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Aula: 02
Temática: A Disciplina Didática
em seu processo histórico
Na aula anterior mencionamos que as correntes do pensamento científico do final do século XX e início do XXI distanciaram-se desse modelo de explicação causal linear. Por
exemplo, as pesquisas do Grupo Interdisciplinar do Instituto Santa Fé nos
Estados Unidos, demonstraram que a maior parte da natureza é não linear,
não sendo, então, facilmente previsível. Um bom exemplo da não linearidade da natureza é o tempo atmosférico, no qual muitos componentes
interagem de modo complexo e configuram uma notória imprevisibilidade.
Os ecossistemas, as entidades econômicas, os embriões em desenvolvimento são outros bons exemplos de “dinâmica complexa”, que desafiam a
análise ou simulação matemática (LEWIN, 1994).
Nos sistemas não lineares, pequenos estímulos podem levar a resultados
inesperados, como o denominado “efeito borboleta”: uma borboleta bate
as asas na floresta amazônica e põe em movimento uma série de acontecimentos que desencadeiam uma tempestade de granizo em Porto Alegre. Com outras condições iniciais, a mesma mariposa pode borboletear à
vontade e desencadear uma bela tarde de sol em Brasília. No modelo de
explicação da realidade pelos sistemas não lineares, diferenças mínimas
nas condições iniciais de qualquer processo podem produzir resultados
diversos. Você pode imaginar o que significa aplicar a noção científica de
sistema não linear a uma sala de aula? Pense na sala de aula como um
sistema não linear; pense na quantidade de pessoas e estímulos implicados em uma sala de aula; pense na quantidade e qualidades das inúmeras
trocas que acontecem na sala de aula.
Do mesmo modo que Comênio produziu sua Didática Magna em consonância com o conhecimento científico do seu momento histórico, os educadores do século XXI começam a pensar na situação didática da aula
como um sistema não linear, no qual as diferenças mínimas nas condições
iniciais do processo podem produzir resultados inesperados.
O significado de Didática como aplicação de um método para o ensino foi
fortalecendo-se à medida que a ciência da Idade Moderna realizou suas
conquistas a partir do modelo da física newtoniana. O modelo mecânico
do discurso científico da Idade Moderna buscou regularidades e leis naturais em todo objeto de estudo. A “racionalidade científica” tornou-se a
marca da verdade e o motor do progresso, pressupondo um objetivo para
a marcha humana, um projeto evolutivo a ser cumprido, um destino.
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DIDÁTICA E PRÁTICA
No campo da Didática, o esquema de explicação dos fenômenos por meio
de uma relação linear de causa-efeito, reforçou a idéia de que a pessoa
aprende por meio da aplicação de um correto método de ensino. E mais
ainda, a idéia de que o desenvolvimento humano tenderia a evoluir, linearmente, em direção à construção do raciocínio hipotético-dedutivo. No
início do século XXI, os educadores vêm constatando que o processo de
aprendizagem/ensino não é tão previsível nem tão linear como vinha sendo
praticado ao longo de três séculos, e está muito mais próximo dos sistemas não lineares.
LEWIN (1994) observa que, à primeira vista, os sistemas não lineares podem parecer complexos, mas, na realidade, são produzidos por um conjunto relativamente simples de sub-processos. A noção de sistemas não
lineares origina-se no modelo proposto pelo físico Ilya Prigogine, Prêmio
Nobel de Física em 1977, com a sua Teoria das Estruturas Dissipativas,
também conhecida como Teoria do Caos.
O modelo de natureza não linear tem sido nomeado por muitos autores,
como DOLL (2002), de “paradigma pós-moderno”. Nesse sentido, DOLL
(2002) compreende que estaríamos vivendo um novo momento histórico
em que teríamos ultrapassado a Modernidade e a Sociedade Industrial –
supostamente encerrada na primeira metade do século XX – e estaríamos
vivendo, hoje, o período Pós-Moderno ou também chamado de Sociedade
Pós-Industrial.
