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O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS
Marcella Ferreira e Silva
Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque
São Paulo
2014
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O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS
Há muito tempo se sabe que o trabalho, quando executado sob determinadas
condições, pode causar doenças, encurtar a vida ou matar, sem rodeios, os trabalhadores. (8)
O desgaste do corpo durante o processo produtivo gera patologias específicas para
cada tipo de atividade ocupacional, além das diferentes modalidades de acidentes do trabalho,
cujas características encontram-se também diretamente relacionadas com o tipo de trabalho
executado. (18)
Em relação às condições de trabalho, os riscos ambientais estão divididos em
cinco categorias:
• Riscos Biológicos: são diretamente relacionados com micro-organismos, podendo
provocar doenças;
• Riscos Químicos: são substâncias ou produtos que podem contaminar o ambiente de
trabalho e, consequentemente, o organismo humano;
• Riscos Físicos: São resultantes da troca de energia entre o organismo e o ambiente de
trabalho, em quantidade que pode causar o desconforto, acidentes ou doenças do
trabalho;
• Riscos Ergonômicos: são as condições de trabalho que não são adaptadas às
características físicas e psicofisiológicas das pessoas;
• Riscos Mecânicos ou de Acidentes: são agentes relacionados com os processos de
trabalho e as condições físicas do ambiente. (1)
É importante observar que a nocividade do trabalho pode não ser dele próprio, ou
das atividades que o conformam, mas determinada ou agravada por 2 considerações sobre o
“tempo de trabalho”, sendo elas pela “duração” ou pela “configuração”, entendido como
“tempo de trabalho” nas mais distintas acepções, que vão desde o tempo na vida em que se
começa a trabalhar; o tempo na vida em que se para de trabalhar; o tempo ou duração do
trabalho numa jornada de trabalho (jornada, do francês jour = dia), nas semanas, nos meses,
nos anos e, enfim, na vida. “Duração”, no sentido de tempo acumulado, e “configuração”, no
sentido de sua distribuição, ou forma como a duração está organizada ou distribuída no
próprio referencial de periodização do tempo: vida, época da vida, ano, estação do ano, mês,
semana, dia, hora, minuto... (8)
3  
  
O grau de sucesso ou insucesso dos mecanismos de “agressão” irá depender não
apenas da natureza e intensidade da “agressão”, e do grau de “vulnerabilidade” aos patógenos
do trabalho, mas também da eficiência ou eficácia dos mecanismos de “defesa” do
trabalhador. (8)
Sobre a ideia de saúde a Organização Mundial da Saúde conceitua da seguinte
forma:
“condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas
aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um
recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando
recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aspirações físicas.” (OMS, 1984 apud Rey, 1999.
Grifo introduzido). (8)
Dito em outras palavras:
“saúde é o estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e
psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais
ou sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou
sociais.” (Rey, 1999. Grifo introduzido). (8)
Podemos concluir que, o trabalhador ao ser exposto a um agente agressor, seu
organismo irá reagir com um tipo de mecanismo de defesa, seu resultado pode ser uma
adaptação ou uma lesão. Por exemplo, o trabalhador exposto a uma natureza
predominantemente biológica, seu mecanismo de defesa poderá dar resposta imunológica
competente e adequada, caso não seja adequada irá surgir doenças decorrentes desta
exposição.
Antes de iniciarmos nossos estudos sobre as doenças ocupacionais, precisamos ter
claro algumas definições:
• Acidente de trabalho
• Doença do trabalho
• Doença profissional
A Lei 8.213/91 conceitua o acidente de trabalho, primeiro no sentido restrito,
depois no sentido amplo ou por extensão. (10)
4  
  
Do acidente-tipo, ou também chamado de macrotrauma, cuida a lei no art. 19 e
basicamente define como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução
da capacidade permanente ou temporária para o trabalho. Ou seja, trata-se de um evento
único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e consequências
geralmente imediatas. (10)
O acidente de trabalho representa uma interrupção súbita no processo de trabalho,
traumática para o acidentado, diferente das doenças profissionais ou do trabalho que tem
caráter progressivo e em boa parte dos casos irreversíveis, implicando um processo lento de
degeneração orgânica do qual muitas vezes o próprio trabalhador não se dá conta. Pela
ausência inicial de sintomatologia clínica, as patologias profissionais permitem – ao contrário
dos acidentes – que o indivíduo prossiga trabalhando até que se torne inútil para a produção e
seja substituído por outro. (18)
Deste modo o objetivo deste trabalho é tratar apenas das doenças laborais, das
quais podemos analisar sob algumas características do ponto de vista de Ramazzini, Schilling
e da própria Lei 8.213/91.
Bernardino Ramazzini (1633 – 1714) parece ter sido o primeiro a tentar classificar
o que ele denominou de “doenças do trabalhador”, descrevia as doenças como, por exemplo:
“doença dos mineiros”; “doença dos que trabalham em pé”; “doença dos pintores”, “doença
dos que trabalham com enxofre”, etc. (8)
Da classificação empírica construída por Bernardino Ramazzini, há mais de 300
anos, é possível pinçar os critérios para uma primeira sistematização da patologia do trabalho:
• Num primeiro grupo estão aquelas doenças diretamente causadas pela “nocividade da
matéria manipulada”, de natureza relativamente específica, e que vieram dar origem às
“doenças profissionais” (8)
• Num segundo grupo estão aquelas doenças produzidas pelas condições de trabalho:
“posições forçadas e inadequadas”, “operários que passam o dia de pé, sentados,
inclinados, encurvados etc.”. São as que mais tarde foram denominadas “doenças
causadas pelas condições especiais em que o trabalho é realizado”. (8)
O professor Richard Schilling, da Inglaterra, desenvolveu uma classificação
própria, que agrupa as “doenças relacionadas com o trabalho” em três categorias, resumidas
na tabela 1.1. (8)
5  
  
Categorias Exemplos
I - Trabalho como causa necessária, exatamente, e pelas
intoxicações agudas de origem ocupacional.
* Intoxicação por chumbo
* Silicose
* "Doenças profissionais" legalmente prescritas
* Outras
II - Trabalho como fator de risco contributivo ou
adicional, mas não necessário, exemplificadas pelas
doenças comuns, mais frequentes ou mais precoces em
determinados grupos ocupacionais e para as quais o
nexo causal é de natureza eminentemente
epidemiológica.
* Doença coronariana
* Doenças do aparelho locomotor
* Câncer
* Varizes dos membros inferiores
* Outras
III - Trabalho como provocador de um distúrbio
latente, ou agravador de doença já estabelecida ou
preexistente.
* Bronquite crônica
* Dermatite de contato alérgica
* Asma
* Doenças mentais
* Outras
A Lei 8.213/91 subdivide as doenças ocupacionais em doenças profissionais e
doenças do trabalho, estando previstas no art. 20, I e II.
As primeiras, também conhecidas como “ergopatias”, “tecnopatias” ou “doenças
profissionais típicas”, são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar
a determinada atividade (corresponde à classificação Schilling I). Nessa situação, o trabalho é
considerado causa direta do agravo, ou seja, se o agente for eliminado, o agravo poderá ser
completamente prevenido. Dada a sua tipicidade, prescindem de comprovação do nexo de
causalidade com o trabalho. Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de
microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram as defesas orgânicas, e que, por efeito
cumulativo, terminam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido. Por exemplo, os
trabalhadores da mineração, sabe-se de há muito que estão sujeitos à exposição do pó de
sílica, e, portanto, com chances de contrair a silicose, sendo considerada uma doença
profissional. (10) (20)
Por sua vez as doenças do trabalho, também chamadas de “mesopatias”, ou
“moléstias profissionais atípicas”, são aquelas desencadeadas em função de condições
especiais em que o trabalho é realizado (classificação Schilling II e III), ou seja, o trabalho é
um dos fatores de risco para a ocorrência do agravo. Contudo, por serem atípicas, exigem a
comprovação do nexo de causalidade com o trabalho, via de regra através de vistoria no
ambiente laboral. A retirada do fator de risco reduzirá a incidência do agravo e/ou modificará
Tabela 1.1 – Classificação das doenças segundo sua relação com o Trabalho
Fonte: Adaptado de Schilling, 1984
6  
  
a evolução da doença. Por exemplo, a ocorrência de problemas osteomusculares nos
profissionais de enfermagem. (10) (20)
Enquanto as doenças profissionais resultam de risco específico direto
(característica do ramo de atividade), as do trabalho tem como causa o risco específico
indireto. Assim, por exemplo, uma bronquite asmática normalmente provém de um risco
genérico e pode acometer qualquer pessoa. Mas se o trabalhador exercer sua atividade sob
condições especiais, o risco genérico transforma-se em risco específico indireto. (10)
A Lei 8.213/91 ainda contempla uma terceira categoria de doença, disposto no
parágrafo 2° do art. 20: “Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na
relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o
trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-
la acidente do trabalho”. Estamos diante de uma variante da doença do trabalho, pois há uma
relação direta com as condições especiais em que é executado o trabalho, por exemplo, as
doenças ligadas à voz presentes nos trabalhadores das empresas de telemarketing. (10)
UNIDADE 1 – DOENÇAS RELACIONADAS AOS RISCOS BIOLÓGICOS
Consideram-se riscos biológicos os vírus, bactérias, parasitas, protozoários,
fungos e bacilos. (12)
Os riscos biológicos ocorrem por meio de micro-organismos que, quando entram
em contato com o ser humano, podem causar diversas doenças. Muitas atividades
profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação,
hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios etc. (12)
Dentre as inúmeras doenças profissionais provocadas por micro-organismos,
destacam-se: tuberculose, brucelose, malária e febre amarela. (12)
Para que essas doenças possam ser consideradas doenças profissionais, deve haver
exposição do empregado a tais micro-organismos. Alguns agentes infecciosos que podem ter
relação com o trabalho são:
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• Dos vírus: adenovírus; caxumba; citomegalovírus; ebola; hepatite B; hepatite C;
Herpes simplex; HIV; influenza; parainfluenza; parvovirus B19; poliovirus; rotavirus;
rubéola; sarampo; varicela-zoster; vírus respiratório sincicial.
• Das bactérias: bordetella; campulobacter; corynebacyerium diphteriae; mycobacterium
tuberculosis; neisseria meningitidis; salmonella; shigella; yersínia pestis.
• Outros: chlamydia psittaci; coxiella burnetti; cryptosporidium; mycoplasma
pneumonie; sarcoptes scabiei. (12) (8)
O conhecimento dos riscos biológicos nos ambientes de trabalho é crucial para a
prevenção das doenças ocupacionais. A displicência e complacência podem resultar em
graves e ameaçadoras consequências. Os micro-organismos encontrados nos ambientes de
trabalho variam de vírus extremamente pequenos e bactérias unicelulares, até fungos e
parasitas multicelulares. (8)
É preciso adotar medidas preventivas para que as condições de higiene e
segurança nos diversos setores de trabalho sejam adequadas. (12)
As medidas de controle mais usualmente adotadas são: saneamento básico,
controle médico permanente, uso de EPI, higiene rigorosa, higiene pessoal, uso de roupas
adequadas, vacinação, treinamento, etc. (12)
Para que uma substância seja nociva ao homem, é preciso que ela entre em
contato com o organismo. Há diferentes vias de penetração para os riscos biológicos: (12)
Ingestão: a água, os alimentos em geral, mãos e objetos quando levados à boca constituem as
principais maneiras pelas quais a maioria dos agentes infectantes por via oral é transportada e
introduzida no organismo, por exemplo, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides, Enterobius
vermicularis, Trichuris trichiura), cistos de protozoários (Entamoeba histolytica, Giardia
lambia), bactérias entéricas (Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli enteropatogênica) e
enterovírus (vírus da poliomielite, rotavírus, e outros). (8)
Inalação através das vias respiratórias superiores: gotículas expelidas pela boca e pelo
nariz contendo vírus diversos (gripe, sarampo, etc.); população viável de Mycobacterium
tuberculosis no escarro em dessecação, associada a micropartículas de poeira; esporos de
fungos das espécies Histoplasma capsulatum e Paracoccidioides braziliensis, responsáveis,
respectivamente, pela histoplasmose e pela paracoccidioidomicose; frações de muco nasal
8  
  
contendo Mycobacterium leprae, agente da hanseníase, e diversos outros exemplos, compõem
uma vasta lista de biopatógenos que podem estar presentes em suspensão no ar inalado. (8)
Penetração através das mucosas: de forma geral, as mucosas expostas aos fatores
ambientais – vagina, uretra, olhos, boca – dispõem de condições biofísico-químicas
favoráveis à instalação de germes e consequente desenvolvimento de infecções específicas. O
material chegado à mucosa sadia pode originar-se do contato direto com outra mucosa doente
ou ser trasnportado por algum veículo ou vetor. A Neisseria gonorrhhoeae, responsável pela
blenorragia e pela oftalmia neonatorum, e as clamídeas, responsáveis por alguns tipos de
uretrites e pelo tracoma, são exemplos de micro-organismos que penetram pelas mucosas, aí
permanecendo e desenvolvendo estado patológico. O Trypanosoma cruzi, agente da doença
de Chagas, pode penetrar pela mucosa ocular e daí invadir a corrente sanguínea e outros
tecidos. O Schistosoma mansoni é outro agente que penetra no hospedeiro pelas mucosas. (8)
Penetração através de solução de continuidade: Feridas cirúrgicas, ferimentos acidentais,
tecidos necrosados, queimaduras, escarificações, e, de forma geral, toda descontinuidade da
pele pode servir de porta de entrada para agentes infecciosos. Esses podem ter sido
depositados sobre a pele antes de ocorrido o seu rompimento naquele ponto e introduzidos
durante o processo ou podem vir a ser aí depositados por vetores ou veículos após a
ocorrência da lesão. São conhecidos casos de tétano produzidos por contaminação do coto
umbilical pela deposição intencional de excremento animal, usado como curativo. No entanto,
a penetração do Clostridium tetani não se dá, na maioria dos casos, de forma tão inusitada,
sendo a penetração mais simples. Os esporos são veiculados por poeira e terra contaminadas
com fezes humanas ou de animais. Em alguns casos, o ferimento que deu acesso ao esporo é
tão insignificante que passa despercebido. O Trypanosoma cruzi pode ser levado à circulação
com o rompimento da pele por ação da unha no ato de coçar locais onde o barbeiro defecou
ao sugar sangue. (8)
Deposição sobre a pele seguida de propagação localizada: os agentes etiológicos das
dermatofitoses (fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton) tem acesso ao couro
cabeludo, às unhas e à pele, por contato direto com indivíduos infectados, ou indiretamente
por contato com objetos, pisos úmidos, instrumentos de barbearia e manicure. (8)
Introdução no organismo com auxílio de objetos e instrumentos: neste caso, o acesso
pode se dar pelos orifícios naturais ou através de perfurações cirúrgicas ou acidentais. A
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transmissão por transfusão de sangue poderia também ser enquadrada neste item,
considerando que a penetração do bioagente se dá por intrusão no corpo, com auxílio de
objeto mecânico. Uma grande parte das infecções hospitalares relaciona-se a este mecanismo.
(8)
Introdução em tecido muscular ou na corrente sanguínea, por picadas de inseto ou por
mordedura de animais: através de sua probóscida introduzida na pele, fêmeas dos mosquitos
anofelinos injetam cargas de plasmódios sob a forma de esporozoítas, que darão origem à
malária. Mosquitos do gênero Culex são responsáveis pela introdução, no organismo do
hospedeiro, de larvas infectantes de Wuchereria bancrofti, agente causal da filariose. Neste
caso também a penetração se faz por inoculação através da probóscida do mosquito. Os
agentes causais do calazar (leishmaniose visceral) e da úlcera de Bauru (leishmaniose
tegumentar) são introduzidos no organismo suscetível através da picada da fêmea do
mosquito flebótomo. O vírus rábico é introduzido no organismo de seres humanos por
mordedura lacerante de cães e gatos infectados, e em bovinos, por mordedura de morcego. (8)
Penetração ativa direta do bioagente patogênico: a transmissão da sarna ocorre quando
indivíduos infectados com Sarcoptes scabiei entram em contato com susceptíveis. As fêmeas
recém-fecundadas do agente infeccioso abandonam o seu hospedeiro atual e penetram
ativamente o novo hospedeiro. Cercárias de Schistosoma mansoni saídas do seu hospedeiro
intermediário, molusco do gênero Biomphalaria e vivendo em coleções de água doce,
penetram ativamente pela pele de pessoas suscetíveis que estejam imersas na água durante o
trabalho ou recreação. Larvas infectantes de Strongyloides stercoralis, agente da
estrongiloidíase, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliensis, agentes da dermtite
serpiginosa (larva migrans), podem penetrar ativamente na pele de pessoas que caminham
com os pés descalços, a partir do solo contaminado. (8)
1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO
As doenças infecciosas e parasitárias relacionadas ao trabalho apresentam
algumas características que as distinguem dos demais grupos: os agentes etiológicos não são
de natureza ocupacional, e sim as condições ou circunstâncias em que o trabalho é executado
é que são favorecedoras do contato, contágio ou transmissão. São causadas por agentes que
estão disseminados no meio ambiente, dependentes de condições ambientais e de saneamento
10  
  
e da prevalência dos agravos na população geral; vulneráveis às políticas gerais de vigilância
e da qualidade dos serviços de saúde. A delimitação ambiente de trabalho/ambiente externo é
frequentemente pouco precisa. (8)
As consequências para a saúde da exposição a fatores de risco biológico presentes
em situações de trabalho, além dos quadros de infecção aguda e crônica, incluem as reações
alérgicas e tóxicas. Um amplo espectro de planas e animais produz substâncias alergênicas,
irritativas e tóxicas com as quais os trabalhadores entram em contato, diretamente, através de
picadas ou mordeduras ou através de poeiras contendo pelos, pólen, esporos de fungos. (8)
A maioria das infecções resulta de exposição não ocupacional. Entretanto, alguns
ambientes ou doenças específicas sugerem que sua origem foi proveniente da exposição
ocupacional. Os trabalhadores da área de saúde, nos seus vários âmbitos, quer estejam em
centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios, e os profissionais de saúde que realizam
investigações de campo – vigilância da saúde, controle de vetores, e aqueles que lidam com
animais, mantêm contato direto com pacientes ou vetores transmissores de moléstias
infecciosas. Em se tratando de organismos cuja transmissão se faz através de aerossóis, o
risco de contrair a doença é várias vezes maior para o trabalhador da área de saúde do que
para a população geral. O risco também é grande no tocante à manipulação de material
perfurocortante e no ato de procedimentos invasivos. Neste cenário, torna-se importante
redobrar a atenção quanto às precauções universais, imunizações, manipulação de material
contaminado e perfurocortante, e ao hábito de lavar as mãos antes e após cada exame. (8)
Os trabalhadores que mantêm contato ou manipulam animais também possuem
risco aumentado para contrair certas infecções, principalmente os trabalhadores na
agricultura, as pessoas que trabalham em habitat silvestre (silvicultura), em atividades de
pesca, produção e manipulação de produtos animais – abatedouros, curtumes, frigoríficos,
indústria alimentícia, de carnes, pescados, zoológicos e clínicas veterinárias, além dos que
lidam com pesquisas científicas em espécies animais. (8)
É importante destacar que além das infecções propriamente ditas, algumas
proteínas lideradas através da urina, pela e outros tecidos animais, podem ser carreadas como
aerossóis, causando erupções, sintomas alérgicos ou até mesmo asma ocupacional. (8)
11  
  
Os trabalhadores que lidam com dejetos de esgoto ou lixo, principalmente onde
não há condições de sanitarismo e proteção adequadas, estão também expostos a vários riscos
biológicos. (8)
A suspeita clínica de possível doença ocupacional deve ser valorizada sempre que
um paciente pertencer a um grupo onde o risco de exposição a patógenos biológicos é
aumentado. A avaliação mais específica dependerá muito da apresentação clínica e dos
diagnósticos diferenciais. Quando se cogitar em origem ocupacional, a história detalhada deve
ser tomada no sentido de elucidar precisamente como a exposição ocorreu. A avaliação do
local de trabalho através da visita/inspeção ao espaço físico é mandatória para se compreender
o ambiente, as funções e as atividades cotidianas, determinando com mais clareza os riscos
aos quais os trabalhadores estão expostos. Dependendo das circunstâncias e dos recursos
disponíveis, uma equipe composta por médico e enfermeiro do trabalho, engenheiro e
higienista industrial, e até um especialista em biossegurança, deverá determinar a necessidade
de desencadear uma série de ações a nível individual e coletivo. Deve-se lembrar sempre da
notificação compulsória de determinadas doenças para a vigilância sanitária local. (8)
Mesmo para doenças comuns na sociedade, não há um parâmetro limítrofe bem
estabelecido de quando se deve iniciar uma investigação para explicar o surgimento
simultâneo de alguns problemas médicos dentre uma comunidade de trabalhadores. A
natureza da doença, sua prevalência na população de trabalhadores sob risco, e o padrão de
desenvolvimento de surto são critérios importantes para avaliar tais situações. (8)
Em síntese, a relação com o trabalho pode ser estabelecida através de:
• Coleta criteriosa de história ocupacional completa;
• Comparação com dados e estudos epidemiológicos e de literatura científica;
• Solicitação de perfil profissiográfico do trabalhador à empresa;
• Solicitação de dados e avaliações ambientais à empresa;
• Inspeção na própria empresa/local de trabalho.
Na tabela 1.2 alguns exemplos de ocupações e suas doenças infecciosas
relacionadas.
12  
  
OCUPAÇÃO
PRINCIPAIS DOENÇAS OU AGENTES
SELECIONADOS
Açougueiro Antraz, Tularemia, Erisipelóide
Explorador de cavernas
Bartonella henselae, celulite por pasteurella, raiva,
histoplasmose
Construção civil em grandes
áreas
Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Leishmaniose,
Malária
Processamento de alimentos Tularemia, Salmonelose, Triquinose
Engenho de algodão Pracoccidioidomicose
Trabalho com gado leiteiro Brucelose, Febre Q, Tinea barbae
Trabalho em creches
Hepatite A, Rubéola, Citomegalovirus e outras doenças da
infância
Dentistas Hepatites B e C, AIDS
Cavador de fossas Larva migrans cutânea, Ascaridíase, Ancilostomíase
Mergulhador ycobacterium marinum
Operador de escavadora Paracoccidioidomicose, Histoplasmose
Trabalho em lavoura
Raiva, Antraz, Brucelose, Tétano, Leptospirose, Tularemia,
Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Ascaridíase,
Esporotricose, Ancilostomíase, Esquistossomose
Pescador/Comerciante de
peixes
Erisipelóde (Erysipelothrix insidiosa), Esquistossomose,
Mycobacterium marinum
Jardineiro/Florista Esporotricose, larva migrans cutânea
Trabalho com pele de animais Tularemia
Trabalho em armazéns de
grãos
Tifo
Trabalho em abatedouro
Brucelose, Leptospirose, Febre Q, Salmonelose,
Estafilococcias
Médico/Enfermeiro Hepatites B e C, AIDS, Tuberculose, etc.
Veterinário/Comércio de
animais
Antraz, Brucelose, Psitacose, Dermatofitoses, Erisipelóide,
Raiva, Tularemia, Salmonelose
Criador de pássaros Psitacose
Trabalho em limpeza urbana Leptospirose, Ascaridíase, Ancilostomíase
Lavadeira Dermatofitoses.
Tabela 1.2 - Exemplos de Doenças Infecciosas Selecionadas por Ocupação
Fonte: Mendes, René - 2007
13  
  
