SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 18
SIMBOLISMO - PORTUGAL
1890-1915
Contexto Histórico
Até 1910 o regime era monárquico, passando
depois à República. Nesse ínterim, Portugal
passa por grave crise econômica e social.
Eugenio de Castro publica Oaristos, atestando
que as pessoas precisam muito mais de
condução pelas energias da alma do que por
imposição da matéria.
Características
Predomínio da emoção sobre a razão
Linguagem vaga e imprecisa
Realidade sugerida e não mais determinada
Sonoridade (musicalidade)
Cromatização através de palavras
Exploração do inconsciente
PRIMEIRA FASE (1890 – 1910)
Envolve escritores nefelibatas ou
decadentistas
SEGUNDA FASE (1910 – 1915)
Envolve escritores mais nacionalistas e
mais atuantes politicamente quanto à
realidade portuguesa.
EUGENIO DE CASTRO
Formado em Letras, lançou
a revista OS INSUBMISSOS
e BOÊMIA NOVA.
Responsável pela
instauração do Simbolismo
português. Teve duas fases:
uma simbolista de fato, outra
neoclássica.
Teus lábios de cinábrio, entreabre-os!
Da quermesse
O rumor amolece, esmaiece, esmorece...
Dê-me que eu beije os teus morenos e amenos
Peitos! Rolemos, Flor! à flor dos flóreos fenos...
Soam vesperais as Vésperas...
Uns com brilhos de alabastros,
Outros louros como nêsperas,
No céu pardo ardem os astros...
CAMILO PESSANHA
Iniciou carreira aos 18 anos (obra
Lúbricas). Formado em Direito, já
perdera o furor socialista dos jovens
de Coimbra. Voltava-se à
espiritualidade. Diz-se que
problemas familiares graves foram
os responsáveis por seu
definhamento e, assim, tal angústia
existência profunda refletiu-se em
suas obras.
A dor, deserto imenso,
Branco deserto imenso,
Resplandecente e imenso,
Foi um deslumbramento.
Todo o meu ser suspenso,
Não sinto já, não penso,
Pairo na luz, suspenso
Num doce esvaimento.
Ó morte, vem depressa,
Acorda, vem depressa,
Acode-me depressa,
Vem-me enxugar o suor,
Que o estertor começa.
É cumprir a promessa.
Já o sonho começa...
Tudo vermelho em flor...
ANTONIO NOBRE
Reprovou duas vezes o curso de Direito.
Não adaptando-se à vida acadêmica,
refugiou-se na “torre do Anto”, fugindo do
turbilhão da cidade e voltando-se à
infância e para si.
Dois anos depois, foi a Paris e formou-se
em Política. Amadureceu sua obra,
conheceu Eça de Queirós e começou a
apresentar os primeiros sintomas da
tuberculose.
Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio.
Molestias d'alma para as quaes não ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
Brasil
CRUZ E SOUZA
OBRAS PRINCIPAIS: Broquéis (1893) -
Missal (1893) - Evocações (1899) - Faróis
(1900) Últimos sonetos (1905)
A obra de Cruz e Sousa é a mais brasileira
de um movimento que foi, entre nós,
essencialmente europeu. Nela opera-se uma
tentativa de síntese entre formas de
expressão prestigiadas na Europa e o drama
espiritual de um homem atormentado social
e filosoficamente. O resultado passa, às
vezes, por poemas obscuros e verborrágicos
mas, na maioria dos casos, a densidade
lírica e dramática do "Cisne Negro" atinge um
nível só comparável ao dos grandes
simbolistas franceses. O primeiro aspecto
que percebemos em sua poética é a
linguagem renovadora.
No seus poemas, abundam substantivos comuns com iniciais maiúsculas e
palavras raras. A linguagem denotativa quase desaparece na quantidade de
símbolos, aliterações*, sinestesias*, esquisitas harmonias sonoras. Ao
contrário do texto parnasiano, o simbolista exige do leitor um esforço de
decifração, de "tradução" da realidade sugerida para a realidade concreta. A
todo momento, o poeta apela para a linguagem metafórica:
"O demônio sangrento da luxúria..."
"Punhais de frígidos sarcasmos..."
"Ó negra Monja triste, ó grande soberana." (A lua)
"As luas virgens dos teus seios brancos..."
"O chicote elétrico do vento..."
A musicalidade se dá através de aliterações. Sejam em v:
Vozes veladas, veludosas vozes,
volúpias dos violões, vozes veladas
vagam nos velhos vórtices* velozes
dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas*...
*Sinestesias: correspondência entre as diversas sensações, sons, olhares e cheiros. *Aliterações: repetição de
fonemas no início, meio ou fim das palavras. *Vórtices: redemoinho, turbilhão. *Vulcanizadas: ardentes, exaltadas.
TEMA DE CRUZ E SOUZA
A obsessão pela cor branca
O erotismo e sua sublimação
O sofrimento da condição negra
A espiritualização
Se caminhares para a direita, baterás e esbarrarás ansioso, aflito,
numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e
Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de
Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira. Se caminhares para a
frente, ainda nova parede, feita de Despeito e Impotências, tremenda,
de granito, broncamente se elevará do alto! Se caminhares, enfim,
para trás, há ainda uma derradeira parede, fechando tudo, fechando
tudo - horrível! - parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará n'um
frio espasmo de terror absoluto. (...) E as estranhas paredes hão de
subir - longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas,
silenciosas, até as Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente
alucinado e emparedado dentro do teu Sonho...
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor, da grande fé tranqüila.
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsia e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe esta glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio*.
O ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921)
Mineiro, passado quase toda a sua vida nas
cidades barrocas e decadentes da região
aurífera, Alphonsus de Guimarães sofreu as
influências ambientais dessas cidades,
povoadas apenas, no dizer de Roger Bastide,
"de sons e sinos, de velhas deslizando pelos
becos silenciosos, de vultos que se escondem
à sombra das muralhas. Cidades de brumas,
conhecendo as mesmas existências cinzentas
e os mesmos fantasmas noturnos: donzelas
solitárias, vestidas de luar." Sua poesia gira
em torno de pouco assuntos:
a morte da amada
a religiosidade litúrgica
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar
Entre brumas ao longe surge a aurora.
O hialino* orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol*.
A catedral ebúrnea* do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos*:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! (...)
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino dobra em lúgubres
responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre
Alphonsus!
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu
sonho
Afunda-se no caos do céu
medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres
responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre
Alphonsus!
Hialino: transparente, Arrebol: vermelhidão do nascer ou do
pôr do sol, Ebúrnea: de marfim, Responsos: versículos
rezados ou cantados.
Ilustrativo das tendências simbólicas, místicas e musicais de
Alphonsus é o seu poema A catedral:

