20. CANTO I
Depois do Concílio dos Deuses, a armada de Vasco da Gama
chega a Moçambique onde pára para se abastecer. Aí recebe a bordo da
nau alguns Mouros da Ilha. O Régulo, isto é, o chefe da Ilha, é recebido
por Vasco da Gama.
O Mouro, quando verifica que os Portugueses eram Cristãos,
inspirado por Baco, resolve destruí-los. Quando Vasco da Gama
desembarca na ilha‚ é atacado traiçoeiramente, mas com a ajuda dos
marinheiros portugueses consegue vencer os mouros. Após o triunfo,
Vasco da Gama recebe a bordo um piloto, que recebera ordens para
levar os portugueses a cair numa cilada em Quíloa. Quando a armada se
aproximava de Quíloa, Vénus, que descobrira a traição de Baco, afasta a
armada da costa por meio de ventos contrários, anulando assim a
traição. O piloto mouro tenta outras vezes aproximar a armada da costa
para a destruir, mas Vénus está atenta e impede que isso aconteça.
Entretanto os portugueses continuam a viagem para Norte e chegam a
Mombaça, cujo rei fora avisado por Baco para receber os portugueses e
os destruir.
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21. CANTO II
O rei de Mombaça convida a armada portuguesa a entrar no
porto a fim de a destruir. Vasco da Gama, por medida de segurança,
manda desembarcar dois condenados portugueses, encarregados por
ele de obterem informações acerca da terra. Baco disfarça-se de
sacerdote cristão. Os dois portugueses são levados à casa onde ele se
encontra e vêem em Baco um sacerdote cristão junto a um altar onde
se representavam Cristo e os Apóstolos. Quando os portugueses
regressam à armada, dão informações falsas a Vasco da Gama,
convencidos de que estavam entre gente Cristã. Vasco da Gama
resolve entrar com a armada no porto de Mombaça. Vénus apercebe-
se do perigo e, com a ajuda das Nereides, impede os barcos de entrar
no porto. Perante o espanto de todos, apesar do vento empurrar os
barcos em direcção à cilada, eles não avançam. O piloto mouro e os
companheiros que também tinham sido embarcados na ilha de
Moçambique, pensando que os seus objectivos tinham sido
descobertos, fogem precipitadamente lançando-se ao mar, perante a
admiração de Vasco da Gama, que acaba por descobrir a traição que
lhe estava preparada e à qual escapou milagrosamente.
Vasco da Gama agradece à Divina Guarda o milagre
concedido e pede-lhe que lhe mostre a terra que procura. Vénus,
ouvindo as suas palavras, fica comovida e vai ao Olimpo queixar-se a
Júpiter pela falta de protecção dispensada pelos deuses aos
Portugueses. Júpiter fica comovido e manda Mercúrio a terra para
preparar uma recepção em Melinde aos Portugueses e inspirar a Vasco
da Gama qual o caminho a seguir. A armada continua a viagem e chega
a Melinde, onde é magnificamente recebida. Vasco da Gama envia um
embaixador a terra e o rei acolhe-o favoravelmente.
Após várias manifestações de contentamento em terra e na
armada, o rei de Melinde visita a armada portuguesa.
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22. CANTO III
O narrador começa por invocar Calíope, musa da poesia épica, para que
lhe ensine o que Vasco da Gama contou ao rei de Melinde. A partir daqui
o narrador passa a ser Vasco da Gama. Segundo ele, não contará história
estranha, mas irá ser obrigado a louvar os seus, o que, segundo ele, não
será o mais correcto. Por outro lado, receia que o tempo de que dispõe,
por mais longo que seja, se torne curto para tantos e tão grandiosos
feitos. Mas obedecerá ao seu pedido, indo contra o que deve e
procurando ser breve. E, para que a ordem leve e siga, irá primeiro tratar
da larga terra e, em seguida, falará da sanguinosa guerra.
Após a descrição da Europa, Vasco da Gama fala das origens de Portugal,
desde Luso a Viriato, indicando também a situação geográfica do seu
país relativamente ao resto da Europa. A partir da estância 23, começa a
narrar a História de Portugal desde o conde D. Henrique até D.
Fernando, último rei da primeira dinastia.
Os principais episódios narrados dizem respeito aos reinados de D.
Afonso Henriques e a D. Afonso IV.