Em nosso curso vamos concentrar a atenção na dinâmica
dos sistemas não lineares, independente do nome que os
diferentes autores possam dar ao tempo histórico que estamos vivenciando. Da interação dos componentes individuais reunidos no
sistema não linear, surge uma espécie de propriedade global do sistema.
Esse comportamento que surge, essa propriedade emergente, faz a retro
alimentação do sistema, influenciando o comportamento dos indivíduos
que interagem no mesmo.
Complexidade é o que contém, engloba e reúne elementos diferentes. Para
compreender essa complexidade necessitamos acompanhar o processo
não só através da observação de um único observador, mas também do
entendimento e da descrição desse processo por diferentes referências.
Compreende-se o vocábulo referência como sendo a representação de
cada ator social implicado no processo. Em nosso caso, para compreendermos a situação didática da aula teremos que compreender o processo
da aprendizagem a partir da representação dos vários atores sociais envolvidos no processo, ou seja, a partir da referência de professores e alunos.
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DIDÁTICA E PRÁTICA

15
A complexidade preocupa. Na verdade é quase sempre confundida com a complicação. Ora, se a segunda
é efetivamente o fruto de uma intervenção que vem
‘embaralhar as cartas’, a primeira é, por outro lado,
a expressão da solidariedade que liga todas as coisas entre si e rege sua interação. Enquanto que a segunda nos priva do poder, a primeira nos o traz: um
sistema complexo não é um sistema que foge a nossa
compreensão, é um sistema que se oferece a nossa
ação, um conjunto de elementos que estão ligados
de tal forma que a transformação de um determinará
a modificação dos outros e, consequentemente, terá
efeitos sobre todo o sistema. (MEIRIEU, 1998:155)

Não é fascinante pensar que um elemento componente de
um sistema não linear pode colaborar para a transformação
do sistema? Você pode imaginar essa concepção aplicada à
nossa sala de aula? Pense em você, discente e docente, como um elemento desse complexo sistema não linear que é a sala de aula. Já pensou que
sua transformação poderá ter efeitos sobre todo o sistema?

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Aula 02: Sistemas não lineares na sala de aula

  • 1. Aula: 02 Temática: A Disciplina Didática em seu processo histórico Na aula anterior mencionamos que as correntes do pensamento científico do final do século XX e início do XXI distanciaram-se desse modelo de explicação causal linear. Por exemplo, as pesquisas do Grupo Interdisciplinar do Instituto Santa Fé nos Estados Unidos, demonstraram que a maior parte da natureza é não linear, não sendo, então, facilmente previsível. Um bom exemplo da não linearidade da natureza é o tempo atmosférico, no qual muitos componentes interagem de modo complexo e configuram uma notória imprevisibilidade. Os ecossistemas, as entidades econômicas, os embriões em desenvolvimento são outros bons exemplos de “dinâmica complexa”, que desafiam a análise ou simulação matemática (LEWIN, 1994). Nos sistemas não lineares, pequenos estímulos podem levar a resultados inesperados, como o denominado “efeito borboleta”: uma borboleta bate as asas na floresta amazônica e põe em movimento uma série de acontecimentos que desencadeiam uma tempestade de granizo em Porto Alegre. Com outras condições iniciais, a mesma mariposa pode borboletear à vontade e desencadear uma bela tarde de sol em Brasília. No modelo de explicação da realidade pelos sistemas não lineares, diferenças mínimas nas condições iniciais de qualquer processo podem produzir resultados diversos. Você pode imaginar o que significa aplicar a noção científica de sistema não linear a uma sala de aula? Pense na sala de aula como um sistema não linear; pense na quantidade de pessoas e estímulos implicados em uma sala de aula; pense na quantidade e qualidades das inúmeras trocas que acontecem na sala de aula. Do mesmo modo que Comênio produziu sua Didática Magna em consonância com o conhecimento científico do seu momento histórico, os educadores do século XXI começam a pensar na situação didática da aula como um sistema não linear, no qual as diferenças mínimas nas condições iniciais do processo podem produzir resultados inesperados. O significado de Didática como aplicação de um método para o ensino foi fortalecendo-se à medida que a ciência da Idade Moderna realizou suas conquistas a partir do modelo da física newtoniana. O modelo mecânico do discurso científico da Idade Moderna buscou regularidades e leis naturais em todo objeto de estudo. A “racionalidade científica” tornou-se a marca da verdade e o motor do progresso, pressupondo um objetivo para a marcha humana, um projeto evolutivo a ser cumprido, um destino. UNIMES VIRTUAL 14 DIDÁTICA E PRÁTICA
