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história da literatura
Terceira geração da poesia romântica
               Manoel Neves
A POESIA DO ROMANTISMO
            terceira geração
            AMOR SENSUAL
 [mulher de carne e osso + realização erótica]


           SEM TÍTULO, Castro Alves
         É noite, pois! Durmamos, Julieta!
    Recende a alcova ao trescalar das flores.
       Fechemos sobre nós estas cortinas...
         - São asas do arcanjo dos amores.
       A frouxa luz da alabastrina lâmpada
     Lambe voluptuosa os teus contornos...
     Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
     Ao doido afago de meus lábios mornos.
  Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
      Treme tua alma, como a lira ao vento,
      Das teclas de teu seio que harmonias,
      Que escalas de suspiro, bebo atento!
           Ai! Canta a cavatina do delírio,
        Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
          Marion! Marion!... É noite ainda.
   Que importa os raios de uma nova aurora?
A POESIA DO ROMANTISMO
                                      terceira geração
                                      AMOR SENSUAL
                         [mulher de carne e osso + realização erótica]


                                    ADORMECIDA, Castro Alves
                              Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
 versos decassílabos            Numa rede encostada molemente...                  sete quadras
cena altamente erótica        Quase aberto o roupão... solto o cabelo           lirismo amoroso
                                  E o pé descalço do tapete rente.
                             'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
  ao impulso erótico              Exalavam as silvas da campina...             natureza solidária
  mulher disponível            E ao longe, num pedaço do horizonte,              cena noturna
                                   Via-se a noite plácida e divina.
                             De um jasmineiro os galhos encurvados,
 galhos encurvados                Indiscretos entravam pela sala,           metáfora de cunho sexual
  natureza solidária           E de leve oscilavam ao tom das auras,        beijo [realização erótica]
                                  Iam na face trêmulos- beijá-la.
                              Era um quadro celeste!... A cada afago
compraz-se com a cena        Mesmo em sonhos a moça estremecia...           envolvimento do locutor
   estremecimento            Quando ela serenava... a flor beijava-a...          êxtase sexual
                              Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
A POESIA DO ROMANTISMO
                                       terceira geração
                                       AMOR SENSUAL
                           [mulher de carne e osso + realização erótica]


                                     ADORMECIDA, Castro Alves
                                 Dir-se-ia que naquele doce instante
 ao erotismo intenso             Brincavam duas cândidas crianças...           contraponto
suavização do erotismo          A brisa, que agitava as folhas verdes,            criança
                                 Fazia-lhe ondear as negras tranças!
                               E o ramo ora chegava ora afastava-se...
 movimentos do galho                                                              clímax
                                Mas quando a via despeitada a meio,
   chuva de pétalas               Para não zangá-la... sacudia alegre           metáforas
                                   Uma chuva de pétalas no seio...
                                    Eu, fitando esta cena, repetia
   volta ao erotismo                                                         locutor envolvido
                                  Naquela noite lânguida e sentida:
metáforas [virgem, flor]       “Ó flor!... tu és a virgem das campinas!”       cena noturna
                               “Virgem!... tu és a flor da minha vida!...”
        mulher de carne e osso: sujeito ativo na cena erótica + compraz-se no ato erótico
  paródia do mito da Bela Adormecida: ruptura com modelo romântico de idealização feminina
A POESIA DO ROMANTISMO
                        terceira geração
                       CONDOREIRISMO
           [poesia social: luta por ideais humanitários]


           O LIVRO E A AMÉRICA, Castro Alves [fragmento]
 Oh! Bendito o que semeia                  Agora que o trem de ferro
Livros, livros à mão cheia...               Acorda o tigre no cerro
  E manda o povo pensar!                   E espanta os caboclos nus
    O livro caindo n’alma                  Fazei desse rei dos ventos
É germe – que faz a palma,                  Ginete de pensamentos,
É chuva – que faz o mar, (...)              Arauto da grande luz!...
A POESIA DO ROMANTISMO
                              terceira geração
                              CONDOREIRISMO
                   [poesia social: luta por ideais humanitários]


