O documento discute a importância da fundamentação teórica na intervenção psicopedagógica, especialmente as teorias de Piaget e Vygotsky sobre o desenvolvimento cognitivo da criança. Também aborda a discalculia como um transtorno que causa dificuldades significativas de aprendizagem matemática e como a psicopedagogia atua para amenizar esses problemas.
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
O pensamento lógico matemático e psicopedagogia
1. O Pensamento Lógico-matemático e Psicopedagogia.
Elieuza Aparecida dos Santos
Cursanda em Psicopedagogia Institucional e
Clínica na Faculdade Guanambi
A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem do sujeito. Uma intervenção
psicopedagógica tem como objetivo identificar os sintomas que interferem na
aprendizagem desse sujeito durante o processo de aquisição do conhecimento. Vale
ressaltar que, para que haja essa compreensão, o psicopedagogo precisa se fundamentar
nas teorias que envolvem esse processo. Pois, não se pode avaliar o sujeito por um
único referencial ou um grupo de habilidades, outros aspectos devem ser considerados
desde o nascimento ao mais complexo grau de maturidade do ser humano.
O sujeito em desenvolvimento engloba vários aspectos: psicológico, biológico e
social, que se desdobram em cognitivo, sexual, ético, moral, linguagem, cultura; fatores
que compõem o seu contexto evolutivo.
Várias teoriasabordam essas questões em perspectivas diferentes. Dentre estas
teorias, destacam-se a Epistemologia genética de Piaget e Vygotsky, simultaneamente, a
psicogênesee a sociogênese. Ambas abordam o sujeito epistêmico, não passivo que se
relaciona com o mundo na construção do conhecimento. Uma depende da outra para
explicar essa relação e compreender como individuo chega ao mais complexo nível de
pensamento.
Partindo desses pressupostos, considero de suma importância que intervenção
psicopedagógica seja respaldada nas bases teóricas que dispõem as ciências que buscam
explicar o desenvolvimento e o comportamento humano no processo de aquisição do
conhecimento, uma vez que, a psicopedagogia não possui um referencial próprio para o
estudo e análise do sujeito neste processo. Os recursos que vêm sendo utilizado num
diagnóstico e na intervenção psicopedagógica são construídos a partir dos
conhecimentos teoricamente comprovados e na sua inter-relação.
Segundo a teoria Piagetiana, a criança para aprender deve estar pronta, isto é, ter
uma maturação biológica e uma condição psicológica equilibrada para a aquisição do
conhecimento durante o seu desenvolvimento cognitivo. Trata-se de um processo ativo
de interação com o ambiente e objeto. Pode-se assim dizer, que a criança é um
sujeitoativo no processo de construção do seu próprio conhecimento. E ainda, cada
2. criança tem seu ritmo próprio de aprendizagem (ritmo biológico). Para Piaget (1975),
este ritmo aliado ao esquema próprio de ação do sujeito, irá construir o campo
simbólico e desenvolver as estruturas cognitivas (por meio de estágios ou fases) que se
sucedem sempre de uma mesma ordem, mas que devido às diferenças individuais, estas
fases podem ser alcançadas em idades diferentes, em momentos distintos ou estacionar
em determinado ponto do desenvolvimento.
Quando há um déficit que impedi a criança de assimilar e acomodar o que
deveria ser apreendido, tal condição pode ocasionar o atraso ou fracasso no processo de
aprendizagem. Assim, é necessário que o psicopedagogo quando identificar sintomas
que são indícios de uma ou mais dificuldades na aprendizagem, faça um prévio
diagnóstico da razão desses sintomas e sua relação com as dificuldades de
aprendizagem, antes de encaminhar a criança para profissionais de outras áreas como
psicólogo, neurologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e outros, que de forma
interdisciplinar também tratam dessa problemática. Para isso, é imprescindível que
psicopedagogo conheça o funcionamento do corpo e do cérebro e fazer a relação desses
conhecimentos com o histórico de desenvolvimento da criança e seu contexto de vida,
para saber qual profissional indicar e, até mesmo, qual seria o propósito da intervenção
numa situação desse gênero.
É sabido que todo distúrbio gera as dificuldades de aprendizagem, porém nem
toda dificuldade de aprendizagem provém do distúrbio. Ou seja, nem todos que têm
dificuldades de aprendizagem são portadores de distúrbio e/ou transtorno. A dificuldade
de aprendizagem é um problema externo, enquanto os distúrbios e transtornos são
origem fisiológica, entretanto internos, trata-se de dificuldades significativas no
desenvolvimento das habilidades da criança a nível biológico.
Dentre os transtornos de aprendizagem, temos a discalculia. A criança com esse
transtorno tem várias habilidades prejudicadas, como habilidades linguísticas,
perceptivas, de atenção e a própria habilidade matemática. Suas causas podem ser
neurológicas, emocionais e cognitivas. A criança com discalculia é incapaz de visualizar
conjuntos de objetos dentro de um conjunto, conservar quantidade, sequência de
números, estabelecer correspondências uma a uma, dificuldade em lidar com conceito
de tempo, identificar lateralidade, incapacidade de fazer o manuseamento de número e
quantidade e, ainda é incapaz de apreender e racionar conceitos, regras, fórmulas e
sequências matemáticas.
3. Portanto, a criança que é portadora da discalculia, o conhecimento lógico-
matemático apresenta uma desordem na sua aquisição e/ ou na coordenação das relações
lógico-matemática, podendo ter dificuldades significativas no desenvolvimento das
habilidades relacionadas com a própria matemática causando alteração ou deteriorações
dos rendimentos escolares e no convívio social.
Vale lembrar queessa condição da criança é ocasionada por uma disfunção
biológica que ocorre durante processo de desenvolvimento dela, como as alterações no
desenvolvimento cerebral, complicações neurológicas, lesão cerebral, desequilíbrio
químico e anomalias congênita de aspectos psíquicos que muitas vezes são responsáveis
pelas dificuldades de aprendizagem e do baixo desempenho escolar.
Entretanto, toda criança tem suas potencialidades e habilidades que a torna capaz
de aprender e transformar aquilo que aprende. Porém, quando esse processo não ocorre,
a criança pode ser portadora de uma ou mais dificuldades significativas de
aprendizagem ou um transtorno especifico, mas que não justifica a sua exclusão e rótulo
de “criança problema”.
É neste contexto que surge a importância da intervenção psicopedagógica para
amenizar e/ou solucionar as dificuldades de aprendizagem que, frequentemente,
aparecem no ambiente escolar causando na criança problemas emocionais que agravam
mais ainda a sua condição de “não aprender”.
Portanto, é neste sentido que atuação do psicopedagogo deve se proceder à
frente as dificuldades de aprendizagem da criança, ou seja, tal atuação exige uma
análise contextualizada dos fatores que envolvem osujeito no processo de ensino-
aprendizagem e a relação destes conhecimentos cientificamente comprovados.
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Referências Bibliográficas
PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SAMPAIO. Simaia.Dificuldades de Aprendizagem- A Psicopedagogia na relação
sujeito, família e escola. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
___________.Distúrbio e Transtorno: Discalculia.(Link 02). Disponível em:
http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/disturbios.htm. Acessado em 26 de novembro
de 2011.