O documento discute os Parâmetros Curriculares Nacionais para as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, focando na alfabetização e no desenvolvimento da linguagem oral e escrita das crianças. Ele explica que o objetivo é que os alunos dominem a linguagem de maneira eficaz ao final da 4a série, sendo capazes de produzir e interpretar textos para a vida cotidiana e o acesso à cultura. Também fornece dicas sobre como ensinar a ler, escrever, falar e desenvolver diferentes habilidades
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Portugues1 4
1. PCN
de 1ª a 4ª série Parâmetros Curriculares Nacionais
Fáceis de entender
sO que são eles
sO que ensinar com eles
sO que a turma deve ler, falar e escrever
Língua Portuguesa
A dificuldade da escola em iniciar a criança no mundo das letras está na raíz da evasão e da repetência
O desafio de alfabetizar izadas: vários Estados estão remodelando seus cur-
rículos e investe-se mais na atualização dos profes-
E
nsinar as crianças a ler, a escrever e a se ex- sores. Mas a verdade é que ainda há muito a fazer.
pressar de maneira competente na língua O índice de repetência e de abandono no Brasil,
portuguesa é o grande desafio dos professo- um dos mais altos do mundo, é resultado, princi-
res das quatro primeiras séries do Ensino Funda- palmente, da dificuldade que a escola tem em en-
mental. Existem mudanças importantes sendo real- sinar a ler e a escrever.
Os objetivos do Ensino Fundamental
Ao longo das oito séries do Ensino paulista, o carioca, o baiano e o gaú- ros, resumos, índices e esquemas.
Fundamental, o aluno deve desenvol- cho. Nenhum está certo ou errado. Com base em trechos extraídos de fon-
ver as seguintes habilidades, segundo Eles são apenas diferentes. tes diferentes, o aluno deve saber com-
propõem os PCN: 4 - Saber distinguir e compreen- por um novo texto coerente. Em resu-
1 - Expressar-se em diferentes der o que dizem diferentes gêneros de mo, transformar a linguagem em um
situações. Em ca- texto. Uma bula de remédio, um bilhete instrumento de aprendizagem, que lhe
blá, blá, blá...
ráter privado, ou da namorada ou um anúncio de carro dê acesso e meios para usar as informa-
seja, com a família têm intenções, estilos e vocabulários ções contidas nos textos que lê.
e os amigos, ou em muito diferentes entre si. 7 - Expressar seus sentimentos,
público, na apre- 5 - Entender que a leitura pode experiências, idéias e opções indivi-
sentação de um tra- ser uma fonte de informação, de pra- duais. E também ser capaz de ouvir,
balho em classe ou zer e de conhecimento. Ela dá acesso interpretar e refletir sobre as idéias de
numa solenidade escolar. às informações outros, sabendo contrapor-lhes as pró-
2 - Saber expressar-se de dife- necessárias para Plebiscito...
Plebiscito...
prias idéias. Quando descreve, em
rentes maneiras. Ou seja, usar a lin- o dia-a-dia e aos classe, um fato ocorrido na rua, o alu-
guagem adequada a cada ambiente: a mundos criados no está treinando tal habilidade.
coloquial, em situações de intimidade; pela literatura e 8 - Ser capaz de identificar e
ou a formal, que utiliza a norma culta pelas ciências. O analisar criticamente os usos da lín-
(valorizada socialmente), em situações aluno deve sa- gua como instrumento de divulga-
cerimoniosas. Numa entrevista para ber, ainda, como ção de valores e preconceitos de ra-
obter emprego, as expressões usadas recorrer a dife- ça, etnia, gênero, credo ou classe. É
são diferentes das de um “papo de bar”. rentes materiais impressos para atender o que ocorre nas piadas consideradas
3 - Conhecer e respeitar as va- a necessidades específicas. Para obter “inocentes” sobre portugueses, judeus,
riedades lingüísticas do português informações sobre um filme, usa-se o baianos ou negros. No entanto, refletir
falado. O aluno deve entender que em jornal. Para achar o significado de uma sobre o real significado preconceituo-
um país grande e palavra desconhecida, o indica- so delas pode gerar uma interessante
Oxente, Bah, guri!
de culturas varia- menino! do é o dicionário. Para uma pes- atividade em classe.
Ilustrações Vilmar de Oliveira
das como o Brasil quisa de História, consultam-se
existem sotaques, enciclopédias.
expressões regio- 6 - Ser capaz de identifi-
nais e maneiras di- car os pontos mais relevantes
ferentes de falar – de um texto, organizar notas
como o linguajar sobre esse texto, fazer rotei-
PCN 1ª a 4ª série - 5
2. Como podemos O que se quer
Portuguesa
avaliar se alguém
Língua
domina de ensinar para as
maneira eficaz a
linguagem?
quatro séries iniciais
Pluralidade
Os alunos devem terminar a 4a série do En-
Cultural
sino Fundamental dominando a linguagem de
A linguagem, maneira eficaz. Em outras palavras, devem ser
escrita ou falada, capazes de produzir e interpretar textos,
pode apresentar-se tanto para as necessidades do dia-a-dia – escre-
Geografia
de várias formas, ver um recado, ler as instruções de uso de um
?
dependendo de eletrodoméstico – como para ter acesso aos
seus objetivos. bens culturais e à participação plena no mundo
Um bate-papo letrado, entender o que é dito num telejornal e
entre amigos, uma ler um livro de poesias.
