Este documento é um plano de aula para a unidade curricular de História das Ideias em Psicologia na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa no ano lectivo de 2009/2010. O plano inclui uma introdução ao tema, seis seções de análise e uma bibliografia. Os professores responsáveis são Rodrigo de Sa-Nogueira Saraiva e Wolfgang Rudiger Lind.
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Freud files
1. Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa
Unidade Curricular: HistOria das Ideias em
Psicologia
2°Semestre
Faculdade de Psicologia
Ano Lectivo 200912010
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Docentes:
Professor Doutor Rodrigo de Sa-Nogueira Saraiva
Professor Doutor Wolfgang Rudiger Lind
Discentes:
Andreia Gonyalves Pereira, n.o 9210
Anabela Silva, n.o 8712
Isabel Alexandra Almeida, n. ° 8841
Pedro Miguel Taborda, n.o 8503
Vanessa Dias, n.O 9236
2. ,
Indice
Pagina
1 -Introdu~ao 3
2- ~nalise meta-teorica 3
2.1.Postulados e conceitos centrais 3
2.2.Analise ontol6gica 4
2.3.Analise epistemoI6gica .4
2.4.Analise acerca da natureza do ser Humano 6
3- Analise ao nivel teo rico propriamente dito 7
3.1.Estruturadores para classificayao de teorias 7
3.2.Aspectos constituintes da teoria.. , - 7
4- Analise ao nivel metodologico 9
4.1.Conceitos Empiricos 9
4.2.Analise da metodologia de acordo com estruturadores propostos 9
5- Amilise ao nivel da pragmatica ou pratica 10
5.1.0bjectos de estudo da teoria 10
5.2.Contexto ou nivel de observayao dos fen6menos humanos .10
5.3.Natureza dos dados 10
6-Analise Global da obra e conclusoes 11
Bibliografia 12
3. 3
l-Introdu~ao
A obra Psieopatologia da Vida Quotidiana foi publicada pela primeira vez em 1901,
apresentando urn conjunto de fenomenos experimentados por qualquer pessoa normal e
reconhecidos por Freud como Aetosfalhados.
Trata-se de uma obra fundamental para a psicanalise e, mais do que isso, contribuiu de
forma decisiva para que, numa sociedade vitoriana altamente reprirnida e rigidamente
moralista e puritana, 0 Homem comec;;asse lenta mas seguramente a encarar-se de uma
forma nao so diferente, mas tambem muito mais profunda e corajosa.
Na estrutura da obra, e possivel identificar tres grandes areas de estudo: a) 0 esqueci
mento de nomes e a ordem das palavras; b) a inffincia e as memorias ocultas e c) os lap
sos de linguagem. Na primeira parte, ou seja, onde se trata 0 esquecimento de nomes
proprios e a ordem das palavras, compreende-se que 0 que ha de comum entre todos os
casos e 0 facto do conteudo esquecido ou distorcido estar relacionado, por associayao,
com uma corrente inconsciente de pensamento. Na segunda area de estudo, que se refe
re a inffincia e as memorias ocultas, entende-se que as mem6rias consideradas indiferen
tes devem a sua existencia a urn processo de deslocac;;ao, enquanto que as memorias
reproduzidas constituem-se como mem6rias substitutas de outras impressoes realmente
significativas, cuja reproduyao directa e dificultada por uma certa resistencia. Na ultima
secc;;ao, ados lapsos de linguagem, Freud informa nao serem os efeitos de contacto ou
proximidade de sons os responsaveis pelos mesmos, mas antes os pensamentos exterio
res ao acto de fala desejada que, por sua vez, determinam a origem do deslize verbal.
No ultimo capitulo da obra, 0 autor conelui entao pela existencia de dois modos distin
tos do funcionamento psiquico.
2. - Amilise meta-teorica
2.1. Postulados e conceitos centrals
A ideia mestra de toda a obra de Sigmund Freud revisita a velha oposic;;ao entre racio
nalidade e irracionalidade do pensamento etico ocidental. Sobre esta erguem-se
os conceitos centrais correspondentes: a consciencia e a inconsciencia, sendo a segunda
predominante na determinayao do comportamento humano, segundo 0 autor, enraizada
nas profundezas das pulsoes, muitas vezes sexuais.
