1. ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO
UM OLHAR PARA O ADOLESCENTE
Carolina da Silva Kopschina
E-mail: carolinasilva@feevale.br
RESUMO
O presente artigo busca trazer mais subsídios sobre o fazer psicopedagógico e a
atuação do psicopedagogo clínico, em especial com adolescentes. Ter clareza sobre
as formas de atuação deste profissional é de fundamental importância para a
sociedade. No decorrer do texto será abordado sobre o atendimento com
adolescentes, focando sobre a importância de conhecer esta fase do
desenvolvimento que comumente traz conflitos para a escola e para a família. No
cotidiano habitual o adolescente tende a confrontar com a figura de autoridade.
Talvez o grande desafio da escola seja entender o que está acontecendo no mundo
atual e, o que está sendo esperado da geração que ela prepara. A escola e a
psicopedagogia tem se proposto a auxiliar famílias no processo de desenvolvimento
da autonomia e da construção da cidadania, bem como, ao desafio de acompanhar
as mudanças sociais e os inúmeros avanços na área do conhecimento em benefício
do público adolescente. O adolescente provoca os adultos para obter respostas,
para construir sínteses, para ganhar limites e para continuar se estruturando,
necessita firmar seus referenciais para adotá-los, ou não, em sua vida adulta e é
junto à sua família e aos outros adultos que ele elege que essa avaliação se fará.
Portanto, entender os comportamentos presentes nesta fase, bem como, saber
como pensam e como se estruturam neste momento da vida, será fator
determinante para o sucesso de quem com eles convivem.
Palavras-chave: Psicopedagogia. Atendimento-Clínico. Adolescente. Escola.
ABSTRACT
This article seeks to bring about more subsidies to educational psychology and
clinical performance of psychopedagogists, especially with teenagers. Being clear
about the ways of performance of this work is of fundamental importance to society.
Throughout the text, we will be tackled on the care of adolescents, focusing on the
importance of knowing this stage of development that often brings conflict to school
and family. Int he usual daily, teenager tends to confront the authority figure. Perhaps
Supervisora Escolar na Escola de Educação Básica Feevale - Escola de Aplicação
Especialista em Pedagogia Empresarial
Especialista em Psicopedagogia - Abordagem Clínica e Institucional (em fase de conclusão)
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the greatest challenge of the school is to understand what is happening in the world
today, and what is expected of the generation that it prepares. The school and
educational psychology has offered to assist families in the development of
autonomy and the construction of citizenship, as well as the challenge to keep pace
with social changes and the numerous advances in knowledge for the benefit of the
teenage audience. The teenage causes adults to get answers to build up synthesis,
to win limits and continue structuring himself, he needs to sign his references to
adopt them or not, in his adult life and close to his family and other adults that he
elects, that this assessment will be done. Therefore, understanding the behaviors
present in this phase, as well as how to think and how they are structured at this
point in life, will be determinant for the success of those with whom they live.
Keywords: Psychopedagogy. Clinical Performance. Teenager. School.
Toda a prática psicopedagógica está vinculada a uma concepção teórica do
que é Psicopedagogia, que, por sua vez, está subordinada à concepção de
construção do conhecimento, de aprendizagem, que define, em si mesma, uma
visão de homem e sociedade. A atual concepção de Psicopedagogia é fruto,
portanto, de uma história construída por estudiosos e profissionais da área.
Bossa (1994, p.28), em seus estudos, aponta que “[...] a preocupação com
os problemas de aprendizagem teve origem na Europa, ainda no século XIX.
Inicialmente pensaram sobre o problema os filósofos, os médicos e os educadores”.
Para esta autora, estudos apontam que educadores passaram a preocupar-se e
dedicar-se aos estudos dos distúrbios de aprendizagem.
Em nosso país, a evolução da Psicopedagogia mostra uma nova postura em
que os psicopedagogos brasileiros passam a transitar e a integrar outras áreas do
conhecimento, para compreender e intervir nos processos de aprendizagem e não
aprendizagem. É importante comentar que o movimento da psicopedagogia no
Brasil remete ao seu histórico na Argentina. Devido à proximidade geográfica e ao
acesso fácil à literatura, as ideias dos argentinos muito tem influenciado a nossa
prática.
