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16 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21 - julho/agosto 2001
Trofobiose
e Microrganismos na Proteção de plantas
PESQUISA
Biofertilizantes e entomopatógenos na citricultura orgânica
Sérgio Batista Alves
Prof. Adjunto do Depto. de Entomologia,
Fitopatologia e Zoologia (ESALQ/USP) –
Piracicaba – SP
sebalves@esalq.usp.br
Marcos Barros de Medeiros
Prof. Assistente do Depto. de Agropecuária -
UFPB - Campus de Bananeiras - PB
barros@cft.ufpb.br
Marco Antônio Tamai
Doutorando em Entomologia (ESALQ/USP)
maatamai@esalq.usp.br
Rogério Biaggioni Lopes
Doutorando em Entomologia (ESALQ/USP)
rblopes@esalq.usp.br
s pragas e doenças que
ocorrem em citros são res-
ponsáveisporelevadosgas-
tos com produtos fitossani-
tários. Somente o controle
dos ácaros que ocorrem em quase
todas as regiões citrícolas do Brasil tem
gerado gastos da ordem de 90 a 100
milhões de dólares/ano, segundo in-
formações procedentes de empresas
ligadas à comercialização desses agro-
químicos.
As conseqüências da utilização de
grandes quantidades de defensivos na
citricultura podem ser consideradas
sob o aspecto das pragas e sob o do
ambiente. Com relação às pragas, estas
podemdesenvolverresistênciaaospro-
dutos, exigindo aumento das concen-
trações e do número de aplicações
anuais. Persistindo esse sistema, pode-
se provocar elevado nível de contami-
nação do solo, da água, da planta, do
homem e de todos os organismos
vivos componentes do agroecossiste-
ma cítrico. Como conseqüências inevi-
táveis, os inimigos naturais serão elimi-
nados e novas pragas deverão surgir,
além do aumento de casos de intoxica-
ção e o aparecimento de resíduos
químicos no suco e nos frutos, reper-
cutindo na comercialização desses pro-
dutos no Brasil e no exterior.
O uso de microrganismos para o
controle de pragas dos citros represen-
ta um grande avanço ecológico para
solucionar esses problemas, tornando
o agroecossistema mais sustentável,
econômica e biologicamente. Os mi-
crorganismos podem agir diretamente,
causando a morte da praga pelo desen-
volvimento de doença (entomopató-
genos), ou indiretamente, pelo equilí-
brio nutricional e indução de resistên-
cia sistêmica na planta (biofertilizantes
líquidos), neste caso gerando proteção
por trofobiose.
A TEORIA DA TROFOBIOSE NA
PROTEÇÃO DE PLANTAS
As pesquisas têm mostrado que a
maior parte dos insetos e dos ácaros
fitófagos dependem de substâncias
solúveis existentes na seiva das plantas
ou no suco celular, tais como aminoá-
cidos livres e açúcares redutores, pois
estes não são capazes de desdobrar
proteínas em aminoácidos. Foi a partir
da relação entre o estado nutricional da
Figura 1.
Produção do biofertilizan-
te líquido no sistema de
compostagem líquida
contínua (CLC): A) Fazen-
da Vahali II (São Carlos -
SP). B) Fazenda São
Manoel (Borborema - SP)
Fotos: P.A. D´Andréa
Fotos cedidas pelos autores
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21- julho/agosto 2001 17
planta e sua resistência às doen-
ças, que Dufrenoy (1936) postu-
lou que toda circunstância des-
favorável ao crescimento celular
tende a provocar um acúmulo
de compostos solúveis não utili-
zados, como açúcares e amino-
ácidos, diminuindo a resistência
da planta ao ataque de pragas e
doenças. A partir disso, Francis
Chaboussou formulou, em 1967,
a teoria da trofobiose, ao afirmar
que “todo processo vital está na
dependência da satisfação das
necessidades dos organismos vi-
vos, sejam eles vegetais ou animais”, ou
seja, “a planta, ou mais precisamente o
órgãovegetal,seráatacadosomentequan-
do seu estado bioquímico, determinado
pela natureza e pelo teor de substâncias
nutritivas solúveis, corresponder às exi-
gências tróficas (de alimentação) da pra-
ga ou do patógeno em questão” (Cha-
boussou, 1980; 1985). Assim, a explica-
ção para o aumento de pragas ou dese-
quilíbrios biológicos nos agroecossiste-
mas pode estar associada ao estado do-
minante de proteólise nos tecidos das
plantas.
Alguns adubos minerais solúveis, es-
pecialmente os nitrogenados, como tam-
bém agrotóxicos orgânicos sintéticos,
quando absorvidos pelas plantas, podem
interferir na fisiologia do vegetal, redu-
zindo a proteossíntese e acumulando
aminoácidos livres e açúcares redutores,
utilizáveis pelas pragas e agentes fitopa-
togênicos.
Na agricultura orgânica, os processos
empregados no controle das pragas e
doenças baseiam-se no equilíbrio nutrici-
onal da planta (trofobiose), pelo melhor
equilíbrio energético e metabólico do
vegetal (Pinheiro & Barreto, 1996). O
emprego de produtos que contenham
microrganismos e seus metabólitos vem
sendo amplamente difundido. Além de
funcionarem como indutores de resistên-
cia, atuam como promotores de cresci-
mento (equilíbrio nutricional) e como
protetores da planta, a exemplo dos en-
tomopatógenos e fermentados microbia-
nos (biofertilizantes líquidos). Este últi-
mo pode atuar como repelente ou fago-
deterrente (inibidores de alimentação)
ou afetando o desenvolvimento e repro-
dução das pragas.
Biofertilizantes líquidos e sua
aplicação na proteção de plantas
Os biofertilizantes são compostos bi-
oativos, resíduo final da fermentação
de compostos orgânicos, que contêm
células vivas ou latentes de microorga-
nismos (bactérias, leveduras, algas e
fungos filamentosos) e por seus meta-
bólitos, além de quelatos organo-mi-
nerais. Também podem ser definidos
como sendo compostos biodinâmicos
e biologicamente ativos, produzidos
em biodigestores por meio de fermen-
tação aeróbica e/ou anaeróbica da
matéria orgânica. Esses compostos são
ricos em enzimas, antibióticos, vitami-
nas, toxinas, fenóis, ésteres e ácidos,
inclusive de ação fitohormonal.
