SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
L'après-midi d'un faune Baudelaire e Mallarmé
Virgílio Costa no prefácio a Poemas traduzidos de Baudelaire e Mallarmé, diz:
"Toma com cuidado este livro em tuas mãos, leitor. Nele encontrarás versos de três
grandes poetas, dois que os escreveram e um que os traduziu; três verdadeiros poetas.
Nele lerás algumas das mais belas traduções feitas em nossa língua, nossa amada
língua portuguesa. Os dois poetas traduzidos, Baudelaire e Mallarmé, foram homens
profundamente infelizes."
Acrescento um trecho em que fala especificamente de Mallarmé:
"Stéphane Mallarmé nasceu 21 anos depois de Baudelaire, em 1842. Pequeno
funcionário, professor de inglês na província, tinha como deuses Edgar Allan Poe e
Baudelaire; transferido para Paris, nas horas vagas editava uma revista 'da família e
do mundo': ser doméstico, 'homem do mundo', de um pequeno mundo que era a
'sociedade' da classe média nascente de então. Aos domingos ia aos concertos.
Delicado, enviava presentes acompanhado de pequenas quadras, pequenas obras-
primas. Defrontou-se com o Nada. E atrás daquela vida modesta e caseira empreendia
uma incrível viagem pelo interior da linguagem. Pois esta poderia explicar o mundo; e
trabalhar um verso até torná-lo diamante (o precioso e raro verso mallarméano) era
caminhar para a resposta. Ainda jovem perdera a fé, mas ainda jovem tivera um
sonho, o de escrever não um livro, mas o livro, o livro definitivo, para o qual se
prepara a vida inteira, para o qual seria necessário quase um culto (livro que não iria
nunca escrever...). Sua obra serão pequenos repousos, por assim dizer, ensaios, da
obra ambicionada. Às terças-feiras reunia em sua casa - ficava de pé, fumando, os
outros sentavam-se ao redor -, mais para ouvir que para falar, gente como Renoir,
Manet, Whistler, Heredia, ou os jovens Gide, Claudel, Valéry, Debussy, às vezes
Oscar Wilde. Enfim se aposenta, mas não tem coragem nem tempo para por a obra no
papel. Morrerá em breve. Lutou a vida toda por uma independência financeira que o
liberasse de dar aulas para se dedicar à literatura ('os miseráveis que me pagam no
colégio saquearam minhas belas horas'); não o conseguiu. A mínima obra poética que
deixa, parte improvisos, parte trabalhadíssima, é haurida em perfeição. Difícil poesia
mallarméana; delicado, difícil, doméstico Mallarmé. Todos os dias, ao voltar do Liceu
para casa, atravessava uma ponte sobre o Sena. Todos os dias, escreveu, tinha vontade
de se jogar no rio, e não se jogava.
Pobre Mallarmé. O verso o salvou."
A sesta de um fauno
(Mallarmé)
Écloga
O fauno
Estas ninfas, eu quero perpetuar.
Tão leve
O seu claro rubor que um volteio descreve
No ar dormente, denso de sono.
Amei um sonho?
À dúvida, montão de antiga noite; ponho
Fim, ao ver deste bosque a sutil ramaria
Provar-me que eu, na solidão, me oferecia
Em triunfo, ai de mim! a falta ideal de rosas.
Reflitamos...
serão mulheres fabulosas
Que à exaltação dos teus sentidos atribuis?
Fauno, a ilusão se escapa dos olhos azuis
E frios, como fonte em prantos, da mais casta:
Toda suspiros, a outra, achas que ela contrasta
Qual brisa matinal quente no teu tosão?
Mas não! no lasso espasmo e na sufocação
Do calor, que a manhã combate, não murmura
Água se não a verte a minha flauta pura
De acordes irrorando o bosque; e o único vento
Pronto a exalar pelos dois tubos seu alento