A Psicopedagogia, portanto, deve pensar a aprendizagem ou a não
aprendizagem a partir de um sujeito que tem a possibilidade de aprender, que
pertence a um grupo social particular pensado e definido através do materialismo
dialético, que dispõe de um equipamento geneticamente herdado, cumprindo uma
continuidade biológica e que realiza o desejo do outro na sua individualidade.
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Apoiado neste referencial teórico, o psicopedagogo investiga o sujeito da
aprendizagem, incluído no contexto biopsicosocial. Entende, assim, que “a causa da
dificuldade de aprendizagem não está necessariamente no sujeito, mas na dinâmica
de relações entre esse, que dispõe de corpo, organismo, inteligência e desejo
(PAIN, 1989) e o meio em que está inserido, ou seja, a família, a escola e o contexto
social como um todo”.
Sendo assim, os profissionais da psicopedagogia trabalham no sentido de
identificar os motivos que levam o sujeito a não aprender ou a não se permitir a
aprender, para então, poder contribuir com a escola, ou melhor, com o sucesso do
sujeito na sua vida escolar. O Psicopedagogo não deve trabalhar com o diagnóstico,
que será apenas para pensar um ponto de partida, mas jamais ser determinante ao
pensar no sujeito.
A psicopedagogia deve buscar a qualidade nas relações de aprendizagem
de qualquer sujeito, levando em conta as variações no seu desenvolvimento, as
características culturais, sociais, orgânicas, afetivas e psíquicas, enfim os fatores
que podem interferir no processo. Identificar e prevenir tais fatores, é o foco central
da psicopedagogia.
O psicopedagogo poderá atuar na instituição escolar ou na clínica. Na
instituição escolar, enquanto prática preventiva das dificuldades de aprendizagem, a
partir do contexto escolar, mas junto com a família. Junto a outros profissionais,
poderá identificar os problemas que interferem na aprendizagem. Na clínica, foco
deste artigo, pensará o sujeito que aprende através de sua história pessoal, aquele
sujeito que está apresentando sintomas, que naquele momento o impedem de
aprender.
A psicopedagogia deve ser mais preventiva do que curativa. O
psicopedagogo deve ter como objetivo o resgate pelo desejo do aprender, apontar
ao sujeito suas potencialidades e possibilidades na construção do seu
conhecimento. A psicopedagogia acredita que é necessário conhecer a história do
sujeito para daí intervir com ele, com a família, com a escola. As interações
familiares e as diferentes fases da vida serão essenciais para a constituição do
sujeito, as influências poderão ser negativas ou positivas.
O profissional em discussão deverá estar atento às situações cotidianas,
trocando informações e experiências com a comunidade para ter mais sucesso no
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seu fazer. Cada cultura, cada grupo, cada sujeito tem a possibilidade de organizar
as situações de diferentes formas no contexto ao qual está inserido.
A Psicopedagogia Clínica tem como objetivo principal a investigação e a
intervenção nas dificuldades de aprendizagem, buscando a compreensão do
processo de aprendizagem e suas fraturas. O atendimento clínico deve preocupar-
se tanto com a identidade do sujeito com o conhecimento como também com o
desenvolvimento das suas estruturas cognitivas. Para tanto, parte da história
pessoal do sujeito, procurando identificar sua modalidade de aprendizagem e
compreender a mensagem de outros sujeitos envolvidos nesse processo, seja a
família ou a escola, buscando, implicitamente ou não, as causas do não aprender.
Autores como: Pain, Visca, Weis, Bossa contribuem orientando o fazer
psicopedagógico. Para o diagnóstico psicopedagógico, o primeiro contato da família
com o psicopedagogo representa o pedido de ajuda não só para o sujeito que não
aprende, mas traz implicitamente a necessidade de ajuda para o grupo familiar,
como também, para a instituição escolar que é o lugar onde o sintoma da não-
aprendizagem vem se manifestando. Nos primeiros contatos, é fundamental que se
estabeleça o enquadre da terapia psicopedagógica. É de extrema importância à
atenção a fala dos pais, bem como do paciente, buscando nas entrelinhas do seu
discurso, dados significativos que o inconsciente deixa escapar. Para Paín (1989,
p.36) o psicopedagogo deve:
[...] animar o diálogo, favorecer a expressão e criar um clima afetuoso e
compreensivo; sua missão é de que o casal saia conformado, menos ansioso do
que entrou e com uma imagem suficientemente clara da próxima tarefa.
