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A ALTERIDADE NA LITERATURA
REVISÃO 1
Texto 1
– Desta vez a besta do Nilo Argolo se excedeu.
Imagine você que este trabalho se destina ao
parlamento para que dele nasça uma lei. Uma
lei, não: um corpo de leis, ele não faz por menos. – O
professor Fraga Neto agitava a plaquete, no auge da
indignação:
– Nem na América de Norte se cogitou de legislação
tal brutal. O Monstro Argolo ganhou até para as
piores leis, as mais odiosas de qualquer Estado
sulista, daqueles mais racistas dos Estados Unidos. É
uma coisa completa, só vendo!
Fraga Neto exaltava-se com facilidade, o entusiasmo
e a repulsa conduziam-no a pequenos e constantes
comícios nos corredores da Faculdade e sob as
árvores do Terreiro, a propósito dos assuntos mais
diversos.
Em pouco mais de um lustro, tornara-se
extremamente popular entre os estudantes que o
buscavam a qualquer pretexto e de quem se fez uma
espécie de procurador geral.
– Esse Argolo é um delirante perigoso, já é tempo que
alguém lhe dê uma lição! Pedro Archanjo levou a
brochura, pequeno livro em cujas páginas o professor de
Medicina Legal resumia e ordenava suas conhecidas
ideias e teses sobre o problema de raças no Brasil.
A superioridade da raça ariana, a inferioridade de todas
as outras, sobretudo da negra, raça em estado
primitivo, subumana. A mestiçagem, o perigo maior, a
anátema lançado contra o Brasil, monstruoso atentado:
a criação de uma sub-raça no calor dos trópicos, sub-
raça degenerada, incapaz, indolente, destinada ao
crime.
Todo o nosso atraso devia-se à mestiçagem. O negro
ainda poderia ser aproveitado no trabalho braçal, tinha
a força bruta dos animais de carga. Preguiçoso e
salafrário, mestiço, porém, nem para isso servia.
Degredava a paisagem brasileira, apodrecia o caráter
do povo empecilho a qualquer esforço sério no sentido
do progresso do progredimento. Num cipoal de
citações, em português cientista de pretensões
literárias, falando em altiloqua, em belestrística, em
quamanho, magníloquos primores, diagnosticava o
mal, expunha-lhe a extensão e a gravidade, e colocava
nas mãos dos legisladores nacionais a receita e o
bisturi, medicação e cirurgia.
Só um corpo de leis, resultante do
patriotismo dos senhores
parlamentares, impondo a mais completa
segregação racial poderia ainda salvar a
Pátria do abismo para onde rolava impelida
pela mestiçagem degredada e degradadora.
Tal corpo de leis a prevê e ordenar quanto
se relacionasse a negros e
mestiços, centralizava-se em dois projetos
fundamentais.
O primeiro referia-se a localização e isolamento de
negros e mestiços em certas áreas geográficas, já
determinadas pelo professor Nilo Argolo: Regiões
da Amazônia, Mato Grosso de Goiás. Clichês e
mapas estabelecidos pelo professor, produzidos no
opúsculo, não deixavam dúvidas sobre o inóspito
das áreas escolhidas. Esse confinamento não
possuía caráter definitivo, destinava-se a manter a
raça inferior e a sub-raça aviltante apartadas do
resto da população enquanto não lhes fosse dado
definitivo destino. O professor previra a aquisição
pelo governo de território africano capaz de acolher
toda a população negra e mestiça do Brasil.
Uma espécie de Libéria, sem os erros da
experiência norte-americana, naturalmente.
No caso brasileiro, negros e mestiços, todos, se
possível, seriam deportados, mandados embora
de vez, para sempre.
O segundo projeto, de claríssima urgência, lei
ou decreto de salvação nacional, proibiria o
casamento entre brancos e negros, entendido
por negros todos os portadores de sangue afro.
Proibição absoluta, capaz de pôr freio à
mestiçagem.
O segundo projeto, de claríssima urgência, lei ou
decreto de salvação nacional, proibiria o
casamento entre brancos e negros, entendido por
negros todos os portadores de sangue afro.
Proibição absoluta, capaz de pôr freio à
mestiçagem.
Assim, em breve resumo, despidos da linguagem
castiça ´imeritamente caída em desuetude´,
projetos e teses parecem absurda loucura. Foram,
no entanto, levados a sério por articulistas
e parlamentares e, por ocasião da Assembléia
Constituinte de 1934, houve quem
desentranhasse dos arquivos da Câmara as
propostas contidas na plaquete do professor
Nilo Argolo: Introdução ao estudo de códigos
de leis de salvação nacional.
(AMADO.Tenda dos Milagres, 2006, p.273-275)
Após a leitura do trecho da obra Tenda
dos Milagres, de Jorge Amado, discuta
os conceitos estudados até aqui.