4. 4
A tentativa da inibi~ao da quantidade de energia psiquica ligada a representa~ao peno
sa ou de desprazer esta na origem do acto falhado.
2.3. Analises ontol6gica e epistemol6gica
S. Freud afirma que 0 comportamento humane resulta do dinamismo ou ate do conflito
entre 0 Id (a parte mais inconsciente), 0 Ego (a parte que medeia 0 consciente e 0
inconsciente) e 0 Superego (parte das imposi~oes sociais e portanto do ideal do Ego).
Ora 0 Id incognoscivel determina 0 comportamento humano, logo reprimir em n6s Eros
e Thanatos eaquilo que nos permite vivermos como civiliza~ao, embora de forma neu
r6tica. Ha sem duvida, nesta ideia, a oposi~ao entre egocentrismo biol6gico e 0 espirito
de coopera~ao fundamental nas culturas humanas.
Existem imensas teorias relativas ao conhecimento e sobre a forma de 0 aQquirir. Con
tudo, pensamos que fara mais sentido abordar as mais relevantes para a compreensao
das teorias de S. Freud presentes quer explicita, quer subliminarmente em Psicopatolo
gia da Vida Quotidiana.
Na referida obra, podem ser notados alguns tra~os da corrente empirista, ou seJa,
Freud elabora uma forma de interpreta~ao te6rica que se aproxima muito - pode-se
dizer que se funde quase - com a corrente empirista. Esta afirma~ao e sustentada pelo
autor, na medida em que afirma que os seus pacientes sofriam de afasias, devido a asso
cia~ao livre e as experiencias sensoriais captadas no momento do lapso.
Qualquer pessoa que leia Freud, e que conhe~a algumas correntes epistemol6gicas,
facilmente conc1ui que 0 autor em nada se aproxima do positivismo - e antes urn cons
trutivista puro! Isto dizer que, para Freud, a concep~ao da realidade que opera na mente
inconsciente - urn dos muitos conceitos do vocabulo freudiano - e derivada da organi
ZayaO cognitiva, das experiencias sensoriais e das sensayoes. Assim, mente, inconsciente
e percepc;iio da realidade (bern como lapsos de Unguagem) estao fortemente associados
a experiencias sensoriais altamente pr6prias do Eu.
Sendo 0 impulso sexual urn dos pilares incontomaveis das teorias freudianas, repara
mos que 0 papel da media~ao intema e bastante importante para se conhecer a forma
como 0 ser humane processa 0 conhecimento. Sendo assim, e de conc1uiT que a motiva
~ao sexual, aliada as sensa~oes ja vividas - ou a serem vividas - formam urn mecanis
mo que, segundo 0 psicanalista, leva a urn aumento de respostas fisiol6gicas, que por
5. 5
sua vez, conduzirao it afasia. Estas motivayoes intemas sao vistas por Freud como estru
turadores mentais e inerentes ao ser humano. Presente na linha de pensamento freudia
na, esta tambem a corrente vitalista, (que foi provavelmente aquela com que Freud mais
se identificou).
o vitalismo postula que os seres vivos sao regulados e possuidores de uma energia ou
forya vital, que os move, faz agir e pensar.
E extremamente relevante referirmo-nos a Freud como 0 mais famoso dos Universalis
tas no mundo da psicologia. Tal deve-se ao facto de Freud universalizar os seus conhe
eimentos, postulados e faetos a todos os Homens, afirmando, convictamente, que nao
somos seres isolados nem inertes em relayao a sociedade. As teorias freudianas nao dis
criminam homens ou mulheres individualmente, pois para 0 autor homens e mulheres
funcionam mentalmente sob as mesmas bases e estruturayoes mentais.
2.4. Analise aeerea da natureza do ser Humano
o autor defende uma posiyao maioritariamente determinista, no que diz respeito ao
comportamento do ser humano. Isto e, 0 Homem nao conduz de forma independente as
suas aCyoes, sendo influenciado pelo seu inconsciente. Existe, portanto, uma relayao de
causa-efeito, sendo as aCyoes, os pensamentos e os comportamentos frutos de motivos
psiquicos ou complexos perturbadores que geram, por exemplo, 0 esquecimento de
nomes pr6prios. 0 determinismo encontra-se igualmente patente no modelo de pensa
mento sugerido por Freud, onde as perturbayoes provoeadas por sentimentos negativos
e as repressoes determinam 0 esquecimento e os aetos falhados.
