2. TEXTO I Nas frígidas noites, Macabéa, toda estremecente sob o lençol de brim, costumava ler à luz de vela os anúncios que recortava dos jornais velhos do escritório. É que fazia coleção de anúncios. Colava-os no álbum. Havia um anúncio, o mais precioso, que mostrava em cores o pote aberto de um creme para pele de mulheres que simplesmente não eram ela. Executando o fatal cacoete que pegara de piscar os olhos, ficava só imaginando com delícia: o creme era tão apetitoso que se tivesse dinheiro para comprá-lo não seria boba. Que pele, que nada, ela o comeria, isso sim, às colheradas no pote mesmo. É que lhe faltava gordura e seu organismo estava seco que nem saco meio vazio de torrada esfarelada. Tornara-se com o tempo apenas matéria vivente em sua forma primária. Talvez fosse assim para se defender da grande tentação de ser infeliz de uma vez e ter pena de si. (Quando penso que eu podia ter nascido ela – e por que não? – estremeço. E parece-me covarde fuga o fato de eu não a ser, sinto culpa, como disse num dos títulos.) (Texto com adaptações)
3. Questão 01 Considere os itens: I. introspeção psicológica; II. bucolismo; III.metalinguagem; IV. neutralidade do narrador. São traços estilísticos de Clarice Lispector presentes no texto: a) apenas I e III. b) apenas II e III. c) apenas I, II e III. d) apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV.
4. Gabarito A A introspecção revela-se na captação do mundo interior de Macabéa, na exposição de seus desejos e devaneios. A metalinguagem evidencia-se quando o narrador, nos parênteses que concluem o texto, alude à construção da narrativa, à problemática relação com a sua personagem e à culpa que se subentende em um dos treze títulos que encabeçam A Hora da Estrela.
5. TEXTO II Rosa de Hiroxima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas, oh, não se esqueçam (Vinícius de Moraes) Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada
6. Questão 02 Assinale a alternativa correta. a) O emprego de formas de imperativo (pensem, não se esqueçam) é próprio da função apelativa da linguagem, e seu efeito de sentido é buscar a adesão do leitor. b) O texto é predominantemente informativo, principalmente porque a linguagem do autor é coloquial. c) Pela temática, o poema representa a poesia sensual neo-simbolista do autor, marcada pela quebra de convenções sociais. d) São características do estilo modernista, a que o autor adere: repetição de palavras e ritmo regular, de rimas perfeitas. e) A metáfora da rosa para referir-se à bomba de Hiroxima é própria para identificar a matriz denotativa do texto, cujo sentido é literal.
7. Gabarito A As formas do imperativo são próprias da função conativa ou apelativa da linguagem e seu propósito é influir no leitor.
8. Questão 03 O poeta refere-se à bomba atômica jogada pelos EUA sobre Hiroshima como “a rosa”. Esse termo substitui o original porque há entre eles uma relação de semelhança, resultante da subjetividade de quem o criou. Quando esse processo ocorre, tem-se uma metáfora . Essa figura encontra-se também no seguinte trecho de Vinícius de Moraes: a) As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso. b) Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. c) Me acordam numa carícia... O que foi que aconteceu? Rodrigo telefonou: MÁRIO DE ANDRADE MORREU.
9. d) Era uma casa Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela não Porque na casa Não tinha chão e) De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente.
10. Gabarito A Sendo a metáfora uma associação entre dois elementos, as únicas alternativas entre as quais o candidato poderia ficar em dúvida são A e B, e o que invalida esta é a presença do conectivo “como”, caracterizando o trecho como de ocorrência de comparação por símile, e não de uma metáfora.
11. I. O primeiro ponto é que mais de 70% dos alunos de universidades públicas proveem de famílias cujos membros estão entre os 20% mais ricos da população. Como as universidades públicas são financiadas por impostos pagos por toda a população, inclusive pelos pobres, no Brasil os pobres financiam a educação universitária dos ricos. II. Francamente: o seu concorrente adora o jeito que sua equipe se fala. III. A orientação cultural não pode prescindir das forças de mercado, que se estruturam com tanta dificuldade e que tem um importante papel social. A cada milhão investido em cultura, 160 novos empregos são gerados.
12. Questão 04 Os textos acima, extraídos de jornais e de texto publicitário, apresentam transgressões à norma culta. As correções necessárias são, respectivamente, a) I: famílias onde membros; II: o jeito com que sua equipe se fala; III: não pôde prescindir. b) I: alunos de universidades públicas provêm; II: como sua equipe se fala; III: e que têm. c) I: Já que as universidades públicas; II: o concorrente adora o seu jeito; III: as quais se estruturam. d) I: alunos de universidades públicas provem; II: com que sua equipe se fala; III: e que têm. e) I: alunos de universidades públicas provêm; II: adora o jeito de sua equipe; III: 160 novos empregos serão gerados.