Relativamente ao primeiro rei de Portugal, refere as diferentes lutas
travadas por ele: contra sua mãe, D. Teresa, contra D. Afonso VII e
contra os mouros, para alargamento das fronteiras em direcção ao sul.
São de destacar os episódios referentes a Egas Moniz (estâncias 35-41) e
a Batalha de Ourique (estâncias 42-54).
No reinado de D. Afonso IV, destacam-se os episódios da formosíssima
Maria, em que sua filha lhe vem pedir ajuda para seu marido, rei de
Castela, em virtude de o grão rei de Marrocos ter invadido a nobre
Espanha para a conquistar; o episódio da batalha do Salado, em que
juntos os dois Afonsos vencem o exército árabe; e, finalmente, o
episódio de Inês de Castro, a mísera e mesquinha que depois de morta
foi rainha.
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23. CANTO IV
O canto IV começa por referir o interregno que se seguiu à
morte de D. Fernando, entre 1383-85, e, em seguida, foca o reinado de
D. João I, apresentando-nos os preparativos para a guerra com Castela,
a figura de D. Nuno Alvares Pereira, o seu insurgimento contra aqueles
que se colocaram ao lado de Castela, entre os quais se contam os seus
próprios irmãos, e a Batalha de Aljubarrota, que opôs D. João I de
Portugal a D. João I de Castela. Em seguida, é narrada a conquista de
Ceuta e o martírio de D. Fernando, o Infante Santo.
São a seguir apresentados os reinados a seguir a D. João I,
entre os quais os de D. Afonso V e de D. João II. No reinado de D.
Manuel I, é apresentado o seu sonho profético (estâncias 67-75). D.
Manuel I confia a Vasco da Gama o descobrimento do caminho
marítimo para a Índia e é-nos depois apresentada a partida das naus,
com os preparativos para a viagem, as despedidas na praia de Belém e,
finalmente, o episódio do velho do Restelo, no qual um velho de
aspecto venerando critica os descobrimentos, apontando os seus
inconvenientes e criticando mesmo o próprio rei D. Manuel I, que
deixava criar às portas o inimigo, no Norte de África, para ir buscar
outro tão longe, despovoando-se o reino e enfranquecendo-o
consequentemente.
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24. CANTO V
Vasco da Gama, que continua a sua narração ao rei de
Melinde, apresenta agora, no começo deste canto, a largada de
Lisboa e o afastamento da armada até ao desaparecimento no
horizonte da fresca serra de Sintra. A viagem prossegue normalmente
até à passagem do Equador, momento a partir do qual Vasco da
Gama refere diversos fenómenos meteorológicos, tais como súbitas e
medonhas trovoadas, o fogo de Santelmo e a tromba marítima
(estâncias 16-23).
Chegados à ilha de Santa Helena, os portugueses
contactam com um nativo, a quem oferecem vários objectos. Crendo
haver conquistado a confiança dos nativos, Fernão Veloso aventura-se
a penetrar na ilha de Santa Helena. A certa altura, surge a correr a
toda pressa, perseguido por vários nativos, tendo Vasco da Gama de ir
em seu socorro, travando-se uma pequena luta entre eles, da qual
saiu Vasco da Gama ferido numa perna.
Regressados aos barcos, os marinheiros procuram gozar
com Fernão Veloso, dizendo-lhe que o outeiro fora melhor de descer
do que subir. Este, sem se desconcertar, respondeu-lhes que correra à
frente dos nativos por se ter lembrado que os companheiros estavam
ali sem a sua ajuda (estâncias 24-36).
Junto ao Cabo das Tormentas, ocorre o episódio do
Gigante Adamastor (estâncias 37-60), o qual faz diversas profecias
aos portugueses e, em seguida, interpelado por Vasco da Gama, conta
a sua história.
Vasco da Gama relata o resto da viagem até Melinde, tendo
referido também a mais crua e feia doença jamais por ele vista: o
escorbuto. O canto termina com os elogios feitos pelo Gama à
tenacidade portuguesa e com a invectiva do poeta contra os
portugueses seus contemporâneos por desprezarem a poesia e a
técnica que lhe corresponde.
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25. CANTO VI
Após as festas de despedida, a armada larga de Melinde para
prosseguir a viagem até à Índia, levando a bordo um piloto melindano.