Não existe uma fórmula padrão
para a produção de biofertilizantes.
Receitas variadas vêm sendo testadas e
utilizadas por pesquisadores para di-
versos fins. A China e a Índia são os
maiores produtores e consumidores
dessa biotecnologia, com mais de 150
mil unidades instaladas, abrangendo a
produção do biogás ou gás metano. No
Brasil, a fórmula mais conheci-
da é o Supermagro, que está
sendo utilizado com sucesso
em culturas como maçã, pêsse-
go, uva, tomate, batata e horta-
liças em geral.
Na citricultura, os biofertili-
zantes são produzidos pelo
método de compostagem líqui-
da contínua em “piscinas” cava-
das no solo, revestidas de lona
plástica, com volume de até 10
mil litros. No processo são uti-
lizados água não clorada e ino-
culante à base de esterco de
rúmen bovino (obtido de abatedouro)
e, posteriormente, enriquecido com o
composto orgânico Microgeo, um
preparado não estéril à base de turfa,
rochas moídas com 48% de silicatos de
magnésio, cálcio, ferro e uma grande
diversidade de minerais. O biofertili-
zante obtido é pulverizado sobre as
plantas em concentrações entre 1% e
5% (D’Andréa, 2001), sendo utilizado
atualmente em mais de 8 milhões de
pés de laranja. Esses produtos estão
previstos na agricultura orgânica e re-
gulamentados pelo Ministério da Agri-
cultura (Instrução Normativa 07/99) e
também pelas normas dos institutos
que fornecem “selo verde” ou “certifi-
cado de origem controlada”.
Existem poucos estudos sobre a
composição do biofertilizante. Os me-
tabólitos resultantes do processo fer-
mentativo dos microrganismos, como
enzimas, coenzimas, cofatores (meta-
loporfirinas,citocromos,vitaminasetc.),
mesmo diluídos, ativam e catalisam as
oxidações e reações biológicas nas
plantas superiores (Pinheiro & Barreto,
1996). Seus efeitos são eminentes, des-
de que sejam observadas as condições
de estresse a que o vegetal possa estar
Figura 2. Adultos do ácaro-da-
leprose dos citros infectados
por Verticillium lecanii
Figura 3. Acrogonia sp. (cigarrinha transmissora
da CVC) infectada por Zoophthora radicans
18 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21 - julho/agosto 2001
submetido, para se obter melhores
resultados. Além da ação nutricional já
conhecida do biofertilizante, existem
também as ações fungistática e bacte-
riostática sobre fitopatógenos (Bettiol
et al. 1998).
A potência biológica do biofertili-
zante é expressa pela grande quantida-
de de microrganismos ali existentes,
responsáveis pela liberação de meta-
bólitos, entre eles antibióticos e hor-
mônios. Castro et al. (1992) isolaram
de um biofertilizante várias leveduras e
bactérias, destacando Bacillus subiti-
lis, um reconhecido produtor de anti-
bióticos. Mais recentemente, Bettiol et
al. (1998) verificaram a presença de
diferentes espécies de fungos filamen-
tosos, leveduriformes e bactérias, entre
elas Bacillus spp. Esses microrganis-
mos, quando aplicados, atuam eficien-
temente na conversão e pontencializa-
ção de diversos nutrientes e substânci-
as ativas que servem para incrementar
e acelerar os processos microbianos no
agroecossistema. Também já foi en-
contrado nos biofertilizantes de uso na
citricultura o fungo entomopatogênico
Beauveria bassiana, importante inimi-
go natural de pragas (Alves, comunica-
ção pessoal).
Os efeitos do biofertilizante no con-
trole de pragas e doenças de plantas
têm sido pouco estudados. Entretanto,
segundo Santos & Akiba (1996), foram
constatados efeitos fungistático, bacte-
riostático e repelente sobre diversos
agentes fitopatogênicos e insetos. San-
tos & Sampaio (1993) verificaram a
presença de uma substância coloidal
no biofertilizante que é adesiva. Essa
quando pulverizada sobre os insetos,
provocava sua aderência sobre a su-
perfície do tecido vegetal, impedindo-
o de se locomover e alimentar. Os
autores destacaram também o efeito
repelente e deterrente contra pulgões e
moscas-das-frutas. Santos & Akiba
(1996) relatam que o biofertilizante
“Vairo”, aplicado em concentrações
acima de 50%, possui efeito inseticida
e acaricida. A utilização do produto
puro não ocasionou efeito sobre formi-
gas, abelhas, marimbondos e gafanho-
tos.
Medeiros et al. (2000a) verificaram
que o biofertilizante à base de conteú-
do de rúmen bovino e o composto
orgânico Microgeo reduziram a fe-
cundidade, o período de oviposição e
a longevidade de fêmeas do ácaro-da-
leprose dos citros, Brevipalpus phoeni-
cis, quando pulverizado em diferentes
concentrações. Medeiros et al. (2000b)
comprovaram ainda que esse bioferti-
lizante agiu sinergicamente com Baci-
llus thuringiensis e B. bassiana, redu-
zindo a viabilidade dos ovos e a sobre-
vivência de larvas do bicho-furão dos
citros, Ecdytolopha aurantiana, em
laboratório.
Apesar de todas essas característi-
cas dos biofertilizantes, consideradas
por muitos como vantagens incontes-
táveis, pode-se abrir um novo ponto de
discussão sobre o assunto. O que será
que uma produção caseira do bioferti-
lizante, sem o controle adequado do
processo fermentativo e da matéria-
prima utilizada, gera como produto
final? Atualmente, sabe-se que a com-
posição biológica e bioquímica do bi-
ofertilizante é muito dinâmica e variá-
vel, mesmo para fermentações de larga
escala e controladas. O descontrole do
processo como um todo pode favore-
cer o desenvolvimento de microrganis-
mos oportunistas. Como parte da ma-
téria-prima é orgânica e, em alguns
casos, de origem animal (restos de
peixes, sangue ou leite) e esse material
pode estar contaminado por microrga-
nismos indesejáveis, inclusive patogê-
nicos ao homem, a fermentação inade-
quada promove a multiplicação desses
e o aparecimento de compostos tam-
bém tóxicos. De forma contrária, pode-
se imaginar que as condições de fer-
mentação, principalmente relaciona-
das à acidez do meio e à matéria-prima
utilizada, não permitam o desenvolvi-
mento dessa microfauna. Deve-se con-
siderar também a inibição por compe-
tição e antagonismo entre os microrga-
nismos não benéficos e o inoculante
proveniente de conteúdo do rúmem
bovino, por exemplo. Este último, cer-
tamente em quantidade bem maior no
sistema, tende a reproduzir a fauna
microbiana proveniente do pasto e do
trato intestinal do animal.