1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS
Através da Portaria 1.339 de 18 de novembro de 1.999, é instituído a Lista de
Doenças Relacionadas ao Trabalho, onde também há uma lista de Doenças Infecciosas e
Parasitárias Relacionadas ao Trabalho, como segue abaixo.
DOENÇAS
AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA
OCUPACIONAL
Tuberculose (A15-
A19.-)
Exposição ocupacional ao Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch) ou
Mycobacterium bovis, em atividades em laboratórios de biologia, e atividades
realizadas por pessoal de saúde, que propiciam contato direto com produtos
contaminados ou com doentes cujos exames bacteriológicos são positivos
(Z57.8)(Quadro 25)
Hipersuscetibilidade do trabalhador exposto a poeiras de sílica (Sílico-
tuberculose)(J65.-)
Carbúnculo (A22.-)
Zoonose causada pela exposição ocupacional ao Bacillus anthracis, em atividades
suscetíveis de colocar os trabalhadores em contato direto com animais infectados ou
com cadáveres desses animais; trabalhos artesanais ou industriais com pelos, pele,
couro ou lã. (Z57.8) (Quadro 25)
Brucelose (A23.-)
Zoonose causada pela exposição ocupacional a Brucella melitensis, B. abortus, B.
suis, B. canis, etc., em atividades em abatedouros, frigoríficos, manipulação de
produtos de carne; ordenha e fabricação de laticínios e atividades assemelhadas.
(Z57.8) (Quadro 25)
Leptospirose (A27.-)
Exposição ocupacional a Leptospira icterohaemorrhagiae (e outras espécies), em
trabalhos expondo ao contato direto com águas sujas, ou efetuado em locais
suscetíveis de serem sujos por dejetos de animais portadores de germes; trabalhos
efetuados dentro de minas, túneis, galerias, esgotos em locais subterrâneos; trabalhos
em cursos d’água; trabalhos de drenagem; contato com roedores; trabalhos com
animais domésticos, e com gado; preparação de alimentos de origem animal, de
peixes, de laticínios, etc.. (Z57.8) (Quadro 25)
Tétano (A35.-)
Exposição ao Clostridium tetani, em circunstâncias de acidentes do trabalho na
agricultura, na construção civil, na indústria, ou em acidentes de trajeto (Z57.8)
(Quadro 25)
Psitacose, Ornitose,
Doença dos Tratadores
de Aves (A70.-)
Zoonoses causadas pela exposição ocupacional a Chlamydia psittaci ou Chlamydia
pneumoniae, em trabalhos em criadouros de aves ou pássaros, atividades de
Veterinária, em zoológicos, e em laboratórios biológicos, etc.(Z57.8) (Quadro 25)
Dengue [Dengue
Clássico] (A90.-)
Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da
Dengue, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde
pública, e em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25)
Febre Amarela (A95.-)
Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da
Febre Amarela, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de
saúde pública, e em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8)
(Quadro 25)
Hepatites Virais (B15-
B19.-)
Exposição ocupacional ao Vírus da Hepatite A (HAV); Vírus da Hepatite B (HBV);
Vírus da Hepatite C (HCV); Vírus da Hepatite D (HDV); Vírus da Hepatite E (HEV),
em trabalhos envolvendo manipulação, condicionamento ou emprego de sangue
humano ou de seus derivados; trabalho com “águas usadas” e esgotos; trabalhos em
contato com materiais provenientes de doentes ou objetos contaminados por eles.
(Z57.8) (Quadro 25)
14  
  
Doença pelo Vírus da
Imunodeficiência
Humana (HIV) (B20-
B24.-)
Exposição ocupacional ao Vírus da Imuno-deficiência Humana (HIV),
principalmente em trabalhadores da saúde, em decorrência de acidentes
pérfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado, e na manipulação,
acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados, e contato com
materiais provenientes de pacientes infectados. (Z57.8) (Quadro 25)
Dermatofitose (B35.-)
e Outras Micoses
Superficiais (B36.-)
Exposição ocupacional a fungos do gênero Epidermophyton, Microsporum e
Trichophyton, em trabalhos em condições de temperatura elevada e umidade
(cozinhas, ginásios, piscinas) e outras situações específicas de exposição ocupacional.
(Z57.8) (Quadro 25)
Candidíase (B37.-)
Exposição ocupacional a Candida albicans, Candida glabrata, etc., em trabalhos que
requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, tais como
trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25)
Paracoccidioidomicose
(Blastomicose Sul
Americana,
Blastomicose
Brasileira, Doença de
Lutz) (B41.-)
Exposição ocupacional ao Paracoccidioides brasiliensis, principalmente em
trabalhos agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas. (Z57.8) (Quadro 25)
Malária (B50 – B54.-)
Exposição ocupacional ao Plasmodium malariae; Plasmodium vivax; Plasmodium
falciparum ou outros protozoários, principalmente em atividades de mineração,
construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que
obrigam a entrada dos trabalhadores em zonas endêmicas (Z57.8) (Quadro 25)
Leishmaniose Cutânea
(B55.1) ou
Leishmaniose
Cutâneo-Mucosa
(B55.2)
Exposição ocupacional à Leishmania braziliensis, principalmente em trabalhos
agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas, e outras situações específicas de
exposição ocupacional. (Z57.8) (Quadro 25)
Tuberculose
É a doença mais comum da humanidade, e representa a principal doença
infecciosa responsável pela mortalidade de jovens e adultos. Ainda é importante problema de
saúde pública mundial. Em relatório da Organização Mundial de Saúde estima-se que um
terço da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, com oito
milhões de novos casos de três milhões de mortes devidas à doença, por ano. (8)
No Brasil havia 35 a 45 milhões de pessoas infectadas no início da década de
1990, sendo esperados 100.000 novos casos e certa de 6.000 mortes por ano (incidência de
aproximadamente 54/100.000 habitantes). (8)
O micro-organismo responsável pela tuberculose humana é o Mycobacterium
tuberculosis, descoberto por Robert Koch, em 1882. Por ser um aeróbio estrito, infecta os
pulmões e aí se localiza preferencialmente. A presença de oxigênio facilita sua multiplicação,
Tabela 1.3 - Doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho (grupo I da CID-10)
Fonte: Portaria nº 1.339, de 18 de novembro de 1999
15  
  
e a ligação do órgão com o meio externo favorece sua transmissão. Como não há resposta
imediata do hospedeiro, ele cresce no interior do organismo, durante certo tempo, sem
nenhum obstáculo. A transmissão é aerógena através da eliminação de partículas com bacilos
em suspensão por perdigotos favorecidos pela tosse, fala ou espirro. (8)
O conceito que dominou a medicina até o início do século XX foi o de ausência
de risco de infecção para profissionais de saúde e para outras pessoas em contato com
pacientes tuberculosos. A partir da década de 1920, vários estudos demonstraram maior
incidência de tuberculose entre enfermeiras, médicos e estudantes de medicina. Aos poucos,
foram surgindo relatos de tuberculose em outros membros da equipe de saúde, como técnicos
de laboratório e de anatomia patológica, mostrando que o risco de infecção é diretamente
proporcional ao contato do profissional com o paciente. (8)
Em determinados trabalhadores, a tuberculose pode ser considerada “doença
relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as
condições de trabalho podem favorecer a exposição a Mycobacterium tuberculosis ou a
Mycobacterium bovis, como no caso de trabalhadores em laboratórios de biologia, e em
atividades que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes
bacilíferos.(9)
Em trabalhadores expostos a poeiras de sílica ou portadores de silicose, a
tuberculose e a sílico-tuberculose deverão ser consideradas como “doenças relacionadas com
o trabalho”, do Grupo III da Classificação de Schilling, uma vez que a exposição à sílica pode
favorecer a reativação da infecção tuberculosa latente, pois os cristais de sílica no interior dos
macrófagos alveolares deprimem sua função fagocitária e aumentam sua destruição. (9)
A tuberculose representa também risco ocupacional para trabalhadores em
laboratórios e salas de necropsia. Os riscos para pessoal de laboratório incluem a manipulação
de recipientes contaminados, escarros mal fixados, geração de aerossol. Durante a realização
de exames. Para os trabalhadores em sala de necropsia, o exame em cadáveres de pacientes
com tuberculose não diagnosticada em vida constitui o principal risco. O risco estimado
destes profissionais adquirirem tuberculose é de 100 a 200 vezes maior do que o da população
geral na Inglaterra (Collins & Grange, 1999). (8)
O risco de dentistas contraírem tuberculose de SUS pacientes é relativo ao
ambiente de trabalho, e mais diretamente relacionado ao perfil sócio econômico dos seus
16  
  
pacientes. Este risco pode ser reduzido através de vigilância, educação e atenção ao perfil do
paciente atendido (Anders e cols., 1998). (8)
Carbúnculo
É uma zoonose causada pelo Bacillus anthracis, microrganismo gram-positivo,
manifestando-se, no ser humano, em três formas clínicas: cutânea, pulmonar e gastrintestinal.
A meningite e a septicemia podem ser complicações de todas essas formas. (9)
A doença tem distribuição mundial e ocorre em casos isolados no decorrer do ano,
ocasionalmente na forma de epidemias. Decorre da exposição humana ao bacilo, em
atividades industriais, artesanais, na agricultura ou em laboratórios, estando, portanto,
associada ao trabalho, como, por exemplo, pelo contato direto das pessoas com pelos de
carneiro, lã, couro, pele e ossos, em especial de animais originários da África e Ásia. Nas
atividades agrícolas, ocorre no contato do homem com gato, porco, cavalo doente ou com
partes, derivados e produtos de animais contaminados. (9)
Os principais grupos de risco são os tratadores de animais, pecuaristas, trabalhadores em
matadouros, curtumes, moagem de ossos, tosa de ovinos, manipuladores de lã crua,
veterinários e seus auxiliares. Por sua raridade e quase especificidade em determinados
trabalhadores, pode ser considerada doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do
Grupo I da Classificação de Schilling. (9)
Leptospirose
É uma zoonose ubiquitária causada por uma espiroqueta patogênica do grupo
Leptospiracea. A apresentação clínica é variável, com formas assintomáticas ou leves até
quadros graves, que se manifestam com icterícia, hemorragias, anemia, insuficiência renal,
comprometimento hepático e meningite. A recuperação é, geralmente, total em 3 a 6 semanas.
A gravidade da infecção depende da dose infectante, da variedade sorológica da Leptospira e
das condições do paciente. O período de incubação é variável, de 3 a 13 dias, podendo chegar
a 24 dias. (9)
17  
  
As leptospiroses constituem verdadeiras zoonoses. Os roedores são os principais
reservatórios da doença, principalmente os domésticos. Atuam como portadores os bovinos,
ovinos e caprinos. A transmissão é realizada pelo contato com água ou solo contaminados
pela urina dos animais portadores, mais raramente pelo contato direto com sangue, tecido,
órgão e urina destes animais. Não há transmissão inter-humana, exceto a intrauterina para o
feto. (9)
A leptospirose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que
exercem atividades em contato direto com águas contaminadas ou em locais com dejetos de
animais portadores de germes, como nos trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, galerias
e esgoto; em cursos d’água e drenagem; contato com roedores e com animais domésticos;
preparação de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios e em outras atividades
assemelhadas. (9)
Em determinados trabalhadores, a leptospirose pode ser considerada como doença
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias
ocupacionais da exposição à Leptospira podem ser consideradas como contribuintes, no
conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9)
Tétano
É uma doença aguda produzida pela potente neurotoxina (tetanospasmina) do
Clostridium tetani. A toxina tetânica impede a inibição do arco reflexo da medula espinhal,
promovendo reflexos excitatórios tônicos típicos, em múltiplas regiões do organismo. (9)
O C. tetani é um bacilo anaeróbio, encontrado na natureza em ampla distribuição
geográfica sob a forma de esporos, no solo, principalmente quando tratado com adubo animal,
em espinhos de arbustos e pequenos galhos de árvores, em águas putrefatas, em pregos
enferrujados sujos, em instrumentos de trabalho ou latas contaminadas com poeira da rua ou
terra, em fezes de animais ou humanas, em fios de sutura e agulhas de injeção não
convenientemente esterilizados. (9)
É disseminado pelas fezes de equinos e outros animais e infecta o homem quando
seus esporos penetram através de lesões contaminadas, em geral de tipo perfurante, mas
também de dilacerações, queimaduras, coto umbilical não tratado convenientemente, etc. A
18  
  
presença de tecido necrosado, pus ou corpos estranhos facilita a reprodução local do bacilo,
que não é invasivo e age à distância por sua toxina. (9)
A exposição ocupacional em trabalhadores é relativamente comum e dá-se,
principalmente, em acidentes de trabalho (agricultura, construção civil, mineração,
saneamento e coleta de lixo) ou em acidentes de trajeto. A doença em trabalhadores
decorrente de acidente de trabalho poderá ser considerada como doença relacionada ao
trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9)
A psitacose ou ornitose é uma doença infecciosa aguda produzida por clamídias
(C. psittaci e C. pneumoniae). A enfermidade, em geral, é leve ou moderada, podendo ser
grave em idosos sem tratamento adequado. (9)
A psitacose é quase sempre transmitida aos seres humanos por via respiratória.
Em raras ocasiões a doença pode ser contraída através da bicada de um pássaro. O contato
prolongado não é essencial para a transmissão da doença. Alguns minutos passados no
ambiente previamente ocupado por uma ave infectada tem resultado em infecção humana. (8)
O período de incubação varia de uma a quatro semanas, e a transmissibilidade
dura semanas ou meses. (8)
As fontes mais frequentes de infecção da C. psittaci são periquitos, papagaios,
pombos, patos, perus, canários, entre outros, que transmitem a infecção por meio de suas
fezes dessecadas e disseminadas com a poeira, sendo aspiradas pelos pacientes. Apesar de
rara, é possível a transmissão via respiratória, de pessoa a pessoa, na fase aguda da doença. É
uma zoonose que acomete trabalhadores de criadouros de aves, clínicas veterinárias,
zoológicos e de laboratórios biológicos. A C. pneumoniae infecta somente seres humanos,
sendo transmitida de pessoa a pessoa. Por sua raridade e relativa especificidade, a
psitacose/ornitose poderá ser considerada como doença profissional ou doença relacionada ao
trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling, nos trabalhadores de granjas e criadores de
aves (patos, gansos, periquitos, pombos, etc.), empregados de casas de comércio desses
animais, veterinários, guardas florestais e outros em que se confirme as circunstâncias de
exposição ocupacional. (9)
19  
  
Dengue
É uma doença aguda febril, endemo-epidêmica, causada por um dos Flavivírus do
dengue (família Togaviridae), com quatro tipos sorológicos (1, 2, 3 e 4). Os seres humanos
são reservatórios e a transmissão ocorre pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, A.
albopictus e o A. scutellaris. Após repasto de sangue infectado, o mosquito estará apto a
transmitir o vírus após 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica também é
possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, alimenta-se num
hospedeiro suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de
suas secreções para uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. (9)
O período de incubação da doença é de 3 a 15 dias, em média de 5 a 6 dias. O
período de transmissibilidade ocorre durante o período de viremia, que começa um dia antes
da febre até o sexto dia da doença. Quando o agente etiológico for conhecido, o nome
completo da doença será dengue por vírus tipo 1 ou dengue por vírus tipo 2, etc. (9)
O dengue pode ser considerado como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II
da Classificação de Schilling, uma vez que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos
mosquitos vetores (Aedes) e/ou aos agentes infecciosos (Flavivírus) podem ser consideradas
como fatores de risco, no conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença
infecciosa. (9)
O dengue relacionado ao trabalho tem sido descrito em trabalhadores que exercem
atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em laboratórios de pesquisa,
entre outras atividades em que a exposição ocupacional pode ser identificada. (9)
Febre amarela
É uma doença febril aguda causada pelo Flavivírus da febre amarela (família
Togaviridae), com quadro clínico variável, desde formas inaparentes até as graves e fatais. A
transmissão se faz pela picada dos mosquitos infectados A. aegypti na febre amarela urbana
(FAU) e Haemagogus na febre amarela silvestre (FAS). O período de incubação é de 3 a 6
dias, após a picada do mosquito infectado, e o período de transmissibilidade é de 24 a 48
horas, antes do aparecimento dos sintomas de 3 a 5 dias após. (9)
20  
  
A febre amarela persiste na América do Sul apenas como enzootia de macacos,
tendo por transmissores mosquitos dos gêneros Haemagogus e Aedes. Os casos humanos,
pouco numerosos, incidem entre as pessoas que trabalham ou mantêm contato com as
florestas. A febre amarela urbana teve o homem como único reservatório e o A. aegypti como
transmissor, na América do Sul. Outros trabalhadores eventualmente expostos, por acidente,
incluem os que exercem atividades de saúde pública e que trabalham em laboratórios de
pesquisa, agricultores, trabalhadores florestais, em extração de madeira, em áreas e regiões
afetadas. (9)
Por sua raridade e por sua relativa especificidade, a febre amarela em
determinados trabalhadores poderá ser considerada como doença profissional ou doença
relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9)
Hepatite
É termo genérico para inflamação do fígado que, convencionalmente, designa
alterações degenerativas ou necróticas dos hepatócitos. Pode ser aguda ou crônica e ter como
causa uma variedade de agentes infecciosos ou de outra natureza. O processo inflamatório do
fígado é caracterizado pela necrose hepatocelular difusa ou irregular, afetando todos os
ácinos. Suas causas principais são as viroses devidas ao vírus da hepatite A (HAV), ao vírus
da hepatite B (HBV), ao vírus da hepatite C (HCV), ao vírus da hepatite D (HDV) e ao vírus
da hepatite E (HEV). (9)
Na hepatite viral A, a fonte de infecção é o próprio homem (raramente os
macacos) e a transmissão é direta, por mãos sujas (circuito fecal-oral) ou por água (hepatite
dos trabalhadores por águas usadas) ou por alimentos contaminados. Vários surtos têm sido
descritos em creches, escolas, enfermarias e unidades de pediatria e neonatologia, com taxas
de transmissão que giram em torno de 20% em trabalhadores suscetíveis. Nos EUA, a
prevalência em trabalhadores da saúde varia de 35 a 54% (comparado com 38% da população
geral). (9)
A maioria dos dados estatísticos que se referem à hepatite A em trabalhadores da
saúde aponta os enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem como principal grupo
21  
  
acometido ou em risco. Dentre os médicos e dentistas, aqueles que lidam com crianças estão
mais expostos. (8)
Os trabalhadores do setor de lavanderia hospitalar, especialmente os
manipuladores de tecidos antes de serem lavados, apresentam taxa elevada de anticorpos IgC
para o VHA (Borg & Portelli 1999). (8)
Os trabalhadores responsáveis pela coleta de lixo estão entre os grupos
ocupacionais de risco, na dependência direta de suas condições de trabalho. (8)
Na hepatite viral B o vírus é encontrado em todas as secreções e excreções do
corpo, mas, aparentemente, apenas o sangue, o esperma e a saliva são capazes de transmiti-lo.
A infecção é adquirida, em geral, por ocasião de transfusões, de injeções percutâneas com
derivados de sangue ou uso de agulhas e seringas contaminadas ou, ainda, por relações
sexuais, homossexuais masculinas ou heterossexuais. Nos trabalhadores da saúde, a
soroprevalência de HBV é de 2 a 4 vezes maior e a incidência anual é de 5 a 10 vezes maior
do que na população em geral. (9)
Na hepatite viral C a soroprevalência em trabalhadores da saúde parece ser similar
à da população geral. A soroconversão dos trabalhadores que se acidentam com material
contaminado ocorre em 1,2 a 10% dos trabalhadores acidentados. Estima-se que 2% dos casos
devem-se à exposição ocupacional. (9)
A hepatite viral D é endêmica na Amazônia Ocidental, onde, em associação com o
vírus da hepatite B, é o agente etiológico da chamada febre negra de Lábrea, de evolução
fulminante. (9)
Portanto, em determinados trabalhadores, as hepatites virais podem ser
consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação de
Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos vírus podem ser
consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia
desta doença infecciosa. (9)
22  
  
HIV
Vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um distúrbio da imunidade mediada
por célula, causado por um vírus da subfamília Lentivirinae (família Retroviridae),
caracterizada por infecções oportunistas, doenças malignas (como o sarcoma de Kaposi e o
linfoma não-Hodgkin), disfunções neurológicas e uma variedade de outras síndromes. A
síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS ou SIDA) é a mais grave manifestação de um
espectro de condições HIV-relacionadas. O risco de que pessoas infectadas, não tratadas,
desenvolvam a AIDS é de 1 a 2% por ano nos primeiros anos após a infecção e cerca de 5%
nos anos seguintes. O risco acumulado de desenvolvimento da síndrome em infectados não
tratados é de cerca de 50%. (9)
Os profissionais de saúde constituem um grupo com características especiais de
exposição ao HIV, devido às suas possibilidades de infectar-se durante as atividades do
trabalho cotidiano. O número de situações de contato com sangue, secreções e fluidos
orgânicos no trabalho, na área da saúde, é muito grande. (8)
Desde o início da epidemia, a possibilidade de contaminação dos profissionais de
saúde motivou investigações dirigidas à quantificação deste risco, e despertou os órgãos
oficiais para a necessidade de medidas voltadas a sua redução. (8)
O primeiro caso confirmado de contaminação ocupacional pelo vírus HIV ocorreu
em 1984, na Inglaterra. Uma enfermeira sofreu acidente pefurocortante por agulha contendo
sangue de uma paciente que se encontrava internada com pneumonia e era portadora do vírus
HIV. Duas semanas após o acidente, a enfermeira apresentou os sintomas de infecção aguda
pelo HIV (febre, cefaleia, mialgia etc.). No segundo mês o seu soro revelava positividade para
o vírus. Houve confirmação da transmissão ocupacional do HIV da paciente para a
enfermeira. (8)
A taxa de soroconversão pós-exposição ocupacional por ferimento percutâneo tem
variado entre 0,1 e 0,4%, sendo maior em função do tamanho do inóculo, da duração do
contato e da extensão do ferimento. A literatura científica internacional registra cerca de 55
casos, confirmados até 1999, decorrentes de exposição ocupacional em trabalhadores de
saúde, em decorrência de acidentes perfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico
contaminado, manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados e
contato com materiais provenientes de pacientes infectados. (9)
23  
  
