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NATURALISMO
C O M P O N E N T E C U R R I C U L A R D I S C I P L I N A D E
A R T E
Naturalismo (características)
 - Determinismo biológico;
 - Objetivismo científico;
 - Temas de patologia social;
 - Observação e análise da realidade;
 Ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual;
 - Linguagem simples;
 - Descrição e narrativa lentas
 - Impessoalidade;
 - Preocupação com detalhes.
 Principais autores: Aluísio Azevedo,
 “O mulato”, em 1881: início do Naturalismo no Brasil; “O Cortiço”,
 Raul Pompéia, “O Ateneu”.
R E A L I S M O X N A T U R A L I S M O
REALISMO NATURALISMO
- Forte influência da literatura de Gustave
Flaubert (França).
- Forte influência da literatura de Émile Zola
(França).
- Romance documental, apoiado na observação e
na análise.
- Romance experimental, apoiado na
experimentação e observação científica.
- A investigação da sociedade e dos caracteres
individuais é feita “de dentro para fora”, por
meio de análise psicológica capaz de abranger
sua complexidade, utilizando a ironia, que
sugere e aponta, em vez de afirmar.
- A investigação da sociedade e dos caracteres
individuais ocorre “de fora para dentro”, os
personagens tendem a se simplificar, pois são
vistos como joguetes, pacientes dos fatores
biológicos, históricos e sociais que determinam
suas ações, pensamentos e sentimento.
- Volta-se para a psicologia, centrando-se mais
no indivíduo.
- Volta-se para a biologia e a patologia,
centrando-se mais no social.
- As obras retratam e criticam as classes
dominantes, a alta burguesia urbana e,
normalmente, os personagens pertencem a esta
classe social.
- As obras retratam as camadas inferiores, o
proletariado, os marginalizados e, normalmente,
os personagens são oriundos dessas classes
sociais mais baixas.
- O tratamento imparcial e objetivo dos
temas garante ao leitor um espaço de
interpretação, de elaboração de suas
próprias conclusões a respeito das obras.
- o tratamento dos temas com base em
uma visão determinista conduz e direciona
as conclusões do leitor e empobrece
literariamente os textos.
Um Realismo mais extremo (exacerbado).
Buscou analisar o comportamento humano
ressaltando os aspectos instintivos e
biológicos.
NATURALISMO
Fez do romance um laboratório da vida e
do homem um caso animalesco.
Preferiu temas degradantes da condição
humana com taras, vícios, sedução,
homossexualismo.
NATURALISMO
Na teoria de O romance experimental
de Émile Zola, o escritor sintetiza os
fundamentos do Naturalismo, ao propor a
substituição do “estudo do homem
abstrato e metafísico pelo do homem
natural, sujeito a leis físico-químicas e
determinado pela influência do meio”.
Aproximou o homem ao animal – zoomorfismo.
Determinismo = raça, meio e momento.
A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro.”
Aluísio Tancredo Gonçalves de
Azevedo nasceu dia 14 de abril de
1857, em São Luís do Maranhão.
Jornalista e desenhista caricaturista escreveu romances, contos,
operetas e revistas teatrais.
O MULATO (1881) – obra de início do Naturalismo.
Tem linguagem coloquial simples e direta. O romance “ O Mulato“ é
considerado o marco inicial do Naturalismo que trata do preconceito racial e
crítica à igreja.
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio:
– Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi
escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja
um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!… Nunca me perdoariam um tal
casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um
branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!… O senhor é um moço muito digno, muito merecedor de
consideração, mas… foi forro à pia, e aqui ninguém o ignora.
– Eu nasci escravo?!…
– Sim, pesa-me dizê-lo e não o faria se a isso não fosse constrangido, mas o senhor é filho de uma escrava e nasceu também
cativo.
– Raimundo abaixou a cabeça. Continuaram a viagem. E ali no campo, à sombra daquelas árvores colossais, por onde a
espaços a lua se filtrava tristemente, ia Manoel narrando a vida do irmão com a preta Domingas. Quando, em algum ponto
hesitava por delicadeza em dizer toda a verdade, o outro pedia-lhe que prosseguisse francamente, guardando na aparência
uma tranquilidade fingida. O negociante contou tudo o que sabia.
– Mas que fim levou minha mãe?… a minha verdadeira mãe? perguntou o rapaz, quando aquele terminou. Mataram-na?
Venderam-na? O que fizeram com ela?