MICRORGANISMOS CAUSADORES
DE DOENÇAS EM PRAGAS
Diversos microrganismos podem
ocorrer causando doença em insetos e
ácaros, entre eles destacam-se os fun-
gos, os vírus e as bactérias. Os fungos
entomopatogênicos são os organismos
mais estudados e os que têm grande
potencial para o controle de pragas.
Aproximadamente 80% das doenças
em insetos têm como agentes etiológi-
cos os fungos, pertencentes a cerca de
90 gêneros e mais de 700 espécies,
sendo que a maioria dos gêneros já
foram relatados em citros, no Brasil
(Alves, 1998; Alves et al., 1999).
Fungos do gênero Hirsutella e da
Ordem Entomophthorales são os mais
comuns infectando populações de áca-
ros pragas da cultura. A espécie mais
comum é H. thompsonii, conhecida
desde 1924, quando foi observada pro-
vocando doença em populações de
Phyllocoptruta oleivora (ácaro da fer-
rugem). Esse fungo é bastante especí-
fico e pode ser encontrado em poma-
res de citros no Brasil, onde atacam, em
especial, ácaros eriofiídeos. Dentre os
hospedeiros importantes citam-se o P.
Figura 4. Colônia de mosca branca infectada por
Aschersonia aleyrodis
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21- julho/agosto 2001 19
oleivora e o Eriophyes sheldoni (ácaro
das gemas). Entomophthorales estão
normalmente associados a espécies de
tetraniquídeos, principalmente Pa-
nonychus citri (ácaro purpúreo), con-
trolando naturalmente populações em
condições de campo. As epizootias
naturais de fungos estão diretamente
correlacionadas com épocas chuvosas
e com elevada densidade de hospe-
deiros. Trabalhos recentemente de-
senvolvidos pelo Setor de Entomolo-
gia da ESALQ-USP e Fundecitrus vêm
demonstrando o grande potencial do
uso de isolados de B. bassiana, Meta-
rhizium anisopliae e Verticillium le-
canii para o controle de ácaros em
citros.
Além dos fungos, alguns vírus po-
democorrerinfectandoácarosnoagro-
ecossistema cítrico. É comum a ocor-
rência de um vírus de partícula livre
em populações naturais do ácaro pur-
púreo, na Flórida (Muma, 1955). Esse
patógeno ainda não foi relatado no
Brasil, entretanto, futuramente, pode-
ráserconsideradoumpromissoragente
de controle de P. citri na citricultura.
Dentre os insetos mais importantes
citam-se o bicho-furão, cochonilhas e
cigarrinhas. O bicho-furão, E. auran-
tiana, ocorre em qualquer época do
ano nos pomares, com picos crescen-
tes nos meses de janeiro, fevereiro e
março, e atacam todas as variedades
de laranjas doces. Para o seu controle,
têm sido recomendados os inseticidas
biológicos Dipel e Ecotech (Bacillus
thuringiensis var. kurstaki), em pulve-
rização a alto volume, com perfeita
cobertura das plantas.
Podem ser observadas várias espé-
cies de cochonilhas que colonizam
todas as partes da planta. Além da
sucção da seiva, elas injetam toxinas e
excretam substâncias açucaradas so-
bre as quais desenvolve-se a “fumagi-
na”, que prejudica a fotossíntese. No
Brasil, vêm sendo conduzidas pesqui-
sas com os fungos B. bassiana, M.
anisopliae e Colletotrichum gloeospo-
rioides para o controle da cochonilha
Ortheziapraelonga.Cesniketal.(1996)
obtiveram redução significativa na in-
festação dessa cochonilha quando
aplicaram o fungo C. gloeosporioides,
em pomares da região de Limeira-SP.
Foi observada uma redução de 43% a
82% no número de insetos encontra-
dos nas folhas das plantas tratadas, 35
dias após a aplicação do patógeno.
Após 70 dias da aplicação, a redução
na população da praga atingiu 85% a
96%.
A espécie Aschersonia aleyrodis,
conhecida como fungo vermelho, ata-
ca cochonilhas e moscas-brancas Dia-
leurodes citri e D. citrifolii. O fungo
coloniza a fase imóvel dessas pragas,
deixando-as com aparência róseo-aver-
melhada. A época mais favorável às
epizootias coincide com a maior preci-
pitação pluviométrica. Assim, nas con-
dições do Estado de São Paulo, o
patógeno ocorre de novembro a feve-
reiro e, nos Estados do Nordeste, nos
meses de maio a agosto.
O fungo V. lecanii também ocorre
sobre pulgões e cochonilhas. No Bra-
sil, vem causando epizootia em popu-
lações de cochonilhas e principalmen-
te sobre a cochonilha verde Coccus
viridis, mantendo as populações des-
sas pragas em níveis de danos não-
econômicos.
Diversas doenças de plantas de
importância econômica estão associa-
das direta ou indiretamente com artró-
podos. Alguns grupos de procariotos
fitopatogênicos, como as bactérias fas-
tidiosas, do gênero Xylella, são obriga-
toriamente transmitidos por hemípte-
ros, em sua maioria cigarrinhas. Mais
recentemente, comprovou-se que 3
espécies de cigarrinhas mais comuns,
Acrogonia sp., Oncometopia facialis e
Dilobopterus costalimai, transmitiam a
bactéria de plantas contaminadas para
plantas sadias (Gravena et al., 1997).
Em estudos recentes realizados no La-
boratório de Patologia e Controle Mi-
crobiano de Insetos da ESALQ/USP,
em colaboração com o Fundecitrus, foi
observada a ocorrência natural de fun-
gos Entomophthorales, M.anisopliae e
B.bassianainfectandocigarrinhasadul-
tas, em campo. Também constatou-se
a patogenicidade de V. lecanii em
condições de laboratório.