  • 2. No campo da Didática, o esquema de explicação dos fenômenos por meio de uma relação linear de causa-efeito, reforçou a idéia de que a pessoa aprende por meio da aplicação de um correto método de ensino. E mais ainda, a idéia de que o desenvolvimento humano tenderia a evoluir, linearmente, em direção à construção do raciocínio hipotético-dedutivo. No início do século XXI, os educadores vêm constatando que o processo de aprendizagem/ensino não é tão previsível nem tão linear como vinha sendo praticado ao longo de três séculos, e está muito mais próximo dos sistemas não lineares. LEWIN (1994) observa que, à primeira vista, os sistemas não lineares podem parecer complexos, mas, na realidade, são produzidos por um conjunto relativamente simples de sub-processos. A noção de sistemas não lineares origina-se no modelo proposto pelo físico Ilya Prigogine, Prêmio Nobel de Física em 1977, com a sua Teoria das Estruturas Dissipativas, também conhecida como Teoria do Caos. O modelo de natureza não linear tem sido nomeado por muitos autores, como DOLL (2002), de “paradigma pós-moderno”. Nesse sentido, DOLL (2002) compreende que estaríamos vivendo um novo momento histórico em que teríamos ultrapassado a Modernidade e a Sociedade Industrial – supostamente encerrada na primeira metade do século XX – e estaríamos vivendo, hoje, o período Pós-Moderno ou também chamado de Sociedade Pós-Industrial. Em nosso curso vamos concentrar a atenção na dinâmica dos sistemas não lineares, independente do nome que os diferentes autores possam dar ao tempo histórico que estamos vivenciando. Da interação dos componentes individuais reunidos no sistema não linear, surge uma espécie de propriedade global do sistema. Esse comportamento que surge, essa propriedade emergente, faz a retro alimentação do sistema, influenciando o comportamento dos indivíduos que interagem no mesmo. Complexidade é o que contém, engloba e reúne elementos diferentes. Para compreender essa complexidade necessitamos acompanhar o processo não só através da observação de um único observador, mas também do entendimento e da descrição desse processo por diferentes referências. Compreende-se o vocábulo referência como sendo a representação de cada ator social implicado no processo. Em nosso caso, para compreendermos a situação didática da aula teremos que compreender o processo da aprendizagem a partir da representação dos vários atores sociais envolvidos no processo, ou seja, a partir da referência de professores e alunos. UNIMES VIRTUAL DIDÁTICA E PRÁTICA 15
  • 3. A complexidade preocupa. Na verdade é quase sempre confundida com a complicação. Ora, se a segunda é efetivamente o fruto de uma intervenção que vem ‘embaralhar as cartas’, a primeira é, por outro lado, a expressão da solidariedade que liga todas as coisas entre si e rege sua interação. Enquanto que a segunda nos priva do poder, a primeira nos o traz: um sistema complexo não é um sistema que foge a nossa compreensão, é um sistema que se oferece a nossa ação, um conjunto de elementos que estão ligados de tal forma que a transformação de um determinará a modificação dos outros e, consequentemente, terá efeitos sobre todo o sistema. (MEIRIEU, 1998:155) Não é fascinante pensar que um elemento componente de um sistema não linear pode colaborar para a transformação do sistema? Você pode imaginar essa concepção aplicada à nossa sala de aula? Pense em você, discente e docente, como um elemento desse complexo sistema não linear que é a sala de aula. Já pensou que sua transformação poderá ter efeitos sobre todo o sistema? UNIMES VIRTUAL 16 DIDÁTICA E PRÁTICA