Assim, em determinados trabalhadores, a doença pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV) pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da
Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao vírus são
acidentais ou ocorrem em condições específicas de trabalho, se bem documentadas e
excluídos outros fatores de risco. (9)
Dermatofitose
É o termo geral para infecções micóticas que afetam a superfície epidérmica,
devido a fungos dermatófitos. Atacam tecidos queratinizados (unhas, pelos e estrato córneo da
epiderme). As principais dermatofitoses são: Tinea capitis (Tinha tonsurante); Tinea favosa
(Favo); Tinea barbae (Sicose); Tinea corporis; Tinea manuum; Tinea cruris; Tinea imbricata
(Tinha escamosa); Tinea pedis e Tinea unguium, causadas por espécies dos gêneros
Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton. (9)
Em determinados trabalhadores, a dermatofitose e outras micoses superficiais
podem ser consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação
de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos fungos dermatófitos
podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com
a etiologia desta doença infecciosa. (9)
A dermatofitose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que
exercem atividades em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, ginásios,
piscinas, etc.) e em outras situações específicas. (9)
Candidíase
Infecção provocada por fungo da classe Saccharomycetes leveduriformes do
gênero Candida, sobretudo pela Candida albicans. A transmissão é feita pelo contato com
secreções originadas da boca, pele, vagina e dejetos de portadores ou doentes. A transmissão
vertical se dá da mãe para o recém-nascido, durante o parto. Pode ocorrer disseminação
endógena. O período de transmissibilidade dura enquanto houver lesões. (9)
24  
  
A candidíase relacionada ao trabalho poderá ser verificada em trabalhadores que
exercem atividades que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das
mãos, tais como trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros, com
exposição ocupacional claramente caracterizada por meio de história laborativa e de inspeção
em ambiente de trabalho. Nesses casos, a candidíase poderá ser considerada como doença
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling. (9)
Paracoccidioidomicose
Infecção fúngica sistêmica, micose causada pelo fungo Paracoccidioides
brasiliensis. A infecção dá-se por inalação de conídios em poeiras, em ambientes quentes e
úmidos, com formação de foco primário pulmonar (assintomático) e posterior disseminação.
Em pacientes com grande resistência imunológica, as formas são localizadas, com reação
granulomatosa e poucos parasitos. Nos demais, os parasitos são abundantes, os processos são
predominantemente exsudativos e as formas disseminadas predominam, com variados graus
clínicos. (9)
O trabalho com o solo e vegetais em área rural, a exemplo dos lavradores e
operadores de máquinas agrícolas, é fator predisponente importante da
paracoccidioidomicose. Inquérito epidemiológico realizado em 417 trabalhadores da mina
Morro Velho em Nova Lima – MG detectou 13,4% de positividade em teste cutâneo para
paracoccidioidomicose. (8)
Portanto, em determinados trabalhadores, a paracoccidiodomicose pode ser
considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling,
posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao fungo podem ser consideradas
como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta grave
doença infecciosa. (9)
Malária
Doença infecciosa febril aguda, causada por parasitas do gênero Plasmodium
(vivax, malariae, falciparum, ovale), caracterizada por febre alta acompanhada de calafrios,
25  
  
sudorese e cefaleia, que ocorre em padrões cíclicos, a depender da espécie do parasito
infectante. (9)
A transmissão da doença é realizada por intermédio dos esporozoítas, formas
infectantes do parasita, inoculados no homem pela saliva da fêmea anofelina infectante. (9)
Esses mosquitos, ao se alimentarem em indivíduos infectados, ingerem as formas
sexuadas do parasita – gametócitos – que se reproduzem no interior do hospedeiro
invertebrado, durante 8 a 35 dias, eliminando esporozoítas, durante a picada. A transmissão
também ocorre por meio de transfusões sanguíneas, compartilhamento de seringas,
contaminação de soluções de continuidade da pele e, mais raramente, por via congênita. (9)
A transmissibilidade da infecção ocorre do homem para o mosquito enquanto
houver gametócitos em seu sangue. O homem, quando não tratado, poderá ser fonte de
infecção durante mais de 3 anos da malária por P. malariae, de 1 a 3 anos da malária por P.
vivax e menos de 1 ano da malária por P. falciparum. (9)
O período de incubação é, em média, de 7 a 14 dias para o P. falciparum, de 8 a
14 dias para o P. vivax e de 7 a 30 dias para o P. malariae. (9)
A malária tem sido descrita em garimpeiros, agricultores, lenhadores, motoristas
de caminhão, em trabalhadores que exercem atividades em mineração, construção de
barragens ou rodovias, extração de petróleo, e em outras atividades que obrigam a presença
em zonas endêmica. (8)
A malária pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II
da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos
anofelinos transmissores podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de
fatores de risco associados com a etiologia da doença. (9)
A malária relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem
atividades em mineração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e
outras atividades que obrigam à presença dos trabalhadores em zonas endêmicas. (9)
Leishmaniose
Leishmaniose ou leshmaníase por Leishmania braziliensis é zoonose do
continente americano que apresenta, nos seres humanos, duas formas clínicas: a leishmaniose
26  
  
cutânea, relativamente benigna, e a leishmaniose cutaneomucosa, mais grave. É uma doença
parasitária da pele e mucosas, de caráter pleomórfico, transmitida pela picada de insetos
flebotomíneos do gênero Lutzomia. Período de incubação: pode variar de 2 semanas a 12
meses, com média de um mês. (9)
A leishmaniose comporta-se geralmente como doença profissional, ocorrendo em
áreas onde se processam desmatamentos para a colonização de novas terras, construção de
estradas e instalação de frentes de trabalho para garimpo, mineração, extração de madeira e
carvão vegetal. Também estão expostos os profissionais que trabalham sob as matas nas
plantações de cacau, extração de látex da seringueira. Outras atividades de risco são o
treinamento militar nas selvas, as expedições científicas e incursões de caçadores em áreas
florestais. (8)
Em determinados trabalhadores, a leishmaniose cutânea ou a cutaneomucosa pode
ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de
Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao mosquito transmissor
podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com
a etiologia desta doença infecciosa. (9)
1.3 – PREVENÇÃO
A prevenção de doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho
inclui medidas de educação e informação sobre os efeitos e riscos à saúde, sobre os modos de
transmissão e controle, pelo reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde
existam agentes biológicos. (8)
São medidas preventivas muito eficazes para ambientes onde há exposição
prolongada ou potencialmente grave. O controle do ambiente visa conter os riscos biológicos
em sua fonte, reduzir a concentração de aerossóis e limitar seu movimento pela atmosfera do
trabalho. Sistemas de ventilação, ar condicionado e aquecimento devem ser adequadamente
projetados e periodicamente vistoriados para prevenir a contaminação por fungos ou
bactérias. Para ambientes fechados, tais como hospitais e laboratórios de pesquisa, a
ventilação deve ser projetada de modo a proporcionar fluxo unidirecional e dirigido. O ar
proveniente de áreas com alto risco de contaminação por agentes infecciosos tais como
enfermarias de pacientes isolados, pode ser descontaminado através de filtração. (8)
27  
  
O uso de equipamentos de proteção individual está indicado toda vez que os
riscos não forem totalmente eliminados através das medidas anteriores. Deve-se sempre calçar
luvas quando em contato com secreções biológicas de qualquer tipo. O uso de aventais ou
capotes, gorros, óculos especiais de proteção, devem sempre fazer parte dos cuidados dos que
lidam com materiais, animais ou indivíduos potencialmente infectados. Deve-se salientar que
máscaras cirúrgicas ordinárias somente protegem o paciente, o animal ou o produto, da
exposição de organismos exalados pelo trabalhador. Para que o trabalhador seja protegido de
patógenos provenientes do ambiente é necessário que ele utilize máscaras especiais ou até
respiradores específicos. (8)
A manipulação, descontaminação ou armazenamento apropriados dos dejetos
biológicos são importantes medidas de controle de infecção em qualquer ambiente de
trabalho. Em hospitais e laboratórios, os dejetos potencialmente infectados devem ser
inicialmente segregados dos outros dejetos e adequadamente identificados em embalagens
próprias para resíduos biológicos. Todas as lâminas e agulhas devem ser colocadas em
contêineres seguros e à prova de furos. Agulhas nunca devem ser encapadas ou cortadas antes
de serem desprezadas. A descontaminação pode ser alcançada através da esterilização,
desinfecção ou antissepsia. (8)
Para exposição a atentes patógenos de transmissão sanguínea estão prescritas
numa série de normas conhecidas como “Normas de Biossegurança ou Prescrições
Universais”, detalhadas na tabela 1.4. (8)
Precauções Universais
1. Evitar contato direto com fluidos orgânicos: sangue, fluido cérebro-espinhal, sêmen, secreções
vaginais, leite materno. Os demais como saliva, lágrima, suor, urina e líquido amniótico não são
considerados meios de transmissão.
* Colocar luva quando da presença de qualquer desses fluidos. A utilização de luvas é
obrigatória quando da execução de punções venosas, em razão do extravasamento de sangue ser
muito grande.
* Se houver contato da boca com esses fluidos, lavar e fazer bochechos com água oxigenada a
3%.
* Se houver contato com a pele, remover os fluidos cuidadosamente, lavar com água e sabão
degermante; não usar escovinhas devido à escarifação da pele, a fim de evitar porta de entrada.
A pele deve estar íntegra, sem abrasão ou cortes.
* Usar máscaras durante os procedimentos em que exista a possibilidade de sangue e outros
fluidos corpóreos atingirem as mucosas da boca e nariz.
28  
  
* Usar óculos durante os procedimentos em que houver a possibilidade de que sangue e fluidos
corpóreos atinjam os olhos, principalmente em procedimentos cirúrgicos, endoscópicos e em
hemodiálise.
* Usar aventais protetores durante procedimentos em que exista a possibilidade de
contaminação das roupas dos trabalhadores de saúde com sangue ou fluidos corpóreos.
2. Quando o profissional tiver alguma lesão de pele, tampá-la bem com curativo impermeável.
3. Evitar picada de agulhas e lesões que provoquem solução de continuidade.
* Não recapar as agulhas, pois esse é procedimento de risco.
* Recolher as agulhas em local apropriado com solução de Hipoclorito de Sódio a 0,5%, e só
depois colocá-las no lixo.
* Caso haja picada de agulhas, pressionar imediatamente para expelir o sangue, lavar com água
e sabão degermante e fazer curativo oclusivo.
* Sempre usar luvas para procedimentos invasivos: injeção endovenosa, intramuscular, colher
sangue, passar sonda vesical, nasogástrica e traqueostomia.
4. Lavar sempre as mãos com água e sabão e secá-las após atendimentos de cada paciente,
inclusive ao se administrar cuidados no leito.
5. Cuidados com o lixo e seu destino.
* O lixo hospitalar deve ser coletado em saco plástico, amarrado e acondicionado em um novo
saco mais resistente, amarrado e encaminhado para incineração.
* A pessoa que coleta o lixo deve estar paramentada com luvas, avental e botas.
6. Cuidados na limpeza com a unidade, utensílios e roupas de cama.
* Fluido corpóreo no chão, bancada, mesa: jogar Hipoclorito de Sódio a 1% no local, por 30
minutos.
* Manipular as roupas sem agitação. Recolhê-las e rotular "contaminado".
* Para lavar as roupas com fluidos contaminantes: detergente mais água a 71°C por 25 minutos;
com temperatura inferior: deixar e molho em Hipoclorito de Sódio a 0,5% por 30 minutos.
A vacinação nos ambientes de trabalho é realizada de acordo com indicações
específicas. Existem algumas indicações gerais:
Os trabalhadores podem ser vacinados visando à proteção a organismos infecciosos tais como
agentes do tétano e hepatite B;
Os profissionais de saúde podem ser vacinados, por exemplo, contra Influenza para evitar que
contaminem inadvertidamente algum paciente;
Algumas vacinas como a da febre amarela são recomendadas para trabalhadores em viagens a
áreas endêmicas.
Tabela 1.4 – Precauções Universais
Fonte: Normas de Biossegurança ou Prescrições Universais
29  
  
UNIDADE 2 – DOENÇAS RELACIONADAS AOS RISCOS QUÍMICOS
Os riscos químicos presentes nos locais de trabalho encontram-se na forma sólida,
líquida e gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas,
substâncias compostas e produtos químicos em geral. Poeiras, fumaças, névoas, gases e
vapores estão dispersos no ar; trata-se dos aerodispersóides. (12)
Poeira: as poeiras são partículas sólidas geradas mecanicamente por ruptura de
partículas menores. São classificadas em:
• Poeiras minerais: sílica, asbesto e carvão mineral, por exemplo. As consequências são:
silicose (quartzo), asbestose (amianto), penumoconiose dos minérios de carvão
(mineral).
• Poeiras vegetais: algodão e bagaço de cana-de-açúcar, por exemplo. As consequências
são: bissinose (algodão), bagaçose (cana-de-açúcar) etc.
• Poeiras alcalinas: calcário, por exemplo. As consequências incluem: doenças
pulmonares obstrutivas crônicas, enfisema pulmonar.
• Poeiras incômodas: incluem consequências como interação com outros agentes
nocivos presentes no ambiente de trabalho, potencializando sua nocividade.
Fumos: Trata-se de partículas sólidas produzidas a partir da condensação de
vapores metálicos. Por exemplo: fumos de óxido de zinco nas operações de sondagem de
ferro. As consequências são: doença pulmonar obstrutiva, intoxicação específica de acordo
com o metal.
Névoas: as névoas são partículas líquidas que resultam da condensação de vapores
ou da dispersão mecânica de líquidos. São exemplos: névoa resultante do processo de pintura
a revólver, monóxido de carbono liberado pelos escapamentos dos carros.
Gases: diz respeito ao estado natural das substâncias em condições normais de
temperatura e pressão. Exemplos: GLP, hidrogênio, ácido nítrico, butano, ozona etc.
Vapores: os vapores consistem em dispersões de moléculas no ar que podem se
condensar para formar líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura e pressão.
Por exemplo: gasolina, naftalina etc.
Névoas, gases e vapores podem ser classificados em:
30  
  
• Irritantes: causam irritação das vias aéreas superiores. Exemplo: ácido clorídrico,
ácido sulfúrico, soda caustica, cloro, etc.
• Asfixiantes: produzem dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte.
Por exemplo: hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido de carbono,
monóxido de carbono etc.
• Anestésicos: em sua maioria, incluem solventes orgânicos, promovendo ação
depressiva sobre o sistema nervoso, danos a diversos órgãos, ao sistema formador de
sangue (benzeno) etc. São exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de
carbono, tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc.
As vias de penetração dos agentes químicos são: via cutânea (pele); via digestiva
(boca) e via respiratória (nariz).
A penetração dos agentes químicos no organismo depende de seu modo de
utilização.
Para avaliar o potencial tóxico das substâncias químicas, alguns fatores devem ser
levados em consideração:
• Concentração: quanto maior for a concentração, mais rapidamente seus efeitos nocivos
irão se manifestar no organismo.
• Índice respiratório: a quantidade de ar inalado pelo trabalhador durante a jornada de
trabalho.
• Sensibilidade individual: o nível de resistência varia de indivíduo para indivíduo.
• Toxicidade: o potencial de ação tóxica da substância no organismo.
• Tempo de exposição: o tempo de exposição do organismo à substância contaminante.
2.1 DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICO
2.1.1 DOENÇA RESPIRATÓRIA
Há diversas formas de classificação das doenças ocupacionais pulmonares,
baseadas na reação tecidual, nos tipos de agentes envolvidos ou no quadro clínico
predominante. A tabela 2.1 mostra uma classificação destas doenças. (8)
31  
  
Doenças Agudas
1 Trato respiratório alto
• Irritação/inflamação de cavidades nasais e seios
da face, faringe e laringe, por inalação de gases
ou particulados irritantes e/ou tóxicos.
• Rinite alérgica
2 Trato respiratório baixo
• Asma ocupacional (incluindo bissinose e
síndrome de disfunção reativa das vias aéreas)
3 Doenças do parênquima pulmonar
• Pneumonites por hipersensibilidade
• Pneumonites tóxicas
4 Doenças pleurais
• Derrame pleural
Doenças Crônicas
1 Trato respiratório alto
• Úlcera de septo nasal
2 Trato respiratório baixo
• Bronquite crônica ao fluxo aéreo
• Enfisema pulmonar
• Limitação crônica ao fluxo aéreo
3 Doenças do parênquima pulmonar
• Silicose
• Asbestose
• Pneumoconiose dos trabalhadores do carvão
• Outras pneumoconioses (incluindo reações
granulomatosas)
4 Doenças pleurais
• Fibrose pleural (em placas ou difusa)
5 Carcinomas do trato respiratório
• Adenocarcinomas dos seios da face
• Carcinoma broncogênico
• Mesotelioma
Doenças do trato respiratório alto
Podem ser classificadas conforme sua localização e etiologia em:
Tabela 2.1 - Classificação Clínica das Doenças Pulmonares
Fonte: Mendes, René - 2007
32  
  
1. Ulcerações e perfurações de septo nasal por ação direta devidas a metais pesados
como cromo hexavalente e níquel, antimônio, arsênico e cobre (Newman, 1996) (8).
2. Rinites irritativas e/ou alérgicas secundárias à inalação crônica de substâncias de alto e
baixo peso molecular com potencial alergênico, como material proteico animal,
enzimas, isocianatos, anidridos ácidos e outros. Nesse tipo de situação pode ocorrer
lesão de conjuntiva ocular e de outras mucosas de via aérea como orofaringe, e
traqueia e eventuais sinusites secundárias ao processo obstrutivo alto. (8)
3. Rinolitíase formação de concreções na cavidade nasal secundárias à presença de
substâncias higroscópicas como o cimento (calcário calcinado, desidratado), podendo
produzir desde apenas incômodo local até sangramentos (Parker, 1994) (8).
4. Carcinoma da cavidade nasal e laringe secundários à exposição a metais pesados como
o cromo hexavalente e níquel e poeiras diversas contendo hidrocarbonetos aromáticos
absorvidos nas mesmas, ou poeiras de madeiras (Doll, Morgan & Speizer, 1970;
Spiegel & Sataloff, 1996; Vieren & Imbus, 1989). (8)
Asma ocupacional
A definição mais citada é “a obstrução reversível ao fluxo aéreo e/ou
hiperresponsividade brônquica devido a causas e condições atribuíveis a um determinado
ambiente de trabalho e não a estímulos externos” (Bernstein e cols., 1999). Esta definição é
problemática, pois, com frequência, nota-se o desencadeamento de crises por estímulos
inespecíficos tais como exercício físicos, infecções e outros (Burge & Moscato, 1999). (8)
Trabalhadores com asma preexistente podem ter o quadro agravado por estímulos
inespecíficos no ambiente de trabalho, assim como desenvolver sensibilização a agentes
específicos. Esta primeira condição pode não ser considerada como AO, e sim como asma
agravada pelas condições de trabalho (Chan-Yeung & Malo, 1995), mas, do ponto de vista
prático deve ser investigada, orientada e encaminhada da mesma forma que a AO. (8)
Os mesmos mecanismos que levam um agente ocupacional a causar asma são
semelhantes aos mecanismos da asma brônquica (Gandevia, 1970) e, pode ser assim
sumarizados por ordem de importância: (8).
33  
  
1. Broncocosntrição imunológica: é o tipo de reação mais comum em AO. A maior parte
das respostas orgânicas é media por IgE específica, porém há casos em que também
anticorpos da classe IgG estão envolvidos. (8)
2. Broncoconstrição inflamatória: exposições a gases ou particulados irritantes, em altas
concentrações, podem levar à inflamação das vias aéreas, atingindo ocasionalmente, a
zona de trocas gasosas. (8)
3. Broncoconstrição reflexa: causada pela ação direta de particulados, gases e mesmo ar
frio sobre os receptores da parede brônquica, levando a uma quebra do equilíbrio
adrenérgico. (8)
4. Broncoconstrição farmacológica: alguns agentes ocupacionais têm o potencial de atuar
como agonistas farmacológicos, apresentando uma ação semelhante a drogas, com
relações dose-efeito. (8)
Pneumonite por hipersensibilidade (PH)
Manifestação clínica característica de um grupo de doenças pulmonares,
resultantes da sensibilização por exposições recorrentes a inalações de partículas antigênicas
derivadas de material orgânico e de algumas poucas substâncias químicas sintéticas. Na tabela
2.2 apresenta-se uma listagem de algumas denominações específicas da PH conforme o
antígeno ou o ambiente de trabalho causador da mesma, o tipo de aerossol veiculador do
antígeno e o antígeno específico. (8)
Doença / Exposição Aerossol Antígeno
Pulmão do fazendeiro (ou
agricultor)
Feno/palha/grãos mofados Actinomycetes termophilico
Pulmão dos criadores de aves
Excremento e penas de
aves
Proteínas de aves
Bagaçose Cana mofada
Thermoactinomyces viridis T.
sacharii
Pulmão dos trabalhadores de
malte, cogumelos, cortiça e
boldo.
Cascas e córtex mofados
Thermoactinomyces vulgaris.
Aspergillus clavatus. Penicillium
frequentans. Cryptostoma
corticale
Sequoiose Poeira mofada Pullulania sp
Trabalhadores em serrarias,
carpintarias e marcenarias
Madeiras e poeira de
madeira mofadas
Alternania sp
Pulmão dos manipuladores
de animais e peixe
Epitélio animal, proteínas
de peixe
Proteína animal e de peixes.
Fungos saprófitos
Exposição a isocianatos MDI/TDI Hapteno inorgânico
Tabela 2.2 - Pneumotinte por Hipersensibilidade
Fonte: Mendes, René – 2007
34  
  
