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Edição / Abril / 2015
Impressão em São Paulo - SP
Marcella Ferreira e Silva
Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque
O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS
Professor Responsável
Marcella Ferreira e Silva
Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque
2ª Edição: Abril de 2015
Impressão em São Paulo/SP
Copyright © EaD KnowHow 2015
Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS
S586a Silva, Marcella Ferreira.
O ambiente e as doenças laborais. / Marcella Ferreira
Silva, Zulmira Rosa de Souza Silva Duque. - 2. ed. - São
Paulo : Know How, 2015.
000 p. : 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN : 978-85-8065-314-4
1.	 Doenças laborais. 2. Riscos. 3. Ambiente. I. Título.
CDD – 616. 9803
Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
SUMÁRIO
unidade1 |RISCOs BIOLÓGICOs
1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO
1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS
1.3 – PREVENÇÃO
unidade 2|RISCOS QUÍMICOS
2.1 DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICO
2.1.1 DOENÇA RESPIRATÓRIA
2.1.2 DOENÇAS DA PELE
2.1.3 DOENÇAS DO OLHO
2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO
2.1.5 DOENÇAS DO SANGUE
2.1.6 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO
2.1.7 DOENÇAS DO SISTEMA REPRODUTIVO
unidade 3 |RISCOS FÍSICOS
3.1 RUÍDO
3.1.1 ANATOMIA DA ORELHA
3.1.2 FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO
3.1.3 DOENÇAS RELACIONADAS AO RUÍDO
3.1.4 MEDIDAS DE CONTROLE DO RUÍDO
3.2 CALOR
3.2.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO AO CALOR
3.2.2 MEDIDAS DE CONTROLE DO CALOR
3.3 FRIO
1.3.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO AO FRIO
17
57
99
3.3.2 MEDIDAS DE CONTROLE DO FRIO
3.4 PRESSÕES ANORMAIS
3.4.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO ÀS PRESSÕES
ANORMAIS
3.4.2 MEDIDAS DE CONTROLE DAS PRESSÕES ANORMAIS
3.5 VIBRAÇÕES
3.5.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO À VIBRAÇÃO
3.5.2 MEDIDAS DE CONTROLE DA VIBRAÇÃO
3.6 RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES
3.6.1 MEDIDAS DE CONTROLE DA RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE
3.7 RADIAÇÕES IONIZANTES
3.7.1 EFEITO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES NO HOMEM
3.7.2 MEDIDAS DE CONTROLE DA RADIAÇÃO IONIZANTE
unidade 4 |rISCOS ERGONôMICOS E DE ACIDENTES
4.1 ALGUMAS SÍNDROMES NEURÓTICAS
4.2 DOENÇAS DA COLUNA VERTEBRAL RELACIONADAS AO
TRABALHO
4.3 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) / DISTÚRBIOS
OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
143
179
7
INTRODUÇÃO
Há muito tempo se sabe que o trabalho,
quando executado sob determinadas condições, pode
causar doenças, encurtar a vida ou matar, sem rodeios,
os trabalhadores. (8)
O desgaste do corpo durante o processo pro-
dutivo gera patologias específicas para cada tipo de ati-
vidade ocupacional, além das diferentes modalidades de
acidentes do trabalho, cujas características encontram-
se também diretamente relacionadas com o tipo de tra-
balho executado. (18)
Em relação às condições de trabalho, os riscos
ambientais estão divididos em cinco categorias:
• Riscos Biológicos: são diretamente relaciona-
dos com micro-organismos, podendo provocar doenças;
• Riscos Químicos: são substâncias ou produ-
tos que podem contaminar o ambiente de trabalho e,
consequentemente, o organismo humano;
• Riscos Físicos: São resultantes da troca de
energia entre o organismo e o ambiente de trabalho, em
quantidade que pode causar o desconforto, acidentes
ou doenças do trabalho;
• Riscos Ergonômicos: são as condições de tra-
balho que não são adaptadas às características físicas e
psicofisiológicas das pessoas;
• Riscos Mecânicos ou de Acidentes: são agen-
8
tes relacionados com os processos de trabalho e as
condições físicas do ambiente. (1)
É importante observar que a nocividade do
trabalho pode não ser dele próprio, ou das ativida-
des que o conformam, mas determinada ou agravada
por duas considerações sobre o “tempo de trabalho”,
sendo elas pela “duração” ou pela “configuração”,
entendido como “tempo de trabalho” nas mais distin-
tas acepções, que vão desde o tempo na vida em que
se começa a trabalhar; o tempo na vida em que se para
de trabalhar; o tempo ou duração do trabalho numa
jornada de trabalho (jornada, do francês jour = dia),
nas semanas, nos meses, nos anos e, enfim, na vida.
“Duração”, no sentido de tempo acumulado, e “con-
figuração”, no sentido de sua distribuição, ou forma
como a duração está organizada ou distribuída no pró-
prio referencial de periodização do tempo: vida, época
da vida, ano, estação do ano, mês, semana, dia, hora,
minuto... (8)
O grau de sucesso ou insucesso dos mecanis-
mos de “agressão” irá depender não apenas da natu-
reza e intensidade da “agressão”, e do grau de “vulne-
rabilidade” aos patógenos do trabalho, mas também
da eficiência ou eficácia dos mecanismos de “defesa”
do trabalhador. (8)
Sobre a ideia de saúde a Organização Mundial
da Saúde conceitua da seguinte forma:
9
condição em que um indivíduo ou grupo de indivídu-
os é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas
necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saú-
de é um recurso para a vida diária, e não um objetivo
de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos
sociais e pessoais, tanto quanto as aspirações físicas.
(OMS, 1984 apud Rey, 1999. Grifo introduzido). (8)
Dito em outras palavras:
saúde é o estado caracterizado pela integridade ana-
tômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de
desempenhar pessoalmente funções familiares, pro-
fissionais ou sociais; pela habilidade para tratar com
tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais.
(Rey, 1999. Grifo introduzido). (8)
Podemos concluir que, o trabalhador ao ser
exposto a um agente agressor, seu organismo irá reagir
com um tipo de mecanismo de defesa, seu resultado
pode ser uma adaptação ou uma lesão. Por exemplo, o
trabalhador exposto a uma natureza predominantemente
biológica, seu mecanismo de defesa poderá dar resposta
imunológica competente e adequada, caso não seja ade-
quada irá surgir doenças decorrentes desta exposição.
Antesdeiniciarmosnossosestudossobreasdoen-
ças ocupacionais, precisamos ter claro algumas definições:
10
• Acidente de trabalho
• Doença do trabalho
• Doença profissional
A Lei 8.213/91 conceitua o acidente de tra-
balho, primeiro no sentido restrito, depois no sentido
amplo ou por extensão. (10)
Do acidente-tipo, ou também chamado de
macrotrauma, cuida a lei no art. 19 e basicamente
define como acidente do trabalho aquele que ocorre
pelo exercício do trabalho provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda
ou redução da capacidade permanente ou temporária
para o trabalho. Ou seja, trata-se de um evento único,
subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no
tempo e consequências geralmente imediatas. (10)
O acidente de trabalho representa uma inter-
rupção súbita no processo de trabalho, traumática para
o acidentado, diferente das doenças profissionais ou do
trabalho que tem caráter progressivo e em boa parte
dos casos irreversíveis, implicando um processo lento
de degeneração orgânica do qual muitas vezes o pró-
prio trabalhador não se dá conta. Pela ausência inicial
de sintomatologia clínica, as patologias profissionais
permitem – ao contrário dos acidentes – que o indiví-
duo prossiga trabalhando até que se torne inútil para a
produção e seja substituído por outro. (18)
Deste modo o objetivo deste trabalho é tratar
11
apenas das doenças laborais, das quais podemos ana-
lisar sob algumas características do ponto de vista de
Ramazzini, Schilling e da própria Lei 8.213/91.
Bernardino Ramazzini (1633 – 1714) parece
ter sido o primeiro a tentar classificar o que ele deno-
minou de “doenças do trabalhador”, descrevia as
doenças como, por exemplo: “doença dos mineiros”;
“doença dos que trabalham em pé”; “doença dos pinto-
res”, “doença dos que trabalham com enxofre”, etc. (8)
Da classificação empírica construída por Ber-
nardino Ramazzini, há mais de 300 anos, é possível
pinçar os critérios para uma primeira sistematização
da patologia do trabalho:
• Num primeiro grupo estão aquelas doen-
ças diretamente causadas pela “nocividade da matéria
manipulada”, de natureza relativamente específica, e
que vieram dar origem às “doenças profissionais” (8)
• Num segundo grupo estão aquelas doenças
produzidas pelas condições de trabalho: “posições for-
çadas e inadequadas”, “operários que passam o dia de
pé, sentados, inclinados, encurvados etc.”. São as que
mais tarde foram denominadas “doenças causadas pelas
condições especiais em que o trabalho é realizado”. (8)
O professor Richard Schilling, da Inglaterra,
desenvolveu uma classificação própria, que agrupa
as “doenças relacionadas com o trabalho” em três
12
categorias, resumidas na tabela 1.1. (8)
A Lei 8.213/91 subdivide as doenças ocupacio-
nais em doenças profissionais e doenças do trabalho,
estando previstas no art. 20, I e II.
13
As primeiras, também conhecidas como “ergo-
patias”, “tecnopatias” ou “doenças profissionais típi-
cas”, são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício
profissional peculiar a determinada atividade (corres-
ponde à classificação Schilling I). Nessa situação, o tra-
balho é considerado causa direta do agravo, ou seja, se
o agente for eliminado, o agravo poderá ser completa-
mente prevenido. Dada a sua tipicidade, prescindem de
comprovação do nexo de causalidade com o trabalho.
Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de
microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram
as defesas orgânicas, e que, por efeito cumulativo, ter-
minam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido.
Por exemplo, os trabalhadores da mineração, sabe-se de
há muito que estão sujeitos à exposição do pó de sílica,
e, portanto, com chances de contrair a silicose, sendo
considerada uma doença profissional. (10) (20)
Por sua vez as doenças do trabalho, também
chamadas de “mesopatias”, ou “moléstias profissionais
atípicas”, são aquelas desencadeadas em função de con-
dições especiais em que o trabalho é realizado (classifi-
cação Schilling II e III), ou seja, o trabalho é um dos
fatores de risco para a ocorrência do agravo. Contudo,
por serem atípicas, exigem a comprovação do nexo de
causalidade com o trabalho, via de regra através de visto-
ria no ambiente laboral. A retirada do fator de risco redu-
zirá a incidência do agravo e/ou modificará a evolução da
doença. Por exemplo, a ocorrência de problemas osteo-
14
musculares nos profissionais de enfermagem. (10) (20)
Enquanto as doenças profissionais resultam de
risco específico direto (característica do ramo de ativi-
dade), as do trabalho tem como causa o risco específico
indireto. Assim, por exemplo, uma bronquite asmática
normalmente provém de um risco genérico e pode aco-
meter qualquer pessoa. Mas se o trabalhador exercer sua
atividade sob condições especiais, o risco genérico trans-
forma-se em risco específico indireto. (10)
A Lei 8.213/91 ainda contempla uma terceira
categoria de doença, disposto no parágrafo 2° do art.
20: “Em caso excepcional, constatando-se que a doença
não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste
artigo resultou das condições especiais em que o traba-
lho é executado e com ele se relaciona diretamente, a
Previdência Social deve considerá- la acidente do tra-
balho”. Estamos diante de uma variante da doença do
trabalho, pois há uma relação direta com as condições
especiais em que é executado o trabalho, por exemplo,
as doenças ligadas à voz presentes nos trabalhadores
das empresas de telemarketing. (10)
15
17
UNIDADE 1 | RISCOS BIOLÓGICOS
Consideram-se riscos biológicos os vírus, bac-
térias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. (12)
Os riscos biológicos ocorrem por meio de
micro-organismos que, quando entram em contato com
o ser humano, podem causar diversas doenças. Muitas
atividades profissionais favorecem o contato com tais
riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais,
limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios etc. (12)
Dentre as inúmeras doenças profissionais pro-
vocadas por micro-organismos, destacam-se: tubercu-
lose, brucelose, malária e febre amarela. (12)
Para que essas doenças possam ser conside-
radas doenças profissionais, deve haver exposição do
empregado a tais micro-organismos. Alguns agentes
infecciosos que podem ter relação com o trabalho são:
• Dos vírus: adenovírus; caxumba; citomega-
lovírus; ebola; hepatite B; hepatite C; Herpes simplex;
HIV; influenza; parainfluenza; parvovirus B19; poliovi-
rus; rotavirus; rubéola; sarampo; varicela-zoster; vírus
respiratório sincicial.
• Das bactérias: bordetella; campulobacter;
corynebacyerium diphteriae; mycobacterium tuberculosis;
neisseria meningitidis; salmonella; shigella; yersínia pestis.
18
• Outros: chlamydia psittaci; coxiella burnetti;
cryptosporidium; mycoplasma pneumonie; sarcoptes
scabiei. (12) (8)
O conhecimento dos riscos biológicos nos
ambientes de trabalho é crucial para a prevenção das
doenças ocupacionais. A displicência e complacência
podem resultar em graves e ameaçadoras consequências.
Os micro-organismos encontrados nos ambientes de tra-
balho variam de vírus extremamente pequenos e bacté-
rias unicelulares, até fungos e parasitas multicelulares. (8)
É preciso adotar medidas preventivas para que
as condições de higiene e segurança nos diversos seto-
res de trabalho sejam adequadas. (12)
As medidas de controle mais usualmente ado-
tadas são: saneamento básico, controle médico perma-
nente, uso de EPI, higiene rigorosa, higiene pessoal, uso
de roupas adequadas, vacinação, treinamento, etc. (12)
Para que uma substância seja nociva ao
homem, é preciso que ela entre em contato com o
organismo. Há diferentes vias de penetração para os
riscos biológicos: (12)
Ingestão: a água, os alimentos em geral, mãos e
objetos quando levados à boca constituem as principais
maneiras pelas quais a maioria dos agentes infectantes
por via oral é transportada e introduzida no organismo,
por exemplo, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides,
19
Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura), cistos de pro-
tozoários (Entamoeba histolytica, Giardia lambia), bacté-
rias entéricas (Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli
enteropatogênica) e enterovírus (vírus da poliomielite,
rotavírus, e outros). (8)
Inalação através das vias respiratórias superio-
res: gotículas expelidas pela boca e pelo nariz contendo
vírus diversos (gripe, sarampo, etc.); população viável de
Mycobacterium tuberculosis no escarro em dessecação,
associada a micropartículas de poeira; esporos de fun-
gos das espécies Histoplasma capsulatum e Paracocci-
dioides braziliensis, responsáveis, respectivamente, pela
histoplasmose e pela paracoccidioidomicose; frações de
muco nasal contendo Mycobacterium leprae, agente da
hanseníase, e diversos outros exemplos, compõem uma
vasta lista de biopatógenos que podem estar presentes
em suspensão no ar inalado. (8)
Penetração através das mucosas: de forma
geral, as mucosas expostas aos fatores ambientais –
vagina, uretra, olhos, boca – dispõem de condições
biofísico-químicas favoráveis à instalação de germes
e consequente desenvolvimento de infecções especí-
ficas. O material chegado à mucosa sadia pode origi-
nar-se do contato direto com outra mucosa doente ou
ser trasnportado por algum veículo ou vetor. A Neisse-
ria gonorrhhoeae, responsável pela blenorragia e pela
20
oftalmia neonatorum, e as clamídeas, responsáveis por
alguns tipos de uretrites e pelo tracoma, são exemplos
de micro-organismos que penetram pelas mucosas, aí
permanecendo e desenvolvendo estado patológico. O
Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas, pode
penetrar pela mucosa ocular e daí invadir a corrente san-
guínea e outros tecidos. O Schistosoma mansoni é outro
agente que penetra no hospedeiro pelas mucosas. (8)
Penetração através de solução de continuidade:
Feridas cirúrgicas, ferimentos acidentais, tecidos necro-
sados, queimaduras, escarificações, e, de forma geral,
toda descontinuidade da pele pode servir de porta de
entrada para agentes infecciosos. Esses podem ter sido
depositados sobre a pele antes de ocorrido o seu rom-
pimento naquele ponto e introduzidos durante o pro-
cesso ou podem vir a ser aí depositados por vetores
ou veículos após a ocorrência da lesão. São conhecidos
casos de tétano produzidos por contaminação do coto
umbilical pela deposição intencional de excremento
animal, usado como curativo. No entanto, a penetra-
ção do Clostridium tetani não se dá, na maioria dos
casos, de forma tão inusitada, sendo a penetração mais
simples. Os esporos são veiculados por poeira e terra
contaminadas com fezes humanas ou de animais. Em
alguns casos, o ferimento que deu acesso ao esporo é
tão insignificante que passa despercebido. O Trypano-
soma cruzi pode ser levado à circulação com o rompi-
21
mento da pele por ação da unha no ato de coçar locais
onde o barbeiro defecou ao sugar sangue. (8)
Deposição sobre a pele seguida de propagação
localizada: os agentes etiológicos das dermatofitoses
(fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton)
tem acesso ao couro cabeludo, às unhas e à pele, por
contato direto com indivíduos infectados, ou indireta-
mente por contato com objetos, pisos úmidos, instru-
mentos de barbearia e manicure. (8)
Introdução no organismo com auxílio de
objetos e instrumentos: neste caso, o acesso pode se
dar pelos orifícios naturais ou através de perfurações
cirúrgicas ou acidentais. A transmissão por transfusão
de sangue poderia também ser enquadrada neste item,
considerando que a penetração do bioagente se dá por
intrusão no corpo, com auxílio de objeto mecânico.
Uma grande parte das infecções hospitalares relaciona-
se a este mecanismo. (8)
Introdução em tecido muscular ou na corrente
sanguínea, por picadas de inseto ou por mordedura de
animais: através de sua probóscida introduzida na pele,
fêmeas dos mosquitos anofelinos injetam cargas de
plasmódios sob a forma de esporozoítas, que darão ori-
gem à malária. Mosquitos do gênero Culex são respon-
sáveis pela introdução, no organismo do hospedeiro, de
22
larvas infectantes de Wuchereria bancrofti, agente cau-
sal da filariose. Neste caso também a penetração se faz
por inoculação através da probóscida do mosquito. Os
agentes causais do calazar (leishmaniose visceral) e da
úlcera de Bauru (leishmaniose tegumentar) são intro-
duzidos no organismo suscetível através da picada da
fêmea do mosquito flebótomo. O vírus rábico é intro-
duzido no organismo de seres humanos por mordedura
lacerante de cães e gatos infectados, e em bovinos, por
mordedura de morcego. (8)
Penetração ativa direta do bioagente patogê-
nico: a transmissão da sarna ocorre quando indivíduos
infectados com Sarcoptes scabiei entram em contato
com susceptíveis. As fêmeas recém-fecundadas do
agente infeccioso abandonam o seu hospedeiro atual e
penetram ativamente o novo hospedeiro. Cercárias de
Schistosoma mansoni saídas do seu hospedeiro inter-
mediário, molusco do gênero Biomphalaria e vivendo
em coleções de água doce, penetram ativamente pela
pele de pessoas suscetíveis que estejam imersas na água
durante o trabalho ou recreação. Larvas infectantes
de Strongyloides stercoralis, agente da estrongiloidí-
ase, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliensis,
agentes da dermtite serpiginosa (larva migrans), podem
penetrar ativamente na pele de pessoas que caminham
com os pés descalços, a partir do solo contaminado. (8)
23
1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO
As doenças infecciosas e parasitárias relaciona-
das ao trabalho apresentam algumas características que
as distinguem dos demais grupos: os agentes etiológi-
cos não são de natureza ocupacional, e sim as condições
ou circunstâncias em que o trabalho é executado é que
são favorecedoras do contato, contágio ou transmissão.
São causadas por agentes que estão disseminados no
meio ambiente, dependentes de condições ambientais
e de saneamento e da prevalência dos agravos na popu-
lação geral; vulneráveis às políticas gerais de vigilância
e da qualidade dos serviços de saúde. A delimitação
ambiente de trabalho/ambiente externo é frequente-
mente pouco precisa. (8)
As consequências para a saúde da exposição
a fatores de risco biológico presentes em situações de
trabalho, além dos quadros de infecção aguda e crô-
nica, incluem as reações alérgicas e tóxicas. Um amplo
espectro de planas e animais produz substâncias alergê-
nicas, irritativas e tóxicas com as quais os trabalhado-
res entram em contato, diretamente, através de picadas
ou mordeduras ou através de poeiras contendo pelos,
pólen, esporos de fungos. (8)
A maioria das infecções resulta de exposição
não ocupacional. Entretanto, alguns ambientes ou
doenças específicas sugerem que sua origem foi prove-
niente da exposição ocupacional. Os trabalhadores da
24
área de saúde, nos seus vários âmbitos, quer estejam em
centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios,
e os profissionais de saúde que realizam investigações
de campo – vigilância da saúde, controle de vetores, e
aqueles que lidam com animais, mantêm contato direto
com pacientes ou vetores transmissores de moléstias
infecciosas. Em se tratando de organismos cuja trans-
missão se faz através de aerossóis, o risco de contrair
a doença é várias vezes maior para o trabalhador da
área de saúde do que para a população geral. O risco
também é grande no tocante à manipulação de material
perfurocortante e no ato de procedimentos invasivos.
Neste cenário, torna-se importante redobrar a atenção
quanto às precauções universais, imunizações, manipu-
lação de material contaminado e perfurocortante, e ao
hábito de lavar as mãos antes e após cada exame. (8)
Os trabalhadores que mantêm contato ou mani-
pulam animais também possuem risco aumentado para
contrair certas infecções, principalmente os trabalhado-
res na agricultura, as pessoas que trabalham em habitat
silvestre (silvicultura), em atividades de pesca, produção
e manipulação de produtos animais – abatedouros, cur-
tumes, frigoríficos, indústria alimentícia, de carnes, pes-
cados, zoológicos e clínicas veterinárias, além dos que
lidam com pesquisas científicas em espécies animais. (8)
É importante destacar que além das infecções
propriamente ditas, algumas proteínas lideradas através
da urina, pela e outros tecidos animais, podem ser car-
25
readas como aerossóis, causando erupções, sintomas
alérgicos ou até mesmo asma ocupacional. (8)
Os trabalhadores que lidam com dejetos de
esgoto ou lixo, principalmente onde não há condições
de sanitarismo e proteção adequadas, estão também
expostos a vários riscos biológicos. (8)
A suspeita clínica de possível doença ocupacio-
nal deve ser valorizada sempre que um paciente perten-
cer a um grupo onde o risco de exposição a patógenos
biológicos é aumentado. A avaliação mais específica
dependerá muito da apresentação clínica e dos diagnós-
ticos diferenciais. Quando se cogitar em origem ocupa-
cional, a história detalhada deve ser tomada no sentido
de elucidar precisamente como a exposição ocorreu. A
avaliação do local de trabalho através da visita/inspeção
ao espaço físico é mandatória para se compreender o
ambiente, as funções e as atividades cotidianas, deter-
minando com mais clareza os riscos aos quais os traba-
lhadores estão expostos. Dependendo das circunstân-
cias e dos recursos disponíveis, uma equipe composta
por médico e enfermeiro do trabalho, engenheiro e
higienista industrial, e até um especialista em biossegu-
rança, deverá determinar a necessidade de desencadear
uma série de ações a nível individual e coletivo. Deve-se
lembrar sempre da notificação compulsória de determi-
nadas doenças para a vigilância sanitária local. (8)
Mesmo para doenças comuns na sociedade,
não há um parâmetro limítrofe bem estabelecido de
26
quando se deve iniciar uma investigação para explicar
o surgimento simultâneo de alguns problemas médicos
dentre uma comunidade de trabalhadores. A natureza
da doença, sua prevalência na população de trabalhado-
res sob risco, e o padrão de desenvolvimento de surto
são critérios importantes para avaliar tais situações. (8)
Em síntese, a relação com o trabalho pode ser
estabelecida através de:
•Coletacriteriosadehistóriaocupacionalcompleta;
• Comparação com dados e estudos epidemio-
lógicos e de literatura científica;
• Solicitação de perfil profissiográfico do traba-
lhador à empresa;
• Solicitação de dados e avaliações ambientais
à empresa;
• Inspeção na própria empresa/local de trabalho.
