1. GRAZ, John (1891-1980). Nascido em Genebra (Suíça) e falecido em São Paulo. Filho de um
professor de línguas e literatura (mestre, inclusive, de Sérgio Milliet), interessou-se pelas artes
visuais depois de por algum tempo ter estudado violino. Por volta de 1908 ingressou na Escola
de Belas Artes de Genebra, tornando-se aluno de Gilliard, Vernet e Edouard Ravel e colega de
dois jovens brasileiros - Antônio Gomide e sua irmã Regina Gomide, com quem se casaria
anos mais tarde. Em 1911, em Munique, foi aluno de Moos. Regressando à Suíça em 1913,
mais uma vez se matriculou na Escola de Belas Artes de Genebra, que cursou até 1915. Com
bolsa de estudos visita, por duas vezes, a Espanha, cuja paisagem irá marcá-lo, tal como irão
marcá-lo, estilisticamente, Cézanne e Ferdinand Hodler. De tais visitas à Espanha datam suas
primeiras pinturas importantes, duas delas, aliás, expostas na Semana de Arte Moderna em
1922.
Em 1920 Graz vem ao Brasil, onde já se encontrava Regina Gomide, com quem se casa em
julho do mesmo ano. Em artigo publicado em Papel e Tinta, em junho de 1920, escreve Ciro
Mendes:
- John Graz, reputado na Europa pelos seus admiráveis vitrais e pela moderníssima
composição de seus quadros é um elemento que a nossa capital devia aproveitar para a
definitiva formação de nossa cultura. As nossas igrejas precisam de vitrais artísticos e não dos
vitrais de bazar que têm, para vergonha de nossa cultura.
O artista tencionava passar apenas alguns meses no Brasil; ao contrário, foi-se deixando ficar,
e terminou por se radicar definitivamente em São Paulo, onde, a convite de Oswald de
Andrade, em fevereiro de 1922 participou com sete obras da mostra de artes plásticas da
Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal.
A partir de 1923, trabalhando em sintonia com o arquiteto russo Gregori Warchavchik, então
chegado ao Brasil, Graz vai se desincumbindo da decoração de bom número de mansões
paulistanas, para as quais desenha desde maçanetas e luminárias a afrescos, vitrais e móveis,
enquanto sua mulher Regina Gomide Graz se encarrega de almofadas a painéis e tapeçarias,
dentro do estilo Art Déco que então fazia sua aparição entre nós. Até aproximadamente 1940
continuaria produzindo móveis tubulares, feitos de canos metálicos e laminados de madeira,
que desenhava e fazia um a um; e ainda em 1969 prosseguia com decorações de interiores,
uma atividade que alternava com a da pintura pura, na qual - infelizmente - não seria tão bem
sucedido. É fato que realizou entre 1947 e 1980 numerosas individuais - em São Paulo,
Santos, Londrina e Recife -, mas não é menos verdade que, como pintor, não obteve nunca o
reconhecimento a que decerto faz jus.
John Graz trabalhou a figura humana de modo geral - em retratos e composições históricas, ou
em alegorias -, a paisagem e a vista citadina, a natureza-morta e a pintura de flores. Em
Puente de Ronda - Paisagem de Espanha, de 1920, hoje na Pinacoteca do Estado de São
Paulo, sente-se muito nítida a marca de Cézanne, na concepção do espaço e na riqueza da
estruturação; em Pastoral, do Palácio dos Bandeirantes, a superfície pictórica como que freme,
em modulações quase musicais, nas quais a forma e a cor se diluem sem se fragmentarem,
em estilizações de nítida conotação abstratizante. Na década seguinte, em composições como
Bahianas e Veleiros na série de guaches Sonho Grego, e em pinturas de temática religiosa
ou histórica (Luta do Brasil contra os Holandeses, 1931), permanecem resquícios da
estilização Art Déco, agora subordinada, a um maior realismo, a uma estruturação linear e
cromática mais definidas.
A Fundação Armando Álvares Penteado, em 1970, e o Museu de Arte de São Paulo, em 1974
e 1996, dedicaram-lhe exposições retrospectivas, e o Paço das Artes, também em São Paulo,
organizou em novembro de 1980 a mostra John Graz - Reminiscências do Modernismo.
Diana caçadora, tapeçaria em colaboração com Regina Gomide Graz, cerca de 1920;
0,80 X 1,50, coleção particular.