Antes que em chuva árida espalhe os sons em fuga
É, no horizonte que não frisa uma só ruga,
O visível, sereno sopro artificial
Da inspiração, que ao céu retorna.
Ó pantanal
Siciliano, cuja orla sossegada e vasta,
Rival dos sóis, a minha vaidade devasta,
Tácito, num florir de mil centelhas, CONTA:
"Que eu, um caniço aqui talhando, a flauta pronta,
Feita com arte, eis o ouro glauco dos relvedos
Distantes dedicando a fontes seus vinhedos,
Ondeia uma brancura animal em repouso:
Ao lento preludiar do caniço, o gracioso
Voo de cisnes, não! de náiades se assusta,
Foge ou mergulha..."
Tudo ferve na hora adusta
Sem que se possa ver onde se esconderá
Tanto himeneu, cobiça de quem busca o lá:
Então despertarei, nos primeiros fervores,
Hirto e só, sob uma onda antiga de esplendores,
Lírios! e a um deles igual, a mesma ingenuidade.
Não o doce nada que de seus lábios se evade,
O beijo suave que perfídias assegura,
Meu peito, antes intacto, atesta a mordedura
Misteriosa, devida a algum augusto dente;
Mas basta! arcano tal busca por confidente
O cálamo que sob o azul ressoa, quando
Da face para si a turbação desviando,
Sonha, num solo longo, ir assim distraindo
A beleza em redor, a ela e a nós confundindo
Num engano que o nosso canto dissimula;
E fazer, no tom em que o amor se modula
Desvanecer-se do habitual sonho, de lado
Ou de costas, ao meu olhar semicerrado,
Uma sonora, vã e monótona linha.
Busca, pois, instrumento das fugas, maligna
Siringe, reflorir nos lagos, me aguardando!
Fero do meu rumor, continuarei falando
Dessas deusas; e, por idólatras pinturas,
Às suas sombras hei de arrancar as cinturas:
Assim das uvas ao sorver a claridade,
Para a mágoa banir fingindo alacridade,
Rindo ergo ao céu estivo o meu cacho vazio:
Soprando as peles luminosas me inebrio,
Até o anoitecer olhando através delas.
Ninfas, ressoprarei outras LEMBRANÇAS belas:
"Meu olhar dardejava, entre os juncos, um bando
De colos imortais seu ardor mergulhando
N'água, com gritos de ira até o céu da floresta;
No banho imergem-se as cabeleiras em festa
Entre frêmitos e brilhos, Ó pedrarias!
Corro e duas surpreendo enlaça das (pungia-as
O lânguido sabor do mal de serem duas),
Sonolentas, os braços soltos... e assim nuas
Eu as rapto, sem as desenlaçar, e em meio
A um maciço, da fútil sombra odiado, cheio
De rosas cujo aroma o sol ardendo inala,
A nossa festa ao dia incendido se iguala. "
Adoro a cólera das virgens, ó delícia
Feroz do sacro fardo nu que com malícia
Foge ao meu lábio em fogo ao absorver-lhe, tal
Um relâmpago, o íntimo frêmito carnal:
Dos pés da desumana ao coração da tímida
Entregando de vez sua inocência, úmida
De lágrimas e de menos tristes vapores.
"Meu crime foi, feliz de vencer os temores
Fingidos, apartar o tufo desgrenhado
De beijos, que os deuses guardavam bem trançado:
Pois apenas fui ocultar um riso ardente
Entre as pregas sutis de uma delas (somente
Com um dedo a outro retendo, em seu candor de pluma,
Tingida do fervor que acende a irmã, nenhuma
Vergonha enrubescendo a ingênua, ao ver agrados)
De meus braços, por vagas mortes extenuados,
Aquela presa, eterna ingrata, se livrava,
Sem pena do soluço em que eu ébrio ofegava"
Tanto faz! que ao prazer outras me arrastem pelos
Chifres atados às pontas dos seus cabelos:
Sabes, minha paixão, que purpúrea e madura
Cada romã explode e de abelhas murmura;
E o nosso sangue, a quem o atrai, se dá sem pejo
E flui com todo o enxame eterno do desejo.