Bossa (2007, p.94), diz que:
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável,
onde a intervenção do psicopedagogo inicia em uma atitude investigadora, até a
intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato,
prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da
observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.
Neste artigo estarei abordando o atendimento com adolescente, baseando-
me na experiência clínica. O atendimento psicopedagógico a adolescentes nos
desafia inicialmente a entender o que perpassa este sujeito.
Esta é uma fase onde muitos sentimentos se conflitam, amam, estudam,
brigam, trabalham. Batalham com seus corpos, que se transformam. Lidam com as
dificuldades de crescer no quadro da família moderna, isto tudo, se refletirá na
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linguagem, expressão oral e escrita do sujeito, pois, é o momento de compreender
as situações que observa e vive no seu dia-a-dia. Não podemos esquecer as
mudanças hormonais, que terão forte atuação neste período.
Observa-se a luta constante entre o desejo e a necessidade de “cair no
mundo” e o desejo e a necessidade de se manterem protegidos desse mundo
misterioso, mas que sonham em conhecer.
Oliveira e Bossa (2001, p.108) afirmam que,
E enquanto o adolescente muda, o meio e as exigências também mudam.
Quanto à escola, tais mudanças favorecem, realmente, a presença de um marco.
Fica claramente delimitada a mudança de fase de vida: até dez anos,
frequentando a quarta série, o menino e a menina ainda eram crianças, cuidados
e protegidos por um ou dois professores, que se responsabilizavam pela maioria
dos acontecimentos em sala de aula. No ano seguinte eles mudam, muitas
vezes, de prédio dentro da escola, de período ou mesmo de escola. Enfrentam
vários professores que são responsáveis pelas matérias que ministram e não
pela classe toda, que mudam a cada cinquenta minutos. Têm um período menor
de lanche, onde já não se joga mais bola ou se brinca de correr. Precisam se
acostumar com exigências diferentes, simpatias e antipatias diferentes, volume
maior de tarefas e avaliações.
E precisam continuar a aprender...
Segundo Outeiral (2008, p.04):
A palavra “adolescência” tem dupla origem etimológica e caracteriza muito bem
as peculiaridades desta etapa da vida. Ela vem do latim ad (a, para) e olescer
(crescer), significando a condição ou processo de crescimento, em resumo,
indivíduo apto a crescer. Adolescência também deriva de adolescer, origem da
palavra adoecer.
Temos sim, nesta dupla origem etimológica, um elemento para pensar esta
etapa da vida: aptidão para crescer (não apenas no sentido físico, mas também
psíquico) e para adoecer (em termos de sofrimento emocional, com as
transformações biológicas e mentais que operam nesta faixa da vida).
Para muitos adolescentes é neste momento que o psicopedagogo tem papel
fundamental. O psicopedagogo, então, precisa entender como o adolescente pensa,
como ele constrói o seu saber, para que seja melhor compreendido em sua
comunicação, seja através da expressão oral ou da escrita, entender como acontece
o seu desenvolvimento cognitivo. Em muitos casos, para após traduzir à família e a
escola.
Considerando que a psicopedagogia se ocupa do sujeito na situação de
aprendizagem é fundamental, tanto no diagnóstico como no tratamento, conhecer os
diferentes momentos do processo da etapa adolescente. Para além do rendimento
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escolar, o psicopedagogo deve levar em conta outros aspectos que, de alguma
forma, também fazem parte do processo de aprendizagem, atribui-se muitas vezes
uma dificuldade intelectual ao adolescente que é identificado como portador de uma
dificuldade escolar.
As transformações corporais, evidentemente, constituem uma das questões
primordiais da adolescência em geral e, particularmente da sua fase inicial. O
indivíduo se vê obrigado a assistir e a sofrer passivamente uma serie de
transformações que se operam em seu corpo, e, por conseguinte, em sua
personalidade.
O adolescente, neste momento evolutivo, vive a perda de seu corpo infantil,
com uma mente ainda infantil e com um corpo que vai se fazendo inexoravelmente
adulto, que ele teme, desconhece e deseja e, provavelmente, que ele percebe aos
poucos diferente do que idealizava ter quando adulto.
