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Rui Belo
Rio Maior
1933 – 1978
Este céu passará e então
teu riso descerá dos
montes pelos rios
até desaguar no nosso
coração
É triste ir pela vida como
quem
regressa e entrar
humildemente por engano
pela morte dentro.
Digam que foi mentira, que não sou
ninguém, que atravesso apenas ruas
da cidade abandonada
fechada como boca onde não
encontro nada:
não encontro respostas para tudo o
que pergunto nem na verdade
pergunto coisas por aí além
Eu não vivi ali em tempo algum.
Mesmo que não conheças
nem o mês nem o lugar
caminha para o mar pelo
verão
Amei a mulher amei a terra
amei o mar
amei muitas coisas que hoje
me é difícil enumerar
De muitas delas de resto
falei.
Tem o amor a arte de tornar
eterno aquele que por amor
tem de morrer
e até de morrer jovem
amiúde pois os deuses amam
aquele que perece em plena
juventude
e assim se fixa petrifica e
permanece
Ver-te é como ter à minha frente
todo o tempo
é tudo serem para mim estradas
largas estradas onde passa o sol
poente é o tempo parar e eu
próprio duvidar mas sem pensar
se o tempo existe se existiu
alguma vez e nem mesmo meço a
devastação do meu passado
Nomeei-te no meio dos meus
sonhos chamei por ti na
minha solidão troquei o céu
azul pelos teus olhos e o meu
sólido chão pelo teu amor.
e um olhar perdido é tão
difícil de encontrar
como o é congregar ventos
dispersos pelo mar
Esta manhã gostaria de ter
dado ontem um grande passeio
àquela praia onde ontem por sinal
passei o dia
É difícil a vida dos homens
senhor
Os anjos tinham outras
possibilidades e alguns deles foi o
que tu sabes
Esta terra não está feita para
nós
Mesmo que ela fosse diferente
nós quereríamos talvez outra terra
talvez esta de que agora dispomos
Pra nascer e morrer seria
necessário tanto?
É difícil a vida difícil a morte.
Por vezes os homens juntam-se
todos ou quase todos e organizam
grandes manifestações.
Mas nada disso os dispensa
da grande solidão da morte de
termos de morrer cada um por
nossa conta.
Requiem por um cão
I
Cão que matinalmente
farejavas a calçada
as ervas os calhaus os seixos
os paralelepípedos os restos de
comida
os restos de manhã a chuva
antes caída
e convertida numa como que
auréola da terra cão que isso
farejas cão que nada disso já
farejas
II
Foi um segundo súbito e
ficaste
ensanduichado esborrachado
comprimido
e reduzido debaixo do rodado
imperturbável do pesado camião
Que tinhas que não tens diz-
mo ou ladra-mo
ou utiliza então qualquer
moderno meio de comunicação
III
Eras vivo e morreste nada
mais
teus donos se é que os tinhas
sempre que de ti falavam
falavam no presente falam no
passado agora Cão que morreste
tão caninamente
IV
cão que morreste e me fazes
pensar
parar até que o polícia me diz
que siga em frente
Que se passou então?
Um simples cão que era
e já não é
No teu amor por mim há uma
rua que começa
Nem árvores nem casas
existiam antes que tu
tivesses palavras e todo eu
fosse um coração para elas
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço como este
dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera
Aqui eu fui feliz aqui fui terra
aqui fui tudo quanto em mim se
encerra aqui me senti bem aqui o
vento veio aqui gostei de gente e
tive mãe em cada árvore e até em
cada folha aqui enchi o peito e
mesmo até desfeito eu fui aquele
que da vida vil se orgulha Aqui
fiquei em tudo aquilo em que
passei um avião um riso uns olhos
uma luz eu fui aqui aquilo tudo até
a que me opus
Morreu a mais bela mulher do
mundo tão bela
que não só era assim bela
como mais que
chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar
apenas para ela o seco sóbrio
simples nome de mulher em vez
de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o
mundo outra mulher
I
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aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da
estrada
as profundas crianças desenharão
a giz
esse peixe da infância que vem na
enxurrada
e me parece que se chama sável
II
Mas desenhem elas o que
desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe
chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a
leste
III
tudo nele será novo desde os
ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças
dançarão
e na avenida que houver
à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
IV
Gostaria de ouvir as horas do
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mas isso era o passado e podia ser
duro
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pássaros
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Rui Belo

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Rui Belo

  • 2. Este céu passará e então teu riso descerá dos montes pelos rios até desaguar no nosso coração
  • 3. É triste ir pela vida como quem regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro.
  • 4.
  • 5. Digam que foi mentira, que não sou ninguém, que atravesso apenas ruas da cidade abandonada fechada como boca onde não encontro nada: não encontro respostas para tudo o que pergunto nem na verdade pergunto coisas por aí além Eu não vivi ali em tempo algum.
  • 6. Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar caminha para o mar pelo verão
  • 7. Amei a mulher amei a terra amei o mar amei muitas coisas que hoje me é difícil enumerar De muitas delas de resto falei.
  • 8. Tem o amor a arte de tornar eterno aquele que por amor tem de morrer e até de morrer jovem amiúde pois os deuses amam aquele que perece em plena juventude e assim se fixa petrifica e permanece
  • 9.