Na hora em que o bosque de ouro e de cinzas se esmalta
Na folhagem extinta uma festa se exalta:
Etna! é sobre o teu chão, visitado por Vênus
Pousando em tua lava os brancos pés ingênuos,
Quando ronca um som triste ou a chama se acalma.
Agarro a deusa!
Ah, certo é o castigo...
Oh, não! a alma
De palavras vacante e este corpo indolente
Sucumbem ao torpor do meio-dia ardente:
Quero agora dormir, a blasfêmia olvidar,
E na areia jazendo, abrir a boca ao ar,
Do astro do vinho haurindo os raios eficazes!
Ninfas, adeus; vou ver vossas sombras fugazes.
Tenho particular afeição ao poema que agora trago. Contribuiu não apenas para
mudar a História, diretamente, da Poesia e da Música e, indiretamente, da dança. Sua
própria criação marca definitivamente a Poesia. O convívio com seus versos e com
Mallarmé leva Debussy a escrever L'après-midi d'un faune/ A tarde (ou, como o
prefere Dante Milano, a sesta ) de um fauno, que influenciaria Nijinsky a criar o balé
do mesmo nome, revolucionando definitivamente a dança, no começo do nosso
século.
Aprendi muito sobre isso com uma amiga, bailarina, coreógrafa e professora-mestra
no Instituto de Arte da UERJ, Maria Lúcia Galvão. O trabalho de orientação de sua
dissertação, na UFF, foi um processo de aprendizado talvez maior para mim que para
ela. Agradeço-lhe citando alguns trechos de O Gesto e a Vitalidade da Expressão ,
que espero ver em livro, para dar uma ideia das mudanças que este poema significou e
propiciou:
"O mosaico criado por Nijinski, principalmente em: L'Après-midi d'un Faune - A
Tarde de um Fauno - com música de Claude Debussy e cenários e figurinos de Leon
Bakst - e Le Sacre du Printemps - A Sagração da Primavera - com música de
Stravinsky e cenários e figurinos de Nicolas Roerich - foi de importância
incontestável à criação de uma nova era da Arte do Movimento. Nijinski, como
Stravinsky na música, Picasso nas artes plásticas e Mallarmé na Literatura, rompe
com princípios que aprisionam o ato criador. Suas coreografias revelam o inusitado e
um novo rumo na construção técnica e cênica da Dança. Se antecipava a formulação
da Incerteza, corporificava buscas e tendências revolucionárias das artes de seu
tempo."
(...)
"O pintor Odilon Redon, em carta dirigida a Diaghilev e publicada no LE FIGARO,
lembra Mallarmé, para melhor aplaudir Nijinski:
Muitas vezes, uma grande alegria é acompanhada de uma grande dor; ao prazer que
ontem me foi oferecido, eu acrescento a pena de não ter visto ontem, conosco, o meu
ilustre amigo Stéphane Mallarmé. Melhor do que qualquer outro teria apreciado a
admirável evocação do seu espírito. Não creio que no campo da arte irreal se possa
dar com mais requinte uma das características de sua arte (REDON apud
SASPORTES: 1983, 51)."
Em seu artigo, Redon recorda antiga conversa com o poeta Mallarmé, que sempre
levantava críticas às coreografias e às mímicas dos balés da sua época. Segundo ele,
teria sido muito grande a alegria do poeta ao ver aparecer, sobre o friso vivo, o
verdadeiro sonho do seu Fauno e suas quimeras levadas sobre as ondas ligeiras da
música de Debussy, tornadas sensíveis graças à plástica de um Nijinski e à ardente cor
de um Bakst.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A poesia de cláudio manuel da costa
A poesia de cláudio manuel da costaA poesia de cláudio manuel da costa
A poesia de cláudio manuel da costama.no.el.ne.ves
 