Na tabela 1.2 alguns exemplos de ocupações e
suas doenças infecciosas relacionadas.
Açougueiro
Explorador de cavernas
Construção civil em grandes áreas
Antraz, Tularemia, Erisipelóide
Bartonella henselae, celulite por pasteurella,
raiva, histoplasmose
Paracoccidioidomicose, Histoplasmose,
Leishmaniose, Malária
27
Tularemia, Salmonelose, Triquinose
Pracoccidioidomicose
Brucelose, Febre Q, Tinea barbae
Hepatite A, Rubéola, Citomegalovirus
e outras doenças da infância
Hepatites B e C, AIDS
Larva migrans cutânea, Ascaridíase,
Ancilostomíase
Ycobacterium marinum
Paracoccidioidomicose, Histoplasmose
Raiva, Antraz, Brucelose,Tétano, Leptospirose,
Tularemia, Paracoccidioidomicose, Histoplas-
mose, Ascaridíase, Esporotricose, Ancilosto-
míase, Esquistossomose
Erisipelóde (Erysipelothrix insidiosa), Esquis-
tossomose, Mycobacterium marinum
Esporotricose, larva migrans cutânea
Tularemia
Tifo
Brucelose, Leptospirose, Febre Q, Salmonelose,
Estafilococcias
Hepatites B e C, AIDS, Tuberculose, etc.
Antraz, Brucelose, Psitacose, Dermatofitoses,
Erisipelóide, Raiva, Tularemia, Salmonelose
Psitacose
Leptospirose, Ascaridíase, Ancilostomíase
Dermatofitoses
Processamento de alimentos
Engenho de algodão
Trabalho com gado leiteiro
Trabalho em creches
Dentistas
Cavador de fossas
Mergulhador
Operador de escavadora
Trabalho em lavoura
Pescador/Comerciante de peixes
Jardineiro/Florista
Trabalho com pele de animais
Trabalho em armazéns de grãos
Trabalho em abatedouro
Médico/Enfermeiro
Veterinário/Comércio de animais
Criador de pássaros
Trabalho em limpeza urbana
Lavadeira
28
1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS
Através da Portaria 1.339 de 18 de novembro
de 1.999, é instituído a Lista de Doenças Relacionadas
ao Trabalho, onde também há uma lista de Doenças
Infecciosas e Parasitárias Relacionadas ao Trabalho,
como segue abaixo.
29
30
31
Tuberculose
É a doença mais comum da humanidade, e
representa a principal doença infecciosa responsável
pela mortalidade de jovens e adultos. Ainda é impor-
tante problema de saúde pública mundial. Em rela-
tório da Organização Mundial de Saúde estima-se
que um terço da população mundial está infectada
pelo Mycobacterium tuberculosis, com oito milhões
de novos casos de três milhões de mortes devidas à
doença, por ano. (8)
No Brasil havia 35 a 45 milhões de pessoas
infectadas no início da década de 1990, sendo espe-
rados 100.000 novos casos e certa de 6.000 mortes
por ano (incidência de aproximadamente 54/100.000
habitantes). (8)
O micro-organismo responsável pela tubercu-
lose humana é o Mycobacterium tuberculosis, desco-
berto por Robert Koch, em 1882. Por ser um aeróbio
estrito, infecta os pulmões e aí se localiza preferencial-
mente. A presença de oxigênio facilita sua multiplica-
ção, e a ligação do órgão com o meio externo favo-
rece sua transmissão. Como não há resposta imediata
do hospedeiro, ele cresce no interior do organismo,
durante certo tempo, sem nenhum obstáculo. A trans-
missão é aerógena através da eliminação de partículas
com bacilos em suspensão por perdigotos favorecidos
pela tosse, fala ou espirro. (8)
32
O conceito que dominou a medicina até o iní-
cio do século XX foi o de ausência de risco de infecção
para profissionais de saúde e para outras pessoas em con-
tato com pacientes tuberculosos. A partir da década de
1920, vários estudos demonstraram maior incidência de
tuberculose entre enfermeiras, médicos e estudantes de
medicina. Aos poucos, foram surgindo relatos de tuber-
culose em outros membros da equipe de saúde, como
técnicos de laboratório e de anatomia patológica, mos-
trando que o risco de infecção é diretamente proporcio-
nal ao contato do profissional com o paciente. (8)
Em determinados trabalhadores, a tubercu-
lose pode ser considerada “doença relacionada com o
trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling,
posto que as condições de trabalho podem favorecer
a exposição a Mycobacterium tuberculosis ou a Myco-
bacterium bovis, como no caso de trabalhadores em
laboratórios de biologia, e em atividades que propiciam
contato direto com produtos contaminados ou com
doentes bacilíferos.(9)
Em trabalhadores expostos a poeiras de sílica ou
portadores de silicose, a tuberculose e a sílico-tubercu-
lose deverão ser consideradas como “doenças relaciona-
das com o trabalho”, do Grupo III da Classificação de
Schilling, uma vez que a exposição à sílica pode favorecer
a reativação da infecção tuberculosa latente, pois os cristais
de sílica no interior dos macrófagos alveolares deprimem
sua função fagocitária e aumentam sua destruição. (9)
33
A tuberculose representa também risco ocupacio-
nal para trabalhadores em laboratórios e salas de necropsia.
Os riscos para pessoal de laboratório incluem a manipu-
lação de recipientes contaminados, escarros mal fixados,
geração de aerossol. Durante a realização de exames. Para
os trabalhadores em sala de necropsia, o exame em cadá-
veres de pacientes com tuberculose não diagnosticada em
vida constitui o principal risco. O risco estimado destes
profissionais adquirirem tuberculose é de 100 a 200 vezes
maior do que o da população geral na Inglaterra (Collins
& Grange, 1999). (8)
O risco de dentistas contraírem tuberculose de
SUS pacientes é relativo ao ambiente de trabalho, e mais
diretamente relacionado ao perfil sócio econômico dos
seus pacientes. Este risco pode ser reduzido através de
vigilância, educação e atenção ao perfil do paciente aten-
dido (Anders e cols., 1998). (8)
Carbúnculo
É uma zoonose causada pelo Bacillus anthracis,
microrganismo gram-positivo, manifestando-se, no ser
humano, em três formas clínicas: cutânea, pulmonar e
gastrintestinal. A meningite e a septicemia podem ser
complicações de todas essas formas. (9)
A doença tem distribuição mundial e ocorre em
casos isolados no decorrer do ano, ocasionalmente na
forma de epidemias. Decorre da exposição humana ao
34
bacilo, em atividades industriais, artesanais, na agricul-
tura ou em laboratórios, estando, portanto, associada ao
trabalho, como, por exemplo, pelo contato direto das
pessoas com pelos de carneiro, lã, couro, pele e ossos,
em especial de animais originários da África e Ásia. Nas
atividades agrícolas, ocorre no contato do homem com
gato, porco, cavalo doente ou com partes, derivados e
produtos de animais contaminados. (9)
Os principais grupos de risco são os tratadores
de animais, pecuaristas, trabalhadores em matadouros,
curtumes, moagem de ossos, tosa de ovinos, manipula-
dores de lã crua, veterinários e seus auxiliares. Por sua
raridade e quase especificidade em determinados traba-
lhadores, pode ser considerada doença profissional ou
doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classifi-
cação de Schilling. (9)
Leptospirose
É uma zoonose ubiquitária causada por uma
espiroqueta patogênica do grupo Leptospiracea. A
apresentação clínica é variável, com formas assintomá-
ticas ou leves até quadros graves, que se manifestam
com icterícia, hemorragias, anemia, insuficiência renal,
comprometimento hepático e meningite. A recupera-
ção é, geralmente, total em 3 a 6 semanas. A gravidade
da infecção depende da dose infectante, da variedade
sorológica da Leptospira e das condições do paciente. O
35
período de incubação é variável, de 3 a 13 dias, podendo
chegar a 24 dias. (9)
As leptospiroses constituem verdadeiras zoo-
noses. Os roedores são os principais reservatórios da
doença, principalmente os domésticos. Atuam como
portadores os bovinos, ovinos e caprinos. A transmis-
são é realizada pelo contato com água ou solo conta-
minados pela urina dos animais portadores, mais rara-
mente pelo contato direto com sangue, tecido, órgão e
urina destes animais. Não há transmissão inter-humana,
exceto a intrauterina para o feto. (9)
A leptospirose relacionada ao trabalho tem sido
descrita em trabalhadores que exercem atividades em
contato direto com águas contaminadas ou em locais
com dejetos de animais portadores de germes, como
nos trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, gale-
rias e esgoto; em cursos d’água e drenagem; contato
com roedores e com animais domésticos; preparação
de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios e
em outras atividades assemelhadas. (9)
Em determinados trabalhadores, a leptospirose
pode ser considerada como doença relacionada ao tra-
balho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto
que as circunstâncias ocupacionais da exposição à Lep-
tospira podem ser consideradas como contribuintes, no
conjunto de fatores associados com a etiologia desta
doença infecciosa. (9)
36
Tétano
É uma doença aguda produzida pela potente
neurotoxina (tetanospasmina) do Clostridium tetani.
A toxina tetânica impede a inibição do arco reflexo
da medula espinhal, promovendo reflexos excitatórios
tônicos típicos, em múltiplas regiões do organismo. (9)
O C. tetani é um bacilo anaeróbio, encontrado na
natureza em ampla distribuição geográfica sob a forma
de esporos, no solo, principalmente quando tratado
com adubo animal, em espinhos de arbustos e peque-
nos galhos de árvores, em águas putrefatas, em pregos
enferrujados sujos, em instrumentos de trabalho ou latas
contaminadas com poeira da rua ou terra, em fezes de
animais ou humanas, em fios de sutura e agulhas de inje-
ção não convenientemente esterilizados. (9)
É disseminado pelas fezes de equinos e outros
animais e infecta o homem quando seus esporos pene-
tram através de lesões contaminadas, em geral de tipo
perfurante, mas também de dilacerações, queimaduras,
coto umbilical não tratado convenientemente, etc. A
presença de tecido necrosado, pus ou corpos estranhos
facilita a reprodução local do bacilo, que não é invasivo
e age à distância por sua toxina. (9)
A exposição ocupacional em trabalhadores é
relativamente comum e dá-se, principalmente, em aci-
dentes de trabalho (agricultura, construção civil, mine-
ração, saneamento e coleta de lixo) ou em acidentes
37
de trajeto. A doença em trabalhadores decorrente de
acidente de trabalho poderá ser considerada como
doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classi-
ficação de Schilling. (9)
A psitacose ou ornitose é uma doença infecciosa
agudaproduzidaporclamídias(C.psittacieC.pneumoniae).
A enfermidade, em geral, é leve ou moderada, podendo ser
grave em idosos sem tratamento adequado. (9)
A psitacose é quase sempre transmitida aos
seres humanos por via respiratória. Em raras ocasiões
a doença pode ser contraída através da bicada de um
pássaro. O contato prolongado não é essencial para a
transmissão da doença. Alguns minutos passados no
ambiente previamente ocupado por uma ave infectada
tem resultado em infecção humana. (8)
O período de incubação varia de uma a quatro
semanas, e a transmissibilidade dura semanas ou meses. (8)
As fontes mais frequentes de infecção da C.
psittaci são periquitos, papagaios, pombos, patos, perus,
canários, entre outros, que transmitem a infecção por
meio de suas fezes dessecadas e disseminadas com a
poeira, sendo aspiradas pelos pacientes. Apesar de rara,
é possível a transmissão via respiratória, de pessoa a
pessoa, na fase aguda da doença. É uma zoonose que
acomete trabalhadores de criadouros de aves, clínicas
veterinárias, zoológicos e de laboratórios biológicos.
A C. pneumoniae infecta somente seres humanos,
sendo transmitida de pessoa a pessoa. Por sua raridade
38
e relativa especificidade, a psitacose/ornitose poderá
ser considerada como doença profissional ou doença
relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de
Schilling, nos trabalhadores de granjas e criadores de
aves (patos, gansos, periquitos, pombos, etc.), emprega-
dos de casas de comércio desses animais, veterinários,
guardas florestais e outros em que se confirme as cir-
cunstâncias de exposição ocupacional. (9)
Dengue
É uma doença aguda febril, endemo-epidêmica,
causada por um dos Flavivírus do dengue (família Toga-
viridae), com quatro tipos sorológicos (1, 2, 3 e 4). Os
seres humanos são reservatórios e a transmissão ocorre
pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, A. albopictus
e o A. scutellaris. Após repasto de sangue infectado, o
mosquito estará apto a transmitir o vírus após 8 a 12
dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica
também é possível, quando o repasto é interrompido
e o mosquito, imediatamente, alimenta-se num hospe-
deiro suscetível próximo. Não há transmissão por con-
tato direto de um doente ou de suas secreções para uma
pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. (9)
O período de incubação da doença é de 3 a 15
dias, em média de 5 a 6 dias. O período de transmissibi-
lidade ocorre durante o período de viremia, que começa
um dia antes da febre até o sexto dia da doença. Quando
39
o agente etiológico for conhecido, o nome completo
da doença será dengue por vírus tipo 1 ou dengue por
vírus tipo 2, etc. (9)
O dengue pode ser considerado como doença
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação
de Schilling, uma vez que as circunstâncias ocupacio-
nais da exposição aos mosquitos vetores (Aedes) e/ou
aos agentes infecciosos (Flavivírus) podem ser consi-
deradas como fatores de risco, no conjunto de fatores
associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9)
O dengue relacionado ao trabalho tem sido
descrito em trabalhadores que exercem atividades em
zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em
laboratórios de pesquisa, entre outras atividades em que
a exposição ocupacional pode ser identificada. (9)
Febre amarela
É umadoençafebrilagudacausadapeloFlavivírus
da febre amarela (família Togaviridae), com quadro clínico
variável, desde formas inaparentes até as graves e fatais. A
transmissão se faz pela picada dos mosquitos infectados
A. aegypti na febre amarela urbana (FAU) e Haemagogus
na febre amarela silvestre (FAS). O período de incubação
é de 3 a 6 dias, após a picada do mosquito infectado, e o
período de transmissibilidade é de 24 a 48 horas, antes do
aparecimento dos sintomas de 3 a 5 dias após. (9)
A febre amarela persiste na América do Sul
40
apenas como enzootia de macacos, tendo por trans-
missores mosquitos dos gêneros Haemagogus e Aedes.
Os casos humanos, pouco numerosos, incidem entre
as pessoas que trabalham ou mantêm contato com as
florestas. A febre amarela urbana teve o homem como
único reservatório e o A. aegypti como transmissor, na
América do Sul. Outros trabalhadores eventualmente
expostos, por acidente, incluem os que exercem ativida-
des de saúde pública e que trabalham em laboratórios
de pesquisa, agricultores, trabalhadores florestais, em
extração de madeira, em áreas e regiões afetadas. (9)
Por sua raridade e por sua relativa especifici-
dade, a febre amarela em determinados trabalhadores
poderá ser considerada como doença profissional ou
doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classifi-
cação de Schilling. (9)
Hepatite
É termo genérico para inflamação do fígado
que, convencionalmente, designa alterações degene-
rativas ou necróticas dos hepatócitos. Pode ser aguda
ou crônica e ter como causa uma variedade de agentes
infecciosos ou de outra natureza. O processo inflamató-
rio do fígado é caracterizado pela necrose hepatocelular
difusa ou irregular, afetando todos os ácinos. Suas cau-
sas principais são as viroses devidas ao vírus da hepatite
A (HAV), ao vírus da hepatite B (HBV), ao vírus da
41
hepatite C (HCV), ao vírus da hepatite D (HDV) e ao
vírus da hepatite E (HEV). (9)
Na hepatite viral A, a fonte de infecção é o
próprio homem (raramente os macacos) e a transmis-
são é direta, por mãos sujas (circuito fecal-oral) ou por
água (hepatite dos trabalhadores por águas usadas) ou
por alimentos contaminados. Vários surtos têm sido
descritos em creches, escolas, enfermarias e unidades
de pediatria e neonatologia, com taxas de transmissão
que giram em torno de 20% em trabalhadores sus-
cetíveis. Nos EUA, a prevalência em trabalhadores
da saúde varia de 35 a 54% (comparado com 38% da
população geral). (9)
A maioria dos dados estatísticos que se refe-
rem à hepatite A em trabalhadores da saúde aponta
os enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem
como principal grupo acometido ou em risco. Dentre
os médicos e dentistas, aqueles que lidam com crian-
ças estão mais expostos. (8)
Os trabalhadores do setor de lavanderia hospi-
talar, especialmente os manipuladores de tecidos antes
de serem lavados, apresentam taxa elevada de anticor-
pos IgC para o VHA (Borg & Portelli 1999). (8)
Os trabalhadores responsáveis pela coleta de
lixo estão entre os grupos ocupacionais de risco, na
dependência direta de suas condições de trabalho. (8)
Na hepatite viral B o vírus é encontrado em
todas as secreções e excreções do corpo, mas, apa-
42
rentemente, apenas o sangue, o esperma e a saliva
são capazes de transmiti-lo. A infecção é adquirida,
em geral, por ocasião de transfusões, de injeções per-
cutâneas com derivados de sangue ou uso de agulhas e
seringas contaminadas ou, ainda, por relações sexuais,
homossexuais masculinas ou heterossexuais. Nos traba-
lhadores da saúde, a soroprevalência de HBV é de 2 a 4
vezes maior e a incidência anual é de 5 a 10 vezes maior
do que na população em geral. (9)
Na hepatite viral C a soroprevalência em tra-
balhadores da saúde parece ser similar à da popula-
ção geral. A soroconversão dos trabalhadores que se
acidentam com material contaminado ocorre em 1,2
a 10% dos trabalhadores acidentados. Estima-se que
2% dos casos devem-se à exposição ocupacional. (9)
A hepatite viral D é endêmica na Amazônia
Ocidental, onde, em associação com o vírus da hepa-
tite B, é o agente etiológico da chamada febre negra
de Lábrea, de evolução fulminante. (9)
Portanto, em determinados trabalhadores,
as hepatites virais podem ser consideradas como
doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da
Classificação de Schilling, posto que as circunstân-
cias ocupacionais da exposição aos vírus podem ser
consideradas como fatores de risco, no conjunto
de fatores de risco associados com a etiologia desta
doença infecciosa. (9)
43
HIV
Vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um
distúrbio da imunidade mediada por célula, causado por
um vírus da subfamília Lentivirinae (família Retroviri-
dae), caracterizada por infecções oportunistas, doenças
malignas (como o sarcoma de Kaposi e o linfoma não
-Hodgkin), disfunções neurológicas e uma variedade
de outras síndromes. A síndrome da imunodeficiência
adquirida (AIDS ou SIDA) é a mais grave manifestação
de um espectro de condições HIV-relacionadas. O risco
de que pessoas infectadas, não tratadas, desenvolvam
a AIDS é de 1 a 2% por ano nos primeiros anos após
a infecção e cerca de 5% nos anos seguintes. O risco
acumulado de desenvolvimento da síndrome em infec-
tados não tratados é de cerca de 50%. (9)
Os profissionais de saúde constituem um grupo
com características especiais de exposição ao HIV,
devido às suas possibilidades de infectar-se durante as
atividades do trabalho cotidiano. O número de situa-
ções de contato com sangue, secreções e fluidos orgâ-
nicos no trabalho, na área da saúde, é muito grande. (8)
Desde o início da epidemia, a possibilidade
de contaminação dos profissionais de saúde motivou
investigações dirigidas à quantificação deste risco, e des-
pertou os órgãos oficiais para a necessidade de medidas
voltadas a sua redução. (8)
O primeiro caso confirmado de contaminação
44
ocupacional pelo vírus HIV ocorreu em 1984, na Ingla-
terra. Uma enfermeira sofreu acidente pefurocortante
por agulha contendo sangue de uma paciente que se
encontrava internada com pneumonia e era portadora
do vírus HIV. Duas semanas após o acidente, a enfer-
meira apresentou os sintomas de infecção aguda pelo
HIV (febre, cefaleia, mialgia etc.). No segundo mês
o seu soro revelava positividade para o vírus. Houve
confirmação da transmissão ocupacional do HIV da
paciente para a enfermeira. (8)
A taxa de soroconversão pós-exposição ocupa-
cional por ferimento percutâneo tem variado entre 0,1
e 0,4%, sendo maior em função do tamanho do inó-
culo, da duração do contato e da extensão do ferimento.
