1) O governo Michel Temer propôs uma PEC que limita o aumento dos gastos públicos à inflação, congelando os investimentos em saúde e educação. Isso reduzirá esses investimentos em relação ao PIB ao longo do tempo.
2) A proposta desconsidera as grandes necessidades de investimento nessas áreas no Brasil. Cortar esses gastos não resolverá a crise fiscal, que resulta principalmente dos juros da dívida pública.
3) É preciso estimular a economia com investimentos maciços em infraestrut
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Governo Temer corta gastos com saúde e educação
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NÃO À POLÍTICA ECONÔMICA RECESSIVA DO GOVERNO MICHEL
TEMER
Fernando Alcoforado*
O governo Michel Temer elaborou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241-
2016) enviada ao Congresso Nacional pretendendo instituir um novo regime fiscal no
Brasil. As medidas propostas definem novo teto para o gasto público que terá como
limite a despesa do ano anterior corrigida pela inflação fato este que fará com que os
gastos públicos de saúde e educação sejam congelados em termos reais passando a ser
apenas corrigidos pela inflação. A Constituição Federal estabelece em 18% dos
impostos federais o investimento mínimo da União em educação, e em 25% para os
estados, o Distrito Federal e os municípios. Na saúde, os gastos são de 15% da receita
para os municípios e 12% para os estados da federação. Em relação à União, conforme a
Emenda Constitucional 86, promulgada em março de 2015, fixa o limite mínimo de
gastos com saúde para 13,2% da receita corrente líquida em 2016, 13,7% em 2017,
14,1% em 2018, 14,5% em 2019, e 15% em 2020.
A PEC 241-2016 trata das despesas primárias, ou seja, exclui os gastos do governo com
o pagamento dos juros e amortização da dívida pública, verdadeira razão do déficit
público. O congelamento do gasto público valerá por 20 anos, com possibilidade de
revisão da regra de fixação do limite a partir do décimo ano de vigência. Os
formuladores desta PEC 241-2016 partem da premissa de que o problema fiscal
brasileiro é consequência do aumento acelerado da despesa pública primária, ou seja,
dos gastos sociais, de saúde, educação, funcionalismo, etc. quando na realidade ele
resulta do crescimento descontrolado da dívida pública. Com a PEC 241-2016, o
governo Temer pretende acabar as vinculações orçamentárias previstas na constituição
para saúde e educação, fruto de décadas de lutas da sociedade brasileira. Pelas regras
atuais, em 2016 seria aplicado um montante mínimo em ações e serviços públicos de
saúde de 13,7% da receita corrente líquida da União. Na educação, a previsão é de pelo
menos 18% da receita de impostos federais, deduzidas as transferências constitucionais.
Com as vinculações durante o período de vigência do Novo Regime Fiscal, o gasto
mínimo será calculado pela despesa do ano anterior reajustada pelo IPCA, sem haver
aumento real para as áreas de educação e saúde. O poder ou órgão que extrapolar o teto
anual definido ficará impedido de aumentar as despesas com pessoal no ano seguinte.
Ou seja, não poderá conceder reajuste aos servidores públicos nem criar cargos que
signifiquem aumento de despesas. A proposta só admite contratações no caso de
reposição de vagas abertas por aposentadoria ou falecimento de servidores. Também
não poderão ser realizados concursos públicos. Se esta PEC 241-2016 for aprovada a
tendência é que, com o passar dos anos, os gastos com educação e saúde se reduzam
proporcionalmente ao PIB, em relação aos percentuais atuais. A trajetória de maior
acesso da população pobre aos serviços públicos de educação e saúde será interrompida.
Serão afetados diretamente os serviços públicos oferecidos aos mais pobres, que já são
insuficientes.
A PEC 241-2016 desconsidera as enormes necessidades de investimentos nas áreas de
saúde e educação que o país ainda tem para atender a maioria da população. A PEC
241-2016 vai significar grandes sacrifícios aos mais pobres em troca de uma suposta
redução da dívida pública. Mas será muito difícil haver redução da dívida pública
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simplesmente através da limitação dos gastos primários, se não houver crescimento
econômico. Sem crescimento econômico e com o Brasil praticando as maiores taxas de
juros do planeta, é quase impossível haver redução da dívida. O problema do déficit
público no Brasil é a dívida pública porque o Brasil pratica as maiores taxas de juros do
mundo e gastou R$ 500 bilhões com o pagamento da dívida pública em 2015. A PEC
241-2016, assim como outras medidas que estão sendo gestadas, tem como principal
objetivo garantir a manutenção das transferências de riqueza da sociedade para o
sistema financeiro. Para seus autores não importa que isso signifique a desagregação da
sociedade nacional.