– Nada disso; soube ainda há pouco que está viva… É aquela pobre idiota de São Brás.
– Meus Deus! Exclamou Raimundo, querendo voltar à tapera.
– Que é isso? Vamos! Nada de loucuras! Voltarás noutra ocasião!
Calaram-se ambos. Raimundo, pela primeira vez, sentiu-se infeliz; uma nascente má vontade contra os outros homens
formava-se na sua alma até aí limpa e clara; na pureza do seu caráter o desgosto punha a primeira nódoa. E, querendo reagir,
uma revolução operava-se dentro dele; ideias turvas, enlodadas de ódio e de vagos desejos de vingança, iam e vinham,
atirando-se raivosos contra os sólidos princípios da sua moral e da sua honestidade, como num oceano a tempestade açula
contra um rochedo os negros vagalhões encapelados. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E
crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava
todas as outras ideias.
– Mulato!
(Aluísio de Azevedo. O MULATO. L&PM Editores, Porto Alegre, 2002)
Obra marcante no Naturalismo.
No romance social tem o poder de
dar vida aos agrupamentos humanos.
Os protagonistas são vistos “de fora”
e o drama é apenas um fatalismo
(sorte inevitável). Nada psicológico.
João Romão – português ambicioso.
Bertoleza – escrava fugida, dona de uma quitanda e umas
economias.
Amasiam-se e a escrava agora, trabalha como uma louca
para João.
Primeiro, três casas e depois... o cortiço
cresce como larvas.
Senhor Miranda – Classe elevada mora
vizinho do cortiço num sobrado e ainda é pai
da bela Zulmira.
No cortiço Carapicus (flores
espinhosas) tem-se tipos como:
Machona – desencaminhada pelas
companhias.
Rita Baiana – mulata faceira, amigada
com Firmo (malandro, valentão).
Jerônimo e sua mulher – portugueses
recém chegados.
 Justamente por essa ocasião vendeu-se também um sobrado que
ficava à direita da venda, separado desta apenas por aquelas vinte
braças; e de sorte que todo o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns
vinte e tantos metros, despejava para o terreno do vendeiro as suas
nove janelas de peitoril. Comprou-o um tal Miranda, negociante
português, estabelecido na rua do Hospício com uma loja de
fazendas por atacado.”
“E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando
forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se,
inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado diante
daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por
debaixo das janelas, e cujas raízes piores e mais grossas do que
serpentes miravam por toda parte, ameaçando rebentar o chão em
torno dela, rachando o solo e abalando tudo.”
(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p.
23; 33.)
Raul d’Ávila Pompéia nasceu a 12 de abril
de 1863, em Jacuacanga, Angra dos Reis,
Rio de Janeiro.
Estudou direito, militou nos movimentos
abolicionistas, colaborou na Gazeta de
Notícias, envolveu-se em diversas
polêmicas (até num duelo com Olavo
Bilac) e suicidou-se numa noite de Natal
aos 32 anos.
Elaborado a partir das recomendações do autor.
Estilo realista ao apresentar problemas como
homossexualismo, teorias científicas, dependência e
outros.
Traz como subtítulo:“Crônicas de Saudades”.
Riqueza de vocabulário, impressionismo isto é, não
retrata a realidade diretamente, mas sim, a impressão
que essa produz no seu espírito.
Desenhos sobre o Ateneu pelo próprio autor.
Resumo da Obra:
Sérgio é recebido por Aristarco, diretor do colégio, retratado por vários
aspectos negativos; casado com D. Ema, mulher que Sérgio se apaixonou
platonicamente.
É relatado o excesso de autoridade, as travessuras e os sofrimentos
findando-se com o incêndio do colégio provocado pelo revoltado Américo.
“A verdadeira arte, a arte natural, não conhece moralidade.