A literatura científica internacional registra cerca de 55
casos, confirmados até 1999, decorrentes de exposição
ocupacional em trabalhadores de saúde, em decorrência
de acidentes perfurocortantes com agulhas ou material
cirúrgico contaminado, manipulação, acondicionamento
ou emprego de sangue ou de seus derivados e contato
com materiais provenientes de pacientes infectados. (9)
Assim, em determinados trabalhadores, a doença
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode ser
considerada como doença relacionada ao trabalho, do
Grupo I da Classificação de Schilling, posto que as circuns-
tâncias ocupacionais da exposição ao vírus são acidentais
ou ocorrem em condições específicas de trabalho, se bem
documentadas e excluídos outros fatores de risco. (9)
45
Dermatofitose
É o termo geral para infecções micóticas que afe-
tam a superfície epidérmica, devido a fungos dermatófi-
tos. Atacam tecidos queratinizados (unhas, pelos e estrato
córneo da epiderme). As principais dermatofitoses são:
Tinea capitis (Tinha tonsurante); Tinea favosa (Favo);
Tinea barbae (Sicose); Tinea corporis; Tinea manuum;
Tinea cruris; Tinea imbricata (Tinha escamosa); Tinea
pedis e Tinea unguium, causadas por espécies dos gêne-
ros Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton. (9)
Em determinados trabalhadores, a dermatofi-
tose e outras micoses superficiais podem ser considera-
das como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo
II da Classificação de Schilling, posto que as circuns-
tâncias ocupacionais da exposição aos fungos dermató-
fitos podem ser consideradas como fatores de risco, no
conjunto de fatores de risco associados com a etiologia
desta doença infecciosa. (9)
A dermatofitose relacionada ao trabalho tem sido
descrita em trabalhadores que exercem atividades em con-
dições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, giná-
sios, piscinas, etc.) e em outras situações específicas. (9)
Candidíase
Infecção provocada por fungo da classe Saccha-
romycetes leveduriformes do gênero Candida, sobre-
46
tudo pela Candida albicans. A transmissão é feita pelo
contato com secreções originadas da boca, pele, vagina e
dejetos de portadores ou doentes. A transmissão vertical
se dá da mãe para o recém-nascido, durante o parto. Pode
ocorrer disseminação endógena. O período de transmis-
sibilidade dura enquanto houver lesões. (9)
A candidíase relacionada ao trabalho poderá ser
verificada em trabalhadores que exercem atividades que
requerem longas imersões das mãos em água e irritação
mecânica das mãos, tais como trabalhadores de lim-
peza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros, com exposi-
ção ocupacional claramente caracterizada por meio de
história laborativa e de inspeção em ambiente de traba-
lho. Nesses casos, a candidíase poderá ser considerada
como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da
Classificação de Schilling. (9)
Paracoccidioidomicose
Infecção fúngica sistêmica, micose causada
pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. A infec-
ção dá-se por inalação de conídios em poeiras, em
ambientes quentes e úmidos, com formação de foco
primário pulmonar (assintomático) e posterior dis-
seminação. Em pacientes com grande resistência
imunológica, as formas são localizadas, com reação
granulomatosa e poucos parasitos. Nos demais, os
47
parasitos são abundantes, os processos são predomi-
nantemente exsudativos e as formas disseminadas predo-
minam, com variados graus clínicos. (9)
O trabalho com o solo e vegetais em área rural,
a exemplo dos lavradores e operadores de máquinas
agrícolas, é fator predisponente importante da paracoc-
cidioidomicose. Inquérito epidemiológico realizado em
417 trabalhadores da mina Morro Velho em Nova Lima
– MG detectou 13,4% de positividade em teste cutâneo
para paracoccidioidomicose. (8)
Portanto,emdeterminadostrabalhadores,apara-
coccidiodomicose pode ser considerada como doença
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação
de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da
exposição ao fungo podem ser consideradas como fato-
res de risco, no conjunto de fatores de risco associados
com a etiologia desta grave doença infecciosa. (9)
Malária
Doença infecciosa febril aguda, causada por
parasitas do gênero Plasmodium (vivax, malariae, fal-
ciparum, ovale), caracterizada por febre alta acom-
panhada de calafrios, sudorese e cefaleia, que ocorre
em padrões cíclicos, a depender da espécie do para-
sito infectante. (9)
A transmissão da doença é realizada por
intermédio dos esporozoítas, formas infectantes do
48
parasita, inoculados no homem pela saliva da fêmea
anofelina infectante. (9)
Esses mosquitos, ao se alimentarem em indiví-
duos infectados, ingerem as formas sexuadas do para-
sita – gametócitos – que se reproduzem no interior do
hospedeiro invertebrado, durante 8 a 35 dias, eliminando
esporozoítas, durante a picada. A transmissão também
ocorre por meio de transfusões sanguíneas, compartilha-
mento de seringas, contaminação de soluções de conti-
nuidade da pele e, mais raramente, por via congênita. (9)
A transmissibilidade da infecção ocorre do
homem para o mosquito enquanto houver gametócitos
em seu sangue. O homem, quando não tratado, poderá
ser fonte de infecção durante mais de 3 anos da malária
por P. malariae, de 1 a 3 anos da malária por P. vivax e
menos de 1 ano da malária por P. falciparum. (9)
O período de incubação é, em média, de 7 a 14
dias para o P. falciparum, de 8 a 14 dias para o P. vivax e
de 7 a 30 dias para o P. malariae. (9)
A malária tem sido descrita em garimpeiros, agri-
cultores, lenhadores, motoristas de caminhão, em trabalha-
doresqueexercematividadesemmineração,construçãode
barragens ou rodovias, extração de petróleo, e em outras
atividades que obrigam a presença em zonas endêmica. (8)
A malária pode ser considerada como doença
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação
de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da
exposição aos anofelinos transmissores podem ser consi-
49
deradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de
risco associados com a etiologia da doença. (9)
A malária relacionada ao trabalho tem sido des-
crita em trabalhadores que exercem atividades em mine-
ração, construção de barragens ou rodovias, em extração
de petróleo e outras atividades que obrigam à presença
dos trabalhadores em zonas endêmicas. (9)
Leishmaniose
Leishmaniose ou leshmaníase por Leishmania
braziliensis é zoonose do continente americano que
apresenta, nos seres humanos, duas formas clínicas: a
leishmaniose cutânea, relativamente benigna, e a leishma-
niose cutaneomucosa, mais grave. É uma doença para-
sitária da pele e mucosas, de caráter pleomórfico, trans-
mitida pela picada de insetos flebotomíneos do gênero
Lutzomia. Período de incubação: pode variar de 2 sema-
nas a 12 meses, com média de um mês. (9)
A leishmaniose comporta-se geralmente como
doença profissional, ocorrendo em áreas onde se pro-
cessam desmatamentos para a colonização de novas
terras, construção de estradas e instalação de fren-
tes de trabalho para garimpo, mineração, extração de
madeira e carvão vegetal. Também estão expostos os
profissionais que trabalham sob as matas nas planta-
ções de cacau, extração de látex da seringueira. Outras
atividades de risco são o treinamento militar nas selvas,
50
as expedições científicas e incursões de caçadores em
áreas florestais. (8)
Em determinados trabalhadores, a leishma-
niose cutânea ou a cutaneomucosa pode ser conside-
rada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo
II da Classificação de Schilling, posto que as circunstân-
cias ocupacionais da exposição ao mosquito transmis-
sor podem ser consideradas como fatores de risco, no
conjunto de fatores de risco associados com a etiologia
desta doença infecciosa. (9)
A prevenção de doenças infecciosas e parasitá-
rias relacionadas com o trabalho inclui medidas de edu-
cação e informação sobre os efeitos e riscos à saúde,
sobre os modos de transmissão e controle, pelo reco-
nhecimento prévio das atividades e locais de trabalho
onde existam agentes biológicos. (8)
São medidas preventivas muito eficazes para
ambientes onde há exposição prolongada ou poten-
cialmente grave. O controle do ambiente visa conter os
riscos biológicos em sua fonte, reduzir a concentração
de aerossóis e limitar seu movimento pela atmosfera
do trabalho. Sistemas de ventilação, ar condicionado e
aquecimento devem ser adequadamente projetados e
periodicamente vistoriados para prevenir a contamina-
ção por fungos ou bactérias. Para ambientes fechados,
1.3 - PREVENÇÃO
51
tais como hospitais e laboratórios de pesquisa, a venti-
lação deve ser projetada de modo a proporcionar fluxo
unidirecional e dirigido. O ar proveniente de áreas com
alto risco de contaminação por agentes infecciosos tais
como enfermarias de pacientes isolados, pode ser des-
contaminado através de filtração. (8)
O uso de equipamentos de proteção individual
está indicado toda vez que os riscos não forem total-
mente eliminados através das medidas anteriores. Deve-
se sempre calçar luvas quando em contato com secreções
biológicas de qualquer tipo. O uso de aventais ou capo-
tes, gorros, óculos especiais de proteção, devem sempre
fazer parte dos cuidados dos que lidam com materiais,
animais ou indivíduos potencialmente infectados. Deve-
se salientar que máscaras cirúrgicas ordinárias somente
protegem o paciente, o animal ou o produto, da exposi-
ção de organismos exalados pelo trabalhador. Para que o
trabalhador seja protegido de patógenos provenientes do
ambiente é necessário que ele utilize máscaras especiais
ou até respiradores específicos. (8)
A manipulação, descontaminação ou arma-
zenamento apropriados dos dejetos biológicos são
importantes medidas de controle de infecção em qual-
quer ambiente de trabalho. Em hospitais e laboratórios,
os dejetos potencialmente infectados devem ser inicial-
mente segregados dos outros dejetos e adequadamente
identificados em embalagens próprias para resíduos bio-
lógicos. Todas as lâminas e agulhas devem ser colocadas
52
em contêineres seguros e à prova de furos. Agulhas nunca
devem ser encapadas ou cortadas antes de serem despre-
zadas. A descontaminação pode ser alcançada através da
esterilização, desinfecção ou antissepsia. (8)
Para exposição a atentes patógenos de trans-
missão sanguínea estão prescritas numa série de normas
conhecidas como “Normas de Biossegurança ou Pres-
crições Universais”, detalhadas na tabela 1.4. (8)
Evitar contato direto com fluidos orgânicos: sangue, fluido cérebro-espinhal,
sêmen, secreções vaginais, leite materno. Os demais como saliva, lágrima, suor,
urina e líquido amniótico não são considerados meios de transmissão.
* Colocar luva quando da presença de qualquer desses fluidos. A utilização de
luvas é obrigatória quando da execução de punções venosas, em razão do extra-
vasamento de sangue ser muito grande.
* Se houver contato da boca com esses fluidos, lavar e fazer bochechos com
água oxigenada a 3%.
* Se houver contato com a pele, remover os fluidos cuidadosamente, lavar com
água e sabão degermante; não usar escovinhas devido à escarifação da pele, a
fim de evitar porta de entrada. A pele deve estar íntegra, sem abrasão ou cortes.
* Usar máscaras durante os procedimentos em que exista a possibilidade de san-
gue e outros fluidos corpóreos atingirem as mucosas da boca e nariz."27"
* Usar óculos durante os procedimentos em que houver a possibilidade de que
sangue e fluidos corpóreos atinjam os olhos, principalmente em procedimentos
cirúrgicos, endoscópicos e em hemodiálise.
* Usar aventais protetores durante procedimentos em que exista a possibilidade de
contaminaçãodasroupasdostrabalhadoresdesaúdecomsangueoufluidoscorpóreos.
1.
53
2.
3.
4.
5.
6.
Quando tiver alguma lesão de pele, tampá-la bem com curativo impermeável.
Evitar picada de agulhas e lesões que provoquem solução de continuidade.
* Não recapar as agulhas, pois esse é procedimento de risco.
* Recolher as agulhas em local apropriado com solução de Hipoclorito de Sódio a
0,5%, e só depois colocá-las no lixo.
* Caso haja picada de agulhas, pressionar imediatamente para expelir o sangue,
lavar com água e sabão degermante e fazer curativo oclusivo.
* Sempre usar luvas para procedimentos invasivos: injeção endovenosa, intramus-
cular, colher sangue, passar sonda vesical, nasogástrica e traqueostomia.
Lavar sempre as mãos com água e sabão e secá-las após atendimentos de cada
paciente, inclusive ao se administrar cuidados no leito.
Cuidados com o lixo e seu destino.
* O lixo hospitalar deve ser coletado em saco plástico, amarrado e acondicionado
em um novo saco mais resistente, amarrado e encaminhado para incineração.
* A pessoa que coleta o lixo deve estar paramentada com luvas, avental e botas.
Cuidados na limpeza com a unidade, utensílios e roupas de cama.
* Fluido corpóreo no chão, bancada, mesa: jogar Hipoclorito de Sódio a 1% no local,
por 30 minutos.
* Manipular as roupas sem agitação. Recolhê-las e rotular“contaminado”.
* Para lavar as roupas com fluidos contaminantes: detergente mais água a 71°C
por 25 minutos; com temperatura inferior: deixar e molho em Hipoclorito de Sódio
a 0,5% por 30 minutos.
54
A vacinação nos ambientes de trabalho é rea-
lizada de acordo com indicações específicas. Existem
algumas indicações gerais:
• Os trabalhadores podem ser vacinados
visando à proteção a organismos infecciosos tais como
agentes do tétano e hepatite B;
• Os profissionais de saúde podem ser vacina-
dos, por exemplo, contra Influenza para evitar que con-
taminem inadvertidamente algum paciente;
• Algumas vacinas como a da febre amarela
são recomendadas para trabalhadores em viagens a
áreas endêmicas.
55
57
UNIDADE 2 | RISCO QUÍMICOS
Os riscos químicos presentes nos locais de
trabalho encontram-se na forma sólida, líquida e
gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas,
gases, vapores, neblinas, substâncias compostas
e produtos químicos em geral. Poeiras, fumaças,
névoas, gases e vapores estão dispersos no ar; trata-
se dos aerodispersóides. (12)
Poeira: as poeiras são partículas sólidas gera-
das mecanicamente por ruptura de partículas meno-
res. São classificadas em:
• Poeiras minerais: sílica, asbesto e carvão
mineral, por exemplo. As consequências são: silicose
(quartzo), asbestose (amianto), penumoconiose dos
minérios de carvão (mineral).
• Poeiras vegetais: algodão e bagaço de cana-
de-açúcar, por exemplo. As consequências são: bissi-
nose (algodão), bagaçose (cana-de-açúcar) etc.
• Poeiras alcalinas: calcário, por exemplo. As
consequências incluem: doenças pulmonares obstru-
tivas crônicas, enfisema pulmonar.
• Poeiras incômodas: incluem consequências
como interação com outros agentes nocivos presentes
no ambiente de trabalho, potencializando sua nocividade.
58
Fumos: Trata-se de partículas sólidas produzidas
a partir da condensação de vapores metálicos. Por exem-
plo: fumos de óxido de zinco nas operações de sonda-
gem de ferro. As consequências são: doença pulmonar
obstrutiva, intoxicação específica de acordo com o metal.
Névoas: as névoas são partículas líquidas que
resultam da condensação de vapores ou da dispersão
mecânica de líquidos. São exemplos: névoa resultante
do processo de pintura a revólver, monóxido de car-
bono liberado pelos escapamentos dos carros.
Gases: diz respeito ao estado natural das
substâncias em condições normais de temperatura e
pressão. Exemplos: GLP, hidrogênio, ácido nítrico,
butano, ozona etc.
Vapores: os vapores consistem em dispersões
de moléculas no ar que podem se condensar para for-
mar líquidos ou sólidos em condições normais de tem-
peratura e pressão. Por exemplo: gasolina, naftalina etc.
Névoas, gases e vapores podem ser classifica-
dos em:
• Irritantes: causam irritação das vias aéreas
superiores. Exemplo: ácido clorídrico, ácido sulfúrico,
soda caustica, cloro, etc.
• Asfixiantes: produzem dor de cabeça, náuseas,
sonolência, convulsões, coma e morte. Por exemplo:
hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido
de carbono, monóxido de carbono etc.
59
• Anestésicos: em sua maioria, incluem sol-
ventes orgânicos, promovendo ação depressiva sobre o
sistema nervoso, danos a diversos órgãos, ao sistema for-
mador de sangue (benzeno) etc. São exemplos: butano,
propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroe-
tileno, benzeno, tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc.
As vias de penetração dos agentes químicos
são: via cutânea (pele); via digestiva (boca) e via res-
piratória (nariz). A penetração dos agentes químicos no
organismo depende de seu modo de utilização.
Para avaliar o potencial tóxico das substâncias quí-
micas, alguns fatores devem ser levados em consideração:
• Concentração: quanto maior for a concentração,
mais rapidamente seus efeitos nocivos irão se manifestar
no organismo.
• Índice respiratório: a quantidade de ar inalado
pelo trabalhador durante a jornada de trabalho.
• Sensibilidade individual: o nível de resistência
varia de indivíduo para indivíduo.
• Toxicidade: o potencial de ação tóxica da subs-
tância no organismo.
• Tempo de exposição: o tempo de exposição do
organismo à substância contaminante.
60
2.1 – DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICOS
2.1.1 - DOENÇA RESPIRATÓRIA
Há diversas formas de classificação das doenças
ocupacionais pulmonares, baseadas na reação tecidual,
nos tipos de agentes envolvidos ou no quadro clínico
predominante. A tabela 2.1 mostra uma classificação
destas doenças. (8)
Trato respiratório alto
• Irritação/inflamação de cavidades nasais e seios da
face, faringe e laringe, por inalação de gases ou particu-
lados irritantes e/ou tóxicos.
• Rinite alérgica
Trato respiratório baixo
• Asma ocupacional (incluindo bissinose e síndrome de
disfunção reativa das vias aéreas)
Doenças do parênquima pulmonar
• Pneumonites por hipersensibilidade
• Pneumonites tóxicas
Doenças pleurais
• Derrame pleural
1.
2.
3.
4.
61
62
Doenças do trato respiratório alto
Podem ser classificadas conforme sua localiza-
ção e etiologia em:
1. Ulcerações e perfurações de septo nasal
por ação direta devidas a metais pesados como cromo
hexavalente e níquel, antimônio, arsênico e cobre
(Newman, 1996) (8).
2. Rinites irritativas e/ou alérgicas secundárias
à inalação crônica de substâncias de alto e baixo peso
molecular com potencial alergênico, como material
proteico animal, enzimas, isocianatos, anidridos ácidos
e outros. Nesse tipo de situação pode ocorrer lesão
de conjuntiva ocular e de outras mucosas de via aérea
como orofaringe, e traqueia e eventuais sinusites secun-
dárias ao processo obstrutivo alto. (8)
3. Rinolitíase formação de concreções na cavi-
dade nasal secundárias à presença de substâncias higros-
cópicas como o cimento (calcário calcinado, desidra-
tado), podendo produzir desde apenas incômodo local
até sangramentos (Parker, 1994) (8).
4. Carcinoma da cavidade nasal e laringe secun-
dários à exposição a metais pesados como o cromo
hexavalente e níquel e poeiras diversas contendo hidro-
carbonetos aromáticos absorvidos nas mesmas, ou
poeiras de madeiras (Doll, Morgan & Speizer, 1970;
Spiegel & Sataloff, 1996; Vieren & Imbus, 1989). (8)
63
Asma ocupacional
A definição mais citada é “a obstrução reversí-
vel ao fluxo aéreo e/ou hiperresponsividade brônquica
devido a causas e condições atribuíveis a um determi-
nado ambiente de trabalho e não a estímulos externos”
(Bernstein e cols., 1999). Esta definição é problemática,
pois, com frequência, nota-se o desencadeamento de
crises por estímulos inespecíficos tais como exercício
físicos, infecções e outros (Burge & Moscato, 1999). (8)
Trabalhadores com asma preexistente podem
ter o quadro agravado por estímulos inespecíficos no
ambiente de trabalho, assim como desenvolver sensibili-
zação a agentes específicos. Esta primeira condição pode
não ser considerada como AO, e sim como asma agravada
pelas condições de trabalho (Chan-Yeung & Malo, 1995),
mas, do ponto de vista prático deve ser investigada, orien-
tada e encaminhada da mesma forma que a AO. (8)
Os mesmos mecanismos que levam um agente
ocupacional a causar asma são semelhantes aos meca-
nismos da asma brônquica (Gandevia, 1970) e, pode ser
assim sumarizados por ordem de importância: (8).
1. Broncocosntrição imunológica: é o tipo de
reação mais comum em AO. A maior parte das respostas
orgânicas é media por IgE específica, porém há casos em
que também anticorpos da classe IgG estão envolvidos. (8)
2. Broncoconstrição inflamatória: exposições a
64
gases ou particulados irritantes, em altas concentrações,
podem levar à inflamação das vias aéreas, atingindo
ocasionalmente, a zona de trocas gasosas. (8)
3. Broncoconstrição reflexa: causada pela ação
direta de particulados, gases e mesmo ar frio sobre os
receptores da parede brônquica, levando a uma quebra
do equilíbrio adrenérgico. (8)
4. Broncoconstrição farmacológica: alguns
agentes ocupacionais têm o potencial de atuar como
agonistas farmacológicos, apresentando uma ação
semelhante a drogas, com relações dose-efeito. (8)
Pneumonite por hipersensibilidade (PH)
Manifestação clínica característica de um grupo
de doenças pulmonares, resultantes da sensibilização
por exposições recorrentes a inalações de partículas
antigênicas derivadas de material orgânico e de algumas
poucas substâncias químicas sintéticas. Na tabela 2.2
apresenta-se uma listagem de algumas denominações
específicas da PH conforme o antígeno ou o ambiente
de trabalho causador da mesma, o tipo de aerossol vei-
culador do antígeno e o antígeno específico. (8)
65
Pneumonite tóxica ou edema pulmonar
Resultantes a exposição de altas concentrações
de gases irritantes, como amônia, cloro e dióxido de
nitrogênio, a poeiras e fumos metálicos de berílio, cád-
mio, mercúrio, níquel, vanádio e zinco, a produtos quí-
micos de pH extremo ou fortemente reagentes, como
o metilisocianato. Sua patogenia envolve diretamente
Pulmão dos criadores
de aves
Bagaçose
Pulmão dos trabalhado-
res de malte, cogume-
los, cortiça e boldo.
Sequoiose
Trabalhadores em
serrarias, carpintarias e
marcenarias
Pulmão dos manipulado-
res de animais e peixe
Exposição a isocianatos
Excremento e penas
de aves
Cana mofada
Cascas e córtex
mofados
Poeira mofada
Madeiras e poeira de
madeira mofadas
Epitélio animal, pro-
teínas de peixe
MDI/TDI
Proteínas de aves
Thermoactinomyces
viridis T. sacharii
Thermoactinomyces
vulgaris. Aspergillus
clavatus. Penicillium
frequentans. Cryp-
tostoma corticale
Pullulania sp
Alternania sp
Proteína animal e
de peixes
Fungos saprófitos
Hapteno inorgânico
66
a citotoxicidade das células mucosas, com liberação de
proteínas séricas e mediadores da reação inflamatória. (8)
Derrame pleural benigno
Acometimentodediagnósticoretrospectivo,pois
é necessário que o paciente seja acompanhado durante
algum tempo para afastar outras possibilidades diagnós-
ticas, como a tuberculose e o câncer de pulmão. Outros
acometimentos pleurais como espessamento pleural em
placas e espessamento pleural difuso, são mais prevalen-
tes, associadas a exposição ao asbesto. (8)
Bronquite crônica (BC)
Limitação crônica ao fluxo aéreo (LCFA) são
duas entidades distinta, podendo ou não estar relaciona-
das. A principal causa de ambas é, sem dúvida, o taba-
gismo, que agride tanto grandes vias aéreas, preferencial-
mente acometidas na BC, como nas pequenas vias aéreas,
preferencialmente acometidas na LCFA. (8)
Há um consenso de que a exposição a poeiras
na mineração de carvão leva a um aumento na prevalên-
cia de BC, assim como as poeiras orgânicas, exemplo a
poeira de algodão, também leva a um aumento de preva-
lência de BC e LCFA. Assim, podemos dizer que o taba-
gismo, as exposições ocupacionais e a poluição ambiental
têm em ordem decrescente de grandeza, direta influência
67
em relação às doenças de vias aéreas. (8)
Enfisema
Estado de irritação respiratória crônica, de
lenta evolução, quase sempre causada pelo fumo, mas
também por outros agentes (poeira, poluentes, vapores
químicos). No enfisema, os alvéolos transformam-se
em grandes sacos cheios de ar que dificultam o contato
do ar com o sangue, uma vez que foram destruídos os
septos alveolares por onde passavam os vasos. (22)

Pneumoconioses
São divididas em não-fribogênicas (ou “benig-
nas”) e fibrogênicas de acordo com o potencial da
poeira em produzir fibrose reacional. Apesar de
existirem tipos bastante polares de pneumoconioses
fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a
asbestose, de um lado, e a baritose, de outro, existe
a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como
não fibrogênicas produzirem algum grau de fibrose
dependendo da dose, das condições de exposição e da
origem geológica do material. (4)
O Quadro 1, abaixo, apresenta uma lista de
pneumoconioses com denominações mais específicas,
seus agentes etiológicos e sua apresentação anatomo-
patológica. Ressalte-se que a lista não é exaustiva, não
68
excluindo outras possibilidades etiológicas mais raras,
ou ainda não contempladas pela literatura científica. (4)
Silicose
Asbestose
Pneumoconiose
do trabalhador
do carvão (PTC)
Silicatose
Talcose
Pneumoconiose
por poeira mista
Siderose
Estanose
Baritose
Antimoniose
Pneumoconiose
porrochafosfática
Pnemoconiose
por abrasivos
Sílica livre
Todas as fibras de
asbesto ou amianto
Poeiras contendo
carvão mineral ou
vegetal
Silicatos variados
Talco mineral (silicato)
Poeiras variadas
contendo menos que
7,5% de sília livre
Óxidos de ferro
Óxidos de estanho
Sulfatodebário(barita)
Óxidos de antimônio
ou Sb metálico
Poeira de rocha
fosfática
Carbeto de silício
(SiC) / Óxido de
alumínio (Al2O3)
Fibrose nodular
Fibrose difusa
Decomposição macular sem
fibrose ou com diferenciados
graus de fibrose
Fibrose difusa ou mista
Fibrose nodular e/ou difusa
Fibrose nodular estrelada e/ou
fibrose difusa
Deposiçãomaculardeóxido
deferroassociadoounãocom
fibrosenodulare/oudifusa
Deposiçãomacularsemfibrose
Deposiçãomacularsemfibrose
Deposiçãomacularsemfibrose
Deposiçãomacularsemfibrose
Fibrose nodular e/ou difusa
69
Silicose
Doença respiratória causada pela inalação
de poeira de sílica que produz inflamação, seguida de
cicatrização do tecido pulmonar. A silicose decorre
da exposição à sílica livre (quartzo), especialmente na
mineração subterrânea de ouro, nas indústrias extrati-
vas de minerais, no beneficiamento de minerais (corte
de pedras, britagem, moagem, lapidação), nas indústrias
de transformação (cerâmicas, marmorarias, abrasivos,
fundições), na fabricação do vidro e de sabões, na cons-
trução civil e, em algumas atividades como protéticos,
Berilliose
Pneumopatia por
metais duros
Pneumonites
por hipersensibi-
lidade (alve-
olite alérgica
extrínseca)
Berílio
Poeiras de metais
duros (ligas deW,Ti,
Ta contendo Co)
Poeiras orgânicas
contendo fungos,
proteínas de penas,
pelos e fezes de
animais
Granulomatose tipo sarcóide.