ESTRATÉGIAS PARA
UTILIZAÇÃO DOS
MICRORGANISMOS EM CITROS
Os patógenos, para serem eficien-
tes, necessitam ser empregados corre-
tamente, utilizando-se uma estratégia
que deverá ser selecionada conside-
rando as características da cultura, bio-
ecologia do inseto alvo e o tipo de
patógeno.
Entre as principais estratégias de
uso de patógenos para o controle de
pragas, destacam-se as seguintes: a)
Introdução inoculativa - visa à lenta
e contínua eliminação da praga em
locais onde o patógeno ainda não está
presente. Pode ser feita pela transfe-
rência de pequena quantidade de inó-
culo, introduzindo insetos contamina-
dos, cadáveres, pedaços das plantas,
meios de culturas e iscas com os pató-
genos, e até mesmo pela pulverização
de pequenas áreas ou de algumas
plantas. Um exemplo é a introdução de
A. aleyrodis usando galhos de citros
Figura 5. Pulverização de Beauveria bassiana em pomar de
laranja “Pera”, utilizando-se atomizador tratorizado
20 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21 - julho/agosto 2001
com mosca branca atacadas pelo fun-
go. Também pode-se efetuar a introdu-
ção inoculativa dos “fungos amigos”
em locais onde eles não ocorrem,
como Hirsutella, Myriangium, Myiop-
hagus, Nectria spp., Tetracrium (Tele-
morfo=Podonectria),Verticilliumspp.
e Fusarium coccophilum, Atractium.
b) Introdução inundativa - visa à
supressão rápida da praga pela aplica-
ção de uma grande quantidade de
inóculo de um patógeno, onde ele
pode ou não estar presente. O patóge-
no deve atuar independentemente da
densidade populacional da praga e do
inóculo existente na área. A aplicação
de B. thuringiensis para o controle de
lagartas desfolhadoras e do bicho fu-
rão são exemplos de introduções inun-
dativas que podem levar a um eficiente
controle dessas pragas, desde que os
patógenos sejam aplicados em con-
centrações corretas e com equipamen-
tos adequados. c) Aumento ou incre-
mento - admite-se que o patógeno já
se encontre presente no local, porém
que a sua ocorrência sobre as pragas
seja tardia e, assim, normalmente, não
se consiga evitar os danos nas plantas.
Como o entomopatógeno já se adap-
tou ao ambiente, existe grande proba-
bilidade de sucesso no controle da
praga quando se utiliza esse procedi-
mento de controle. Assim, o patógeno
necessita de um aumento ou incre-
mento na sua densidade de inóculo,
visando à formação de focos primários
e de um potencial de inóculo capaz de
antecipar as epizootias, antes que a
praga atinja níveis de danos econômi-
cos. Oferecem condições para ser usa-
dos dentro dessa estratégia os fungos
H. thompsonii para o ácaro da falsa-
ferrugem e os “fungos amigos” que
ocorrem nos pomares de citros. d)
Conservação ou proteção - trata-se
de uma estratégia das mais importantes
e, quando bem conduzida, pode atin-
gir resultados significativos na preser-
vação do inóculo natural, contribuindo
para a formação de focos primários da
doença e posterior desencadeamento
de epizootias. A conservação pode ser
realizada pela manipulação do ambi-
ente (escolha de variedades, espaça-
mento, tratos culturais e cultivo míni-
mo) e utilização de defensivos quími-
Praga
Ácaros
Phyllocoptruta oleivora
Brevipalpus phoenicis
Panonychus citri
Mosca das frutas
Thephritidae
Bicho furão
Ecdytolopha aurantiana
Cochonilhas
Chrysomphalus spp.
Coccus viridis
Parlatoria spp.
Orthezia praelonga
Cigarrinhas
Cigarrinhas da CVC
Outras
Cupins
Pulgões
Moscas-brancas
Coleobrocas
Patógeno
Hirsutella thompsonii
Verticillium lecanii
Metarhizium anisopliae
vírus de partícula livre
Hirsutella thompsonii
Entomphthorales
Metarhizium anisopliae
Bacillus thuringiensis
Myiophagus
Nectria e Myriangium
Fusarium sp.
Verticillium lecanii
Aschersonia aleyrodis
Fusarium sp. (=Atractium)
Nectria e Myriangium
Beauveria bassiana
Colletotrichum gloesporioides
Metarhizium anisopliae
Verticillium lecanii
Metarhizium anisopliae
Beauveria bassiana
Entomophthorales
Beauveria bassiana
Metarhizium anisopliae
Beauveria bassiana
Verticillium lecanii
Entomophthorales
Beauveria bassiana
Aschersonia aleyrodis
Metarhizium anisopliae
Estratégia de emprego
introdução inundativa e inoculativa; proteção
introdução inundativa e inoculativa; proteção
introdução inoculativa (C.B. clássico)
incremento e proteção
proteção
introdução inundativa (solo)
introdução inundativa
proteção
introdução inundativa e inoculativa; proteção
introdução inundativa e inoculativa; proteção
proteção
introdução inundativa e inoculativa; proteção
introdução inundativa e inoculativa; proteção
proteção
introdução inoculativa (iscas atrativas)
introdução inoculativa
proteção
introdução inoculativa e inundativa
proteção e introdução inoculativa
introdução inundativa
Tabela 1. Principais pragas dos citros, seus patógenos e estratégias de emprego.
Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21- julho/agosto 2001 21
cos seletivos. Essa última técnica é
uma das mais importantes dentro
do esquema de preservação dos
patógenos, e visa à utilização de
agrotóxicos (acaricidas, inseticidas,
fungicidas e herbicidas) e outros
insumos (adubos foliares), seletivos
para os patógenos. Os defensivos e
insumos não-seletivos devem ser
evitados, e os compatíveis devem
fazer parte dos programas de con-
dução da cultura, podendo, às ve-
zes, ser misturados com o patóge-
no.
As estratégias de utilização de
entomopatógenos em pomares de
citros para as principais pragas da
culturas podem ser observadas na
Tabela 1.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dificuldade de se quebrar o
paradigma do uso do controle quí-
mico em citros está no fato do
citricultor desconhecer e de não
acreditar no potencial de outras
práticas, de cunho alternativo ou eco-
lógico. É o próprio citricultor quem,
usando técnicas inadequadas, torna o
controle de pragas pouco eficaz nessa
cultura. Estudos com vistas a empregar
microrganismos e caldas fertiproteto-
ras no sistema de produção são de
grande importância para o controle
sustentável das pragas e, sobretudo,
para a redução dos custos de produção
dessa cultura. A utilização de bioferti-
lizantes ou de entomopatógenos vi-
sando ao controle de uma praga deve,
obrigatoriamente, fazer parte de um
projeto de manejo ecológico, levando-
se em conta o conhecimento das inte-
rações desses produtos e de seus im-
pactos sobre as relações trofobióticas
dos organismos envolvidos (planta,
pragas e inimigos naturais) no agroe-
cossistema cítrico.
