O documento discute a importância da leitura de literatura juvenil e como ela pode revelar preocupação com novos paradigmas. A literatura juvenil deve considerar problemas complexos, visões fragmentadas do mundo e perspectivas temporais não lineares. A Invenção de Hugo Cabret é citada como um exemplo de obra que incorpora esses elementos ao contar a história de um menino que vive secretamente em uma estação de trem em Paris na década de 1930.
3. The fantastic flying books of Mr. Morris
Lessmore
Um fato curioso: antes de ser premiado, foi lançado como livro
digital interativo para iPad, e chegou ao primeiro lugar entre os
mais vendidos na loja da Apple em 2011.
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4. O curta revela paradigmas típicos da
contemporaneidade :
• aponta para problemas complexos (não mais simples);
• para uma forma de organização autônoma (não mais
hieráquica);
• para uma visão de mundo fragmentária (não mais
determinista);
• para uma perspectiva temporal causal (não mais linear);
• para uma realidade contextual (não mais objetiva);
• para uma visão de espaço globalizadora (não mais
localizada).
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5. Por que a literatura (juvenil)
precisa considerar esses
paradigmas?
porque ler é interagir: o ato de ler implica
diálogo entre sujeitos históricos;
leitura desenvolve competências para
compreender o texto como manifestação de um
ponto de vista autoral, assumido a partir de
determinado contexto histórico (visão e valores
expressos no texto);
leitura supõe uma atitude responsiva,
estrutura
respostas ao texto por meio de novas ações, de
linguagem verbal ou não (recepção ativa).
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7. O que faz a escola hoje a esse
respeito?
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8. Para que ler
literatura?
para constituir repertório de leitura, ou
história de
leitor (favorece a intimidade com os textos, o hábito
de ler a partir do gosto pessoal e oportuniza
socializar seus achados de modo a poder influenciar
outros leitores em formação;
para exercitar formas de aprofundamento e
qualificação da história de leitor (relacionar com
a
série literária, problematizar temas e soluções de
linguagem encontrados pelo texto, experimentando
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9. A quem compete favorecer a leitura
literária de jovens?
à escola, cuja função, entre outras, é ampliar a cultura
escrita dos estudantes, atribuindo novos sentidos ao
letramento em suas vidas, já que ele integra as mais
variadas práticas sociais contemporâneas;
às práticas pedagógicas
organizadas
(planejamento de tarefas de leitura com
finalidade reconhecível e compatível com
o gênero estudado), que tornam o ato de
ler uma atividade de construção de
sentidos e recuperam a função social da
leitura.
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10. Práticas pedagógicas em literatura: o
que ler? Para que ler? Como ler?
• Ler para estabelecer relações com as situações
de produção e recepção: elementos do contexto
social, do movimento literário, do público, da ideologia,
etc;
•
Ler para estabelecer relações com outros
textos, verbais e não verbais, literários e não literários,
da mesma época ou de outras, colocando-os em
interação e diálogo;
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11. Práticas pedagógicas em literatura: o
que ler? Para que ler? Como ler?
• Ler para explorar as potencialidades de uso da
linguagem literária, condição para produzir sentidos e
adquirir uma cultura integradora das dimensões
humanista, social e artística, que valorizam as noções de
diacronia e sincronia, ou seja, as relações com a série
literária (que envolve a história de leitor) e a capacidade
de perceber uso artístico da linguagem (fruição).
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13. Tradição e ruptura
- instrumentalizam para a compreensão
dos textos a partir do lugar e da época em que
foram produzidos ;
- fortalecem a construção de uma história
pessoal de leitor, pois habituam a estabelecer
relações a partir do que as obras são capazes de
dizer para um leitor atual;
- legitimam leituras produzidas em outros
tempos ou contextos.
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14. Estranhamento
- alarga o horizonte de expectativas do
leitor e permite compreender outro modo de ver;
- oportuniza, do seguro lugar do leitor,
vivenciar experiências radicais da vida humana, a
partir da linguagem e por meio da ficção;
- investe na ampliação da humanidade pela
fruição estética;
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15. Intertextualidade (diálogo entre textos)
- favorece o reconhecimento de que todo o
texto é um mosaico de citações;
- assegura, a um só tempo, renovação e
interação com o que já existe;
- supõe ultrapassar a compreensão linear
do texto e lançar mão da história pessoal de
leitura para atribuir sentido à produção simbólica
constituída por um novo texto.