Entretanto Baco desce ao palácio de Neptuno, a fim de incitar os deuses
marinhos contra os portugueses, pois vê-os quase a atingir o império que
ele tinha na Índia. Baco é recebido por Neptuno no seu palácio e explica-
lhe os motivos da sua vinda.
Por ordem de Neptuno, Tritão vai convocar todos os deuses
marinhos para o concílio. Assim que se encontram todos reunidos, Baco
profere o seu discurso, apresentando honesta e claramente as razões da
sua presença. As lágrimas interrompem-lhe a dado momento as palavras,
fazendo com que de imediato todos os deuses se inflamassem tomando
o seu partido. Neptuno manda a Eolo recado para que solte os ventos,
gerando assim uma tempestade que destrua os portugueses (estâncias
6-37).
Sem nada pressentirem, os portugueses contam histórias para
evitarem o sono, entre as quais a dos Doze de Inglaterra (estâncias 43-
69). Quando se apercebem da chegada da tempestade, a fúria com que
os ventos investem é tal que não lhes dá tempo de amainar as velas,
rompendo-as e quebrando os mastros. É tal a fúria dos elementos que
nada lhes resiste. As areias no fundo dos mares vêem-se revolvidas, as
árvores arrancadas e com as raízes para o céu e os montes derribados.
Na armada a situação é caótica. As gentes gritam e vêem perto a
perdição, com as naus alagadas e os mastros derribados. Vendo-se
perdido, Vasco da Gama pede ajuda à Divina Guarda.
Vénus apercebe-se do perigo em que os portugueses se
encontram e, adivinhando que se trata de mais uma acção de Baco,
manda as Ninfas amorosas abrandarem as iras dos ventos. Quando a
tempestade se acalma (estâncias 70-85), amanhecia e o piloto melindano
avista a costa de Calecut. O canto termina com a oração de
agradecimento de Vasco da Gama e com uma reflexão do poeta acerca
do verdadeiro valor da glória.
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26. CANTO VII
Os portugueses, que tinham chegado à Índia ainda no Canto
VI (estância 92), agora, na primeira estrofe do Canto VII entram na
barra de Calecut. Na estrofe 2, o narrador faz o elogio do espírito de
cruzada luso e exorta as outras nações europeias a seguirem o
exemplo dos Portugueses na luta contra os infiéis (estâncias 2 a 15).
Uma vez chegados a terra, pescadores em leves embarcações
mostram aos portugueses o caminho para Calecut, onde vive o rei da
Índia. Das estâncias 17 a 22, é feita a descrição da Índia e apresentados
os primeiros contactos com Calecut. Vasco da Gama avisa o rei da sua
chegada e manda a terra o degredado João Martins. Este mensageiro
encontra o mouro Monçaide, que já estivera em Castela e sabia quem
eram os portugueses, ficando muito admirado por os ver tão longe da
pátria. Convida-o a ir a sua casa, onde o recebe e lhe dá de comer.
Depois disto, Monçaide e o enviado regressam à nau de
Vasco da Gama. Monçaide visita a frota e fornece elementos acerca da
Índia. Algum tempo depois, Vasco da Gama desembarca com nobres
portugueses, é recebido pelo Catual, que o leva ao palácio do
Samorim. Após os discursos de apresentação, o Samorim recebe os
portugueses no seu palácio.
Enquanto estes aqui permanecem, o Catual procura colher
informações junto de Monçaide acerca dos portugueses e, em
seguida, visita a nau capitaina, onde é recebido por Paulo da Gama, a
quem pergunta o significado das figuras presentes nas bandeiras de
seda. Das estâncias 77 até ao fim do Canto VII, Camões invoca as ninfas
do Tejo e também as do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios.
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27. CANTO VIII
Paulo da Gama continua a explicar o significado das figuras
nas bandeiras portuguesas ao Catual, que se mostra bastante
interessado, fazendo várias perguntas.
Após a visita, o Catual regressa a terra. Por ordem do rei da
Índia (estâncias 45 a 46) os Arúspices fazem sacrifícios, porque
adivinham eterno cativeiro e destruição da gente indiana pelos
portugueses.
Entretanto, Baco resolve agir contra os portugueses.
Aparece em sonhos a um sacerdote árabe (estâncias 47 a 50)
incitando-o a opor-se aos portugueses. Quando acorda, o sacerdote
maometano instiga os outros a revoltarem-se contra Vasco da Gama.