No ambito de toda a teoria Freudiana, genericamente considerada, e tambem com
especial destaque e evidencia na obra al vo de apreciayao no presente estudo, eabe notar
que a nOyao de ineonseiente esta sempre subjacente ao autor escolhido. Destarte, 0
inconsciente consiste num conceito dotado de abstracyao, obtido atraves de urn trabalho
empirico e manifesta-se no consciente dos individuos, V.g. atraves dos aetos falhados
(nas suas diversas modalidades), tendo uma estrutura dinamica.
o estruturador homeostasia/heterostasia diz respeito aos condicionalismos motivacio
nais do eomportamento humano, tendo subjaeente 0 sistema te6rico em causa na obra
estudada, in casu, Psicopatologia da Vida Quotidiana, de S. Freud.
Com efeito, cabe assinalar que, na obra em aprevo podemos conduir que, de aeordo
com a visao do autor, 0 comportamento humane e a respectiva motivayao acabam por
6. 6
manifestar-se numa vertente dualista. Ou seja, se par urn lado a estrutura tripartida do
aparelho psiquico ( Id, Ego e Superego), interagindo de uma farma dinamica, permite
garantir, tendencialmente, 0 equilibrio - homeostasia -, por outro lado, nao e menos
verdade que, quando sujeito ao dominio pulsional, e antes de ter inicio a aCyao dos
mecanismos de equilibrio, 0 comportamento humano mostra-se, por tendencia, desequi
librado - heterostasia. Equacionando a questao no ambito mais restrito da obra em ami
lise, dir-se-a que os actos falhados encontram-se tambem na linha de fronteira entre a
homeostasia e a heterostasia, pois se, a nivel a nivel comportamental os individuos por
eles afectados apresentam condutas homeostaticas, tambem nao e menos verdade que tal
conduta e motivada pelo nonnal funcionamento do psiquismo humano, que assim traya
a ponte entre inconsciente e consciente, procurando-se alcanyar 0 almejado equilibrio.
3. - Analise 30 nivel teorico
3.1. ~struturadores para a classifica(,jao de teorias
De acardo com os estruturadores propostos, e por forma a enquadrar a tearia de Freud
nos mesmos, evidencia-se que se trata de uma teoria que podemos apelidar de patol6gi
ca, na medida em que faz apelo, e equaciona 0 conceito de sintoma, que podemos defi
nir como uma manifestayao do sofrimento psiquico vivenciado pelo sujeito, que se
expressa sob a forma fisica, motora ou ao nivel de detenninados comportamentos do
sujeito ( par exemplo, cegueira ou paralisia de natureza histerica). Nao e detectado pela
pessoa que 0 apresenta, e incongruente com a sua personalidade, e indomavel por via da
vontade consciente, e il6gico e esta sempre imbuido de significado inconsciente.
3.2. Aspectos constituintes da teoria
Em todas as suas paginas, e 0 livro aqui objecto de estudo nao constitui eXCepyaO,
Freud foi ideando e completando a sua construyaO te6rica, ainda hoje inspiradora para
muitos profissionais da area da Psicologia, a que deu 0 nome de Psicanillise. A psicana
lise foi enunciada como urn metodo de investigayao de processos mentais, que sao, a
partida inacessiveis par outra via; urn metodo de tratamento de neuroses; uma nova dis
ciplina de cariz cientifico que assenta sobre urn nueleo de principios basilares: 0 incons
ciente dinamico, os complexos, 0 recalcamento, a transferencia e a interpretac;ao.
