O documento discute a relação entre infância, escrita e brinquedo no processo de alfabetização. Aprender a escrever não deve ser visto como saída da infância, mas como possibilidade de exercício de autoria durante a infância. O brinquedo desempenha papel importante na aprendizagem da escrita, ao ajudar a criança a compreender que objetos podem representar outros.
PNAIC 2015 - Texto 4 o lugar da cultura escrita na educação da criança
1.
2. - Discutir a escrita e a infância como conceitos que
não se excluem.
- Discutir a possibilidade de que a escrita possa vir
a tornar-se, também, mais um brinco para a
infância.
Objetivo do texto
3. Para isso o texto irá:
• Situar infância e escrita;
• Refletir sobre a forma como as crianças pequenas se
relacionam com a linguagem;
• Refletir sobre a pré-história da linguagem escrita,
segundo Vygotski (2000).
• Refletir a formação de conceitos cotidianos e
científicos, segundo Vygotski, articulados com a
apropriação da linguagem escrita.
4. “[...] é não apenas um período da vida, mas, mais
que isso, ela é parte da condição que nos torna
humanos” (MEYER; VASCONCELLOS; LOPES, apud
GOULART, 2012, p.2).
5. • Estudos desenvolvidos por Ariès tornaram possível
fazer a pergunta “o que é infância?”, questão que
nos situa como homens e mulheres da
modernidade.
• Ariés (1981) afirma que durante toda a Idade
Média, havia uma representação da criança sem
traços infantis, um adulto miniaturizado, o que
representaria uma ausência do sentimento de
infância nas sociedades europeias daquela época.
6. Heywood (2004) questiona se realmente não haveria
o sentimento de infância na Idade Média, ou se Ariès,
por buscá-lo com os olhos da modernidade e não o
encontrando da forma como considerava ser correto,
conclui pela ausência desse sentimento.
7. • Stearns (2006, p.11) apresenta uma visão
diferente daquela defendida por Ariès,
apontando que “todas as sociedades, ao longo
da história, e a maior parte das famílias,
lidaram amplamente com a infância e a
criança”.
8. Ainda que pensada em um mesmo tempo,
a infância não é a mesma para todas as
crianças, variando por:
Classe Social
Etnia
Religião
Historicidade
Raça
9. Os diversos momentos históricos
também irão definir formas
diferentes de se ver a criança em
sua relação com o mundo e,
como consequência, com a
cultura escrita
10.
11. O que estamos considerando “ESCRITA”?
• A cultura escrita - o lugar -
simbólico e material - que o escrito
ocupa em/para determinado grupo
social, comunidade ou sociedade.
Galvão
(2010, p. 218)
• Aquilo que se
convencionou tratar de
tecnologia
Ong
(1998)
12. A infância, a escrita e o brinquedo
no Ciclo de Alfabetização
Pensar a escrita articulada com a infância não é uma
tarefa simples, porque, para alguns aprender a
escrever é o primeiro passo para a saída da infância.
X
Mas, para outros, a escrita ocupa lugar especial na
infância, constitui-se como possibilidade de exercício
de autoria.
13. Articulação entre a infância, a escrita e o
brinquedo
Na perspectiva de Vygotski (2000) implica lembrar
que se ensinava às crianças a desenhar letras e
construir palavras, mas não se ensinava a linguagem
escrita.
Infelizmente, a afirmativa continua verdadeira,
nos dias de hoje, uma vez que ainda ensinam às
crianças apenas a desenhar letras e não a linguagem
escrita.
14. Para Vygostski a escrita é um simbolismo de
segunda ordem, isto é, um sistema de signos que
designam os sons e as palavras da linguagem
falada, que são signos das relações e entidades
reais, e que irão, aos poucos, transformar-se em
um simbolismo direto.
A escrita como simbolismo de
segunda ordem
15. Para aprender a ler e escrever, a criança precisa
compreender que a escrita representa a fala e
não os objetos aos quais se referem as
palavras.
16. A importância do Faz-de-Conta
Para a criança, há uma ligação entre percepção
e significado.
No entanto, quando se envolve com jogos de
imaginação (faz-de-conta), a ação da criança
surge das ideias e não das coisas.
17. Importância do brincar para
aprendizagem da escrita
Os objetos tem força determinante no
comportamento da criança daí a importância do
brinquedo (VIGOTSKI,1991)
A ação em uma situação imaginária ensina a criança
a dirigir seu comportamento não somente pela
percepção imediata dos objetos ou pela situação
imediata. Com isso objetos perdem sua força
determinadora.