Posicione-se em relação ao projeto
proposto pelo personagem Nilo Argolo:
Texto 2
Numa dessas tardes, de claro sol e doce brisa,
Archanjo vinha pelo Terreiro de Jesus em seu passo
levemente gingado. Fora levar um recado do
secretário da Faculdade ao prior dos franciscanos;
um frade holandês de barbas e careca, afável: com
evidente prazer degustava um cafezinho, serviu ao
risonho bedel:
– Eu conheço o senhor... – falou com seu acento
crespo.
– Passo o dia quase todo aqui na praça, na Escola.
– Não foi aqui – o frade riu um riso cheio e folgazão. – Sabe
onde foi? Foi no candomblé. Só que eu estava de
civil, escondido num canto, e o senhor numa cadeira
especial, junto da mãe-de-santo.
– O senhor, padre, no candomblé?
– Às vezes vou, não diga a ninguém. Dona Majé é minha
camarada. Ela me disse que o senhor é muito competente em
coisas de macumba. Um dia desses, se o senhor me der o
prazer, desejo conversar consigo... – Archanjo sentiu a paz do
mundo no claustro de árvores frondosas, flores e azulejos; a
paz do mundo no envolvente franciscano.
– Quando quiser, estou às ordens, padre.
Vinha pelo Terreiro em direção à Faculdade: um
padre, um frade de convento, assistindo candomblé,
uma surpresa, novidade digna de nota; viu-se
envolvido por um grupo de estudantes.
(AMADO.Tenda dos Milagres, 2006, p.94).
Em que medida o comportamento do Prior dos
Franciscanos se difere do comportamento de
Nilo Argolo? Temos de pensar em nossas
respostas voltadas para a perspectiva da
diversidade e do respeito ao outro. A amizade
entre pessoas de pensamentos religiosos
diferentes pode ser interpretada a
partir de qual conceito estudado por nós?
O sacerdote católico deu um exemplo de
exercício da alteridade positiva e, para
melhorar a situação, não praticou
proselitismo. Como você encara o
comportamento do Frade? À luz dos
conceitos estudados, você classificaria o
comportamento do Frei em correto ou
incorreto e por quê?
Aproveitando a citação da questão
anterior, diga quais estereótipos são
criados para negros e mestiços.
Considerando toda a obra Tenda dos
Milagres, podemos considerar que o
enredo denuncia uma série de
injustiças e preconceitos; aponte
alguns e discuta.

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Tenda dos Milagres -

  • 1.
  • 2. A ALTERIDADE NA LITERATURA REVISÃO 1
  • 4. – Desta vez a besta do Nilo Argolo se excedeu. Imagine você que este trabalho se destina ao parlamento para que dele nasça uma lei. Uma lei, não: um corpo de leis, ele não faz por menos. – O professor Fraga Neto agitava a plaquete, no auge da indignação: – Nem na América de Norte se cogitou de legislação tal brutal. O Monstro Argolo ganhou até para as piores leis, as mais odiosas de qualquer Estado sulista, daqueles mais racistas dos Estados Unidos. É uma coisa completa, só vendo!
  • 5. Fraga Neto exaltava-se com facilidade, o entusiasmo e a repulsa conduziam-no a pequenos e constantes comícios nos corredores da Faculdade e sob as árvores do Terreiro, a propósito dos assuntos mais diversos. Em pouco mais de um lustro, tornara-se extremamente popular entre os estudantes que o buscavam a qualquer pretexto e de quem se fez uma espécie de procurador geral.
  • 6. – Esse Argolo é um delirante perigoso, já é tempo que alguém lhe dê uma lição! Pedro Archanjo levou a brochura, pequeno livro em cujas páginas o professor de Medicina Legal resumia e ordenava suas conhecidas ideias e teses sobre o problema de raças no Brasil. A superioridade da raça ariana, a inferioridade de todas as outras, sobretudo da negra, raça em estado primitivo, subumana. A mestiçagem, o perigo maior, a anátema lançado contra o Brasil, monstruoso atentado: a criação de uma sub-raça no calor dos trópicos, sub- raça degenerada, incapaz, indolente, destinada ao crime.
  • 7. Todo o nosso atraso devia-se à mestiçagem. O negro ainda poderia ser aproveitado no trabalho braçal, tinha a força bruta dos animais de carga. Preguiçoso e salafrário, mestiço, porém, nem para isso servia. Degredava a paisagem brasileira, apodrecia o caráter do povo empecilho a qualquer esforço sério no sentido do progresso do progredimento. Num cipoal de citações, em português cientista de pretensões literárias, falando em altiloqua, em belestrística, em quamanho, magníloquos primores, diagnosticava o mal, expunha-lhe a extensão e a gravidade, e colocava nas mãos dos legisladores nacionais a receita e o bisturi, medicação e cirurgia.