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de AzevedoSlide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedoisaac88anjos
 
Análise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedo
Análise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedoAnálise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedo
Análise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedoma.no.el.ne.ves
 
Antologia poética
Antologia poéticaAntologia poética
Antologia poéticagustavogeo
 
A poesia de tomás antônio gonzaga
A poesia de tomás antônio gonzagaA poesia de tomás antônio gonzaga
A poesia de tomás antônio gonzagama.no.el.ne.ves
 
Bocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros PoemasBocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros PoemasFlávio Mello
 
Antologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de MoraesAntologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de MoraesCristiane Franz
 
Cap08 arcadismo
Cap08 arcadismoCap08 arcadismo
Cap08 arcadismowhybells
 
Bocage a morte de dona inês
Bocage   a morte de dona inêsBocage   a morte de dona inês
Bocage a morte de dona inêsAriovaldo Cunha
 
Poemas de Bocage
Poemas de Bocage Poemas de Bocage
Poemas de Bocage agnes2012
 
Arcadismo em portugal e no brasil.
Arcadismo em portugal e no brasil.Arcadismo em portugal e no brasil.
Arcadismo em portugal e no brasil.Ajudar Pessoas
 
Carlos Drummond de Andrade A rosa do povo
Carlos Drummond de Andrade  A rosa do povoCarlos Drummond de Andrade  A rosa do povo
Carlos Drummond de Andrade A rosa do povoZanah
 
Terceira geração da poesia romântica
Terceira geração da poesia românticaTerceira geração da poesia romântica
Terceira geração da poesia românticama.no.el.ne.ves
 

Mais procurados (20)

A poesia de cláudio manuel da costa
A poesia de cláudio manuel da costaA poesia de cláudio manuel da costa
A poesia de cláudio manuel da costa
 
Mestres da poesia
Mestres da poesiaMestres da poesia
Mestres da poesia
 
Espumas flutuantes
Espumas flutuantesEspumas flutuantes
Espumas flutuantes
 
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de AzevedoSlide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
 
Análise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedo
Análise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedoAnálise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedo
Análise de lira dos vinte anos, de álvares de azevedo
 
Álvares de Azevedo - poemas
Álvares de Azevedo - poemasÁlvares de Azevedo - poemas
Álvares de Azevedo - poemas
 
Antologia poética
Antologia poéticaAntologia poética
Antologia poética
 
Marilia De Dirceu
Marilia De DirceuMarilia De Dirceu
Marilia De Dirceu
 
A poesia de tomás antônio gonzaga
A poesia de tomás antônio gonzagaA poesia de tomás antônio gonzaga
A poesia de tomás antônio gonzaga
 
Bocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros PoemasBocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros Poemas
 
Antologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de MoraesAntologia Poética de Vinicius de Moraes
Antologia Poética de Vinicius de Moraes
 
Literatura Piauiense
Literatura PiauienseLiteratura Piauiense
Literatura Piauiense
 
Lírica camoniana
Lírica camonianaLírica camoniana
Lírica camoniana
 
Arcadismo
ArcadismoArcadismo
Arcadismo
 
Cap08 arcadismo
Cap08 arcadismoCap08 arcadismo
Cap08 arcadismo
 
Bocage a morte de dona inês
Bocage   a morte de dona inêsBocage   a morte de dona inês
Bocage a morte de dona inês
 
Poemas de Bocage
Poemas de Bocage Poemas de Bocage
Poemas de Bocage
 
Arcadismo em portugal e no brasil.
Arcadismo em portugal e no brasil.Arcadismo em portugal e no brasil.
Arcadismo em portugal e no brasil.
 
Carlos Drummond de Andrade A rosa do povo
Carlos Drummond de Andrade  A rosa do povoCarlos Drummond de Andrade  A rosa do povo
Carlos Drummond de Andrade A rosa do povo
 
Terceira geração da poesia romântica
Terceira geração da poesia românticaTerceira geração da poesia romântica
Terceira geração da poesia romântica
 

Semelhante a A influência de Mallarmé na poesia, música e dança

As vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.pptAs vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.pptAllanPatrick22
 
PARNASIANISMO-AUTORES1.ppt
PARNASIANISMO-AUTORES1.pptPARNASIANISMO-AUTORES1.ppt
PARNASIANISMO-AUTORES1.pptRildeniceSantos
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.pptAdilsonSevero
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...DanyelleRibeiro3
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.pptfranciscomoura710
 
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.pptSarahAkaida
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...Silvanasoares26
 
Simbolismo portugal e brasil
Simbolismo   portugal e brasilSimbolismo   portugal e brasil
Simbolismo portugal e brasilAndrezza Cameski
 
Segunda geração da poesia romântica
Segunda geração da poesia românticaSegunda geração da poesia romântica
Segunda geração da poesia românticama.no.el.ne.ves
 
Poesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileiraPoesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileiraSeduc/AM
 
Primeira geração da poesia romântica
Primeira geração da poesia românticaPrimeira geração da poesia romântica
Primeira geração da poesia românticama.no.el.ne.ves
 

Semelhante a A influência de Mallarmé na poesia, música e dança (20)

SIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptxSIMBOLISMO.pptx
SIMBOLISMO.pptx
 