Devido ao facto de haver sido sujeita a diversas alterayoes que assinalam a sua evoluyao
ao longo da vida e percurso profissional de Freud, a Psicanalise e, tradicionalmente,
7. 7
podemos dize-Io, descrita com recurso as expressoes - 1atopica e za topica - as quais se
referem, respectivamente, it formula inicial desta teoria, e it sua estruturayao mais recen
teo Desde logo, cabe explicitar que a 1a topica corresponde it enunciayao e articulayao
entre si, de dois principios deveras relevantes: 0 principio do prazer e 0 principio da
realidad.e. Ora, 0 principio do prazer, consiste, essencialmente, em procurar 0 prazer,
procurar a plena satisfayao das diversas necessidades dos individuos, evitando tudo 0
que seja passivel de causar sofrimento ou frustrayao ( tanto a nivel fisico como psiqui
co).
Outrossim, 0 principio da realidade traduz-se em deferir a satisfayao de necessidades
que seja gratificante para 0 sujeito, em prol de obstaculos colocados pela realidade,
tal principio norteia a dinamica do Ego, ao passo que 0 principio primeiramente men
cionado dirige a aCyao do Id. De acordo com a concepyao freudiana do psiquismo
humano, deve ainda assinaLar-se e reLembrar, a este proposito, a funyao desempenhada
peLo Suprego, que tern a incumbencia de conter em si uma idealizayao do Ego, supor
tando em si as regras e convenyoes sociais que estribam ou tentam estribar 0 comporta
mento humane dominado pelas puLsoes (contidas no Id).
Por se ter deparado com casos de pacientes com stress pos-traumatico, devido aos
conflitos belicos, da Grande Guerra de 14 - 18, que 0 mundo atravessou, Freud introdu
ziu (largas) alteraQaes it 1a topica, que consistem na inseryao de termos como pulsiio de
repetifiio, Eros (pulsao erotica e de vida) e Thanatos (pulsao de morte). Para Freud, a
pulsao de repetiyao era algo inconsciente, logo fora do controle humano.
Segundo Freud, a pulsao de repetiyao poderia ser explicada da seguinte forma: Imagi
nemos os soldados que sobreviveriam it Grande Guerra de 14 - 18. Durante os seus
tempos de descanso, irao reproduzir em sonhos os eventos stressantes e altamente trau
maticos que viveram no campo de batalha. Esta manifestayao onirica deve-se ao facto
de 0 inconsciente dos soldados, ter sido bombardeado com informayao traumatica,
levando it repetifao em sonhos, de modo a auxiliar as vitimas num proximo confronto.
Eros, nome do deus do amor e erotismo na mitologia grega, corresponde it pulsao eroti
ca, e portanto sexual. E uma das duas principais pulsaes que segundo 0 psicanalista
regulam 0 comportamento humano, sendo tambem responsivel pelo Complexo de Edi
po, 0 par Anima - Animus e muitos recalcamentos sexuais, parafilias e ate a motivayao
para a reproduyao humana.
8. 8
Ja Thanatos, era a personificac;ao grega para a morte, e e, na psicamlJise, a pulsao de
morte, que leva ao comportamento agressivo nos Homens. Esta pulsao regulava os
impulsos agressivos e sentimentos negativos, como a melancolia, ira, 6dio, etc.
Freud acreditava que estes impulsos estariam presentes desde muito cedo, e que pro
cessos que se iniciavam e manifestavam ainda na primeira infancia, condicionando 0
comportamento do individuo na vida adulta, assim como as manifestac;oes psiquicas,
sexuais e sociais. Contudo, estas tendencias nao agiam em separado, ou seja, Freud con
siderava que Eros e Thanatos interagiam uma com outra, mas de uma forma negativa,
entrando em conflito.
4 - Amilise 30 nivel metodologico
4.1. Conceitos empiricos
Na obra, Freud enumera varias razoes que levam aos lapsos na fala (lapsus linguae).
Estes lapsos, teriam origens varias: desde as semelhanc;as fonol6gicas entre substantivos
ao efeito da associac;ao livre. Freud tambem salienta a importancia da carga emocional
atribuia ao nome de alguem, no momenta do lapso.
Segundo Freud, outra das razoes que nos podem levar aos lapsos prendem-se com
associac;oes livres, que neste caso, sao processos inconscientes. Estas associac;5es,
seriam urn modo de analisar preocupac;oes, angustias e desassossegos, associados a
experiencias ou vivencias de elevada carga emocional e preocupac;ao. Tais preocupa
c;5es, iriam desencadear associac;oes entre termos do mesmo lexico que a fonte de preo
cupac;5es, levando 0 examinado a lapsos linguisticos. No momenta do lapso, 0 paciente
diria portanto outra palavra (relacionada com a fonte de nervosismo), que nao a que
quena.