Na família, também ocorrem modificações, de acordo com Outeiral (2008,
p.15):
[...] quando um grupo familiar tem um filho que se torna adolescente, este grupo,
como um todo. “adolesce”: Os pais, reativando seus elementos adolescentes,
poderão portar-se, muitas vezes, como tal; e os irmãos mais novos também irão
querer “adolescer”. Adolescência, na nossa cultura, é assim: desperta variados
sentimentos, entre eles a inveja. Por exemplo, o adolescente fala do futuro, e os
pais têm um discurso cada vez mais centrado no passado. O adolescente “fica”
envolvendo-se amorosamente ora com um, ora com outro parceiro, como é
natural nessa etapa, e o adulto não pode “ficar” de uma forma tão simples como
seu filho [...] estes ao apenas alguns exemplos da “inveja” que o adolescente
poderá despertar no adulto.
Maurício Knobel (apud Outeiral, 2008) descreve as características da
adolescência normal por meio de uma serie de manifestações de conduta. Que são:
busca de si mesmo e da identidade, tendência grupal (às vezes funciona como uma
instituição, sendo fundamental na estrutura da identidade, necessidade de
intelectualizar e fantasiar (o imaginário é mais significativo do que o real),
deslocalização temporal (as noções conceituais de presente, passado e futuro se
estruturam no final deste período), evolução sexual manifesta (desde o auto-
erotismo até a heterosexualidade adulta), atitude social reivindicatória (os intensos
conflitos emocionais, as perdas de aspectos infantis de dependência parental),
contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta (o que é bom hoje,
pode ser horrível amanhã e vice-versa), separação progressiva dos pais (luto pelos
pais da infância, que por sua vez resistem a se desprender de seu filhinho) e
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constantes flutuações de humor e do seu estado de ânimo (não pode haver uma
depressão permanente, nem uma reação maníaca).
Essas são contribuições de Maurício Knobel que constituem uma das mais
importantes abordagens ao conhecimento da adolescência.
É de extrema importância o psicopedagogo estar apropriado destes
significados, mesmo que, tais características podem não estar presentes no
adolescente.
A partir do ponto de vista psicopedagógico, é importante realizar uma
avaliação mais profunda de alguns outros aspectos descritos a seguir. A análise se
dá a partir da leitura de Bossa (2001):
Desenvolvimento cognitivo: No adolescente surge o pensamento formal
ou hipotético dedutivo, que vem sendo trabalhado desde o nascimento. Neste
momento o adolescente deve ser capaz de elaborar conceitos abstratos com uma
maior reflexão, possibilitando acessar o conhecimento de uma maneira diferente.
Para o psicopedagogo durante o diagnóstico, é importante conhecer não somente
que estrutura de pensamento tem o sujeito, mas também, saber como a utiliza.
Sistema familiar-social: É importante conhecer o contexto no qual o
adolescente está inserido. Desligar-se da família e da infância e ingressar na vida
adulta pode expressar-se através de uma dificuldade de aprendizagem, como
também de uma inadaptação escolar. É um momento em que a família também se
defronta com uma nova situação de aprendizagem, e juntos, devem estar dispostos
a realizar uma nova e árdua aprendizagem. Portanto, conhecer a modalidade de
aprendizagem familiar permitirá ao psicopedagogo compreender as particularidades
da aprendizagem do adolescente e dos seus transtornos.
Sistema educacional: A instituição deve ser o espaço para o adolescente
receber uma variedade de estímulos, estabelecer a interação entre os pares e
construir uma identidade grupal que permita, ao mesmo tempo, elaborar sua
individualidade.
O trabalho com adolescente exige técnicas e recursos adequados para a
faixa etária, bem como, o conhecimento do psicopedagogo na interpretação das
atividades. É necessário utilizar outros meios, ou fazer adaptações das atividades
realizadas com crianças, o que facilitará a expressão nos diferentes aspectos que
pretendemos avaliar e intervir.
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Bossa (2001) nos traz algumas técnicas e recursos úteis que considero
interessante na avaliação com adolescentes. São elas: entrevista livre, teste do
desenho livre, teste da figura humana, teste do par educativo, teste da família
prospectiva, teste visão do futuro, teste gestáltico visomotor de Bender, técnica das
frases incompletas, colagens, testes intelectuais, provas de diagnóstico operatório,
avaliação do desempenho escolar. É importante destacar, com base nas leituras
desta autora, que as conclusões diagnósticas são sempre hipotéticas e estão
sujeitas a uma permanente revisão.