  • 8. Só um corpo de leis, resultante do patriotismo dos senhores parlamentares, impondo a mais completa segregação racial poderia ainda salvar a Pátria do abismo para onde rolava impelida pela mestiçagem degredada e degradadora. Tal corpo de leis a prevê e ordenar quanto se relacionasse a negros e mestiços, centralizava-se em dois projetos fundamentais.
  • 9. O primeiro referia-se a localização e isolamento de negros e mestiços em certas áreas geográficas, já determinadas pelo professor Nilo Argolo: Regiões da Amazônia, Mato Grosso de Goiás. Clichês e mapas estabelecidos pelo professor, produzidos no opúsculo, não deixavam dúvidas sobre o inóspito das áreas escolhidas. Esse confinamento não possuía caráter definitivo, destinava-se a manter a raça inferior e a sub-raça aviltante apartadas do resto da população enquanto não lhes fosse dado definitivo destino. O professor previra a aquisição pelo governo de território africano capaz de acolher toda a população negra e mestiça do Brasil.
  • 10. Uma espécie de Libéria, sem os erros da experiência norte-americana, naturalmente. No caso brasileiro, negros e mestiços, todos, se possível, seriam deportados, mandados embora de vez, para sempre. O segundo projeto, de claríssima urgência, lei ou decreto de salvação nacional, proibiria o casamento entre brancos e negros, entendido por negros todos os portadores de sangue afro. Proibição absoluta, capaz de pôr freio à mestiçagem.
  • 11. O segundo projeto, de claríssima urgência, lei ou decreto de salvação nacional, proibiria o casamento entre brancos e negros, entendido por negros todos os portadores de sangue afro. Proibição absoluta, capaz de pôr freio à mestiçagem. Assim, em breve resumo, despidos da linguagem castiça ´imeritamente caída em desuetude´, projetos e teses parecem absurda loucura. Foram, no entanto, levados a sério por articulistas
  • 12. e parlamentares e, por ocasião da Assembléia Constituinte de 1934, houve quem desentranhasse dos arquivos da Câmara as propostas contidas na plaquete do professor Nilo Argolo: Introdução ao estudo de códigos de leis de salvação nacional. (AMADO.Tenda dos Milagres, 2006, p.273-275)
  • 13. Após a leitura do trecho da obra Tenda dos Milagres, de Jorge Amado, discuta os conceitos estudados até aqui. Posicione-se em relação ao projeto proposto pelo personagem Nilo Argolo:
  • 15. Numa dessas tardes, de claro sol e doce brisa, Archanjo vinha pelo Terreiro de Jesus em seu passo levemente gingado. Fora levar um recado do secretário da Faculdade ao prior dos franciscanos; um frade holandês de barbas e careca, afável: com evidente prazer degustava um cafezinho, serviu ao risonho bedel: – Eu conheço o senhor... – falou com seu acento crespo. – Passo o dia quase todo aqui na praça, na Escola.
  • 16. – Não foi aqui – o frade riu um riso cheio e folgazão. – Sabe onde foi? Foi no candomblé. Só que eu estava de civil, escondido num canto, e o senhor numa cadeira especial, junto da mãe-de-santo. – O senhor, padre, no candomblé? – Às vezes vou, não diga a ninguém. Dona Majé é minha camarada. Ela me disse que o senhor é muito competente em coisas de macumba. Um dia desses, se o senhor me der o prazer, desejo conversar consigo... – Archanjo sentiu a paz do mundo no claustro de árvores frondosas, flores e azulejos; a paz do mundo no envolvente franciscano.
  • 17. – Quando quiser, estou às ordens, padre. Vinha pelo Terreiro em direção à Faculdade: um padre, um frade de convento, assistindo candomblé, uma surpresa, novidade digna de nota; viu-se envolvido por um grupo de estudantes. (AMADO.Tenda dos Milagres, 2006, p.94).
  • 18. Em que medida o comportamento do Prior dos Franciscanos se difere do comportamento de Nilo Argolo? Temos de pensar em nossas respostas voltadas para a perspectiva da diversidade e do respeito ao outro. A amizade entre pessoas de pensamentos religiosos diferentes pode ser interpretada a partir de qual conceito estudado por nós?
  • 19. O sacerdote católico deu um exemplo de exercício da alteridade positiva e, para melhorar a situação, não praticou proselitismo. Como você encara o comportamento do Frade? À luz dos conceitos estudados, você classificaria o comportamento do Frei em correto ou incorreto e por quê?
  • 20. Aproveitando a citação da questão anterior, diga quais estereótipos são criados para negros e mestiços.
  • 21. Considerando toda a obra Tenda dos Milagres, podemos considerar que o enredo denuncia uma série de injustiças e preconceitos; aponte alguns e discuta.