Além de atentar contra os interesses da grande maioria da população brasileira
comprometendo os serviços de educação e saúde, o governo Michel Temer procura
apresentar como solução para a crise financeira do estado brasileiro a reforma da
previdência argumentando que o rombo da Previdência é enorme e sua estrutura
insustentável para os anos que virão. Trata-se de uma falácia para justificar a
privatização da previdência e dos serviços assistenciais, e destinar ainda mais recursos
para o setor financeiro. O déficit da previdência é a mentira tornada verdade ao realizar
manobras contábeis que não respeitam o que a Constituição Federal determina. O
correto, constitucionalmente, é considerar a discussão sobre a “Seguridade Social” e não
sobre “Previdência Social” na qual esta última é parte dela.
Pelo Art. 194 da Constituição Federal, a seguridade social compreende um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. A seguridade
social obtém superávits todos os anos, conforme levantamento da Associação Nacional
dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP). Dados apontam que entre
2008 e 2014, o superávit da seguridade social ultrapassa a casa dos R$ 319 bilhões,
assim distribuídos: 2008, R$ 63.213 bilhões; 2010, R$ 53.828 bilhões; 2012, R$ 82.690
bilhões; 2013, R$ 76.214 bilhões; e 2014, R$ 53.892 bilhões. É importante observar que
a Previdência Social é parte da Seguridade Social. Portanto, reduzir a discussão apenas
à Previdência Social é querer esconder os superávits da Seguridade Social. É importante
observar que, pela Constituição Federal (Art. 195), a seguridade social é financiada por
toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes do governo, das empresas e dos trabalhadores.
Para completar, o governo Michel Temer anunciou a meta fiscal para 2017 que terá
déficit de R$ 139 bilhões. Para 2016, o déficit previsto pelo governo federal é de R$
170,5 bilhões, equivalente a pouco mais de 2,7% do PIB; dada a meta para 2017, ficaria
em 2,1% do PIB. Parece um esforço grande de redução do rombo, mas ainda é um
desastre, quase inevitável sem um gigantesco aumento de impostos. O lamentável é que,
enquanto o orçamento da União destina 47% ao pagamento dos juros e amortizações da
dívida, educação, saúde e trabalho não chegam aos 4% cada, cultura recebe 0,04% do
orçamento, direitos da cidadania 0,03%. Não há mais de onde extrair riquezas do país e
transferir ao setor financeiro a não ser reduzindo os gastos com educação, saúde e
previdência social como preconiza o governo Michel Temer. Todo este conjunto de
medidas não solucionará as crises econômica e financeira do governo, além de agravar a
crise econômica que atinge o conjunto da sociedade brasileira cuja solução só virá com
o crescimento econômico do País. Nenhuma das medidas do governo Temer aponta
nesta direção.
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Diante da queda vertiginosa do consumo das famílias e das empresas, dos investimentos
do setor privado e do governo, o momento atual estaria a exigir que o foco principal da
ação do governo Michel Temer deveria ser o de: 1) incrementar os investimentos em
infraestrutura para alavancar o crescimento econômico do Brasil; 2) fazer auditoria da
dívida pública; e, 3) renegociar com os credores a redução dos encargos anuais com o
pagamento da dívida pública para haver disponibilidade de recursos públicos para
investimento. O Instituto de Logística e Supply Chain publicou em setembro de 2011
texto sob o título Infraestrutura: situação atual e investimentos planejados no qual
estimou os investimentos necessários em portos (R$ 42,9 bilhões), ferrovias (R$ 130,8
bilhões) e rodovias (R$ 811,7 bilhões) totalizando R$ 985,4 bilhões. Acrescentando este
valor aos investimentos necessários a hidrovias e portos fluviais (R$ 10,9 bilhões),
aeroportos (R$ 9,3 bilhões), setor elétrico (R$ 293,9 bilhões), petróleo e gás (R$ 75,3
bilhões), saneamento básico (R$ 270 bilhões) e telecomunicações (R$ 19,7 bilhões)
totalizam R$ 1.664,5 bilhões.
Por sua vez, o setor de saúde requer investimentos de R$ 83 bilhões por ano informado
no website <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/governo-precisa-investir-ao-menos-
60-a-mais-para-melhorar-a-saude-no-brasil-20110921.html>, o setor de educação
precisa de investimento de R$ 16,9 bilhões/ano para obter educação de qualidade no
Brasil informado no website <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-09-
14/apesar-de-mais-altos-investimentos-em-educacao-ainda-sao-mal-distribuidos-aponta-
ocde> e o de habitação popular requer R$ 160 bilhões para eliminar o déficit
habitacional informado no website <http://www.cimentoitambe.com.br/deficit-
habitacional-no-pais/>. O total de investimento em infraestrutura econômica (energia,
transportes e comunicações) e social (educação, saúde, saneamento básico e habitação)
corresponde a R$ 1.924,4 bilhões, isto é, quase R$ 2 trilhões. Como o governo federal e
o setor privado nacional não têm recursos para investimento seria importante atrair
capitais externos com a adoção da política de concessão de serviços públicos. Esta
iniciativa é urgente sem a qual a recessão se aprofundará no Brasil.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br