4.2. Analise da metodologia de acordo com estruturadores propostos
A tecnica de associac;ao livre de ideias consiste em pedir ao paciente ou sujeito que
relate os seus pensamentos e acc;5es antecedentes ao fen6meno, de forma a ser encon
trada a associac;ao, ao nlvel inconsciente, que 0 provocou.
Freud notifica-nos que, para alem do conteudo, 0 que ha de comum em todos os casos
de esquecimento de palavras e0 facto de que 0 material esquecido ou distorcido tern,
portanto, uma ligac;ao com uma corrente de pensamento inconsciente. Estes fen6menos
surgem, portanto, pe1a tentativa de evitar urn sentimento desagradavel ou penoso que
9. 9
uma certa recordayao e susceptivel de evocar, por associayao - mecanismo de defesa
psiquico. A introspecyao, de elevado cariz subjectivo, foi urn dos metodos de analise
psicol6gica usado pelo autor e ao longo desta obra e bern visivel as suas referencias a
epis6dios pessoais que sao submetidos a uma dissecayao profunda, com 0 unico objecti
vo de serem analisados, interpretados e explicados numa dimensao mais geral. as pen
samentos, os desejos e as motivayoes sao explicados por Freud de forma tambem
retrospectiva, uma vez que os fen6menos estudados referem-se, inclusive e por vezes, a
urn passado pouco recente. Daqui resultam tambem varias alterayoes e modificayoes ao
nivel do trayo mnesico dos materiais psiquicos.
Este metodo levanta alguns pontos criticos, quanta a veracidade e validade das anal i
ses dos materiais psiquicos. Tal acontece tambem porque a introspecyao tern somente a
linguagem como forma de expressao e os individuos nem sempre conseguem "traduzir"
clara e correctamente os seus estados internos desta forma. Alem disso, as pr6prias
emoyoes dos sujeitos influenciam e adulteram esta comunicayao, bern como nao e pos
sivel existir urn controlo por parte do observador que se observa a si mesmo.
5. - Analise ao nivet da pragmatica ou pratiu'l
5.1. Objectos de estudo cia teoria
Alem do par consciente - inconsciente presentes na obra, Freud aponta como duas
linhas estruturadoras para a concepyao do homem - e como tal, a sua mente - a linha
sexual e de agressiio. Numa fase precoce do desenvolvimento existem as tao famosas
fases orais, anais e fMicas, assim como 0 Complexo de Edipo.
Contudo, Freud, chegou a afirmar que era possivel canalizar a forya psiquica de Eros
e Thanatos. Sublimando estas foryas, podia-se obter vontades e impulsos, que satisfei
tos, levariam a born contributo a sociedade sendo varios os exemplos para esta ideia que
contempla a importancia da abstinencia sexual como modo de cultivar a criatividade
(sublimayao do Eros) e motivayao para operay6es cirurgicas existente nos cirurgioes e
medicos (sublimayao do Thanatos) (Sa-Nogueira Saraiva, 2010).
Apesar de admitir esta possibilidade, Freud advogou tambem as consequencias destas
escolhas: Quem dirigisse as motivayoes Eronianas e Thanatianas para outros fins, que
naos os iniciais, fa-Io-ia por obtenyao de prazer imediato, e nao por redireccionamento
altruista! Com a elaborayao desta teoria, Freud afirma que para 0 Homem ter lugar na
sociedade, precisa de suprimir estas vontades, fazendo-o com sofrimento, 0 que causa
10. 10
perturbayoes psicol6gicas, como as neuroses. Para Freud, e a luz das correntes de ideias
da psicamilise, concebe-se 0 homem como urn ser perturbado, de impulsos inconscien
tes e motivado por foryas psiquicas e vitalistas.