Parnasianismo
ParnasianismoParnasianismo
Parnasianismo
 
As vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.pptAs vanguardas europeias.ppt
As vanguardas europeias.ppt
 
PARNASIANISMO-AUTORES1.ppt
PARNASIANISMO-AUTORES1.pptPARNASIANISMO-AUTORES1.ppt
PARNASIANISMO-AUTORES1.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDESNovo.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES: IMPRESSIONISMO, SURREALISMO, DADAÍSMO, EXPRESSIO...
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS_E MOVIMENTOSSLIDES.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.pptVANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
VANGUARDAS EUROPEIAS__________SLIDES.ppt
 
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
VANGUARDAS EUROPEIAS_SLIDES cubismo, expressionismo, dadaismo...
 
Simbolismo portugal e brasil
Simbolismo   portugal e brasilSimbolismo   portugal e brasil
Simbolismo portugal e brasil
 
Segunda geração da poesia romântica
Segunda geração da poesia românticaSegunda geração da poesia romântica
Segunda geração da poesia romântica
 
Poesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileiraPoesia romântica brasileira
Poesia romântica brasileira
 
Arcadismo
ArcadismoArcadismo
Arcadismo
 
Primeira geração da poesia romântica
Primeira geração da poesia românticaPrimeira geração da poesia romântica
Primeira geração da poesia romântica
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 

Último

Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioDomingasMariaRomao
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdfBlendaLima1
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médiorosenilrucks
 

Último (20)

Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 

A influência de Mallarmé na poesia, música e dança

  • 1. L'après-midi d'un faune Baudelaire e Mallarmé Virgílio Costa no prefácio a Poemas traduzidos de Baudelaire e Mallarmé, diz: "Toma com cuidado este livro em tuas mãos, leitor. Nele encontrarás versos de três grandes poetas, dois que os escreveram e um que os traduziu; três verdadeiros poetas. Nele lerás algumas das mais belas traduções feitas em nossa língua, nossa amada língua portuguesa. Os dois poetas traduzidos, Baudelaire e Mallarmé, foram homens profundamente infelizes." Acrescento um trecho em que fala especificamente de Mallarmé: "Stéphane Mallarmé nasceu 21 anos depois de Baudelaire, em 1842. Pequeno funcionário, professor de inglês na província, tinha como deuses Edgar Allan Poe e Baudelaire; transferido para Paris, nas horas vagas editava uma revista 'da família e do mundo': ser doméstico, 'homem do mundo', de um pequeno mundo que era a 'sociedade' da classe média nascente de então. Aos domingos ia aos concertos. Delicado, enviava presentes acompanhado de pequenas quadras, pequenas obras- primas. Defrontou-se com o Nada. E atrás daquela vida modesta e caseira empreendia uma incrível viagem pelo interior da linguagem. Pois esta poderia explicar o mundo; e trabalhar um verso até torná-lo diamante (o precioso e raro verso mallarméano) era caminhar para a resposta. Ainda jovem perdera a fé, mas ainda jovem tivera um sonho, o de escrever não um livro, mas o livro, o livro definitivo, para o qual se prepara a vida inteira, para o qual seria necessário quase um culto (livro que não iria nunca escrever...). Sua obra serão pequenos repousos, por assim dizer, ensaios, da
  • 2. obra ambicionada. Às terças-feiras reunia em sua casa - ficava de pé, fumando, os outros sentavam-se ao redor -, mais para ouvir que para falar, gente como Renoir, Manet, Whistler, Heredia, ou os jovens Gide, Claudel, Valéry, Debussy, às vezes Oscar Wilde. Enfim se aposenta, mas não tem coragem nem tempo para por a obra no papel. Morrerá em breve. Lutou a vida toda por uma independência financeira que o liberasse de dar aulas para se dedicar à literatura ('os miseráveis que me pagam no colégio saquearam minhas belas horas'); não o conseguiu. A mínima obra poética que deixa, parte improvisos, parte trabalhadíssima, é haurida em perfeição. Difícil poesia mallarméana; delicado, difícil, doméstico Mallarmé. Todos os dias, ao voltar do Liceu para casa, atravessava uma ponte sobre o Sena. Todos os dias, escreveu, tinha vontade de se jogar no rio, e não se jogava. Pobre Mallarmé. O verso o salvou." A sesta de um fauno (Mallarmé) Écloga O fauno Estas ninfas, eu quero perpetuar. Tão leve
  • 3. O seu claro rubor que um volteio descreve No ar dormente, denso de sono. Amei um sonho? À dúvida, montão de antiga noite; ponho Fim, ao ver deste bosque a sutil ramaria Provar-me que eu, na solidão, me oferecia Em triunfo, ai de mim! a falta ideal de rosas. Reflitamos... serão mulheres fabulosas Que à exaltação dos teus sentidos atribuis? Fauno, a ilusão se escapa dos olhos azuis E frios, como fonte em prantos, da mais casta: Toda suspiros, a outra, achas que ela contrasta Qual brisa matinal quente no teu tosão? Mas não! no lasso espasmo e na sufocação Do calor, que a manhã combate, não murmura Água se não a verte a minha flauta pura De acordes irrorando o bosque; e o único vento Pronto a exalar pelos dois tubos seu alento Antes que em chuva árida espalhe os sons em fuga É, no horizonte que não frisa uma só ruga, O visível, sereno sopro artificial Da inspiração, que ao céu retorna. Ó pantanal Siciliano, cuja orla sossegada e vasta, Rival dos sóis, a minha vaidade devasta, Tácito, num florir de mil centelhas, CONTA: "Que eu, um caniço aqui talhando, a flauta pronta, Feita com arte, eis o ouro glauco dos relvedos Distantes dedicando a fontes seus vinhedos, Ondeia uma brancura animal em repouso: Ao lento preludiar do caniço, o gracioso Voo de cisnes, não! de náiades se assusta, Foge ou mergulha..." Tudo ferve na hora adusta
  • 4. Sem que se possa ver onde se esconderá Tanto himeneu, cobiça de quem busca o lá: Então despertarei, nos primeiros fervores, Hirto e só, sob uma onda antiga de esplendores, Lírios! e a um deles igual, a mesma ingenuidade. Não o doce nada que de seus lábios se evade, O beijo suave que perfídias assegura, Meu peito, antes intacto, atesta a mordedura Misteriosa, devida a algum augusto dente; Mas basta! arcano tal busca por confidente O cálamo que sob o azul ressoa, quando Da face para si a turbação desviando, Sonha, num solo longo, ir assim distraindo A beleza em redor, a ela e a nós confundindo Num engano que o nosso canto dissimula; E fazer, no tom em que o amor se modula Desvanecer-se do habitual sonho, de lado Ou de costas, ao meu olhar semicerrado, Uma sonora, vã e monótona linha. Busca, pois, instrumento das fugas, maligna Siringe, reflorir nos lagos, me aguardando! Fero do meu rumor, continuarei falando Dessas deusas; e, por idólatras pinturas, Às suas sombras hei de arrancar as cinturas: Assim das uvas ao sorver a claridade, Para a mágoa banir fingindo alacridade, Rindo ergo ao céu estivo o meu cacho vazio: Soprando as peles luminosas me inebrio, Até o anoitecer olhando através delas. Ninfas, ressoprarei outras LEMBRANÇAS belas: "Meu olhar dardejava, entre os juncos, um bando De colos imortais seu ardor mergulhando N'água, com gritos de ira até o céu da floresta; No banho imergem-se as cabeleiras em festa Entre frêmitos e brilhos, Ó pedrarias! Corro e duas surpreendo enlaça das (pungia-as O lânguido sabor do mal de serem duas), Sonolentas, os braços soltos... e assim nuas Eu as rapto, sem as desenlaçar, e em meio