Ambiente
Meio
carta ou uma lista
É preciso ler, mesmo antes
de compras são
de dominar o alfabeto
manifestações da A tradição ensina: alfabetizar é tratar da
linguagem. Nós
Naturais
Ciências
linguagem escrita e lecionar Português é trei-
nos comunicamos nar os alunos a representar graficamente a fala
também usando pela combinação das letras do alfabeto. Na ver-
diferentes registros. dade, é muito mais do que isso. Falar e escu-
É fácil entender: se tar, além de ler e escrever, são ações que per-
Educação
você tiver de falar
Física
mitem produzir e compreender textos. Cabe com crianças em processo de alfabetização,
com o secretário à escola desenvolver também a linguagem oral mesmo quando tiveram pouquíssimo contato
de Educação de de seus alunos. Aprende-se a falar fora dos com a linguagem escrita.
seu Estado, bancos da escola, mas na sala de aula é possí-
certamente usará vel mostrar as falas mais adequadas e eficien- Escreva no quadro-negro um
Saúde
tes nas diferentes situações cotidianas. versinho que eles saibam de cor.
termos, expressões (Por exemplo: Lá em cima do piano,
e gestos diferentes 1 - A linguagem escrita tem um copo de veneno. Quem
Dica
dos que emprega Ler e escrever são atividades que se com- bebeu morreu.) Leia-o algumas
Orientação
quando cobra a vezes junto com a turma. Em uma
Sexual
plementam. Os bons leitores têm grandes delas, pare a leitura no meio. Peça
lição de um aluno. chances de escrever bem, já que a leitura forne- às crianças que apontem a última
A comunicação, ce a matéria-prima para a escrita. Quem lê palavra lida. Muitas conseguirão dar
nesses casos, se mais dispõe de um vocabulário mais rico e a resposta certa.
dará em dois compreende melhor a estrutura gramatical e as
História
registros normas ortográficas da Língua Portuguesa. s Os alunos devem, no início, aprender a
diferentes. Quanto mais variados, interessantes e diver- escrever um texto separando as palavras.
Dominar a tidos forem os textos que você apresentar às s Ao final do primeiro ciclo, eles devem
crianças, maior será a chance de elas se tor- ser capazes de dividir o texto escrito em
Matemática
linguagem é saber
narem leitoras hábeis. Se na sua sala só entra- frases, usando maiúsculas no início delas
usá-la de maneira
rem aqueles textos escritos explicitamente para e os sinais de pontuação, como ponto final,
adequada a seus ensinar a ler, que despertam pouca atenção nos exclamação, interrogação e reticências.
destinatários, ou alunos, eles se desinteressarão da leitura e te- s Os alunos devem conhecer as
seja, adaptando-se rão dificuldade em aprender. regularidades ortográficas (quando há
a diferentes Veja o que se espera que os alunos apren- regras) e as irregularidades (quando elas
Arte
registros e de dam na linguagem escrita e algumas sugestões não estão presentes) das palavras.
forma coerente para ajudar seu trabalho: s Usar dicionários e outras fontes
com seus objetivos impressas para resolver dúvidas ortográficas.
e com o assunto No primeiro ciclo s Nos textos que escreverem, devem poder
Ética
tratado. s Eles devem fazer a correspondência dos substituir o uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” ou
segmentos falados com os segmentos escritos “então” por outros conectivo como, por
da Língua Portuguesa. Isso é possível realizar exemplo, “assim”, “mas” etc.
6 - PCN 1ª a 4ª série
3. Agora não se
ensina mais o
bê-á-bá? Não se
deve mais usar
a cartilha no
processo de
alfabetização?
Não é isso.
Evidentemente é
?
possível aprender
a ler e a escrever
com as
tradicionais
cartilhas, que
usam o método da
silabação. Nesse
método tem-se por
hábito ministrar o
ensino da Língua
Portuguesa em
dois estágios. No
s Desenvolver estratégias de escrita, primeiro (o da
Crianças adoram histórias em
como planejar o texto, redigir rascunhos, relê-
quadrinhos. Peça a elas que alfabetização),
Dica
los e cuidar da apresentação. Todo texto é
transcrevam os diálogos dos
provisório e sempre pode ser melhorado. Nem
apresenta-se o
balõezinhos. Elas usarão os sistema alfabético
dois-pontos, o travessão ou as aspas. mesmo escritores experimentados produzem
textos finais na primeira tentativa; eles da escrita,
também modificam e aprimoram suas obras. representando os
s Eles devem saber separar o discurso s Compor textos coerentes com base em sons das palavras
direto do indireto e marcar turnos do diálogo trechos oriundos de fontes diversas, que graficamente.
utilizando aspas, travessão ou dois-pontos. podem ser uma combinação de produções Na etapa seguinte
escritas ou criadas oralmente. é feito o estudo
No segundo ciclo da língua
s Formar critérios para selecionar leituras Proponha aos alunos fazer uma propriamente dita,
e desenvolver padrões de gosto pessoal. revisão dos termos empregados com exercícios de
s Acentuar palavras utilizando as regras como marcadores de tempo. Além de
aumentar o repertório da turma, que
redação e treinos
relacionadas à tonicidade.
Dica
s As crianças devem saber explorar repete as expressões “era uma vez” ou ortográficos e
diferentes modalidades de leitura, como ler “antigamente”, o exercício permitirá gramaticais.
para revisar, ler para obter informações, ler situar os textos em épocas diferentes, Atualmente se
no futuro ou no passado. São termos percebe que o
para se divertir etc.
como: “há muitos anos”,“antes disso”, processo de ensino
“muito tempo depois” etc.
Uma regra de ouro: nunca deve baseado na
ser dado um texto ao aluno sem silabação é
explicar para que serve e o que s Utilizar os recursos coesivos oferecidos desnecessário e
se pode extrair dele. Uma boa pelo sistema de pontuação e pelo uso de lento. Não é
Dica
atividade é distribuir a parte
conectivos adequados, manter o tempo preciso dominar o
do jornal que traz o roteiro cultural
verbal e empregar expressões que marcam bê-á-bá, presente
e pedir aos alunos que localizem,
temporalidade e causalidade.
por exemplo, o cinema mais nas cartilhas, para
próximo da escola ou o espetáculo s Empregar as regências verbais e as
concordâncias verbal e nominal.
depois avançar no
de teatro mais barato.
s Fazer resumos.
ensino da língua.