5.2. Contexto ou nivel de observa~ao dosfenomenos humanos
Atraves da observayao de alguns casos de actos falhados de pacientes e outros do pr6
prio autor desta obra aqui estudada, Freud avanyou com algumas interpretayoes que Ihe
permitiram encontrar algumas explicayoes para os mesmos - vaJidas ou nao a luz do
conhecimento actual.
Sobre 0 esquecimento de nomes pr6prios, 0 autor sugere que no momenta do lapso hit
urn desvio da atenyao da sequencia de pensamento que a ideia principal exige - urn
exemplo dado e 0 efeito da lembranya de urn pormenor sexual de uma dada cultura, no
caso Signorelli, Botticelli e Boltrafio, onde 0 nome que se pretende recordar e substitui
do por outros nomes, devido a uma "falsa memoria". Neste caso, 0 cariz sexual do por
menor, associado extemamente ao nome pretendido, constitui assim 0 motivo para a
repressao do nome desejado, ao nivel do inconsciente.
Freud afirma que hit dois factores que parecem ser determinantes para a explicayao da
evocayao de outros nomes substitutos dos nomes esquecidos, bern como para 0 esque
cimento de palavras estrangeiras: em primeiro lugar, 0 esforvo de atenvao que 0 sujeito
faz e, em segundo lugar, a existencia de urn determinante intimo que se encontra asso
ciado ao material psiquico. Isto quer dizer que, de acordo com 0 autor, a incapacidade
de recordar urn nome pode ser favorecida peio cansayo, perturbayoes circulatorias e
intoxicayao - factores estes que conduzem a uma menor atenyao par parte do sujeito.
Alem disso, 0 nome esquecido tern quase sempre algum tipo de relayao com urn assunto
que diz respeito a pr6pria pessoa - esta re1ayao pode ser inesperada e e revelada por
associayoes superficiais 1 E importante referir que os complexos perturbadores (motivos
que levam ao esquecimento, ao nivel do inconsciente) tern maior impacto quando dizem
respeito a relayoes pessoais, familiares ou profissionais.
Quanto ao esquecimento de nomes e series de palavras, 0 autor faz distinyao entre
duas possibilidades de esquecimento: a) 0 esquecimento ocorre porque hit recordayao
directa de algo de desagraditvel (associado ao nome que eesquecido) ou b) 0 esqueci
1 Como. por exemplo, a existencia de palavras com duplo significado e com sons semelhantes
11. 11
mento deve-se it ligac;ao do nome em questao a urn outro nome susceptivel de provocar
urn sentimento desagradavel (esta associac;ao podera ser entre nomes muito ou pouco
afastados entre si).
Urn aspecto curioso e a abordagem de Freud sobre 0 "esquecimento colectivo" que
consiste no esquecimento, par exemplo, de urn nome por detenninada pessoa que por
contacto com outra a induz tambem ao esquecimento do mesmo vocabulo. 0 autor
explica-nos este fenomeno alegando que 0 esquecimento de nomes pode ser contagioso
e sugerindo que a pessoa em quem 0 esquecimento e provocado recorda mais facilmente
o nome esquecido Por vezes, ha ainda 0 esquecimento continuo de nomes, onde series
inteiras de palavras escapam ao trac;o mnesico: isto acontece quando tentamos recordar
urn nome, mas surgem-nos outros it ideia que acabam igualmente por se desvanecer
tambem. Ha entao urn esquecimento de nomes sucessivos, 0 que prova a existencia de
urn obstaculo/complexo dificil de afastar.
As omissoes que por vezes fazemos ao escrever (lapsus calami) e na transcric;ao de
textos sao explicados por Freud 2 pelo abandono da atenc;ao por parte do sujeito em rela
c;ao it tarefa para seguir as suas proprias ideias - 0 individuo Ie, mas quando 0 interro
gamos sobre 0 conteudo de urn texto, por exemplo, este nao sabe dizer nada a esse res
peito. Ha, assim, a realizac;ao de uma leitura automcitica que escapa it atenc;ao conscien
teo Segundo 0 autor, ainda em relac;ao aos exemplos deste tipo de lapso, nao e possivel
admitir que ha uma diminuic;ao da atenc;ao, mas antes uma perturbac;ao desta, como
consequencia de uma ideia estranha ou exterior ao sujeito. Urn dos factores que facilita
isto mesmo e por exemplo a semelhanc;a entre palavras que e entao manipulada pelo
sujeito por forma a que este possa transformar determinada palavra no sentido que dese
Ja.
