O documento discute a evolução do pensamento antropológico, desde as teorias evolucionistas e racialistas do século XIX, que defendiam a superioridade de determinados grupos, até o relativismo cultural e a antropologia estrutural do século XX, que reconhecem a igualdade de todas as culturas. Também apresenta conceitos-chave como etnocentrismo, alteridade e a importância do método etnográfico para o estudo antropológico.
3. ANTROPOLOGIA =
ANTROPOS (HOMEM) +
LOGOS
(PENSAMENTO/RAZÃO)
Surge com o objetivo de
estudar todas as formas de
cultura humana.
Duvidar de certezas.
Dar voz aos “outros”.
4. ALTERIDADE: o termo
vem da palavra latina “alter”,
que significa “outro”.
Alteridade é o exercício de
reconhecer o outro em sua
diferença, sem que isso
implique qualquer
julgamento de valor.
“O conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo
conhecimento das outras culturas; e devemos especialmente
reconhecer que somos uma cultura possível entres tantas outras,
mas não a única.” (LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia.
São Paulo: Brasiliense, 2000, p.21)
5. ETNOCENTRISMO: visão de
mundo característica de quem
considera o seu grupo étnico, nação
ou nacionalidade socialmente mais
importante do que os demais.
“O fato de que o homem vê o mundo
através de sua cultura tem como
consequência a propensão em
considerar o seu modo de vida como o
mais correto e o mais natural. Tal
tendência, denominada etnocentrismo, é
responsável em seus casos extremos
pela ocorrência de numerosos conflitos
sociais” (LARAIA, Roque de Barros.
Cultura: um conceito antropológico. Rio
de Janeiro: Zahar, 2002, p.72.
6. EVOLUCIONISMO SOCIAL: teorias
antropológicas de desenvolvimento
social que acreditavam que as
sociedades têm início em um estado
primitivo e gradualmente se tornam
mais civilizadas com o passar do
tempo. A humanidade era colocada em
uma única linha evolutiva, na qual a
sociedade passaria por estágios
sucessivos e obrigatórios.
7. Os “povos primitivos” seriam uma
etapa anterior pela qual o homem
civilizado já teria passado.
8. O conceito de CIVILIZAÇÃO era
utilizado para classificar, julgar e
justificar o domínio sobre outros
povos, com o argumento de que
caberia ao mais evoluído levar o
progresso aos mais primitivos.
The White Man's Burden
Rudyard Kipling
(...)
Tomai o fardo do Homem Branco -
As guerras selvagens pela paz -
Encha a boca dos Famintos,
E proclama, das doenças, o cessar;
E quando seu objetivo estiver perto
(O fim que todos procuram)
Olha a indolência e loucura pagã
Levando sua esperança ao chão.
Tomai o fardo do Homem Branco -
Tem a mão-de-ferro dos reis,
Mas, sim, servir e limpar -
A história dos comuns.
As portas que não deves entrar
As estradas que não deves passar
Vá, construa-as com a sua vida
E marque-as com a sua morte.
The White Man's Burden (Apologies to Kipling), de Victor Gillam,
revista "Judge", 1899.
9. RACIALISMO: “racismo
científico” que usava a
ciência para explicar
supostas diferenças
evolutivas entre os povos.
Filme “Vênus Negra”, baseado na história de Saartjie
Baartman.
Em “A Escala Unilinear das Raças Humanas e Seus Parentes
Inferiores”, de Nott e Gliddon”(1868), há comparações
feitas em imagens com crânios de negros falsamente
alargados para se parecerem com os de chimpanzés,
enquanto os crânios dos brancos são considerados
“normais”.
10. “Nas raças mais inteligentes, como é o caso dos parisienses, existe
um grande número de mulheres cujo cérebro se aproxima mais em
tamanho ao do gorila que ao do homem, mais desenvolvido. Essa
inferioridade é tão óbvia que ninguém pode jamais contestá-la;
apenas seu grau é digno de discussão. [...] Sem dúvida existem
algumas mulheres que se destacam, muito superiores ao homem
mediano, mas são tão excepcionais quanto o aparecimento de
qualquer monstruosidade, como um gorila com duas cabeças;
portanto, podemos deixá-las totalmente de lado.” (LE BON, 1879
apud GOULD, 1991, p.99)
11. TEORIAS RACIALISTAS NO BRASIL
Teses que influenciaram intelectuais brasileiros
no final do século XIX e início do século XX.
Buscavam compreender quais eram as
possibilidades do Brasil se tornar uma nação
desenvolvida, uma vez que a maior parte de sua
população era mestiça. A saída para o país era
o branqueamento da população, viável com a
chegada de imigrantes.
Quadro de Modesto Brocos y
Gómez intitulado “A Redenção
de Cam”, 1895
Trecho de artigo do antropólogo e médico brasileiro
João Baptista Lacerda:
“A população mista do Brasil deverá ter pois, no
intervalo de um século, um aspecto bem diferente do
atual. As correntes de imigração europeia,
aumentando a cada dia mais o elemento branco
desta população, acabarão, depois de certo tempo,
por sufocar os elementos nos quais poderia persistir
ainda alguns traços do negro.”
12. RELATIVISMO CULTURAL: para os adeptos
dessa corrente, o que estava em evidência
não era a sociedade humana no singular, mas
as particularidades das culturas humanas,
sempre no plural.
CULTURALISMO: uma forma de
pensar a diversidade humana
na qual as noções de bem e
mal, certo e errado, são
relativas a cada cultura.
Franz Boas
“Acredito que o estado atual de nosso
conhecimento nos autoriza a dizer
que, embora os indivíduos difiram, as
diferenças biológicas entre as raças
são pequenas. Não há razão para
acreditar que uma raça seja
naturalmente mais inteligente, dotada
de grande força de vontade, ou
emocionalmente mais estável do que
outra, e que essa diferença iria
influenciar significativamente sua
cultura.” (BOAS, Franz. Antropologia
Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009,
p. 82)
13. ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL: a cultura, tal
como a vemos em diferentes grupos sociais,
reflete elementos que podem ser encontrados
em todos os seres humanos. Essa postura
implica a recusa à ideia de que a civilização
ocidental seria única e privilegiada, uma vez que
sugere que as estruturas mentais que organizam
as culturas chamadas selvagens são iguais às
que regem aquelas consideradas civilizadas.
Claude Lévi-Strauss
Como definiria em Raça e História: “Todas as
sociedades humanas têm um passado da
mesma ordem de grandeza… Não existem
povos crianças, todos são adultos, mesmo
aqueles que não tiveram diário de infância e
de adolescência” (Lévi-Strauss, 1975, p. 35)
14. ETNOGRAFIA (ETHNO=POVO + GRAPHEIN=ESCRITA):
o método antropológico, forma especial de olhar para
as culturas humanas. Nas primeiras décadas do século
XX ficou claro que o pesquisador deveria “ir a campo”
e não mais praticar a antropologia “de gabinete”.
O antropólogo deveria ir até o nativo e coletar os
próprios dados.
Bronislaw Malinowski