O documento discute as teorias não críticas da Sociologia da Educação e como elas concebem a escola. Essas teorias veem a escola como uma agência que transmite conhecimentos de forma lógica e uniforme para manter os valores da classe dominante. Elas não reconhecem conflitos na escola ou na sociedade. A organização escolar do século XIX refletia os interesses do sistema capitalista emergente.
1. Aula: 06
Temática: As Interfaces da Didática com a Sociologia
da Educação: as teorias não críticas
Nas aulas anteriores apontamos as interfaces da Didática
com a Filosofia, que oferece o modelo de sujeito que se pretende educar, e com a Psicologia da Educação, que indica
como o sujeito pode aprender. Nesta aula vamos estudar as relações da
Didática com a Sociologia da Educação, pois os conteúdos a serem aprendidos nas situações didáticas são dados pela Sociedade, pela Cultura.
No campo da Sociologia da Educação, alguns autores, como SAVIANI
(1994), identificam uma polarização dos modelos explicativos sobre a organização escolar e o trabalho que nela se realiza, entre as teorias não
críticas e as teorias críticas. As teorias não críticas identificam a organização escolar e o seu trabalho como a agência que difunde a instrução,
transmite os conhecimentos acumulados pela humanidade sistematizados
logicamente e assegura a manutenção dos valores universais. As teorias
não críticas não focalizam o conflito existente na sociedade e, conseqüentemente, na escola.
FULLAT (1994) adverte que a educação em geral, especialmente a institucionalizada na forma de escola, sempre foi conflitiva, pois pretende transmitir noções muito discutíveis como “verdade”, “bondade” ou “beleza”.
A escola propõe esses valores em função das lutas existentes entre os
diversos grupos sociais, logo ela é estrutural e dinamicamente conflitiva,
pois o projeto de sociedade não é único e vários projetos são propostos
simultaneamente, mesmo que um possa se sobrepor aos demais.
A partir dos diversos projetos de sociedade, são propostos diferentes tipos
de “escola”, como a única, a pluralista e a plural. FULLAT (1994) define a
“escola única” como a que não admite uma concepção de existência que
seja diferente da proposta pelo poder hegemônico. A “escola pluralista”
permite diferentes códigos morais no seu interior, enquanto a “escola plural” entende que cada centro escolar possa se organizar independentemente no que concerne à transmissão de saberes e valores.
As teorias não críticas concebem a escola como única, sem conflitos, tal
como se houvesse um único projeto de sociedade, isto é, o projeto social
do poder hegemônico. Essa concepção identifica-se com a própria constituição dos sistemas nacionais de ensino europeus que datam do início do
século XIX. Nessa época, a consolidação da sociedade industrial exigiu a
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2. qualificação da mão de obra e a manutenção dos interesses da burguesia,
classe que ascendia ao poder com a reestruturação política gerada pela
nova ordem econômica. A organização dos sistemas nacionais de ensino
na Europa inspirou-se no princípio de que
A educação é direito de todos e dever do Estado. O
direito de todos à Educação decorria do tipo de sociedade correspondente aos interesses da nova classe
que se consolidara no poder: a burguesia. Tratava-se
de construir uma sociedade democrática, de consolidar a democracia burguesa, neste quadro, a causa
da marginalidade é identificada com a ignorância. A
escola surge como um antídoto a ignorância, logo um
instrumento para equacionar o problema da marginalidade. Seu papel é difundir a instrução, transmitir os
conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. A escola se organiza como
uma agencia centrada no professor, o qual transmite
segundo uma gradação lógica, o acervo cultural dos
alunos, A estes cabe assimilar os conhecimentos que
lhe são transmitidos (SAVIANI: 1994:17).
A organização escolar do século XIX respondeu às necessidades do sistema capitalista de produção. Fazemos referência ao sistema capitalista como um sistema econômico
baseado na propriedade privada dos meios de produção e na propriedade
intelectual, na obtenção do lucro como decorrência do investimento de capital e do risco assumido pela iniciativa privada e na regulamentação dos
mercados pelas leis da oferta e da procura.. Essa concepção de capitalismo se apóia nas teses do liberalismo econômico, configuradas no século
XVIII e consolidadas no século XIX. Nos finais do século XX, essas teses
foram atualizadas sob a denominação de Neoliberalismo.
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