PCN 1ª a 4ª série - 7
4. Minha escola fica 2 - A linguagem oral
Portuguesa
Crie com seus alunos uma galeria de
em um povoado
Língua
À medida que a criança avança na escolari- personagens para ser usados nas
no Maranhão. zação, as exposições orais, principalmente na
Dica
histórias orais. Você pode fazer, por
apresentação de trabalhos, tornam-se comuns exemplo, vários tipos de bruxa. Peça
Não temos livros
em sala de aula. Mas são poucas as escolas que às crianças que as desenhem e
didáticos nem
Pluralidade
costumam ensinar como falar com fluência em descreverem suas características. A
Cultural
outro material. situações públicas. Não deveria ser assim. A narrativa da classe vai ficar mais rica.
Como posso linguagem oral apresenta dificuldades tanto
melhorar o para quem a produz (clareza) quanto para s Descrever cenários, objetos e
trabalho das quem a recebe (compreensão). As escolas personagens.
Geografia
turmas? deveriam tratar da expressão oral desde as s Relatar experiências, sentimentos, idéias
séries iniciais. e opiniões de forma clara e ordenada.
?
O que se espera que o aluno aprenda na lin-
O professor que guagem oral: No segundo ciclo
quer acertar trata s Produzir diferentes textos, simulando os
Ambiente
com carinho os No primeiro ciclo
Meio
dos meios de comunicação: conversas por
alunos, respeita s Em sala de aula, o aluno deve ser capaz telefone, anúncios de rádio ou locuções dos
individualidades e é de ouvir com atenção os professores e apresentadores de TV. E perceber neles os
capaz de superar as colegas e intervir sem fugir do assunto tratado, elementos intencionais: o bom humor, o tom
Naturais
Ciências
dificuldades e formular e responder a perguntas e manifestar- catastrofista das más notícias ou uma inflexão
carências de uma se, além de acolher opiniões dos demais. de voz “garantindo a qualidade” de um produto.
escola. Estimule a s Fazer uma exposição oral com ajuda s Identificar elementos não-verbais –
discussão e a fala de um texto escrito, adequar o discurso ao como gestos, expressões faciais, mudanças no
conhecimento prévio de quem o ouve e a tom de voz – na comunicação.
Educação
das crianças. Uma
Física
situações formais de comunicação. s Empregar a linguagem com maior nível
idéia é explorar e
s Narrar fatos respeitando a temporalidade de formalidade, quando a situação social em
valorizar suas e registrando as relações de causa e efeito. que o aluno estiver assim o exigir.
experiências e os s Contar histórias já conhecidas, s Manter um ponto de vista coerente ao
conhecimentos que mantendo-se próximo do texto original. longo de um debate ou uma apresentação.
Saúde
elas trazem de casa.
Por isso procure
observar os hábitos
dos alunos e faça As crianças vão adorar ler
Orientação
Sexual
com que contem e
escrevam sobre suas em voz alta para os colegas
brincadeiras mais
Fotos Leonardo Carneiro
comuns, suas U m método para
desenvolver o uso
História
músicas preferidas, da linguagem oral com
as histórias de que crianças de 2ª série foi
mais gostam. Dos criado pela professora
Denise Santoleri
relatos pode surgir
Matemática
Franque, de São Paulo.
o material didático Ele combina a leitura
de que você sente silenciosa, a produção
falta. Enquanto fala de textos e a leitura em Leitura dramatizada
e escreve sobre sua voz alta. Para tornar a de texto no pátio (ao
experiência mais lado), e em sala, no
vida, a turma vai palanque enfeitado
divertida, Denise monta
Arte
pensando, registra e um pequeno palanque seguinte, cada um lê seu No segundo semestre,
coloridas, textos infantis
se corrige. Você enfeitado em um canto de gêneros diversos: texto em sala. Após o Denise coloca imagens
notará quanto da sala. As crianças contos de fadas, poesias, discurso, três alunos e desenhos nas caixas e
seus alunos vão devem subir nele para fábulas e aventuras. A sorteados avaliam a estimula a turma a
aprender e como ler em voz alta para os apresentação. “Precisa criar seus próprios
Ética
turma escolhe o que
colegas. No primeiro quiser, faz uma primeira gaguejar menos” ou textos para lê-los ou
seu trabalho ficará semestre, a professora leitura e leva para estudar “melhorar a pontuação”, representá-los em
mais fácil. dispõe, em caixas melhor em casa. No dia são alguns comentários. forma de teatrinho.
8 - PCN 1ª a 4ª série
5. Como o professor 2 - Usando textos diversificados
Em muitas escolas a Língua Portuguesa
Leciono para a 2a
série e muitos de
pode desenvolver ainda é ensinada de maneira formal, chata, sem
entusiasmo. Esse tipo de ensino não atende meus alunos
o hábito da leitura mais às necessidades da sociedade. Cada vez escrevem errado:
mais o aluno terá de compreender e escrever “papeu”, “cuanto”
entre seus alunos textos diferenciados, claros e criativos. Não é ou “muinto”. Como
preciso quebrar a cabeça para conseguir textos ajudá-los a falar e a
1 - Incentivando a leitura diária diversificados para utilizar em classe. Eles es-
Não se formam bons leitores se eles não tão por toda parte: jornais, folhetos de propa-
escrever certo?
têm um contato íntimo com os textos. Há inú- ganda, revistas. Até algumas embalagens de
A criança pensa que
?
meras maneiras de fazer isso: os alunos podem produtos alimentícios trazem pequenos textos
ler em silêncio, ou em voz alta, em grupo ou repletos de informações. O importante é que o a escrita é a
individualmente, ou o professor lê um texto material escrito apresentado aos alunos seja representação
para a turma. Tais possibilidades devem ser interessante e desperte a curiosidade das crian- daquilo que fala.
