido incorporados às
rações, com objetivo de melhorar o processo
digestivo e o desempenho zootécnico dos
animais, resultando em maior ganho de peso
e redução do número de doenças. Entretanto,
nos últimos anos tem aumentado a
conscientização sobre o uso excessivo destes
produtos, bem como se tornado evidente os
possíveis transtornos à saúde destes animais
e do homem, como consequências desta
suplementação.
Os antimicrobianos promotores de
crescimento podem alterar a microbiota do
trato digestivo e deprimir os mecanismos de
defesa dos animais, além de deixar resíduos
indesejáveis à saúde do homem na carne.
Além disso, a presença de concentrações
baixas de antimicrobianos pode ser
responsável pelo aumento dos fenômenos de
resistência bacteriana aos mesmos.
Recentemente, novos microrganismos
resistentes a uma ou várias drogas
antimicrobianas têm surgido e sido motivo de
preocupação para a saúde pública mundial.
Estes microrganismos modificados podem se
difundir pelo meio ambiente e estarem
presentes na carne dos animais.
Por causa destas evidências, a
ausência de microrganismos potencialmente
patogênicos e a ausência de resíduos de
produtos químicos têm se tornado os
principais indicadores de qualidade da carne
de suínos, bem como de outros alimentos.
Assim, a suinocultura brasileira precisará se
adaptar às futuras normas de comércio
internacional, pois alguns países
importadores, principalmente da União
Europeia, não mais aceitarão adquirir carne
de suínos oriunda de produtores que utilizam
antimicrobianos para aumentar os índices de
produtividade de seus plantéis.
Assim, tem gerado a necessidade de se
buscar alternativas que possam promover os
mesmos efeitos de produtividade
relacionados ao uso dos aditivos alimentares,
porém, sem causar as mesmas
consequências indesejáveis destes. Além
disto, ainda existem prejuízos relacionados ao
impacto econômico da retirada destas drogas
antimicrobianas da alimentação de suínos.
Isto representa aumento nos custos de
produção, sendo, principalmente, causados
por aumento no consumo de ração e no
período de ocupação dos galpões, menos
ciclos produtivos por ano, além de mais gastos
com a mão-de-obra.
As alternativas disponíveis para
substituição dos antimicrobianos na
suinocultura incluem a utilização de
probióticos, prebióticos, simbióticos e agentes
fitoterápicos. Dentre estas, a utilização dos
microrganismos probióticos constitui uma
3. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
3
perspectiva extremamente interessante, pois
as próprias bactérias benéficas da microbiota
intestinal dos animais poderiam ser
empregadas em substituição aos
antimicrobianos. Nestes casos, estes
microrganismos poderiam favorecer o
equilíbrio do ecossistema gastrintestinal, o
que seria refletido em melhoria da saúde e
boa produtividade. Trabalhos científicos têm
sido conduzidos tentando avaliar a eficiência
da utilização dos probióticos, em substituição
aos produtos químicos, para modular a saúde
de suínos comerciais e proporcionar um
ganho de peso adequado. Bactérias do
gênero Lactobacillus são os principais
microrganismos desejáveis encontrados em
grandes quantidades por todo o trato
gastrintestinal (TGI) de suínos, mostrando ser
fortes candidatas como probióticos para estes
animais.
Seguindo esta linha de raciocínio, este
trabalho se propôs a avaliar a capacidade de
proteção das bactérias lácticas (Lactobacillus
spp.) contra enteropatógenos bacterianos,
verificando a inibição do crescimento de
patógenos in vitro.