13. Gabarito B A – “onde” somente pode executar a retomada de lugar físico, o que não se aplica a “família” C – “já que”, em substituição ao “como”, mantém o trecho correto, ou seja, não há correção de desvio. D – O verbo “provem” precisa ser acentuado (“provêm”) E – O verbo “fala”, conjugado, acaba por gerar a necessidade da presença de um sujeito (“sua equipe”), o que não acontece quando preposicionado, de acordo com o que propõe a opção.
14. Questão 05 “ Como as universidades públicas são financiadas por impostos pagos por toda a população, inclusive pelos pobres, no Brasil os pobres financiam a educação universitária dos ricos.” A relação semântica que se estabelece entre as orações do período acima é de a) causa e consequência. b) comparação. c) adição. d) conformidade. e) finalidade.
15. Gabarito A Mostra-se pertinente a substituição do conectivo “como” por “já que” ou “visto que”, o que confirma a relação apontada na alternativa. Vale ressaltar o cuidado que se deve ter com as opções B e D, na medida em que também podem ser representadas pelo mesmo conector, porém não no contexto em questão.
16. Questão 06 O romance Grande Sertão: Veredas , de Guimarães Rosa, é construído sob forma de narrativa oral. Riobaldo, o narrador-personagem, conta sua vida a um interlocutor que não tem participação direta nos fatos narrados. Riobaldo se refere explicitamente a esse interlocutor, no seguinte trecho transcrito do romance: a) Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum só modo. b) O senhor... Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.
17. c) Diadorim e eu, nós dois. A gente dava passeios. Com assim, a gente se diferenciava dos outros – porque jagunço não é muito de conversa continuada nem de amizades estreitas: ... d) Medeiro Vaz não era carrancista. Somente de mais sisudez, a praxe, homem baseado. Às vezes vinha falando surdo, de resmão. Com ele, ninguém vereava. De estado calado, ele sempre aceitava todo bom e justo conselho. e) E o arrieiro-mestre relatando uma infeliz notícia, dessas da vida. – “Ele era alto, feições compridas, dentuço?” – Medeiro Vaz exigiu certeza. – “Olhe, pois era” – o arrieiro respondeu – “e, antes de morrer, deu o nome: que era Santos-Reis...
18. Gabarito B Apenas uma alternativa apresenta verbos no imperativo, assim como vocativos (“o senhor”), o que permite a percepção de um interlocutor.
19. TEXTO III Viagem ao fundo do mar Visitamos um dos cinco submarinos brasileiros antes da partida para a maior expedição já feita por uma de nossas embarcações do gênero Por Karla Monteiro A capacidade de defesa de um país pode ser medida pela quantidade de submarinos que ele tem. Os cinco países que compõem o Conselho de Segurança da ONU são os únicos que contam com submarinos nucleares. – Submarinos são armas estratégicas, armas de dissuasão. Não temos para a guerra, mas, sim, para evitar a guerra – explica o almirante Bento de Albuquerque, chefe da Força de Submarinos da Marinha –. Submarino confere poder militar. O Brasil tem 95% dos seus interesses no mar. O país depende do mar. Os submarinos são fundamentais para que possamos ter condições de negar o uso do mar a quem tentar contrariar os interesses brasileiros. O pré-sal, por exemplo, fica a 300 quilômetros da costa.
20. O submarino Tikuna acaba de partir para a maior missão de um submarino brasileiro. Saiu de Niterói no dia 1º de março e só retornará no final de agosto. Antes de zarpar, demos um jeitinho de penetrar no submarino para descobrir como, afinal de contas, 41 homens grandes, fortes e sarados conseguem sobreviver num espaço tão apertadinho, sem nenhuma comunicação com o mundo, sob regras – literalmente – militares. Até jogar baralho é proibido, embora outros jogos sejam liberados, sabem Deus e o alto-escalão das Forças Armadas por quê. O Tikuna tem 62 metros de comprimento, seis metros de largura, cinco cabines, dois banheiros e uma cozinha. – É como um Big Brother sem piscina e sem festas – define o capitão Nelson, comandante do Tikuna. Fonte: MONTEIRO, Karla. Viagem ao fundo do mar. Megazine, suplemento de O Globo. Rio de Janeiro, 21 de abril de 2009 (com cortes)
21. Questão 07 Nessa notícia, há fatos e opiniões. O trecho, extraído do texto, que apresenta uma opinião sobre um fato é: a) Os cinco países que compõem o Conselho de Segurança da ONU são os únicos que contam com submarinos nucleares. b) O pré-sal, por exemplo, fica a 300 km da costa. c) Saiu de Niterói no dia 1º de março e só retornará no final de agosto. d) O Tikuna tem 62 metros de comprimento, seis metros de largura, cinco cabines, dois banheiros e uma cozinha. e) É como um Big Brother sem piscina e sem festas.