escolhidas de acordo com a atividade que está ças. Textos literários e poesias também devem Inicialmente isso é
sendo desenvolvida em classe. ser usados. aceitável, pois
retrata uma de suas
A escolha de um bom livro para iniciar atrás, na época da palmatória – O hipóteses sobre o
o processo de leitura é fundamental Cazuza, de Viriato Corrêa – e passou a lê- que a escrita
para cativar a turma. No início de sua lo em voz alta. Ela lia em capítulos e representa. Quando
carreira, a professora Marisa foi trabalhar parava no auge da narrativa, criando o aluno atinge a
Dica
em uma escola de periferia na Ilha do suspense. Foi um sucesso. Os alunos hipótese alfabética,
Governador, no Rio de Janeiro. A adoraram e passaram a esperar, ansiosos,
pela leitura do episódio seguinte.
ele já escreve e
garotada ia mal em Português e
detestava a leitura. Marisa escolheu, A partir daí foi fácil apresentar outros estabelece uma
então, um livro que falava da vida de livros. As crianças pediam novas histórias correspondência
meninos numa escola de muitos anos e liam com prazer. entre o falado
(fonema) e o escrito
(grafema). Pode-se,
então, trabalhar
o aluno para
A turma pode não gostar de leitura escola. Os alunos compreender
recebiam uma cópia dos
porque só recebe textos chatos textos e, em seguida,
que nem tudo o
debatiam o que haviam que se fala tem
lido. Em pouco tempo, correspondência
O s alunos da 2ª
série da Escola
era sem vontade,
por pura obrigação.
contavam histórias.
Mas não era só isso. A a turma passou de um
texto lido por semana
idêntica na escrita.
Municipal Padre Avelino Explicações para isso garotada não lia porque Exemplo: “casa”,
Canazza, em Campinas, não faltavam: a escola achava chatos os textos para um por dia. Agora,
palavra na qual o
a 98 quilômetros de São fica na periferia e muitas que recebia. “Uma as crianças tomam a
Paulo, não gostavam de crianças tinham pais criança da periferia iniciativa: trazem
“s” tem som de “z”.
ler e, quando o faziam, analfabetos que não lhes não se identifica com sugestões de casa, As variantes da
a história de um recortam as notícias língua falada
Fotos Sidnei Pitoco
executivo servido pela que lhes interessam precisam ser
empregada, como estava e melhoraram consideradas, mas
em um livro didático”, sensivelmente o
diz a professora desempenho escolar.
deve-se ter cuidado
Cleuza Albertini. Os ao escrever. A
livros didáticos foram escrita depende de
substituídos por uma convenção, que
contos infantis, é a ortografia,
artigos de revistas,
criada para unificá-
histórias em
quadrinhos, notícias
la e facilitar o
sobre o cotidiano do Notícias recortadas: alunos entendimento do
Professora Cleuza em sala: notícias do cotidiano bairro em que está a escolhem o que querem ler que se lê.
PCN 1ª a 4ª série - 9
6. Sou professora
A biblioteca escolar blioteca de classe não precisa de um número
Portuguesa
nas séries iniciais
Língua
muito grande de volumes. O que se espera é
do Ensino Toda a proposta elaborada pelos PCN para que ela apresente mais variedade do que
Fundamental o desenvolvimento da leitura nas quatro séries quantidade. É preferível que ela disponha de
e percebo que, iniciais está apoiada na existência de uma bi- 35 livros diferentes a 35 volumes do mesmo
Pluralidade
blioteca escolar. livro.
Cultural
infelizmente, a A biblioteca deve estar permanentemen- Vídeos, slides, fotografias, transparências,
maioria de meus te aberta aos alunos, ter regras de empréstimo gravadores, fitas e CDs também devem fre-
alunos não gosta de e leitura bem liberais e ser agradável e atraen- qüentar a biblioteca. Eles cumprem um papel
ler. Quero sugestões te. É importante, também, que a biblioteca pos- importantíssimo e combinam sistemas verbais
Geografia
para fazer com que sua livros e textos bem diversificados. e não-verbais de comunicação.
Há situações em que a falta de espaço ou de Abaixo, uma sugestão de textos que você
?
as crianças tomem
recursos parece impedir a criação da bi-bliote- pode ter na biblioteca de classe:
gosto pela leitura. ca. São entraves que podem ser vencidos com s Histórias em quadrinhos, textos de
criatividade. A diretora de uma escola pública jornais, revistas e suplementos infantis,
Ambiente
Para que o aluno
Meio
da periferia de São Paulo improvisou uma bi- anúncios classificados.
tenha condições blioteca em carrinhos de feira, pintados com s Parlendas, canções, poesias, quadrinhas,
de gostar de ler, cores diferentes, de acordo com a série a que se trava-línguas.
precisa tomar destinavam. Os alunos se encarregavam de fa- s Contos de fadas e de assombração,
Naturais
Ciências
contato com zer o acervo circular pelos corredores. mitos e lendas populares, folhetos de cordel.
leituras de Mesmo que a escola possua uma bibliote- s Textos teatrais.
diferentes níveis e ca, a classe também pode ter seu acervo. A bi- s Enciclopédias, dicionários e afins.
assuntos. Quando a
Educação
criança já lê textos
Leitura de textos diversificados
Física
simples por conta
própria, o professor melhora a pior turma da escola
deve ampliar seu
Q uando foi nomeada
Fotos Ronaldo Guimarães
repertório de
César Alexandre do Nascimento
para a 1ª série de
Saúde
conhecimentos uma escola municipal de
mostrando-lhe Belo Horizonte, a
outras leituras. Histórias do lobisomem
professora Sheila Alves
e da mula-sem-cabeça:
Por exemplo, de Almeida assustou-se.