Existe para o indivíduo sem atender à existência de outro
indivíduo. Pode ser obscena na opinião da moralidade: Leda,
pode ser cruel: Roma em chamas, que espetáculo! Basta que
seja artística. Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita,
eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana –
acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões
que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga
como a orgia e como o êxtase. E desdenha dos séculos
efêmeros”. (p. 107 e 108)
“Ensaiados no microcosmo do internato, não há mais
surpresas no grande mundo lá fora, onde se vão sofrer todas
as convivências, respirar todos os ambientes; onde a razão da
maior força é a dialética geral, e nos envolvem as evoluções
de tudo que rasteja e tudo que morde, porque a perfídia terra-
terra é um dos processos mais eficazes da vulgaridade
vencedora; onde o aviltamento é quase sempre a condição do
êxito, como se houvesse ascensões pra baixo; onde o poder é
uma redoma de chumbo sobre as aspirações altivas; onde a
cidade é franca para as dissoluções babilônicas do instinto;
onde o que é nulo flutua e aparece, como no mar as pérolas
imensas são ignoradas, e sobrenadam ao dia as algas mortas
e a espuma”. (p. 166 e 167)

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O Naturalismo na literatura brasileira

  • 1. NATURALISMO C O M P O N E N T E C U R R I C U L A R D I S C I P L I N A D E A R T E
  • 2. Naturalismo (características)  - Determinismo biológico;  - Objetivismo científico;  - Temas de patologia social;  - Observação e análise da realidade;  Ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual;  - Linguagem simples;  - Descrição e narrativa lentas  - Impessoalidade;  - Preocupação com detalhes.  Principais autores: Aluísio Azevedo,  “O mulato”, em 1881: início do Naturalismo no Brasil; “O Cortiço”,  Raul Pompéia, “O Ateneu”.
  • 3. R E A L I S M O X N A T U R A L I S M O
  • 4. REALISMO NATURALISMO - Forte influência da literatura de Gustave Flaubert (França). - Forte influência da literatura de Émile Zola (França). - Romance documental, apoiado na observação e na análise. - Romance experimental, apoiado na experimentação e observação científica. - A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita “de dentro para fora”, por meio de análise psicológica capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar. - A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimento. - Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no indivíduo. - Volta-se para a biologia e a patologia, centrando-se mais no social. - As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta burguesia urbana e, normalmente, os personagens pertencem a esta classe social. - As obras retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e, normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas. - O tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras. - o tratamento dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece literariamente os textos.
  • 5. Um Realismo mais extremo (exacerbado). Buscou analisar o comportamento humano ressaltando os aspectos instintivos e biológicos. NATURALISMO
  • 6. Fez do romance um laboratório da vida e do homem um caso animalesco. Preferiu temas degradantes da condição humana com taras, vícios, sedução, homossexualismo. NATURALISMO
  • 7. Na teoria de O romance experimental de Émile Zola, o escritor sintetiza os fundamentos do Naturalismo, ao propor a substituição do “estudo do homem abstrato e metafísico pelo do homem natural, sujeito a leis físico-químicas e determinado pela influência do meio”. Aproximou o homem ao animal – zoomorfismo. Determinismo = raça, meio e momento. A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro.”
  • 8. Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu dia 14 de abril de 1857, em São Luís do Maranhão. Jornalista e desenhista caricaturista escreveu romances, contos, operetas e revistas teatrais. O MULATO (1881) – obra de início do Naturalismo.
  • 9. Tem linguagem coloquial simples e direta. O romance “ O Mulato“ é considerado o marco inicial do Naturalismo que trata do preconceito racial e crítica à igreja.
  • 10.
  • 11. Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: – Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!… Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!… O senhor é um moço muito digno, muito merecedor de consideração, mas… foi forro à pia, e aqui ninguém o ignora. – Eu nasci escravo?!… – Sim, pesa-me dizê-lo e não o faria se a isso não fosse constrangido, mas o senhor é filho de uma escrava e nasceu também cativo. – Raimundo abaixou a cabeça. Continuaram a viagem. E ali no campo, à sombra daquelas árvores colossais, por onde a espaços a lua se filtrava tristemente, ia Manoel narrando a vida do irmão com a preta Domingas. Quando, em algum ponto hesitava por delicadeza em dizer toda a verdade, o outro pedia-lhe que prosseguisse francamente, guardando na aparência uma tranquilidade fingida. O negociante contou tudo o que sabia. – Mas que fim levou minha mãe?… a minha verdadeira mãe? perguntou o rapaz, quando aquele terminou. Mataram-na? Venderam-na? O que fizeram com ela? – Nada disso; soube ainda há pouco que está viva… É aquela pobre idiota de São Brás. – Meus Deus! Exclamou Raimundo, querendo voltar à tapera. – Que é isso? Vamos! Nada de loucuras! Voltarás noutra ocasião! Calaram-se ambos. Raimundo, pela primeira vez, sentiu-se infeliz; uma nascente má vontade contra os outros homens formava-se na sua alma até aí limpa e clara; na pureza do seu caráter o desgosto punha a primeira nódoa. E, querendo reagir, uma revolução operava-se dentro dele; ideias turvas, enlodadas de ódio e de vagos desejos de vingança, iam e vinham, atirando-se raivosos contra os sólidos princípios da sua moral e da sua honestidade, como num oceano a tempestade açula contra um rochedo os negros vagalhões encapelados. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. – Mulato! (Aluísio de Azevedo. O MULATO. L&PM Editores, Porto Alegre, 2002)
  • 12. Obra marcante no Naturalismo. No romance social tem o poder de dar vida aos agrupamentos humanos. Os protagonistas são vistos “de fora” e o drama é apenas um fatalismo (sorte inevitável). Nada psicológico.
