O livro analisa como as teorias raciais do século XIX influenciaram o pensamento de cientistas e instituições brasileiras entre 1870-1930. A autora descreve como essas ideias foram apropriadas no Brasil para explicar problemas sociais, ainda que desconsiderando aspectos como a miscigenação. O livro examina também as diferentes visões sobre raça nesse período e como evoluiu o pensamento racial brasileiro.
1. O ESPETÁCULO DAS
RAÇAS
Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil
1 870-1930
Lilia Moritz Schwarcz
2. LILIA MORITZ SCHWARCZ
Professora livre-docente no
Depar tamento de Antropologia
da Univer sidade de São Paulo
(USP). Autora de As barbas do
Imperador – D. Pedro II, um
monarca nos trópicos (1998); O
espetáculo das raças –
cientistas, instituições e
questão racial no Brasil do
século XIX (1993) e Retrato em
branco e negro –
jornais, escravos e cidadãos
em São Paulo de finais do
século XIX (1987). Em 1997
organizou os livros Raça e
diversidade, com Renato
Queiroz, e Negras
Imagens, com Letícia Vidor
Reis (Edusp). É organizadora do
volume 4 da História da Vida
Privada no Brasil (Cia. das
Letras).
3. INTRODUÇÃO: O ESPETÁCULO DA
MISCIGENAÇÃO
Em fins do século XIX - Brasil se
apresenta como caso singular de
miscigenação
1911- João Batista Lacerda
(diretor Museu Nacional do RJ)
participa do I Congresso
Internacional das Raças em
Londres.
Apresenta obra “Redenção de
Cam”-1895,do artista Modesto
Broccos
4. Cita alguns artistas e viajantes que estiveram no Brasil ao longo do século
XIX e que descreviam em suas obras e cartas um país onde a
miscigenação era o fator que justificava o “atraso” da nação. No contexto
mundial, o Brasil começa a ser explicado pelo fator da mistura das raças.
Objetivo do livro: entender em que medida as teorias que priorizavam o
tema racial para explicar os problemas locais tiveram sua relevância e as
suas variações no Brasil, no período de 1870 a 1930
Décadas inicias de 1800 – as teorias raciais fizeram parte dos centros de
pesquisa científica do país. Neste período há um crescimento e
amadurecimento dos centros de ensino nacionais (museus
etnográficos, faculdades de direito e medicina, institutos geográficos,etc )
Influência das teorias do darwinismo social e do evolucionismo social na
constituição do pensamento racial brasileiro
Em cada lócus de cientificidade espalhados pelo Brasil havia diferentes
modos de apreensão das teorias raciais, mas quais seriam essas formas
de apropriação de tais idéias pelas instituições brasileiras sobre a questão
racial,tão em voga naquele período?
5. CAPÍTULO 1-ENTRE OS “HOMENS DE SCIENCIA”
A V I N DA DA FA M Í L I A R E A L - O I N Í C I O DA H I S T Ó R I A DA S
I N S T I T U I Ç Õ E S E D U C AC I O N A I S N O B R A S I L
1808 – chegada da Família Real, marca o início da história
institucional local. Nesse período foram abertos os primeiros
centros de caráter cultural no país
O processo de avanço no campo cultural e intelectual foi
interrompida com a volta inesperada de D. João VI à Portugal.
Mas em seguida foi retomada pelo seu filho D.Pedro, que
buscou criar novas instituições com a Declaração de
Independência
Exemplo disso foram as escolas de direito, criadas nesse
período e em 1839 a fundação do primeiro Instituto Histórico
e Geográfico, com sede no RJ, que tinha como tarefa “criar
uma história para a nação, inventar uma memória para o
país”
6. A DÉCADA DE 70 – OU “UM BANDO DE
IDÉIAS NOVAS”
A transferência do eixo econômico do país do nordeste para o
sudeste por conta da atividade cafeeira, impulsionou a
abertura de várias instituições científicas na região.
A autora cita as principais instituições abertas nesse período:
no campo da saúde, do direito, da história e que voltavam
seus interesses científicos em prol de um projeto de
constituição de uma nação
Questão do perfil sócio-econômico desses novos intelectuais
de difícil definição. Para alguns analistas, tais grupos
originam-se da aristocracia agrária e o Estado
Monárquico, outros identificam como pertencentes a novos
segmentos urbanos, opostos a aristocracia rural
A autora sugere que seja levado em conta a sua atuação:
“esses intelectuais da ciência, a despeito de sua origem
social, procuravam legitimar ou respaldar cientificamente
suas posições nas instituições do saber de que participavam e
por meio delas.”