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

O Realismo no Brasil
O Realismo no BrasilO Realismo no Brasil
O Realismo no Brasil
 
As origens da literatura portuguesa - Parte 1: Trovadorismo
As origens da literatura portuguesa - Parte 1: TrovadorismoAs origens da literatura portuguesa - Parte 1: Trovadorismo
As origens da literatura portuguesa - Parte 1: Trovadorismo
 
I Juca Pirama - Gonçalves Dias
I   Juca Pirama - Gonçalves DiasI   Juca Pirama - Gonçalves Dias
I Juca Pirama - Gonçalves Dias
 
Romantismo -slides (1)
Romantismo  -slides (1)Romantismo  -slides (1)
Romantismo -slides (1)
 
O texto literário
O texto literárioO texto literário
O texto literário
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
ROMANTISMO
ROMANTISMOROMANTISMO
ROMANTISMO
 
Poesia do Realismo
Poesia do RealismoPoesia do Realismo
Poesia do Realismo
 
O pre modernismo
O pre modernismoO pre modernismo
O pre modernismo
 
O que é simbolismo
O que é simbolismoO que é simbolismo
O que é simbolismo
 
Romantismo em Portugal
Romantismo em PortugalRomantismo em Portugal
Romantismo em Portugal
 
O romantismo da segunda geração
O romantismo da segunda geraçãoO romantismo da segunda geração
O romantismo da segunda geração
 
O realismo no Brasil
O realismo no BrasilO realismo no Brasil
O realismo no Brasil
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
3ª geração do romantismo no brasil
3ª geração do romantismo no brasil3ª geração do romantismo no brasil
3ª geração do romantismo no brasil
 
Arcadismo 2010
Arcadismo 2010Arcadismo 2010
Arcadismo 2010
 
Parnasianismo brasileiro
Parnasianismo brasileiroParnasianismo brasileiro
Parnasianismo brasileiro
 
O que é literatura?
O que é literatura?O que é literatura?
O que é literatura?
 