  • 13. João Romão – português ambicioso. Bertoleza – escrava fugida, dona de uma quitanda e umas economias. Amasiam-se e a escrava agora, trabalha como uma louca para João. Primeiro, três casas e depois... o cortiço cresce como larvas. Senhor Miranda – Classe elevada mora vizinho do cortiço num sobrado e ainda é pai da bela Zulmira.
  • 14. No cortiço Carapicus (flores espinhosas) tem-se tipos como: Machona – desencaminhada pelas companhias. Rita Baiana – mulata faceira, amigada com Firmo (malandro, valentão). Jerônimo e sua mulher – portugueses recém chegados.
  • 15.
  • 16.  Justamente por essa ocasião vendeu-se também um sobrado que ficava à direita da venda, separado desta apenas por aquelas vinte braças; e de sorte que todo o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e tantos metros, despejava para o terreno do vendeiro as suas nove janelas de peitoril. Comprou-o um tal Miranda, negociante português, estabelecido na rua do Hospício com uma loja de fazendas por atacado.” “E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado diante daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes piores e mais grossas do que serpentes miravam por toda parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.” (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 23; 33.)
  • 17. Raul d’Ávila Pompéia nasceu a 12 de abril de 1863, em Jacuacanga, Angra dos Reis, Rio de Janeiro. Estudou direito, militou nos movimentos abolicionistas, colaborou na Gazeta de Notícias, envolveu-se em diversas polêmicas (até num duelo com Olavo Bilac) e suicidou-se numa noite de Natal aos 32 anos.
  • 18. Elaborado a partir das recomendações do autor. Estilo realista ao apresentar problemas como homossexualismo, teorias científicas, dependência e outros. Traz como subtítulo:“Crônicas de Saudades”. Riqueza de vocabulário, impressionismo isto é, não retrata a realidade diretamente, mas sim, a impressão que essa produz no seu espírito. Desenhos sobre o Ateneu pelo próprio autor.
  • 19. Resumo da Obra: Sérgio é recebido por Aristarco, diretor do colégio, retratado por vários aspectos negativos; casado com D. Ema, mulher que Sérgio se apaixonou platonicamente. É relatado o excesso de autoridade, as travessuras e os sofrimentos findando-se com o incêndio do colégio provocado pelo revoltado Américo.
  • 20.
  • 21. “A verdadeira arte, a arte natural, não conhece moralidade. Existe para o indivíduo sem atender à existência de outro indivíduo. Pode ser obscena na opinião da moralidade: Leda, pode ser cruel: Roma em chamas, que espetáculo! Basta que seja artística. Cruel, obscena, egoísta, imoral, indômita, eternamente selvagem, a arte é a superioridade humana – acima dos preceitos que se combatem, acima das religiões que passam, acima da ciência que se corrige; embriaga como a orgia e como o êxtase. E desdenha dos séculos efêmeros”. (p. 107 e 108)
  • 22. “Ensaiados no microcosmo do internato, não há mais surpresas no grande mundo lá fora, onde se vão sofrer todas as convivências, respirar todos os ambientes; onde a razão da maior força é a dialética geral, e nos envolvem as evoluções de tudo que rasteja e tudo que morde, porque a perfídia terra- terra é um dos processos mais eficazes da vulgaridade vencedora; onde o aviltamento é quase sempre a condição do êxito, como se houvesse ascensões pra baixo; onde o poder é uma redoma de chumbo sobre as aspirações altivas; onde a cidade é franca para as dissoluções babilônicas do instinto; onde o que é nulo flutua e aparece, como no mar as pérolas imensas são ignoradas, e sobrenadam ao dia as algas mortas e a espuma”. (p. 166 e 167)