MATERIAL E MÉTODOS
1. Microrganismos
Características Morfo-tintoriais,
Bioquímicas e Fisiológicas dos
Microrganismos Isolados
Numa placa contendo em torno de 100
unidades formadoras de colônia (UFC), as
colônias morfologicamente diferentes e mais
significativas do ponto de vista populacional
foram repicadas, a partir do ágar MRS (Difco),
no mesmo meio. A partir de colônias, de cada
amostra, que apresentaram aspectos
morfológicos distintos foram feitos esfregaços
em lâminas para coloração pelo método de
Gram. Além disto, a partir dessas mesmas
colônias foram feitos testes de catalase em
lâmina, utilizando-se H2O2 (30%). Aqueles
que se apresentaram como Gram-positivo e
catalase negativa, sugestivos de pertencerem
ao gênero Lactobacillus, foram submetidos à
identificação, utilizando técnicas de biologia
molecular (PCR-ARDRA).
Purificação e Manutenção dos
Microrganismos Isolados
Os microrganismos isolados e
avaliados pelas características morfo-
tintoriais, bioquímicas e fisiológicas e pelo
teste respiratório foram inoculados em 5 mL
de caldo MRS (Difco), sendo em seguida
incubados em anaerobiose, à 37ºC durante 48
horas. Após o crescimento, uma alíquota de
500 µL de cada tubo foi transferida para tubo
eppendorf e adicionada de glicerol esterilizado
(50 µL), sendo, em seguida, congelados a -
18ºC e -86ºC, para posterior utilização,
quando necessário. O restante dos cultivos foi
destinado às análises baseadas em técnicas
de biologia molecular, com a finalidade de
identificação das espécies isoladas.
Ativação das culturas
Amostras de Lactobacillus spp.
isoladas a partir do TGI dos suínos (Sus scrofa
domesticus), oriundos de criação intensiva, e
pré-identificadas pelo perfil de fermentação de
carboidratos (kit API 50 CHL, BioMérieux,
Marcy l’Etoile, France), foram descongeladas
e inoculadas (200 µL) em caldo MRS (Difco).
O meio foi incubado, sob condições de
anaerobiose, a 37ºC, durante 48 horas. Após
cinco passagens em caldo, 50 µL de cada
amostra foram repicados em ágar MRS
(Difco), por três métodos diferentes: pour-
plate, espalhamento com auxílio da alça de
Drigalski e estria. Então, as placas foram
incubadas em anaerobiose, sendo mantidas a
37ºC, durante 48 horas.
Para a realização do teste a seguir,
foram escolhidos seis microrganismos entre o
grupo de doze os quais apresentaram
crescimento satisfatório em aerobiose dos
trinta e um isolados e identificados como
Lactobacillus, sendo três originados de
animais recém-desmamados (21 dias) e três
originados de animais jovens/terminados (140
dias). Estas linhagens alcançaram melhores
resultados nos testes anteriores de
crescimento, viabilidade e manutenção
4. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
4
(estocagem) em função da atmosfera e do
meio de cultura a partir de vinhoto de cana-de-
açúcar suplementado com diferentes fontes
de carbono e nitrogênio. Dessa forma, os
microrganismos de interesse probiótico
escolhidos para os demais testes foram:
06 J - Lactobacillus mucosae
14 J - Lactobacillus ruminis
18 J - Lactobacillus johnsonii
08 A - Lactobacillus salivarius
11 A - Lactobacillus reuteri
13 A - Lactobacillus acidophilus
2. Teste de Antagonismo in vitro dos
Microrganismos Produtores de Ácido
Láctico (Lactobacillus spp.) Isolados das
Fezes de Suínos (Sus scrofa domesticus)
Frente a Microrganismos Indicadores
O teste in vitro para verificar a produção
de substâncias inibitórias difusíveis foi
realizado pelo método da dupla camada,
adaptado a partir de NARDI et al., (1999) e
SILVA et al., (2001). O teste de antagonismo
in vitro foi realizado em duplicata para cada
amostra avaliada, de acordo com a técnica
adaptada de susceptibilidade a
antimicrobianos, descrita originalmente por
TAGG et al. (1976).