  • 10. Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo é tudo serem para mim estradas largas estradas onde passa o sol poente é o tempo parar e eu próprio duvidar mas sem pensar se o tempo existe se existiu alguma vez e nem mesmo meço a devastação do meu passado
  • 11. Nomeei-te no meio dos meus sonhos chamei por ti na minha solidão troquei o céu azul pelos teus olhos e o meu sólido chão pelo teu amor.
  • 12. e um olhar perdido é tão difícil de encontrar como o é congregar ventos dispersos pelo mar
  • 13. Esta manhã gostaria de ter dado ontem um grande passeio àquela praia onde ontem por sinal passei o dia É difícil a vida dos homens senhor Os anjos tinham outras possibilidades e alguns deles foi o que tu sabes Esta terra não está feita para nós Mesmo que ela fosse diferente nós quereríamos talvez outra terra talvez esta de que agora dispomos
  • 14. Pra nascer e morrer seria necessário tanto? É difícil a vida difícil a morte. Por vezes os homens juntam-se todos ou quase todos e organizam grandes manifestações. Mas nada disso os dispensa da grande solidão da morte de termos de morrer cada um por nossa conta.
  • 15. Requiem por um cão I Cão que matinalmente farejavas a calçada as ervas os calhaus os seixos os paralelepípedos os restos de comida os restos de manhã a chuva antes caída e convertida numa como que auréola da terra cão que isso farejas cão que nada disso já farejas
  • 16. II Foi um segundo súbito e ficaste ensanduichado esborrachado comprimido e reduzido debaixo do rodado imperturbável do pesado camião Que tinhas que não tens diz- mo ou ladra-mo ou utiliza então qualquer moderno meio de comunicação
  • 17. III Eras vivo e morreste nada mais teus donos se é que os tinhas sempre que de ti falavam falavam no presente falam no passado agora Cão que morreste tão caninamente
  • 18. IV cão que morreste e me fazes pensar parar até que o polícia me diz que siga em frente Que se passou então? Um simples cão que era e já não é
  • 19. No teu amor por mim há uma rua que começa Nem árvores nem casas existiam antes que tu tivesses palavras e todo eu fosse um coração para elas Tocam sinos e levantam voo todos os cuidados Ó meu amor nem minha mãe tinha assim um regaço como este dia tem E eu chego e sento-me ao lado da primavera
  • 20. Aqui eu fui feliz aqui fui terra aqui fui tudo quanto em mim se encerra aqui me senti bem aqui o vento veio aqui gostei de gente e tive mãe em cada árvore e até em cada folha aqui enchi o peito e mesmo até desfeito eu fui aquele que da vida vil se orgulha Aqui fiquei em tudo aquilo em que passei um avião um riso uns olhos uma luz eu fui aqui aquilo tudo até a que me opus
  • 21.
  • 22. Morreu a mais bela mulher do mundo tão bela que não só era assim bela como mais que chamar-lhe marilyn devíamos mas era reservar apenas para ela o seco sóbrio simples nome de mulher em vez de marilyn dizer mulher Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
  • 23. I O portugal futuro é um país aonde o puro pássaro é possível e sobre o leito negro do asfalto da estrada as profundas crianças desenharão a giz esse peixe da infância que vem na enxurrada e me parece que se chama sável
  • 24. II Mas desenhem elas o que desenharem é essa a forma do meu país e chamem elas o que lhe chamarem portugal será e lá serei feliz Poderá ser pequeno como este ter a oeste o mar e a espanha a leste
  • 25. III tudo nele será novo desde os ramos à raiz À sombra dos plátanos as crianças dançarão e na avenida que houver à beira-mar pode o tempo mudar será verão
  • 26. IV Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz mas isso era o passado e podia ser duro edificar sobre ele o portugal futuro
  • 27. Os pássaros nascem na ponta das árvores* As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores Os pássaros começam onde as árvores acabam Os pássaros fazem cantar as árvores Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal Como pássaros poisam as folhas na terra quando o outono desce veladamente sobre os campos
  • 28. Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores mas deixo essa forma de dizer ao romancista é complicada e não se dá bem na poesia não foi ainda isolada da filosofia Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros Quem é que lá os pendura nos ramos? De quem é a mão a inúmera mão? Eu passo e muda-se-me o coração • Texto recomendado pelas Metas Curriculares do 9 º ano.
  • 29. Os estivadores Só eles suam mas só eles sabem o preço de estar vivo sobre a terra Só nessas mãos enormes é que cabem as coisas mais reais que a vida encerra Outros rirão e outros sonharão podem outros roubar-lhes a alegria mas a um deles é que chamo irmão na vida que em seus gestos principia Onde outrora houve o deus e houve a ninfa eles são a moderna divindade e o que dantes era pura linfa é o que sobra agora da cidade
  • 30. Vede como alheios a tudo o resto compram com o suor a claridade e rasgam com a decisão do gesto o muro oposto da gravidade Ode marítima é o que chamo à ode escrita ali sobre a pedra do cais A natureza é certo que muito pode mas um homem de pé pode bem mais • Texto recomendado pelas Metas Curriculares do 9 º ano.