Pain nos indica outros caminhos. Cabe ao profissional, entender e utilizar o
que será adequado para o momento, para aquele paciente, para aquela situação.
Escreverei então, de forma sucinta sobre as técnicas utilizadas durante
minha experiência na clínica com um paciente adolescente.
Contato telefônico: o primeiro contato que a família faz, já pode ser
entendido como um movimento interno nela, o que pode significar o início de uma
mudança.
-Motivo da Consulta: é o início de todo o trabalho psicopedagógico.
-Enquadre com o paciente: após um primeiro momento com a família, tem-
se então uma primeira sessão com o paciente, aonde basicamente vai se delimitar a
ação e combinar o que acontecerá nos encontros futuros. É o momento do contrato
com o paciente, esclarecendo para ele a dinâmica das sessões.
Historia Vital: um segundo momento com a família está dedicada à
reconstrução da história do sujeito.
Hora do Jogo: ao falar dessa fase do diagnóstico, cabe destacar a
importância, e assim justificar o uso do jogo no atendimento psicopedagógico, como
oportunidade e necessidade de espaço e tempo para a criança ou adolescente,
através dele, comunicar-se e revelar-se.
Técnicas Projetivas: as provas projetivas auxiliam o psicopedagogo a
entender as partes do sujeito depositadas nos objetos que aparecem como
suportes da identificação e quais os mecanismos que atuam diante de uma
instrução que obrigam o sujeito a representarem-se situações estereotipadas e
carregadas emotivamente.
Diagnóstico Operatório: essas provas têm por objetivo a identificação do
estágio ou nível operatório do pensamento. Elas devem ser aplicadas quando já se
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tiver um vinculo entre o psicopedagogo e o sujeito, de forma que seja uma situação
agradável, sem interferências de aspectos emocionais.
Avaliação da Lecto-Escrita: considero importante ter clareza de que esta é
uma atividade permeada de vários sentidos, tais como: audição, percepção, visão,
tato, etc. É essencial pensar que no processo de aprendizagem da lecto escrita é
muito importante contextualizar a realidade, partindo de elementos que podem ser
lidos, mas não estão escritos da forma convencional, mostrando que a leitura
também se faz sem letra.
Avaliação do Pensamento Lógico-Matemático: é fundamental que a
observação dos processos do sujeito se dê através do jogo, das brincadeiras e de
situações prazerosas e desafiadoras, onde o sujeito poderá expressar livremente o
seu pensamento. Na realização destas atividades é necessário que o foco do
terapeuta esteja localizado no pensamento e raciocínio desenvolvido pelo sujeito.
Avaliação Corpo, Expressão e Movimento: O esquema corporal é um
elemento básico indispensável para a formação da personalidade do sujeito. É a
representação relativamente global, cientifica e diferenciada que o sujeito tem de
seu próprio corpo. O próprio sujeito percebe-se e percebe os seres e as coisas que
a cercam, em função de sua pessoa.
Prova Estereognóstica: é o reconhecimento tátil-cinestésico de formas e
figuras. Piaget observou que a passagem da percepção para a representação
elevava o grau de diferenciação que o sujeito fazia em termos de espaço, criando
significantes, ligações e a utilização de signos.
Hipótese Diagnóstica: diagnosticar o não aprender como sintoma consiste
em encontrar sua funcionalidade, isto é, sua articulação integrada pelo paciente e
seus pais.
Plano de Intervenção: ao concluir o diagnóstico e entender a capacidade
de mobilização do paciente e da família, é necessário determinar que tratamento é o
mais conveniente para o problema colocado.
Devolução: é uma comunicação verbal feita ao final de toda a avaliação, em
que o psicopedagogo relata aos pais e ao paciente os resultados obtidos ao longo
do diagnóstico.
Evolução do caso: nesta etapa é importante ter clareza de como estava o
paciente quando chegou à prática clínica e como ele se encontra no final dos
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atendimentos. Deixar claro se o paciente está em alta, se foi encaminhado para
outros atendimentos, se deve seguir com o tratamento.