18. O objeto é dominante para a criança.
Porém, no brinquedo, os significados são
dominantes e os objetos são deslocados para uma
situação subordinada.
A situação imaginária é a 1ª manifestação da
emancipação da criança em relação às situações
concretas e funcionais (VIGOTSKI, 1991).
20. Mentiras
Mário Quintana
Lili vive no mundo do faz de conta...
Faz de conta que isto é um avião.
Zzzzzuuu...
Depois aterrissou em um pique
e virou um trem.
Tuc tuc tuc tuc...
Entrou pelo túnel, chispando.
Mas debaixo da mesa havia bandidos.
Pum! Pum! Pum!
O trem descarrilou.
E o mocinho?
Onde é que está o mocinho?
Meu Deus! onde é que está o mocinho?!
No auge da confusão, levaram Lili para cama, à força.
E o trem ficou tristemente derribado no chão,
Fazendo de conta que era mesmo uma lata de sardinha.
21. É grande a importância dada ao brinquedo, como
parte da construção do simbolismo na criança.
Por meio do brinquedo a criança perceberá que
determinados objetos podem denotar outros,
tornando-se, assim, seus signos.
No brinquedos os objetos podem
se tornar signos
22. Como ocorre no brinquedo, na língua escrita, a
criança precisará entender a questão da substituição.
Sob a influência dos gestos, crianças mais velhas começam
a descobrir que os objetos podem também substituir as
coisas que indicam.
Ao se fazer jogos com as crianças, em que um dado objeto
passa a denotar outro, elas irão modificar a estrutura
corriqueira do objeto, adquirindo este a função de signo,
independente dos gestos da criança.
A substituição no brinquedo
23. A aprendizagem da linguagem escrita pode ser
vista como um dos produtos do processo de
brincar.
A escrita como um simbolismo de segunda
ordem precisa ser compreendida como um
objeto substitutivo da fala.
24. A aprendizagem da linguagem escrita
pode acontecer APENAS a partir do
brinquedo e sem atividades intencionais
de ensino.
Não se
pretende
com isso
afirmar
que
25. Que o brinquedo tem um papel
significativo e que NÃO É APENAS
UM ADEREÇO sem importância na
prática pedagógica.
PRETENDE
-SE SIM
AFIRMAR
QUE:
26. Não será pelo treino e pelo desenho de letras que as
crianças aprenderão sobre a escrita. Mas o processo de
brincar, por meio do qual a criança percebe a
possibilidade de um objeto denotar outro, poderá
contribuir para o desenvolvimento de mecanismos
psíquicos importantes para a compreensão do que é a
escrita e do que ela representa, embora se trate de
simbolizações de naturezas diferentes.
A escrita e a infância não podem estar
interligadas de qualquer forma.
27. Brincar X Treinar Letras
Segundo Vigotski, mais faremos pela crianças
pequenas para que aprendam a ler e
escrever brincando com elas e as deixando
brincar livremente do que treinando letras e
as obrigando a fazer dever de casa em
materiais estruturados.
28. A importância do ensino no
aprendizado da escrita
Sendo a escrita uma convenção, seu aprendizado
não ocorrerá sem intervenção de atividades de
ensino.
O brincar também desempenha papel importante
no processo de aprendizagem da escrita e, muitas
vezes, isso não é percebido por aqueles que
trabalham com as crianças no Ciclo de Alfabetização
29. A infância é uma condição de nos
tornarmos seres humanos e para isso,
a educação, a escola é fundamental
em nossas vidas, principalmente em
nosso país, marcado por uma
diferença acentuada das classes
sociais.
30. Crianças destituídas do direito à
infância?
Ainda encontramos crianças vivendo em descompasso
com o que se pode pensar como um ideal de condições
mínimas de existência. Encontramos crianças que são
destituídas do direito à infância, independente da
classe social a que pertencem, seja por precisar
trabalhar ou por terem seu tempo tomado por
compromissos considerados produtivos (balé, natação,
aula de línguas, dentre outras).
31. QUAL EDUCAÇÃO PARA A INFÂNCIA?
UMA EDUCAÇÃO CAPAZ DE CONDUZIR A UMA
VIVÊNCIA DE INFÂNCIA PERMEADA DE
DESCOBERTAS, BRINCADEIRAS E
APRENDIZAGENS CONSTANTES.