Pneumonite tóxica ou edema pulmonar
Resultantes a exposição de altas concentrações de gases irritantes, como amônia,
cloro e dióxido de nitrogênio, a poeiras e fumos metálicos de berílio, cádmio, mercúrio,
níquel, vanádio e zinco, a produtos químicos de pH extremo ou fortemente reagentes, como o
metilisocianato. Sua patogenia envolve diretamente a citotoxicidade das células mucosas, com
liberação de proteínas séricas e mediadores da reação inflamatória. (8)
Derrame pleural benigno
Acometimento de diagnóstico retrospectivo, pois é necessário que o paciente seja
acompanhado durante algum tempo para afastar outras possibilidades diagnósticas, como a
tuberculose e o câncer de pulmão. Outros acometimentos pleurais como espessamento pleural
em placas e espessamento pleural difuso, são mais prevalentes, associadas a exposição ao
asbesto. (8)
Bronquite crônica (BC)
Limitação crônica ao fluxo aéreo (LCFA) são duas entidades distinta, podendo ou
não estar relacionadas. A principal causa de ambas é, sem dúvida, o tabagismo, que agride
tanto grandes vias aéreas, preferencialmente acometidas na BC, como nas pequenas vias
aéreas, preferencialmente acometidas na LCFA. (8)
Há um consenso de que a exposição a poeiras na mineração de carvão leva a um
aumento na prevalência de BC, assim como as poeiras orgânicas, exemplo a poeira de
algodão, também leva a um aumento de prevalência de BC e LCFA. Assim, podemos dizer
que o tabagismo, as exposições ocupacionais e a poluição ambiental têm em ordem
decrescente de grandeza, direta influência em relação às doenças de vias aéreas. (8)
Enfisema
Estado de irritação respiratória crônica, de lenta evolução, quase sempre causada
pelo fumo, mas também por outros agentes (poeira, poluentes, vapores químicos). No
35  
  
enfisema, os alvéolos transformam-se em grandes sacos cheios de ar que dificultam o contato
do ar com o sangue, uma vez que foram destruídos os septos alveolares por onde passavam os
vasos. (22)
Pneumoconioses
São divididas em não-fribogênicas (ou “benignas”) e fibrogênicas de acordo com
o potencial da poeira em produzir fibrose reacional. Apesar de existirem tipos bastante polares
de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a asbestose, de um
lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como não
fibrogênicas produzirem algum grau de fibrose dependendo da dose, das condições de
exposição e da origem geológica do material. (4)
O Quadro 1, abaixo, apresenta uma lista de pneumoconioses com denominações
mais específicas, seus agentes etiológicos e sua apresentação anatomopatológica. Ressalte-se
que a lista não é exaustiva, não excluindo outras possibilidades etiológicas mais raras, ou
ainda não contempladas pela literatura científica. (4)
Pneumoconiose Agente(s) Etiológico(s) Processo Anatomopatológico
Silicose Sílica livre Fibrose nodular
Asbestose
Todas as fibras de asbesto ou
amianto
Fibrose difusa
Pneumoconiose do
trabalhador do
carvão (PTC)
Poeiras contendo carvão
mineral ou vegetal
Decomposição macular sem fibrose ou
com diferenciados graus de fibrose
Silicatose Silicatos variados Fibrose difusa ou mista
Talcose Talco mineral (silicato) Fibrose nodular e/ou difusa
Pneumoconiose
por poeira mista
Poeiras variadas contendo
menos que 7,5% de sília livre
Fibrose nodular estrelada e/ou fibrose
difusa
Siderose Óxidos de ferro
Deposição macular de óxido de ferro
associado ou não com fibrose nodular
e/ou difusa
Estanose Óxidos de estanho Deposição macular sem fibrose
Baritose Sulfato de bário (barita) Deposição macular sem fibrose
Antimoniose
Óxidos de antimônio ou Sb
metálico
Deposição macular sem fibrose
Pneumoconiose
por rocha fosfática
Poeira de rocha fosfática Deposição macular sem fibrose
Pnemoconiose por
abrasivos
Carbeto de silício (SiC) /
Óxido de alumínio (Al2O3)
Fibrose nodular e/ou difusa
36  
  
Berilliose Berílio
Granulomatose tipo sarcóide. Fibrose
durante evolução crônica
Pneumopatia por
metais duros
Poeiras de metais duros (ligas
de W, Ti, Ta contendo Co)
Pneumonia intersticial de células
gigantes. Fibrose durante evolução
Pneumonites por
hipersensibilidade
(alveolite alérgica
extrínseca)
Poeiras orgânicas contendo
fungos, proteínas de penas,
pelos e fezes de animais
Pneumonia intersticial por
hipersensibilidade (infiltração
linfocitária, eosinofilica e neutrofilica na
fase aguda e neutrofilica na fase aguda e
fibrose difusa na fase crônica)
	
  
	
  
Silicose
Doença respiratória causada pela inalação de poeira de sílica que produz
inflamação, seguida de cicatrização do tecido pulmonar. A silicose decorre da exposição à
sílica livre (quartzo), especialmente na mineração subterrânea de ouro, nas indústrias
extrativas de minerais, no beneficiamento de minerais (corte de pedras, britagem, moagem,
lapidação), nas indústrias de transformação (cerâmicas, marmorarias, abrasivos, fundições),
na fabricação do vidro e de sabões, na construção civil e, em algumas atividades como
protéticos, jateadores de areia, trabalhos com rebolos ou esmeril de pedra, escavação de
túneis, cavadores de poços e artistas plásticos. É uma das mais antigas doenças provocadas
pelo trabalho, sendo que atualmente, no Brasil, é a principal doença pulmonar de origem
ocupacional. (22)
Asbestose
Doença pulmonar causada por depósitos de asbesto ou amianto, que é um silicato
que ocorre na natureza sob a forma de fibras que podem ser fiadas e tecidas. A sua grande
resistência à abrasão e ao calor, a alta resistência à tração e a grande flexibilidade das fibras,
dão aos asbestos propriedades ainda não conseguidas por fibras artificiais. Assim, mais de mil
usos industriais para o amianto têm sido descritos: misturado ao cimento, dá origem às placas
e telhas de cimento-amianto, muito utilizadas para coberturas de edificações, e a tubulações
de vários diâmetros e de baixo preço; é utilizado nas lonas de freio de automóveis, na
fabricação de equipamentos individuais de proteção (luvas, aventais, capuzes, etc.) resistentes
ao calor e ao fogo, na isolação térmica de caldeiras, tubulações de vapor e na isolação elétrica
Tabela 2.3 - Pneumoconioses, poeiras causadoras e processos anatomopatológicos subjacentes
Fonte: Mendes, René - 2007
37  
  
e térmica de equipamentos elétricos. Sob forma de pó, atinge os pulmões de indivíduos que
estão expostos, tais como: mecânicos, operários de indústria de cimento-amianto etc. (22)
Pneumoconiose dos trabalhadores de carvão (PTC)
Na pneumoconiose dos trabalhadores de carvão a deposição de poeiras
desencadeia um processo inflamatório orquestrado inicialmente pelos macrófagos alveolares,
de menor intensidade do que a gerada pelas partículas de sílica, mas suficiente para promover
lesão do epitélio alveolar. Em decorrência, ocorre a passagem de partículas para o interstício e
tem início a formação de acúmulos de carvão e de macrófagos com partículas fagocitadas, ao
redor dos bronquíolos respiratórios, com presença de fibras de reticulina e deposição de
pequena quantidade de colágeno. Estas lesões, conhecidas como mácula de carvão, medem
cerca de 1 a 6mm. São intralobulares, pouco ou não visíveis à radiografia e geralmente
acompanhadas de enfisema focal adjacente às áreas das máculas . Com a progressão da
doença, decorrente da continuada inalação ou mesmo após o afastamento da exposição, pode
ocorrer a formação de nódulos maiores, de cerca de 7 a 20mm, com presença de macrófagos
com pigmento no seu interior, presença de reticulina e aumento da quantidade de colágeno.
Com a exposição crônica, os nódulos podem coalescer dando origem à forma de fibrose
maciça progressiva (FMP). A FMP costuma ser bilateral, predomina nos lobos superiores,
lobo médio e segmentos superiores dos lobos inferiores. Geralmente são assimétricas,
apresentando às vezes características de lesão maligna, podendo cavitar, com o paciente
expectorando material enegrecido, conhecido como melanoptise. As lesões distinguem-se da
FMP pela sílica por apresentar, na análise histopatológica, maior relação reticulina/colágeno,
grande quantidade de poeira de carvão, feixes densos de reticulina e colágeno e ausência de
nódulos silicóticos. A FMP cursa mais frequentemente com dispneia, distúrbio ventilatório
misto, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. (4)
O câncer de pulmão representa o principal câncer diagnosticado no mundo. Vários
fatores, como raça, idade, sexo, localização geográfica e condição socioeconômica,
influenciam as taxas nos diversos grupos. Os principais agentes etiológicos são o tabagismo,
exposições ocupacionais, infecções virais e a presença de outras doenças pulmonares,
especialmente as que causam fibrose pulmonar.
38  
  
Na tabela 2.4 traz a lista das principais substâncias consideradas carcinogênicas
para o trato respiratório, pela Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer – IARC,
da Organização Mundial da Saúde (IARC, 2000). A lista completa pode ser analisada no link:
http://monographs.iarc.fr/ENG/Classification/
Exposição Órgão Afetado Uso do Produto
Carcinogênicos Reconhecidos: Grupo 1
Agente individuais
Arsênico Pulmão Vidros, metais, pesticidas
Asbesto Pulmão, pleura
Mineração de asbesto, cimento-
amianto, materiais de fricção e
vedação, têxteis
Berílio e seus compostos Pulmão
Indústria aeroespacial e de
metais, rebolos especiais
Éter bis-clorometílico Pulmão
Produtos
intermediários/subprodutos
Cádmio e compostos Pulmão Tintas e pigmentos
Cromo hexavalente e compostos Cavidade nasal, pulmão
Galvanoplastias, tintas e
pigmentos
Gás mostarda Faringe, pulmão Gases bélicos
Talco contendo fibras
asbestiformes
Pulmão Papel, tintas, massa plástica
Cloreto de vinila Pulmão Plásticos, monômeros
Sílica cristalina Pulmão
Mineração, cerâmica, pedreiras,
fundições
Poeira de madeira Cavidade nasal Indústria da madeira
Níquel e compostos Cavidade nasal, pulmão Metalurgia, ligas, catalisador
Radônio Pulmão
Mineração de urânio, nióbio e
fluoretos
Misturas
Alcatrão Pulmão Combustíveis
Piche Pulmão Material de construção/eletrodos
Fulinges Pulmão Pigmentos
Carcinogênicos Prováveis: Grupo 2A
Formaldeído Nasofaringe Plásticos, têxteis, laboratório
Carcinogênicos Prováveis: Grupo 2B
Acrilonitrila Pulmão
Plásticos, borracha, têxteis,
monômeros
39  
  
Aldeído acético Pulmão
Operações de soldagem em
superfícies pintadas
Fumos de solda Pulmão Solda de aço
Fibras cerâmicas Pulmão
Plásticos, têxteis, indústria
aerospacial
2.1.2 DOENÇAS DA PELE
Agentes químicos provocadores de dermatoses ocupacionais, os principais são:
1. Irritantes → cimento, solventes, óleos de corte, detergentes, ácidos e álcalis.
2. Alérgenos → aditivos da borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do
cimento, resinas, tópicos usados no tratamento de dermatoses. (3)
Figura  2.1.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.2.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Figura  2.3.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Figura  2.4.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Nas  figuras  2.1,  2.2,  2.3  e  2.4  observamos  respectivamente:  dermatite  de  contato;  
micropapuloeritematosas;  dermatite  alérgica  cronificada  e  dermatite  de  contato  irritativa  
forte.  Todas  por  algum  tipo  de  contato  por  cimento.  
Tabela 2.4 - Exposições Ocupacionais Associadas ao Câncer Respiratório
Fonte: Segundo Critérios da IARC (2000)
40  
  
Figura  2.5.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Figura  2.6.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Nas  figuras  2.5  e  2.6  dermatite  alérgica  de  contato  por  bota  de  borracha.  
Figura  2.9.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Figura  2.10.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Figura  2.7.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Figura  2.8.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Na  figura  2.7  Radiodermite  crônica.  
Operador  de  gamagrafia  industrial  tocou  
acidentalmente  na  cápsula  de  irídio  192.   Na  figura  2.8  Dermatite  irritativa  de  contato  
folicular.  Elaioconiose  em  trabalhador  de  
indústria  metalúrgica.  
Na  figura  2.9  Miliária  rubra.  Polidor  em  
galvanoplastia.  Polidor  de  peças  
metálicas  com  rodas  de  tiras  de  couro.  
Na  figura  2.10  Dermatite  irritativa  de  
contato  acneiforme  causada  pela  
exposição  a  fumos  metálicos  de  estanho.  
41  
  
2.1.3 DOENÇAS DO OLHO
Ceratite
Inflamação da córnea, aquelas provocadas pela exposição a agentes físicos e químicos no
ambiente de trabalho podem ser agrupadas em tóxicas e alérgicas. O arsênico e o berílio
podem ser responsáveis por quadros de natureza alérgica. A seiva ou suco de algumas plantas
podem ser tóxicos. Entre os agentes listados como capazes de produzir ceratoconjuntivite
estão:
1. Arsênico e seus compostos arsenicais;
2. Ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogênio) em exposições muito altas. (8)
Inflamação coriorretiniana
Inflamação da retina e do trato uveal, pode ser classificado como agudo ou
crônico. Tem sido descrita em trabalhadores expostos ao manganês. (8)
Figura  2.11.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.12.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007  
Na  figura  2.12  Dermatite  alérgica  de  
contato  em  marceneiro  que  fazia  
polimento  de  madeira  pau-­‐ferro.  
Na  figura  2.11  Perfuração  do  septo  nasal  em  
trabalhador  no  processo  de  cromação.  
42  
  
Neurite óptica
Inflamação, degeneração ou desmielinização do nervo óptico. Entre as substâncias
químicas tóxicas potencialmente causadores de neurite óptica estão:
• Brometo de metila;
• Cloreto de metileno (diclorometano) e outros solventes clorados neurotóxicos;
• Metanol;
• Sulfeto de carbono;
• Tetracloreto de carbono. (8)
Queimaduras químicas do olho
São causas importantes de acidentes oculares no trabalho, podem ser produzidas
por ácidos e bases fortes, ocorrendo frequentemente, quando essas substâncias espirram ou
derramam no olho. (8)
O epitélio corneano intacto é resistente a alterações do pH, variando entre 4 e 10.
Exposto a pH fora desse intervalo, o epitélio é rapidamente destruído, permitindo que a
substância atinja níveis profundos dos tecidos subjacentes. (8)
Os ácidos fortes tendem a precipitar as proteínas, como foto x. As proteínas
precipitadas formam uma barreira tampão, limitando a penetração do ácido no olho. Já as
bases fortes saponificam os ácidos graxos, que rompem as membranas celulares e não
formam, portanto, nenhuma barreira, permitindo a penetração contínua para todo o segmento
anterior do olho, levando à sua destruição. Portanto, as queimaduras químicas por álcalis são
mais devastadoras do que as causadas por ácidos. (8)
Figura  2.13.    
Fonte:  Mendes,  René  –  2007  
Na  figura  2.13  Queimadura  
química  por  ácido  sulfúrico  
resultando  em  córnea  edemaciada  
e  leucomatosa,  conjuntiva  
avascular  justa-­‐líndrica  na  posição  
entre  12  e  2hs  e  vasos  de  grossos  
calibres  e  hiperemia  no  restante  
da  conjuntiva.  
43  
  
2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO
Há um certo número de medicamentos e produtos químicos que, por si só, podem
lesar as estruturas da orelha interna, sejam cocleares ou vestibulares, seja temporária ou
permanente. Entre os medicamentos, destacam-se os antibióticos aminoglicosídeos, os
salicilatos, alguns diuréticos, alguns oncoterápicos e o quinino. Hoje em dia existe evidência
de propriedades ototóxicas de vários produtos químicos industriais, como certos fumos
metálicos (chumbo, mercúrio, manganês, cobalto, arsênio), alguns gases asfixiantes
(monóxido de carbono, nitrato de butila, tetracloreto de carbono e muitos solventes orgânicos,
tolueno, xileno, estireno, n-hexano, tetracloroetileno e dissulfeto de carbono). (8)
Vários produtos químicos são reconhecidamente neurotóxicos e podem afetar a
audição ou equilíbrio agindo primeiramente no tronco encefálico ou nas vias
auditivas/vestibulares centrais. (apud, Thomas-1985) A indicação de que alguns produtos
químicos industriais podem alterar a função auditiva através de um processo ototóxico ou
neurotóxico, ou da combinação destes dois processos, deve ser considerada, especialmente
quando se selecionam testes diagnósticos. (8)
2.1.4 DOENÇAS DO SANGUE
As alterações do sangue provocadas por substâncias tóxicas agressoras ao sistema
sanguíneo são conhecidas desde o século XIX, quando foi descrito o primeiro caso de anemia
aplástica pelo benzeno, em 1897, mas os conhecimentos tiveram impulso após a I Guerra
Mundial, quando se verificou a ação de gases tóxicos sobre o sangue (Simpósio
“Leucopenia”, 1987; Rugo & Damon, 1990). (8)
O sistema sanguíneo, pela ação das substâncias tóxicas de origem ocupacional,
pode apresentar alterações desde leves até graves e mesmo letais. Alguns tóxicos tem ação
prevalente sobre a medula óssea e menor sobre o sangue periférico, enquanto outros
apresentam ação inversa e outros, ainda, agem sobre o sangue e medula óssea
concomitantemente. (8)
As hemopatias profissionais podem ser consideradas segundo a sua patogenia
relacionada com o agente tóxico ou ocupação. Ver tabela 2.5.
44  
  
Hemopatias Profissionais Segundo Mecanismos e Tipos de Alterações e Possíveis Agentes Etiológicos de
Origem Ocupacional
Alterações Tipos de
Alterações
Mecanismos Possíveis Agentes Etiológicos ou Ocupações*
Alterações do
glóbulo
vermelho
Por diminuição Hemólise numérica Arsina, chumbo, trinitrotolueno, substâncias
oxidantes, oxigênio, mercúrio, cobre, nitro e amino-
derivados do benzeno
Hipoprodução Chumbo, arsênio, benzeno, óxido nitroso
Por alteração no
metabolismo do
heme
Porfiria Hexaclorobenzeno; 2,4-D; 2,4,5-T; 2,3,7,8-
tetraclorodibenzo-p-dioxina; o-benzil-p-clorofenol; 2-
benzil-4-6-diclorofenol; cloreto de vinila; chumbo;
alumínio
Por alteração no
transporte
Meta-
hemoglobinemia
do oxigênio
Anilina, nitroanilina, toluenodiamina,
fenilenodiaminatoluidina, p-cloroanilina, naftaleno,
pradiclorobenzeno, gases nitrosos, nitratos nitritos,
nitrobenzeno, trinitrotolueno, quinona, paraquat
Sulfo-
hemoglobinemia
Agentes oxidantes iguais aos da meta-hemoglocinemia
Carboxi-
hemoglobinemia
Monóxido de carbono
Alteração do
glóbulo branco
Por diminuição
dos
granulócitos
(neutropenia)
Fase inicial da
toxicidade ao
sistema
hematopoético
Benzeno, radiação ionizante, inseticidas
organoclorados
Alteração da
plaqueta
Por diminuição
numérica
Imune, hipoplasia
megacariocítyica,
insuficiência
hepática com
hiperesplenismo
Tolueno diisocianato, terebintina, 2,2-
diclorovinildimetilfosfato, benzeno, radiações
ionizantes, inseticidas organoclorados, piretrina,
cloreto de vinila
Alterações dos
órgãos
hematopoéticos
Por diminuição
numérica das
células da
medula óssea
(aplasia)
Lesão de células
primitivas ou
jovens da medula
óssea
Benzeno, trinitrotolueno, hexaclorociclhexano, DDT,
pentaclorofenol, arsênio, éter monometílico de
etilenoglicol, éter monobutílico de etilenoglicol,
tetracloreto de carbono
Alteração
qualitativa das
células da
medula óssea
(displasias, pré-
leucemia,
leucemias
mielóides
agudas e
crônicas,
mielofibrose)
Lesão da estrutura
molecular de
células da medula
óssea
Benzeno, radiações ionizantes, butadieno, campos
eletromagnéticos, gases de exaustão de motores,
fluidos de motores, óxido de etileno, inseticidas e
herbicidas, solventes orgânicos, produtos de petróleo
(inclusive gasolina) e estireno. Motoristas, eletricistas,
engenheiros eletrônicos, agricultores, jardineiros,
mecânicos, soldadores, trabalhadores das indústrias
metalúrgicas, têxtil, do papel e do petróleo e
trabalhadores de distribuidoras de petróleo.
45  
  
Proliferação
linfóide
(leucemias
linfóides agudas
e crônicas,
linfomas,
mieloma
múltiplo)
Lesão da estrutura
molecular de
células da medula
óssea
Benzeno, radiações ionizantes, herbicidas derivados
do ácido fenoxiacético, asbestos, hidrocarbonetos
clorados, poeiras de madeira, produtos químicos
utilizados na indústria do couro e da borracha, óxido
de etileno, clorofenóis, fertilizantes, inseticidas,
tinturas de cabelo, solventes orgânicos, praguicidas,
2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina, estireno, cloreto
de vinila, poeiras de madeira, gases de exaustão de
motores. Indústria da madeira, agricultores,
trabalhadores de refinarias de petróleo e da indústria
química, manipuladores de grãos, metalúrgicos,
fornecedores de praguicidas, trabalhadores expostos a
fungicidas e fumigantes, pintores e motoristas de
caminhão
*Para alguns agentes e ocupações, a evidência é ainda limitada.
2.1.5 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO
Estado confusional agudo
Também chamado de delirium, caracteriza-se por um distúrbio mental orgânico,
com alteração da consciência, desatenção e pensamento incoerente. Classicamente, tem um
início súbito, de horas a dias, um curso breve e flutuante, observando-se melhora rápida,
quando o fator causal é identificado e removido. Entre as principais causas do estado
confusional agudo estão doenças do SNC, doenças sistêmicas, abstinência de drogas e
intoxicação por substâncias neurotóxicas, que podem estar presentes no ambiente de trabalho.
Faz parte deste rol de substâncias os metais (chumbo, mercúrio, arsênio, manganês e tálio), os
solventes (tolueno, dissulfeto de carbono, estireno, xileno, tricloroetileno brometo de metila,
cloreto de metila, metanol e tetracloreto de carbono), os pesticidas (organofosforados,
carvamatos, organoclorados e paraquat) e os gases (monóxido de carbono e óxido de etileno).
(8)
Encefalopatia tóxica crônica
Também denominada “síndrome psico-orgânica”, “síndrome neurastênica” ou
“síndrome do pintor”, caracteriza-se por um quadro neuropsiquiátrico com alterações de
personalidade, perda de memória, fadiga, depressão, e perda de interesse pelas atividades
diárias. Considerando-se que a maioria dos quadros de demência seja irreversível, tornam-se
Tabela 2.5 - Hemopatias Profissionais Segundo Mecanismos e Tipos de Alterações e Possíveis Agentes
Etiológicos de Origem Ocupacional
Fonte: Mendes, René 2007
46  
  
imprescindíveis a identificação e o tratamento daqueles possivelmente reversíveis (Sandoval-
Orellana & Sallato, 1995). (8)
Desde a década de 1970, inúmeros estudos têm demonstrado os efeitos
neurocomportamentais da exposição a solventes orgânicos. Contudo, com métodos de
avaliação e análise epidemiológica mais sofisticados, verificou-se que a correlação entre a
exposição no local de trabalho e os distúrbios neurocomportamentais não é tão óbvia (apud
Axelson, 2000). Como os solventes utilizados são geralmente misturas, é difícil identificar a
substância química específica e estabelecer a relação dose-resposta. Também é difícil
estabelecer a intensidade e a duração da exposição, dada à variabilidade das condições de
trabalho. (8)
Epilepsia
A epilepsia designa uma ampla variedade de distúrbios neurológicos
caracterizados por crise epiléticas recorrentes. Entre as causas de epilepsia no adulto estão:
tumores, trauma cranioencefálico, acidente vascular cerebral, porém, a maioria dos distúrbios
epiléticos permanece sem etiologia definida. (8)
Na avaliação do trabalhador que desenvolve epilepsia deve ser considerado, o que
é pouco frequente, que fatores presentes no trabalho sejam a causa da epilepsia. Como
existem muitas etiologias associadas ao início de epilepsia, a história neurológica e exames de
imagem devem ser solicitados para afastar anormalidades intracranianas. Mesmo assim, pode
ser difícil distinguir convulsões relacionadas à exposição ocupacional de outras causas não
relacionadas ao trabalho.(8)
Quadros agudos de intoxicação por substâncias químicas de origem ocupacional
podem produzir convulsões. Algumas dessas substâncias são (metais como alumínio,
chumbo, mercúrio, solventes, benzeno, metanol, etc., e os gases como monóxido de carbono,
sulfeto de hidrogênio, cloreto de metila, etc.). Nestes casos, algumas dessas substâncias
podem ser detectadas no sangue ou na urina. A exposição ao agente tóxico, com
manifestações agudas, produz, frequentemente, sinais e sintomas sistêmicos, facilitando o
nexo causal. (8)
47  
  
