A psicomotricidade tem suas origens na antiguidade, quando o significado do corpo humano começou a ser estudado. No século XIX, neurologistas e psiquiatras passaram a estudar o corpo e o cérebro para entender fatores patológicos. No século XX, psicomotricidade emergiu como uma prática independente focada em distúrbios motores. Ajuriaguerra foi fundamental para definir a psicomotricidade como uma ciência autônoma focada na relação entre movimento e psiquismo.
1. HISTÓRIA DA PSICOMOTRICIDADE
Abordar a origem e a evolução da psicomotricidade é, antes de tudo, estudar
a significação do corpo ao longo da civilização humana. A história da
psicomotricidade é solidária a história do corpo, ou seja, a psicomotricidade tem seu
início desde que o homem é humano. Desde a antiguidade até os dias atuais o
significado do corpo sofreu inúmeras transformações. Desde Aristóteles o corpo foi
negligenciado em função do espírito. Apenas no século XIX o corpo foi estudado por
neurologistas e, posteriormente, por psiquiatras com o intuito de compreender as
estruturas cerebrais e esclarecer fatores patológicos.
O termo Psicomotricidade surge, pela primeira vez, no discurso médico,
mais especificamente, no campo da Neurologia, quando, no século XIX houve uma
preocupação em identificar e nomear as áreas específicas do córtex cerebral
segundo as funções desempenhadas por cada uma delas. E foi no século XX que
ela passou a desenvolver-se como uma prática independente e, aos poucos,
transformar-se em ciência.
A figura de Dupré, neuropsiquiatra, em 1909, é de grande importância para o
âmbito psicomotor, já que é ele quem afirma a independência da debilidade motora
(antecedente do sintoma psicomotor) de um possível correlato neurológico.
Em 1925, Henry Wallon, médico psicólogo, ocupa-se do movimento humano
dando-lhe uma categoria fundante como instrumento na construção do psiquismo.
Esta diferença permite a Wallon relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao
meio ambiente e aos hábitos do indivíduo.
Já em 1935, Edouard Guilmain, neurologista, desenvolve um exame
psicomotor para fins de diagnóstico, de indicação da terapêutica e de prognóstico. E,
em 1947, Julian de Ajuriaguerra, psiquiatra, redefine o conceito de debilidade
motora, considerando-a como uma síndrome com suas próprias particularidades. É
ele quem delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o
neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade
diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e
autonomia.
2. Julian de Ajuriaguerra e R. Datkine, 1947/48, na França provocaram uma
mudança na história da psicomotricidade, com as primeiras técnicas reeducativas
vinculadas aos distúrbios psicomotores. Nessa época, Ajuriaguerra atualiza o
conceito de psicomotricidade, associando-o ao movimento. Em seu manual de
Psiquiatria Infantil, Ajuriaguerra delimita com clareza os transtornos psicomotores,
que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico.
Com essas contribuições, a psicomotricidade se diferencia de outras
ciências e adquire sua própria especificidade e autonomia. Ajuriaguerra com suas
novas concepções teóricas passa para a história da psicomotricidade como o único
que conseguiu romper efetivamente com o imperialismo neurológico e com o
conceito de paralelismo psicomotor de Dupré.
Na década de 70, diferentes autores definem a psicomotricidade como uma
motricidade de relação. Começa então, a ser delimitada uma diferença entre uma
postura reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se da técnica
instrumentalista e ao ocupar-se do "corpo de um sujeito" vai dando
progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e ao emocional.
REFERÊNCIAS
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psiconeurológica dos fatores psicomotores. 1ª Ed. RS : Artmed, 1995.
LEVIN, E. A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. 7ª Ed. RJ : Vozes, 2007.
OLIVEIRA, G. de C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque
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Psicomotricidad y Técnicas Corporales, p. 17 a 24, maio, 2004.
VALENTIM, M. O. da S. V. Linguagem do corpo: o inconsciente na clinica. Viver, SP
: Segmento, v. 12, nº 132, p. 28-30, jan. 2004.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. [s.e.] Lisboa : Edições 70, 1978.