Fibrose durante evolução
crônica
Pneumonia intersticial de
células gigantes. Fibrose
durante evolução
Pneumonia intersticial por
hipersensibilidade (infiltração
linfocitária, eosinofilica e
neutrofilica na fase aguda e
neutrofilica na fase aguda e
fibrose difusa na fase crônica)
70
jateadores de areia, trabalhos com rebolos ou esmeril de
pedra, escavação de túneis, cavadores de poços e artis-
tas plásticos. É uma das mais antigas doenças provoca-
das pelo trabalho, sendo que atualmente, no Brasil, é a
principal doença pulmonar de origem ocupacional. (22)
Asbestose
Doença pulmonar causada por depósitos de
asbesto ou amianto, que é um silicato que ocorre na
natureza sob a forma de fibras que podem ser fia-
das e tecidas. A sua grande resistência à abrasão e
ao calor, a alta resistência à tração e a grande fle-
xibilidade das fibras, dão aos asbestos propriedades
ainda não conseguidas por fibras artificiais. Assim,
mais de mil usos industriais para o amianto têm sido
descritos: misturado ao cimento, dá origem às placas
e telhas de cimento-amianto, muito utilizadas para
coberturas de edificações, e a tubulações de vários
diâmetros e de baixo preço; é utilizado nas lonas de
freio de automóveis, na fabricação de equipamentos
individuais de proteção (luvas, aventais, capuzes, etc.)
resistentes ao calor e ao fogo, na isolação térmica de
caldeiras, tubulações de vapor e na isolação elétrica
e térmica de equipamentos elétricos. Sob forma de
pó, atinge os pulmões de indivíduos que estão expos-
tos, tais como: mecânicos, operários de indústria de
cimento-amianto etc. (22)
71
Pneumoconiose dos trabalhadores de carvão (PTC)
Na pneumoconiose dos trabalhadores de
carvão a deposição de poeiras desencadeia um pro-
cesso inflamatório orquestrado inicialmente pelos
macrófagos alveolares, de menor intensidade do que
a gerada pelas partículas de sílica, mas suficiente para
promover lesão do epitélio alveolar. Em decorrência,
ocorre a passagem de partículas para o interstício e
tem início a formação de acúmulos de carvão e de
macrófagos com partículas fagocitadas, ao redor dos
bronquíolos respiratórios, com presença de fibras
de reticulina e deposição de pequena quantidade
de colágeno. Estas lesões, conhecidas como mácula
de carvão, medem cerca de 1 a 6mm. São intralo-
bulares, pouco ou não visíveis à radiografia e geral-
mente acompanhadas de enfisema focal adjacente
às áreas das máculas. Com a progressão da doença,
decorrente da continuada inalação ou mesmo após
o afastamento da exposição, pode ocorrer a forma-
ção de nódulos maiores, de cerca de 7 a 20mm, com
presença de macrófagos com pigmento no seu inte-
rior, presença de reticulina e aumento da quantidade
de colágeno. Com a exposição crônica, os nódulos
podem coalescer dando origem à forma de fibrose
maciça progressiva (FMP). A FMP costuma ser bila-
teral, predomina nos lobos superiores, lobo médio
72
e segmentos superiores dos lobos inferiores. Geral-
mente são assimétricas, apresentando às vezes carac-
terísticas de lesão maligna, podendo cavitar, com o
paciente expectorando material enegrecido, conhe-
cido como melanoptise. As lesões distinguem-se da
FMP pela sílica por apresentar, na análise histopa-
tológica, maior relação reticulina/colágeno, grande
quantidade de poeira de carvão, feixes densos de reti-
culina e colágeno e ausência de nódulos silicóticos.
A FMP cursa mais frequentemente com dispneia,
distúrbio ventilatório misto, hipertensão pulmonar
e cor pulmonale. (4)
O câncer de pulmão representa o princi-
pal câncer diagnosticado no mundo. Vários fato-
res, como raça, idade, sexo, localização geográfica e
condição socioeconômica, influenciam as taxas nos
diversos grupos. Os principais agentes etiológicos
são o tabagismo, exposições ocupacionais, infecções
virais e a presença de outras doenças pulmonares,
especialmente as que causam fibrose pulmonar.
Na tabela 2.4 traz a lista das principais subs-
tâncias consideradas carcinogênicas para o trato
respiratório, pela Agência Internacional para a Pes-
quisa sobre o Câncer – IARC, da Organização Mun-
dial da Saúde (IARC, 2000). A lista completa pode
ser analisada no link: http://monographs.iarc.fr/
ENG/Classification/
73
74
75
2.1.12 - DOENÇAS DA PELE
Agentes químicos provocadores de dermatoses
ocupacionais, os principais são:
1. Irritantes - cimento, solventes, óleos de corte,
detergentes, ácidos e álcalis.
2. Alérgenos - aditivos da borracha, níquel,
cromo e cobalto como contaminantes do cimento, resi-
nas, tópicos usados no tratamento de dermatoses. (3)
Nas figuras 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4 observamos respectivamente: dermatite de contato;
micropapuloeritematosas; dermatite alérgica cronificada e dermatite de contato irri-
tativa forte. Todas por algum tipo de contato por cimento.
76
Nas figuras 2.5 e 2.6 dermatite alérgica de contato por bota de borracha.
77
2.1.3 DOENÇAS DO OLHO
Ceratite
Inflamação da córnea, aquelas provocadas pela
exposição a agentes físicos e químicos no ambiente de
trabalho podem ser agrupadas em tóxicas e alérgicas.
O arsênico e o berílio podem ser responsáveis por qua-
dros de natureza alérgica. A seiva ou suco de algumas
plantas podem ser tóxicos. Entre os agentes listados
como capazes de produzir ceratoconjuntivite estão:
1.	 Arsênico e seus compostos arsenicais;
2.	 Ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogênio)
em exposições muito altas. (8)
78
Inflamação coriorretiniana
Inflamação da retina e do trato uveal, pode ser
classificado como agudo ou crônico. Tem sido descrita
em trabalhadores expostos ao manganês. (8)
Neurite óptica
Inflamação, degeneração ou desmielinização
do nervo óptico. Entre as substâncias químicas tóxicas
potencialmente causadores de neurite óptica estão:
•	 Brometo de metila;
•	 Cloreto de metileno (diclorometano) e
outros solventes clorados neurotóxicos;
•	 Metanol;
•	 Sulfeto de carbono;
•	 Tetracloreto de carbono. (8)
	
Queimaduras químicas do olho
São causas importantes de acidentes oculares
no trabalho, podem ser produzidas por ácidos e bases
fortes, ocorrendo frequentemente, quando essas subs-
tâncias espirram ou derramam no olho. (8)
O epitélio corneano intacto é resistente a
alterações do pH, variando entre 4 e 10. Exposto
a pH fora desse intervalo, o epitélio é rapidamente
destruído, permitindo que a substância atinja níveis
79
profundos dos tecidos subjacentes. (8)
Os ácidos fortes tendem a precipitar as prote-
ínas, como foto x. As proteínas precipitadas formam
uma barreira tampão, limitando a penetração do ácido
no olho. Já as bases fortes saponificam os ácidos gra-
xos, que rompem as membranas celulares e não for-
mam, portanto, nenhuma barreira, permitindo a pene-
tração contínua para todo o segmento anterior do olho,
levando à sua destruição. Portanto, as queimaduras quí-
micas por álcalis são mais devastadoras do que as cau-
sadas por ácidos. (8)
2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO
Há um certo número de medicamentos e
produtos químicos que, por si só, podem lesar as
estruturas da orelha interna, sejam cocleares ou ves-
tibulares, seja temporária ou permanente. Entre os
medicamentos, destacam-se os antibióticos amino-
glicosídeos, os salicilatos, alguns diuréticos, alguns
oncoterápicos e o quinino. Hoje em dia existe evi-
80
dência de propriedades ototóxicas de vários produ-
tos químicos industriais, como certos fumos metáli-
cos (chumbo, mercúrio, manganês, cobalto, arsênio),
alguns gases asfixiantes (monóxido de carbono,
nitrato de butila, tetracloreto de carbono e muitos
solventes orgânicos, tolueno, xileno, estireno, n-he-
xano, tetracloroetileno e dissulfeto de carbono). (8)
Vários produtos químicos são reconhecida-
mente neurotóxicos e podem afetar a audição ou
equilíbrio agindo primeiramente no tronco ence-
fálico ou nas vias auditivas/vestibulares centrais.
(apud, Thomas-1985) A indicação de que alguns
produtos químicos industriais podem alterar a fun-
ção auditiva através de um processo ototóxico ou
neurotóxico, ou da combinação destes dois proces-
sos, deve ser considerada, especialmente quando se
selecionam testes diagnósticos. (8)
2.1.5 DOENÇAS DO SANGUE
	
As alterações do sangue provocadas por
substâncias tóxicas agressoras ao sistema sanguí-
neo são conhecidas desde o século XIX, quando foi
descrito o primeiro caso de anemia aplástica pelo
benzeno, em 1897, mas os conhecimentos tiveram
impulso após a I Guerra Mundial, quando se verifi-
cou a ação de gases tóxicos sobre o sangue (Simpó-
sio “Leucopenia”, 1987; Rugo & Damon, 1990). (8)
81
O sistema sanguíneo, pela ação das substâncias
tóxicas de origem ocupacional, pode apresentar alte-
rações desde leves até graves e mesmo letais. Alguns
tóxicos tem ação prevalente sobre a medula óssea e
menor sobre o sangue periférico, enquanto outros
apresentam ação inversa e outros, ainda, agem sobre o
sangue e medula óssea concomitantemente. (8)
As hemopatias profissionais podem ser con-
sideradas segundo a sua patogenia relacionada com
o agente tóxico ou ocupação. Ver tabela 2.5.
82
2.1.5 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO
Estado confusional agudo
Também chamado de delirium, caracteriza-se por
um distúrbio mental orgânico, com alteração da consciên-
cia, desatenção e pensamento incoerente. Classicamente,
tem um início súbito, de horas a dias, um curso breve e
flutuante, observando-se melhora rápida, quando o fator
causal é identificado e removido. Entre as principais cau-
sas do estado confusional agudo estão doenças do SNC,
83
doenças sistêmicas, abstinência de drogas e intoxicação
por substâncias neurotóxicas, que podem estar presentes
no ambiente de trabalho. Faz parte deste rol de substâncias
os metais (chumbo, mercúrio, arsênio, manganês e tálio),
os solventes (tolueno, dissulfeto de carbono, estireno,
xileno, tricloroetileno brometo de metila, cloreto de metila,
metanol e tetracloreto de carbono), os pesticidas (organo-
fosforados, carvamatos, organoclorados e paraquat) e os
gases (monóxido de carbono e óxido de etileno). (8)
Encefalopatia tóxica crônica
Também denominada “síndrome psico-orgâ-
nica”, “síndrome neurastênica” ou “síndrome do pin-
tor”, caracteriza-se por um quadro neuropsiquiátrico
com alterações de personalidade, perda de memória,
fadiga, depressão, e perda de interesse pelas atividades-
diárias. Considerando-se que a maioria dos quadros de
demência seja irreversível, tornam-se imprescindíveis
a identificação e o tratamento daqueles possivelmente
reversíveis (Sandoval- Orellana & Sallato, 1995). (8)
Desde a década de 1970, inúmeros estudos têm
demonstrado os efeitos neurocomportamentais da exposi-
ção a solventes orgânicos. Contudo, com métodos de ava-
liação e análise epidemiológica mais sofisticados, verificou-
se que a correlação entre a exposição no local de trabalho e
os distúrbios neurocomportamentais não é tão óbvia (apud
Axelson, 2000). Como os solventes utilizados são geral-
84
mente misturas, é difícil identificar a substância química
específica e estabelecer a relação dose-resposta. Também
é difícil estabelecer a intensidade e a duração da exposição,
dada à variabilidade das condições de trabalho. (8)
Epilepsia
A epilepsia designa uma ampla variedade de
distúrbios neurológicos caracterizados por crise epilé-
ticas recorrentes. Entre as causas de epilepsia no adulto
estão: tumores, trauma cranioencefálico, acidente vas-
cular cerebral, porém, a maioria dos distúrbios epiléti-
cos permanece sem etiologia definida. (8)
Na avaliação do trabalhador que desenvolve
epilepsia deve ser considerado, o que é pouco fre-
quente, que fatores presentes no trabalho sejam a causa
da epilepsia. Como existem muitas etiologias associadas
ao início de epilepsia, a história neurológica e exames de
imagem devem ser solicitados para afastar anormalida-
des intracranianas. Mesmo assim, pode ser difícil distin-
guir convulsões relacionadas à exposição ocupacional
de outras causas não relacionadas ao trabalho.(8)
Quadros agudos de intoxicação por substâncias
químicas de origem ocupacional podem produzir con-
vulsões. Algumas dessas substâncias são (metais como
alumínio, chumbo, mercúrio, solventes, benzeno, meta-
nol, etc., e os gases como monóxido de carbono, sulfeto
de hidrogênio, cloreto de metila, etc.). Nestes casos,
85
algumas dessas substâncias podem ser detectadas no
sangue ou na urina. A exposição ao agente tóxico, com
manifestações agudas, produz, frequentemente, sinais e
sintomas sistêmicos, facilitando o nexo causal. (8)
Cefaleia
A cefaleia primária abrange a maioria dos qua-
dros observados em trabalhadores. Nos casos em que
cefaleia está relacionada à exposição a certas substân-
cias neurotóxicas, como no caso da exposição a nitra-
tos, a descrição cuidadosa das condições de apareci-
mento do sintoma pode auxiliar o estabelecimento do
nexo. Devem ser exploradas as informações relativas ao
momento de início da cefaleia, se após chegar ao local
de trabalho, ou ao seu término, a ausência de cefaleia
quando não está trabalhando e presença de níveis ele-
vados de substâncias químicas no local de trabalho, ou
ainda a presença da cefaleia nos períodos de suspensão
do trabalho, como nas folgas ou nas férias. (8)
Parkinsonismo secundários
É uma síndrome clínica caracterizada pela com-
binação de tremor em repouso, rigidez, bradicinesia e
instabilidade postural, que se apresentam em vários
graus de gravidade. (8)
No Brasil, é clássica a descrição de parkinso-
86
nismo secundário à exposição ao manganês em traba-
lhadores de uma fundição de ferro-manganês feita por
Antonio de Almeida, Jorge da Rocha Gomes e Pedro
Augusto Zaia (Almeida e cols., 1970), seguida pelos
estudos realizados em Minas Gerais, por Chrysóstomo
Rocha de Oliveira, Elizabeth Costa Dias e Eduardo
Henrique Lauar (Oliveira e cols., 1974). (8)
As principais substâncias neurotóxicas pre-
sentes em situações de trabalho capazes de causar a
Doença de Parkinson secundária são classificadas de
acordo com o grau de associação já estabelecida, pos-
sível ou potencial, e estão mostradas na tabela 2.5. (8)
O parkinsonismo secundário decorrente da
exposição a substâncias neurotóxicas pode asseme-
lhar-se, clinicamente, à forma clássica da doença de
Parkinson idiopática, além das doenças neuro e heredo-
degenerativas chamadas de parkinsonismo plus, e além
das outras causas de parkinsonismo secundário, dificul-
tando o diagnóstico diferencial. (8)
87
Ataxia cerebelar
Síndrome clínica caracterizada pela incapacidade
de coordenar os movimentos voluntários, devido à lesão
cerebelar. Pode manifestar-se quando o paciente está de
pé, quando se põe a andar, ou, ainda, quando quer exe-
cutar um movimento. As ataxias podem se classificadas
em agudas e crônicas e em hereditárias e adquiridas. As
ataxias de evolução crônica e progressiva tem usualmente
natureza hereditária. A ataxia aguda é geralmente de etio-
logia infecciosa, pós infecciosa ou tóxica. (8)
A intoxicação crônica por mercúrio pode causar
uma ataxia cerebelar, coreia e incefalopatia grave carac-
terizada por déficit cognitivo e alterações psicológicas.
Também pode estar associada a polineuropatia periférica
do tipo axonal (sensitiva e motora). O tremor é postu-
ral, cinético, de alta frequência, baixa amplitude, piora
com as atividades e se assemelha ao do hipertireoidismo.
Há também perda de sensibilidade vibratória e posicio-
nal nos membros inferiores. A exposição prolongada ao
agente tóxico pode levar à ataxia permanente, decorrente
da neuropatia periférica e/ou encefalopatia com compro-
metimento cerebelar, dependendo da idade do paciente,
grau de exposição e a forma atômica do mercúrio. (8)
Transtornos do nervo olfatório caracterizam-
se por queixas de alterações quantitativas, manifestadas
por redução, ausência ou, ainda, perversão do olfato,
também denominada de parosmia, que decorre de alte-
88
rações corticais. A anosmia, ou perda da acuidade olfa-
tória, é um achado relativamente comum que resulta da
desmielinização das fibras do nervo olfatório. (8)
Na literatura, são escassas as informações sobre
a epidemiologia e os fatores de risco ocupacional refe-
rentes aos transtornos olfatórios na população geral.
Entretanto, certos grupos de trabalhadores expostos a
substâncias irritantes podem apresentar problemas olfa-
tórios em uma proporção 15 vezes maior do que os não
expostos. Entre as substâncias químicas reconhecidas
como potencialmente capazes de produzir efeitos tóxi-
cos estão o cádmio; sulfeto de hidrogênio, poeira de
cimento; ácido sulfúrico; formaldeído; acrilatos; solven-
tes como tricloroetileno, benzeno, etilacetato, dissulfeto
de carbono, tolueno; chumbo; cromo; níquel. (8)
Transtornos do nervo trigêmeo
Síndrome clinica caracterizada pela perda da
sensibilidade cutânea da face, geralmente bilateral, acom-
panhada de parestesia, com formigamento e queimação,
além de prurido leve. A anestesia facial pode ocasionar
ferimentos em volta das narinas, decorrente de trauma-
tismos repetidos. O déficit motor do nervo trigêmeo não
tem sido observado. Quando ocorre pode ser verificado
pela fraqueza dos músculos mastigatórios. (8)
Sobre a epidemiologia e os fatores de risco
ocupacional, observa-se que a intoxicação ou a expo-
89
sição crônica aos derivados halogenados dos hidrocar-
bonetos alifáticos, particularmente o tricloroetileno, é
importante causa da neuropatia do trigêmeo. O triclo-
roetileno e outros derivados halogenados dos hidrocar-
bonetos alifáticos são utilizados como matéria-prima ou
produtos finais em indústrias químicas; como solventes,
na limpeza de peças e componentes; na indústria eletro
eletrônica; como solventes em vernizes, tintas, adesivos,
na indústria da construção; ou como desengraxantes
em limpeza a seco de roupas e similares. (8)
Polineuropatia
Geralmente se apresenta de forma simétrica,
afetando inicialmente os pés e posteriormente as
mãos. Estas neuropatias podem comprometer fibras
nervosas sensitivas, motoras ou autonômicas, isoladas
ou em associação. (8)
As manifestações mais comuns são fraqueza
muscular, hiporreflexia, cãibras, mialgia, distúrbios
sensitivos, como parestesias, disestesias, anestesias; dis-
túrbios motores, com alteração da marcha; distúrbios
tróficos, manifestados por queda de pelos e atrofia de
pele, e distúrbios neurovegetativos, como, por exemplo,
bexiga neurogênica, diarreia e impotência sexual. (8)
Sobre a epidemiologia e os fatores de risco
ocupacional relacionados à ocorrência de polineu-
ropatias, as substâncias neurotóxicas mais frequen-
90
temente associadas à produção desses quadros são
os metais chumbo, mercúrio, arsênio, estanho, tálio,
cromo, manganês, ouro, zinco e antimônio; os sol-
ventes n-Hexano, metil-butil-cetona, tetracloreto de
carbono, matanol, benzeno, dissulfeto de carbono e
tricloroetileno; os pesticidas organofostorados, car-
bamatos, organoclorados; os gases monóxido de car-
bono, óxido de etileno. (8)
2.1.6 DOENÇAS DO SISTEMA REPRODUTIVO
Reprodução é um processo complexo e vulne-
rável. A reprodução normal exige uma grande interação
entre os processos anatômico e fisiológico. Os meca-
nismos hormonais envolvidos na reprodução exigem
interações precisas entre o hipotálamo, a pituitária, e o
ovário ou testículo. (8)
Exposições ocupacionais não são a causa da
maioria dos distúrbios reprodutivos, mas a exposição
ocupacional pode causar sérios problemas reprodu-
tivos, que são inteiramente evitáveis. A exposição a
determinado agente no local de trabalho pode mani-
festar seus efeitos reprodutivos tanto em homens como
em mulheres. Exposições tóxicas podem reduzir a fer-
tilidade prejudicando os espermatozoides ou os óvulos.