Cefaleia
A cefaleia primária abrange a maioria dos quadros observados em trabalhadores.
Nos casos em que cefaleia está relacionada à exposição a certas substâncias neurotóxicas,
como no caso da exposição a nitratos, a descrição cuidadosa das condições de aparecimento
do sintoma pode auxiliar o estabelecimento do nexo. Devem ser exploradas as informações
relativas ao momento de início da cefaleia, se após chegar ao local de trabalho, ou ao seu
término, a ausência de cefaleia quando não está trabalhando e presença de níveis elevados de
substâncias químicas no local de trabalho, ou ainda a presença da cefaleia nos períodos de
suspensão do trabalho, como nas folgas ou nas férias. (8)
Parkinsonismo secundários
É uma síndrome clínica caracterizada pela combinação de tremor em repouso,
rigidez, bradicinesia e instabilidade postural, que se apresentam em vários graus de gravidade.
(8)
No Brasil, é clássica a descrição de parkinsonismo secundário à exposição ao
manganês em trabalhadores de uma fundição de ferro-manganês feita por Antonio de
Almeida, Jorge da Rocha Gomes e Pedro Augusto Zaia (Almeida e cols., 1970), seguida pelos
estudos realizados em Minas Gerais, por Chrysóstomo Rocha de Oliveira, Elizabeth Costa
Dias e Eduardo Henrique Lauar (Oliveira e cols., 1974). (8)
As principais substâncias neurotóxicas presentes em situações de trabalho
capazes de causar a Doença de Parkinson secundária são classificadas de acordo com o grau
de associação já estabelecida, possível ou potencial, e estão mostradas na tabela 2.5. (8)
O parkinsonismo secundário decorrente da exposição a substâncias neurotóxicas
pode assemelhar-se, clinicamente, à forma clássica da doença de Parkinson idiopática, além
das doenças neuro e heredodegenerativas chamadas de parkinsonismo plus, e além das outras
causas de parkinsonismo secundário, dificultando o diagnóstico diferencial. (8)
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Riscos ambientais e doenças laborais