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do biofertilizante líquido obtido da fer-
mentação anaeróbica do esterco bovi-
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à lavoura de citros. In: Seminário Bienal
de Pesquisa, 6, Seropédica, 1993. Resu-
mos. Seropédica: UFRRJ.1993. p.34.
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Biofertilizantes e entomopatógenos na proteção de plantas

  • 1. 16 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21 - julho/agosto 2001 Trofobiose e Microrganismos na Proteção de plantas PESQUISA Biofertilizantes e entomopatógenos na citricultura orgânica Sérgio Batista Alves Prof. Adjunto do Depto. de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia (ESALQ/USP) – Piracicaba – SP sebalves@esalq.usp.br Marcos Barros de Medeiros Prof. Assistente do Depto. de Agropecuária - UFPB - Campus de Bananeiras - PB barros@cft.ufpb.br Marco Antônio Tamai Doutorando em Entomologia (ESALQ/USP) maatamai@esalq.usp.br Rogério Biaggioni Lopes Doutorando em Entomologia (ESALQ/USP) rblopes@esalq.usp.br s pragas e doenças que ocorrem em citros são res- ponsáveisporelevadosgas- tos com produtos fitossani- tários. Somente o controle dos ácaros que ocorrem em quase todas as regiões citrícolas do Brasil tem gerado gastos da ordem de 90 a 100 milhões de dólares/ano, segundo in- formações procedentes de empresas ligadas à comercialização desses agro- químicos. As conseqüências da utilização de grandes quantidades de defensivos na citricultura podem ser consideradas sob o aspecto das pragas e sob o do ambiente. Com relação às pragas, estas podemdesenvolverresistênciaaospro- dutos, exigindo aumento das concen- trações e do número de aplicações anuais. Persistindo esse sistema, pode- se provocar elevado nível de contami- nação do solo, da água, da planta, do homem e de todos os organismos vivos componentes do agroecossiste- ma cítrico. Como conseqüências inevi- táveis, os inimigos naturais serão elimi- nados e novas pragas deverão surgir, além do aumento de casos de intoxica- ção e o aparecimento de resíduos químicos no suco e nos frutos, reper- cutindo na comercialização desses pro- dutos no Brasil e no exterior. O uso de microrganismos para o controle de pragas dos citros represen- ta um grande avanço ecológico para solucionar esses problemas, tornando o agroecossistema mais sustentável, econômica e biologicamente. Os mi- crorganismos podem agir diretamente, causando a morte da praga pelo desen- volvimento de doença (entomopató- genos), ou indiretamente, pelo equilí- brio nutricional e indução de resistên- cia sistêmica na planta (biofertilizantes líquidos), neste caso gerando proteção por trofobiose. A TEORIA DA TROFOBIOSE NA PROTEÇÃO DE PLANTAS As pesquisas têm mostrado que a maior parte dos insetos e dos ácaros fitófagos dependem de substâncias solúveis existentes na seiva das plantas ou no suco celular, tais como aminoá- cidos livres e açúcares redutores, pois estes não são capazes de desdobrar proteínas em aminoácidos. Foi a partir da relação entre o estado nutricional da Figura 1. Produção do biofertilizan- te líquido no sistema de compostagem líquida contínua (CLC): A) Fazen- da Vahali II (São Carlos - SP). B) Fazenda São Manoel (Borborema - SP) Fotos: P.A. D´Andréa Fotos cedidas pelos autores
  • 2. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21- julho/agosto 2001 17 planta e sua resistência às doen- ças, que Dufrenoy (1936) postu- lou que toda circunstância des- favorável ao crescimento celular tende a provocar um acúmulo de compostos solúveis não utili- zados, como açúcares e amino- ácidos, diminuindo a resistência da planta ao ataque de pragas e doenças. A partir disso, Francis Chaboussou formulou, em 1967, a teoria da trofobiose, ao afirmar que “todo processo vital está na dependência da satisfação das necessidades dos organismos vi- vos, sejam eles vegetais ou animais”, ou seja, “a planta, ou mais precisamente o órgãovegetal,seráatacadosomentequan- do seu estado bioquímico, determinado pela natureza e pelo teor de substâncias nutritivas solúveis, corresponder às exi- gências tróficas (de alimentação) da pra- ga ou do patógeno em questão” (Cha- boussou, 1980; 1985). Assim, a explica- ção para o aumento de pragas ou dese- quilíbrios biológicos nos agroecossiste- mas pode estar associada ao estado do- minante de proteólise nos tecidos das plantas. Alguns adubos minerais solúveis, es- pecialmente os nitrogenados, como tam- bém agrotóxicos orgânicos sintéticos, quando absorvidos pelas plantas, podem interferir na fisiologia do vegetal, redu- zindo a proteossíntese e acumulando aminoácidos livres e açúcares redutores, utilizáveis pelas pragas e agentes fitopa- togênicos. Na agricultura orgânica, os processos empregados no controle das pragas e doenças baseiam-se no equilíbrio nutrici- onal da planta (trofobiose), pelo melhor equilíbrio energético e metabólico do vegetal (Pinheiro & Barreto, 1996). O emprego de produtos que contenham microrganismos e seus metabólitos vem sendo amplamente difundido. Além de funcionarem como indutores de resistên- cia, atuam como promotores de cresci- mento (equilíbrio nutricional) e como protetores da planta, a exemplo dos en- tomopatógenos e fermentados microbia- nos (biofertilizantes líquidos). Este últi- mo pode atuar como repelente ou fago- deterrente (inibidores de alimentação) ou afetando o desenvolvimento e repro- dução das pragas. Biofertilizantes líquidos e sua aplicação na proteção de plantas Os biofertilizantes são compostos bi- oativos, resíduo final da fermentação de compostos orgânicos, que contêm células vivas ou latentes de microorga- nismos (bactérias, leveduras, algas e fungos filamentosos) e por seus meta- bólitos, além de quelatos organo-mi- nerais. Também podem ser definidos como sendo compostos biodinâmicos e biologicamente ativos, produzidos em biodigestores por meio de fermen- tação aeróbica e/ou anaeróbica da matéria orgânica. Esses compostos são ricos em enzimas, antibióticos, vitami- nas, toxinas, fenóis, ésteres