Vasco da Gama procura entender-se com o Samorim, que,
após violenta discussão, ordena a Vasco da Gama que regresse à frota,
mostrando-lhe o desejo de trocar fazendas europeias por especiarias
orientais.
Subornado pelos muçulmanos, o Catual impede o
cumprimento das ordens do Samorim e pede a Vasco da Gama que
mande aproximar a frota para embarcar, com o intuito de a destruir.
Vasco da Gama, astuto e desconfiado, não aceita a proposta, sendo
preso pelo Catual.
Com o receio de ser castigado pelo Samorim, por causa da
demora, o Catual apresenta nova proposta a Vasco da Gama: deixa-o
embarcar, mas terá de lhe dar em troca fazendas europeias. Vasco da
Gama aceita e regressa à frota, depois de ter entregue as mercadorias
pedidas. O canto acaba com as reflexões do poeta acerca do poder do
«metal luzente e oiro».
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28. CANTO IX
Dois feitores portugueses são encarregados de vender as
mercadorias, mas são detidos em terra, para retardar a partida da
armada portuguesa, a fim de dar tempo a que uma armada muçulmana
viesse de Meca para a destruir.
O Gama é informado disso pelo árabe Monçaide e, por isso,
decide partir, procurando fazer com que os dois feitores portugueses
regressem secretamente à armada, mas não consegue o que pretende.
Como represália, impede vários mercadores da Índia de regressarem a
terra e, tomando-os como reféns, ordena a partida.
Por ordem do Samorim, são restituídos a Vasco da Gama os
dois feitores portugueses e as fazendas, após o que se iniciou o regresso
a casa (estâncias 13 a 17).
Vénus decide preparar o repouso e prémio para os
portugueses (estâncias 18 a 21). Dirige-se, com esse objectivo, a seu filho
Cupido (estâncias 22 a 50), e manda reunir as Ninfas numa ilha
especialmente preparada para os acolher.
A «Ilha dos Amores», cuja descrição se apresenta nas estâncias
52 a 55, era uma ilha flutuante que Vénus colocou no trajecto da armada,
de modo a que esta, infalivelmente, a encontrasse.
Os portugueses desembarcaram na ilha e as Ninfas deixam-se
ver, iniciando-se uma perseguição. Para aumentar o desejo dos
portugueses, as Ninfas opuseram uma certa resistência, apenas se
deixando apanhar ao fim de algum tempo, efectuando-se, então, o
«casamento» entre elas e os marinheiros.
Tétis, a maior, e a quem todo o coro das Ninfas obedecia,
apresentou-se a Vasco da Gama, recebendo-o com honesta e régia
pompa. Depois de se ter apresentado e dado a entender que ali viera por
alta influição do Destino, tomando o Gama pela mão, levou-o para o seu
palácio, onde lhe explicou (estâncias 89 a 91) o significado alegórico da
«Ilha dos Amores»: as Ninfas do Oceano, Tétis e a Ilha outra coisa não são
que as deleitosas honras que a vida fazem sublimada.
O Canto IX termina com uma exortação dirigida aos que aspiram a
imortalizar o seu nome.
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29. CANTO X
Tétis e as restantes ninfas oferecem um banquete aos
navegantes e durante ele uma ninfa começa a descrever os futuros
feitos dos portugueses. Entretanto (estâncias 8-9) o poeta interrompe-
lhe a descrição para invocar uma vez mais Calíope. Finda a invocação, a
ninfa retoma o seu discurso, falando dos heróis e futuros
governadores da Índia.
A partir da estância 74, onde acaba a prolepse (avanço no
tempo, ou seja, previsão de factos futuros), Tétis conduz Vasco da
Gama ao cimo de um monte, onde lhe mostra uma miniatura do
Universo e descobre, no orbe terrestre, os lugares onde os
portugueses irão praticar altos feitos. Dentro das várias profecias, Tétis
narra o martírio de S. Tomé e faz referência ao naufrágio de Camões.
Finalmente, Tétis despede os portugueses, que embarcam para
empreenderem a viagem de regresso (estâncias 142-143), cuja viagem
se efectua com vento sempre manso e favorável, chegando à foz do
Tejo sem quaisquer problemas (estância 144).
Das estâncias 145 a 156 são apresentadas lamentações, exortações a D.
Sebastião e vaticínios de futuras glórias.
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