  • 1. 1     O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS Marcella Ferreira e Silva Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque São Paulo 2014
  • 2. 2     O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS Há muito tempo se sabe que o trabalho, quando executado sob determinadas condições, pode causar doenças, encurtar a vida ou matar, sem rodeios, os trabalhadores. (8) O desgaste do corpo durante o processo produtivo gera patologias específicas para cada tipo de atividade ocupacional, além das diferentes modalidades de acidentes do trabalho, cujas características encontram-se também diretamente relacionadas com o tipo de trabalho executado. (18) Em relação às condições de trabalho, os riscos ambientais estão divididos em cinco categorias: • Riscos Biológicos: são diretamente relacionados com micro-organismos, podendo provocar doenças; • Riscos Químicos: são substâncias ou produtos que podem contaminar o ambiente de trabalho e, consequentemente, o organismo humano; • Riscos Físicos: São resultantes da troca de energia entre o organismo e o ambiente de trabalho, em quantidade que pode causar o desconforto, acidentes ou doenças do trabalho; • Riscos Ergonômicos: são as condições de trabalho que não são adaptadas às características físicas e psicofisiológicas das pessoas; • Riscos Mecânicos ou de Acidentes: são agentes relacionados com os processos de trabalho e as condições físicas do ambiente. (1) É importante observar que a nocividade do trabalho pode não ser dele próprio, ou das atividades que o conformam, mas determinada ou agravada por 2 considerações sobre o “tempo de trabalho”, sendo elas pela “duração” ou pela “configuração”, entendido como “tempo de trabalho” nas mais distintas acepções, que vão desde o tempo na vida em que se começa a trabalhar; o tempo na vida em que se para de trabalhar; o tempo ou duração do trabalho numa jornada de trabalho (jornada, do francês jour = dia), nas semanas, nos meses, nos anos e, enfim, na vida. “Duração”, no sentido de tempo acumulado, e “configuração”, no sentido de sua distribuição, ou forma como a duração está organizada ou distribuída no próprio referencial de periodização do tempo: vida, época da vida, ano, estação do ano, mês, semana, dia, hora, minuto... (8)
  • 3. 3     O grau de sucesso ou insucesso dos mecanismos de “agressão” irá depender não apenas da natureza e intensidade da “agressão”, e do grau de “vulnerabilidade” aos patógenos do trabalho, mas também da eficiência ou eficácia dos mecanismos de “defesa” do trabalhador. (8) Sobre a ideia de saúde a Organização Mundial da Saúde conceitua da seguinte forma: “condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aspirações físicas.” (OMS, 1984 apud Rey, 1999. Grifo introduzido). (8) Dito em outras palavras: “saúde é o estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais ou sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais.” (Rey, 1999. Grifo introduzido). (8) Podemos concluir que, o trabalhador ao ser exposto a um agente agressor, seu organismo irá reagir com um tipo de mecanismo de defesa, seu resultado pode ser uma adaptação ou uma lesão. Por exemplo, o trabalhador exposto a uma natureza predominantemente biológica, seu mecanismo de defesa poderá dar resposta imunológica competente e adequada, caso não seja adequada irá surgir doenças decorrentes desta exposição. Antes de iniciarmos nossos estudos sobre as doenças ocupacionais, precisamos ter claro algumas definições: • Acidente de trabalho • Doença do trabalho • Doença profissional A Lei 8.213/91 conceitua o acidente de trabalho, primeiro no sentido restrito, depois no sentido amplo ou por extensão. (10)
  • 4. 4     Do acidente-tipo, ou também chamado de macrotrauma, cuida a lei no art. 19 e basicamente define como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução da capacidade permanente ou temporária para o trabalho. Ou seja, trata-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e consequências geralmente imediatas. (10) O acidente de trabalho representa uma interrupção súbita no processo de trabalho, traumática para o acidentado, diferente das doenças profissionais ou do trabalho que tem caráter progressivo e em boa parte dos casos irreversíveis, implicando um processo lento de degeneração orgânica do qual muitas vezes o próprio trabalhador não se dá conta. Pela ausência inicial de sintomatologia clínica, as patologias profissionais permitem – ao contrário dos acidentes – que o indivíduo prossiga trabalhando até que se torne inútil para a produção e seja substituído por outro. (18) Deste modo o objetivo deste trabalho é tratar apenas das doenças laborais, das quais podemos analisar sob algumas características do ponto de vista de Ramazzini, Schilling e da própria Lei 8.213/91. Bernardino Ramazzini (1633 – 1714) parece ter sido o primeiro a tentar classificar o que ele denominou de “doenças do trabalhador”, descrevia as doenças como, por exemplo: “doença dos mineiros”; “doença dos que trabalham em pé”; “doença dos pintores”, “doença dos que trabalham com enxofre”, etc. (8) Da classificação empírica construída por Bernardino Ramazzini, há mais de 300 anos, é possível pinçar os critérios para uma primeira sistematização da patologia do trabalho: • Num primeiro grupo estão aquelas doenças diretamente causadas pela “nocividade da matéria manipulada”, de natureza relativamente específica, e que vieram dar origem às “doenças profissionais” (8) • Num segundo grupo estão aquelas doenças produzidas pelas condições de trabalho: “posições forçadas e inadequadas”, “operários que passam o dia de pé, sentados, inclinados, encurvados etc.”. São as que mais tarde foram denominadas “doenças causadas pelas condições especiais em que o trabalho é realizado”. (8) O professor Richard Schilling, da Inglaterra, desenvolveu uma classificação própria, que agrupa as “doenças relacionadas com o trabalho” em três categorias, resumidas na tabela 1.1. (8)
  • 5. 5     Categorias Exemplos I - Trabalho como causa necessária, exatamente, e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional. * Intoxicação por chumbo * Silicose * "Doenças profissionais" legalmente prescritas * Outras II - Trabalho como fator de risco contributivo ou adicional, mas não necessário, exemplificadas pelas doenças comuns, mais frequentes ou mais precoces em determinados grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica. * Doença coronariana * Doenças do aparelho locomotor * Câncer * Varizes dos membros inferiores * Outras III - Trabalho como provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente. * Bronquite crônica * Dermatite de contato alérgica * Asma * Doenças mentais * Outras A Lei 8.213/91 subdivide as doenças ocupacionais em doenças profissionais e doenças do trabalho, estando previstas no art. 20, I e II. As primeiras, também conhecidas como “ergopatias”, “tecnopatias” ou “doenças profissionais típicas”, são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar a determinada atividade (corresponde à classificação Schilling I). Nessa situação, o trabalho é considerado causa direta do agravo, ou seja, se o agente for eliminado, o agravo poderá ser completamente prevenido. Dada a sua tipicidade, prescindem de comprovação do nexo de causalidade com o trabalho. Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram as defesas orgânicas, e que, por efeito cumulativo, terminam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido. Por exemplo, os trabalhadores da mineração, sabe-se de há muito que estão sujeitos à exposição do pó de sílica, e, portanto, com chances de contrair a silicose, sendo considerada uma doença profissional. (10) (20) Por sua vez as doenças do trabalho, também chamadas de “mesopatias”, ou “moléstias profissionais atípicas”, são aquelas desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é realizado (classificação Schilling II e III), ou seja, o trabalho é um dos fatores de risco para a ocorrência do agravo. Contudo, por serem atípicas, exigem a comprovação do nexo de causalidade com o trabalho, via de regra através de vistoria no ambiente laboral. A retirada do fator de risco reduzirá a incidência do agravo e/ou modificará Tabela 1.1 – Classificação das doenças segundo sua relação com o Trabalho Fonte: Adaptado de Schilling, 1984
  • 6. 6     a evolução da doença. Por exemplo, a ocorrência de problemas osteomusculares nos profissionais de enfermagem. (10) (20) Enquanto as doenças profissionais resultam de risco específico direto (característica do ramo de atividade), as do trabalho tem como causa o risco específico indireto. Assim, por exemplo, uma bronquite asmática normalmente provém de um risco genérico e pode acometer qualquer pessoa. Mas se o trabalhador exercer sua atividade sob condições especiais, o risco genérico transforma-se em risco específico indireto. (10) A Lei 8.213/91 ainda contempla uma terceira categoria de doença, disposto no parágrafo 2° do art. 20: “Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá- la acidente do trabalho”. Estamos diante de uma variante da doença do trabalho, pois há uma relação direta com as condições especiais em que é executado o trabalho, por exemplo, as doenças ligadas à voz presentes nos trabalhadores das empresas de telemarketing. (10) UNIDADE 1 – DOENÇAS RELACIONADAS AOS RISCOS BIOLÓGICOS Consideram-se riscos biológicos os vírus, bactérias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. (12) Os riscos biológicos ocorrem por meio de micro-organismos que, quando entram em contato com o ser humano, podem causar diversas doenças. Muitas atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios etc. (12) Dentre as inúmeras doenças profissionais provocadas por micro-organismos, destacam-se: tuberculose, brucelose, malária e febre amarela. (12) Para que essas doenças possam ser consideradas doenças profissionais, deve haver exposição do empregado a tais micro-organismos. Alguns agentes infecciosos que podem ter relação com o trabalho são:
  • 7. 7     • Dos vírus: adenovírus; caxumba; citomegalovírus; ebola; hepatite B; hepatite C; Herpes simplex; HIV; influenza; parainfluenza; parvovirus B19; poliovirus; rotavirus; rubéola; sarampo; varicela-zoster; vírus respiratório sincicial. • Das bactérias: bordetella; campulobacter; corynebacyerium diphteriae; mycobacterium tuberculosis; neisseria meningitidis; salmonella; shigella; yersínia pestis. • Outros: chlamydia psittaci; coxiella burnetti; cryptosporidium; mycoplasma pneumonie; sarcoptes scabiei. (12) (8) O conhecimento dos riscos biológicos nos ambientes de trabalho é crucial para a prevenção das doenças ocupacionais. A displicência e complacência podem resultar em graves e ameaçadoras consequências. Os micro-organismos encontrados nos ambientes de trabalho variam de vírus extremamente pequenos e bactérias unicelulares, até fungos e parasitas multicelulares. (8) É preciso adotar medidas preventivas para que as condições de higiene e segurança nos diversos setores de trabalho sejam adequadas. (12) As medidas de controle mais usualmente adotadas são: saneamento básico, controle médico permanente, uso de EPI, higiene rigorosa, higiene pessoal, uso de roupas adequadas, vacinação, treinamento, etc. (12) Para que uma substância seja nociva ao homem, é preciso que ela entre em contato com o organismo. Há diferentes vias de penetração para os riscos biológicos: (12) Ingestão: a água, os alimentos em geral, mãos e objetos quando levados à boca constituem as principais maneiras pelas quais a maioria dos agentes infectantes por via oral é transportada e introduzida no organismo, por exemplo, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura), cistos de protozoários (Entamoeba histolytica, Giardia lambia), bactérias entéricas (Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli enteropatogênica) e enterovírus (vírus da poliomielite, rotavírus, e outros). (8) Inalação através das vias respiratórias superiores: gotículas expelidas pela boca e pelo nariz contendo vírus diversos (gripe, sarampo, etc.); população viável de Mycobacterium tuberculosis no escarro em dessecação, associada a micropartículas de poeira; esporos de fungos das espécies Histoplasma capsulatum e Paracoccidioides braziliensis, responsáveis, respectivamente, pela histoplasmose e pela paracoccidioidomicose; frações de muco nasal
  • 8. 8     contendo Mycobacterium leprae, agente da hanseníase, e diversos outros exemplos, compõem uma vasta lista de biopatógenos que podem estar presentes em suspensão no ar inalado. (8) Penetração através das mucosas: de forma geral, as mucosas expostas aos fatores ambientais – vagina, uretra, olhos, boca – dispõem de condições biofísico-químicas favoráveis à instalação de germes e consequente desenvolvimento de infecções específicas. O material chegado à mucosa sadia pode originar-se do contato direto com outra mucosa doente ou ser trasnportado por algum veículo ou vetor. A Neisseria gonorrhhoeae, responsável pela blenorragia e pela oftalmia neonatorum, e as clamídeas, responsáveis por alguns tipos de uretrites e pelo tracoma, são exemplos de micro-organismos que penetram pelas mucosas, aí permanecendo e desenvolvendo estado patológico. O Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas, pode penetrar pela mucosa ocular e daí invadir a corrente sanguínea e outros tecidos. O Schistosoma mansoni é outro agente que penetra no hospedeiro pelas mucosas. (8) Penetração através de solução de continuidade: Feridas cirúrgicas, ferimentos acidentais, tecidos necrosados, queimaduras, escarificações, e, de forma geral, toda descontinuidade da pele pode servir de porta de entrada para agentes infecciosos. Esses podem ter sido depositados sobre a pele antes de ocorrido o seu rompimento naquele ponto e introduzidos durante o processo ou podem vir a ser aí depositados por vetores ou veículos após a ocorrência da lesão. São conhecidos casos de tétano produzidos por contaminação do coto umbilical pela deposição intencional de excremento animal, usado como curativo. No entanto, a penetração do Clostridium tetani não se dá, na maioria dos casos, de forma tão inusitada, sendo a penetração mais simples. Os esporos são veiculados por poeira e terra contaminadas com fezes humanas ou de animais. Em alguns casos, o ferimento que deu acesso ao esporo é tão insignificante que passa despercebido. O Trypanosoma cruzi pode ser levado à circulação com o rompimento da pele por ação da unha no ato de coçar locais onde o barbeiro defecou ao sugar sangue. (8) Deposição sobre a pele seguida de propagação localizada: os agentes etiológicos das dermatofitoses (fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton) tem acesso ao couro cabeludo, às unhas e à pele, por contato direto com indivíduos infectados, ou indiretamente por contato com objetos, pisos úmidos, instrumentos de barbearia e manicure. (8) Introdução no organismo com auxílio de objetos e instrumentos: neste caso, o acesso pode se dar pelos orifícios naturais ou através de perfurações cirúrgicas ou acidentais. A
  • 9. 9     transmissão por transfusão de sangue poderia também ser enquadrada neste item, considerando que a penetração do bioagente se dá por intrusão no corpo, com auxílio de objeto mecânico. Uma grande parte das infecções hospitalares relaciona-se a este mecanismo. (8) Introdução em tecido muscular ou na corrente sanguínea, por picadas de inseto ou por mordedura de animais: através de sua probóscida introduzida na pele, fêmeas dos mosquitos anofelinos injetam cargas de plasmódios sob a forma de esporozoítas, que darão origem à malária. Mosquitos do gênero Culex são responsáveis pela introdução, no organismo do hospedeiro, de larvas infectantes de Wuchereria bancrofti, agente causal da filariose. Neste caso também a penetração se faz por inoculação através da probóscida do mosquito. Os agentes causais do calazar (leishmaniose visceral) e da úlcera de Bauru (leishmaniose tegumentar) são introduzidos no organismo suscetível através da picada da fêmea do mosquito flebótomo. O vírus rábico é introduzido no organismo de seres humanos por mordedura lacerante de cães e gatos infectados, e em bovinos, por mordedura de morcego. (8) Penetração ativa direta do bioagente patogênico: a transmissão da sarna ocorre quando indivíduos infectados com Sarcoptes scabiei entram em contato com susceptíveis. As fêmeas recém-fecundadas do agente infeccioso abandonam o seu hospedeiro atual e penetram ativamente o novo hospedeiro. Cercárias de Schistosoma mansoni saídas do seu hospedeiro intermediário, molusco do gênero Biomphalaria e vivendo em coleções de água doce, penetram ativamente pela pele de pessoas suscetíveis que estejam imersas na água durante o trabalho ou recreação. Larvas infectantes de Strongyloides stercoralis, agente da estrongiloidíase, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliensis, agentes da dermtite serpiginosa (larva migrans), podem penetrar ativamente na pele de pessoas que caminham com os pés descalços, a partir do solo contaminado. (8) 1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO As doenças infecciosas e parasitárias relacionadas ao trabalho apresentam algumas características que as distinguem dos demais grupos: os agentes etiológicos não são de natureza ocupacional, e sim as condições ou circunstâncias em que o trabalho é executado é que são favorecedoras do contato, contágio ou transmissão. São causadas por agentes que estão disseminados no meio ambiente, dependentes de condições ambientais e de saneamento
  • 10. 10     e da prevalência dos agravos na população geral; vulneráveis às políticas gerais de vigilância e da qualidade dos serviços de saúde. A delimitação ambiente de trabalho/ambiente externo é frequentemente pouco precisa. (8) As consequências para a saúde da exposição a fatores de risco biológico presentes em situações de trabalho, além dos quadros de infecção aguda e crônica, incluem as reações alérgicas e tóxicas. Um amplo espectro de planas e animais produz substâncias alergênicas, irritativas e tóxicas com as quais os trabalhadores entram em contato, diretamente, através de picadas ou mordeduras ou através de poeiras contendo pelos, pólen, esporos de fungos. (8) A maioria das infecções resulta de exposição não ocupacional. Entretanto, alguns ambientes ou doenças específicas sugerem que sua origem foi proveniente da exposição ocupacional. Os trabalhadores da área de saúde, nos seus vários âmbitos, quer estejam em centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios, e os profissionais de saúde que realizam investigações de campo – vigilância da saúde, controle de vetores, e aqueles que lidam com animais, mantêm contato direto com pacientes ou vetores transmissores de moléstias infecciosas. Em se tratando de organismos cuja transmissão se faz através de aerossóis, o risco de contrair a doença é várias vezes maior para o trabalhador da área de saúde do que para a população geral. O risco também é grande no tocante à manipulação de material perfurocortante e no ato de procedimentos invasivos. Neste cenário, torna-se importante redobrar a atenção quanto às precauções universais, imunizações, manipulação de material contaminado e perfurocortante, e ao hábito de lavar as mãos antes e após cada exame. (8) Os trabalhadores que mantêm contato ou manipulam animais também possuem risco aumentado para contrair certas infecções, principalmente os trabalhadores na agricultura, as pessoas que trabalham em habitat silvestre (silvicultura), em atividades de pesca, produção e manipulação de produtos animais – abatedouros, curtumes, frigoríficos, indústria alimentícia, de carnes, pescados, zoológicos e clínicas veterinárias, além dos que lidam com pesquisas científicas em espécies animais. (8) É importante destacar que além das infecções propriamente ditas, algumas proteínas lideradas através da urina, pela e outros tecidos animais, podem ser carreadas como aerossóis, causando erupções, sintomas alérgicos ou até mesmo asma ocupacional. (8)
  • 11. 11     Os trabalhadores que lidam com dejetos de esgoto ou lixo, principalmente onde não há condições de sanitarismo e proteção adequadas, estão também expostos a vários riscos biológicos. (8) A suspeita clínica de possível doença ocupacional deve ser valorizada sempre que um paciente pertencer a um grupo onde o risco de exposição a patógenos biológicos é aumentado. A avaliação mais específica dependerá muito da apresentação clínica e dos diagnósticos diferenciais. Quando se cogitar em origem ocupacional, a história detalhada deve ser tomada no sentido de elucidar precisamente como a exposição ocorreu. A avaliação do local de trabalho através da visita/inspeção ao espaço físico é mandatória para se compreender o ambiente, as funções e as atividades cotidianas, determinando com mais clareza os riscos aos quais os trabalhadores estão expostos. Dependendo das circunstâncias e dos recursos disponíveis, uma equipe composta por médico e enfermeiro do trabalho, engenheiro e higienista industrial, e até um especialista em biossegurança, deverá determinar a necessidade de desencadear uma série de ações a nível individual e coletivo. Deve-se lembrar sempre da notificação compulsória de determinadas doenças para a vigilância sanitária local. (8) Mesmo para doenças comuns na sociedade, não há um parâmetro limítrofe bem estabelecido de quando se deve iniciar uma investigação para explicar o surgimento simultâneo de alguns problemas médicos dentre uma comunidade de trabalhadores. A natureza da doença, sua prevalência na população de trabalhadores sob risco, e o padrão de desenvolvimento de surto são critérios importantes para avaliar tais situações. (8) Em síntese, a relação com o trabalho pode ser estabelecida através de: • Coleta criteriosa de história ocupacional completa; • Comparação com dados e estudos epidemiológicos e de literatura científica; • Solicitação de perfil profissiográfico do trabalhador à empresa; • Solicitação de dados e avaliações ambientais à empresa; • Inspeção na própria empresa/local de trabalho. Na tabela 1.2 alguns exemplos de ocupações e suas doenças infecciosas relacionadas.
  • 12. 12     OCUPAÇÃO PRINCIPAIS DOENÇAS OU AGENTES SELECIONADOS Açougueiro Antraz, Tularemia, Erisipelóide Explorador de cavernas Bartonella henselae, celulite por pasteurella, raiva, histoplasmose Construção civil em grandes áreas Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Leishmaniose, Malária Processamento de alimentos Tularemia, Salmonelose, Triquinose Engenho de algodão Pracoccidioidomicose Trabalho com gado leiteiro Brucelose, Febre Q, Tinea barbae Trabalho em creches Hepatite A, Rubéola, Citomegalovirus e outras doenças da infância Dentistas Hepatites B e C, AIDS Cavador de fossas Larva migrans cutânea, Ascaridíase, Ancilostomíase Mergulhador ycobacterium marinum Operador de escavadora Paracoccidioidomicose, Histoplasmose Trabalho em lavoura Raiva, Antraz, Brucelose, Tétano, Leptospirose, Tularemia, Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Ascaridíase, Esporotricose, Ancilostomíase, Esquistossomose Pescador/Comerciante de peixes Erisipelóde (Erysipelothrix insidiosa), Esquistossomose, Mycobacterium marinum Jardineiro/Florista Esporotricose, larva migrans cutânea Trabalho com pele de animais Tularemia Trabalho em armazéns de grãos Tifo Trabalho em abatedouro Brucelose, Leptospirose, Febre Q, Salmonelose, Estafilococcias Médico/Enfermeiro Hepatites B e C, AIDS, Tuberculose, etc. Veterinário/Comércio de animais Antraz, Brucelose, Psitacose, Dermatofitoses, Erisipelóide, Raiva, Tularemia, Salmonelose Criador de pássaros Psitacose Trabalho em limpeza urbana Leptospirose, Ascaridíase, Ancilostomíase Lavadeira Dermatofitoses. Tabela 1.2 - Exemplos de Doenças Infecciosas Selecionadas por Ocupação Fonte: Mendes, René - 2007
  • 13. 13     1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS Através da Portaria 1.339 de 18 de novembro de 1.999, é instituído a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, onde também há uma lista de Doenças Infecciosas e Parasitárias Relacionadas ao Trabalho, como segue abaixo. DOENÇAS AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL Tuberculose (A15- A19.-) Exposição ocupacional ao Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch) ou Mycobacterium bovis, em atividades em laboratórios de biologia, e atividades realizadas por pessoal de saúde, que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes cujos exames bacteriológicos são positivos (Z57.8)(Quadro 25) Hipersuscetibilidade do trabalhador exposto a poeiras de sílica (Sílico- tuberculose)(J65.-) Carbúnculo (A22.-) Zoonose causada pela exposição ocupacional ao Bacillus anthracis, em atividades suscetíveis de colocar os trabalhadores em contato direto com animais infectados ou com cadáveres desses animais; trabalhos artesanais ou industriais com pelos, pele, couro ou lã. (Z57.8) (Quadro 25) Brucelose (A23.-) Zoonose causada pela exposição ocupacional a Brucella melitensis, B. abortus, B. suis, B. canis, etc., em atividades em abatedouros, frigoríficos, manipulação de produtos de carne; ordenha e fabricação de laticínios e atividades assemelhadas. (Z57.8) (Quadro 25) Leptospirose (A27.-) Exposição ocupacional a Leptospira icterohaemorrhagiae (e outras espécies), em trabalhos expondo ao contato direto com águas sujas, ou efetuado em locais suscetíveis de serem sujos por dejetos de animais portadores de germes; trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, galerias, esgotos em locais subterrâneos; trabalhos em cursos d’água; trabalhos de drenagem; contato com roedores; trabalhos com animais domésticos, e com gado; preparação de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios, etc.. (Z57.8) (Quadro 25) Tétano (A35.-) Exposição ao Clostridium tetani, em circunstâncias de acidentes do trabalho na agricultura, na construção civil, na indústria, ou em acidentes de trajeto (Z57.8) (Quadro 25) Psitacose, Ornitose, Doença dos Tratadores de Aves (A70.-) Zoonoses causadas pela exposição ocupacional a Chlamydia psittaci ou Chlamydia pneumoniae, em trabalhos em criadouros de aves ou pássaros, atividades de Veterinária, em zoológicos, e em laboratórios biológicos, etc.(Z57.8) (Quadro 25) Dengue [Dengue Clássico] (A90.-) Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da Dengue, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública, e em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) Febre Amarela (A95.-) Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da Febre Amarela, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública, e em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) Hepatites Virais (B15- B19.-) Exposição ocupacional ao Vírus da Hepatite A (HAV); Vírus da Hepatite B (HBV); Vírus da Hepatite C (HCV); Vírus da Hepatite D (HDV); Vírus da Hepatite E (HEV), em trabalhos envolvendo manipulação, condicionamento ou emprego de sangue humano ou de seus derivados; trabalho com “águas usadas” e esgotos; trabalhos em contato com materiais provenientes de doentes ou objetos contaminados por eles. (Z57.8) (Quadro 25)
  • 14. 14     Doença pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) (B20- B24.-) Exposição ocupacional ao Vírus da Imuno-deficiência Humana (HIV), principalmente em trabalhadores da saúde, em decorrência de acidentes pérfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado, e na manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados, e contato com materiais provenientes de pacientes infectados. (Z57.8) (Quadro 25) Dermatofitose (B35.-) e Outras Micoses Superficiais (B36.-) Exposição ocupacional a fungos do gênero Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton, em trabalhos em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, ginásios, piscinas) e outras situações específicas de exposição ocupacional. (Z57.8) (Quadro 25) Candidíase (B37.-) Exposição ocupacional a Candida albicans, Candida glabrata, etc., em trabalhos que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, tais como trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) Paracoccidioidomicose (Blastomicose Sul Americana, Blastomicose Brasileira, Doença de Lutz) (B41.-) Exposição ocupacional ao Paracoccidioides brasiliensis, principalmente em trabalhos agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas. (Z57.8) (Quadro 25) Malária (B50 – B54.-) Exposição ocupacional ao Plasmodium malariae; Plasmodium vivax; Plasmodium falciparum ou outros protozoários, principalmente em atividades de mineração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que obrigam a entrada dos trabalhadores em zonas endêmicas (Z57.8) (Quadro 25) Leishmaniose Cutânea (B55.1) ou Leishmaniose Cutâneo-Mucosa (B55.2) Exposição ocupacional à Leishmania braziliensis, principalmente em trabalhos agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas, e outras situações específicas de exposição ocupacional. (Z57.8) (Quadro 25) Tuberculose É a doença mais comum da humanidade, e representa a principal doença infecciosa responsável pela mortalidade de jovens e adultos. Ainda é importante problema de saúde pública mundial. Em relatório da Organização Mundial de Saúde estima-se que um terço da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, com oito milhões de novos casos de três milhões de mortes devidas à doença, por ano. (8) No Brasil havia 35 a 45 milhões de pessoas infectadas no início da década de 1990, sendo esperados 100.000 novos casos e certa de 6.000 mortes por ano (incidência de aproximadamente 54/100.000 habitantes). (8) O micro-organismo responsável pela tuberculose humana é o Mycobacterium tuberculosis, descoberto por Robert Koch, em 1882. Por ser um aeróbio estrito, infecta os pulmões e aí se localiza preferencialmente. A presença de oxigênio facilita sua multiplicação, Tabela 1.3 - Doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho (grupo I da CID-10) Fonte: Portaria nº 1.339, de 18 de novembro de 1999
  • 15. 15     e a ligação do órgão com o meio externo favorece sua transmissão. Como não há resposta imediata do hospedeiro, ele cresce no interior do organismo, durante certo tempo, sem nenhum obstáculo. A transmissão é aerógena através da eliminação de partículas com bacilos em suspensão por perdigotos favorecidos pela tosse, fala ou espirro. (8) O conceito que dominou a medicina até o início do século XX foi o de ausência de risco de infecção para profissionais de saúde e para outras pessoas em contato com pacientes tuberculosos. A partir da década de 1920, vários estudos demonstraram maior incidência de tuberculose entre enfermeiras, médicos e estudantes de medicina. Aos poucos, foram surgindo relatos de tuberculose em outros membros da equipe de saúde, como técnicos de laboratório e de anatomia patológica, mostrando que o risco de infecção é diretamente proporcional ao contato do profissional com o paciente. (8) Em determinados trabalhadores, a tuberculose pode ser considerada “doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as condições de trabalho podem favorecer a exposição a Mycobacterium tuberculosis ou a Mycobacterium bovis, como no caso de trabalhadores em laboratórios de biologia, e em atividades que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes bacilíferos.(9) Em trabalhadores expostos a poeiras de sílica ou portadores de silicose, a tuberculose e a sílico-tuberculose deverão ser consideradas como “doenças relacionadas com o trabalho”, do Grupo III da Classificação de Schilling, uma vez que a exposição à sílica pode favorecer a reativação da infecção tuberculosa latente, pois os cristais de sílica no interior dos macrófagos alveolares deprimem sua função fagocitária e aumentam sua destruição. (9) A tuberculose representa também risco ocupacional para trabalhadores em laboratórios e salas de necropsia. Os riscos para pessoal de laboratório incluem a manipulação de recipientes contaminados, escarros mal fixados, geração de aerossol. Durante a realização de exames. Para os trabalhadores em sala de necropsia, o exame em cadáveres de pacientes com tuberculose não diagnosticada em vida constitui o principal risco. O risco estimado destes profissionais adquirirem tuberculose é de 100 a 200 vezes maior do que o da população geral na Inglaterra (Collins & Grange, 1999). (8) O risco de dentistas contraírem tuberculose de SUS pacientes é relativo ao ambiente de trabalho, e mais diretamente relacionado ao perfil sócio econômico dos seus