                      NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 1]
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço      'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Brinca o luar — dourada borboleta;           Ali se estreitam num abraço insano,
E as vagas após ele correm... cansam         Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Como turba de infantes inquieta.             Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar... Do firmamento        'Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Os astros saltam como espumas de ouro...     Ao quente arfar das virações marinhas,
O mar em troca acende as ardentias,          Veleiro brigue corre à flor dos mares,
— Constelações do líquido tesouro...         Como roçam na vaga as andorinhas...
                    onze quartetos decassílabos [descrição-narração]
                           metáforas, comparações, antíteses
                       “tomada aérea”: locutor, águia do oceano,
                   acompanha o navio [brigue corre à flor dos mares]
A POESIA DO ROMANTISMO
                                terceira geração
                                CONDOREIRISMO
                     [poesia social: luta por ideais humanitários]


                          NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 1]
Donde vem? onde vai? Das naus errantes          Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Neste saara os corcéis o pó levantam,           Crianças que a procela acalentara
Galopam, voam, mas não deixam traço.            No berço destes pélagos profundos!
Bem feliz quem ali pode nest'hora               Esperai! esperai! deixai que eu beba
Sentir deste painel a majestade!                Esta selvagem, livre poesia
Embaixo — o mar em cima — o firmamento... Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E no mar e no céu — a imensidade!               E o vento, que nas cordas assobia...
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!          Por que foges assim, barco ligeiro?
Que música suave ao longe soa!                  Por que foges do pávido poeta?
Meu Deus! como é sublime um canto ardente Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Pelas vagas sem fim boiando à toa!              Que semelha no mar — doudo cometa!
                         Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
                         Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
                         Sacode as penas, Leviathan do espaço,
                         Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
A POESIA DO ROMANTISMO
                      terceira geração
                     CONDOREIRISMO
         [poesia social: luta por ideais humanitários]


             NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 2]
 Que importa do nauta o berço,         Do Espanhol as cantilenas
   Donde é filho, qual seu lar?         Requebradas de langor,
    Ama a cadência do verso          Lembram as moças morenas,
  Que lhe ensina o velho mar!            As andaluzas em flor!
  Cantai! que a morte é divina!        Da Itália o filho indolente
    Resvala o brigue à bolina          Canta Veneza dormente,
      Como golfinho veloz.            — Terra de amor e traição,
   Presa ao mastro da mezena             Ou do golfo no regaço
    Saudosa bandeira acena           Relembra os versos de Tasso,
    As vagas que deixa após.           Junto às lavas do vulcão!
        estrutura: quatro décimas com versos heptassílabos
tema: trajeto do barco pelo mar + renúncia ao nacionalismo ufanista
 tema: referências a Espanha e Itália [tradição saudosista européia]
A POESIA DO ROMANTISMO
                         terceira geração
                        CONDOREIRISMO
            [poesia social: luta por ideais humanitários]


                NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 2]
       O Inglês — marinheiro frio,       Os marinheiros Helenos,
    Que ao nascer no mar se achou,        Que a vaga jônia criou,
    (Porque a Inglaterra é um navio,      Belos piratas morenos
    Que Deus na Mancha ancorou),        Do mar que Ulisses cortou,
        Rijo entoa pátrias glórias,     Homens que Fídias talhara,
    Lembrando, orgulhoso, histórias    Vão cantando em noite clara
        De Nelson e de Aboukir...      Versos que Homero gemeu ...
      O Francês — predestinado —        Nautas de todas as plagas,
       Canta os louros do passado       Vós sabeis achar nas vagas
         E os loureiros do porvir!        As melodias do céu!...
           estrutura: quatro décimas com versos heptassílabos
tema: referência à frieza do marinheiro inglês e a predestinação do francês
                   tema: conclamação do mundo grego
A POESIA DO ROMANTISMO
                            terceira geração
                           CONDOREIRISMO
                [poesia social: luta por ideais humanitários]


                    NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 3]
                 Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
               Desce mais... inda mais... não pode olhar humano
                   Como o teu mergulhar no brigue voador!
                Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
                  É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
           Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
                 estrutura: uma sextilha com versos alexandrinos
      tema: indignação do locutor [metáfora do albatroz – plano americano]
tema: em meio ao desespero ante às cenas que contempla, o locutor clama por Deus
A POESIA DO ROMANTISMO
                               terceira geração
                              CONDOREIRISMO
                  [poesia social: luta por ideais humanitários]


                      NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 4]
 Era um sonho dantesco... o tombadilho            Negras mulheres, suspendendo às tetas
  Que das luzernas avermelha o brilho.              Magras crianças, cujas bocas pretas
         Em sangue a se banhar.                            Rega o sangue das mães:
   Tinir de ferros... estalar de açoite...         Outras moças, mas nuas e espantadas,
Legiões de homens negros como a noite,             No turbilhão de espectros arrastadas,
          Horrendos a dançar...                             Em ânsia e mágoa vãs!
                          E ri-se a orquestra irônica, estridente...
                              E da ronda fantástica a serpente
                                    Faz doudas espirais...
                          Se o velho arqueja, se no chão resvala,
                            Ouvem-se gritos... o chicote estala.
                                    E voam mais e mais...
          estrutura: seis sextilhas com o esquema métrico 10-10-6-10-10-6
   tema: descrição poética da barbárie [cenas do sofrimento dos negros no navio]
           tema: a dor do negro é apresentada sem metáforas, cruamente
A POESIA DO ROMANTISMO
                             terceira geração
                            CONDOREIRISMO
                [poesia social: luta por ideais humanitários]


                    NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 4]
 Presa nos elos de uma só cadeia,              No entanto o capitão manda a manobra,
   A multidão faminta cambaleia,                 E após fitando o céu que se desdobra,
        E chora e dança ali!                             Tão puro sobre o mar,
Um de raiva delira, outro enlouquece,           Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
  Outro, que martírios embrutece,                  "Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
       Cantando, geme e ri!                             Fazei-os mais dançar!..."
                      E ri-se a orquestra irônica, estridente...
                          E da ronda fantástica a serpente
                                Faz doudas espirais...
                  Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
                      Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
                                   E ri-se Satanás!...
        estrutura: seis sextilhas com o esquema métrico 10-10-6-10-10-6
tema: homens e mulheres se irmanam no sofrimento [sangue, castigos corporais]
            tema: o sofrimento humano é motivo de riso para Satanás
A POESIA DO ROMANTISMO
                                   terceira geração
                                  CONDOREIRISMO
                       [poesia social: luta por ideais humanitários]


                           NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 5]
Senhor Deus dos desgraçados!      Quem são estes desgraçados          São os filhos do deserto,
  Dizei-me vós, Senhor Deus!      Que não encontram em vós           Onde a terra esposa a luz.
  Se é loucura... se é verdade   Mais que o rir calmo da turba      Onde vive em campo aberto
Tanto horror perante os céus?!    Que excita a fúria do algoz?        A tribo dos homens nus...
  Ó mar, por que não apagas      Quem são? Se a estrela se cala,     São os guerreiros ousados
  Co'a esponja de tuas vagas       Se a vaga à pressa resvala      Que com os tigres mosqueados
 De teu manto este borrão?...      Como um cúmplice fugaz,             Combatem na solidão.
 Astros! noites! tempestades!      Perante a noite confusa...      Ontem simples, fortes, bravos.
    Rolai das imensidades!          Dize-o tu, severa Musa,            Hoje míseros escravos,
    Varrei os mares, tufão!        Musa libérrima, audaz!...        Sem luz, sem ar, sem razão...
   estrutura: nove décimas com versos heptassílabos [imagens grandiosas + tom declamatório]
tema: locutor, excessivamente indignado, narra a história dos homens aprisionados pelos brancos
         tema: locutor clama a Deus, pq não aceita a tragicidade do destino dos escravos
A POESIA DO ROMANTISMO
                                 terceira geração
                                 CONDOREIRISMO
                      [poesia social: luta por ideais humanitários]


                          NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 5]
 São mulheres desgraçadas,            Lá nas areias infindas,         Depois, o areal extenso...
  Como Agar o foi também.            Das palmeiras no país,           Depois, o oceano de pó.
Que sedentas, alquebradas,         Nasceram crianças lindas,        Depois no horizonte imenso
De longe... bem longe vêm...         Viveram moças gentis...          Desertos... desertos só...
Trazendo com tíbios passos,         Passa um dia a caravana,       E a fome, o cansaço, a sede...
Filhos e algemas nos braços,      Quando a virgem na cabana         Ai! quanto infeliz que cede,
  N'alma — lágrimas e fel...       Cisma da noite nos véus ...     E cai p'ra não mais s'erguer!...
 Como Agar sofrendo tanto,       ... Adeus, ó choça do monte,         Vaga um lugar na cadeia,
 Que nem o leite de pranto     ... Adeus, palmeiras da fonte!...     Mas o chacal sobre a areia
  Têm que dar para Ismael.       ... Adeus, amores... adeus!...       Acha um corpo que roer.
   tema: o sofrimento de Agar [egípcia q serve a Abraão e mesmo dando a luz ao seu amo é]
              tema: [maltratada] é uma metáfora do sofrimento do povo Africano
                                   tema: imagens terríveis
A POESIA DO ROMANTISMO
                                    terceira geração
                                   CONDOREIRISMO
                       [poesia social: luta por ideais humanitários]


                           NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 5]
      Ontem a Serra Leoa,            Ontem plena liberdade,          Senhor Deus dos desgraçados!
    A guerra, a caça ao leão,         A vontade por poder...           Dizei-me vós, Senhor Deus,
      O sono dormido à toa         Hoje... cúm'lo de maldade,        Se eu deliro... ou se é verdade
   Sob as tendas d'amplidão!       Nem são livres p'ra morrer. .    Tanto horror perante os céus?!...
  Hoje... o porão negro, fundo,   Prende-os a mesma corrente           Ó mar, por que não apagas
   Infecto, apertado, imundo,     — Férrea, lúgubre serpente —         Co'a esponja de tuas vagas
   Tendo a peste por jaguar...      Nas roscas da escravidão.          Do teu manto este borrão?
    E o sono sempre cortado       E assim zombando da morte,          Astros! noites! tempestades!
   Pelo arranco de um finado,        Dança a lúgubre coorte              Rolai das imensidades!
E o baque de um corpo ao mar...   Ao som do açoute... Irrisão!...       Varrei os mares, tufão!...
            estrutura: nove décimas com versos heptassílabos [apóstrofes e hipérboles]
     tema: o locutor se exaspera pq Deus parece não se compadecer do sofrimento dos negros
          tema: grande envolvimento do locutor com a temática abordada [engajamento]
A POESIA DO ROMANTISMO
                                    terceira geração
                                   CONDOREIRISMO
                       [poesia social: luta por ideais humanitários]


                            NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 6]
  Existe um povo que a bandeira empresta                   Auriverde pendão de minha terra,
    P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...             Que a brisa do Brasil beija e balança,
     E deixa-a transformar-se nessa festa                 Estandarte que a luz do sol encerra
     Em manto impuro de bacante fria!...                E as promessas divinas da esperança...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,              Tu que, da liberdade após a guerra,
      Que impudente na gávea tripudia?                    Foste hasteado dos heróis na lança
    Silêncio. Musa... chora, e chora tanto               Antes te houvessem roto na batalha,
   Que o pavilhão se lave no teu pranto!...            Que servires a um povo de mortalha!...
            estrutura: três oitavas com versos decassílabos [hipérboles + apóstrofe]
                     tema: denúncia da prostituição da bandeira brasileira
                            tema: sutil alusão à Guerra do Paraguai
A POESIA DO ROMANTISMO
                           terceira geração
                          CONDOREIRISMO
              [poesia social: luta por ideais humanitários]


                   NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 6]
                    Fatalidade atroz que a mente esmaga!
                     Extingue nesta hora o brigue imundo
                    O trilho que Colombo abriu nas vagas,
                      Como um íris no pélago profundo!
                   Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
                    Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
                   Andrada! arranca esse pendão dos ares!
                   Colombo! fecha a porta dos teus mares!
    estrutura: três oitavas com versos decassílabos [hipérboles + apóstrofe]
        tema: o locutor conclama a natureza a abater o navio negreiro
tema: por fim, conclama os heróis do Novo Mundo para lutar contra a escravidão
TERCEIRA GERAÇÃO
poesia social, liberalismo e representações eróticas

                          AUTORES E OBRAS
    Castro Alves                                 Sousândrade
    [o lirismo liberal]                     [a identidade americana]


     Espumas flutuantes                              Guesa errante

 A cachoeira de Paulo Afonso       exalta a exuberância do cenário americano e a força

        Os escravos                dos habitantes do Novo Continente; anti-liberalismo

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Terceira geração da poesia romântica

  • 1. história da literatura Terceira geração da poesia romântica Manoel Neves
  • 2. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração AMOR SENSUAL [mulher de carne e osso + realização erótica] SEM TÍTULO, Castro Alves É noite, pois! Durmamos, Julieta! Recende a alcova ao trescalar das flores. Fechemos sobre nós estas cortinas... - São asas do arcanjo dos amores. A frouxa luz da alabastrina lâmpada Lambe voluptuosa os teus contornos... Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos Ao doido afago de meus lábios mornos. Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos Treme tua alma, como a lira ao vento, Das teclas de teu seio que harmonias, Que escalas de suspiro, bebo atento! Ai! Canta a cavatina do delírio, Ri, suspira, soluça, anseia e chora... Marion! Marion!... É noite ainda. Que importa os raios de uma nova aurora?
  • 3. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração AMOR SENSUAL [mulher de carne e osso + realização erótica] ADORMECIDA, Castro Alves Uma noite, eu me lembro... Ela dormia versos decassílabos Numa rede encostada molemente... sete quadras cena altamente erótica Quase aberto o roupão... solto o cabelo lirismo amoroso E o pé descalço do tapete rente. 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste ao impulso erótico Exalavam as silvas da campina... natureza solidária mulher disponível E ao longe, num pedaço do horizonte, cena noturna Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados, galhos encurvados Indiscretos entravam pela sala, metáfora de cunho sexual natureza solidária E de leve oscilavam ao tom das auras, beijo [realização erótica] Iam na face trêmulos- beijá-la. Era um quadro celeste!... A cada afago compraz-se com a cena Mesmo em sonhos a moça estremecia... envolvimento do locutor estremecimento Quando ela serenava... a flor beijava-a... êxtase sexual Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...
  • 4. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração AMOR SENSUAL [mulher de carne e osso + realização erótica] ADORMECIDA, Castro Alves Dir-se-ia que naquele doce instante ao erotismo intenso Brincavam duas cândidas crianças... contraponto suavização do erotismo A brisa, que agitava as folhas verdes, criança Fazia-lhe ondear as negras tranças! E o ramo ora chegava ora afastava-se... movimentos do galho clímax Mas quando a via despeitada a meio, chuva de pétalas Para não zangá-la... sacudia alegre metáforas Uma chuva de pétalas no seio... Eu, fitando esta cena, repetia volta ao erotismo locutor envolvido Naquela noite lânguida e sentida: metáforas [virgem, flor] “Ó flor!... tu és a virgem das campinas!” cena noturna “Virgem!... tu és a flor da minha vida!...” mulher de carne e osso: sujeito ativo na cena erótica + compraz-se no ato erótico paródia do mito da Bela Adormecida: ruptura com modelo romântico de idealização feminina
  • 5. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] O LIVRO E A AMÉRICA, Castro Alves [fragmento] Oh! Bendito o que semeia Agora que o trem de ferro Livros, livros à mão cheia... Acorda o tigre no cerro E manda o povo pensar! E espanta os caboclos nus O livro caindo n’alma Fazei desse rei dos ventos É germe – que faz a palma, Ginete de pensamentos, É chuva – que faz o mar, (...) Arauto da grande luz!...
  • 6. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 1] 'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço 'Stamos em pleno mar... Dois infinitos Brinca o luar — dourada borboleta; Ali se estreitam num abraço insano, E as vagas após ele correm... cansam Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Como turba de infantes inquieta. Qual dos dous é o céu? qual o oceano?... 'Stamos em pleno mar... Do firmamento 'Stamos em pleno mar... Abrindo as velas Os astros saltam como espumas de ouro... Ao quente arfar das virações marinhas, O mar em troca acende as ardentias, Veleiro brigue corre à flor dos mares, — Constelações do líquido tesouro... Como roçam na vaga as andorinhas... onze quartetos decassílabos [descrição-narração] metáforas, comparações, antíteses “tomada aérea”: locutor, águia do oceano, acompanha o navio [brigue corre à flor dos mares]
  • 7. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 1] Donde vem? onde vai? Das naus errantes Homens do mar! ó rudes marinheiros, Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? Tostados pelo sol dos quatro mundos! Neste saara os corcéis o pó levantam, Crianças que a procela acalentara Galopam, voam, mas não deixam traço. No berço destes pélagos profundos! Bem feliz quem ali pode nest'hora Esperai! esperai! deixai que eu beba Sentir deste painel a majestade! Esta selvagem, livre poesia Embaixo — o mar em cima — o firmamento... Orquestra — é o mar, que ruge pela proa, E no mar e no céu — a imensidade! E o vento, que nas cordas assobia... Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! Por que foges assim, barco ligeiro? Que música suave ao longe soa! Por que foges do pávido poeta? Meu Deus! como é sublime um canto ardente Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira Pelas vagas sem fim boiando à toa! Que semelha no mar — doudo cometa! Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas, Sacode as penas, Leviathan do espaço, Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
  • 8. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 2] Que importa do nauta o berço, Do Espanhol as cantilenas Donde é filho, qual seu lar? Requebradas de langor, Ama a cadência do verso Lembram as moças morenas, Que lhe ensina o velho mar! As andaluzas em flor! Cantai! que a morte é divina! Da Itália o filho indolente Resvala o brigue à bolina Canta Veneza dormente, Como golfinho veloz. — Terra de amor e traição, Presa ao mastro da mezena Ou do golfo no regaço Saudosa bandeira acena Relembra os versos de Tasso, As vagas que deixa após. Junto às lavas do vulcão! estrutura: quatro décimas com versos heptassílabos tema: trajeto do barco pelo mar + renúncia ao nacionalismo ufanista tema: referências a Espanha e Itália [tradição saudosista européia]
  • 9. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 2] O Inglês — marinheiro frio, Os marinheiros Helenos, Que ao nascer no mar se achou, Que a vaga jônia criou, (Porque a Inglaterra é um navio, Belos piratas morenos Que Deus na Mancha ancorou), Do mar que Ulisses cortou, Rijo entoa pátrias glórias, Homens que Fídias talhara, Lembrando, orgulhoso, histórias Vão cantando em noite clara De Nelson e de Aboukir... Versos que Homero gemeu ... O Francês — predestinado — Nautas de todas as plagas, Canta os louros do passado Vós sabeis achar nas vagas E os loureiros do porvir! As melodias do céu!... estrutura: quatro décimas com versos heptassílabos tema: referência à frieza do marinheiro inglês e a predestinação do francês tema: conclamação do mundo grego
  • 10. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 3] Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror! estrutura: uma sextilha com versos alexandrinos tema: indignação do locutor [metáfora do albatroz – plano americano] tema: em meio ao desespero ante às cenas que contempla, o locutor clama por Deus
  • 11. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 4] Era um sonho dantesco... o tombadilho Negras mulheres, suspendendo às tetas Que das luzernas avermelha o brilho. Magras crianças, cujas bocas pretas Em sangue a se banhar. Rega o sangue das mães: Tinir de ferros... estalar de açoite... Outras moças, mas nuas e espantadas, Legiões de homens negros como a noite, No turbilhão de espectros arrastadas, Horrendos a dançar... Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... estrutura: seis sextilhas com o esquema métrico 10-10-6-10-10-6 tema: descrição poética da barbárie [cenas do sofrimento dos negros no navio] tema: a dor do negro é apresentada sem metáforas, cruamente
  • 12. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 4] Presa nos elos de uma só cadeia, No entanto o capitão manda a manobra, A multidão faminta cambaleia, E após fitando o céu que se desdobra, E chora e dança ali! Tão puro sobre o mar, Um de raiva delira, outro enlouquece, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: Outro, que martírios embrutece, "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Cantando, geme e ri! Fazei-os mais dançar!..." E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!... estrutura: seis sextilhas com o esquema métrico 10-10-6-10-10-6 tema: homens e mulheres se irmanam no sofrimento [sangue, castigos corporais] tema: o sofrimento humano é motivo de riso para Satanás
  • 13. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 5] Senhor Deus dos desgraçados! Quem são estes desgraçados São os filhos do deserto, Dizei-me vós, Senhor Deus! Que não encontram em vós Onde a terra esposa a luz. Se é loucura... se é verdade Mais que o rir calmo da turba Onde vive em campo aberto Tanto horror perante os céus?! Que excita a fúria do algoz? A tribo dos homens nus... Ó mar, por que não apagas Quem são? Se a estrela se cala, São os guerreiros ousados Co'a esponja de tuas vagas Se a vaga à pressa resvala Que com os tigres mosqueados De teu manto este borrão?... Como um cúmplice fugaz, Combatem na solidão. Astros! noites! tempestades! Perante a noite confusa... Ontem simples, fortes, bravos. Rolai das imensidades! Dize-o tu, severa Musa, Hoje míseros escravos, Varrei os mares, tufão! Musa libérrima, audaz!... Sem luz, sem ar, sem razão... estrutura: nove décimas com versos heptassílabos [imagens grandiosas + tom declamatório] tema: locutor, excessivamente indignado, narra a história dos homens aprisionados pelos brancos tema: locutor clama a Deus, pq não aceita a tragicidade do destino dos escravos
  • 14. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 5] São mulheres desgraçadas, Lá nas areias infindas, Depois, o areal extenso... Como Agar o foi também. Das palmeiras no país, Depois, o oceano de pó. Que sedentas, alquebradas, Nasceram crianças lindas, Depois no horizonte imenso De longe... bem longe vêm... Viveram moças gentis... Desertos... desertos só... Trazendo com tíbios passos, Passa um dia a caravana, E a fome, o cansaço, a sede... Filhos e algemas nos braços, Quando a virgem na cabana Ai! quanto infeliz que cede, N'alma — lágrimas e fel... Cisma da noite nos véus ... E cai p'ra não mais s'erguer!... Como Agar sofrendo tanto, ... Adeus, ó choça do monte, Vaga um lugar na cadeia, Que nem o leite de pranto ... Adeus, palmeiras da fonte!... Mas o chacal sobre a areia Têm que dar para Ismael. ... Adeus, amores... adeus!... Acha um corpo que roer. tema: o sofrimento de Agar [egípcia q serve a Abraão e mesmo dando a luz ao seu amo é] tema: [maltratada] é uma metáfora do sofrimento do povo Africano tema: imagens terríveis
  • 15. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 5] Ontem a Serra Leoa, Ontem plena liberdade, Senhor Deus dos desgraçados! A guerra, a caça ao leão, A vontade por poder... Dizei-me vós, Senhor Deus, O sono dormido à toa Hoje... cúm'lo de maldade, Se eu deliro... ou se é verdade Sob as tendas d'amplidão! Nem são livres p'ra morrer. . Tanto horror perante os céus?!... Hoje... o porão negro, fundo, Prende-os a mesma corrente Ó mar, por que não apagas Infecto, apertado, imundo, — Férrea, lúgubre serpente — Co'a esponja de tuas vagas Tendo a peste por jaguar... Nas roscas da escravidão. Do teu manto este borrão? E o sono sempre cortado E assim zombando da morte, Astros! noites! tempestades! Pelo arranco de um finado, Dança a lúgubre coorte Rolai das imensidades! E o baque de um corpo ao mar... Ao som do açoute... Irrisão!... Varrei os mares, tufão!... estrutura: nove décimas com versos heptassílabos [apóstrofes e hipérboles] tema: o locutor se exaspera pq Deus parece não se compadecer do sofrimento dos negros tema: grande envolvimento do locutor com a temática abordada [engajamento]
  • 16. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 6] Existe um povo que a bandeira empresta Auriverde pendão de minha terra, P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... Que a brisa do Brasil beija e balança, E deixa-a transformar-se nessa festa Estandarte que a luz do sol encerra Em manto impuro de bacante fria!... E as promessas divinas da esperança... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Tu que, da liberdade após a guerra, Que impudente na gávea tripudia? Foste hasteado dos heróis na lança Silêncio. Musa... chora, e chora tanto Antes te houvessem roto na batalha, Que o pavilhão se lave no teu pranto!... Que servires a um povo de mortalha!... estrutura: três oitavas com versos decassílabos [hipérboles + apóstrofe] tema: denúncia da prostituição da bandeira brasileira tema: sutil alusão à Guerra do Paraguai
  • 17. A POESIA DO ROMANTISMO terceira geração CONDOREIRISMO [poesia social: luta por ideais humanitários] NAVIO NEGREIRO, Castro Alves [parte 6] Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares! estrutura: três oitavas com versos decassílabos [hipérboles + apóstrofe] tema: o locutor conclama a natureza a abater o navio negreiro tema: por fim, conclama os heróis do Novo Mundo para lutar contra a escravidão
  • 18. TERCEIRA GERAÇÃO poesia social, liberalismo e representações eróticas AUTORES E OBRAS Castro Alves Sousândrade [o lirismo liberal] [a identidade americana] Espumas flutuantes Guesa errante A cachoeira de Paulo Afonso exalta a exuberância do cenário americano e a força Os escravos dos habitantes do Novo Continente; anti-liberalismo