Podem ocorrer abortos se um embrião é afetado ou
se complexas interações hormonais são bloqueadas. A
exposição tóxica durante a gravidez pode causar mal-
91
formação ou morte do feto. Atribuem-se a algumas
exposições, problemas neuropsiquiátricos ou cânceres
descobertos mais tarde na infância. Outras exposições
podem levar a problemas de saúde que não são detecta-
dos antes da idade adulta. (8)
Efeitos adversos causados pela exposição a toxi-
cantes reprodutivos podem se manifestar em várias etapas
do complexo processo da função reprodutiva, iniciando
com a gametogênese e continuando na interação de game-
tas (fertilização), desenvolvimento e crescimento embrio-
nário e fetal, nascimento e maturação sexual da prole. (8)
Efeitos da exposição tóxica na gametogênese
A produção de óvulos e espermatozoides e o
processo de ovulação dependem todos da estimulação
hormonal. Uma maneira pela qual agentes ocupacio-
nais e ambientais podem ser prejudiciais à reprodução
é através do bloqueio das vias hormonais no nível do
hipotálamo, pituitária ou gônadas. A exposição ambien-
tal a praguicidas que agem como estrogênios ou anties-
trogênios demonstrou exercer efeitos tóxicos na repro-
dução em animais, através desse mecanismo. (8)
Exposições a substâncias perigosas podem
também exercer um efeito direto nos gametas e suas
células precursoras. A exposição ao dibromocloropro-
pano (DBCP) causa lesão das células germinativas em
homens. Exposição a éteres de glicóis entre pintores
92
de estaleiros foi associada à redução da contagem de
espermatozoides. Efeitos gametotóxicos entre mulhe-
res são difíceis de medir porque a obtenção de uma
amostra folicular envolve um procedimento invasivo,
uma biopsia ovariana. (8)
Como a gametogênese começa durante a vida
fetal, exposições ocupacionais e ambientais durante a
gravidez poderiam teoricamente causar efeitos transge-
racionais. Danos às células germinativas primárias de
um feto podem ser manifestados mais tarde, quando
esse feto torna-se um adulto e sua reprodução se mos-
tra alterada. Um efeito tóxico pode ser manifestado pela
redução da fertilidade quando o filho da mulher traba-
lhadora tenta ter filhos. O mecanismo desse efeito tra-
duz-se em danos às células germinativas que se desen-
volvem no feto da trabalhadora. (8)
Teoricamente, o filho ou neto de um trabalha-
dor pode ser afetado por alteração subletal do material
genético na célula germinativa primordial. Uma preocu-
pação é que as alterações no DNA dos gametas podem
causar câncer nos filhos de pais expostos. (8)
Em mulheres adultas, leva-se cerca de duas
semanas para que oócitos primários se desenvolvam
em óvulos maduros. Em homens, leva-se cerca de dois
meses para que células germinativas primárias se desen-
volvam em espermatozoides. Exposições tóxicas durante
esses períodos de diferenciação das células germinativas
podem resultar em morte dos gametas em maturação.
93
Esse quadro seria manifestado clinicamente como uma
incapacidade temporária de conceber uma criança. Se as
células germinativas imaturas (células tronco) forem afe-
tadas, o período de infertilidade será maior. (8)
Se a gravidez é alcançada, apesar de um curto
período de exposição tóxica durante a maturação dos
gametas, não se estabelecem claramente as relações de
causa com os defeitos congênitos. Suspeita-se que os
gametas e embriões que não tenham iniciado o organo-
gênese sejam relativamente resistentes à ação teratogê-
nica, caso sobrevivam à exposição tóxica. (8)
Redução da fertilidade
Os estudos epidemiológicos dirigidos à saúde
reprodutiva do homem estão, via de regra, centrados
em parâmetros do esperma, tais como morfologia,
motilidade, viabilidade e concentração. Estes parâme-
tros, combinados com parâmetros de exposição ocupa-
cional, foram a base dos estudos epidemiológicos que
enfocam a relação entre a ocupação e o potencial de
dano reprodutivo do homem. (8)
Embora a infertilidade seja o efeito sobre
a reprodução frequentemente investigado, também
outros efeitos adversos, mediados pelo pai, tem sido
estudados, tais como a perda fetal, os defeitos congêni-
tos e o câncer na infância. (8)
O mais notável exemplo é o dibromocloro-
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O ambiente e as doencas laborais

  • 1. 2a Edição / Abril / 2015 Impressão em São Paulo - SP Marcella Ferreira e Silva Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS
  • 2. Professor Responsável Marcella Ferreira e Silva Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque 2ª Edição: Abril de 2015 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD KnowHow 2015 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS S586a Silva, Marcella Ferreira. O ambiente e as doenças laborais. / Marcella Ferreira Silva, Zulmira Rosa de Souza Silva Duque. - 2. ed. - São Paulo : Know How, 2015. 000 p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-8065-314-4 1. Doenças laborais. 2. Riscos. 3. Ambiente. I. Título. CDD – 616. 9803 Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353
  • 3. SUMÁRIO unidade1 |RISCOs BIOLÓGICOs 1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO 1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS 1.3 – PREVENÇÃO unidade 2|RISCOS QUÍMICOS 2.1 DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICO 2.1.1 DOENÇA RESPIRATÓRIA 2.1.2 DOENÇAS DA PELE 2.1.3 DOENÇAS DO OLHO 2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO 2.1.5 DOENÇAS DO SANGUE 2.1.6 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO 2.1.7 DOENÇAS DO SISTEMA REPRODUTIVO unidade 3 |RISCOS FÍSICOS 3.1 RUÍDO 3.1.1 ANATOMIA DA ORELHA 3.1.2 FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO 3.1.3 DOENÇAS RELACIONADAS AO RUÍDO 3.1.4 MEDIDAS DE CONTROLE DO RUÍDO 3.2 CALOR 3.2.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO AO CALOR 3.2.2 MEDIDAS DE CONTROLE DO CALOR 3.3 FRIO 1.3.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO AO FRIO 17 57 99
  • 4. 3.3.2 MEDIDAS DE CONTROLE DO FRIO 3.4 PRESSÕES ANORMAIS 3.4.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO ÀS PRESSÕES ANORMAIS 3.4.2 MEDIDAS DE CONTROLE DAS PRESSÕES ANORMAIS 3.5 VIBRAÇÕES 3.5.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO À VIBRAÇÃO 3.5.2 MEDIDAS DE CONTROLE DA VIBRAÇÃO 3.6 RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES 3.6.1 MEDIDAS DE CONTROLE DA RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE 3.7 RADIAÇÕES IONIZANTES 3.7.1 EFEITO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES NO HOMEM 3.7.2 MEDIDAS DE CONTROLE DA RADIAÇÃO IONIZANTE unidade 4 |rISCOS ERGONôMICOS E DE ACIDENTES 4.1 ALGUMAS SÍNDROMES NEURÓTICAS 4.2 DOENÇAS DA COLUNA VERTEBRAL RELACIONADAS AO TRABALHO 4.3 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) / DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 143 179
  • 5.
  • 6.
  • 7. 7 INTRODUÇÃO Há muito tempo se sabe que o trabalho, quando executado sob determinadas condições, pode causar doenças, encurtar a vida ou matar, sem rodeios, os trabalhadores. (8) O desgaste do corpo durante o processo pro- dutivo gera patologias específicas para cada tipo de ati- vidade ocupacional, além das diferentes modalidades de acidentes do trabalho, cujas características encontram- se também diretamente relacionadas com o tipo de tra- balho executado. (18) Em relação às condições de trabalho, os riscos ambientais estão divididos em cinco categorias: • Riscos Biológicos: são diretamente relaciona- dos com micro-organismos, podendo provocar doenças; • Riscos Químicos: são substâncias ou produ- tos que podem contaminar o ambiente de trabalho e, consequentemente, o organismo humano; • Riscos Físicos: São resultantes da troca de energia entre o organismo e o ambiente de trabalho, em quantidade que pode causar o desconforto, acidentes ou doenças do trabalho; • Riscos Ergonômicos: são as condições de tra- balho que não são adaptadas às características físicas e psicofisiológicas das pessoas; • Riscos Mecânicos ou de Acidentes: são agen-
  • 8. 8 tes relacionados com os processos de trabalho e as condições físicas do ambiente. (1) É importante observar que a nocividade do trabalho pode não ser dele próprio, ou das ativida- des que o conformam, mas determinada ou agravada por duas considerações sobre o “tempo de trabalho”, sendo elas pela “duração” ou pela “configuração”, entendido como “tempo de trabalho” nas mais distin- tas acepções, que vão desde o tempo na vida em que se começa a trabalhar; o tempo na vida em que se para de trabalhar; o tempo ou duração do trabalho numa jornada de trabalho (jornada, do francês jour = dia), nas semanas, nos meses, nos anos e, enfim, na vida. “Duração”, no sentido de tempo acumulado, e “con- figuração”, no sentido de sua distribuição, ou forma como a duração está organizada ou distribuída no pró- prio referencial de periodização do tempo: vida, época da vida, ano, estação do ano, mês, semana, dia, hora, minuto... (8) O grau de sucesso ou insucesso dos mecanis- mos de “agressão” irá depender não apenas da natu- reza e intensidade da “agressão”, e do grau de “vulne- rabilidade” aos patógenos do trabalho, mas também da eficiência ou eficácia dos mecanismos de “defesa” do trabalhador. (8) Sobre a ideia de saúde a Organização Mundial da Saúde conceitua da seguinte forma:
  • 9. 9 condição em que um indivíduo ou grupo de indivídu- os é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saú- de é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aspirações físicas. (OMS, 1984 apud Rey, 1999. Grifo introduzido). (8) Dito em outras palavras: saúde é o estado caracterizado pela integridade ana- tômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, pro- fissionais ou sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais. (Rey, 1999. Grifo introduzido). (8) Podemos concluir que, o trabalhador ao ser exposto a um agente agressor, seu organismo irá reagir com um tipo de mecanismo de defesa, seu resultado pode ser uma adaptação ou uma lesão. Por exemplo, o trabalhador exposto a uma natureza predominantemente biológica, seu mecanismo de defesa poderá dar resposta imunológica competente e adequada, caso não seja ade- quada irá surgir doenças decorrentes desta exposição. Antesdeiniciarmosnossosestudossobreasdoen- ças ocupacionais, precisamos ter claro algumas definições:
  • 10. 10 • Acidente de trabalho • Doença do trabalho • Doença profissional A Lei 8.213/91 conceitua o acidente de tra- balho, primeiro no sentido restrito, depois no sentido amplo ou por extensão. (10) Do acidente-tipo, ou também chamado de macrotrauma, cuida a lei no art. 19 e basicamente define como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução da capacidade permanente ou temporária para o trabalho. Ou seja, trata-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e consequências geralmente imediatas. (10) O acidente de trabalho representa uma inter- rupção súbita no processo de trabalho, traumática para o acidentado, diferente das doenças profissionais ou do trabalho que tem caráter progressivo e em boa parte dos casos irreversíveis, implicando um processo lento de degeneração orgânica do qual muitas vezes o pró- prio trabalhador não se dá conta. Pela ausência inicial de sintomatologia clínica, as patologias profissionais permitem – ao contrário dos acidentes – que o indiví- duo prossiga trabalhando até que se torne inútil para a produção e seja substituído por outro. (18) Deste modo o objetivo deste trabalho é tratar
  • 11. 11 apenas das doenças laborais, das quais podemos ana- lisar sob algumas características do ponto de vista de Ramazzini, Schilling e da própria Lei 8.213/91. Bernardino Ramazzini (1633 – 1714) parece ter sido o primeiro a tentar classificar o que ele deno- minou de “doenças do trabalhador”, descrevia as doenças como, por exemplo: “doença dos mineiros”; “doença dos que trabalham em pé”; “doença dos pinto- res”, “doença dos que trabalham com enxofre”, etc. (8) Da classificação empírica construída por Ber- nardino Ramazzini, há mais de 300 anos, é possível pinçar os critérios para uma primeira sistematização da patologia do trabalho: • Num primeiro grupo estão aquelas doen- ças diretamente causadas pela “nocividade da matéria manipulada”, de natureza relativamente específica, e que vieram dar origem às “doenças profissionais” (8) • Num segundo grupo estão aquelas doenças produzidas pelas condições de trabalho: “posições for- çadas e inadequadas”, “operários que passam o dia de pé, sentados, inclinados, encurvados etc.”. São as que mais tarde foram denominadas “doenças causadas pelas condições especiais em que o trabalho é realizado”. (8) O professor Richard Schilling, da Inglaterra, desenvolveu uma classificação própria, que agrupa as “doenças relacionadas com o trabalho” em três
  • 12. 12 categorias, resumidas na tabela 1.1. (8) A Lei 8.213/91 subdivide as doenças ocupacio- nais em doenças profissionais e doenças do trabalho, estando previstas no art. 20, I e II.
  • 13. 13 As primeiras, também conhecidas como “ergo- patias”, “tecnopatias” ou “doenças profissionais típi- cas”, são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar a determinada atividade (corres- ponde à classificação Schilling I). Nessa situação, o tra- balho é considerado causa direta do agravo, ou seja, se o agente for eliminado, o agravo poderá ser completa- mente prevenido. Dada a sua tipicidade, prescindem de comprovação do nexo de causalidade com o trabalho. Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram as defesas orgânicas, e que, por efeito cumulativo, ter- minam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido. Por exemplo, os trabalhadores da mineração, sabe-se de há muito que estão sujeitos à exposição do pó de sílica, e, portanto, com chances de contrair a silicose, sendo considerada uma doença profissional. (10) (20) Por sua vez as doenças do trabalho, também chamadas de “mesopatias”, ou “moléstias profissionais atípicas”, são aquelas desencadeadas em função de con- dições especiais em que o trabalho é realizado (classifi- cação Schilling II e III), ou seja, o trabalho é um dos fatores de risco para a ocorrência do agravo. Contudo, por serem atípicas, exigem a comprovação do nexo de causalidade com o trabalho, via de regra através de visto- ria no ambiente laboral. A retirada do fator de risco redu- zirá a incidência do agravo e/ou modificará a evolução da doença. Por exemplo, a ocorrência de problemas osteo-
  • 14. 14 musculares nos profissionais de enfermagem. (10) (20) Enquanto as doenças profissionais resultam de risco específico direto (característica do ramo de ativi- dade), as do trabalho tem como causa o risco específico indireto. Assim, por exemplo, uma bronquite asmática normalmente provém de um risco genérico e pode aco- meter qualquer pessoa. Mas se o trabalhador exercer sua atividade sob condições especiais, o risco genérico trans- forma-se em risco específico indireto. (10) A Lei 8.213/91 ainda contempla uma terceira categoria de doença, disposto no parágrafo 2° do art. 20: “Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o traba- lho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá- la acidente do tra- balho”. Estamos diante de uma variante da doença do trabalho, pois há uma relação direta com as condições especiais em que é executado o trabalho, por exemplo, as doenças ligadas à voz presentes nos trabalhadores das empresas de telemarketing. (10)
  • 15. 15
  • 16.
  • 17. 17 UNIDADE 1 | RISCOS BIOLÓGICOS Consideram-se riscos biológicos os vírus, bac- térias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. (12) Os riscos biológicos ocorrem por meio de micro-organismos que, quando entram em contato com o ser humano, podem causar diversas doenças. Muitas atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios etc. (12) Dentre as inúmeras doenças profissionais pro- vocadas por micro-organismos, destacam-se: tubercu- lose, brucelose, malária e febre amarela. (12) Para que essas doenças possam ser conside- radas doenças profissionais, deve haver exposição do empregado a tais micro-organismos. Alguns agentes infecciosos que podem ter relação com o trabalho são: • Dos vírus: adenovírus; caxumba; citomega- lovírus; ebola; hepatite B; hepatite C; Herpes simplex; HIV; influenza; parainfluenza; parvovirus B19; poliovi- rus; rotavirus; rubéola; sarampo; varicela-zoster; vírus respiratório sincicial. • Das bactérias: bordetella; campulobacter; corynebacyerium diphteriae; mycobacterium tuberculosis; neisseria meningitidis; salmonella; shigella; yersínia pestis.
  • 18. 18 • Outros: chlamydia psittaci; coxiella burnetti; cryptosporidium; mycoplasma pneumonie; sarcoptes scabiei. (12) (8) O conhecimento dos riscos biológicos nos ambientes de trabalho é crucial para a prevenção das doenças ocupacionais. A displicência e complacência podem resultar em graves e ameaçadoras consequências. Os micro-organismos encontrados nos ambientes de tra- balho variam de vírus extremamente pequenos e bacté- rias unicelulares, até fungos e parasitas multicelulares. (8) É preciso adotar medidas preventivas para que as condições de higiene e segurança nos diversos seto- res de trabalho sejam adequadas. (12) As medidas de controle mais usualmente ado- tadas são: saneamento básico, controle médico perma- nente, uso de EPI, higiene rigorosa, higiene pessoal, uso de roupas adequadas, vacinação, treinamento, etc. (12) Para que uma substância seja nociva ao homem, é preciso que ela entre em contato com o organismo. Há diferentes vias de penetração para os riscos biológicos: (12) Ingestão: a água, os alimentos em geral, mãos e objetos quando levados à boca constituem as principais maneiras pelas quais a maioria dos agentes infectantes por via oral é transportada e introduzida no organismo, por exemplo, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides,
  • 19. 19 Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura), cistos de pro- tozoários (Entamoeba histolytica, Giardia lambia), bacté- rias entéricas (Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli enteropatogênica) e enterovírus (vírus da poliomielite, rotavírus, e outros). (8) Inalação através das vias respiratórias superio- res: gotículas expelidas pela boca e pelo nariz contendo vírus diversos (gripe, sarampo, etc.); população viável de Mycobacterium tuberculosis no escarro em dessecação, associada a micropartículas de poeira; esporos de fun- gos das espécies Histoplasma capsulatum e Paracocci- dioides braziliensis, responsáveis, respectivamente, pela histoplasmose e pela paracoccidioidomicose; frações de muco nasal contendo Mycobacterium leprae, agente da hanseníase, e diversos outros exemplos, compõem uma vasta lista de biopatógenos que podem estar presentes em suspensão no ar inalado. (8) Penetração através das mucosas: de forma geral, as mucosas expostas aos fatores ambientais – vagina, uretra, olhos, boca – dispõem de condições biofísico-químicas favoráveis à instalação de germes e consequente desenvolvimento de infecções especí- ficas. O material chegado à mucosa sadia pode origi- nar-se do contato direto com outra mucosa doente ou ser trasnportado por algum veículo ou vetor. A Neisse- ria gonorrhhoeae, responsável pela blenorragia e pela
  • 20. 20 oftalmia neonatorum, e as clamídeas, responsáveis por alguns tipos de uretrites e pelo tracoma, são exemplos de micro-organismos que penetram pelas mucosas, aí permanecendo e desenvolvendo estado patológico. O Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas, pode penetrar pela mucosa ocular e daí invadir a corrente san- guínea e outros tecidos. O Schistosoma mansoni é outro agente que penetra no hospedeiro pelas mucosas. (8) Penetração através de solução de continuidade: Feridas cirúrgicas, ferimentos acidentais, tecidos necro- sados, queimaduras, escarificações, e, de forma geral, toda descontinuidade da pele pode servir de porta de entrada para agentes infecciosos. Esses podem ter sido depositados sobre a pele antes de ocorrido o seu rom- pimento naquele ponto e introduzidos durante o pro- cesso ou podem vir a ser aí depositados por vetores ou veículos após a ocorrência da lesão. São conhecidos casos de tétano produzidos por contaminação do coto umbilical pela deposição intencional de excremento animal, usado como curativo. No entanto, a penetra- ção do Clostridium tetani não se dá, na maioria dos casos, de forma tão inusitada, sendo a penetração mais simples. Os esporos são veiculados por poeira e terra contaminadas com fezes humanas ou de animais. Em alguns casos, o ferimento que deu acesso ao esporo é tão insignificante que passa despercebido. O Trypano- soma cruzi pode ser levado à circulação com o rompi-
  • 21. 21 mento da pele por ação da unha no ato de coçar locais onde o barbeiro defecou ao sugar sangue. (8) Deposição sobre a pele seguida de propagação localizada: os agentes etiológicos das dermatofitoses (fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton) tem acesso ao couro cabeludo, às unhas e à pele, por contato direto com indivíduos infectados, ou indireta- mente por contato com objetos, pisos úmidos, instru- mentos de barbearia e manicure. (8) Introdução no organismo com auxílio de objetos e instrumentos: neste caso, o acesso pode se dar pelos orifícios naturais ou através de perfurações cirúrgicas ou acidentais. A transmissão por transfusão de sangue poderia também ser enquadrada neste item, considerando que a penetração do bioagente se dá por intrusão no corpo, com auxílio de objeto mecânico. Uma grande parte das infecções hospitalares relaciona- se a este mecanismo. (8) Introdução em tecido muscular ou na corrente sanguínea, por picadas de inseto ou por mordedura de animais: através de sua probóscida introduzida na pele, fêmeas dos mosquitos anofelinos injetam cargas de plasmódios sob a forma de esporozoítas, que darão ori- gem à malária. Mosquitos do gênero Culex são respon- sáveis pela introdução, no organismo do hospedeiro, de
  • 22. 22 larvas infectantes de Wuchereria bancrofti, agente cau- sal da filariose. Neste caso também a penetração se faz por inoculação através da probóscida do mosquito. Os agentes causais do calazar (leishmaniose visceral) e da úlcera de Bauru (leishmaniose tegumentar) são intro- duzidos no organismo suscetível através da picada da fêmea do mosquito flebótomo. O vírus rábico é intro- duzido no organismo de seres humanos por mordedura lacerante de cães e gatos infectados, e em bovinos, por mordedura de morcego. (8) Penetração ativa direta do bioagente patogê- nico: a transmissão da sarna ocorre quando indivíduos infectados com Sarcoptes scabiei entram em contato com susceptíveis. As fêmeas recém-fecundadas do agente infeccioso abandonam o seu hospedeiro atual e penetram ativamente o novo hospedeiro. Cercárias de Schistosoma mansoni saídas do seu hospedeiro inter- mediário, molusco do gênero Biomphalaria e vivendo em coleções de água doce, penetram ativamente pela pele de pessoas suscetíveis que estejam imersas na água durante o trabalho ou recreação. Larvas infectantes de Strongyloides stercoralis, agente da estrongiloidí- ase, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliensis, agentes da dermtite serpiginosa (larva migrans), podem penetrar ativamente na pele de pessoas que caminham com os pés descalços, a partir do solo contaminado. (8)
  • 23. 23 1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO As doenças infecciosas e parasitárias relaciona- das ao trabalho apresentam algumas características que as distinguem dos demais grupos: os agentes etiológi- cos não são de natureza ocupacional, e sim as condições ou circunstâncias em que o trabalho é executado é que são favorecedoras do contato, contágio ou transmissão. São causadas por agentes que estão disseminados no meio ambiente, dependentes de condições ambientais e de saneamento e da prevalência dos agravos na popu- lação geral; vulneráveis às políticas gerais de vigilância e da qualidade dos serviços de saúde. A delimitação ambiente de trabalho/ambiente externo é frequente- mente pouco precisa. (8) As consequências para a saúde da exposição a fatores de risco biológico presentes em situações de trabalho, além dos quadros de infecção aguda e crô- nica, incluem as reações alérgicas e tóxicas. Um amplo espectro de planas e animais produz substâncias alergê- nicas, irritativas e tóxicas com as quais os trabalhado- res entram em contato, diretamente, através de picadas ou mordeduras ou através de poeiras contendo pelos, pólen, esporos de fungos. (8) A maioria das infecções resulta de exposição não ocupacional. Entretanto, alguns ambientes ou doenças específicas sugerem que sua origem foi prove- niente da exposição ocupacional. Os trabalhadores da
  • 24. 24 área de saúde, nos seus vários âmbitos, quer estejam em centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios, e os profissionais de saúde que realizam investigações de campo – vigilância da saúde, controle de vetores, e aqueles que lidam com animais, mantêm contato direto com pacientes ou vetores transmissores de moléstias infecciosas. Em se tratando de organismos cuja trans- missão se faz através de aerossóis, o risco de contrair a doença é várias vezes maior para o trabalhador da área de saúde do que para a população geral. O risco também é grande no tocante à manipulação de material perfurocortante e no ato de procedimentos invasivos. Neste cenário, torna-se importante redobrar a atenção quanto às precauções universais, imunizações, manipu- lação de material contaminado e perfurocortante, e ao hábito de lavar as mãos antes e após cada exame. (8) Os trabalhadores que mantêm contato ou mani- pulam animais também possuem risco aumentado para contrair certas infecções, principalmente os trabalhado- res na agricultura, as pessoas que trabalham em habitat silvestre (silvicultura), em atividades de pesca, produção e manipulação de produtos animais – abatedouros, cur- tumes, frigoríficos, indústria alimentícia, de carnes, pes- cados, zoológicos e clínicas veterinárias, além dos que lidam com pesquisas científicas em espécies animais. (8) É importante destacar que além das infecções propriamente ditas, algumas proteínas lideradas através da urina, pela e outros tecidos animais, podem ser car-
  • 25. 25 readas como aerossóis, causando erupções, sintomas alérgicos ou até mesmo asma ocupacional. (8) Os trabalhadores que lidam com dejetos de esgoto ou lixo, principalmente onde não há condições de sanitarismo e proteção adequadas, estão também expostos a vários riscos biológicos. (8) A suspeita clínica de possível doença ocupacio- nal deve ser valorizada sempre que um paciente perten- cer a um grupo onde o risco de exposição a patógenos biológicos é aumentado. A avaliação mais específica dependerá muito da apresentação clínica e dos diagnós- ticos diferenciais. Quando se cogitar em origem ocupa- cional, a história detalhada deve ser tomada no sentido de elucidar precisamente como a exposição ocorreu. A avaliação do local de trabalho através da visita/inspeção ao espaço físico é mandatória para se compreender o ambiente, as funções e as atividades cotidianas, deter- minando com mais clareza os riscos aos quais os traba- lhadores estão expostos. Dependendo das circunstân- cias e dos recursos disponíveis, uma equipe composta por médico e enfermeiro do trabalho, engenheiro e higienista industrial, e até um especialista em biossegu- rança, deverá determinar a necessidade de desencadear uma série de ações a nível individual e coletivo. Deve-se lembrar sempre da notificação compulsória de determi- nadas doenças para a vigilância sanitária local. (8) Mesmo para doenças comuns na sociedade, não há um parâmetro limítrofe bem estabelecido de
  • 26. 26 quando se deve iniciar uma investigação para explicar o surgimento simultâneo de alguns problemas médicos dentre uma comunidade de trabalhadores. A natureza da doença, sua prevalência na população de trabalhado- res sob risco, e o padrão de desenvolvimento de surto são critérios importantes para avaliar tais situações. (8) Em síntese, a relação com o trabalho pode ser estabelecida através de: •Coletacriteriosadehistóriaocupacionalcompleta; • Comparação com dados e estudos epidemio- lógicos e de literatura científica; • Solicitação de perfil profissiográfico do traba- lhador à empresa; • Solicitação de dados e avaliações ambientais à empresa; • Inspeção na própria empresa/local de trabalho. Na tabela 1.2 alguns exemplos de ocupações e suas doenças infecciosas relacionadas. Açougueiro Explorador de cavernas Construção civil em grandes áreas Antraz, Tularemia, Erisipelóide Bartonella henselae, celulite por pasteurella, raiva, histoplasmose Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Leishmaniose, Malária
  • 27. 27 Tularemia, Salmonelose, Triquinose Pracoccidioidomicose Brucelose, Febre Q, Tinea barbae Hepatite A, Rubéola, Citomegalovirus e outras doenças da infância Hepatites B e C, AIDS Larva migrans cutânea, Ascaridíase, Ancilostomíase Ycobacterium marinum Paracoccidioidomicose, Histoplasmose Raiva, Antraz, Brucelose,Tétano, Leptospirose, Tularemia, Paracoccidioidomicose, Histoplas- mose, Ascaridíase, Esporotricose, Ancilosto- míase, Esquistossomose Erisipelóde (Erysipelothrix insidiosa), Esquis- tossomose, Mycobacterium marinum Esporotricose, larva migrans cutânea Tularemia Tifo Brucelose, Leptospirose, Febre Q, Salmonelose, Estafilococcias Hepatites B e C, AIDS, Tuberculose, etc. Antraz, Brucelose, Psitacose, Dermatofitoses, Erisipelóide, Raiva, Tularemia, Salmonelose Psitacose Leptospirose, Ascaridíase, Ancilostomíase Dermatofitoses Processamento de alimentos Engenho de algodão Trabalho com gado leiteiro Trabalho em creches Dentistas Cavador de fossas Mergulhador Operador de escavadora Trabalho em lavoura Pescador/Comerciante de peixes Jardineiro/Florista Trabalho com pele de animais Trabalho em armazéns de grãos Trabalho em abatedouro Médico/Enfermeiro Veterinário/Comércio de animais Criador de pássaros Trabalho em limpeza urbana Lavadeira
  • 28. 28 1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS Através da Portaria 1.339 de 18 de novembro de 1.999, é instituído a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, onde também há uma lista de Doenças Infecciosas e Parasitárias Relacionadas ao Trabalho, como segue abaixo.