Orientação
a turma adora
Sexual
lendo para a classe Os alunos, de 7 anos,
Ricardo Corrêa
não liam nem o próprio Aluna forma novas
jornais, revistas nome e quando lhes era palavras com as
e livros infantis. pedido que escrevessem sílabas de “Doriana”:
Isso faz com que a palavra “bola”, por uma escrita mais
divertida
História
a criança exemplo, muitos
compreenda que desenhavam uma bola. e letras emborrachadas e elas ficam ansiosas
Para recuperar o tempo para ensiná-los a para se manifestar”, diz
existem textos feitos Sheila. Os resultados
perdido, Sheila decidiu distinguir letras com
para informar, para Crianças brincam com
Matemática
que deveria apresentar forma parecida, como o alcançados por ela foram
letras de borracha: tiran-
divertir e que à turma textos e letras “B” e o “P”, o “O” e o “Q”. bons. A turma de Sheila do dúvidas sobre a for-
podem ser fonte da maneira mais E, principalmente, levou era considerada a “pior” ma do “B” e do “P”
de prazer. Com divertida possível. recortes de jornais e da escola. Em um ano,
Ela trouxe quadrinhas revistas com fatos que dos 26 alunos, dezessete
eles, o leitor pode
infantis, histórias mexeram com as estavam alfabetizados,
“viajar” para folclóricas, que as crianças. Foi o que ela dois prestes a começar
Arte
lugares diferentes. crianças adoraram, fez quando morreu o a ler e o restante
O aluno logo usou embalagens de elefante Zoca, no abandonou a escola
entenderá que vale margarina para formar zoológico de Belo ou pouco avançou. Até
a pena se esforçar, outras palavras, fez a Horizonte, ou com a então, em uma classe
turma ler e preparar uma tragédia da morte da como essa, a escola
Ética
pois ele também nunca havia conseguido
Os Mamonas
receita de doce impressa banda Os Mamonas Assassinas: emoção
poderá usufruir em uma lata de leite em Assassinas. “Fatos assim alfabetizar mais de em classe com a
tais prazeres. pó, conseguiu carimbos sensibilizam as crianças oito alunos. tragédia do grupo
10 - PCN 1ª a 4ª série
7. Até que ponto
Organize projetos comum acordo com a turma. Em nosso exemplo,
além do livro, os participantes poderiam decidir podemos corrigir a
com sua classe apresentar o trabalho em uma feira na escola. ortografia do texto
Os projetos podem durar de uma semana a de uma criança?
Os projetos são uma ótima oportunidade alguns meses. A grande vantagem é que eles
para que seus alunos possam produzir textos obrigatoriamente exigem o envolvimento e o Desde cedo as
com intenção clara. Os projetos devem ter um compromisso de todos os alunos. Com isso, crianças devem
objetivo bem definido e as crianças precisam mesmo tarefas que em outro contexto parece- entender que é
entender que as pesquisas, as entrevistas, as riam sem sentido – como copiar, corrigir várias
preciso escrever
leituras, se destinam a um fim combinado em vezes o texto, exigir ortografia impecável – tor-
conjunto entre a classe e a professora. Um nam-se reais e necessárias, já que as crianças co-
corretamente. A
exemplo de projeto: pesquisar contos de as- nhecem o objetivo de seu trabalho e sabem que exigência de um
?
sombração conhecidos na comunidade para ele será lido por leitores de fora da classe. texto correto é, no
produzir, no final, um livro. O propósito dos projetos não é só ensinar a entanto, relativa.
Depois da pesquisa de campo, os textos são Língua Portuguesa. Com eles é possível associar Depende da função
revisados, reescritos e debatidos em classe. O os conteúdos de Português a todas as outras dessa produção
produto final de um projeto pode ser mudado em áreas e aos Temas Transversais. (um texto que
circula na classe
e outro que terá
história do bairro. Com leitores externos
as informações obtidas,
apresentam
a classe produziu um
exigências de
texto coletivo
sintetizando suas
correção diferentes)
descobertas. As
e da série, ou ciclo,
crianças voltaram às em que foi
pesquisas para mapear realizada. O que se
a vizinhança. O propõe é que no
entusiasmo da turma fez Ensino
crescer a atividade. Os Fundamental o
alunos escreveram um aluno, além de
livro coletivo no qual escrever
contavam as próprias corretamente,
episódios. As mães
Alunos seguram mapa do Morro Alto: resultado final de um projeto didático aprenda também
foram convidadas a
procedimentos de
vir à classe relatar
A história e a geografia do bairro histórias familiares. Um
revisão. Se houver
um computador, ele
Morro Alto contadas pelas crianças jornalzinho também foi
devererá conhecer
organizado. Nele
as ferramentas de
E m um bom projeto
didático, o objetivo
final do trabalho é
a escola, as
lojas, os acidentes
geográficos e as casas
eles saíram a campo,
com lápis e papel na
mão, entrevistando os
estavam descritas as
melhorias do Morro Alto
alcançadas por sua
correção. Se não,
as ferramentas
definido junto com os das crianças deveriam moradores sobre a associação de bairro. poderão ser
alunos. Foi o que fez a constar do mapa. criadas: tiras de
Fotos Edson Vara
professora Eneida Maria O trajeto que elas papel para ser
Ramos de Macedo Tito, percorriam para chegar coladas sobre o
de Porto Alegre (RS). A à escola também seria
texto incorreto ou
intenção era que os assinalado.
para mudar frases
alunos entrevistassem A atividade começou
os moradores do Morro com os alunos de
de lugar.
Alto, o bairro em que 2a série redigindo
Flechinhas para
viviam, e realizarem um texto em que indicar o lugar
pesquisas para produzir imaginavam como da correção e,
um mapa gigante do teria sido o Morro Alto no claro, a boa e
lugar. As principais vias, passado. Em seguida, Trabalho de campo: entrevistas com moradores velha borracha.