7. NA ERA DA SCIENCIA
Século XIX era tomado como o “século da
ciência” caracterizado pela fé cega e inocente
nos diagnósticos científicos.
“NO BRASIL RESPIRA -SE SCIENCIA”
D.Pedro – denominado de “mecenas da
sciencia”
A ciência feita no Brasil não estava preocupada
tanto com o avanço científico, mas com a
cientificidade indiscriminada.
A tomada dos modelos cientificistas no
contexto nacional por vezes revelava posturas
impositivas sobre a população e o descompasso
que se encontravam os objetivos da ciência e a
compreensão por parte do povo. Exe: projeto de
higienização que culminou na “Revolta da
Vacina”
8. “HOMENS DE SCIENCIA: A
MISCIGENAÇÃO COMO TEMA”
Na década de 70, com alguns institutos de pesquisa já em
funcionamento os grupos de intelectuais se consolidavam
e, consumidores intensos da produção científica
européia, passaram a reconhecer-se como “homens de
sciencia”
Tendência dos intelectuais em adotar os modelos
evolucionistas e social-darwinistas para o explicação de
problemas práticos, de ordem social e política da condição
brasileira sem a preocupação em entender o contexto que tais
ideias surgiram, buscavam “adequá-las” ao caso
brasileiro, desconsiderando os aspectos destoantes, como
aqueles que se remetiam ao problema da miscigenação
9. CAPÍTULO 2-UMA HISTÓRIA DE
“DIFERENÇAS E DESIGUALDADES” - AS
DOUTRINAS RACIAIS DO SÉCULO XIX
Balanço das diferentes teorias raciais
produzidas durante o século XIX e as
especifidades dos uso local
Teoria humanista de Rousseau foi
importante para pensar na diversidade
humana.
A partir da noção de
perfectibilidade, capacidade dos homens de
sempre se superarem não no sentido
evolucionista de civilização abria espaço
para se pensar numa “humanidade una mas
diversa em seus caminhos”
10. CONTEXTO INTELECTUAL DO SÉCULO
XVIII: 2 PERSPECTIVAS
1-Visão humanista Rosseau Revolução Francesa
naturalização da igualdade humana.
2-Visão naturalista Buf fon e DePaw diferenças
básicas entre os homens.
Com a “Tese da Infantilidade do Continente” e a “Teoria da
Degeneração Americana” a segunda perspectiva produzia uma
imagem negativa da natureza do homem americano
11. MONOGENISMO X POLIGENISMO
Século XIX Século XIX
Maior parte dos Interpretação biológica
pensadores do comportamento
Origem única da humano
humanidade Contesta a visão
Etnologia monogenista da Igreja
Visão Humanista Frenologia e
Criação de sociedades Antropometria
etnológicas em Antropologia
Paris, Londres e Nova
York
Aprimoramento
12. ANTROPOLOGIA CULTURAL: A
DESIGUALDADE EXPLICA A
HIERARQUIA
Constituía-se como disciplina sob a
ótica evolucionista (Morgan, Tylor e
Frazer)
Civilização e progresso tomados
como modelos universais
Aspecto otimista, que via no
progresso condição obrigatória para
a humanidade
13. O DARWINISMO SOCIAL:
A HUMANIDADE CINDIDA
Duas escolas importantes:
Determinismo geográfico –
desenvolvimento de uma nação
totalmente determinada pelo
meio.
Determinismo racial – via de
forma pessimista a
miscigenação, como sinônimo de
degeneração não só racial como
social
14. TEORIAS DA RAÇA E 3
PRESSUPOSTOS BÁSICOS:
Condenação ao cruzamento racial, pois
havia uma distância biológica entre as
raças;
Continuidade entre caracteres físicos e
morais, ou seja, a divisão do mundo entre
raças corresponderia à divisão de culturas;
Preponderância do grupo “racio-cultural” ou
étnico no compor tamento do
sujeito, conformando-se enquanto uma
doutrina de psicologia coletiva, hostil à
idéia do arbítrio do indivíduo
Miscigenação como divisor de águas entre
monogenistas e poligenistas. Para os últimos a
mistura de raças teria consequências nefastas
provocando um cer to abastardamento dessas
populações