e ácidos, inclusive de ação fitohormonal. Não existe uma fórmula padrão para a produção de biofertilizantes. Receitas variadas vêm sendo testadas e utilizadas por pesquisadores para di- versos fins. A China e a Índia são os maiores produtores e consumidores dessa biotecnologia, com mais de 150 mil unidades instaladas, abrangendo a produção do biogás ou gás metano. No Brasil, a fórmula mais conheci- da é o Supermagro, que está sendo utilizado com sucesso em culturas como maçã, pêsse- go, uva, tomate, batata e horta- liças em geral. Na citricultura, os biofertili- zantes são produzidos pelo método de compostagem líqui- da contínua em “piscinas” cava- das no solo, revestidas de lona plástica, com volume de até 10 mil litros. No processo são uti- lizados água não clorada e ino- culante à base de esterco de rúmen bovino (obtido de abatedouro) e, posteriormente, enriquecido com o composto orgânico Microgeo, um preparado não estéril à base de turfa, rochas moídas com 48% de silicatos de magnésio, cálcio, ferro e uma grande diversidade de minerais. O biofertili- zante obtido é pulverizado sobre as plantas em concentrações entre 1% e 5% (D’Andréa, 2001), sendo utilizado atualmente em mais de 8 milhões de pés de laranja. Esses produtos estão previstos na agricultura orgânica e re- gulamentados pelo Ministério da Agri- cultura (Instrução Normativa 07/99) e também pelas normas dos institutos que fornecem “selo verde” ou “certifi- cado de origem controlada”. Existem poucos estudos sobre a composição do biofertilizante. Os me- tabólitos resultantes do processo fer- mentativo dos microrganismos, como enzimas, coenzimas, cofatores (meta- loporfirinas,citocromos,vitaminasetc.), mesmo diluídos, ativam e catalisam as oxidações e reações biológicas nas plantas superiores (Pinheiro & Barreto, 1996). Seus efeitos são eminentes, des- de que sejam observadas as condições de estresse a que o vegetal possa estar Figura 2. Adultos do ácaro-da- leprose dos citros infectados por Verticillium lecanii Figura 3. Acrogonia sp. (cigarrinha transmissora da CVC) infectada por Zoophthora radicans
  • 3. 18 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21 - julho/agosto 2001 submetido, para se obter melhores resultados. Além da ação nutricional já conhecida do biofertilizante, existem também as ações fungistática e bacte- riostática sobre fitopatógenos (Bettiol et al. 1998). A potência biológica do biofertili- zante é expressa pela grande quantida- de de microrganismos ali existentes, responsáveis pela liberação de meta- bólitos, entre eles antibióticos e hor- mônios. Castro et al. (1992) isolaram de um biofertilizante várias leveduras e bactérias, destacando Bacillus subiti- lis, um reconhecido produtor de anti- bióticos. Mais recentemente, Bettiol et al. (1998) verificaram a presença de diferentes espécies de fungos filamen- tosos, leveduriformes e bactérias, entre elas Bacillus spp. Esses microrganis- mos, quando aplicados, atuam eficien- temente na conversão e pontencializa- ção de diversos nutrientes e substânci- as ativas que servem para incrementar e acelerar os processos microbianos no agroecossistema. Também já foi en- contrado nos biofertilizantes de uso na citricultura o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana, importante inimi- go natural de pragas (Alves, comunica- ção pessoal). Os efeitos do biofertilizante no con- trole de pragas e doenças de plantas têm sido pouco estudados. Entretanto, segundo Santos & Akiba (1996), foram constatados efeitos fungistático, bacte- riostático e repelente sobre diversos agentes fitopatogênicos e insetos. San- tos & Sampaio (1993) verificaram a presença de uma substância coloidal no biofertilizante que é adesiva. Essa quando pulverizada sobre os insetos, provocava sua aderência sobre a su- perfície do tecido vegetal, impedindo- o de se locomover e alimentar. Os autores destacaram também o efeito repelente e deterrente contra pulgões e moscas-das-frutas. Santos & Akiba (1996) relatam que o biofertilizante “Vairo”, aplicado em concentrações acima de 50%, possui efeito inseticida e acaricida. A utilização do produto puro não ocasionou efeito sobre formi- gas, abelhas, marimbondos e gafanho- tos. Medeiros et al. (2000a) verificaram que o biofertilizante à base de conteú- do de rúmen bovino e o composto orgânico Microgeo reduziram a fe- cundidade, o período de oviposição e a longevidade de fêmeas do ácaro-da- leprose dos citros, Brevipalpus phoeni- cis, quando pulverizado em diferentes concentrações. Medeiros et al. (2000b) comprovaram ainda que esse bioferti- lizante agiu sinergicamente com Baci- llus thuringiensis e B. bassiana, redu- zindo a viabilidade dos ovos e a sobre- vivência de larvas do bicho-furão dos citros, Ecdytolopha aurantiana, em laboratório. Apesar de todas essas característi- cas dos biofertilizantes, consideradas por muitos como vantagens incontes- táveis, pode-se abrir um novo ponto de discussão sobre o assunto. O que será que uma produção caseira do bioferti- lizante, sem o controle adequado do processo fermentativo e da matéria- prima utilizada, gera como produto final? Atualmente, sabe-se que a com- posição biológica e bioquímica do bi- ofertilizante é muito dinâmica e variá- vel, mesmo para fermentações de larga escala e controladas. O descontrole do processo como um todo pode favore- cer o desenvolvimento de microrganis- mos oportunistas. Como parte da ma- téria-prima é orgânica e, em alguns casos, de origem animal (restos de peixes, sangue ou leite) e esse material pode estar contaminado por microrga- nismos indesejáveis, inclusive patogê- nicos ao homem, a fermentação inade- quada promove a multiplicação desses e o aparecimento de compostos tam- bém tóxicos. De forma contrária, pode- se imaginar que as condições de fer- mentação, principalmente relaciona- das à acidez do meio e à matéria-prima utilizada, não permitam o desenvolvi- mento dessa microfauna. Deve-se con- siderar também a inibição por compe- tição e antagonismo entre