Realismo
RealismoRealismo
Realismo
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 

Semelhante a Simbolismo em Portugal 1890-1915

Simbolismo brasil(1)
Simbolismo brasil(1)Simbolismo brasil(1)
Simbolismo brasil(1)FACETEG - UPE
 
Baudelaire e mallarmé
Baudelaire e mallarméBaudelaire e mallarmé
Baudelaire e mallarméBeatrice Sadeh
 
Literatura simbolismo
Literatura   simbolismoLiteratura   simbolismo
Literatura simbolismojessica_wisni
 
As vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.pptAs vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.pptAllanPatrick22
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.pptAdilsonSevero
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...DanyelleRibeiro3
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.pptfranciscomoura710
 
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.pptSarahAkaida
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...Silvanasoares26
 
Romantismo 2014
Romantismo 2014Romantismo 2014
Romantismo 2014CrisBiagio
 

Semelhante a Simbolismo em Portugal 1890-1915 (20)

SIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptxSIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptx
 
Simbolismo brasil(1)
Simbolismo brasil(1)Simbolismo brasil(1)
Simbolismo brasil(1)
 
Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
 
Baudelaire e mallarmé
Baudelaire e mallarméBaudelaire e mallarmé
Baudelaire e mallarmé
 
Literatura simbolismo
Literatura   simbolismoLiteratura   simbolismo
Literatura simbolismo
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Simbolismo2
Simbolismo2Simbolismo2
Simbolismo2
 
As vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.pptAs vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.ppt
 
Simulado lit-prise 3 ok
Simulado lit-prise 3 okSimulado lit-prise 3 ok
Simulado lit-prise 3 ok
 
Espumas flutuantes
Espumas flutuantesEspumas flutuantes
Espumas flutuantes
 
Catulo E Ovídio
Catulo E OvídioCatulo E Ovídio
Catulo E Ovídio
 
O simbolismo
O simbolismoO simbolismo
O simbolismo
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
 
Simbolismo(1).pptx
Simbolismo(1).pptxSimbolismo(1).pptx
Simbolismo(1).pptx
 
Romantismo
Romantismo Romantismo
Romantismo
 
Romantismo 2014
Romantismo 2014Romantismo 2014
Romantismo 2014
 

Mais de Andrezza Cameski

Mais de Andrezza Cameski (6)

Humanismo
HumanismoHumanismo
Humanismo
 
Classicismo
ClassicismoClassicismo
Classicismo
 
Realismo naturalismo parnasianismo
Realismo naturalismo parnasianismoRealismo naturalismo parnasianismo
Realismo naturalismo parnasianismo
 
O pré modernismo
O pré modernismoO pré modernismo
O pré modernismo
 
Vanguardas europeias
Vanguardas europeiasVanguardas europeias
Vanguardas europeias
 
Trovadorismno
TrovadorismnoTrovadorismno
Trovadorismno
 

Último

A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamentalAntônia marta Silvestre da Silva
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 

Último (20)