  • 29. 29
  • 30. 30
  • 31. 31 Tuberculose É a doença mais comum da humanidade, e representa a principal doença infecciosa responsável pela mortalidade de jovens e adultos. Ainda é impor- tante problema de saúde pública mundial. Em rela- tório da Organização Mundial de Saúde estima-se que um terço da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, com oito milhões de novos casos de três milhões de mortes devidas à doença, por ano. (8) No Brasil havia 35 a 45 milhões de pessoas infectadas no início da década de 1990, sendo espe- rados 100.000 novos casos e certa de 6.000 mortes por ano (incidência de aproximadamente 54/100.000 habitantes). (8) O micro-organismo responsável pela tubercu- lose humana é o Mycobacterium tuberculosis, desco- berto por Robert Koch, em 1882. Por ser um aeróbio estrito, infecta os pulmões e aí se localiza preferencial- mente. A presença de oxigênio facilita sua multiplica- ção, e a ligação do órgão com o meio externo favo- rece sua transmissão. Como não há resposta imediata do hospedeiro, ele cresce no interior do organismo, durante certo tempo, sem nenhum obstáculo. A trans- missão é aerógena através da eliminação de partículas com bacilos em suspensão por perdigotos favorecidos pela tosse, fala ou espirro. (8)
  • 32. 32 O conceito que dominou a medicina até o iní- cio do século XX foi o de ausência de risco de infecção para profissionais de saúde e para outras pessoas em con- tato com pacientes tuberculosos. A partir da década de 1920, vários estudos demonstraram maior incidência de tuberculose entre enfermeiras, médicos e estudantes de medicina. Aos poucos, foram surgindo relatos de tuber- culose em outros membros da equipe de saúde, como técnicos de laboratório e de anatomia patológica, mos- trando que o risco de infecção é diretamente proporcio- nal ao contato do profissional com o paciente. (8) Em determinados trabalhadores, a tubercu- lose pode ser considerada “doença relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as condições de trabalho podem favorecer a exposição a Mycobacterium tuberculosis ou a Myco- bacterium bovis, como no caso de trabalhadores em laboratórios de biologia, e em atividades que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes bacilíferos.(9) Em trabalhadores expostos a poeiras de sílica ou portadores de silicose, a tuberculose e a sílico-tubercu- lose deverão ser consideradas como “doenças relaciona- das com o trabalho”, do Grupo III da Classificação de Schilling, uma vez que a exposição à sílica pode favorecer a reativação da infecção tuberculosa latente, pois os cristais de sílica no interior dos macrófagos alveolares deprimem sua função fagocitária e aumentam sua destruição. (9)
  • 33. 33 A tuberculose representa também risco ocupacio- nal para trabalhadores em laboratórios e salas de necropsia. Os riscos para pessoal de laboratório incluem a manipu- lação de recipientes contaminados, escarros mal fixados, geração de aerossol. Durante a realização de exames. Para os trabalhadores em sala de necropsia, o exame em cadá- veres de pacientes com tuberculose não diagnosticada em vida constitui o principal risco. O risco estimado destes profissionais adquirirem tuberculose é de 100 a 200 vezes maior do que o da população geral na Inglaterra (Collins & Grange, 1999). (8) O risco de dentistas contraírem tuberculose de SUS pacientes é relativo ao ambiente de trabalho, e mais diretamente relacionado ao perfil sócio econômico dos seus pacientes. Este risco pode ser reduzido através de vigilância, educação e atenção ao perfil do paciente aten- dido (Anders e cols., 1998). (8) Carbúnculo É uma zoonose causada pelo Bacillus anthracis, microrganismo gram-positivo, manifestando-se, no ser humano, em três formas clínicas: cutânea, pulmonar e gastrintestinal. A meningite e a septicemia podem ser complicações de todas essas formas. (9) A doença tem distribuição mundial e ocorre em casos isolados no decorrer do ano, ocasionalmente na forma de epidemias. Decorre da exposição humana ao
  • 34. 34 bacilo, em atividades industriais, artesanais, na agricul- tura ou em laboratórios, estando, portanto, associada ao trabalho, como, por exemplo, pelo contato direto das pessoas com pelos de carneiro, lã, couro, pele e ossos, em especial de animais originários da África e Ásia. Nas atividades agrícolas, ocorre no contato do homem com gato, porco, cavalo doente ou com partes, derivados e produtos de animais contaminados. (9) Os principais grupos de risco são os tratadores de animais, pecuaristas, trabalhadores em matadouros, curtumes, moagem de ossos, tosa de ovinos, manipula- dores de lã crua, veterinários e seus auxiliares. Por sua raridade e quase especificidade em determinados traba- lhadores, pode ser considerada doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classifi- cação de Schilling. (9) Leptospirose É uma zoonose ubiquitária causada por uma espiroqueta patogênica do grupo Leptospiracea. A apresentação clínica é variável, com formas assintomá- ticas ou leves até quadros graves, que se manifestam com icterícia, hemorragias, anemia, insuficiência renal, comprometimento hepático e meningite. A recupera- ção é, geralmente, total em 3 a 6 semanas. A gravidade da infecção depende da dose infectante, da variedade sorológica da Leptospira e das condições do paciente. O
  • 35. 35 período de incubação é variável, de 3 a 13 dias, podendo chegar a 24 dias. (9) As leptospiroses constituem verdadeiras zoo- noses. Os roedores são os principais reservatórios da doença, principalmente os domésticos. Atuam como portadores os bovinos, ovinos e caprinos. A transmis- são é realizada pelo contato com água ou solo conta- minados pela urina dos animais portadores, mais rara- mente pelo contato direto com sangue, tecido, órgão e urina destes animais. Não há transmissão inter-humana, exceto a intrauterina para o feto. (9) A leptospirose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem atividades em contato direto com águas contaminadas ou em locais com dejetos de animais portadores de germes, como nos trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, gale- rias e esgoto; em cursos d’água e drenagem; contato com roedores e com animais domésticos; preparação de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios e em outras atividades assemelhadas. (9) Em determinados trabalhadores, a leptospirose pode ser considerada como doença relacionada ao tra- balho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição à Lep- tospira podem ser consideradas como contribuintes, no conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9)
  • 36. 36 Tétano É uma doença aguda produzida pela potente neurotoxina (tetanospasmina) do Clostridium tetani. A toxina tetânica impede a inibição do arco reflexo da medula espinhal, promovendo reflexos excitatórios tônicos típicos, em múltiplas regiões do organismo. (9) O C. tetani é um bacilo anaeróbio, encontrado na natureza em ampla distribuição geográfica sob a forma de esporos, no solo, principalmente quando tratado com adubo animal, em espinhos de arbustos e peque- nos galhos de árvores, em águas putrefatas, em pregos enferrujados sujos, em instrumentos de trabalho ou latas contaminadas com poeira da rua ou terra, em fezes de animais ou humanas, em fios de sutura e agulhas de inje- ção não convenientemente esterilizados. (9) É disseminado pelas fezes de equinos e outros animais e infecta o homem quando seus esporos pene- tram através de lesões contaminadas, em geral de tipo perfurante, mas também de dilacerações, queimaduras, coto umbilical não tratado convenientemente, etc. A presença de tecido necrosado, pus ou corpos estranhos facilita a reprodução local do bacilo, que não é invasivo e age à distância por sua toxina. (9) A exposição ocupacional em trabalhadores é relativamente comum e dá-se, principalmente, em aci- dentes de trabalho (agricultura, construção civil, mine- ração, saneamento e coleta de lixo) ou em acidentes
  • 37. 37 de trajeto. A doença em trabalhadores decorrente de acidente de trabalho poderá ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classi- ficação de Schilling. (9) A psitacose ou ornitose é uma doença infecciosa agudaproduzidaporclamídias(C.psittacieC.pneumoniae). A enfermidade, em geral, é leve ou moderada, podendo ser grave em idosos sem tratamento adequado. (9) A psitacose é quase sempre transmitida aos seres humanos por via respiratória. Em raras ocasiões a doença pode ser contraída através da bicada de um pássaro. O contato prolongado não é essencial para a transmissão da doença. Alguns minutos passados no ambiente previamente ocupado por uma ave infectada tem resultado em infecção humana. (8) O período de incubação varia de uma a quatro semanas, e a transmissibilidade dura semanas ou meses. (8) As fontes mais frequentes de infecção da C. psittaci são periquitos, papagaios, pombos, patos, perus, canários, entre outros, que transmitem a infecção por meio de suas fezes dessecadas e disseminadas com a poeira, sendo aspiradas pelos pacientes. Apesar de rara, é possível a transmissão via respiratória, de pessoa a pessoa, na fase aguda da doença. É uma zoonose que acomete trabalhadores de criadouros de aves, clínicas veterinárias, zoológicos e de laboratórios biológicos. A C. pneumoniae infecta somente seres humanos, sendo transmitida de pessoa a pessoa. Por sua raridade
  • 38. 38 e relativa especificidade, a psitacose/ornitose poderá ser considerada como doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling, nos trabalhadores de granjas e criadores de aves (patos, gansos, periquitos, pombos, etc.), emprega- dos de casas de comércio desses animais, veterinários, guardas florestais e outros em que se confirme as cir- cunstâncias de exposição ocupacional. (9) Dengue É uma doença aguda febril, endemo-epidêmica, causada por um dos Flavivírus do dengue (família Toga- viridae), com quatro tipos sorológicos (1, 2, 3 e 4). Os seres humanos são reservatórios e a transmissão ocorre pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, A. albopictus e o A. scutellaris. Após repasto de sangue infectado, o mosquito estará apto a transmitir o vírus após 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, alimenta-se num hospe- deiro suscetível próximo. Não há transmissão por con- tato direto de um doente ou de suas secreções para uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. (9) O período de incubação da doença é de 3 a 15 dias, em média de 5 a 6 dias. O período de transmissibi- lidade ocorre durante o período de viremia, que começa um dia antes da febre até o sexto dia da doença. Quando
  • 39. 39 o agente etiológico for conhecido, o nome completo da doença será dengue por vírus tipo 1 ou dengue por vírus tipo 2, etc. (9) O dengue pode ser considerado como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, uma vez que as circunstâncias ocupacio- nais da exposição aos mosquitos vetores (Aedes) e/ou aos agentes infecciosos (Flavivírus) podem ser consi- deradas como fatores de risco, no conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) O dengue relacionado ao trabalho tem sido descrito em trabalhadores que exercem atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em laboratórios de pesquisa, entre outras atividades em que a exposição ocupacional pode ser identificada. (9) Febre amarela É umadoençafebrilagudacausadapeloFlavivírus da febre amarela (família Togaviridae), com quadro clínico variável, desde formas inaparentes até as graves e fatais. A transmissão se faz pela picada dos mosquitos infectados A. aegypti na febre amarela urbana (FAU) e Haemagogus na febre amarela silvestre (FAS). O período de incubação é de 3 a 6 dias, após a picada do mosquito infectado, e o período de transmissibilidade é de 24 a 48 horas, antes do aparecimento dos sintomas de 3 a 5 dias após. (9) A febre amarela persiste na América do Sul
  • 40. 40 apenas como enzootia de macacos, tendo por trans- missores mosquitos dos gêneros Haemagogus e Aedes. Os casos humanos, pouco numerosos, incidem entre as pessoas que trabalham ou mantêm contato com as florestas. A febre amarela urbana teve o homem como único reservatório e o A. aegypti como transmissor, na América do Sul. Outros trabalhadores eventualmente expostos, por acidente, incluem os que exercem ativida- des de saúde pública e que trabalham em laboratórios de pesquisa, agricultores, trabalhadores florestais, em extração de madeira, em áreas e regiões afetadas. (9) Por sua raridade e por sua relativa especifici- dade, a febre amarela em determinados trabalhadores poderá ser considerada como doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classifi- cação de Schilling. (9) Hepatite É termo genérico para inflamação do fígado que, convencionalmente, designa alterações degene- rativas ou necróticas dos hepatócitos. Pode ser aguda ou crônica e ter como causa uma variedade de agentes infecciosos ou de outra natureza. O processo inflamató- rio do fígado é caracterizado pela necrose hepatocelular difusa ou irregular, afetando todos os ácinos. Suas cau- sas principais são as viroses devidas ao vírus da hepatite A (HAV), ao vírus da hepatite B (HBV), ao vírus da
  • 41. 41 hepatite C (HCV), ao vírus da hepatite D (HDV) e ao vírus da hepatite E (HEV). (9) Na hepatite viral A, a fonte de infecção é o próprio homem (raramente os macacos) e a transmis- são é direta, por mãos sujas (circuito fecal-oral) ou por água (hepatite dos trabalhadores por águas usadas) ou por alimentos contaminados. Vários surtos têm sido descritos em creches, escolas, enfermarias e unidades de pediatria e neonatologia, com taxas de transmissão que giram em torno de 20% em trabalhadores sus- cetíveis. Nos EUA, a prevalência em trabalhadores da saúde varia de 35 a 54% (comparado com 38% da população geral). (9) A maioria dos dados estatísticos que se refe- rem à hepatite A em trabalhadores da saúde aponta os enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem como principal grupo acometido ou em risco. Dentre os médicos e dentistas, aqueles que lidam com crian- ças estão mais expostos. (8) Os trabalhadores do setor de lavanderia hospi- talar, especialmente os manipuladores de tecidos antes de serem lavados, apresentam taxa elevada de anticor- pos IgC para o VHA (Borg & Portelli 1999). (8) Os trabalhadores responsáveis pela coleta de lixo estão entre os grupos ocupacionais de risco, na dependência direta de suas condições de trabalho. (8) Na hepatite viral B o vírus é encontrado em todas as secreções e excreções do corpo, mas, apa-
  • 42. 42 rentemente, apenas o sangue, o esperma e a saliva são capazes de transmiti-lo. A infecção é adquirida, em geral, por ocasião de transfusões, de injeções per- cutâneas com derivados de sangue ou uso de agulhas e seringas contaminadas ou, ainda, por relações sexuais, homossexuais masculinas ou heterossexuais. Nos traba- lhadores da saúde, a soroprevalência de HBV é de 2 a 4 vezes maior e a incidência anual é de 5 a 10 vezes maior do que na população em geral. (9) Na hepatite viral C a soroprevalência em tra- balhadores da saúde parece ser similar à da popula- ção geral. A soroconversão dos trabalhadores que se acidentam com material contaminado ocorre em 1,2 a 10% dos trabalhadores acidentados. Estima-se que 2% dos casos devem-se à exposição ocupacional. (9) A hepatite viral D é endêmica na Amazônia Ocidental, onde, em associação com o vírus da hepa- tite B, é o agente etiológico da chamada febre negra de Lábrea, de evolução fulminante. (9) Portanto, em determinados trabalhadores, as hepatites virais podem ser consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstân- cias ocupacionais da exposição aos vírus podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9)
  • 43. 43 HIV Vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um distúrbio da imunidade mediada por célula, causado por um vírus da subfamília Lentivirinae (família Retroviri- dae), caracterizada por infecções oportunistas, doenças malignas (como o sarcoma de Kaposi e o linfoma não -Hodgkin), disfunções neurológicas e uma variedade de outras síndromes. A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS ou SIDA) é a mais grave manifestação de um espectro de condições HIV-relacionadas. O risco de que pessoas infectadas, não tratadas, desenvolvam a AIDS é de 1 a 2% por ano nos primeiros anos após a infecção e cerca de 5% nos anos seguintes. O risco acumulado de desenvolvimento da síndrome em infec- tados não tratados é de cerca de 50%. (9) Os profissionais de saúde constituem um grupo com características especiais de exposição ao HIV, devido às suas possibilidades de infectar-se durante as atividades do trabalho cotidiano. O número de situa- ções de contato com sangue, secreções e fluidos orgâ- nicos no trabalho, na área da saúde, é muito grande. (8) Desde o início da epidemia, a possibilidade de contaminação dos profissionais de saúde motivou investigações dirigidas à quantificação deste risco, e des- pertou os órgãos oficiais para a necessidade de medidas voltadas a sua redução. (8) O primeiro caso confirmado de contaminação
  • 44. 44 ocupacional pelo vírus HIV ocorreu em 1984, na Ingla- terra. Uma enfermeira sofreu acidente pefurocortante por agulha contendo sangue de uma paciente que se encontrava internada com pneumonia e era portadora do vírus HIV. Duas semanas após o acidente, a enfer- meira apresentou os sintomas de infecção aguda pelo HIV (febre, cefaleia, mialgia etc.). No segundo mês o seu soro revelava positividade para o vírus. Houve confirmação da transmissão ocupacional do HIV da paciente para a enfermeira. (8) A taxa de soroconversão pós-exposição ocupa- cional por ferimento percutâneo tem variado entre 0,1 e 0,4%, sendo maior em função do tamanho do inó- culo, da duração do contato e da extensão do ferimento. A literatura científica internacional registra cerca de 55 casos, confirmados até 1999, decorrentes de exposição ocupacional em trabalhadores de saúde, em decorrência de acidentes perfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado, manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados e contato com materiais provenientes de pacientes infectados. (9) Assim, em determinados trabalhadores, a doença pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling, posto que as circuns- tâncias ocupacionais da exposição ao vírus são acidentais ou ocorrem em condições específicas de trabalho, se bem documentadas e excluídos outros fatores de risco. (9)
  • 45. 45 Dermatofitose É o termo geral para infecções micóticas que afe- tam a superfície epidérmica, devido a fungos dermatófi- tos. Atacam tecidos queratinizados (unhas, pelos e estrato córneo da epiderme). As principais dermatofitoses são: Tinea capitis (Tinha tonsurante); Tinea favosa (Favo); Tinea barbae (Sicose); Tinea corporis; Tinea manuum; Tinea cruris; Tinea imbricata (Tinha escamosa); Tinea pedis e Tinea unguium, causadas por espécies dos gêne- ros Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton. (9) Em determinados trabalhadores, a dermatofi- tose e outras micoses superficiais podem ser considera- das como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circuns- tâncias ocupacionais da exposição aos fungos dermató- fitos podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) A dermatofitose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem atividades em con- dições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, giná- sios, piscinas, etc.) e em outras situações específicas. (9) Candidíase Infecção provocada por fungo da classe Saccha- romycetes leveduriformes do gênero Candida, sobre-
  • 46. 46 tudo pela Candida albicans. A transmissão é feita pelo contato com secreções originadas da boca, pele, vagina e dejetos de portadores ou doentes. A transmissão vertical se dá da mãe para o recém-nascido, durante o parto. Pode ocorrer disseminação endógena. O período de transmis- sibilidade dura enquanto houver lesões. (9) A candidíase relacionada ao trabalho poderá ser verificada em trabalhadores que exercem atividades que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, tais como trabalhadores de lim- peza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros, com exposi- ção ocupacional claramente caracterizada por meio de história laborativa e de inspeção em ambiente de traba- lho. Nesses casos, a candidíase poderá ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling. (9) Paracoccidioidomicose Infecção fúngica sistêmica, micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. A infec- ção dá-se por inalação de conídios em poeiras, em ambientes quentes e úmidos, com formação de foco primário pulmonar (assintomático) e posterior dis- seminação. Em pacientes com grande resistência imunológica, as formas são localizadas, com reação granulomatosa e poucos parasitos. Nos demais, os
  • 47. 47 parasitos são abundantes, os processos são predomi- nantemente exsudativos e as formas disseminadas predo- minam, com variados graus clínicos. (9) O trabalho com o solo e vegetais em área rural, a exemplo dos lavradores e operadores de máquinas agrícolas, é fator predisponente importante da paracoc- cidioidomicose. Inquérito epidemiológico realizado em 417 trabalhadores da mina Morro Velho em Nova Lima – MG detectou 13,4% de positividade em teste cutâneo para paracoccidioidomicose. (8) Portanto,emdeterminadostrabalhadores,apara- coccidiodomicose pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao fungo podem ser consideradas como fato- res de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta grave doença infecciosa. (9) Malária Doença infecciosa febril aguda, causada por parasitas do gênero Plasmodium (vivax, malariae, fal- ciparum, ovale), caracterizada por febre alta acom- panhada de calafrios, sudorese e cefaleia, que ocorre em padrões cíclicos, a depender da espécie do para- sito infectante. (9) A transmissão da doença é realizada por intermédio dos esporozoítas, formas infectantes do
  • 48. 48 parasita, inoculados no homem pela saliva da fêmea anofelina infectante. (9) Esses mosquitos, ao se alimentarem em indiví- duos infectados, ingerem as formas sexuadas do para- sita – gametócitos – que se reproduzem no interior do hospedeiro invertebrado, durante 8 a 35 dias, eliminando esporozoítas, durante a picada. A transmissão também ocorre por meio de transfusões sanguíneas, compartilha- mento de seringas, contaminação de soluções de conti- nuidade da pele e, mais raramente, por via congênita. (9) A transmissibilidade da infecção ocorre do homem para o mosquito enquanto houver gametócitos em seu sangue. O homem, quando não tratado, poderá ser fonte de infecção durante mais de 3 anos da malária por P. malariae, de 1 a 3 anos da malária por P. vivax e menos de 1 ano da malária por P. falciparum. (9) O período de incubação é, em média, de 7 a 14 dias para o P. falciparum, de 8 a 14 dias para o P. vivax e de 7 a 30 dias para o P. malariae. (9) A malária tem sido descrita em garimpeiros, agri- cultores, lenhadores, motoristas de caminhão, em trabalha- doresqueexercematividadesemmineração,construçãode barragens ou rodovias, extração de petróleo, e em outras atividades que obrigam a presença em zonas endêmica. (8) A malária pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos anofelinos transmissores podem ser consi-
  • 49. 49 deradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia da doença. (9) A malária relacionada ao trabalho tem sido des- crita em trabalhadores que exercem atividades em mine- ração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que obrigam à presença dos trabalhadores em zonas endêmicas. (9) Leishmaniose Leishmaniose ou leshmaníase por Leishmania braziliensis é zoonose do continente americano que apresenta, nos seres humanos, duas formas clínicas: a leishmaniose cutânea, relativamente benigna, e a leishma- niose cutaneomucosa, mais grave. É uma doença para- sitária da pele e mucosas, de caráter pleomórfico, trans- mitida pela picada de insetos flebotomíneos do gênero Lutzomia. Período de incubação: pode variar de 2 sema- nas a 12 meses, com média de um mês. (9) A leishmaniose comporta-se geralmente como doença profissional, ocorrendo em áreas onde se pro- cessam desmatamentos para a colonização de novas terras, construção de estradas e instalação de fren- tes de trabalho para garimpo, mineração, extração de madeira e carvão vegetal. Também estão expostos os profissionais que trabalham sob as matas nas planta- ções de cacau, extração de látex da seringueira. Outras atividades de risco são o treinamento militar nas selvas,