  • 16. 16     pacientes. Este risco pode ser reduzido através de vigilância, educação e atenção ao perfil do paciente atendido (Anders e cols., 1998). (8) Carbúnculo É uma zoonose causada pelo Bacillus anthracis, microrganismo gram-positivo, manifestando-se, no ser humano, em três formas clínicas: cutânea, pulmonar e gastrintestinal. A meningite e a septicemia podem ser complicações de todas essas formas. (9) A doença tem distribuição mundial e ocorre em casos isolados no decorrer do ano, ocasionalmente na forma de epidemias. Decorre da exposição humana ao bacilo, em atividades industriais, artesanais, na agricultura ou em laboratórios, estando, portanto, associada ao trabalho, como, por exemplo, pelo contato direto das pessoas com pelos de carneiro, lã, couro, pele e ossos, em especial de animais originários da África e Ásia. Nas atividades agrícolas, ocorre no contato do homem com gato, porco, cavalo doente ou com partes, derivados e produtos de animais contaminados. (9) Os principais grupos de risco são os tratadores de animais, pecuaristas, trabalhadores em matadouros, curtumes, moagem de ossos, tosa de ovinos, manipuladores de lã crua, veterinários e seus auxiliares. Por sua raridade e quase especificidade em determinados trabalhadores, pode ser considerada doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9) Leptospirose É uma zoonose ubiquitária causada por uma espiroqueta patogênica do grupo Leptospiracea. A apresentação clínica é variável, com formas assintomáticas ou leves até quadros graves, que se manifestam com icterícia, hemorragias, anemia, insuficiência renal, comprometimento hepático e meningite. A recuperação é, geralmente, total em 3 a 6 semanas. A gravidade da infecção depende da dose infectante, da variedade sorológica da Leptospira e das condições do paciente. O período de incubação é variável, de 3 a 13 dias, podendo chegar a 24 dias. (9)
  • 17. 17     As leptospiroses constituem verdadeiras zoonoses. Os roedores são os principais reservatórios da doença, principalmente os domésticos. Atuam como portadores os bovinos, ovinos e caprinos. A transmissão é realizada pelo contato com água ou solo contaminados pela urina dos animais portadores, mais raramente pelo contato direto com sangue, tecido, órgão e urina destes animais. Não há transmissão inter-humana, exceto a intrauterina para o feto. (9) A leptospirose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem atividades em contato direto com águas contaminadas ou em locais com dejetos de animais portadores de germes, como nos trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, galerias e esgoto; em cursos d’água e drenagem; contato com roedores e com animais domésticos; preparação de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios e em outras atividades assemelhadas. (9) Em determinados trabalhadores, a leptospirose pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição à Leptospira podem ser consideradas como contribuintes, no conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) Tétano É uma doença aguda produzida pela potente neurotoxina (tetanospasmina) do Clostridium tetani. A toxina tetânica impede a inibição do arco reflexo da medula espinhal, promovendo reflexos excitatórios tônicos típicos, em múltiplas regiões do organismo. (9) O C. tetani é um bacilo anaeróbio, encontrado na natureza em ampla distribuição geográfica sob a forma de esporos, no solo, principalmente quando tratado com adubo animal, em espinhos de arbustos e pequenos galhos de árvores, em águas putrefatas, em pregos enferrujados sujos, em instrumentos de trabalho ou latas contaminadas com poeira da rua ou terra, em fezes de animais ou humanas, em fios de sutura e agulhas de injeção não convenientemente esterilizados. (9) É disseminado pelas fezes de equinos e outros animais e infecta o homem quando seus esporos penetram através de lesões contaminadas, em geral de tipo perfurante, mas também de dilacerações, queimaduras, coto umbilical não tratado convenientemente, etc. A
  • 18. 18     presença de tecido necrosado, pus ou corpos estranhos facilita a reprodução local do bacilo, que não é invasivo e age à distância por sua toxina. (9) A exposição ocupacional em trabalhadores é relativamente comum e dá-se, principalmente, em acidentes de trabalho (agricultura, construção civil, mineração, saneamento e coleta de lixo) ou em acidentes de trajeto. A doença em trabalhadores decorrente de acidente de trabalho poderá ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9) A psitacose ou ornitose é uma doença infecciosa aguda produzida por clamídias (C. psittaci e C. pneumoniae). A enfermidade, em geral, é leve ou moderada, podendo ser grave em idosos sem tratamento adequado. (9) A psitacose é quase sempre transmitida aos seres humanos por via respiratória. Em raras ocasiões a doença pode ser contraída através da bicada de um pássaro. O contato prolongado não é essencial para a transmissão da doença. Alguns minutos passados no ambiente previamente ocupado por uma ave infectada tem resultado em infecção humana. (8) O período de incubação varia de uma a quatro semanas, e a transmissibilidade dura semanas ou meses. (8) As fontes mais frequentes de infecção da C. psittaci são periquitos, papagaios, pombos, patos, perus, canários, entre outros, que transmitem a infecção por meio de suas fezes dessecadas e disseminadas com a poeira, sendo aspiradas pelos pacientes. Apesar de rara, é possível a transmissão via respiratória, de pessoa a pessoa, na fase aguda da doença. É uma zoonose que acomete trabalhadores de criadouros de aves, clínicas veterinárias, zoológicos e de laboratórios biológicos. A C. pneumoniae infecta somente seres humanos, sendo transmitida de pessoa a pessoa. Por sua raridade e relativa especificidade, a psitacose/ornitose poderá ser considerada como doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling, nos trabalhadores de granjas e criadores de aves (patos, gansos, periquitos, pombos, etc.), empregados de casas de comércio desses animais, veterinários, guardas florestais e outros em que se confirme as circunstâncias de exposição ocupacional. (9)
  • 19. 19     Dengue É uma doença aguda febril, endemo-epidêmica, causada por um dos Flavivírus do dengue (família Togaviridae), com quatro tipos sorológicos (1, 2, 3 e 4). Os seres humanos são reservatórios e a transmissão ocorre pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, A. albopictus e o A. scutellaris. Após repasto de sangue infectado, o mosquito estará apto a transmitir o vírus após 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, alimenta-se num hospedeiro suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções para uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. (9) O período de incubação da doença é de 3 a 15 dias, em média de 5 a 6 dias. O período de transmissibilidade ocorre durante o período de viremia, que começa um dia antes da febre até o sexto dia da doença. Quando o agente etiológico for conhecido, o nome completo da doença será dengue por vírus tipo 1 ou dengue por vírus tipo 2, etc. (9) O dengue pode ser considerado como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, uma vez que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos mosquitos vetores (Aedes) e/ou aos agentes infecciosos (Flavivírus) podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) O dengue relacionado ao trabalho tem sido descrito em trabalhadores que exercem atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em laboratórios de pesquisa, entre outras atividades em que a exposição ocupacional pode ser identificada. (9) Febre amarela É uma doença febril aguda causada pelo Flavivírus da febre amarela (família Togaviridae), com quadro clínico variável, desde formas inaparentes até as graves e fatais. A transmissão se faz pela picada dos mosquitos infectados A. aegypti na febre amarela urbana (FAU) e Haemagogus na febre amarela silvestre (FAS). O período de incubação é de 3 a 6 dias, após a picada do mosquito infectado, e o período de transmissibilidade é de 24 a 48 horas, antes do aparecimento dos sintomas de 3 a 5 dias após. (9)
  • 20. 20     A febre amarela persiste na América do Sul apenas como enzootia de macacos, tendo por transmissores mosquitos dos gêneros Haemagogus e Aedes. Os casos humanos, pouco numerosos, incidem entre as pessoas que trabalham ou mantêm contato com as florestas. A febre amarela urbana teve o homem como único reservatório e o A. aegypti como transmissor, na América do Sul. Outros trabalhadores eventualmente expostos, por acidente, incluem os que exercem atividades de saúde pública e que trabalham em laboratórios de pesquisa, agricultores, trabalhadores florestais, em extração de madeira, em áreas e regiões afetadas. (9) Por sua raridade e por sua relativa especificidade, a febre amarela em determinados trabalhadores poderá ser considerada como doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9) Hepatite É termo genérico para inflamação do fígado que, convencionalmente, designa alterações degenerativas ou necróticas dos hepatócitos. Pode ser aguda ou crônica e ter como causa uma variedade de agentes infecciosos ou de outra natureza. O processo inflamatório do fígado é caracterizado pela necrose hepatocelular difusa ou irregular, afetando todos os ácinos. Suas causas principais são as viroses devidas ao vírus da hepatite A (HAV), ao vírus da hepatite B (HBV), ao vírus da hepatite C (HCV), ao vírus da hepatite D (HDV) e ao vírus da hepatite E (HEV). (9) Na hepatite viral A, a fonte de infecção é o próprio homem (raramente os macacos) e a transmissão é direta, por mãos sujas (circuito fecal-oral) ou por água (hepatite dos trabalhadores por águas usadas) ou por alimentos contaminados. Vários surtos têm sido descritos em creches, escolas, enfermarias e unidades de pediatria e neonatologia, com taxas de transmissão que giram em torno de 20% em trabalhadores suscetíveis. Nos EUA, a prevalência em trabalhadores da saúde varia de 35 a 54% (comparado com 38% da população geral). (9) A maioria dos dados estatísticos que se referem à hepatite A em trabalhadores da saúde aponta os enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem como principal grupo
  • 21. 21     acometido ou em risco. Dentre os médicos e dentistas, aqueles que lidam com crianças estão mais expostos. (8) Os trabalhadores do setor de lavanderia hospitalar, especialmente os manipuladores de tecidos antes de serem lavados, apresentam taxa elevada de anticorpos IgC para o VHA (Borg & Portelli 1999). (8) Os trabalhadores responsáveis pela coleta de lixo estão entre os grupos ocupacionais de risco, na dependência direta de suas condições de trabalho. (8) Na hepatite viral B o vírus é encontrado em todas as secreções e excreções do corpo, mas, aparentemente, apenas o sangue, o esperma e a saliva são capazes de transmiti-lo. A infecção é adquirida, em geral, por ocasião de transfusões, de injeções percutâneas com derivados de sangue ou uso de agulhas e seringas contaminadas ou, ainda, por relações sexuais, homossexuais masculinas ou heterossexuais. Nos trabalhadores da saúde, a soroprevalência de HBV é de 2 a 4 vezes maior e a incidência anual é de 5 a 10 vezes maior do que na população em geral. (9) Na hepatite viral C a soroprevalência em trabalhadores da saúde parece ser similar à da população geral. A soroconversão dos trabalhadores que se acidentam com material contaminado ocorre em 1,2 a 10% dos trabalhadores acidentados. Estima-se que 2% dos casos devem-se à exposição ocupacional. (9) A hepatite viral D é endêmica na Amazônia Ocidental, onde, em associação com o vírus da hepatite B, é o agente etiológico da chamada febre negra de Lábrea, de evolução fulminante. (9) Portanto, em determinados trabalhadores, as hepatites virais podem ser consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos vírus podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9)
  • 22. 22     HIV Vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um distúrbio da imunidade mediada por célula, causado por um vírus da subfamília Lentivirinae (família Retroviridae), caracterizada por infecções oportunistas, doenças malignas (como o sarcoma de Kaposi e o linfoma não-Hodgkin), disfunções neurológicas e uma variedade de outras síndromes. A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS ou SIDA) é a mais grave manifestação de um espectro de condições HIV-relacionadas. O risco de que pessoas infectadas, não tratadas, desenvolvam a AIDS é de 1 a 2% por ano nos primeiros anos após a infecção e cerca de 5% nos anos seguintes. O risco acumulado de desenvolvimento da síndrome em infectados não tratados é de cerca de 50%. (9) Os profissionais de saúde constituem um grupo com características especiais de exposição ao HIV, devido às suas possibilidades de infectar-se durante as atividades do trabalho cotidiano. O número de situações de contato com sangue, secreções e fluidos orgânicos no trabalho, na área da saúde, é muito grande. (8) Desde o início da epidemia, a possibilidade de contaminação dos profissionais de saúde motivou investigações dirigidas à quantificação deste risco, e despertou os órgãos oficiais para a necessidade de medidas voltadas a sua redução. (8) O primeiro caso confirmado de contaminação ocupacional pelo vírus HIV ocorreu em 1984, na Inglaterra. Uma enfermeira sofreu acidente pefurocortante por agulha contendo sangue de uma paciente que se encontrava internada com pneumonia e era portadora do vírus HIV. Duas semanas após o acidente, a enfermeira apresentou os sintomas de infecção aguda pelo HIV (febre, cefaleia, mialgia etc.). No segundo mês o seu soro revelava positividade para o vírus. Houve confirmação da transmissão ocupacional do HIV da paciente para a enfermeira. (8) A taxa de soroconversão pós-exposição ocupacional por ferimento percutâneo tem variado entre 0,1 e 0,4%, sendo maior em função do tamanho do inóculo, da duração do contato e da extensão do ferimento. A literatura científica internacional registra cerca de 55 casos, confirmados até 1999, decorrentes de exposição ocupacional em trabalhadores de saúde, em decorrência de acidentes perfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado, manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados e contato com materiais provenientes de pacientes infectados. (9)
  • 23. 23     Assim, em determinados trabalhadores, a doença pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao vírus são acidentais ou ocorrem em condições específicas de trabalho, se bem documentadas e excluídos outros fatores de risco. (9) Dermatofitose É o termo geral para infecções micóticas que afetam a superfície epidérmica, devido a fungos dermatófitos. Atacam tecidos queratinizados (unhas, pelos e estrato córneo da epiderme). As principais dermatofitoses são: Tinea capitis (Tinha tonsurante); Tinea favosa (Favo); Tinea barbae (Sicose); Tinea corporis; Tinea manuum; Tinea cruris; Tinea imbricata (Tinha escamosa); Tinea pedis e Tinea unguium, causadas por espécies dos gêneros Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton. (9) Em determinados trabalhadores, a dermatofitose e outras micoses superficiais podem ser consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos fungos dermatófitos podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) A dermatofitose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem atividades em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, ginásios, piscinas, etc.) e em outras situações específicas. (9) Candidíase Infecção provocada por fungo da classe Saccharomycetes leveduriformes do gênero Candida, sobretudo pela Candida albicans. A transmissão é feita pelo contato com secreções originadas da boca, pele, vagina e dejetos de portadores ou doentes. A transmissão vertical se dá da mãe para o recém-nascido, durante o parto. Pode ocorrer disseminação endógena. O período de transmissibilidade dura enquanto houver lesões. (9)
  • 24. 24     A candidíase relacionada ao trabalho poderá ser verificada em trabalhadores que exercem atividades que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, tais como trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros, com exposição ocupacional claramente caracterizada por meio de história laborativa e de inspeção em ambiente de trabalho. Nesses casos, a candidíase poderá ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling. (9) Paracoccidioidomicose Infecção fúngica sistêmica, micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. A infecção dá-se por inalação de conídios em poeiras, em ambientes quentes e úmidos, com formação de foco primário pulmonar (assintomático) e posterior disseminação. Em pacientes com grande resistência imunológica, as formas são localizadas, com reação granulomatosa e poucos parasitos. Nos demais, os parasitos são abundantes, os processos são predominantemente exsudativos e as formas disseminadas predominam, com variados graus clínicos. (9) O trabalho com o solo e vegetais em área rural, a exemplo dos lavradores e operadores de máquinas agrícolas, é fator predisponente importante da paracoccidioidomicose. Inquérito epidemiológico realizado em 417 trabalhadores da mina Morro Velho em Nova Lima – MG detectou 13,4% de positividade em teste cutâneo para paracoccidioidomicose. (8) Portanto, em determinados trabalhadores, a paracoccidiodomicose pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao fungo podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta grave doença infecciosa. (9) Malária Doença infecciosa febril aguda, causada por parasitas do gênero Plasmodium (vivax, malariae, falciparum, ovale), caracterizada por febre alta acompanhada de calafrios,
  • 25. 25     sudorese e cefaleia, que ocorre em padrões cíclicos, a depender da espécie do parasito infectante. (9) A transmissão da doença é realizada por intermédio dos esporozoítas, formas infectantes do parasita, inoculados no homem pela saliva da fêmea anofelina infectante. (9) Esses mosquitos, ao se alimentarem em indivíduos infectados, ingerem as formas sexuadas do parasita – gametócitos – que se reproduzem no interior do hospedeiro invertebrado, durante 8 a 35 dias, eliminando esporozoítas, durante a picada. A transmissão também ocorre por meio de transfusões sanguíneas, compartilhamento de seringas, contaminação de soluções de continuidade da pele e, mais raramente, por via congênita. (9) A transmissibilidade da infecção ocorre do homem para o mosquito enquanto houver gametócitos em seu sangue. O homem, quando não tratado, poderá ser fonte de infecção durante mais de 3 anos da malária por P. malariae, de 1 a 3 anos da malária por P. vivax e menos de 1 ano da malária por P. falciparum. (9) O período de incubação é, em média, de 7 a 14 dias para o P. falciparum, de 8 a 14 dias para o P. vivax e de 7 a 30 dias para o P. malariae. (9) A malária tem sido descrita em garimpeiros, agricultores, lenhadores, motoristas de caminhão, em trabalhadores que exercem atividades em mineração, construção de barragens ou rodovias, extração de petróleo, e em outras atividades que obrigam a presença em zonas endêmica. (8) A malária pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos anofelinos transmissores podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia da doença. (9) A malária relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem atividades em mineração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que obrigam à presença dos trabalhadores em zonas endêmicas. (9) Leishmaniose Leishmaniose ou leshmaníase por Leishmania braziliensis é zoonose do continente americano que apresenta, nos seres humanos, duas formas clínicas: a leishmaniose
  • 26. 26     cutânea, relativamente benigna, e a leishmaniose cutaneomucosa, mais grave. É uma doença parasitária da pele e mucosas, de caráter pleomórfico, transmitida pela picada de insetos flebotomíneos do gênero Lutzomia. Período de incubação: pode variar de 2 semanas a 12 meses, com média de um mês. (9) A leishmaniose comporta-se geralmente como doença profissional, ocorrendo em áreas onde se processam desmatamentos para a colonização de novas terras, construção de estradas e instalação de frentes de trabalho para garimpo, mineração, extração de madeira e carvão vegetal. Também estão expostos os profissionais que trabalham sob as matas nas plantações de cacau, extração de látex da seringueira. Outras atividades de risco são o treinamento militar nas selvas, as expedições científicas e incursões de caçadores em áreas florestais. (8) Em determinados trabalhadores, a leishmaniose cutânea ou a cutaneomucosa pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao mosquito transmissor podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) 1.3 – PREVENÇÃO A prevenção de doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho inclui medidas de educação e informação sobre os efeitos e riscos à saúde, sobre os modos de transmissão e controle, pelo reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam agentes biológicos. (8) São medidas preventivas muito eficazes para ambientes onde há exposição prolongada ou potencialmente grave. O controle do ambiente visa conter os riscos biológicos em sua fonte, reduzir a concentração de aerossóis e limitar seu movimento pela atmosfera do trabalho. Sistemas de ventilação, ar condicionado e aquecimento devem ser adequadamente projetados e periodicamente vistoriados para prevenir a contaminação por fungos ou bactérias. Para ambientes fechados, tais como hospitais e laboratórios de pesquisa, a ventilação deve ser projetada de modo a proporcionar fluxo unidirecional e dirigido. O ar proveniente de áreas com alto risco de contaminação por agentes infecciosos tais como enfermarias de pacientes isolados, pode ser descontaminado através de filtração. (8)
  • 27. 27     O uso de equipamentos de proteção individual está indicado toda vez que os riscos não forem totalmente eliminados através das medidas anteriores. Deve-se sempre calçar luvas quando em contato com secreções biológicas de qualquer tipo. O uso de aventais ou capotes, gorros, óculos especiais de proteção, devem sempre fazer parte dos cuidados dos que lidam com materiais, animais ou indivíduos potencialmente infectados. Deve-se salientar que máscaras cirúrgicas ordinárias somente protegem o paciente, o animal ou o produto, da exposição de organismos exalados pelo trabalhador. Para que o trabalhador seja protegido de patógenos provenientes do ambiente é necessário que ele utilize máscaras especiais ou até respiradores específicos. (8) A manipulação, descontaminação ou armazenamento apropriados dos dejetos biológicos são importantes medidas de controle de infecção em qualquer ambiente de trabalho. Em hospitais e laboratórios, os dejetos potencialmente infectados devem ser inicialmente segregados dos outros dejetos e adequadamente identificados em embalagens próprias para resíduos biológicos. Todas as lâminas e agulhas devem ser colocadas em contêineres seguros e à prova de furos. Agulhas nunca devem ser encapadas ou cortadas antes de serem desprezadas. A descontaminação pode ser alcançada através da esterilização, desinfecção ou antissepsia. (8) Para exposição a atentes patógenos de transmissão sanguínea estão prescritas numa série de normas conhecidas como “Normas de Biossegurança ou Prescrições Universais”, detalhadas na tabela 1.4. (8) Precauções Universais 1. Evitar contato direto com fluidos orgânicos: sangue, fluido cérebro-espinhal, sêmen, secreções vaginais, leite materno. Os demais como saliva, lágrima, suor, urina e líquido amniótico não são considerados meios de transmissão. * Colocar luva quando da presença de qualquer desses fluidos. A utilização de luvas é obrigatória quando da execução de punções venosas, em razão do extravasamento de sangue ser muito grande. * Se houver contato da boca com esses fluidos, lavar e fazer bochechos com água oxigenada a 3%. * Se houver contato com a pele, remover os fluidos cuidadosamente, lavar com água e sabão degermante; não usar escovinhas devido à escarifação da pele, a fim de evitar porta de entrada. A pele deve estar íntegra, sem abrasão ou cortes. * Usar máscaras durante os procedimentos em que exista a possibilidade de sangue e outros fluidos corpóreos atingirem as mucosas da boca e nariz.
  • 28. 28     * Usar óculos durante os procedimentos em que houver a possibilidade de que sangue e fluidos corpóreos atinjam os olhos, principalmente em procedimentos cirúrgicos, endoscópicos e em hemodiálise. * Usar aventais protetores durante procedimentos em que exista a possibilidade de contaminação das roupas dos trabalhadores de saúde com sangue ou fluidos corpóreos. 2. Quando o profissional tiver alguma lesão de pele, tampá-la bem com curativo impermeável. 3. Evitar picada de agulhas e lesões que provoquem solução de continuidade. * Não recapar as agulhas, pois esse é procedimento de risco. * Recolher as agulhas em local apropriado com solução de Hipoclorito de Sódio a 0,5%, e só depois colocá-las no lixo. * Caso haja picada de agulhas, pressionar imediatamente para expelir o sangue, lavar com água e sabão degermante e fazer curativo oclusivo. * Sempre usar luvas para procedimentos invasivos: injeção endovenosa, intramuscular, colher sangue, passar sonda vesical, nasogástrica e traqueostomia. 4. Lavar sempre as mãos com água e sabão e secá-las após atendimentos de cada paciente, inclusive ao se administrar cuidados no leito. 5. Cuidados com o lixo e seu destino. * O lixo hospitalar deve ser coletado em saco plástico, amarrado e acondicionado em um novo saco mais resistente, amarrado e encaminhado para incineração. * A pessoa que coleta o lixo deve estar paramentada com luvas, avental e botas. 6. Cuidados na limpeza com a unidade, utensílios e roupas de cama. * Fluido corpóreo no chão, bancada, mesa: jogar Hipoclorito de Sódio a 1% no local, por 30 minutos. * Manipular as roupas sem agitação. Recolhê-las e rotular "contaminado". * Para lavar as roupas com fluidos contaminantes: detergente mais água a 71°C por 25 minutos; com temperatura inferior: deixar e molho em Hipoclorito de Sódio a 0,5% por 30 minutos. A vacinação nos ambientes de trabalho é realizada de acordo com indicações específicas. Existem algumas indicações gerais: Os trabalhadores podem ser vacinados visando à proteção a organismos infecciosos tais como agentes do tétano e hepatite B; Os profissionais de saúde podem ser vacinados, por exemplo, contra Influenza para evitar que contaminem inadvertidamente algum paciente; Algumas vacinas como a da febre amarela são recomendadas para trabalhadores em viagens a áreas endêmicas. Tabela 1.4 – Precauções Universais Fonte: Normas de Biossegurança ou Prescrições Universais
  • 29. 29     UNIDADE 2 – DOENÇAS RELACIONADAS AOS RISCOS QUÍMICOS Os riscos químicos presentes nos locais de trabalho encontram-se na forma sólida, líquida e gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas, substâncias compostas e produtos químicos em geral. Poeiras, fumaças, névoas, gases e vapores estão dispersos no ar; trata-se dos aerodispersóides. (12) Poeira: as poeiras são partículas sólidas geradas mecanicamente por ruptura de partículas menores. São classificadas em: • Poeiras minerais: sílica, asbesto e carvão mineral, por exemplo. As consequências são: silicose (quartzo), asbestose (amianto), penumoconiose dos minérios de carvão (mineral). • Poeiras vegetais: algodão e bagaço de cana-de-açúcar, por exemplo. As consequências são: bissinose (algodão), bagaçose (cana-de-açúcar) etc. • Poeiras alcalinas: calcário, por exemplo. As consequências incluem: doenças pulmonares obstrutivas crônicas, enfisema pulmonar. • Poeiras incômodas: incluem consequências como interação com outros agentes nocivos presentes no ambiente de trabalho, potencializando sua nocividade. Fumos: Trata-se de partículas sólidas produzidas a partir da condensação de vapores metálicos. Por exemplo: fumos de óxido de zinco nas operações de sondagem de ferro. As consequências são: doença pulmonar obstrutiva, intoxicação específica de acordo com o metal. Névoas: as névoas são partículas líquidas que resultam da condensação de vapores ou da dispersão mecânica de líquidos. São exemplos: névoa resultante do processo de pintura a revólver, monóxido de carbono liberado pelos escapamentos dos carros. Gases: diz respeito ao estado natural das substâncias em condições normais de temperatura e pressão. Exemplos: GLP, hidrogênio, ácido nítrico, butano, ozona etc. Vapores: os vapores consistem em dispersões de moléculas no ar que podem se condensar para formar líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura e pressão. Por exemplo: gasolina, naftalina etc. Névoas, gases e vapores podem ser classificados em:
  • 30. 30     • Irritantes: causam irritação das vias aéreas superiores. Exemplo: ácido clorídrico, ácido sulfúrico, soda caustica, cloro, etc. • Asfixiantes: produzem dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Por exemplo: hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido de carbono, monóxido de carbono etc. • Anestésicos: em sua maioria, incluem solventes orgânicos, promovendo ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos a diversos órgãos, ao sistema formador de sangue (benzeno) etc. São exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc. As vias de penetração dos agentes químicos são: via cutânea (pele); via digestiva (boca) e via respiratória (nariz). A penetração dos agentes químicos no organismo depende de seu modo de utilização. Para avaliar o potencial tóxico das substâncias químicas, alguns fatores devem ser levados em consideração: • Concentração: quanto maior for a concentração, mais rapidamente seus efeitos nocivos irão se manifestar no organismo. • Índice respiratório: a quantidade de ar inalado pelo trabalhador durante a jornada de trabalho. • Sensibilidade individual: o nível de resistência varia de indivíduo para indivíduo. • Toxicidade: o potencial de ação tóxica da substância no organismo. • Tempo de exposição: o tempo de exposição do organismo à substância contaminante. 2.1 DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICO 2.1.1 DOENÇA RESPIRATÓRIA Há diversas formas de classificação das doenças ocupacionais pulmonares, baseadas na reação tecidual, nos tipos de agentes envolvidos ou no quadro clínico predominante. A tabela 2.1 mostra uma classificação destas doenças. (8)