UMA EDUCAÇÃO AS TORNEM CIDADÃS,
DETENTORAS DE DIREITOS, QUE PRODUZAM
CULTURA, E SEJAM POR ELA PRODUZIDAS
(KRAMER, 2007).
32.
33. A formação de conceitos
Para Vigotski, a formação de conceitos está presente já na
fase mais precoce da infância, estruturando-se e
desenvolvendo-se somente na puberdade.
No período de alfabetização, enquanto é vivenciado o
processo de ensinar e aprender a ler e a escrever a partir
das práticas sociais, convivendo dentro e fora da escola
com o sistema de escrita alfabético,
vamos organizando a formação dos conceitos.
34. Na mediação entre o sujeito e o objeto de
conhecimento, Vigotski identifica duas
linhas de formação de conceitos:
Os conceitos cotidianos
Os conceitos científicos
35. Crianças pequenas constroem conceitos no
relacionamento com as pessoas mais próximas (família e
amigos), em suas atividades práticas, interagindo com o
mundo em que vivem, em uma relação experimental e
intuitiva, com características primitivas e fora do campo
das reflexões, da consciência.
Esses conceitos são formados no dia a dia em conversas
informais, brincadeiras, descobertas, questionamentos,
quando a criança aprende aquilo que sua capacidade
psicológica permite naquele momento.
Os conceitos cotidianos
36. O desenvolvimento dos conceitos científicos aparecem
com o início da escolarização. Eles são elaborados a
partir do processo de reflexão, análise e compreensão,
marcados por explicações conscientes sobre assuntos
sistematizados pela cultura letrada.
Os conceitos científicos
37. Sinalizam a construção de várias funções psicológicas
superiores do sujeito como: memória mediada,
atenção voluntária, raciocínio lógico, abstração,
comparação e diferenciação.
Sua concretização ocorre na fase da adolescência,
período em que o indivíduo se torna capaz de interagir
com seus parceiros, opinar, criticar, reclamar, sugerir e
deixar sua marca conscientemente.
Os conceitos científicos e as funções
psicológicas
38. É na e pela escola que o indivíduo passa
dos conceitos cotidianos, que construiu no
seu dia a dia, para os conceitos científicos,
característicos do trabalho intelectual e
necessários ao seu futuro crescimento
pessoal.
O papel da escola e do professor
39. As diferenças entre os Conceitos
Cotidianos e Científicos:
A diferença principal entre os conceitos
cotidianos e científicos está ancorada no grau de
consciência da criança.
Os conceitos cotidianos são vivenciados no dia a
dia a partir do nascimento, fazendo parte do
contexto sócio-histórico-cultural em que
estamos inseridos, através dos conhecimentos
produzidos pela humanidade.
40. Já os conceitos científicos surgem em ambientes
específicos, como a escola – acompanhados de
pensamentos conscientes e sistematizados, que vão
sendo internalizados pela criança a partir de suas
necessidades, seus interesses e incentivos
oferecidos/mediados pelo(a) professor(a) ou por um(a)
colega mais experiente.
(AMBAS PROFESSORAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL)
Discutir a escrita e a infância como conceitos que não se excluem. (se completam e se interpenetram).
Discutir a possibilidade de que a escrita possa vir a tornar-se também mais um brinco para a infância brinco tanto no sentido do brincar do jogo, como também (e por que não?) no de ornamento, enfeite, arrumação.
Estes objetivos foram pensados tendo em vista o diálogo do PNAIC quanto as diversas diferenças e semelhanças culturais, as diversas linguagens e formas de discursos com um só compromisso: pactuar que estamos envolvidos em uma dinâmica de formação de professores, para garantir que nossas crianças se alfabetizem até os oito anos de idade.
Os autores indicam então que o que eles defendem é que a criança aprenda a ler e a escrever mas, também, que brinque, sorria e viva plenamente sua infância.
Buscar na turma o conceito de infância....
(Após apresentar essa reflexão em seu texto Ana Lúcia e Regina questionam:
Você já resolveu a essa pergunta, professor?
Já pensou sobre ela em outros momentos?
O objetivo é discutir com você e defender a ideia de que a infância...
*
Havia mesmo ausência onde Ariés viu ou era diferença? Mas de tudo fica a necessidade imperiosa de pensar o conceito de infância como algo demarcado pelo tempo.