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16. Como a literatura juvenil revela
preocupação com ler a partir de novos
paradigmas?
O exemplo de A invenção de Hugo Cabret
(Brian Selznick. São Paulo: SM Editora,
2011.)
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17. O autor
Brian Selznick nasceu em East Brunswick,
Nova Jersey, e se formou na Escola de
Design de Rhode Island.
É autor premiado de literatura infantojuvenil. Selznick
reconhece que encontrou a inspiração para criar o mundo de
Hugo Cabret depois de ler Edison´s Eve: A Magical History of
the Quest for Mechanical Life, de Gaby Wood, texto que
contava a história de uns complicados homens mecânicos de
corda que foram doados a um museu de Paris. A coleção fora
abandonada em um sótão bagunçado e, por acaso, jogada no
lixo. O autor então imaginou como seria se um garoto
encontrasse as máquinas quebradas e enferrujadas e criou
Hugo e sua história.
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18. A obra/sinopse: Paris, anos 30. Hugo Cabret vive
clandestinamente na estação de trem. Esgueirando-se
por passagens secretas, o menino cuida dos relógios do
lugar. Ele precisa manter-se invisível porque guarda um
segredo. Descoberto pelo dono da loja de brinquedos
próxima e por sua afilhada, todos os seus planos correm
risco. Um valioso caderno, uma chave roubada, uma
mensagem cifrada e um passado esquecido estão no
centro dessa aventura.
A obra oferece uma diferente experiência de leitura. Seu
autor compôs a trama com textos e ilustrações que
desenvolvem a história como em uma storyboard de
cinema. A interação entre realidade e a ficção oportuniza
que o leitor adquira novos conhecimentos.
A obra recria uma época-chave da história da humanidade: a industrialização européia, o
auge das ferrovias, os funcionamentos de mecanicismos das máquinas (aplicado às
artes, à mágica, à relojoaria) e o surgimento do cinema.
Considerada uma obra-mestra pela crítica mundial, foi publicada em 2007 pela
Scholastic, mesma editora do Harry Potter nos Estados Unidos, e vendeu 300 mil
exemplares em três meses. Adaptada para o cinema por Martin Scorsese, tem agradado
os espectadores e recebeu 5 Prêmios Oscar em 2012 (efeitos visuais, fotografia, direção
de arte, edição de som e mixagem de som).
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19. A contextualização da
leitura
• http://www.theinventionofhugocabret.com/index.htm
Na página oficial inglesa lê-se uma entrevista com Brian Selznick e há fotos
que o autor tirou em Paris quando visitou a cidade para escrever o livro e
conhecer a vida de Georges Méliés.
• http://www.melies.eu
site oficial em homenagem a Méliés. Além de informações sobre vida e obra,
disponibiliza alguns curtas.
• http://www.edicoessm.com.br/hugocabret/links.html
Também é interessante visualizar a página da editora SM e pesquisar nos
links que ela oferece, especialmente remetendo à foto de um acidente
ferroviário na Estação de Montparnasse que ilustra um sonho de Hugo, à
história dos homens mecânicos, que tem um importante papel na obra e ao
estudo do ilusionismo.
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20. Aspectos relevantes da obra
• Breve introdução (situação inicial): um
narrador onisciente (prof. H. Alcofrisbas) sugere ao
leitor que simule estar numa sala de cinema, no
início de um filme. Alude ao movimento de uma
câmera, que começa em plano geral (situa no
tempo – o sol vai nascer; no lugar - uma cidade/
Paris/ uma estação de trem/Montparnasse e vai
focando um menino, Hugo Cabret, até mostrá-lo
em primeiro plano. Sugere que o leitor o siga
“porque ele está cheio de segredos na cabeça,
esperando que sua história comece”.