  • 31. 31     Doenças Agudas 1 Trato respiratório alto • Irritação/inflamação de cavidades nasais e seios da face, faringe e laringe, por inalação de gases ou particulados irritantes e/ou tóxicos. • Rinite alérgica 2 Trato respiratório baixo • Asma ocupacional (incluindo bissinose e síndrome de disfunção reativa das vias aéreas) 3 Doenças do parênquima pulmonar • Pneumonites por hipersensibilidade • Pneumonites tóxicas 4 Doenças pleurais • Derrame pleural Doenças Crônicas 1 Trato respiratório alto • Úlcera de septo nasal 2 Trato respiratório baixo • Bronquite crônica ao fluxo aéreo • Enfisema pulmonar • Limitação crônica ao fluxo aéreo 3 Doenças do parênquima pulmonar • Silicose • Asbestose • Pneumoconiose dos trabalhadores do carvão • Outras pneumoconioses (incluindo reações granulomatosas) 4 Doenças pleurais • Fibrose pleural (em placas ou difusa) 5 Carcinomas do trato respiratório • Adenocarcinomas dos seios da face • Carcinoma broncogênico • Mesotelioma Doenças do trato respiratório alto Podem ser classificadas conforme sua localização e etiologia em: Tabela 2.1 - Classificação Clínica das Doenças Pulmonares Fonte: Mendes, René - 2007
  • 32. 32     1. Ulcerações e perfurações de septo nasal por ação direta devidas a metais pesados como cromo hexavalente e níquel, antimônio, arsênico e cobre (Newman, 1996) (8). 2. Rinites irritativas e/ou alérgicas secundárias à inalação crônica de substâncias de alto e baixo peso molecular com potencial alergênico, como material proteico animal, enzimas, isocianatos, anidridos ácidos e outros. Nesse tipo de situação pode ocorrer lesão de conjuntiva ocular e de outras mucosas de via aérea como orofaringe, e traqueia e eventuais sinusites secundárias ao processo obstrutivo alto. (8) 3. Rinolitíase formação de concreções na cavidade nasal secundárias à presença de substâncias higroscópicas como o cimento (calcário calcinado, desidratado), podendo produzir desde apenas incômodo local até sangramentos (Parker, 1994) (8). 4. Carcinoma da cavidade nasal e laringe secundários à exposição a metais pesados como o cromo hexavalente e níquel e poeiras diversas contendo hidrocarbonetos aromáticos absorvidos nas mesmas, ou poeiras de madeiras (Doll, Morgan & Speizer, 1970; Spiegel & Sataloff, 1996; Vieren & Imbus, 1989). (8) Asma ocupacional A definição mais citada é “a obstrução reversível ao fluxo aéreo e/ou hiperresponsividade brônquica devido a causas e condições atribuíveis a um determinado ambiente de trabalho e não a estímulos externos” (Bernstein e cols., 1999). Esta definição é problemática, pois, com frequência, nota-se o desencadeamento de crises por estímulos inespecíficos tais como exercício físicos, infecções e outros (Burge & Moscato, 1999). (8) Trabalhadores com asma preexistente podem ter o quadro agravado por estímulos inespecíficos no ambiente de trabalho, assim como desenvolver sensibilização a agentes específicos. Esta primeira condição pode não ser considerada como AO, e sim como asma agravada pelas condições de trabalho (Chan-Yeung & Malo, 1995), mas, do ponto de vista prático deve ser investigada, orientada e encaminhada da mesma forma que a AO. (8) Os mesmos mecanismos que levam um agente ocupacional a causar asma são semelhantes aos mecanismos da asma brônquica (Gandevia, 1970) e, pode ser assim sumarizados por ordem de importância: (8).
  • 33. 33     1. Broncocosntrição imunológica: é o tipo de reação mais comum em AO. A maior parte das respostas orgânicas é media por IgE específica, porém há casos em que também anticorpos da classe IgG estão envolvidos. (8) 2. Broncoconstrição inflamatória: exposições a gases ou particulados irritantes, em altas concentrações, podem levar à inflamação das vias aéreas, atingindo ocasionalmente, a zona de trocas gasosas. (8) 3. Broncoconstrição reflexa: causada pela ação direta de particulados, gases e mesmo ar frio sobre os receptores da parede brônquica, levando a uma quebra do equilíbrio adrenérgico. (8) 4. Broncoconstrição farmacológica: alguns agentes ocupacionais têm o potencial de atuar como agonistas farmacológicos, apresentando uma ação semelhante a drogas, com relações dose-efeito. (8) Pneumonite por hipersensibilidade (PH) Manifestação clínica característica de um grupo de doenças pulmonares, resultantes da sensibilização por exposições recorrentes a inalações de partículas antigênicas derivadas de material orgânico e de algumas poucas substâncias químicas sintéticas. Na tabela 2.2 apresenta-se uma listagem de algumas denominações específicas da PH conforme o antígeno ou o ambiente de trabalho causador da mesma, o tipo de aerossol veiculador do antígeno e o antígeno específico. (8) Doença / Exposição Aerossol Antígeno Pulmão do fazendeiro (ou agricultor) Feno/palha/grãos mofados Actinomycetes termophilico Pulmão dos criadores de aves Excremento e penas de aves Proteínas de aves Bagaçose Cana mofada Thermoactinomyces viridis T. sacharii Pulmão dos trabalhadores de malte, cogumelos, cortiça e boldo. Cascas e córtex mofados Thermoactinomyces vulgaris. Aspergillus clavatus. Penicillium frequentans. Cryptostoma corticale Sequoiose Poeira mofada Pullulania sp Trabalhadores em serrarias, carpintarias e marcenarias Madeiras e poeira de madeira mofadas Alternania sp Pulmão dos manipuladores de animais e peixe Epitélio animal, proteínas de peixe Proteína animal e de peixes. Fungos saprófitos Exposição a isocianatos MDI/TDI Hapteno inorgânico Tabela 2.2 - Pneumotinte por Hipersensibilidade Fonte: Mendes, René – 2007
  • 34. 34     Pneumonite tóxica ou edema pulmonar Resultantes a exposição de altas concentrações de gases irritantes, como amônia, cloro e dióxido de nitrogênio, a poeiras e fumos metálicos de berílio, cádmio, mercúrio, níquel, vanádio e zinco, a produtos químicos de pH extremo ou fortemente reagentes, como o metilisocianato. Sua patogenia envolve diretamente a citotoxicidade das células mucosas, com liberação de proteínas séricas e mediadores da reação inflamatória. (8) Derrame pleural benigno Acometimento de diagnóstico retrospectivo, pois é necessário que o paciente seja acompanhado durante algum tempo para afastar outras possibilidades diagnósticas, como a tuberculose e o câncer de pulmão. Outros acometimentos pleurais como espessamento pleural em placas e espessamento pleural difuso, são mais prevalentes, associadas a exposição ao asbesto. (8) Bronquite crônica (BC) Limitação crônica ao fluxo aéreo (LCFA) são duas entidades distinta, podendo ou não estar relacionadas. A principal causa de ambas é, sem dúvida, o tabagismo, que agride tanto grandes vias aéreas, preferencialmente acometidas na BC, como nas pequenas vias aéreas, preferencialmente acometidas na LCFA. (8) Há um consenso de que a exposição a poeiras na mineração de carvão leva a um aumento na prevalência de BC, assim como as poeiras orgânicas, exemplo a poeira de algodão, também leva a um aumento de prevalência de BC e LCFA. Assim, podemos dizer que o tabagismo, as exposições ocupacionais e a poluição ambiental têm em ordem decrescente de grandeza, direta influência em relação às doenças de vias aéreas. (8) Enfisema Estado de irritação respiratória crônica, de lenta evolução, quase sempre causada pelo fumo, mas também por outros agentes (poeira, poluentes, vapores químicos). No
  • 35. 35     enfisema, os alvéolos transformam-se em grandes sacos cheios de ar que dificultam o contato do ar com o sangue, uma vez que foram destruídos os septos alveolares por onde passavam os vasos. (22) Pneumoconioses São divididas em não-fribogênicas (ou “benignas”) e fibrogênicas de acordo com o potencial da poeira em produzir fibrose reacional. Apesar de existirem tipos bastante polares de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a asbestose, de um lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como não fibrogênicas produzirem algum grau de fibrose dependendo da dose, das condições de exposição e da origem geológica do material. (4) O Quadro 1, abaixo, apresenta uma lista de pneumoconioses com denominações mais específicas, seus agentes etiológicos e sua apresentação anatomopatológica. Ressalte-se que a lista não é exaustiva, não excluindo outras possibilidades etiológicas mais raras, ou ainda não contempladas pela literatura científica. (4) Pneumoconiose Agente(s) Etiológico(s) Processo Anatomopatológico Silicose Sílica livre Fibrose nodular Asbestose Todas as fibras de asbesto ou amianto Fibrose difusa Pneumoconiose do trabalhador do carvão (PTC) Poeiras contendo carvão mineral ou vegetal Decomposição macular sem fibrose ou com diferenciados graus de fibrose Silicatose Silicatos variados Fibrose difusa ou mista Talcose Talco mineral (silicato) Fibrose nodular e/ou difusa Pneumoconiose por poeira mista Poeiras variadas contendo menos que 7,5% de sília livre Fibrose nodular estrelada e/ou fibrose difusa Siderose Óxidos de ferro Deposição macular de óxido de ferro associado ou não com fibrose nodular e/ou difusa Estanose Óxidos de estanho Deposição macular sem fibrose Baritose Sulfato de bário (barita) Deposição macular sem fibrose Antimoniose Óxidos de antimônio ou Sb metálico Deposição macular sem fibrose Pneumoconiose por rocha fosfática Poeira de rocha fosfática Deposição macular sem fibrose Pnemoconiose por abrasivos Carbeto de silício (SiC) / Óxido de alumínio (Al2O3) Fibrose nodular e/ou difusa
  • 36. 36     Berilliose Berílio Granulomatose tipo sarcóide. Fibrose durante evolução crônica Pneumopatia por metais duros Poeiras de metais duros (ligas de W, Ti, Ta contendo Co) Pneumonia intersticial de células gigantes. Fibrose durante evolução Pneumonites por hipersensibilidade (alveolite alérgica extrínseca) Poeiras orgânicas contendo fungos, proteínas de penas, pelos e fezes de animais Pneumonia intersticial por hipersensibilidade (infiltração linfocitária, eosinofilica e neutrofilica na fase aguda e neutrofilica na fase aguda e fibrose difusa na fase crônica)     Silicose Doença respiratória causada pela inalação de poeira de sílica que produz inflamação, seguida de cicatrização do tecido pulmonar. A silicose decorre da exposição à sílica livre (quartzo), especialmente na mineração subterrânea de ouro, nas indústrias extrativas de minerais, no beneficiamento de minerais (corte de pedras, britagem, moagem, lapidação), nas indústrias de transformação (cerâmicas, marmorarias, abrasivos, fundições), na fabricação do vidro e de sabões, na construção civil e, em algumas atividades como protéticos, jateadores de areia, trabalhos com rebolos ou esmeril de pedra, escavação de túneis, cavadores de poços e artistas plásticos. É uma das mais antigas doenças provocadas pelo trabalho, sendo que atualmente, no Brasil, é a principal doença pulmonar de origem ocupacional. (22) Asbestose Doença pulmonar causada por depósitos de asbesto ou amianto, que é um silicato que ocorre na natureza sob a forma de fibras que podem ser fiadas e tecidas. A sua grande resistência à abrasão e ao calor, a alta resistência à tração e a grande flexibilidade das fibras, dão aos asbestos propriedades ainda não conseguidas por fibras artificiais. Assim, mais de mil usos industriais para o amianto têm sido descritos: misturado ao cimento, dá origem às placas e telhas de cimento-amianto, muito utilizadas para coberturas de edificações, e a tubulações de vários diâmetros e de baixo preço; é utilizado nas lonas de freio de automóveis, na fabricação de equipamentos individuais de proteção (luvas, aventais, capuzes, etc.) resistentes ao calor e ao fogo, na isolação térmica de caldeiras, tubulações de vapor e na isolação elétrica Tabela 2.3 - Pneumoconioses, poeiras causadoras e processos anatomopatológicos subjacentes Fonte: Mendes, René - 2007
  • 37. 37     e térmica de equipamentos elétricos. Sob forma de pó, atinge os pulmões de indivíduos que estão expostos, tais como: mecânicos, operários de indústria de cimento-amianto etc. (22) Pneumoconiose dos trabalhadores de carvão (PTC) Na pneumoconiose dos trabalhadores de carvão a deposição de poeiras desencadeia um processo inflamatório orquestrado inicialmente pelos macrófagos alveolares, de menor intensidade do que a gerada pelas partículas de sílica, mas suficiente para promover lesão do epitélio alveolar. Em decorrência, ocorre a passagem de partículas para o interstício e tem início a formação de acúmulos de carvão e de macrófagos com partículas fagocitadas, ao redor dos bronquíolos respiratórios, com presença de fibras de reticulina e deposição de pequena quantidade de colágeno. Estas lesões, conhecidas como mácula de carvão, medem cerca de 1 a 6mm. São intralobulares, pouco ou não visíveis à radiografia e geralmente acompanhadas de enfisema focal adjacente às áreas das máculas . Com a progressão da doença, decorrente da continuada inalação ou mesmo após o afastamento da exposição, pode ocorrer a formação de nódulos maiores, de cerca de 7 a 20mm, com presença de macrófagos com pigmento no seu interior, presença de reticulina e aumento da quantidade de colágeno. Com a exposição crônica, os nódulos podem coalescer dando origem à forma de fibrose maciça progressiva (FMP). A FMP costuma ser bilateral, predomina nos lobos superiores, lobo médio e segmentos superiores dos lobos inferiores. Geralmente são assimétricas, apresentando às vezes características de lesão maligna, podendo cavitar, com o paciente expectorando material enegrecido, conhecido como melanoptise. As lesões distinguem-se da FMP pela sílica por apresentar, na análise histopatológica, maior relação reticulina/colágeno, grande quantidade de poeira de carvão, feixes densos de reticulina e colágeno e ausência de nódulos silicóticos. A FMP cursa mais frequentemente com dispneia, distúrbio ventilatório misto, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. (4) O câncer de pulmão representa o principal câncer diagnosticado no mundo. Vários fatores, como raça, idade, sexo, localização geográfica e condição socioeconômica, influenciam as taxas nos diversos grupos. Os principais agentes etiológicos são o tabagismo, exposições ocupacionais, infecções virais e a presença de outras doenças pulmonares, especialmente as que causam fibrose pulmonar.
  • 38. 38     Na tabela 2.4 traz a lista das principais substâncias consideradas carcinogênicas para o trato respiratório, pela Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer – IARC, da Organização Mundial da Saúde (IARC, 2000). A lista completa pode ser analisada no link: http://monographs.iarc.fr/ENG/Classification/ Exposição Órgão Afetado Uso do Produto Carcinogênicos Reconhecidos: Grupo 1 Agente individuais Arsênico Pulmão Vidros, metais, pesticidas Asbesto Pulmão, pleura Mineração de asbesto, cimento- amianto, materiais de fricção e vedação, têxteis Berílio e seus compostos Pulmão Indústria aeroespacial e de metais, rebolos especiais Éter bis-clorometílico Pulmão Produtos intermediários/subprodutos Cádmio e compostos Pulmão Tintas e pigmentos Cromo hexavalente e compostos Cavidade nasal, pulmão Galvanoplastias, tintas e pigmentos Gás mostarda Faringe, pulmão Gases bélicos Talco contendo fibras asbestiformes Pulmão Papel, tintas, massa plástica Cloreto de vinila Pulmão Plásticos, monômeros Sílica cristalina Pulmão Mineração, cerâmica, pedreiras, fundições Poeira de madeira Cavidade nasal Indústria da madeira Níquel e compostos Cavidade nasal, pulmão Metalurgia, ligas, catalisador Radônio Pulmão Mineração de urânio, nióbio e fluoretos Misturas Alcatrão Pulmão Combustíveis Piche Pulmão Material de construção/eletrodos Fulinges Pulmão Pigmentos Carcinogênicos Prováveis: Grupo 2A Formaldeído Nasofaringe Plásticos, têxteis, laboratório Carcinogênicos Prováveis: Grupo 2B Acrilonitrila Pulmão Plásticos, borracha, têxteis, monômeros
  • 39. 39     Aldeído acético Pulmão Operações de soldagem em superfícies pintadas Fumos de solda Pulmão Solda de aço Fibras cerâmicas Pulmão Plásticos, têxteis, indústria aerospacial 2.1.2 DOENÇAS DA PELE Agentes químicos provocadores de dermatoses ocupacionais, os principais são: 1. Irritantes → cimento, solventes, óleos de corte, detergentes, ácidos e álcalis. 2. Alérgenos → aditivos da borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do cimento, resinas, tópicos usados no tratamento de dermatoses. (3) Figura  2.1.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.2.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.3.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.4.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Nas  figuras  2.1,  2.2,  2.3  e  2.4  observamos  respectivamente:  dermatite  de  contato;   micropapuloeritematosas;  dermatite  alérgica  cronificada  e  dermatite  de  contato  irritativa   forte.  Todas  por  algum  tipo  de  contato  por  cimento.   Tabela 2.4 - Exposições Ocupacionais Associadas ao Câncer Respiratório Fonte: Segundo Critérios da IARC (2000)
  • 40. 40     Figura  2.5.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.6.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Nas  figuras  2.5  e  2.6  dermatite  alérgica  de  contato  por  bota  de  borracha.   Figura  2.9.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.10.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.7.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.8.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Na  figura  2.7  Radiodermite  crônica.   Operador  de  gamagrafia  industrial  tocou   acidentalmente  na  cápsula  de  irídio  192.   Na  figura  2.8  Dermatite  irritativa  de  contato   folicular.  Elaioconiose  em  trabalhador  de   indústria  metalúrgica.   Na  figura  2.9  Miliária  rubra.  Polidor  em   galvanoplastia.  Polidor  de  peças   metálicas  com  rodas  de  tiras  de  couro.   Na  figura  2.10  Dermatite  irritativa  de   contato  acneiforme  causada  pela   exposição  a  fumos  metálicos  de  estanho.  
  • 41. 41     2.1.3 DOENÇAS DO OLHO Ceratite Inflamação da córnea, aquelas provocadas pela exposição a agentes físicos e químicos no ambiente de trabalho podem ser agrupadas em tóxicas e alérgicas. O arsênico e o berílio podem ser responsáveis por quadros de natureza alérgica. A seiva ou suco de algumas plantas podem ser tóxicos. Entre os agentes listados como capazes de produzir ceratoconjuntivite estão: 1. Arsênico e seus compostos arsenicais; 2. Ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogênio) em exposições muito altas. (8) Inflamação coriorretiniana Inflamação da retina e do trato uveal, pode ser classificado como agudo ou crônico. Tem sido descrita em trabalhadores expostos ao manganês. (8) Figura  2.11.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Figura  2.12.  Fonte:  Mendes,  René  -­‐  2007   Na  figura  2.12  Dermatite  alérgica  de   contato  em  marceneiro  que  fazia   polimento  de  madeira  pau-­‐ferro.   Na  figura  2.11  Perfuração  do  septo  nasal  em   trabalhador  no  processo  de  cromação.  
  • 42. 42     Neurite óptica Inflamação, degeneração ou desmielinização do nervo óptico. Entre as substâncias químicas tóxicas potencialmente causadores de neurite óptica estão: • Brometo de metila; • Cloreto de metileno (diclorometano) e outros solventes clorados neurotóxicos; • Metanol; • Sulfeto de carbono; • Tetracloreto de carbono. (8) Queimaduras químicas do olho São causas importantes de acidentes oculares no trabalho, podem ser produzidas por ácidos e bases fortes, ocorrendo frequentemente, quando essas substâncias espirram ou derramam no olho. (8) O epitélio corneano intacto é resistente a alterações do pH, variando entre 4 e 10. Exposto a pH fora desse intervalo, o epitélio é rapidamente destruído, permitindo que a substância atinja níveis profundos dos tecidos subjacentes. (8) Os ácidos fortes tendem a precipitar as proteínas, como foto x. As proteínas precipitadas formam uma barreira tampão, limitando a penetração do ácido no olho. Já as bases fortes saponificam os ácidos graxos, que rompem as membranas celulares e não formam, portanto, nenhuma barreira, permitindo a penetração contínua para todo o segmento anterior do olho, levando à sua destruição. Portanto, as queimaduras químicas por álcalis são mais devastadoras do que as causadas por ácidos. (8) Figura  2.13.     Fonte:  Mendes,  René  –  2007   Na  figura  2.13  Queimadura   química  por  ácido  sulfúrico   resultando  em  córnea  edemaciada   e  leucomatosa,  conjuntiva   avascular  justa-­‐líndrica  na  posição   entre  12  e  2hs  e  vasos  de  grossos   calibres  e  hiperemia  no  restante   da  conjuntiva.  
  • 43. 43     2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO Há um certo número de medicamentos e produtos químicos que, por si só, podem lesar as estruturas da orelha interna, sejam cocleares ou vestibulares, seja temporária ou permanente. Entre os medicamentos, destacam-se os antibióticos aminoglicosídeos, os salicilatos, alguns diuréticos, alguns oncoterápicos e o quinino. Hoje em dia existe evidência de propriedades ototóxicas de vários produtos químicos industriais, como certos fumos metálicos (chumbo, mercúrio, manganês, cobalto, arsênio), alguns gases asfixiantes (monóxido de carbono, nitrato de butila, tetracloreto de carbono e muitos solventes orgânicos, tolueno, xileno, estireno, n-hexano, tetracloroetileno e dissulfeto de carbono). (8) Vários produtos químicos são reconhecidamente neurotóxicos e podem afetar a audição ou equilíbrio agindo primeiramente no tronco encefálico ou nas vias auditivas/vestibulares centrais. (apud, Thomas-1985) A indicação de que alguns produtos químicos industriais podem alterar a função auditiva através de um processo ototóxico ou neurotóxico, ou da combinação destes dois processos, deve ser considerada, especialmente quando se selecionam testes diagnósticos. (8) 2.1.4 DOENÇAS DO SANGUE As alterações do sangue provocadas por substâncias tóxicas agressoras ao sistema sanguíneo são conhecidas desde o século XIX, quando foi descrito o primeiro caso de anemia aplástica pelo benzeno, em 1897, mas os conhecimentos tiveram impulso após a I Guerra Mundial, quando se verificou a ação de gases tóxicos sobre o sangue (Simpósio “Leucopenia”, 1987; Rugo & Damon, 1990). (8) O sistema sanguíneo, pela ação das substâncias tóxicas de origem ocupacional, pode apresentar alterações desde leves até graves e mesmo letais. Alguns tóxicos tem ação prevalente sobre a medula óssea e menor sobre o sangue periférico, enquanto outros apresentam ação inversa e outros, ainda, agem sobre o sangue e medula óssea concomitantemente. (8) As hemopatias profissionais podem ser consideradas segundo a sua patogenia relacionada com o agente tóxico ou ocupação. Ver tabela 2.5.
  • 44. 44     Hemopatias Profissionais Segundo Mecanismos e Tipos de Alterações e Possíveis Agentes Etiológicos de Origem Ocupacional Alterações Tipos de Alterações Mecanismos Possíveis Agentes Etiológicos ou Ocupações* Alterações do glóbulo vermelho Por diminuição Hemólise numérica Arsina, chumbo, trinitrotolueno, substâncias oxidantes, oxigênio, mercúrio, cobre, nitro e amino- derivados do benzeno Hipoprodução Chumbo, arsênio, benzeno, óxido nitroso Por alteração no metabolismo do heme Porfiria Hexaclorobenzeno; 2,4-D; 2,4,5-T; 2,3,7,8- tetraclorodibenzo-p-dioxina; o-benzil-p-clorofenol; 2- benzil-4-6-diclorofenol; cloreto de vinila; chumbo; alumínio Por alteração no transporte Meta- hemoglobinemia do oxigênio Anilina, nitroanilina, toluenodiamina, fenilenodiaminatoluidina, p-cloroanilina, naftaleno, pradiclorobenzeno, gases nitrosos, nitratos nitritos, nitrobenzeno, trinitrotolueno, quinona, paraquat Sulfo- hemoglobinemia Agentes oxidantes iguais aos da meta-hemoglocinemia Carboxi- hemoglobinemia Monóxido de carbono Alteração do glóbulo branco Por diminuição dos granulócitos (neutropenia) Fase inicial da toxicidade ao sistema hematopoético Benzeno, radiação ionizante, inseticidas organoclorados Alteração da plaqueta Por diminuição numérica Imune, hipoplasia megacariocítyica, insuficiência hepática com hiperesplenismo Tolueno diisocianato, terebintina, 2,2- diclorovinildimetilfosfato, benzeno, radiações ionizantes, inseticidas organoclorados, piretrina, cloreto de vinila Alterações dos órgãos hematopoéticos Por diminuição numérica das células da medula óssea (aplasia) Lesão de células primitivas ou jovens da medula óssea Benzeno, trinitrotolueno, hexaclorociclhexano, DDT, pentaclorofenol, arsênio, éter monometílico de etilenoglicol, éter monobutílico de etilenoglicol, tetracloreto de carbono Alteração qualitativa das células da medula óssea (displasias, pré- leucemia, leucemias mielóides agudas e crônicas, mielofibrose) Lesão da estrutura molecular de células da medula óssea Benzeno, radiações ionizantes, butadieno, campos eletromagnéticos, gases de exaustão de motores, fluidos de motores, óxido de etileno, inseticidas e herbicidas, solventes orgânicos, produtos de petróleo (inclusive gasolina) e estireno. Motoristas, eletricistas, engenheiros eletrônicos, agricultores, jardineiros, mecânicos, soldadores, trabalhadores das indústrias metalúrgicas, têxtil, do papel e do petróleo e trabalhadores de distribuidoras de petróleo.
  • 45. 45     Proliferação linfóide (leucemias linfóides agudas e crônicas, linfomas, mieloma múltiplo) Lesão da estrutura molecular de células da medula óssea Benzeno, radiações ionizantes, herbicidas derivados do ácido fenoxiacético, asbestos, hidrocarbonetos clorados, poeiras de madeira, produtos químicos utilizados na indústria do couro e da borracha, óxido de etileno, clorofenóis, fertilizantes, inseticidas, tinturas de cabelo, solventes orgânicos, praguicidas, 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina, estireno, cloreto de vinila, poeiras de madeira, gases de exaustão de motores. Indústria da madeira, agricultores, trabalhadores de refinarias de petróleo e da indústria química, manipuladores de grãos, metalúrgicos, fornecedores de praguicidas, trabalhadores expostos a fungicidas e fumigantes, pintores e motoristas de caminhão *Para alguns agentes e ocupações, a evidência é ainda limitada. 2.1.5 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO Estado confusional agudo Também chamado de delirium, caracteriza-se por um distúrbio mental orgânico, com alteração da consciência, desatenção e pensamento incoerente. Classicamente, tem um início súbito, de horas a dias, um curso breve e flutuante, observando-se melhora rápida, quando o fator causal é identificado e removido. Entre as principais causas do estado confusional agudo estão doenças do SNC, doenças sistêmicas, abstinência de drogas e intoxicação por substâncias neurotóxicas, que podem estar presentes no ambiente de trabalho. Faz parte deste rol de substâncias os metais (chumbo, mercúrio, arsênio, manganês e tálio), os solventes (tolueno, dissulfeto de carbono, estireno, xileno, tricloroetileno brometo de metila, cloreto de metila, metanol e tetracloreto de carbono), os pesticidas (organofosforados, carvamatos, organoclorados e paraquat) e os gases (monóxido de carbono e óxido de etileno). (8) Encefalopatia tóxica crônica Também denominada “síndrome psico-orgânica”, “síndrome neurastênica” ou “síndrome do pintor”, caracteriza-se por um quadro neuropsiquiátrico com alterações de personalidade, perda de memória, fadiga, depressão, e perda de interesse pelas atividades diárias. Considerando-se que a maioria dos quadros de demência seja irreversível, tornam-se Tabela 2.5 - Hemopatias Profissionais Segundo Mecanismos e Tipos de Alterações e Possíveis Agentes Etiológicos de Origem Ocupacional Fonte: Mendes, René 2007
  • 46. 46     imprescindíveis a identificação e o tratamento daqueles possivelmente reversíveis (Sandoval- Orellana & Sallato, 1995). (8) Desde a década de 1970, inúmeros estudos têm demonstrado os efeitos neurocomportamentais da exposição a solventes orgânicos. Contudo, com métodos de avaliação e análise epidemiológica mais sofisticados, verificou-se que a correlação entre a exposição no local de trabalho e os distúrbios neurocomportamentais não é tão óbvia (apud Axelson, 2000). Como os solventes utilizados são geralmente misturas, é difícil identificar a substância química específica e estabelecer a relação dose-resposta. Também é difícil estabelecer a intensidade e a duração da exposição, dada à variabilidade das condições de trabalho. (8) Epilepsia A epilepsia designa uma ampla variedade de distúrbios neurológicos caracterizados por crise epiléticas recorrentes. Entre as causas de epilepsia no adulto estão: tumores, trauma cranioencefálico, acidente vascular cerebral, porém, a maioria dos distúrbios epiléticos permanece sem etiologia definida. (8) Na avaliação do trabalhador que desenvolve epilepsia deve ser considerado, o que é pouco frequente, que fatores presentes no trabalho sejam a causa da epilepsia. Como existem muitas etiologias associadas ao início de epilepsia, a história neurológica e exames de imagem devem ser solicitados para afastar anormalidades intracranianas. Mesmo assim, pode ser difícil distinguir convulsões relacionadas à exposição ocupacional de outras causas não relacionadas ao trabalho.(8) Quadros agudos de intoxicação por substâncias químicas de origem ocupacional podem produzir convulsões. Algumas dessas substâncias são (metais como alumínio, chumbo, mercúrio, solventes, benzeno, metanol, etc., e os gases como monóxido de carbono, sulfeto de hidrogênio, cloreto de metila, etc.). Nestes casos, algumas dessas substâncias podem ser detectadas no sangue ou na urina. A exposição ao agente tóxico, com manifestações agudas, produz, frequentemente, sinais e sintomas sistêmicos, facilitando o nexo causal. (8)
  • 47. 47     Cefaleia A cefaleia primária abrange a maioria dos quadros observados em trabalhadores. Nos casos em que cefaleia está relacionada à exposição a certas substâncias neurotóxicas, como no caso da exposição a nitratos, a descrição cuidadosa das condições de aparecimento do sintoma pode auxiliar o estabelecimento do nexo. Devem ser exploradas as informações relativas ao momento de início da cefaleia, se após chegar ao local de trabalho, ou ao seu término, a ausência de cefaleia quando não está trabalhando e presença de níveis elevados de substâncias químicas no local de trabalho, ou ainda a presença da cefaleia nos períodos de suspensão do trabalho, como nas folgas ou nas férias. (8) Parkinsonismo secundários É uma síndrome clínica caracterizada pela combinação de tremor em repouso, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural, que se apresentam em vários graus de gravidade. (8) No Brasil, é clássica a descrição de parkinsonismo secundário à exposição ao manganês em trabalhadores de uma fundição de ferro-manganês feita por Antonio de Almeida, Jorge da Rocha Gomes e Pedro Augusto Zaia (Almeida e cols., 1970), seguida pelos estudos realizados em Minas Gerais, por Chrysóstomo Rocha de Oliveira, Elizabeth Costa Dias e Eduardo Henrique Lauar (Oliveira e cols., 1974). (8) As principais substâncias neurotóxicas presentes em situações de trabalho capazes de causar a Doença de Parkinson secundária são classificadas de acordo com o grau de associação já estabelecida, possível ou potencial, e estão mostradas na tabela 2.5. (8) O parkinsonismo secundário decorrente da exposição a substâncias neurotóxicas pode assemelhar-se, clinicamente, à forma clássica da doença de Parkinson idiopática, além das doenças neuro e heredodegenerativas chamadas de parkinsonismo plus, e além das outras causas de parkinsonismo secundário, dificultando o diagnóstico diferencial. (8)