Mesmo sendo Ariés a referência devemos ter olhar crítico sobre a história e percebermos que a infância pode ser demarcado por outras questões.
Então ....Além da historicidade há outros aspectos como Raça, Etnia Religião e ...sobre tudo Classe Social
Crianças das Camadas populares X Médias e Elites
Crianças Indígenas X Branças ou Afrodescendentes, do campo, das florestas ribeirinhas
Por outro lado (próximo slide)
A imagem a seguir ira contribuir para uma reflexão sobre essa questão.
DESCRIÇÃO DA IMAGEM SEGUNDO O TEXTO: UMA CRIANÇA PEQUENA, DE CINCO ANOS – SEGUNDO OS CRÉDITOS QUE A ACOMPANHAM – ESCREVENDO UM ALFABETO. MAS NÃO SE SABE QUEM É ESSA CRIANÇA E QUAL É A ESCRITA QUE ELA ESTÁ PRATICANDO... NÃO É MESMO?
TERIA ELA DIMENSÃO DO QUE REPRESENTA OU ESTAVA APENAS DESENHANDO-O?
APENAS PODEMOS AFIRMAR QUE A CRIANÇA ESTA SE RELACIONANDO COM A ESCRITA E QUE ESTE GESTO FOI E SERÁ REPRODUZIDO POR MILHARES DE OUTRAS CRIANÇAS PELOS SÉCULOS SUBSEQUENTES.
Espaços reservados para a infância na escola são encontrados apenas na Educação Infantil.
Na rotina do Ensino Fundamental não há espaço para as brincadeiras de jogos de papeis (aqueles que envolvem a brincadeira de faz-de-conta em que a criança representa ludicamente situações similares às que vivenciou ou que imaginou)
Para Vigostski a linguagem escrita ainda ocupava um lugar bastante estreito na prática escolar o que ainda é verdade para os dias de hoje INFELIZMENTE.
Ao usar o cabo de vassoura p representar o cavalo ela constrói a noção de que um objeto pode ser substituído por outro pela representação ... Isso é fundamental para a aquisição da escrita.
Para Vigoski, isso é um simbolismo de segunda ordem e, como se desenvolve no brinquedo, pode-se concluir que a brincadeira do faz-de-conta desempenha um importante papel para o desenvolvimento da linguagem escrita.
SIMBOLISMO DE SEGUNDA ORDEM: UMA REPRESENTAÇÃO NÃO DA REALIDADE EM SI, MAS DE ALGO QUE JÁ DENOMINA A REALIDADE, NO CASO A FALA
O MOMENTO QUE ERA PARA SER DE DESCOBERTA FICA ENFADONHO PODENDO DESESTIMULAR A CRIANÇA P DESVENDAR OS SENTIDOS E SIGNIFICADOS P O USO DA ESCRITA EM SUA SOCIEDADE.
Crianças de diferentes níveis socioeconômicos podem ficar distantes do que pode e deve contemplar uma infância plenamente lúdica e significativa para suas aprendizagens. Aqui,
Para promover essa educação Vigotiski nos dá referências para pensar a infância e os processos de ensino e aprendizagem nela desenvolvidos.
As autores destacam nesse ponto do texto que elas fizeram questão de trazer os fundamentos teóricos dos conceitos cotidianos e científicos que apesar de ser a parte mais conhecida do trabalho de Vigotski é pouco explorada e compreendida e q elas trazem tais conceitos a fim de possamos verificar o quanto o trabalho pedagógico em sala de aula tem para desenvolver quando tomamos consciência de tais pressupostos.
Percebamos que a teoria sobre a formação de conceitos difere das outras ?
Se cruzam desde o nascimento da criança
Exemplo: A CRIANÇA FAZ USO DE CONCEITOS COTIDIANOS QUANDO PEGA UM LIVRO E LÊ PARA OUTRAS CRIANÇS OU PARA UM ADULTO. MESMO QUE AINDA NÃO SAIBA LER CONVENCIONALMENTE, ELA ESTÁ PRATICNADO SUA FORMAÇÃO DE LEITORA, SUA ATITUDE LEITORA, LENDO IMAGENS, SIGNOS QUE PARA ELA TÊM SIGNIFICADO, QUE FAZEM SENTIDO NAQUILO QUE ELA QUER PARA O MOMENTO, AINDA QUE NÃO TENHA ALCANÇADO O OUTRO CONCEITO PADRÃO OU CONVENCIONAL DA LEITURA.