os microrga- nismos não benéficos e o inoculante proveniente de conteúdo do rúmem bovino, por exemplo. Este último, cer- tamente em quantidade bem maior no sistema, tende a reproduzir a fauna microbiana proveniente do pasto e do trato intestinal do animal. MICRORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS EM PRAGAS Diversos microrganismos podem ocorrer causando doença em insetos e ácaros, entre eles destacam-se os fun- gos, os vírus e as bactérias. Os fungos entomopatogênicos são os organismos mais estudados e os que têm grande potencial para o controle de pragas. Aproximadamente 80% das doenças em insetos têm como agentes etiológi- cos os fungos, pertencentes a cerca de 90 gêneros e mais de 700 espécies, sendo que a maioria dos gêneros já foram relatados em citros, no Brasil (Alves, 1998; Alves et al., 1999). Fungos do gênero Hirsutella e da Ordem Entomophthorales são os mais comuns infectando populações de áca- ros pragas da cultura. A espécie mais comum é H. thompsonii, conhecida desde 1924, quando foi observada pro- vocando doença em populações de Phyllocoptruta oleivora (ácaro da fer- rugem). Esse fungo é bastante especí- fico e pode ser encontrado em poma- res de citros no Brasil, onde atacam, em especial, ácaros eriofiídeos. Dentre os hospedeiros importantes citam-se o P. Figura 4. Colônia de mosca branca infectada por Aschersonia aleyrodis
  • 4. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21- julho/agosto 2001 19 oleivora e o Eriophyes sheldoni (ácaro das gemas). Entomophthorales estão normalmente associados a espécies de tetraniquídeos, principalmente Pa- nonychus citri (ácaro purpúreo), con- trolando naturalmente populações em condições de campo. As epizootias naturais de fungos estão diretamente correlacionadas com épocas chuvosas e com elevada densidade de hospe- deiros. Trabalhos recentemente de- senvolvidos pelo Setor de Entomolo- gia da ESALQ-USP e Fundecitrus vêm demonstrando o grande potencial do uso de isolados de B. bassiana, Meta- rhizium anisopliae e Verticillium le- canii para o controle de ácaros em citros. Além dos fungos, alguns vírus po- democorrerinfectandoácarosnoagro- ecossistema cítrico. É comum a ocor- rência de um vírus de partícula livre em populações naturais do ácaro pur- púreo, na Flórida (Muma, 1955). Esse patógeno ainda não foi relatado no Brasil, entretanto, futuramente, pode- ráserconsideradoumpromissoragente de controle de P. citri na citricultura. Dentre os insetos mais importantes citam-se o bicho-furão, cochonilhas e cigarrinhas. O bicho-furão, E. auran- tiana, ocorre em qualquer época do ano nos pomares, com picos crescen- tes nos meses de janeiro, fevereiro e março, e atacam todas as variedades de laranjas doces. Para o seu controle, têm sido recomendados os inseticidas biológicos Dipel e Ecotech (Bacillus thuringiensis var. kurstaki), em pulve- rização a alto volume, com perfeita cobertura das plantas. Podem ser observadas várias espé- cies de cochonilhas que colonizam todas as partes da planta. Além da sucção da seiva, elas injetam toxinas e excretam substâncias açucaradas so- bre as quais desenvolve-se a “fumagi- na”, que prejudica a fotossíntese. No Brasil, vêm sendo conduzidas pesqui- sas com os fungos B. bassiana, M. anisopliae e Colletotrichum gloeospo- rioides para o controle da cochonilha Ortheziapraelonga.Cesniketal.(1996) obtiveram redução significativa na in- festação dessa cochonilha quando aplicaram o fungo C. gloeosporioides, em pomares da região de Limeira-SP. Foi observada uma redução de 43% a 82% no número de insetos encontra- dos nas folhas das plantas tratadas, 35 dias após a aplicação do patógeno. Após 70 dias da aplicação, a redução na população da praga atingiu 85% a 96%. A espécie Aschersonia aleyrodis, conhecida como fungo vermelho, ata- ca cochonilhas e moscas-brancas Dia- leurodes citri e D. citrifolii. O fungo coloniza a fase imóvel dessas pragas, deixando-as com aparência róseo-aver- melhada. A época mais favorável às epizootias coincide com a maior preci- pitação pluviométrica. Assim, nas con- dições do Estado de São Paulo, o patógeno ocorre de novembro a feve- reiro e, nos Estados do Nordeste, nos meses de maio a agosto. O fungo V. lecanii também ocorre sobre pulgões e cochonilhas. No Bra- sil, vem causando epizootia em popu- lações de cochonilhas e principalmen- te sobre a cochonilha verde Coccus viridis, mantendo as populações des- sas pragas em níveis de danos não- econômicos. Diversas doenças de plantas de importância econômica estão associa- das direta ou indiretamente com artró- podos. Alguns grupos de procariotos fitopatogênicos, como as bactérias fas- tidiosas, do gênero Xylella, são obriga- toriamente transmitidos por hemípte- ros, em sua maioria cigarrinhas. Mais recentemente, comprovou-se que 3 espécies de cigarrinhas mais comuns, Acrogonia sp., Oncometopia facialis e Dilobopterus costalimai, transmitiam a bactéria de plantas contaminadas para plantas sadias (Gravena et al., 1997). Em estudos recentes realizados no La- boratório de Patologia e Controle Mi- crobiano de Insetos da ESALQ/USP, em colaboração com o Fundecitrus, foi observada a ocorrência natural de fun- gos Entomophthorales, M.anisopliae e B.bassianainfectandocigarrinhasadul- tas, em campo. Também constatou-se a patogenicidade de V. lecanii em condições de laboratório. ESTRATÉGIAS PARA UTILIZAÇÃO DOS MICRORGANISMOS EM CITROS Os patógenos, para serem eficien- tes, necessitam ser empregados corre- tamente, utilizando-se uma estratégia que deverá ser selecionada conside- rando as características da cultura, bio- ecologia do inseto alvo e o tipo de patógeno. Entre as principais estratégias de uso de patógenos para o controle de pragas, destacam-se as seguintes: a) Introdução inoculativa - visa à lenta e contínua eliminação da praga em locais onde o patógeno ainda não está presente. Pode ser feita pela transfe- rência de pequena quantidade de inó- culo, introduzindo insetos contamina- dos, cadáveres, pedaços das plantas, meios de culturas e iscas com os pató- genos, e até mesmo pela pulverização de pequenas áreas ou de algumas plantas. Um exemplo é a introdução de A. aleyrodis usando galhos de citros Figura 5. Pulverização de Beauveria bassiana em pomar de laranja “Pera”, utilizando-se atomizador tratorizado