Durante as sessões, é importante compreender como o adolescente exercita
novas possibilidades de pensamento em seu dia-a-dia, o que lhe propiciará um novo
tipo de relação com o mundo adulto. Entretanto, nem sempre as premissas de que
se utiliza levam em conta a dimensão do possível e do real. Para o adolescente é
fácil encontrar soluções para os problemas da humanidade, muito embora a maioria
delas não seja exequível na prática, enquanto tem muita dificuldade de resolver
complicações simples de seu cotidiano. O psicopedagogo, ou o adulto que com o
adolescente se encontra, terá papel importante neste momento. Também a escola
tem um significado primordial para o adolescente. Conforme o ambiente que ele
vivencia, teremos um aprendizado prazeroso e propício, ou distúrbios de conduta
e/ou aprendizagem. Novamente a participação do psicopedagogo será essencial, no
auxílio das dificuldades de aprendizagem.
Certamente muitas outras reflexões seriam pertinentes ao pensarmos o
adolescente, tais como: drogas, sexualidade, entre outras, mas neste momento
termino minha escrita, que certamente instigará na busca de outros saberes e
reflexões a respeito da temática abordada.
É importante que possamos compreender e aceitar esta fase de oposição da
adolescência e, tolerar, impondo limites, mas entendendo este processo de
estabelecimento de novos vínculos com a família e com a sociedade, não mais em
termos infantis e sim dentro de um modelo mais adulto, naturalmente será uma
tarefa básica desta etapa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar a escrita deste artigo, considero importante ressaltar que o
psicopedagogo clínico deve inicialmente identificar o motivo do encaminhamento do
sujeito para atendimento. O vínculo com este sujeito é muito importante, arrisco-me
a dizer que é o que vai fazer progredir ou não o atendimento.
Atualmente muitos adolescentes são encaminhados para atendimento
porque estão com dificuldades de aprendizagem, ou porque demonstram
desinteresse nos estudos e desrespeito aos pais e professores. Isto pode ser um
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sintoma a respeito da forma como estão trabalhando com eles. Faz-se necessária a
reflexão sobre este aspecto.
Outras causas do encaminhando para atendimento psicopedagógico, são
originadas muitas vezes pela falta de conhecimento sobre a fase do
desenvolvimento adolescente, bem como da interpretação equivocada que se faz do
sujeito.
É fundamental o papel do psicopedagogo nestes casos, pois ele poderá
auxiliar o adolescente na interação dos diferentes espaços onde vive, assim como
aqueles que também fazem parte deste espaço.
Sendo assim, a psicopedagogia contribui para a consolidação do campo de
conhecimento, assumindo um lugar fundamental na escola e na família,
democratizando seu fazer e contribuindo para a construção de uma escola e de uma
família mais atenta às necessidades do sujeito.
É de extrema importância um profissional bem preparado para auxiliar nas
questões que envolvem a aprendizagem e a não aprendizagem, as relações,
possibilitando o resgate, no sujeito, do desejo de aprender e de ser autor. A
importância de levarmos em conta aspectos como: o afetivo, o social, o cognitivo,
pensando ações em torno dos envolvidos com o sujeito, não pode jamais ser
esquecida.
Num atendimento clínico a sensação de desafio ao término de cada sessão
é o que deverá nos incentivar na busca constante por entendimento do
desenvolvimento cognitivo do sujeito, que necessariamente se transforma e, que,
certamente nos inquietará na busca por encontrar a forma adequada de auxiliá-lo.
Termino então a escrita deste artigo e, propondo a reflexão dos versos
abaixo:
A adolescência é um tribunal inesperado:
O julgamento do pai pelo filho,
O julgamento do filho pelo pai.
(Paulo Mendes Campos. O tempo da palavra. 1992)
Está naquela idade incerta e duvidosa,
Que não é dia claro e já é alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco menina e um pouco mulher.
(Machado de Assis. Falenas. 1839-1908)
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REFERÊNCIAS
ABERASTURY, Arminda. Adolescência. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
BOSSA, Nadia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da
prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
ESCOTT, Clarice Monteiro. Interfaces entre a Psicopedagogia Clínica e
Institucional. Um olhar e uma escuta na ação preventiva das dificuldades de
aprendizagem. Novo Hamburgo: Feevale, 2004.
OLIVEIRA, Vera Barro de. BOSSA, Nadia Aparecida. Avaliação psicopedagógica
do adolescente. Petrópolis: Vozes, 2001.
OUTEIRAL, José. Adolescer. Rio de Janeiro: Revinter, 2008.
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto
Alegre: Artmed, 1989.