  • 5. A um maciço, da fútil sombra odiado, cheio De rosas cujo aroma o sol ardendo inala, A nossa festa ao dia incendido se iguala. " Adoro a cólera das virgens, ó delícia Feroz do sacro fardo nu que com malícia Foge ao meu lábio em fogo ao absorver-lhe, tal Um relâmpago, o íntimo frêmito carnal: Dos pés da desumana ao coração da tímida Entregando de vez sua inocência, úmida De lágrimas e de menos tristes vapores. "Meu crime foi, feliz de vencer os temores Fingidos, apartar o tufo desgrenhado De beijos, que os deuses guardavam bem trançado: Pois apenas fui ocultar um riso ardente Entre as pregas sutis de uma delas (somente Com um dedo a outro retendo, em seu candor de pluma, Tingida do fervor que acende a irmã, nenhuma Vergonha enrubescendo a ingênua, ao ver agrados) De meus braços, por vagas mortes extenuados, Aquela presa, eterna ingrata, se livrava, Sem pena do soluço em que eu ébrio ofegava" Tanto faz! que ao prazer outras me arrastem pelos Chifres atados às pontas dos seus cabelos: Sabes, minha paixão, que purpúrea e madura Cada romã explode e de abelhas murmura; E o nosso sangue, a quem o atrai, se dá sem pejo E flui com todo o enxame eterno do desejo. Na hora em que o bosque de ouro e de cinzas se esmalta Na folhagem extinta uma festa se exalta: Etna! é sobre o teu chão, visitado por Vênus Pousando em tua lava os brancos pés ingênuos, Quando ronca um som triste ou a chama se acalma. Agarro a deusa! Ah, certo é o castigo... Oh, não! a alma De palavras vacante e este corpo indolente Sucumbem ao torpor do meio-dia ardente: Quero agora dormir, a blasfêmia olvidar,
  • 6. E na areia jazendo, abrir a boca ao ar, Do astro do vinho haurindo os raios eficazes! Ninfas, adeus; vou ver vossas sombras fugazes. Tenho particular afeição ao poema que agora trago. Contribuiu não apenas para mudar a História, diretamente, da Poesia e da Música e, indiretamente, da dança. Sua própria criação marca definitivamente a Poesia. O convívio com seus versos e com Mallarmé leva Debussy a escrever L'après-midi d'un faune/ A tarde (ou, como o prefere Dante Milano, a sesta ) de um fauno, que influenciaria Nijinsky a criar o balé do mesmo nome, revolucionando definitivamente a dança, no começo do nosso século. Aprendi muito sobre isso com uma amiga, bailarina, coreógrafa e professora-mestra no Instituto de Arte da UERJ, Maria Lúcia Galvão. O trabalho de orientação de sua dissertação, na UFF, foi um processo de aprendizado talvez maior para mim que para ela. Agradeço-lhe citando alguns trechos de O Gesto e a Vitalidade da Expressão , que espero ver em livro, para dar uma ideia das mudanças que este poema significou e propiciou: "O mosaico criado por Nijinski, principalmente em: L'Après-midi d'un Faune - A Tarde de um Fauno - com música de Claude Debussy e cenários e figurinos de Leon Bakst - e Le Sacre du Printemps - A Sagração da Primavera - com música de Stravinsky e cenários e figurinos de Nicolas Roerich - foi de importância incontestável à criação de uma nova era da Arte do Movimento. Nijinski, como Stravinsky na música, Picasso nas artes plásticas e Mallarmé na Literatura, rompe com princípios que aprisionam o ato criador. Suas coreografias revelam o inusitado e um novo rumo na construção técnica e cênica da Dança. Se antecipava a formulação da Incerteza, corporificava buscas e tendências revolucionárias das artes de seu tempo." (...) "O pintor Odilon Redon, em carta dirigida a Diaghilev e publicada no LE FIGARO, lembra Mallarmé, para melhor aplaudir Nijinski:
  • 7. Muitas vezes, uma grande alegria é acompanhada de uma grande dor; ao prazer que ontem me foi oferecido, eu acrescento a pena de não ter visto ontem, conosco, o meu ilustre amigo Stéphane Mallarmé. Melhor do que qualquer outro teria apreciado a admirável evocação do seu espírito. Não creio que no campo da arte irreal se possa dar com mais requinte uma das características de sua arte (REDON apud SASPORTES: 1983, 51)." Em seu artigo, Redon recorda antiga conversa com o poeta Mallarmé, que sempre levantava críticas às coreografias e às mímicas dos balés da sua época. Segundo ele, teria sido muito grande a alegria do poeta ao ver aparecer, sobre o friso vivo, o verdadeiro sonho do seu Fauno e suas quimeras levadas sobre as ondas ligeiras da música de Debussy, tornadas sensíveis graças à plástica de um Nijinski e à ardente cor de um Bakst.