Dentre as amostras isoladas e
escolhidas para este trabalho, todas as seis
espécies foram selecionadas para
participarem do teste de antagonismo in vitro
como produtoras de substância antagonista
frente a reveladoras, amostras de patógenos
de referência (Salmonella enterica e
Escherichia coli) e uma espécie relacionada
(Lactobacillus acidophilus), a fim de verificar
possíveis atividades inibitórias entre as
mesmas.
As bactérias ácido-lácticas utilizadas
como amostras produtoras de substâncias
antagonistas foram cultivadas em caldo MRS,
incubando-se a 37oC, durante 24 horas, sob
anaerobiose. Após duas ativações, 5 µL de
cada cultivo de microrganismo foram
colocados sobre a superfície de uma placa de
Petri, contendo ágar MRS (Difco), que foi
incubado, sob anaerobiose, a 37ºC, durante
48 horas. Após este período, as placas foram
retiradas da câmara de anaerobiose e foi
colocado clorofórmio nas tampas, deixando-
se agir por 30 minutos. Com isto, esperou-se
eliminar os microrganismos que cresceram e
possibilitar apenas a presença das supostas
substâncias inibidoras. A seguir, foram
colocados 3,5 mL de ágar MRS (Difco) semi-
sólido (0,75 % de ágar), contendo as bactérias
reveladoras isoladas anteriormente; ou 3,5 mL
de ágar BHI (Oxoid, Basingstoke, England)
semi-sólido (0,75 % de ágar), contando as
amostras de referência que foram
selecionadas como reveladoras: Escherichia
coli ATCC 25723; Lactobacillus acidophilus
ATCC 4356 e Salmonella enterica sorovar
Typhimurium (pertencentes à coleção de
amostras do Laboratório de Ecologia e
Fisiologia de Microrganismos do Instituto de
Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Minas Gerais). Todos os microrganismos
reveladores foram ativados duas vezes,
previamente, sendo cultivados, a 37 ºC,
durante 24 horas, sob anaerobiose
(Lactobacillus spp.) ou aerobiose (patógenos
de referência). Após crescimento dos
microrganismos incubados nos caldos
anteriores, 10 µL dos mesmos foram
transferidos para o ágar semi-sólido, que foi
então vertido sobre as placas de ágar MRS
(Difco), após os 30 minutos de ação do
clorofórmio. As placas foram incubadas a
37ºC, durante 24 horas, sob aerobiose ou
anaerobiose, dependendo da característica
de cultivo da amostra reveladora. Então, a
leitura dos halos de inibição foi feita com o uso
de paquímetro digital (Mitutoyo Digimatic
Caliper, Mitutoyo Sul Americana Ltda).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O teste in vitro para verificar a produção
de substâncias inibitórias difusíveis foi
realizado pelo método de difusão em dupla
camada, adaptado a partir de Nardi et al.,
(1999) e Silva et al., (2001). O teste de
antagonismo in vitro foi realizado em duplicata
para cada amostra avaliada, de acordo com a
técnica adaptada de susceptibilidade a
antimicrobianos, descrita originalmente por
Tagg et al. (1976).
5. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
5
Dentre as amostras isoladas e
escolhidas para este trabalho, todas as seis
espécies foram selecionadas para
participarem do teste de antagonismo in vitro
como produtoras de substância antagonista
frente a reveladoras, amostras de patógenos
de referência (Salmonella enterica sorovar
Typhimurium e Escherichia coli ATCC 25723)
e uma espécie relacionada (Lactobacillus
acidophilus ATCC 4356), a fim de verificar
possíveis atividades inibitórias entre
microrganismos correlatos. A escolha da S.
enterica sorovar Typhimurium e da E. coli
dizem respeito à importância e relevância
destes microrganismos, quando patógenos na
suinocultura, levando os animais a quadros
diarreicos graves em alguns estágios de vida.