5.3. Natureza dos dados
Em Psicopatologia da Vida Quotidiana, Freud tenta explicar de forma clara mas sub
jectiva a relac;ao entre 0 inconsciente e os lapsos de linguagem que sucedem nas mais
variadas situac;oes do dia-a-dia. Para tal, utiliza varios exemplos de situac;oes nao so por
ele experienciadas, mas tambem por ele observadas em comportamentos de amigos ou
2 Na obra, esta explica~ao freudiana contrap6e a teoria de WWldt sobre este fen6meno
12. 12
de situac;oes re1atadas pelos pacientes durante sessoes de psicamllise (mostrando 0
canlcter multiforme da sua teoria).
6-Amilise global e Conclusoes
Considerando-se 0 valor heuristico dos conceitos trazidos para 0 mundo cientifico
pela corrente psicanalitica, cabe referir que existem, ainda hoje, correntes dinamicas da
psicologia que derivam desta mesma matriz, sendo certo que conceitos como os de sin
toma, actos falhados, associac;ao de ideias, neurose, Eros, Thanatos, ainda hoje sao
objecto de reinterpretac;ao e sao devidamente levados em conta na aplicac;ao de psicote
rapias de raiz psicanalitica.
Em termos de parcim6nia dos conceitos, deve dizer-se que, confonne alias decorre
das inumeras menc;oes e exemplificac;oes ao longo da obra estudada, e tambem atenden
do-se a teoria psicanalitica freudiana numa perspectiva global, trata-se de urn modelo
te6rico que recorre a uma imensa pan6plia de conceitos, fazendo uso de uma terminolo
gia bastante elaborada e especifica, que tern sido alvo de reinterpretac;oes ao longo dos
anos.
Sem duvida alguma, em termos de aplicabilidade, a teoria psicanalitica deu urn rele
vante contributo para melhor trilhar os caminhos tendentes a desvendar 0 comportamen
to e a mente humanos, e ainda que nao se siga a teoria, a qual vern sendo apontadas
diversas criticas, desde logo de urn subjeetivismo que Ihe retira alguma isenc;ao que
seria exigivel a nivel cientifico, ha que considerar a sua relevancia na hist6ria da Psico
logia em geral, sendo urn marco deveras importante e inspirador de novos estudos.
o estudo desta obra permitiu-nos alargar os conhecimentos sobre 0 complexo e amplo
sistema te6rico de S. Freud, com especial incidencia na analise de diversos exemplos de
actos falhados aue evidenciam nerturbacoes inconscientes aue afeetam
~ ~ , .1
0 nsiauismo
.1 .1
humano, levando-nos a reflectir em aspectos do nosso dia a dia, a que nem sequer
davamos grande relevancia.
Realizar este estudo foi uma boa oportunidade para desenvolver academicamente 0
espirito de pesquisa, bern como 0 sentido critico, reflexivo e opinativo de cada urn dos
discentes que integraram este grupo de trabalho, estando todos de acordo na relevancia
hist6rica e pratica da teoria do autor, se bern que as opinioes de dividam bastante quanta
a total validade do trabalho do autor, globalmente considerado.
13. Bibliografia
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personalidade psiquica e a psicopatologia, 3. Mem Martins: Publicayoes Europa
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• Freud, S. (2003). Psicopatologia da Vida Quotidiana. Lisboa: Rel6gio d' agua.
• Haar, M. (2008). Introdu(fiio aPsicanalise Freud. Lisboa: Ediyoes 70
• Lind, W. (2008). Referencial Multidimensional para a analise de teorias em
psicologia. Lisboa: Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
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• Queir6s, A. (2009). A Recep(fiio de Freud em Portugal. Coimbra: Imprensa da
Universidade de Coimbra.
• Saraiva, R.S.N. (2010). Aulas de Grandes Correntes de Psicologia. Lisboa:
Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
• Zimerman, D. E. (2005). Psicanalise em perguntas e respostas - verdades, mitos
e tabus. Sao Paulo: Artmed.