  • 5. 20 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21 - julho/agosto 2001 com mosca branca atacadas pelo fun- go. Também pode-se efetuar a introdu- ção inoculativa dos “fungos amigos” em locais onde eles não ocorrem, como Hirsutella, Myriangium, Myiop- hagus, Nectria spp., Tetracrium (Tele- morfo=Podonectria),Verticilliumspp. e Fusarium coccophilum, Atractium. b) Introdução inundativa - visa à supressão rápida da praga pela aplica- ção de uma grande quantidade de inóculo de um patógeno, onde ele pode ou não estar presente. O patóge- no deve atuar independentemente da densidade populacional da praga e do inóculo existente na área. A aplicação de B. thuringiensis para o controle de lagartas desfolhadoras e do bicho fu- rão são exemplos de introduções inun- dativas que podem levar a um eficiente controle dessas pragas, desde que os patógenos sejam aplicados em con- centrações corretas e com equipamen- tos adequados. c) Aumento ou incre- mento - admite-se que o patógeno já se encontre presente no local, porém que a sua ocorrência sobre as pragas seja tardia e, assim, normalmente, não se consiga evitar os danos nas plantas. Como o entomopatógeno já se adap- tou ao ambiente, existe grande proba- bilidade de sucesso no controle da praga quando se utiliza esse procedi- mento de controle. Assim, o patógeno necessita de um aumento ou incre- mento na sua densidade de inóculo, visando à formação de focos primários e de um potencial de inóculo capaz de antecipar as epizootias, antes que a praga atinja níveis de danos econômi- cos. Oferecem condições para ser usa- dos dentro dessa estratégia os fungos H. thompsonii para o ácaro da falsa- ferrugem e os “fungos amigos” que ocorrem nos pomares de citros. d) Conservação ou proteção - trata-se de uma estratégia das mais importantes e, quando bem conduzida, pode atin- gir resultados significativos na preser- vação do inóculo natural, contribuindo para a formação de focos primários da doença e posterior desencadeamento de epizootias. A conservação pode ser realizada pela manipulação do ambi- ente (escolha de variedades, espaça- mento, tratos culturais e cultivo míni- mo) e utilização de defensivos quími- Praga Ácaros Phyllocoptruta oleivora Brevipalpus phoenicis Panonychus citri Mosca das frutas Thephritidae Bicho furão Ecdytolopha aurantiana Cochonilhas Chrysomphalus spp. Coccus viridis Parlatoria spp. Orthezia praelonga Cigarrinhas Cigarrinhas da CVC Outras Cupins Pulgões Moscas-brancas Coleobrocas Patógeno Hirsutella thompsonii Verticillium lecanii Metarhizium anisopliae vírus de partícula livre Hirsutella thompsonii Entomphthorales Metarhizium anisopliae Bacillus thuringiensis Myiophagus Nectria e Myriangium Fusarium sp. Verticillium lecanii Aschersonia aleyrodis Fusarium sp. (=Atractium) Nectria e Myriangium Beauveria bassiana Colletotrichum gloesporioides Metarhizium anisopliae Verticillium lecanii Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Entomophthorales Beauveria bassiana Metarhizium anisopliae Beauveria bassiana Verticillium lecanii Entomophthorales Beauveria bassiana Aschersonia aleyrodis Metarhizium anisopliae Estratégia de emprego introdução inundativa e inoculativa; proteção introdução inundativa e inoculativa; proteção introdução inoculativa (C.B. clássico) incremento e proteção proteção introdução inundativa (solo) introdução inundativa proteção introdução inundativa e inoculativa; proteção introdução inundativa e inoculativa; proteção proteção introdução inundativa e inoculativa; proteção introdução inundativa e inoculativa; proteção proteção introdução inoculativa (iscas atrativas) introdução inoculativa proteção introdução inoculativa e inundativa proteção e introdução inoculativa introdução inundativa Tabela 1. Principais pragas dos citros, seus patógenos e estratégias de emprego.
  • 6. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 21- julho/agosto 2001 21 cos seletivos. Essa última técnica é uma das mais importantes dentro do esquema de preservação dos patógenos, e visa à utilização de agrotóxicos (acaricidas, inseticidas, fungicidas e herbicidas) e outros insumos (adubos foliares), seletivos para os patógenos. Os defensivos e insumos não-seletivos devem ser evitados, e os compatíveis devem fazer parte dos programas de con- dução da cultura, podendo, às ve- zes, ser misturados com o patóge- no. As estratégias de utilização de entomopatógenos em pomares de citros para as principais pragas da culturas podem ser observadas na Tabela 1. CONSIDERAÇÕES FINAIS A dificuldade de se quebrar o paradigma do uso do controle quí- mico em citros está no fato do citricultor desconhecer e de não acreditar no potencial de outras práticas, de cunho alternativo ou eco- lógico. É o próprio citricultor quem, usando técnicas inadequadas, torna o controle de pragas pouco eficaz nessa cultura. Estudos com vistas a empregar microrganismos e caldas fertiproteto- ras no sistema de produção são de grande importância para o controle sustentável das pragas e, sobretudo, para a redução dos custos de produção dessa cultura. A utilização de bioferti- lizantes ou de entomopatógenos vi- sando ao controle de uma praga deve, obrigatoriamente, fazer parte de um projeto de manejo ecológico, levando- se em conta o conhecimento das inte- rações desses produtos e de seus im- pactos sobre as relações trofobióticas dos organismos envolvidos (planta, pragas e inimigos naturais) no agroe- cossistema cítrico. BIBLIOGRAFIA Alves, S.B. (Coord.) Controle Mi- crobiano de Insetos. 2. ed. Piracica- ba: Fealq, 1998. 1163p. Alves, S.B.; Tamai, M. A.; Lopes, R. B.; Alves Jr, S.B. Utilização de entomo- patógenos na citricultura. In: Abreu Jr., H. de (Coord.) 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