Os resultados dos testes de
antagonismo in vitro são apresentados na
Tabela 1. Esta análise foi realizada com os
seis microrganismos selecionados
anteriormente. Observando os dados contidos
na Tabela 1, pode-se verificar que os
microrganismos isolados do conteúdo fecal de
suínos jovens e adultos, em conjunto,
apresentaram atividade antagonista frente a
todas as bactérias utilizadas como
reveladoras. Verifica-se, também, grande
oscilação dos resultados, caracterizando este
tipo de determinação como muito instável.
Pelo fato da microbiota intestinal
constituir um ecossistema altamente
competitivo, a produção de substâncias
antagonistas por seus componentes,
principalmente Lactobacillus representa uma
vantagem ecológica no controle dos níveis
populacionais de outras espécies patogênicas
ou não. Devido a esta característica desejável
para a seleção de uma linhagem probiótica,
atualmente, os lactobacilos de origem
intestinal também têm sido utilizados na
fabricação de alimentos fermentados,
suplemento alimentar e de produtos
farmacêuticos, para uso humano e veterinário
(NAIDU et al., 1999).
Pode-se observar que a amostra 14 J
(Lactobacillus ruminis) foi a espécie que
apresentou halos de inibição médios maiores
em relação às outras amostras produtoras
testadas. As amostras 18 J (Lactobacillus
johnsonii) e 11 A (Lactobacillus reuteri) foram
aquelas que apresentaram efeito inibidor
frente às bactérias reveladoras utilizadas,
inclusive microrganismo do mesmo gênero,
sugerindo a possibilidade de substâncias
antagonistas tipo bacteriocinas. Estas
amostras, em relação aos resultados destes
testes de antagonismo in vitro, seriam aquelas
indicadas como prováveis probióticos.
Tabela 1. Resultados (diâmetros de halos de inibição
em milímetros) do antagonismo in vitro de Lactobacillus
spp. isolados do conteúdo fecal de suínos recém-
desmamados e terminados frente a microrganismos
indicadores.
As atividades antagonistas observadas
in vitro são geralmente explicadas por
diferentes mecanismos: produção de ácidos
orgânicos, peróxido de hidrogênio, dióxido de
carbono ou bacteriocinas (EDENS, 2003).
Dentre estas formas de inibição, a produção
de ácido láctico talvez seja a mais importante
no caso dos microrganismos estudados deste
trabalho, pois as bactérias avaliadas eram
produtoras deste ácido. Quando ácido láctico
e outros ácidos (butírico, propiônico e acético)
são produzidos por estes microrganismos,
eles alteram o metabolismo das bactérias
sensíveis, causando um efeito bacteriostático
ou bactericida (SALMINEM, 1998).
A fermentação dos carboidratos pelos
Lactobacillus spp. resulta na produção de
ácidos orgânicos. Isto pode ser uma das
explicações para os fenômenos de
antagonismo deste estudo, principalmente no
que diz respeito à eliminação dos patógenos.
A atividade antimicrobiana destes ácidos é
decorrente de vários fatores, entre os quais a
drástica redução de pH do meio a valores
incompatíveis com o crescimento da maioria
dos microrganismos patogênicos, sendo que
as bactérias láticas, por serem acidófilas,
6. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
6
resistem bem a estes baixos valores. A
atividade antimicrobiana dos ácidos lático e
acético é, em parte, devido ao fato de que
estes ácidos na forma não dissociada podem
atravessar a membrana celular microbiana
reduzindo o pH intracelular, que irá interferir
com importantes funções metabólicas como a
translocação de substratos e a fosforilação
oxidativa (NAIDU et al.,1999). O ácido acético
apesar de ser produzido em menores
concentrações do que o ácido lático possui um
efeito inibitório mais acentuado, uma vez que
sua constante de dissociação é maior do que
a do ácido lático (PIARD & DESMAZEAUD,
1992).