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21. Aspectos relevantes da obra
Parte 1/ cap 1: O ladrão: 44 páginas de narração
por imagens que retomam o que um narrador
onisciente apresentou e dá seguimento à
narrativa, desenvolvendo aspectos relativos ao
segredo e introduzindo outro personagem: um
velho que trabalha em uma loja de brinquedos e é
observado por Hugo.
p. 46 – narrativa escrita, curta e ágil, que detalha ponto de vista de
Hugo e sua relação com o velho. Introduz outra personagem (uma
menina, observada por Hugo) e refere ainda o guarda de estação,
temido por ele. Coloca Hugo e o velho em conflito e apresenta um
objeto que passa a ser disputado por ambos: um caderno de notas,
guardado pelo menino e que perturba o velho. O objeto é examinado
pelo velho e seu conteúdo é informado ao leitor através de imagens
que se misturam às páginas escritas.
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22. A linguagem
• é hibrida: envolve imagem e palavras, remete aos
quadrinhos, à literatura, ao cinema;
• é familiar ao destinatário/leitor, predispondo-o a ler;
• o recurso (característico da literatura contemporânea
destinada a jovens e a adultos (ver Diário de um Banana, de
Jeff Kinney, ou Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá);
• rompe com o cânone tradicional da
literatura, vinculando a leitura a
seu tempo e desafiando o jovem a
continuar a ler. Pela linguagem,
enreda o leitor na narrativa atualiza o
interesse pelo passado.
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23. A narrativa
• à medida que evolui, a trama remete à realidade (a história de
Georges Méliés, 1861-1938), e propõe à discussão do que há de
verdade e de ficção no enredo. Isso supõe a possibilidade de
discutir uma das funções da literatura: dar a conhecer um
contexto social (a virada do século XIX/XX), especialmente os
aspectos culturais e científicos, de um grande centro urbano da
época.
• por ser ficção, recorre à caracterização de um
tempo determinado (simbologia do relógio,
objeto que supõe o domínio do seu mecanismo
de funcionamento), num espaço definido
(estação de trem, transporte que representa, na
época, progresso e encurtamento do espaço,
mediado pelo tempo )– não é à toa que tempo e
espaço são aspectos descritivos da narrativa.
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24. A narrativa
• ao simular histórias de vida para apresentar aspectos do real,
cria personagens complexos, imersos em problemas que
fazem sentido ainda na contemporaneidade (as relações
afetivas, os vínculos pessoais com traumas do passado e a
necessidade de resolvê-los para poder crescer), oportunizando,
do seguro lugar do leitor, vivenciar experiências radicais da vida
humana, a partir da linguagem e por meio da ficção.
• ao ser lida por jovens, dá acesso a
conhecimentos sobre o passado, alarga o
horizonte de expectativas do leitor e
permite compreender outros tempos, outro
modo de ver o mundo (o contexto).
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25. A experiência de leitura
pode ampliar
conhecimentos:
• remeter a outras leituras sobre o contexto (pesquisas a
respeito do tempo, das personagens reais presentes na trama,
das máquinas e de sua influência na vida de época (trens,
brinquedos, mágicas, etc);
• remeter a outras obras literárias e explorar outros tempos e
contextos representados pela ficção (Mark Twain e As
aventuras de Tom Sawyer, e outros).
• propor a discussão do suporte utilizado para criar: filme ou
livro? No livro, a imagem tem que finalidade? Ela aproxima ou
distancia do leitor? Ela facilita ou complexifica a leitura?
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26. A experiência de leitura
pode:
• dar concretude à interação proposta pela leitura:
a) através da criação de fóruns de discussão e difusão dos
achados sobre a época retratada no texto (relato oral, ou
em suporte a ser socializado em forma de pôster, painel,
blog etc);
b) pelo registro escrito, em forma de resenha crítica,
criação de cadernos temáticos que documentem todo o
processo de leitura, as relações de intertextualidade, a
apropriação de conhecimentos e a ampliação das
competências de leitura literária.
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27. Síntese
A unidade propõe, então, que se realize a função da leitura de
literatura (juvenil):
Ler para estabelecer relações com as situações de
produção e recepção: dá conta do contexto social da época
retratada com recursos que interessam o leitor hoje.
Ler para estabelecer relações com outros textos:
relaciona literatura e HQ, explora recursos de linguagem atuais,
abre perspectiva para outras artes, colocando-as em interação
e diálogo.
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