  • 50. 50 as expedições científicas e incursões de caçadores em áreas florestais. (8) Em determinados trabalhadores, a leishma- niose cutânea ou a cutaneomucosa pode ser conside- rada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstân- cias ocupacionais da exposição ao mosquito transmis- sor podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) A prevenção de doenças infecciosas e parasitá- rias relacionadas com o trabalho inclui medidas de edu- cação e informação sobre os efeitos e riscos à saúde, sobre os modos de transmissão e controle, pelo reco- nhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam agentes biológicos. (8) São medidas preventivas muito eficazes para ambientes onde há exposição prolongada ou poten- cialmente grave. O controle do ambiente visa conter os riscos biológicos em sua fonte, reduzir a concentração de aerossóis e limitar seu movimento pela atmosfera do trabalho. Sistemas de ventilação, ar condicionado e aquecimento devem ser adequadamente projetados e periodicamente vistoriados para prevenir a contamina- ção por fungos ou bactérias. Para ambientes fechados, 1.3 - PREVENÇÃO
  • 51. 51 tais como hospitais e laboratórios de pesquisa, a venti- lação deve ser projetada de modo a proporcionar fluxo unidirecional e dirigido. O ar proveniente de áreas com alto risco de contaminação por agentes infecciosos tais como enfermarias de pacientes isolados, pode ser des- contaminado através de filtração. (8) O uso de equipamentos de proteção individual está indicado toda vez que os riscos não forem total- mente eliminados através das medidas anteriores. Deve- se sempre calçar luvas quando em contato com secreções biológicas de qualquer tipo. O uso de aventais ou capo- tes, gorros, óculos especiais de proteção, devem sempre fazer parte dos cuidados dos que lidam com materiais, animais ou indivíduos potencialmente infectados. Deve- se salientar que máscaras cirúrgicas ordinárias somente protegem o paciente, o animal ou o produto, da exposi- ção de organismos exalados pelo trabalhador. Para que o trabalhador seja protegido de patógenos provenientes do ambiente é necessário que ele utilize máscaras especiais ou até respiradores específicos. (8) A manipulação, descontaminação ou arma- zenamento apropriados dos dejetos biológicos são importantes medidas de controle de infecção em qual- quer ambiente de trabalho. Em hospitais e laboratórios, os dejetos potencialmente infectados devem ser inicial- mente segregados dos outros dejetos e adequadamente identificados em embalagens próprias para resíduos bio- lógicos. Todas as lâminas e agulhas devem ser colocadas
  • 52. 52 em contêineres seguros e à prova de furos. Agulhas nunca devem ser encapadas ou cortadas antes de serem despre- zadas. A descontaminação pode ser alcançada através da esterilização, desinfecção ou antissepsia. (8) Para exposição a atentes patógenos de trans- missão sanguínea estão prescritas numa série de normas conhecidas como “Normas de Biossegurança ou Pres- crições Universais”, detalhadas na tabela 1.4. (8) Evitar contato direto com fluidos orgânicos: sangue, fluido cérebro-espinhal, sêmen, secreções vaginais, leite materno. Os demais como saliva, lágrima, suor, urina e líquido amniótico não são considerados meios de transmissão. * Colocar luva quando da presença de qualquer desses fluidos. A utilização de luvas é obrigatória quando da execução de punções venosas, em razão do extra- vasamento de sangue ser muito grande. * Se houver contato da boca com esses fluidos, lavar e fazer bochechos com água oxigenada a 3%. * Se houver contato com a pele, remover os fluidos cuidadosamente, lavar com água e sabão degermante; não usar escovinhas devido à escarifação da pele, a fim de evitar porta de entrada. A pele deve estar íntegra, sem abrasão ou cortes. * Usar máscaras durante os procedimentos em que exista a possibilidade de san- gue e outros fluidos corpóreos atingirem as mucosas da boca e nariz."27" * Usar óculos durante os procedimentos em que houver a possibilidade de que sangue e fluidos corpóreos atinjam os olhos, principalmente em procedimentos cirúrgicos, endoscópicos e em hemodiálise. * Usar aventais protetores durante procedimentos em que exista a possibilidade de contaminaçãodasroupasdostrabalhadoresdesaúdecomsangueoufluidoscorpóreos. 1.
  • 53. 53 2. 3. 4. 5. 6. Quando tiver alguma lesão de pele, tampá-la bem com curativo impermeável. Evitar picada de agulhas e lesões que provoquem solução de continuidade. * Não recapar as agulhas, pois esse é procedimento de risco. * Recolher as agulhas em local apropriado com solução de Hipoclorito de Sódio a 0,5%, e só depois colocá-las no lixo. * Caso haja picada de agulhas, pressionar imediatamente para expelir o sangue, lavar com água e sabão degermante e fazer curativo oclusivo. * Sempre usar luvas para procedimentos invasivos: injeção endovenosa, intramus- cular, colher sangue, passar sonda vesical, nasogástrica e traqueostomia. Lavar sempre as mãos com água e sabão e secá-las após atendimentos de cada paciente, inclusive ao se administrar cuidados no leito. Cuidados com o lixo e seu destino. * O lixo hospitalar deve ser coletado em saco plástico, amarrado e acondicionado em um novo saco mais resistente, amarrado e encaminhado para incineração. * A pessoa que coleta o lixo deve estar paramentada com luvas, avental e botas. Cuidados na limpeza com a unidade, utensílios e roupas de cama. * Fluido corpóreo no chão, bancada, mesa: jogar Hipoclorito de Sódio a 1% no local, por 30 minutos. * Manipular as roupas sem agitação. Recolhê-las e rotular“contaminado”. * Para lavar as roupas com fluidos contaminantes: detergente mais água a 71°C por 25 minutos; com temperatura inferior: deixar e molho em Hipoclorito de Sódio a 0,5% por 30 minutos.
  • 54. 54 A vacinação nos ambientes de trabalho é rea- lizada de acordo com indicações específicas. Existem algumas indicações gerais: • Os trabalhadores podem ser vacinados visando à proteção a organismos infecciosos tais como agentes do tétano e hepatite B; • Os profissionais de saúde podem ser vacina- dos, por exemplo, contra Influenza para evitar que con- taminem inadvertidamente algum paciente; • Algumas vacinas como a da febre amarela são recomendadas para trabalhadores em viagens a áreas endêmicas.
  • 55. 55
  • 56.
  • 57. 57 UNIDADE 2 | RISCO QUÍMICOS Os riscos químicos presentes nos locais de trabalho encontram-se na forma sólida, líquida e gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas, substâncias compostas e produtos químicos em geral. Poeiras, fumaças, névoas, gases e vapores estão dispersos no ar; trata- se dos aerodispersóides. (12) Poeira: as poeiras são partículas sólidas gera- das mecanicamente por ruptura de partículas meno- res. São classificadas em: • Poeiras minerais: sílica, asbesto e carvão mineral, por exemplo. As consequências são: silicose (quartzo), asbestose (amianto), penumoconiose dos minérios de carvão (mineral). • Poeiras vegetais: algodão e bagaço de cana- de-açúcar, por exemplo. As consequências são: bissi- nose (algodão), bagaçose (cana-de-açúcar) etc. • Poeiras alcalinas: calcário, por exemplo. As consequências incluem: doenças pulmonares obstru- tivas crônicas, enfisema pulmonar. • Poeiras incômodas: incluem consequências como interação com outros agentes nocivos presentes no ambiente de trabalho, potencializando sua nocividade.
  • 58. 58 Fumos: Trata-se de partículas sólidas produzidas a partir da condensação de vapores metálicos. Por exem- plo: fumos de óxido de zinco nas operações de sonda- gem de ferro. As consequências são: doença pulmonar obstrutiva, intoxicação específica de acordo com o metal. Névoas: as névoas são partículas líquidas que resultam da condensação de vapores ou da dispersão mecânica de líquidos. São exemplos: névoa resultante do processo de pintura a revólver, monóxido de car- bono liberado pelos escapamentos dos carros. Gases: diz respeito ao estado natural das substâncias em condições normais de temperatura e pressão. Exemplos: GLP, hidrogênio, ácido nítrico, butano, ozona etc. Vapores: os vapores consistem em dispersões de moléculas no ar que podem se condensar para for- mar líquidos ou sólidos em condições normais de tem- peratura e pressão. Por exemplo: gasolina, naftalina etc. Névoas, gases e vapores podem ser classifica- dos em: • Irritantes: causam irritação das vias aéreas superiores. Exemplo: ácido clorídrico, ácido sulfúrico, soda caustica, cloro, etc. • Asfixiantes: produzem dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Por exemplo: hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido de carbono, monóxido de carbono etc.
  • 59. 59 • Anestésicos: em sua maioria, incluem sol- ventes orgânicos, promovendo ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos a diversos órgãos, ao sistema for- mador de sangue (benzeno) etc. São exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tricloroe- tileno, benzeno, tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc. As vias de penetração dos agentes químicos são: via cutânea (pele); via digestiva (boca) e via res- piratória (nariz). A penetração dos agentes químicos no organismo depende de seu modo de utilização. Para avaliar o potencial tóxico das substâncias quí- micas, alguns fatores devem ser levados em consideração: • Concentração: quanto maior for a concentração, mais rapidamente seus efeitos nocivos irão se manifestar no organismo. • Índice respiratório: a quantidade de ar inalado pelo trabalhador durante a jornada de trabalho. • Sensibilidade individual: o nível de resistência varia de indivíduo para indivíduo. • Toxicidade: o potencial de ação tóxica da subs- tância no organismo. • Tempo de exposição: o tempo de exposição do organismo à substância contaminante.
  • 60. 60 2.1 – DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICOS 2.1.1 - DOENÇA RESPIRATÓRIA Há diversas formas de classificação das doenças ocupacionais pulmonares, baseadas na reação tecidual, nos tipos de agentes envolvidos ou no quadro clínico predominante. A tabela 2.1 mostra uma classificação destas doenças. (8) Trato respiratório alto • Irritação/inflamação de cavidades nasais e seios da face, faringe e laringe, por inalação de gases ou particu- lados irritantes e/ou tóxicos. • Rinite alérgica Trato respiratório baixo • Asma ocupacional (incluindo bissinose e síndrome de disfunção reativa das vias aéreas) Doenças do parênquima pulmonar • Pneumonites por hipersensibilidade • Pneumonites tóxicas Doenças pleurais • Derrame pleural 1. 2. 3. 4.
  • 61. 61
  • 62. 62 Doenças do trato respiratório alto Podem ser classificadas conforme sua localiza- ção e etiologia em: 1. Ulcerações e perfurações de septo nasal por ação direta devidas a metais pesados como cromo hexavalente e níquel, antimônio, arsênico e cobre (Newman, 1996) (8). 2. Rinites irritativas e/ou alérgicas secundárias à inalação crônica de substâncias de alto e baixo peso molecular com potencial alergênico, como material proteico animal, enzimas, isocianatos, anidridos ácidos e outros. Nesse tipo de situação pode ocorrer lesão de conjuntiva ocular e de outras mucosas de via aérea como orofaringe, e traqueia e eventuais sinusites secun- dárias ao processo obstrutivo alto. (8) 3. Rinolitíase formação de concreções na cavi- dade nasal secundárias à presença de substâncias higros- cópicas como o cimento (calcário calcinado, desidra- tado), podendo produzir desde apenas incômodo local até sangramentos (Parker, 1994) (8). 4. Carcinoma da cavidade nasal e laringe secun- dários à exposição a metais pesados como o cromo hexavalente e níquel e poeiras diversas contendo hidro- carbonetos aromáticos absorvidos nas mesmas, ou poeiras de madeiras (Doll, Morgan & Speizer, 1970; Spiegel & Sataloff, 1996; Vieren & Imbus, 1989). (8)
  • 63. 63 Asma ocupacional A definição mais citada é “a obstrução reversí- vel ao fluxo aéreo e/ou hiperresponsividade brônquica devido a causas e condições atribuíveis a um determi- nado ambiente de trabalho e não a estímulos externos” (Bernstein e cols., 1999). Esta definição é problemática, pois, com frequência, nota-se o desencadeamento de crises por estímulos inespecíficos tais como exercício físicos, infecções e outros (Burge & Moscato, 1999). (8) Trabalhadores com asma preexistente podem ter o quadro agravado por estímulos inespecíficos no ambiente de trabalho, assim como desenvolver sensibili- zação a agentes específicos. Esta primeira condição pode não ser considerada como AO, e sim como asma agravada pelas condições de trabalho (Chan-Yeung & Malo, 1995), mas, do ponto de vista prático deve ser investigada, orien- tada e encaminhada da mesma forma que a AO. (8) Os mesmos mecanismos que levam um agente ocupacional a causar asma são semelhantes aos meca- nismos da asma brônquica (Gandevia, 1970) e, pode ser assim sumarizados por ordem de importância: (8). 1. Broncocosntrição imunológica: é o tipo de reação mais comum em AO. A maior parte das respostas orgânicas é media por IgE específica, porém há casos em que também anticorpos da classe IgG estão envolvidos. (8) 2. Broncoconstrição inflamatória: exposições a
  • 64. 64 gases ou particulados irritantes, em altas concentrações, podem levar à inflamação das vias aéreas, atingindo ocasionalmente, a zona de trocas gasosas. (8) 3. Broncoconstrição reflexa: causada pela ação direta de particulados, gases e mesmo ar frio sobre os receptores da parede brônquica, levando a uma quebra do equilíbrio adrenérgico. (8) 4. Broncoconstrição farmacológica: alguns agentes ocupacionais têm o potencial de atuar como agonistas farmacológicos, apresentando uma ação semelhante a drogas, com relações dose-efeito. (8) Pneumonite por hipersensibilidade (PH) Manifestação clínica característica de um grupo de doenças pulmonares, resultantes da sensibilização por exposições recorrentes a inalações de partículas antigênicas derivadas de material orgânico e de algumas poucas substâncias químicas sintéticas. Na tabela 2.2 apresenta-se uma listagem de algumas denominações específicas da PH conforme o antígeno ou o ambiente de trabalho causador da mesma, o tipo de aerossol vei- culador do antígeno e o antígeno específico. (8)
  • 65. 65 Pneumonite tóxica ou edema pulmonar Resultantes a exposição de altas concentrações de gases irritantes, como amônia, cloro e dióxido de nitrogênio, a poeiras e fumos metálicos de berílio, cád- mio, mercúrio, níquel, vanádio e zinco, a produtos quí- micos de pH extremo ou fortemente reagentes, como o metilisocianato. Sua patogenia envolve diretamente Pulmão dos criadores de aves Bagaçose Pulmão dos trabalhado- res de malte, cogume- los, cortiça e boldo. Sequoiose Trabalhadores em serrarias, carpintarias e marcenarias Pulmão dos manipulado- res de animais e peixe Exposição a isocianatos Excremento e penas de aves Cana mofada Cascas e córtex mofados Poeira mofada Madeiras e poeira de madeira mofadas Epitélio animal, pro- teínas de peixe MDI/TDI Proteínas de aves Thermoactinomyces viridis T. sacharii Thermoactinomyces vulgaris. Aspergillus clavatus. Penicillium frequentans. Cryp- tostoma corticale Pullulania sp Alternania sp Proteína animal e de peixes Fungos saprófitos Hapteno inorgânico
  • 66. 66 a citotoxicidade das células mucosas, com liberação de proteínas séricas e mediadores da reação inflamatória. (8) Derrame pleural benigno Acometimentodediagnósticoretrospectivo,pois é necessário que o paciente seja acompanhado durante algum tempo para afastar outras possibilidades diagnós- ticas, como a tuberculose e o câncer de pulmão. Outros acometimentos pleurais como espessamento pleural em placas e espessamento pleural difuso, são mais prevalen- tes, associadas a exposição ao asbesto. (8) Bronquite crônica (BC) Limitação crônica ao fluxo aéreo (LCFA) são duas entidades distinta, podendo ou não estar relaciona- das. A principal causa de ambas é, sem dúvida, o taba- gismo, que agride tanto grandes vias aéreas, preferencial- mente acometidas na BC, como nas pequenas vias aéreas, preferencialmente acometidas na LCFA. (8) Há um consenso de que a exposição a poeiras na mineração de carvão leva a um aumento na prevalên- cia de BC, assim como as poeiras orgânicas, exemplo a poeira de algodão, também leva a um aumento de preva- lência de BC e LCFA. Assim, podemos dizer que o taba- gismo, as exposições ocupacionais e a poluição ambiental têm em ordem decrescente de grandeza, direta influência
  • 67. 67 em relação às doenças de vias aéreas. (8) Enfisema Estado de irritação respiratória crônica, de lenta evolução, quase sempre causada pelo fumo, mas também por outros agentes (poeira, poluentes, vapores químicos). No enfisema, os alvéolos transformam-se em grandes sacos cheios de ar que dificultam o contato do ar com o sangue, uma vez que foram destruídos os septos alveolares por onde passavam os vasos. (22)  Pneumoconioses São divididas em não-fribogênicas (ou “benig- nas”) e fibrogênicas de acordo com o potencial da poeira em produzir fibrose reacional. Apesar de existirem tipos bastante polares de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a asbestose, de um lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como não fibrogênicas produzirem algum grau de fibrose dependendo da dose, das condições de exposição e da origem geológica do material. (4) O Quadro 1, abaixo, apresenta uma lista de pneumoconioses com denominações mais específicas, seus agentes etiológicos e sua apresentação anatomo- patológica. Ressalte-se que a lista não é exaustiva, não
  • 68. 68 excluindo outras possibilidades etiológicas mais raras, ou ainda não contempladas pela literatura científica. (4) Silicose Asbestose Pneumoconiose do trabalhador do carvão (PTC) Silicatose Talcose Pneumoconiose por poeira mista Siderose Estanose Baritose Antimoniose Pneumoconiose porrochafosfática Pnemoconiose por abrasivos Sílica livre Todas as fibras de asbesto ou amianto Poeiras contendo carvão mineral ou vegetal Silicatos variados Talco mineral (silicato) Poeiras variadas contendo menos que 7,5% de sília livre Óxidos de ferro Óxidos de estanho Sulfatodebário(barita) Óxidos de antimônio ou Sb metálico Poeira de rocha fosfática Carbeto de silício (SiC) / Óxido de alumínio (Al2O3) Fibrose nodular Fibrose difusa Decomposição macular sem fibrose ou com diferenciados graus de fibrose Fibrose difusa ou mista Fibrose nodular e/ou difusa Fibrose nodular estrelada e/ou fibrose difusa Deposiçãomaculardeóxido deferroassociadoounãocom fibrosenodulare/oudifusa Deposiçãomacularsemfibrose Deposiçãomacularsemfibrose Deposiçãomacularsemfibrose Deposiçãomacularsemfibrose Fibrose nodular e/ou difusa
  • 69. 69 Silicose Doença respiratória causada pela inalação de poeira de sílica que produz inflamação, seguida de cicatrização do tecido pulmonar. A silicose decorre da exposição à sílica livre (quartzo), especialmente na mineração subterrânea de ouro, nas indústrias extrati- vas de minerais, no beneficiamento de minerais (corte de pedras, britagem, moagem, lapidação), nas indústrias de transformação (cerâmicas, marmorarias, abrasivos, fundições), na fabricação do vidro e de sabões, na cons- trução civil e, em algumas atividades como protéticos, Berilliose Pneumopatia por metais duros Pneumonites por hipersensibi- lidade (alve- olite alérgica extrínseca) Berílio Poeiras de metais duros (ligas deW,Ti, Ta contendo Co) Poeiras orgânicas contendo fungos, proteínas de penas, pelos e fezes de animais Granulomatose tipo sarcóide. Fibrose durante evolução crônica Pneumonia intersticial de células gigantes. Fibrose durante evolução Pneumonia intersticial por hipersensibilidade (infiltração linfocitária, eosinofilica e neutrofilica na fase aguda e neutrofilica na fase aguda e fibrose difusa na fase crônica)
  • 70. 70 jateadores de areia, trabalhos com rebolos ou esmeril de pedra, escavação de túneis, cavadores de poços e artis- tas plásticos. É uma das mais antigas doenças provoca- das pelo trabalho, sendo que atualmente, no Brasil, é a principal doença pulmonar de origem ocupacional. (22) Asbestose Doença pulmonar causada por depósitos de asbesto ou amianto, que é um silicato que ocorre na natureza sob a forma de fibras que podem ser fia- das e tecidas. A sua grande resistência à abrasão e ao calor, a alta resistência à tração e a grande fle- xibilidade das fibras, dão aos asbestos propriedades ainda não conseguidas por fibras artificiais. Assim, mais de mil usos industriais para o amianto têm sido descritos: misturado ao cimento, dá origem às placas e telhas de cimento-amianto, muito utilizadas para coberturas de edificações, e a tubulações de vários diâmetros e de baixo preço; é utilizado nas lonas de freio de automóveis, na fabricação de equipamentos individuais de proteção (luvas, aventais, capuzes, etc.) resistentes ao calor e ao fogo, na isolação térmica de caldeiras, tubulações de vapor e na isolação elétrica e térmica de equipamentos elétricos. Sob forma de pó, atinge os pulmões de indivíduos que estão expos- tos, tais como: mecânicos, operários de indústria de cimento-amianto etc. (22)
  • 71. 71 Pneumoconiose dos trabalhadores de carvão (PTC) Na pneumoconiose dos trabalhadores de carvão a deposição de poeiras desencadeia um pro- cesso inflamatório orquestrado inicialmente pelos macrófagos alveolares, de menor intensidade do que a gerada pelas partículas de sílica, mas suficiente para promover lesão do epitélio alveolar. Em decorrência, ocorre a passagem de partículas para o interstício e tem início a formação de acúmulos de carvão e de macrófagos com partículas fagocitadas, ao redor dos bronquíolos respiratórios, com presença de fibras de reticulina e deposição de pequena quantidade de colágeno. Estas lesões, conhecidas como mácula de carvão, medem cerca de 1 a 6mm. São intralo- bulares, pouco ou não visíveis à radiografia e geral- mente acompanhadas de enfisema focal adjacente às áreas das máculas. Com a progressão da doença, decorrente da continuada inalação ou mesmo após o afastamento da exposição, pode ocorrer a forma- ção de nódulos maiores, de cerca de 7 a 20mm, com presença de macrófagos com pigmento no seu inte- rior, presença de reticulina e aumento da quantidade de colágeno. Com a exposição crônica, os nódulos podem coalescer dando origem à forma de fibrose maciça progressiva (FMP). A FMP costuma ser bila- teral, predomina nos lobos superiores, lobo médio
  • 72. 72 e segmentos superiores dos lobos inferiores. Geral- mente são assimétricas, apresentando às vezes carac- terísticas de lesão maligna, podendo cavitar, com o paciente expectorando material enegrecido, conhe- cido como melanoptise. As lesões distinguem-se da FMP pela sílica por apresentar, na análise histopa- tológica, maior relação reticulina/colágeno, grande quantidade de poeira de carvão, feixes densos de reti- culina e colágeno e ausência de nódulos silicóticos. A FMP cursa mais frequentemente com dispneia, distúrbio ventilatório misto, hipertensão pulmonar e cor pulmonale. (4) O câncer de pulmão representa o princi- pal câncer diagnosticado no mundo. Vários fato- res, como raça, idade, sexo, localização geográfica e condição socioeconômica, influenciam as taxas nos diversos grupos. Os principais agentes etiológicos são o tabagismo, exposições ocupacionais, infecções virais e a presença de outras doenças pulmonares, especialmente as que causam fibrose pulmonar. Na tabela 2.4 traz a lista das principais subs- tâncias consideradas carcinogênicas para o trato respiratório, pela Agência Internacional para a Pes- quisa sobre o Câncer – IARC, da Organização Mun- dial da Saúde (IARC, 2000). A lista completa pode ser analisada no link: http://monographs.iarc.fr/ ENG/Classification/
  • 73. 73
  • 74. 74
  • 75. 75 2.1.12 - DOENÇAS DA PELE Agentes químicos provocadores de dermatoses ocupacionais, os principais são: 1. Irritantes - cimento, solventes, óleos de corte, detergentes, ácidos e álcalis. 2. Alérgenos - aditivos da borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do cimento, resi- nas, tópicos usados no tratamento de dermatoses. (3) Nas figuras 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4 observamos respectivamente: dermatite de contato; micropapuloeritematosas; dermatite alérgica cronificada e dermatite de contato irri- tativa forte. Todas por algum tipo de contato por cimento.