Foi constatado também, que o
crescimento dos Lactobacillus spp. em
condições de aerobiose leva a formação de
metabólitos do oxigênio como o ânion
superóxido (O2
-), peróxido de hidrogênio
(H202), e radicais hidroxila (OH-), que
constituem os principais fatores responsáveis
pela toxicidade do oxigênio. Como os
Lactobacillus spp. não sintetizam catalase, o
H202 produzido acumular-se-á, podendo,
então, inibir os microrganismos que não
possuem esta enzima. Algumas das possíveis
ações deletérias podem incluir a oxidação dos
compostos sulfidrílicos celulares, além da
peroxidação dos lipídeos de membrana e
injúrias nos ácidos nucleícos bacterianos
(PIARD & DESMAZEAUD, 1991,
VANDENBERG, 1993). Porém, nas condições
de anaerobiose em que o experimento foi
realizado este fato é improvável de ter
ocorrido. Quando os microrganismos
produzem diacetil, ocorre interferência com
utilização de arginina e a presença de dióxido
de carbono cria um ambiente de anaerobiose,
inibindo a descarboxilação (SARRA, 1992;
SALMINEM E VON WRIGHT, 1993).
Outra provável explicação para os
fenômenos observados, seria a presença ou
produção de compostos de natureza protéica
produzidos por Lactobacillus spp. que foram
purificados e caracterizados em outros
estudos e compartilham algumas
características comuns. Dentre estas, o
pequeno tamanho com massa molecular
menor do que 1 KDa e a estrutura química
heterocíclica ou aromática, além do amplo
espectro de ação antimicrobiana frente às
bactérias Gram-positivo, Gram-negativo e
fungos. Das substâncias de natureza não
protéica descritas na literatura destaca-se a
reuterina (β-hidroxipropanaldeído) produzida
por Lactobacillus reuteri, mesma espécie
utilizada neste experimento. Sua atividade
antimicrobiana é ampla, sendo capaz de inibir
diversos microrganismos de interesse em
saúde pública, como Salmonella spp.,
Shigella spp., Clostridium spp.
Staphylococcus spp., Listeria spp., leveduras,
fungos filamentosos e protozoários
(TALARICO et al., 1988).
Existe ainda, além destes já citados,
uma extensa gama de substâncias inibidoras
que podem ser produzidas por
microrganismos Gram-positivo. Dentre estas
substâncias produzidas, as bacteriocinas são,
atualmente, as mais estudadas, devido à
grande potencialidade de sua aplicação
biotecnológica na indústria de alimentos.
Estas constituem um grupo heterogêneo de
peptídeos ou proteínas que variam muito
quanto ao seu espectro antimicrobiano,
propriedades bioquímicas, mecanismo de
ação e características genéticas, que são
sintetizadas no ribossomo bacteriano (PIARD
& DESMAZEAUD, 1992). Isto as diferencia
dos antibióticos peptídicos de origem
microbiana, que se originam da condensação
enzimática de aminoácidos livres, como a
gramicidina S, bacitracina A e polimixina
(KOLTER & MORENO, 1992).
Com relação às bactérias láticas, o
gênero Lactobacillus é considerado um dos
mais bacteriocinogênicos, provavelmente
devido a sua enorme diversidade de espécies
e hábitat, sendo que a maioria das
bacteriocinas estudadas origina-se de
isolados de produtos lácteos e cárneos, de
vegetais fermentados e, também da
microbiota do homem e animais
(KLAENHAMMER,1999).
As bacteriocinas de bactérias láticas
compartilham inúmeras características
comuns, como o mecanismo de ação
antimicrobiana, além de características físico-
químicas, como a estabilidade a altas
temperaturas e a valores de pH ácidos e
neutros, o que pode torná-las úteis em
7. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
7
aplicações tecnológicas. A atividade
antimicrobiana da bacteriocina é mantida em
temperaturas similares a aquelas
normalmente utilizadas na indústria de
alimentos e em valores de pH ácidos de
produtos fermentados (MAGRO et al., 2000).