A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 

Simbolismo em Portugal 1890-1915

  • 2. Contexto Histórico Até 1910 o regime era monárquico, passando depois à República. Nesse ínterim, Portugal passa por grave crise econômica e social. Eugenio de Castro publica Oaristos, atestando que as pessoas precisam muito mais de condução pelas energias da alma do que por imposição da matéria.
  • 3. Características Predomínio da emoção sobre a razão Linguagem vaga e imprecisa Realidade sugerida e não mais determinada Sonoridade (musicalidade) Cromatização através de palavras Exploração do inconsciente
  • 4. PRIMEIRA FASE (1890 – 1910) Envolve escritores nefelibatas ou decadentistas SEGUNDA FASE (1910 – 1915) Envolve escritores mais nacionalistas e mais atuantes politicamente quanto à realidade portuguesa.
  • 5. EUGENIO DE CASTRO Formado em Letras, lançou a revista OS INSUBMISSOS e BOÊMIA NOVA. Responsável pela instauração do Simbolismo português. Teve duas fases: uma simbolista de fato, outra neoclássica.
  • 6. Teus lábios de cinábrio, entreabre-os! Da quermesse O rumor amolece, esmaiece, esmorece... Dê-me que eu beije os teus morenos e amenos Peitos! Rolemos, Flor! à flor dos flóreos fenos... Soam vesperais as Vésperas... Uns com brilhos de alabastros, Outros louros como nêsperas, No céu pardo ardem os astros...
  • 7. CAMILO PESSANHA Iniciou carreira aos 18 anos (obra Lúbricas). Formado em Direito, já perdera o furor socialista dos jovens de Coimbra. Voltava-se à espiritualidade. Diz-se que problemas familiares graves foram os responsáveis por seu definhamento e, assim, tal angústia existência profunda refletiu-se em suas obras.
  • 8. A dor, deserto imenso, Branco deserto imenso, Resplandecente e imenso, Foi um deslumbramento. Todo o meu ser suspenso, Não sinto já, não penso, Pairo na luz, suspenso Num doce esvaimento. Ó morte, vem depressa, Acorda, vem depressa, Acode-me depressa, Vem-me enxugar o suor, Que o estertor começa. É cumprir a promessa. Já o sonho começa... Tudo vermelho em flor...
  • 9. ANTONIO NOBRE Reprovou duas vezes o curso de Direito. Não adaptando-se à vida acadêmica, refugiou-se na “torre do Anto”, fugindo do turbilhão da cidade e voltando-se à infância e para si. Dois anos depois, foi a Paris e formou-se em Política. Amadureceu sua obra, conheceu Eça de Queirós e começou a apresentar os primeiros sintomas da tuberculose.
  • 10. Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha! Nem mesmo sei dizer que doença era a minha, Porque eram todas, eu sei lá! desde o odio ao tedio. Molestias d'alma para as quaes não ha remedio. Nada compunha! Nada, nada. Que tormento! Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento: No entanto, ás vezes, os meus nervos gastos, velhos, Convulsionavam-nos relampagos vermelhos, Que eram, bem o sentia, instantes de Camões! Sei de cór e salteado as minhas afflicções:
  • 12. CRUZ E SOUZA OBRAS PRINCIPAIS: Broquéis (1893) - Missal (1893) - Evocações (1899) - Faróis (1900) Últimos sonetos (1905) A obra de Cruz e Sousa é a mais brasileira de um movimento que foi, entre nós, essencialmente europeu. Nela opera-se uma tentativa de síntese entre formas de expressão prestigiadas na Europa e o drama espiritual de um homem atormentado social e filosoficamente. O resultado passa, às vezes, por poemas obscuros e verborrágicos mas, na maioria dos casos, a densidade lírica e dramática do "Cisne Negro" atinge um nível só comparável ao dos grandes simbolistas franceses. O primeiro aspecto que percebemos em sua poética é a linguagem renovadora.
  • 13. No seus poemas, abundam substantivos comuns com iniciais maiúsculas e palavras raras. A linguagem denotativa quase desaparece na quantidade de símbolos, aliterações*, sinestesias*, esquisitas harmonias sonoras. Ao contrário do texto parnasiano, o simbolista exige do leitor um esforço de decifração, de "tradução" da realidade sugerida para a realidade concreta. A todo momento, o poeta apela para a linguagem metafórica: "O demônio sangrento da luxúria..." "Punhais de frígidos sarcasmos..." "Ó negra Monja triste, ó grande soberana." (A lua) "As luas virgens dos teus seios brancos..." "O chicote elétrico do vento..." A musicalidade se dá através de aliterações. Sejam em v: Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas vagam nos velhos vórtices* velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas*... *Sinestesias: correspondência entre as diversas sensações, sons, olhares e cheiros. *Aliterações: repetição de fonemas no início, meio ou fim das palavras. *Vórtices: redemoinho, turbilhão. *Vulcanizadas: ardentes, exaltadas.
  • 14. TEMA DE CRUZ E SOUZA A obsessão pela cor branca O erotismo e sua sublimação O sofrimento da condição negra A espiritualização Se caminhares para a direita, baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira. Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeito e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará do alto! Se caminhares, enfim, para trás, há ainda uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo - horrível! - parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará n'um frio espasmo de terror absoluto. (...) E as estranhas paredes hão de subir - longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até as Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho...
  • 15. O ser que é ser e que jamais vacila Nas guerras imortais entra sem susto, Leva consigo este brasão augusto Do grande amor, da grande fé tranqüila. Os abismos carnais da triste argila Ele os vence sem ânsia e sem custo... Fica sereno, num sorriso justo, Enquanto tudo em derredor oscila. Ondas interiores de grandeza Dão-lhe esta glória em frente à Natureza, Esse esplendor, todo esse largo eflúvio*. O ser que é ser transforma tudo em flores... E para ironizar as próprias dores Canta por entre as águas do Dilúvio!
  • 16. ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921) Mineiro, passado quase toda a sua vida nas cidades barrocas e decadentes da região aurífera, Alphonsus de Guimarães sofreu as influências ambientais dessas cidades, povoadas apenas, no dizer de Roger Bastide, "de sons e sinos, de velhas deslizando pelos becos silenciosos, de vultos que se escondem à sombra das muralhas. Cidades de brumas, conhecendo as mesmas existências cinzentas e os mesmos fantasmas noturnos: donzelas solitárias, vestidas de luar." Sua poesia gira em torno de pouco assuntos: a morte da amada a religiosidade litúrgica
  • 17. Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar
  • 18. Entre brumas ao longe surge a aurora. O hialino* orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol*. A catedral ebúrnea* do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos*: Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! (...) Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a lua a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu tristonho Toda branca de luar. E o sino dobra em lúgubres responsos: Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. E a catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino geme em lúgubres responsos: Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! Hialino: transparente, Arrebol: vermelhidão do nascer ou do pôr do sol, Ebúrnea: de marfim, Responsos: versículos rezados ou cantados. Ilustrativo das tendências simbólicas, místicas e musicais de Alphonsus é o seu poema A catedral: