1. As transformações das primeiras décadas do Seculo XX
As primeiras décadas do século XX foram alvo de inúmeras mudanças quer a nível cultural e
social, quer a nível político e económico. O mundo estava em constante mutação e tudo se
desenvolvia a uma velocidade inimaginável - telefones, rádios e televisões começaram a
aparecer em todas os estabelecimentos e casas e, em poucas décadas, estas tecnologias já se
encontravam totalmente globalizadas.
A nível político e económico as mudanças foram catastróficas quando, a 28 de
Junho de 1914, o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro ao trono Austro-
húngaro, e a sua esposa Sofia de Hohenberg, foram assassinados por um membro
de um grupo nacionalista-terrorista de nome Mão Negra. Este facto desencadeou
um dos maiores conflitos conhecidos na História, a Primeira Guerra Mundial.
Na altura a Inglaterra e a Alemanha encontravam-se num auge de poder. Possuíam prósperas
colónias, rotas comerciais abundantes, riquezas e as suas capitais eram grandes centros culturais
que atraíam pessoas de todas as partes do mundo. Contudo, após o incidente Austro-Húngaro a
Alemanha aliou-se e rompeu num caos e guerra do qual resultou a destruição de vários
territórios franceses e na tentativa de conquista de colónias que pertenciam aos Ingleses e
Franceses. Esta guerra durou quatro anos e terminou, finalmente, a 11 de Novembro de 1918.
Deste modo, medidas tiveram que ser tomadas e após o conflito as nações vencedoras reuniram-
se em Paris, no início de janeiro de 1919, para a Conferência de Paz. Neste encontro foram
ditadas as condições dos países vencidos, com foco principal na Alemanha, na tentativa de
impedir definitivamente que outra guerra se estabelecesse.
Os resultados reflectiram-se na criação de vários tratados, nomeadamente o Tratado de
Versalhes, cuja assinatura decorreu a 28 de Junho de 1919, onde é estruturado o “castigo” das
nações vencidas.Deste tratado entra em vigor uma nova geografia política e uma nova ordem
internacional. Na Europa, a Áustria torna-se um estado independente, surgem a Polónia, a
Checoslováquia, a Jugoslávia e a Hungria que se separam da Áustria. A França recupera a
Alsácia-Lorena, que havia perdido nos finais do século XIX para a Alemanha. Na Ásia, a
Arábia torna-se independente.
Outras modificações são visíveis e destas a principal perdedora é a Alemanha – considerada
como responsável pela guerra. Humilhada, a nação é obrigada a ceder à França territórios e
minas para substituir aqueles que destruiu; a reconhecer a independência e aceitar as novas
fronteiras ditadas; a renunciar todos os seus direitos sob as colónias; à pose de um exército
exclusivo que não tenha capacidade de implementar outra guerra; à proibição do fabrico e
importação de engenhos militares; à proibição do fabrico de armas que não tenham sido
aprovadas pelas principais potências (EUA, Inglaterra, França e Itália); e ao reconhecimento da
sua responsabilidade e danos causados na guerra. Além disso, este país sofrerá de um juro
excêntrico que terá que pagar aos países que sofreram danos e perdas com a guerra,
nomeadamente a França.
O tratado previa também a criação da Sociedade das Nações. Este projecto, proposto pelo
presidente Wilson, tinha como objetivo a promoção da paz e a solução para os danos do pós-
guerra. Apesar de não ter vingado e se ter dissolvido poucos anos depois da sua criação, esta
sociedade foi, mais tarde, uma inspiração para a criação da ONU.
2. O fracasso da SDN sucedeu-se com o abandono dos EUA, que não concordavam com algumas
ideias impostas no Tratado de Versalhes, tais como os prejuízos e humilhações dos países
vencidos – que ia contra os ideais de igualdade defendidos pelo presidente Wilson. Assim, a
SDN, na qual já não participavam os países vencidos, perdeu uma das suas principais nações e,
com o tempo, foi perdendo também os países que eram considerados como “minorias”, tais
como Portugal, e que se sentiam revoltados por não terem qualquer mérito nem serem
favorecidos.
A Europa era, no pós-guerra, ainda um palco de guerra. Os países encontravam-se
enfraquecidos com o caos e destruição causados pela guerra e entram numa crise económica,
social e cultural, na tentativa de concertarem os danos. Logicamente, isto reflecte-se num
enclausuramento dos países e gera uma enorme competição entre eles. A batalha contra a crise e
o ambiente de guerra ainda se encontrava nas relações entre as nações.
A Primeira Grande Guerra deixou a Europa arruinada. A crise que se abateu sobre todos era
complexa e várias medidas tiveram que ser impostas para tentar equilibrar a balança económica,
social e comercial. A desvalorizaçãoda moeda de modo a estimular o comércio foi a principal
medida; os produtos ficam mais baratos o que aumenta a exportação para outras partes do
mundo, que preferem os seus preços – o que contribui para o aumento da competitividade entre
nações).
Por outro lado, a guerra deixa também marcas que não têm retorno, tais como a desorganização
do comércio e a perda dos mercados para as grandes potências fora da europa, os EUA e o
Japão. Nisto dá-se a ascensão dos Estados Unidos que, intactos da guerra, tornam-se os credores
de uma Europa que procura no exterior um suporte para o seu mercado e economia.
Esta nação sofre, em 1920, uma pequena mas violenta crise da qual resulta o aumento do
desemprego e diminuição dos salários. Neste sentido, como acontece ao longo da história, a
conjuntura económica e social com que os Estados Unidos se deparam reflecte-se na formação
de um novo modelo económico, baseado nos ideais preconizados por Adam Smith, que assenta
na iniciativa privada e na correcção de possíveis falhas no mercado, assim como uma aplicação
de métodos de racionalização do trabalho, que tinha como objetivo diminuir os custos de
produção e permitir o aumento dos salários.
Neste sentido, nascem dois conceitos mediáticos na história, o Taylorismo e o Fordismo. O
primeiro, criado por Frederick Taylor (1856-1915), preconiza a divisão do trabalho nas
indústrias, baseado na divisão das tarefas e no planeamento prévio do tempo de produção, que é
obtido através da cronometragem. Deste modo, compete aos trabalhadores uma dada tarefa e um
tempo certo para a realizar, gerando, assim, uma maior competição entre as indústrias, que
competem pelo alcance de tempos mais reduzidos de produção. O segundo, criado por Henri
Ford, dono da indústria de automóveis Ford, assentava numa política de salários mais altos e
num aumento (baseado nas teorias de Taylor) da velocidade de realização de tarefas, que estava
altamente dependente das máquinas, sendo que o trabalhador teria que alcançar uma eficiência
de trabalho semelhante àquela que as máquinas já alcançavam. Estes ideais podem parecer
negativos pois o trabalhador é visto como um mero “objeto”, no entanto, com o aumento dos
salários aumenta também o incentivo e um maior poder de compra na classe operária, o que a
satisfaz e cria a ideia que até o mais pobre pode subir na vida com o esforço, gerando, deste
modo, contentamento e aumento da produção e da qualidade.
3. A Implantação do modelo Marxista-Leninista na Rússia
- O modelo Soviético
A Rússia em finais do século XIX encontrava-se ainda muito atrasada em relação às outras
nações. O seu controlo estava sob o poder do Czar, que se assemelhava ao Antigo Regime da
Europa, já posto de parte muitos anos antes. A revolução que terminou a monarquia absoluta em
todos os cantos do continente ainda não tinha marcas visíveis na Rússia, no entanto, os
camponeses, que constituíam quase 90% da população, começavam a inteirar-se do seu poder e
a contrariar o modo de vida em que eram obrigados a viver, com baixos salários e horas de
trabalho extraordinárias – a classe baixa era abusada.
No seio deste reino de terror encontrava-se Nicolau II, que apesar da tensão política e social que
se levantava, resistia a abdicar do poder que lhe tinha sido concedido pela hierarquia. Todas as
classes se debatiam com o desejo de mudança, os camponeses queriam poder sobre as terras
(que estavam, na altura, sob o poder da burguesia e nobreza), o proletariado exigia um aumento
dos salários e melhores condições de vida e a burguesia, juntamente com a nobreza mais liberal,
ansiavam pela modernização do país e a sua abertura política, como era visível em toda a
Europa.
Em 1905 dá-se a primeira Revolução do proletariado que, apesar dos esforços, fracassa. No
entanto, consegue demonstrar a necessidade de mudança e até gerar medo do poder desta classe
social, dado que, em 9 de janeiro desse ano, o denominado Domingo Sangrento, o povo sai à rua
para entregar uma petição no palácio de inverno, quando é parada pelas tropas czarinas, que
disparam sem piedade deixando no chão mais de 200 mortos, incluindo mulheres e crianças.
Assim, o Czar convoca a Duma (que se assemelha à corte) na tentativa de evitar uma guerra
civil.
Neste conselho são abolidos alguns privilégios dos mais ricos e diminuem-se os impostos dos
camponeses. Além disso, dá-se a criação de três partidos que concorrem ao parlamento: o
Partido Constitucional Democrático, um grupo de liberais com ideais burgueses; o Partido dos
Socialistas Revolucionários, que defendem a colectivização do trabalho; e os Socialistas
Democratas, os mais radicais. Estes últimos dividem-se em dois ramos: os mencheviques, a
minoria e os bolcheviques, a maioria, que é liderada por Lenine.
Os bolcheviques trarão enormes mudanças nas primeiras décadas do século XX, tento efeitos
radicais na Rússia e alterando o curso de quase todas as nações europeias, que neles encontram
o medo. Os seus ideais provêm de Karl Marx e Engels e caracterizam-se pela necessidade de dar
mais poder ao proletariado, pela criação de um Estado liderado pelo partido Comunista, tudo
assente pela via da Revolução como único meio de alcançar estas ideias.
Em 1917 a Rússia encontrava-se no limiar do colapso. A tensão começava a albergar-se em
todas as classes e a necessidade de mudança era clara. Todos os partidos que tinham sido
criados com a Duma encontravam-se revoltados com a incompetência do Czar e com a sua
decisão de participar na Primeira Guerra Mundial, que trouxera o caos e destruição.
Deste modo, entre 22 e 28 de fevereiro a população, principalmente as classes baixas, saem às
ruas para manifestarem o seu descontentamento. Iniciam-se as greves do proletariado e criam-se
as Sovietes – assembleias lideradas por trabalhadores, desde camponeses a soldados e
marinheiros. Além disso, Lenine, líder dos bolcheviques, regressa do exílio e retoma os seus
planos na Rússia, tendo como objetivo primordial derrubar a monarquia.
Em março dá-se uma manifestação em Petrograd para festejar o Dia Internacional da Mulher,
que rapidamente se sucumbe numa Revolução. A este motim aderiram as forças populares e dos
soldados que faziam parte do Soviete. Isto resultou no assalto ao Palácio de Inverno onde,
desprovido de apoios, Nicolau II vê-se forçado a abdicar do seu poder, que é colocado nas mãos
4. de um Governo Provisório dirigido por Lvov e, mais tarde, por Kerensky, que possuía ideais
burgueses e tinha como objetivo a instauração da Democracia e a continuação da guerra com a
Alemanha. No entanto, rapidamente se reconhece que o novo governo não pode proliferar e com
a retoma do poder bolchevique de Lenine iniciam-se os planos que o irão derrubar.
Deste modo, o líder bolchevique publica as famosas “teses de abril”, onde preconiza os ideais
da revolução, clarificando que o seu objetivo é dar o poder ao proletariado e aos camponeses,
dissolver o Governo Provisório, nacionalizar todas as terras, retirando-as do poder da nobreza e
da burguesia e coloca-las à disposição dos sovietes (principalmente dos camponeses),
“introduzir” o socialismo às massas e fazer reconhecer que o futuro está nas mãos do
Comunismo.
Em 24 e 25 de Outubro a Rússia deparou-se com outra Revolução. Os militares bolcheviques,
conhecidos como Guardas Vermelhos, saíram à rua e assaltaram o Palácio de Inverno,
derrubando o Governo Provisório. Este acto, que aconteceu da noite para o dia, conduziu os
bolcheviques ao poder da Rússia, liderados por Lenine, que ocupou a presidência, juntamente
com Trotsky, a quem coube liderar a Pasta de Guerra, e Estaline, com a Pasta das
Nacionalidades.
Assim, após a Revolução mediática, a história conheceu a primeira nação liderada pelo
proletariado – o comunismo triunfara. No entanto, Lenine irá encontrar alguma oposição regente
nas forças czarinas, nos mencheviques e alguns nacionalistas que se opõem aos ideais
comunistas, o que gerará alguma instabilidade política e social.
O novo governo inicia as suas funções com a criação e publicação dos Decretos
Revolucionários. Estes decretos serviram como base ao regimento da nova nação russa. Em
primeiro lugar, o Decreto sobre a Paz tende a pôr fim à sua participação na guerra. O Decreto
Sobre a Terra preconiza a pose de todas as terras pertencentes à burguesia, que passam para a
mão dos sovietes, abolindo, deste modo, a propriedade à terra desta classe. O Decreto sobre o
Controlo Operário atribuía aos operários a possibilidade de gerir a respectiva produção.
Finalmente, o Decreto sobre as Nacionalidades visava a igualdade e soberania dos povos da
Rússia, a abolição dos privilégios religiosos e de classes e a abolição da ideia de sociedade de
classes, como estava regente até então.
Deste modo, Lenine retira a Rússia da guerra com a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk, a 3
de março de 1918, onde fica acordada a cedência de um vasto conjunto de territórios, tais como
a Finlândia, a Polónia, a Estónia e a Ucrânia. Esta perda de territórios não é propriamente
positiva, principalmente quando parte das terras cultiváveis e minas ali se encontravam, no
entanto, é necessária para a paz procurada.
Lenine promulga a primeira constituição em Julho de 1918. Além disso, vai também organizar
os sovietes em dois organismos: a Assembleia do congresso e o Comité dos Comissários (no
qual fazem parte Lenine, Trotsky e Estaline). Finalmente, são creditados os ideais radicais do
comunismo, ou seja, é criado o Partido Único, que impede a criação e importância de qualquer
outro partido; todos os documentos passam a ser alvo de censura; passa a existir uma polícia
única soviete; e dá-se a nacionalização de todos os produtos e industrias russas.
No entanto, os bolcheviques não foram bem recebidos pelas massas, que continuavam
revoltadas com a ruína económica e com as condições deploráveis em que viviam. Assim, na
resistência ao bolchevismo, na qual reagem os Brancos – nome dado à guarda que se opõe ao
bolchevismo - resulta uma guerra civil que dura desde março de 1918 até 1920 e põe termo à
vida de inúmeros indivíduos.
Apesar das tentativas do exército Branco os Vermelhos, liderados por Trotsky, saem vencedores
e inicia-se uma nova política económica e social que se prolongará até 1927.
5. Neste novo modelo, inicia-se o processo de Ditadura do Proletariado, mais uma ideia
preconizada por Karl Marx, que é descrita como essencial à edificação do comunismo e implica
a tomada ao poder do Estado por parte do proletariado, que depressa abolirá todos os privilégios
das restantes classes socias, terminando, assim, com as desigualdades sociais.
A resistência do proletariado ao regime bolchevique era imensa e isto gerou alguma dificuldade
na Ditadura do Proletariado, dado que este mostrou resistência aos Decretos Revolucionários.
Além disso, vivia-se ainda um clima de guerra civil pesado e destrutivo. Deste modo, Lenine
toma medidas radicais que ficam conhecidas como Comunismo de Guerra.
Estas medidas preconizavam a censura da imprensa, a nacionalização de todos os bancos,
fábricas e terra, o decreto do trabalho como uma obrigação a todos os povos, a requisição do
aumento da produção agrícola, a reforma agrária, a abolição da propriedade privada, o
congelamento dos salários e o centralismo democrático.
Toda a economia foi nacionalizada e passou a competir ao Estado o racionamento e a
distribuição dos bens de acordo com os ideais comunistas.
A partir de 1922, a Rússia converteu-se na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
No entanto, os Sovietes, anteriormente conhecidos como aliados dos bolcheviques, eram agora
membros do proletariado que não viam no bolchevismo os resultados que esperavam. Lenine
queria, no entanto, que o Estado Soviético tivesse poder, fosse forte e disciplinado. Assim,
formula-se o centralismo democrático, cujas ideias se baseiam que todo o poder emana da base,
ou seja, pelos sovietes, escolhidos por sufrágio universal.
Finalmente, Lenine vê-se obrigado a ceder perante a ruína económica e social em que a nação se
encontrava. Assim, o comunismo cede lugar à Nova Política Económica (NEP), que recorre ao
capitalismo, com a interrupção da colectivização agrária, com a liberdade de comércio interno,
com a privatização de empresas e industrias e com a abertura ao investimento estrangeiro.
A Regressão do Demoliberalismo
A revolução e implantação do comunismo na Rússia tiveram repercussões nos vários cantos da
Europa liberal, onde a classe do proletariado se via aflita com a crise económica que os países
atravessavam, expondo a sua revolta através de greves e manifestações. Além disso, a Rússia
fazia-se notar como uma luz para os trabalhadores, que viam esperança no comunismo de
libertação e abolição das classes sociais.
A nação russa via nesses movimentos força para continuar com os seus ideais Marxistas-
Leninistas. Deste modo, deu-se a fundação, em Moscovo, em março de 1919, da III
Internacional, também conhecida como Komintern.
O Komintern propunha coordenar e até incentivar a luta da classe trabalhadora a nível mundial,
com o fim de ver triunfar o marxismo-leninismo, tendo que ser chefiada unicamente por
partidos comunistas que fossem fieis aos ideais russos. Além disso, se o objetivo primordial da
III Internacional fosse completo os bolcheviques teriam finalmente a sua vitória, pois passariam
a ser aceites por todo o proletariado (em vês de apenas o mais radicais) e todas as classes que se
opunham aos seus ideais seriam sacudidas ao seu poder.
Esta Internacional Operária realizou dois congressos, sendo que o 2º teve uma enorme
importância na vida social e política das nações. Neste congresso, realizado em julho de 1920,
os partidos socialistas e sociais-democratas são obrigados a abandonar os seus ideais e a
defenderem o bolchevismo e o centralismo democrático. Deste modo, convertem-se estes
partidos em comunistas.
Consequência do declínio económico, político, social e cultural do pós-guerra e dos ideais
socialistas e revolucionários que se faziam notar, a Europa assiste a uma radicalização social e
6. política, minada de greves e manifestações. Países como a Alemanha, a Hungria e a Itália
viram-se em dificuldades de organizar as multidões enraivecidas e as tentativas de uma
revolução bolchevista, resultando na execução dos líderes destes partidos e na resistência das
classes mais elevadas.
O medo da consagração da revolução bolchevique em alguma nação aumentou e proliferou pela
Europa, que se via escassa em meios para continuar a resistir. Até a burguesia e as classes
médias sucumbiram ao medo de perderem os seus privilégios e poses, o que se revelou num
aumento de adeptos de um governo forte, que garantisse a paz social, a riqueza e o conforto
destas classes.
Deste modo, as soluções apresentadas eram autoritárias e de direita. Partidos conservadores e
nacionalistas começaram a ganhar um enorme número de votos no início dos anos 20. Isto
sucedeu-se particularmente nos países onde as dificuldades e a destruição foram maiores.
Em 1919, é fundado em Itália o partido FasciItalianidiCombattimento, de onde mais tarde
derivará a expressão Fascismo, por um ex-socialista italiano de nome Benito Mussolini. Este
partido defendia a democracia e o socialismo, no entanto, a sua simpatia com os burgueses e
industriais de direita torna-o mais aderente aos ideais conservadores e totalitaristas. Deste
modo, os fascistas sobem ao poder e tomam posse do Estado italiano, quando em 27 e 30 de
Outubro organizam uma greve geral e dá-se a “Marcha Sobre Roma”, na qual participam cerca
de 30 000 fascistas, liderados por Mussolini, juntamente com a sua força militar, os “Camisas
Negras”.
O rei, perante a situação, convida Mussolini a formar um governo. No entanto, o desejo deste
partido não é a parceria com o rei e com o seu governo, mas sim a tomada do poder absoluto.
Conseguem, deste modo, alterar as eleições de 1924, vencendo por maioria. Além disso,
continuam os seus atos de “poder” e assassinam o líder do partido socialista, Giacomo
Matteoti.
Por sua vez, em Espanha é adoptada entre 1947 e 1975, uma ditadura militar, liderada pelo
general Miguel Primo de Rivera.
Além disso, também a Hungria, a Bulgária, a Lituânia, a Turquia, a Grécia, Portugal e outros
países conheceram o poder dos regimes autoritários.
A Europa liberal cai no abismo a partir dos anos 20 e passa a reconhecer em grande parte das
suas nações o caráter nacionalista e extremista dos seus líderes, o que, mais tarde,
desencadeará na Segunda Guerra Mundial. Esta necessidade da adesão ao autoritarismo
reflete a regressão do Demoliberalismo.
Mutações nos Comportamentos e na Cultura
O século XX foi alvo de enormes mudanças a todos os níveis, principalmente na Europa e nos
Estados Unidos, onde a industrialização provou a sua capacidade acelerada de evolução e
povoou as cidades com as suas novidades, tais como o carro e o comboio, que alteraram o modo
de mobilidade das populações.
O constante crescimento fez-se notar principalmente no meio urbano, onde a população se
engloba e cresce. Deste modo, é possível verificar-se uma massificação dos indivíduos, que
passam a frequentar os mesmos transportes, os meus locais de lazer, as mesmas atividades de
ócio e horários de trabalho. Pode-se concluir que se torna visível a despersonalização dos povos,
passando estes a ser nada mais que meros números.
7. A convivência entre os sexos torna-se mais livre e ousada, sobretudo após a Primeira Grande
Guerra, da qual a mulher sai triunfante e adquire mais visibilidade, passando a possuir alguns
direitos que eram, até então, exclusivos ao sexo masculino.
A entrada no século XX trás a notícia de mudança, sob a qual se previam alterações nos valores
da sociedade burguesa. No entanto, esta classe opta por desprezar as previsões e viver no novo
mundo com otimismo e superioridade.
Porém, após a Primeira Guerra Mundial as esperanças desmoronam-se e levanta-se o
pessimismo e o caos. O choque da guerra abale a sociedade e gera contestações, que mais tarde
se fariam sentir em revoltas. Instala-se, deste modo, um clima de anomia, ou seja, de ausência
de normas morais e sociais.
Esta falta de valores acelera as mudanças que se encontravam em curso. Dá-se, então, uma
mudança de paradigma, causada pelos destroços da guerra, que abrem as portas à possibilidade
de um novo recomeço, de um crescimento da cultura e do comércio. Daqui nasce a classe
média, que integra a pequena e média burguesia.
No sentido destas alterações a emancipação feminina é das que mais se faz sentir, com a
mudança radical da ideologia da mulher como dona de casa. Esta deixa de possuir dependência
total do homem e reivindica os seus direitos. O movimento feminista, que procura a igualdade
jurídica, social, económica , intelectual e política dos sexos, faz-se sentir com a criação das
associações das sufragistas, que tinham como primeiro objetivo o direito ao voto.
Na Europa, destacaram-se as sufragistas britânicas. Indignadas com a oposição e resistência face
aos seus desejos, estes grupos procuraram atrair a atenção recorrendo a meios extremos e
violentos, com manifestações, greves e apedrejamentos.
Os seus meios não conheceram a cedência do governo. No entanto, com a participação na
guerra, as mulheres tiveram que assumir o papel do homem no sustento da família, revelando-se
capazes de substituir o sexo oposto em quase todas as tarefas.
Finalmente, o esforço foi compensado, dado que, após o conflito que provocara tanto caos e
destruição, as mulheres adquirem o direito de intervenção política e abrem-se carreiras
profissionais prestigiadas, tomando a mulher uma nova posição na história.