Em relação ao espectro de atividade
antimicrobiana, alguns Lactobacillus spp.
produzem bacteriocinas contra linhagens da
mesma espécie ou de bactérias
taxonomicamente relacionadas, que
competem pelo mesmo hábitat ecológico,
enquanto outros possuem um espectro de
atividade antimicrobiana mais amplo,
incluindo bactérias Gram-positivo,
notadamente aquelas responsáveis pela
deterioração de alimentos e intoxicação
alimentar (KLAENHAMMER, 1988).
Embora linhagens bacteriocinogênicas
possuam capacidade genética estável para
produzir uma bacteriocina, isso não acontece
o tempo todo ou sobre quaisquer condições.
Vários pesquisadores (MAYR-HARTING et
al., 1972; TAGG et al., 1976) têm
demonstrado que a produção de substâncias
tipo bacteriocina pode ser influenciada por
diversos fatores tais como a composição do
meio (concentrações de extrato de levedura,
hidrolisado de caseína, aminoácidos, íons
manganês, manitol, glicose, etc.), as
condições de incubação (temperatura e tempo
de incubação, aeração e pH do meio de
cultura) ou da linhagem alvo como indutora.
Estes dados sugerem que a produção de
bacteriocina não é espontânea e que a cultura
pode ser induzida a produzi-la.
Edens (2003) sugeriu que Lactobacillus
reuteri exerce sua atividade antagonista in
vivo pela da produção da bacteriocina
reuterina. Isto lhe confere uma habilidade
ecológica para exercer um papel de
modulação do crescimento dos indivíduos que
compõem a microbiota intestinal. Desta forma,
a atividade antagonista significativa exercida
pelas amostras de Lactobacillus reuteri
estudadas no presente experimento pode ter
sido, também, devido à produção desta
bacteriocina. Sanders (1995) atribuiu efeito
antagonista de Lactobacillus reuteri frente a
amostras de Salmonella, como observado no
presente trabalho, pela produção de
anticorpos (IgG e IgM), além do estímulo à
produção de células CD4+, no TGI. Testes
mais detalhados visando demonstrar estes
aspectos seriam indicados futuramente.
CONCLUSÃO
De acordo com a característica
probiótica estudada (perfil de adesão),
algumas amostras de microrganismos
isolados do conteúdo fecal de suínos se
destacam quando o objetivo almejado é a
utilização para a elaboração de produtos
probióticos que poderão ser administrados via
oral para os animais, logo após o nascimento,
durante o desmame (creche) e em outras
fases da cadeia produtiva.
Em relação aos resultados das
avaliações de adesão in vitro da superfície
celular das amostras de bactérias isoladas, o
microrganismo L. reuteri - 11 A demonstrou
possuir maiores probabilidades de adesão de
suas células ao epitélio intestinal (alto valor
para a substância hidrofóbica - xilol) e de
resistir à acidez (alto valor para o solvente
ácido - clorofórmio).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EDENS, F.W. An alternative for antibiotic use
in poultry: probiotics. Rev. Bras. Ciência
Avícola, v. 5, p. 1-40, 2003.
KLAENHAMMER, T.R. Bacteriocins of lactic
acid bacteria. Biochimie, v. 70, p. 337-349,
1988.
KLAENHAMMER, T.R.; KULLEN, M.J.
Selection and design of probiotics. Int. J. Food
Microbiol., v. 50, p. 45-57, 1999.
KOLTER, R.; MORENO, F. Genetics of
ribossomaly synthesised peptide antibiotics.
Ann. Rev. Microbiol., v. 46, p. 141-163, 1992.
MAGRO, M.I.M.; CORBACHO, J.M.M.;
SORRIBES, C.H.; GEA, A.M.S. Las
bacteriocinas de las bactérias láticas. 1.
Definición, classificación, caracterización y
8. ISSN 2318-4752 – Volume 4, N2, 2016
8
métodos de detección. 2. Modo de acción,
biosíntesis, aplicaciones y tendencias futuras.
Alimentaria, v. 37, p.59-74, 2000.
MAYR-HARTING, A., HEDGES, A.J.,
BERKELEY, R.C.W. Methods for studing
bacteriocins In: Norris, J.R. & Ribbons, D.W.
(Ed.) Method. in Microbiol., New York:
Academic Press, v. 7A, p. 315-422, 1972.
NAIDU, A.S.; BIDLACK, W.R.; CLEMENS,
R.A. Probiotic spectra of lactic acid bacteria
(LAB). Crit. Rev. Food Sci. Nutr., v. 38, p. 13-
126, 1999.
NARDI, R.D.; SANTOS, A.R.M.; CARVALHO,
M.A.R.; FARIAS, L.M.; BENCHETRIT, L.C.;
NICOLI, J.R. Antagonism against anaerobic
and facultative bacteria through a diffusible
inhibitory compound produced by a
Lactobacillus sp. isolated from the rat fecal
microbiota. Anaerobe, v. 5, p. 409-411, 1999.
PIARD, J.C.; DESMAZEAUD, M. Inhibiting
factors produced by lactic acid bacteria.
Oxygen metabolites and catabolism and
products. Lait, v. 71, p. 525-541, 1991.
PIARD, J.C.; DESMAZEAUD, M. Inhibiting
factors produced by lactic acid bacteria. 2.
Antibacterial substances and bacteriocins.
Lait, v. 72, p. 113-142, 1992.
SALMINEN, S. Clinical applications of
probiotic bacteria. Int. Dairy J., v. 8, p. 563-
572, 1998.
SALMINEN, S.; VON WRIGHT, A. Lactic acid
bacteria. New York: Marcel Dekker, 442 p.,
1993.
SANDERS, M.E. Lactic Acid Bacteria and
human health In: OLD HERBORN
UNIVERSITY SEMINAR MONOGRAPH,
1995, Herborn-Dill. Probiotics: Prospects of
Use in Opportunistic Infections. Herborn-Dill:
Institute for Microbiology and Biochemistry, p.
126-140, 1995.
SARRA, P.G.; MORELLI, L.; BOTTAZZI, The
lactic microflora of fowl. In: The Lactic Acid
Bacteria. vol. 1, The Lactic Acid Bacteria in
Health and Disease. New York: Elsevier, 70 p.,
1992.
SILVA, S.H.; VIEIRA, E.C.; DIAS, R.S.;
NICOLI, J.R. Antagonism against Vibrio
cholerae by diffusible substances produced by
bacterial components of the human faecal
microbiota. J. Med. Microbiol., v. 50, p. 161-
164, 2001.
TAGG, J.R.; DAJANI, A.S.; WANNAMAKER,
L.W. Bacteriocins of Gram-positive bacteria.
Bacteriol. Rev., v. 40, n. 3, p. 722-756, 1976.
TALARICO, T. L.; CASAS, I.A.; CHUMG, T.C.;
DOBROGOSZ, W.J. Production and isolation
of reuterin, a growth inhibitor produced by
Lactobacillus reuteri. Antimicrob. Agents
Chemother, v. 32, p. 1854-1858, 1988.
VANDENBERG, P.A. Lactic acid bacteria,
their metabolics products and interference
with microbial growth. FEMS Microbiol. Rev.,
v. 12, p. 221-238, 1993.
____________________________________
1 - Graduação em Ciências Biológicas.
Professor Adjunto do Departamento de
Morfologia (DMO – CCBS) da Universidade
Federal de Sergipe - UFS, Brasil.
E-mail: flaviobarbosaufs@gmail.com
2 - Graduação em Fisioterapia. Mestrado em
Microbiogia. Departamento de Microbiologia
(ICB) da Universidade Federal de Minas
Gerais - UFMG, Brasil.
3 - Graduação em Medicina Veterinária.
Departamento de Microbiologia (ICB) da
Universidade Federal de Minas Gerais -
UFMG, Brasil.
4 - Graduação em Enfermagem. Professor
Adjunto do Curso de Enfermagem da
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP),
Brasil.