O documento discute a relação entre liderança e comunicação ao longo do tempo. A liderança foi vista como um papel individual no passado, mas hoje depende mais da construção de confiança e diálogo. A comunicação também evoluiu de um processo linear de emissor-mensagem-receptor para algo que constrói cultura e significados. Atualmente, liderança e comunicação são vistas como intrinsecamente ligadas, onde uma não pode ocorrer sem a outra.
Comunicação e Liderança: onde uma começa e a outra termina
1. Comunicação e Liderança: onde uma começa e a outra
termina.
William Cerantola
Autor e consultor - Comunicação e Marketing. LeadComm Index de Comunicação da
Liderança. Atua em ESG e certificação pela WeWe. LeadComm Index for Leadership
Communication. Lead ESG certification projects
April 19, 2023
Desde meados do século passado os temas de liderança e comunicação vem
atravessando revoluções em suas definições e ampliando sua forma de entendimento e
atuação.
Liderança sempre esteve vinculada ao papel de alguns em estabelecer visão, direção,
objetivos e capacidade de gestão, para a realização de tarefas e alcance de metas por
um grupo de pessoas. Progressivamente, o conceito de um protagonismo individual,
deu lugar ao esforço coletivo, onde o exercício da liderança depende mais da relação,
construção de confiança e de um ambiente psicologicamente seguro, do que
propriamente uma habilidade específica de uma pessoa.
Comunicação experimentou surtos de evolução modificando-se de um entendimento
de um processo de trânsito de uma mensagem a partir de canais envolvendo emissor e
receptor, para dinâmicas de comunicação de massa, construção de cultura, construção
de sentidos, forma de ação social e narrativas organizacionais.
Hoje comunicação é requisito para o exercício da liderança. Não se concebe mais o
exercício da liderança sem comunicação. Ao mesmo tempo, comunicação é a forma
pela qual a liderança exerce seu papel e se consolida como uma referência e o produtor
de narrativas válidas nas organizações.
2. Quando se aponta a comunicação para a liderança, trata-se do suporte, recursos e
ferramentas que a liderança precisa dispor a partir das áreas de comunicação, recursos
humanos e mesmo marketing, para exercer seu papel e mobilizar suas equipes. O
exercício da liderança é realizado por diferentes perfis de profissionais, que não
necessariamente puderam se deter e cuidar de sua forma de comunicação. Daí a
necessidade de prover e acompanhar essas lideranças nas interações com suas equipes,
onde possa ajustar seu discurso e fazer uso de práticas e ferramentas de comunicação
que valorizem a participação, colaboração e o diálogo.
Comunicação da liderança é a forma como a liderança interage com suas equipes e seus
pares. Trata de sua linguagem corporal, tom de voz, entendimento de seu estilo de
comunicação (pessoas, ação, tarefas, ideias), práticas de comunicação assertiva e seu
papel de líder comunicador. É aqui que a liderança se expressa e se apresenta, fazendo
uso de práticas de comunicação que possam garantir abertura, diálogo, interação e
construção de confiança. Sabemos que não é somente o que se diz que importa, mas a
forma como diz, faz toda a diferença.
Comunicação com a liderança traduz as maneiras pelas quais a liderança está receptiva
e aberta ao contato. Ritos e práticas de reuniões presenciais e remotas permitem a
interação contínua e reduzem o eventual distanciamento. É resultado das práticas
estabelecidas pela área de comunicação com o autoconhecimento da liderança de seu
estilo e preferências ao se comunicar.
Hoje, mais que nunca, o exercício da liderança deve prezar pela qualidade e a
quantidade das interações para assegurar apoio sócio-emocional e segurança
psicológica das equipes, e portanto, comunicar-se, se confunde com exercer bem a
liderança. Uso de narrativas e abordagens que valorizam a colaboração e diálogo
caminham na mesma direção de uma liderança inclusiva, diversa e genuína.
Resumindo, quem lidera, comunica bem, e quem comunica, lidera bem.
Uma breve retrospectiva: Liderança e Comunicação
Nos anos 50 e 60, surgiu a teoria dos traços que pretendia pré-determinar
características físicas, traços de personalidade e mesmo habilidades específicas inatas
para delimitar perfis de liderança. Nos anos 70, a liderança situacional, apontou as
particularidades tanto do perfil do líder como do grupo de liderados. Nos anos 80, a
emergência do tema de cultura organizacional, promoveu uma releitura do exercício da
liderança e apontou sua importância na construção da cultura, signos e ritos
organizacionais (David, 2000).
Desde os anos 2000, o conceito de liderança transformacional tem enfatizado a
construção de propósito e a costura de interesses coletivos, tornando as equipes
agentes ativos nas relações com a liderança, a partir de suas atitudes e
comportamentos. Hoje se valoriza cada vez mais a qualidade e a quantidade de
interações da liderança, que resultam em apoio sócio-emocional das equipes e
segurança psicológica, refletindo sua forma de determinar, persuadir, compartilhar e
delegar (Bergamini, 2009).
3. Por outro lado, a comunicação nos anos 50 e 60 se inspirou em modelos matemáticos
simplificados identificando o desenho tradicional de emissor, mensagem e receptor.
Nesse período emergiu a teoria crítica que despertou o tema da comunicação de massa
e sua influência na sociedade, cultura e organizações. Esse modelo evoluiu nos anos 70
e 80 para um processo em que comunicar é tornar comum, e onde a troca de
informações asseguraria um fluxo contínuo que levava em consideração os públicos, as
mensagens e os tipos de canais de comunicação.
Nos anos 80 coincidi a emergência do tema de cultura e como a comunicação participa
na construção da cultura organizacional. A abordagem da ação comunicativa surgiu a
partir dos anos 90 entendendo a comunicação como uma forma de ação social, dentro
e fora das organizações (Mumby, 2013). Abordagens da Escola de Montreal e
complexidade, tem posicionado a comunicação nas organizações a partir do discurso,
da linguagem e da disputa de sentidos, onde o papel do líder enfrenta alguns impasses,
ora ao ser o interlocutor oficial, ora quem veicula necessidades e aspirações de sua
equipe.
#liderança; #comunicação; #comunicaçãodaliderança; #leadcomm; #leadership; #comm
unication; #leadershipcommunication
Referências
BERGAMINI, C. W. (2009). Liderança: administração do sentido. 2. ed. São Paulo: Atlas.
DAVID V, D. (2000). Leadership development: A review in context. The Leadership
Quarterly, 11 (4), 581-613.
MUMBY, D. K. (2013). Organizational communication: a critical approach. California:
SAGE Publications.