PCN 1ª a 4ª série - 11
8. Como avaliar o
O que você pode niões. Cabe à escola, então, criar oportunidades
Portuguesa
aprendizado de
Língua
para que os alunos escrevam textos diversifica-
crianças que
entram na escola
fazer para que seus dos e de aplicações práticas, como são os que
circulam na sociedade.
na 1a série e vão alunos escrevam
Pluralidade
estudar com outras Peça que eles redijam, mesmo se
com competência
Cultural
ainda não souberem escrever certo
que foram
Os alunos devem ser solicitados a se expres-
alfabetizadas na O objetivo da escola deve ser o de formar sar por escrito, mesmo que não dominem a lín-
pré-escola? escritores competentes, habilitados a produzir gua escrita de maneira convencional. Desde ce-
Geografia
textos coerentes, organizados e claros. Um es- do, eles já são capazes de criar os mais variados
No Brasil existem critor competente – aqui se entende escritor co- discursos. Narram histórias, defendem um pon-
?
milhares de crianças mo alguém capaz de escrever e não um roman- to de vista, inventam diálogos durante uma brin-
nessa situação. A cista ou poeta – está apto a produzir um discur- cadeira ou contam um caso para alguém. O que
pré-escola so apropriado ao objetivo a que se propõe. Por ocorre é que eles já estão aptos a produzir um
Ambiente
preocupa-se hoje em
Meio
exemplo, se a intenção é convencer o leitor, ele texto, mas têm dificuldade para redigi-lo.
alfabetizar. Mas há fará um texto argumentativo. Se o que se quer Eles vão render muito mais se forem desa-
crianças que não é solicitar algo a uma autoridade, ele redigirá fiados a escrever e se puderem dividir as difi-
têm essa um ofício em linguagem formal e direta. Para culdades de coordenar a escrita. Isso pode ser
Naturais
Ciências
oportunidade e, enviar notícias à família, ele escreverá uma feito, por exemplo, propondo a um aluno que
carta intimista. conte em voz alta uma história a outro colega,
aos 7 anos, são
que a escreverá, enquanto um terceiro fará a re-
matriculadas numa O professor pode sugerir a seus visão. Os três fortalecerão assim suas compe-
classe com colegas alunos que escrevam uma carta a tências, podendo depois cumprir sozinhos to-
Educação
que já lêem. As um jornal pedindo informações sobre
Dica
Física
das essas etapas.
diferenças um tema em estudo na classe. Para
Mas que outras razões teríamos para in-
isso, deve explicar à turma qual é a
individuais devem centivar a escrita dos estudantes? O fato é que
linguagem adequada. O texto será
ser respeitadas. feito em conjunto pelas crianças.
eles gostam de escrever. De resto, a criança
Existem opções para tenta andar mesmo antes de poder fazê-lo, fa-
Saúde
ajudar esses O escritor competente sabe expressar por es- lar mesmo quando ainda é bebê ou desenhar
estudantes: se crito seus sentimentos, experiências ou opi- quando mal sabe pegar em um lápis. Por estar
houver parentes com
Orientação
mais escolaridade, é
Sexual
possível orientá-los Ensine a turma a descrever personagens
para uma ajuda em
casa. O professor
pode, ainda, pedir a
N as redações de
sua turma de 2ª
série, a professora
assim: “minha mãe é
alta, bonita, morena...” e
só. A dificuldade era a
descritivas relevantes
para o enredo. Para
mudar isso, a professora
Chinelo e Vestido Azul
de Bolinha Branca, no
Portão daquela Casa?,
História
colaboração de paulista Maria Eugênia “descrição funcional”, ou usou o livro Tá Vendo de Ricardo Azevedo, e
alunos mais Leal lia descrições seja, citar informações uma Velhota de Óculos, montou esta atividade:
adiantados; tirar 1 - A classe 3 - A professora
dúvidas em suas examina a capa, lê as histórias
Matemática
o título e as em voz alta
horas de trabalho ilustrações do e pede aos
pedagógico fora livro. Hipóteses alunos que as
de sala ou dar sobre a principal recontem. Eles
personagem e podem, a todo
recuperação sua história são momento,
paralelamente às levantadas. consultar o livro.
Arte
aulas regulares. E,
2 - Sem ler o 4 - Cada aluno
também, em alguns texto, só olhando deve imaginar e
momentos do dia as figuras, os desenhar uma
alunos tentam quarta versão da
realizar atividades contar as três velhota. Surgem
Ética
diferentes para os já histórias da inúmeras figuras:
velhota: no livro avó, detetive,
alfabetizados e os ela é escritora, doceira e outras
demais alunos. feiticeira e atriz. personagens.
12 - PCN 1ª a 4ª série
9. Por que a
num mundo onde a linguagem escrita faz parte Mudar de gênero, finalizar
do cotidiano, o aluno se sente desafiado a es- histórias, reescrever textos... maioria das
crever. Alguns truques que podem fazer a turma histórias infantis
evoluir no domínio da língua escrita e superar as começa com
Fazer a revisão coletiva de um texto dificuldades na criação de textos: “Era uma vez”?
produzido por um aluno que a classe 1 - Propor aos alu-
nos que reescrevam ou
Dica
não conheça costuma ser mais É muito difícil saber
produtivo. Ao examinar o texto na se inspirem em um
lousa, ou nas cópias que recebem, as
onde começou esse
texto que eles já leram
crianças enxergam erros que não para produzir uma re-
costume. Típica de
vêem na própria produção. dação; lendas, mitos e
narrativas antigas,
?