  • 76. 76 Nas figuras 2.5 e 2.6 dermatite alérgica de contato por bota de borracha.
  • 77. 77 2.1.3 DOENÇAS DO OLHO Ceratite Inflamação da córnea, aquelas provocadas pela exposição a agentes físicos e químicos no ambiente de trabalho podem ser agrupadas em tóxicas e alérgicas. O arsênico e o berílio podem ser responsáveis por qua- dros de natureza alérgica. A seiva ou suco de algumas plantas podem ser tóxicos. Entre os agentes listados como capazes de produzir ceratoconjuntivite estão: 1. Arsênico e seus compostos arsenicais; 2. Ácido sulfídrico (sulfeto de hidrogênio) em exposições muito altas. (8)
  • 78. 78 Inflamação coriorretiniana Inflamação da retina e do trato uveal, pode ser classificado como agudo ou crônico. Tem sido descrita em trabalhadores expostos ao manganês. (8) Neurite óptica Inflamação, degeneração ou desmielinização do nervo óptico. Entre as substâncias químicas tóxicas potencialmente causadores de neurite óptica estão: • Brometo de metila; • Cloreto de metileno (diclorometano) e outros solventes clorados neurotóxicos; • Metanol; • Sulfeto de carbono; • Tetracloreto de carbono. (8) Queimaduras químicas do olho São causas importantes de acidentes oculares no trabalho, podem ser produzidas por ácidos e bases fortes, ocorrendo frequentemente, quando essas subs- tâncias espirram ou derramam no olho. (8) O epitélio corneano intacto é resistente a alterações do pH, variando entre 4 e 10. Exposto a pH fora desse intervalo, o epitélio é rapidamente destruído, permitindo que a substância atinja níveis
  • 79. 79 profundos dos tecidos subjacentes. (8) Os ácidos fortes tendem a precipitar as prote- ínas, como foto x. As proteínas precipitadas formam uma barreira tampão, limitando a penetração do ácido no olho. Já as bases fortes saponificam os ácidos gra- xos, que rompem as membranas celulares e não for- mam, portanto, nenhuma barreira, permitindo a pene- tração contínua para todo o segmento anterior do olho, levando à sua destruição. Portanto, as queimaduras quí- micas por álcalis são mais devastadoras do que as cau- sadas por ácidos. (8) 2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO Há um certo número de medicamentos e produtos químicos que, por si só, podem lesar as estruturas da orelha interna, sejam cocleares ou ves- tibulares, seja temporária ou permanente. Entre os medicamentos, destacam-se os antibióticos amino- glicosídeos, os salicilatos, alguns diuréticos, alguns oncoterápicos e o quinino. Hoje em dia existe evi-
  • 80. 80 dência de propriedades ototóxicas de vários produ- tos químicos industriais, como certos fumos metáli- cos (chumbo, mercúrio, manganês, cobalto, arsênio), alguns gases asfixiantes (monóxido de carbono, nitrato de butila, tetracloreto de carbono e muitos solventes orgânicos, tolueno, xileno, estireno, n-he- xano, tetracloroetileno e dissulfeto de carbono). (8) Vários produtos químicos são reconhecida- mente neurotóxicos e podem afetar a audição ou equilíbrio agindo primeiramente no tronco ence- fálico ou nas vias auditivas/vestibulares centrais. (apud, Thomas-1985) A indicação de que alguns produtos químicos industriais podem alterar a fun- ção auditiva através de um processo ototóxico ou neurotóxico, ou da combinação destes dois proces- sos, deve ser considerada, especialmente quando se selecionam testes diagnósticos. (8) 2.1.5 DOENÇAS DO SANGUE As alterações do sangue provocadas por substâncias tóxicas agressoras ao sistema sanguí- neo são conhecidas desde o século XIX, quando foi descrito o primeiro caso de anemia aplástica pelo benzeno, em 1897, mas os conhecimentos tiveram impulso após a I Guerra Mundial, quando se verifi- cou a ação de gases tóxicos sobre o sangue (Simpó- sio “Leucopenia”, 1987; Rugo & Damon, 1990). (8)
  • 81. 81 O sistema sanguíneo, pela ação das substâncias tóxicas de origem ocupacional, pode apresentar alte- rações desde leves até graves e mesmo letais. Alguns tóxicos tem ação prevalente sobre a medula óssea e menor sobre o sangue periférico, enquanto outros apresentam ação inversa e outros, ainda, agem sobre o sangue e medula óssea concomitantemente. (8) As hemopatias profissionais podem ser con- sideradas segundo a sua patogenia relacionada com o agente tóxico ou ocupação. Ver tabela 2.5.
  • 82. 82 2.1.5 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO Estado confusional agudo Também chamado de delirium, caracteriza-se por um distúrbio mental orgânico, com alteração da consciên- cia, desatenção e pensamento incoerente. Classicamente, tem um início súbito, de horas a dias, um curso breve e flutuante, observando-se melhora rápida, quando o fator causal é identificado e removido. Entre as principais cau- sas do estado confusional agudo estão doenças do SNC,
  • 83. 83 doenças sistêmicas, abstinência de drogas e intoxicação por substâncias neurotóxicas, que podem estar presentes no ambiente de trabalho. Faz parte deste rol de substâncias os metais (chumbo, mercúrio, arsênio, manganês e tálio), os solventes (tolueno, dissulfeto de carbono, estireno, xileno, tricloroetileno brometo de metila, cloreto de metila, metanol e tetracloreto de carbono), os pesticidas (organo- fosforados, carvamatos, organoclorados e paraquat) e os gases (monóxido de carbono e óxido de etileno). (8) Encefalopatia tóxica crônica Também denominada “síndrome psico-orgâ- nica”, “síndrome neurastênica” ou “síndrome do pin- tor”, caracteriza-se por um quadro neuropsiquiátrico com alterações de personalidade, perda de memória, fadiga, depressão, e perda de interesse pelas atividades- diárias. Considerando-se que a maioria dos quadros de demência seja irreversível, tornam-se imprescindíveis a identificação e o tratamento daqueles possivelmente reversíveis (Sandoval- Orellana & Sallato, 1995). (8) Desde a década de 1970, inúmeros estudos têm demonstrado os efeitos neurocomportamentais da exposi- ção a solventes orgânicos. Contudo, com métodos de ava- liação e análise epidemiológica mais sofisticados, verificou- se que a correlação entre a exposição no local de trabalho e os distúrbios neurocomportamentais não é tão óbvia (apud Axelson, 2000). Como os solventes utilizados são geral-
  • 84. 84 mente misturas, é difícil identificar a substância química específica e estabelecer a relação dose-resposta. Também é difícil estabelecer a intensidade e a duração da exposição, dada à variabilidade das condições de trabalho. (8) Epilepsia A epilepsia designa uma ampla variedade de distúrbios neurológicos caracterizados por crise epilé- ticas recorrentes. Entre as causas de epilepsia no adulto estão: tumores, trauma cranioencefálico, acidente vas- cular cerebral, porém, a maioria dos distúrbios epiléti- cos permanece sem etiologia definida. (8) Na avaliação do trabalhador que desenvolve epilepsia deve ser considerado, o que é pouco fre- quente, que fatores presentes no trabalho sejam a causa da epilepsia. Como existem muitas etiologias associadas ao início de epilepsia, a história neurológica e exames de imagem devem ser solicitados para afastar anormalida- des intracranianas. Mesmo assim, pode ser difícil distin- guir convulsões relacionadas à exposição ocupacional de outras causas não relacionadas ao trabalho.(8) Quadros agudos de intoxicação por substâncias químicas de origem ocupacional podem produzir con- vulsões. Algumas dessas substâncias são (metais como alumínio, chumbo, mercúrio, solventes, benzeno, meta- nol, etc., e os gases como monóxido de carbono, sulfeto de hidrogênio, cloreto de metila, etc.). Nestes casos,
  • 85. 85 algumas dessas substâncias podem ser detectadas no sangue ou na urina. A exposição ao agente tóxico, com manifestações agudas, produz, frequentemente, sinais e sintomas sistêmicos, facilitando o nexo causal. (8) Cefaleia A cefaleia primária abrange a maioria dos qua- dros observados em trabalhadores. Nos casos em que cefaleia está relacionada à exposição a certas substân- cias neurotóxicas, como no caso da exposição a nitra- tos, a descrição cuidadosa das condições de apareci- mento do sintoma pode auxiliar o estabelecimento do nexo. Devem ser exploradas as informações relativas ao momento de início da cefaleia, se após chegar ao local de trabalho, ou ao seu término, a ausência de cefaleia quando não está trabalhando e presença de níveis ele- vados de substâncias químicas no local de trabalho, ou ainda a presença da cefaleia nos períodos de suspensão do trabalho, como nas folgas ou nas férias. (8) Parkinsonismo secundários É uma síndrome clínica caracterizada pela com- binação de tremor em repouso, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural, que se apresentam em vários graus de gravidade. (8) No Brasil, é clássica a descrição de parkinso-
  • 86. 86 nismo secundário à exposição ao manganês em traba- lhadores de uma fundição de ferro-manganês feita por Antonio de Almeida, Jorge da Rocha Gomes e Pedro Augusto Zaia (Almeida e cols., 1970), seguida pelos estudos realizados em Minas Gerais, por Chrysóstomo Rocha de Oliveira, Elizabeth Costa Dias e Eduardo Henrique Lauar (Oliveira e cols., 1974). (8) As principais substâncias neurotóxicas pre- sentes em situações de trabalho capazes de causar a Doença de Parkinson secundária são classificadas de acordo com o grau de associação já estabelecida, pos- sível ou potencial, e estão mostradas na tabela 2.5. (8) O parkinsonismo secundário decorrente da exposição a substâncias neurotóxicas pode asseme- lhar-se, clinicamente, à forma clássica da doença de Parkinson idiopática, além das doenças neuro e heredo- degenerativas chamadas de parkinsonismo plus, e além das outras causas de parkinsonismo secundário, dificul- tando o diagnóstico diferencial. (8)
  • 87. 87 Ataxia cerebelar Síndrome clínica caracterizada pela incapacidade de coordenar os movimentos voluntários, devido à lesão cerebelar. Pode manifestar-se quando o paciente está de pé, quando se põe a andar, ou, ainda, quando quer exe- cutar um movimento. As ataxias podem se classificadas em agudas e crônicas e em hereditárias e adquiridas. As ataxias de evolução crônica e progressiva tem usualmente natureza hereditária. A ataxia aguda é geralmente de etio- logia infecciosa, pós infecciosa ou tóxica. (8) A intoxicação crônica por mercúrio pode causar uma ataxia cerebelar, coreia e incefalopatia grave carac- terizada por déficit cognitivo e alterações psicológicas. Também pode estar associada a polineuropatia periférica do tipo axonal (sensitiva e motora). O tremor é postu- ral, cinético, de alta frequência, baixa amplitude, piora com as atividades e se assemelha ao do hipertireoidismo. Há também perda de sensibilidade vibratória e posicio- nal nos membros inferiores. A exposição prolongada ao agente tóxico pode levar à ataxia permanente, decorrente da neuropatia periférica e/ou encefalopatia com compro- metimento cerebelar, dependendo da idade do paciente, grau de exposição e a forma atômica do mercúrio. (8) Transtornos do nervo olfatório caracterizam- se por queixas de alterações quantitativas, manifestadas por redução, ausência ou, ainda, perversão do olfato, também denominada de parosmia, que decorre de alte-
  • 88. 88 rações corticais. A anosmia, ou perda da acuidade olfa- tória, é um achado relativamente comum que resulta da desmielinização das fibras do nervo olfatório. (8) Na literatura, são escassas as informações sobre a epidemiologia e os fatores de risco ocupacional refe- rentes aos transtornos olfatórios na população geral. Entretanto, certos grupos de trabalhadores expostos a substâncias irritantes podem apresentar problemas olfa- tórios em uma proporção 15 vezes maior do que os não expostos. Entre as substâncias químicas reconhecidas como potencialmente capazes de produzir efeitos tóxi- cos estão o cádmio; sulfeto de hidrogênio, poeira de cimento; ácido sulfúrico; formaldeído; acrilatos; solven- tes como tricloroetileno, benzeno, etilacetato, dissulfeto de carbono, tolueno; chumbo; cromo; níquel. (8) Transtornos do nervo trigêmeo Síndrome clinica caracterizada pela perda da sensibilidade cutânea da face, geralmente bilateral, acom- panhada de parestesia, com formigamento e queimação, além de prurido leve. A anestesia facial pode ocasionar ferimentos em volta das narinas, decorrente de trauma- tismos repetidos. O déficit motor do nervo trigêmeo não tem sido observado. Quando ocorre pode ser verificado pela fraqueza dos músculos mastigatórios. (8) Sobre a epidemiologia e os fatores de risco ocupacional, observa-se que a intoxicação ou a expo-
  • 89. 89 sição crônica aos derivados halogenados dos hidrocar- bonetos alifáticos, particularmente o tricloroetileno, é importante causa da neuropatia do trigêmeo. O triclo- roetileno e outros derivados halogenados dos hidrocar- bonetos alifáticos são utilizados como matéria-prima ou produtos finais em indústrias químicas; como solventes, na limpeza de peças e componentes; na indústria eletro eletrônica; como solventes em vernizes, tintas, adesivos, na indústria da construção; ou como desengraxantes em limpeza a seco de roupas e similares. (8) Polineuropatia Geralmente se apresenta de forma simétrica, afetando inicialmente os pés e posteriormente as mãos. Estas neuropatias podem comprometer fibras nervosas sensitivas, motoras ou autonômicas, isoladas ou em associação. (8) As manifestações mais comuns são fraqueza muscular, hiporreflexia, cãibras, mialgia, distúrbios sensitivos, como parestesias, disestesias, anestesias; dis- túrbios motores, com alteração da marcha; distúrbios tróficos, manifestados por queda de pelos e atrofia de pele, e distúrbios neurovegetativos, como, por exemplo, bexiga neurogênica, diarreia e impotência sexual. (8) Sobre a epidemiologia e os fatores de risco ocupacional relacionados à ocorrência de polineu- ropatias, as substâncias neurotóxicas mais frequen-
  • 90. 90 temente associadas à produção desses quadros são os metais chumbo, mercúrio, arsênio, estanho, tálio, cromo, manganês, ouro, zinco e antimônio; os sol- ventes n-Hexano, metil-butil-cetona, tetracloreto de carbono, matanol, benzeno, dissulfeto de carbono e tricloroetileno; os pesticidas organofostorados, car- bamatos, organoclorados; os gases monóxido de car- bono, óxido de etileno. (8) 2.1.6 DOENÇAS DO SISTEMA REPRODUTIVO Reprodução é um processo complexo e vulne- rável. A reprodução normal exige uma grande interação entre os processos anatômico e fisiológico. Os meca- nismos hormonais envolvidos na reprodução exigem interações precisas entre o hipotálamo, a pituitária, e o ovário ou testículo. (8) Exposições ocupacionais não são a causa da maioria dos distúrbios reprodutivos, mas a exposição ocupacional pode causar sérios problemas reprodu- tivos, que são inteiramente evitáveis. A exposição a determinado agente no local de trabalho pode mani- festar seus efeitos reprodutivos tanto em homens como em mulheres. Exposições tóxicas podem reduzir a fer- tilidade prejudicando os espermatozoides ou os óvulos. Podem ocorrer abortos se um embrião é afetado ou se complexas interações hormonais são bloqueadas. A exposição tóxica durante a gravidez pode causar mal-
  • 91. 91 formação ou morte do feto. Atribuem-se a algumas exposições, problemas neuropsiquiátricos ou cânceres descobertos mais tarde na infância. Outras exposições podem levar a problemas de saúde que não são detecta- dos antes da idade adulta. (8) Efeitos adversos causados pela exposição a toxi- cantes reprodutivos podem se manifestar em várias etapas do complexo processo da função reprodutiva, iniciando com a gametogênese e continuando na interação de game- tas (fertilização), desenvolvimento e crescimento embrio- nário e fetal, nascimento e maturação sexual da prole. (8) Efeitos da exposição tóxica na gametogênese A produção de óvulos e espermatozoides e o processo de ovulação dependem todos da estimulação hormonal. Uma maneira pela qual agentes ocupacio- nais e ambientais podem ser prejudiciais à reprodução é através do bloqueio das vias hormonais no nível do hipotálamo, pituitária ou gônadas. A exposição ambien- tal a praguicidas que agem como estrogênios ou anties- trogênios demonstrou exercer efeitos tóxicos na repro- dução em animais, através desse mecanismo. (8) Exposições a substâncias perigosas podem também exercer um efeito direto nos gametas e suas células precursoras. A exposição ao dibromocloropro- pano (DBCP) causa lesão das células germinativas em homens. Exposição a éteres de glicóis entre pintores
  • 92. 92 de estaleiros foi associada à redução da contagem de espermatozoides. Efeitos gametotóxicos entre mulhe- res são difíceis de medir porque a obtenção de uma amostra folicular envolve um procedimento invasivo, uma biopsia ovariana. (8) Como a gametogênese começa durante a vida fetal, exposições ocupacionais e ambientais durante a gravidez poderiam teoricamente causar efeitos transge- racionais. Danos às células germinativas primárias de um feto podem ser manifestados mais tarde, quando esse feto torna-se um adulto e sua reprodução se mos- tra alterada. Um efeito tóxico pode ser manifestado pela redução da fertilidade quando o filho da mulher traba- lhadora tenta ter filhos. O mecanismo desse efeito tra- duz-se em danos às células germinativas que se desen- volvem no feto da trabalhadora. (8) Teoricamente, o filho ou neto de um trabalha- dor pode ser afetado por alteração subletal do material genético na célula germinativa primordial. Uma preocu- pação é que as alterações no DNA dos gametas podem causar câncer nos filhos de pais expostos. (8) Em mulheres adultas, leva-se cerca de duas semanas para que oócitos primários se desenvolvam em óvulos maduros. Em homens, leva-se cerca de dois meses para que células germinativas primárias se desen- volvam em espermatozoides. Exposições tóxicas durante esses períodos de diferenciação das células germinativas podem resultar em morte dos gametas em maturação.
  • 93. 93 Esse quadro seria manifestado clinicamente como uma incapacidade temporária de conceber uma criança. Se as células germinativas imaturas (células tronco) forem afe- tadas, o período de infertilidade será maior. (8) Se a gravidez é alcançada, apesar de um curto período de exposição tóxica durante a maturação dos gametas, não se estabelecem claramente as relações de causa com os defeitos congênitos. Suspeita-se que os gametas e embriões que não tenham iniciado o organo- gênese sejam relativamente resistentes à ação teratogê- nica, caso sobrevivam à exposição tóxica. (8) Redução da fertilidade Os estudos epidemiológicos dirigidos à saúde reprodutiva do homem estão, via de regra, centrados em parâmetros do esperma, tais como morfologia, motilidade, viabilidade e concentração. Estes parâme- tros, combinados com parâmetros de exposição ocupa- cional, foram a base dos estudos epidemiológicos que enfocam a relação entre a ocupação e o potencial de dano reprodutivo do homem. (8) Embora a infertilidade seja o efeito sobre a reprodução frequentemente investigado, também outros efeitos adversos, mediados pelo pai, tem sido estudados, tais como a perda fetal, os defeitos congêni- tos e o câncer na infância. (8) O mais notável exemplo é o dibromocloro-