22. Gabarito E A analogia ao Big Brother, comparação de escolha do autor, já caracteriza seu traço opinativo.
23. Busca pelos equivalentes do aqui-e-agora O que o terapeuta deve fazer quando um paciente levanta uma questão envolvendo uma interação infeliz com outra pessoa? Geralmente, os terapeutas exploram a situação profundamente e tentam ajudar o paciente a entender seu papel no processo, explorar as opções de comportamentos alternativos, investigar a motivação consciente, adivinhar as motivações da outra pessoa e buscar padrões – isto é, situações semelhantes que o paciente tenha criado no passado. Essa estratégia consagrada pelo tempo tem limitações: não somente o trabalho tende a ser racionalizado, mas é muito frequente que se baseie em dados imprecisos fornecidos pelo paciente. O aqui-e-agora oferece uma maneira muito melhor de trabalhar. A estratégia geral é descobrir um equivalente do aqui-e-agora da interação disfuncional. Uma vez que isso for feito, o trabalho se tornará bem mais preciso e imediato. Fonte: YALOM, Irvin D. Busca pelos equivalentes do aqui-e-agora. In: Os Desafios da Terapia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006 (fragmento)
24. Questão 08 Considerando o fragmento, é possível inferir que o enunciador defende a seguinte tese: a) O terapeuta não deve discutir com o paciente as dificuldades de interação relatadas por este. b) O paciente, para resolver seus problemas de relacionamentos interpessoais, deve investigar, com o auxílio do terapeuta, as motivações das pessoas e procurar entendê-las. c) O paciente deve explorar ao máximo suas dificuldades de relacionamento nas sessões de psicoterapia. d) O terapeuta, para tornar seu trabalho mais eficiente, deve buscar um sucedâneo do aqui-e-agora da situação interpessoal problemática relatada pelo paciente. e) O aqui-e-agora do paciente fornece dados imprecisos ao terapeuta.
25. Gabarito D A – O texto inteiro busca a melhor forma de colaborar com a resolução do problema, e não ignorá-lo, como defende a alternativa. B – A investigação deve girar, segundo o texto, em torno do tempo presente do paciente, cabendo ao terapeuta não a compreensão do outro, mas de quem faz a terapia. C – O texto não restringe a resolução dos problemas do paciente às sessões de terapia. D – O “aqui-e-agora” é o que se deve buscar para tornar o estudo da situação mais preciso.
26.
27. Questão 09 As informações prestadas no anúncio permitem afirmar, com correção, que a) todo oportunista vende Formica como se fosse um revestimento qualquer. b) todo laminado é revestimento em chapas usado como adorno. c) alguns revestimentos são apenas similares aos laminados Formica. d) o melhor revestimento é o similar aos da marca Formica. e) todo revestimento é usado em móveis, exceto o laminado.
28. Gabarito C O texto indica que há outros revestimentos não tão bons, mas apenas similares ao revestimento fórmica.
29. Questão 10 ... diz-se das chapas que se obtém por laminação, ... O erro de concordância que há nessa frase repete-se em a) Garante-se a resistência que se vê no produto do concorrente. b) Trata-se de revestimentos que se mantêm por longo tempo. c) Procura-se produto de alta resistência, que convém adquirir. d) Fala-se em fabricar laminados que não retém sujeira. e) Chama-se de “laminada” a chapa que contém lâminas.
30. Gabarito D A forma verbal retém (3ª pessoa do singular) deve ser substituída por retêm (3ª pessoa do plural), já que deve haver concordância com o plural “laminados”, palavra retomada pelo pronome relativo que, sujeito da oração “que não retém sujeira” . A inobservância da concordância verbal também ocorre em “chapas que se obtém por laminação ”, em que o correto seria obtêm , no plural, para concordar com o sujeito que, cujo antecedente é chapas.
31. Questão 11 Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda. O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito. ‘Textos guardados acabam cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que, com esta frase, deu testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: publicar ou não publicar? guardar ou jogar fora? (Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)
32. Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação literária. A ideia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons resultados está sugerida na seguinte frase: a) “A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa.” b) “Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda.” c) “O período de maturação na gaveta é necessário, (...).” d) “Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma.” e) “ela (a gaveta) faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho.”
33. Gabarito B A frase da alternativa B, no contexto em que aparece, indica que nem sempre a gaveta, onde se daria a maturação do texto, garante que ele resulte bom. Por isso, a cesta de papéis pode ser ainda melhor do que a gaveta, como forma de tratamento de textos de qualidade insuficiente.
35. Da leitura de todos os elementos que compõem o cartaz, é correto afirmar que o texto principal denuncia que a violência doméstica contra a mulher a) atinge principalmente a mãe, e a ilustração apresenta uma imagem negativa do agressor, sob o ponto de vista da mulher. b) atinge todos os membros da família, e a ilustração apresenta uma imagem negativa do agressor, sob o ponto de vista de um dos filhos. c) atinge principalmente os filhos, e a ilustração apresenta uma imagem negativa do agressor, sob o ponto de vista da mulher. d) atinge todos os membros da família, e a ilustração apresenta uma imagem negativa do agressor, sob o ponto de vista do próprio agressor. e) desestabiliza a família, e a ilustração apresenta uma imagem negativa do agressor, sob o ponto de vista dos dois filhos.
36. Gabarito B O fato de a família ter sido desenhada na peça publicitária da questão faz com que seja da criança a perspectiva original.