2 - Fazê-los trans-
Fazer rascunho, revisar formar um gênero em a expressão “Era
e escrever de novo... outro. Por exemplo, uma vez” perde-se
A maioria dos escritores de primeira via- escrever um conto de na memória. O
gem se dá por satisfeita com a primeira e úni- mistério a partir de desconhecimento
ca versão do texto produzido. Muitas escolas uma notícia policial; da origem da
incentivam tal procedimento. No entanto, essa 3 - Sugerir a produção de textos a partir de expressão combina
postura em nada contribui para o entendimen- outros conhecidos: um bilhete que o persona- com seu sentido
to de que a produção da língua escrita é um gem de um conto teria escrito a outro, por vago. “Era uma
processo que pode ser permanentemente de- exemplo;
vez” imprime às
senvolvido e melhorado. 4 - Dar as primeiras
O trabalho com rascunhos é, portanto, im- frases de uma história
narrativas uma
prescindível. A revisão deve ser ensinada de para a classe desenvolver indeterminação no
maneira a permitir a quem escreve, coordenar ou o final de uma história tempo e, quase
os papéis de produtor, leitor e avaliador do para que os alunos criem sempre, no espaço.
próprio texto. O professor pode ajudar propon- seu início; Por essa razão,
do uma maneira organizada de executar essa 5 - Planejar coleti- aparece com
tarefa. Pode haver um momento para escrever, vamente o enredo de uma história, para que os freqüência na
outro para ler o que está no papel, e outro ain- alunos discorram sobre ela, individualmente literatura infantil,
da para fazer ajustes, passar a limpo etc. ou em grupos. especialmente nos
contos de fadas,
que influenciam
a educação de
crianças de 5 a 10
anos. Há muitas
alternativas para a
expressão “Era
uma vez”, que
as crianças vão
5 - Características 7 - Deixando o
da personagem livro de lado, os
descobrir à medida
imaginada pelas alunos criam que você contar
crianças são uma história a elas outras
anotadas em mais complexa.
cartolinas. Assim, As idéias histórias. Alguns
elas conhecem vão sendo exemplos clássicos:
as idéias umas escritas no
das outras. quadro-negro. “Havia uma vez um
rei”, “No tempo em
6 - Cada um 8 - Todos os
escreve mais textos, corrigidos que os bichos
uma versão e passados a falavam”, “Há
sobre a velhota. limpo, são
A professora reunidos em um muitos anos”,
corrige os volume. No final, “Antigamente”,
trabalhos. Todos cada aluno tem
passam os um novo livro
“Faz muito tempo”,
textos a limpo. sobre a velhota. “Num certo lugar”.
PCN 1ª a 4ª série - 13
10. Muitos criticam Ferramentas para Ortografia precisa
Portuguesa
Língua
hoje o uso das
listas de palavras e um bom texto nas de compreensão e
ditados como
treinos
oficinas de criação de decoreba
Pluralidade
Cultural
ortográficos. Escritores competentes precisam dispor de Tradicionalmente, ensina-se ortografia – a
Como trabalhar a um repertório amplo de modelos para criar seus maneira correta de grafar as palavras – apre-
ortografia? textos. Ninguém é capaz de fazer surgir uma boa sentando e repetindo as regras ortográficas
produção literária do nada. É preciso ter boas re- para a classe. Tudo se dá meio na base da de-
Geografia
ferências. Para escrever bem é preciso ler bem. coreba. Depois da explanação, se o aluno de-
O que se critica é a A proposta das oficinas ou ateliês de criação sobedece a tais regras em uma redação, por
?
prática de ensinar de textos é fornecer às crianças material de con- exemplo, o professor corrige o erro, e pode
ortografia ou sulta apropriado para a produção de textos. As até sugerir que o estudante copie várias vezes
trabalhar os erros possibilidades são quase infinitas, desde o ma- a versão correta das palavras escritas de ma-
Ambiente
ortográficos usando
Meio
terial mais previsível, como dicionários, enci- neira errada. Muitos alunos decoram tais re-
somente os treinos clopédias, atlas, jornais e revistas, até um banco gras, mas na hora da redação continuam es-
e exercícios de de personagens criados pelos próprios alunos, crevendo errado.
memorização. As que podem ser usados para reforçar as redações Muitas normas ortográficas têm de ser mes-
Naturais
Ciências
correções de texto e produzidas nas oficinas. mo decoradas. Mas isso não quer dizer que
ditados continuam O professor pode avaliar junto com os alunos aprender a escrever certo seja um processo pas-
necessários, mas as os caminhos percorridos por eles para criar suas sivo. No capítulo dedicado à ortografia, os Pa-
redações. É um dos momentos mais ricos nas ofi- râmetros Curriculares Nacionais propõem que
crianças devem
cinas, pois nesse instante são discutidas as prefe- a intervenção do professor se dê em dois ní-
Educação
realizar outras
Física
rências, as dificuldades e as alternativas de que os veis: no “produtivo” e no “reprodutivo”.
atividades, jovens escritores lançaram mão (com sucesso ou Produtivo é o conhecimento explícito das re-
principalmente as não) para chegar ao enredo final. O professor de- gras ortográficas. Tal conhecimento permite aos
que as façam ve participar sempre dessa avaliação da estraté- alunos grafar corretamente mesmo as palavras
entender a real gia de criação. Com o tempo, essa habilidade se- que eles nunca haviam escrito anteriormente.
Saúde
função das regras rá assimilada pela classe. E aí, pode apostar, os Um exemplo: nenhuma palavra da Língua Por-
ortográficas ou alunos produzirão textos cada vez melhores. tuguesa começa com as letras “rr”. A regra pode
gramaticais.
Apesar das muitas
Orientação
Sexual
exceções, nossa Vamos consultar
língua possui
regularidades. A um bichionário?
norma que
História
determina o uso da
letra “m” antes de Criado pelo
escritor Nilson
“b” e “p” é um Machado, o Bichionário
Iolanda construiu o
Meu Livro de Bichos
exemplo. Você pode
Matemática
é uma coleção de com rimas. Marcos,
ensinar isso como minipoesias com autor do Meu Livro
regra acabada. nomes de animais de de Objetos, encontrou
Comidas e gulodices objetos para todas
Mas será mais A a Z e foi a inspiração
foi o tema escolhido letras. O texto
para uma atividade corrigido foi passado a
produtivo e a por Soraya em seu
feita na Escola de Comidionário. limpo. No fim, todos os
memorização mais Aplicação, de São Os alunos que não alunos fizeram a capa
Arte
fácil se a criança Paulo. As professoras O pequeno Fábio criou escreviam sozinhos e escolheram o título
o Nominário, que receberam ajuda. As
primeiro observar propuseram às registra nomes professoras corrigiam
essa regularidade e, crianças recém- próprios de A a Z. os textos enfatizando
alfabetizadas que Cada aluno escolheu a ortografia, a clareza,
só então, souber seu tema e partiu o uso de maiúsculas
preparassem os
Ética
que existe uma próprios minidicionários
para a pesquisa. e a redundância.
regra para a As crianças fizeram A pesquisa em
temáticos. Acompanhe as ilustrações e dicionários foi
questão. a experiência. diagramaram os livros bastante encorajado
14 - PCN 1ª a 4ª série
11. Como utilizar
parecer banal, mas é comum vermos alunos das
primeiras séries escreverem palavras como “rra-
A difícil arte dicionários com
to” ou “rroupa”.
Já o eixo reprodutivo é aquele em que o alu-
de pontuar turmas da pré-
escola à 4a série?
no memoriza a forma correta de grafar palavras corretamente
que não têm regras específicas que expliquem a Os dicionários
forma de escrevê-las. É freqüente a confusão entre o ensino da
ampliam o
pontuação e o ensino dos sinais de pontuação.
Distinguindo palavras de Em geral, o que se faz é uma apresentação do ti-
vocabulário e
uso mais e menos freqüente po “serve para”, “é usado para” e ponto final. melhoram a
Tal distinção é fundamental para o trabalho Espera-se que a partir daí o aluno seja capaz de interpretação da
do professor. Quando as palavras fazem parte incorporar a pontuação a seus textos... leitura. Mas, para
?
do vocabulário médio dos alunos, é mais pro- No entanto, a única regra obrigatória da as crianças, essa
dutivo que eles apresentem suas hipóteses de pontuação é a que diz onde não se pode pon- experiência pode
como devem ser escritas. tuar: entre o sujeito e o verbo e entre o verbo e ser um tanto
Com base nessas suposições, eles poderão seu complemento. Tudo o mais são possibili- complicada.
refletir sobre as possíveis alternativas de grafia dades. Ao contrário da ortografia, na pontua- A principal
e, comparando-as com a escrita convencional, ção a fronteira entre o certo e o errado nem dificuldade é que
terão progressivamente condições de tomar sempre é bem definida. Aprender a pontuar é a maioria das
consciência do funcionamento da ortografia. É agrupar as palavras do texto de forma a dar rit-
palavras tem
um momento em que o “erro” deve ser encara- mo e ênfase à redação.
do pelo professor como fundamental para a Isso é algo que as crianças só aprenderão
vários sentidos
construção das hipóteses ortográficas desen- com a ajuda do professor. A pontuação deve ser e é o leitor quem
volvidas pelos alunos. analisada do ponto de vista do sentido que o deve verificar qual
Por outro lado, entender que a ortografia de autor pretende dar ao texto. Cabe ao professor deles cabe melhor
algumas palavras não é definida por regras faz levantar com os alunos o porquê de terem usa- no texto. Uma boa
com que os estudantes vejam, de maneira práti- do determinados sinais de pontuação. Gêneros maneira de
ca, a importância de consultar fontes autoriza- literários diferentes têm características de pon- preparar o aluno
das de registro ortográfico da língua portuguesa, tuação distintas. Jornais abusam de apostos pa- para essa consulta
como os dicionários ou manuais de redação, e ra condensar o texto. Por exemplo: “Luís, mar- é incentivá-lo a
reconheçam a importância da memorização. ceneiro, foi preso ontem”. descobrir, por
conta própria, o
significado da
Uma receita pernambucana de pontuação palavra
A professora Cinara exclamar ou perguntar.
Por isso ela propõe
3 - “A pontuação, para desconhecida. As
Santana da Silva, da que serve?”, indaga. “A
Escola Matias de algumas atividades vírgula é para respirar”,
próprias crianças,
Albuquerque, de Recife, interessantes a seus responde a turma. “Não é do jardim-de-
Pernambuco, sabe que a
a
alunos de 3 série. bem assim”, diz. Cinara infância em diante,
mostra, sem dar nomes,
pontuação dá sentido ao Acompanhe:
as funções podem organizar
texto, não serve sintáticas da vírgula. um dicionário,
somente para respirar,
escrevendo cada
4 - Os alunos criam
1 - A professora faz diálogos ambientados em palavra numa
uma avaliação de um locais que freqüentam, folha de papel,
texto conhecido. Nele como um parque. O
devem ser necessários parágrafo e o travessão ilustrando-a e
vários tipos de mostram a diferença acrescentando
pontuação, como entre o narrador e o
vírgula, travessão etc. personagem.
uma frase ou um
pequeno texto em
2 - Detectadas as 5 - Propor piadas e que apareça o
dificuldades, ela adivinhações garante termo em questão.
divide a turma em aulas divertidas
duplas e pede que elas sobre o uso das Depois, é só reunir
marquem, em um novo reticências, que as folhas em
texto, os sinais de marcam a interrupção
pontuação, discutindo na fala ou na idéia ordem alfabética e
os “porquês”. exposta no texto. fazer uma capa.
PCN 1ª a 4ª série - 15