1) O documento discute o desenvolvimento da economia como ciência, desde os pensadores clássicos como Adam Smith e David Ricardo até as teorias modernas de Karl Marx, Joseph Schumpeter, John Maynard Keynes e outros.
2) Karl Marx publicou O Capital, obra fundamental que revelou as leis que governam a economia capitalista e causou uma revolução no pensamento econômico. Marx argumentou que a força motriz do capitalismo é a produção e apropriação da mais-valia pelo capitalista.
3) Joseph Schumpeter destacou o papel dos emp
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A ciência e os avanços do conhecimento em economia
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A CIÊNCIA E OS AVANÇOS DO CONHECIMENTO EM ECONOMIA
Fernando Alcoforado*
A descoberta das leis que governam os sistemas econômicos foi realizada por Karl Marx
com a publicação de O Capital no qual sintetiza suas críticas à economia capitalista que
causaram nas décadas seguintes uma revolução no pensamento econômico e nas
ciências sociais. O Capital é a obra máxima e a mais conhecida de Karl Marx. Trata-se
de um minucioso exercício investigativo de Karl Marx acerca das leis que governam a
atividade econômica. O livro se desdobra em três volumes, a saber: 1) Livro I - o
processo de produção do capital (publicado originalmente em 1867); 2) Livro II - o
processo de circulação do capital (publicado originalmente em 1885); e, 3) Livro III - o
processo global da produção capitalista (publicado originalmente em 1894). Seu
objetivo era revelar a lei econômica do movimento da sociedade capitalista moderna
(MARX, Karl. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999).
Karl Marx afirmou que a força motriz do capitalismo é a produção de mais-valia que é o
valor do trabalho não pago aos trabalhadores. Os capitalistas fazem isto através de uma
combinação de meios: prolongando a jornada de trabalho, aumentando a velocidade das
máquinas, introduzindo máquinas poupadoras de trabalho, através da racionalização, de
acordos de produtividade, de novos turnos, de estudos de tempo e movimento, servindo-
se de novas tecnologias etc. O capital total investido pelo capitalista foi considerado por
Marx como constituído de meios de produção, matérias-primas, energia etc, que é
considerado capital constante (k), que simplesmente transfere seu valor para as novas
mercadorias. O valor que eles transferem é fixo. Entretanto, o capital representado pela
força de trabalho (salários) é considerado capital variável (v), enquanto fonte de todo
valor novo. Consequentemente, o valor total de todas as mercadorias é composto de k +
v + m, onde m representa a mais-valia que corresponde ao valor do trabalho não pago
aos trabalhadores. Enquanto a mais-valia estiver “aprisionada” dentro da mercadoria, o
capitalista somente pode realizar este valor excedente quando as mercadorias são
vendidas no mercado. Dessa forma, a mais-valia é criada somente na produção, e
realizada somente na troca, no mercado (MARX, Karl. O Capital. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1999).
Marx afirma que é através da mais-valia (m) que o capitalista remunera seu capital
investido, paga encargos sociais e trabalhistas, bem como taxas e tributos ao governo,
entre outras exigências. Em última instância, é o trabalhador que, além de assegurar a
produção do bem ou serviço, garante o ganho do capitalista e o pagamento dos
compromissos por este assumidos. Se a jornada de trabalho é dividida entre trabalho
necessário e trabalho excedente, a taxa de mais-valia é a razão entre as duas porções da
jornada de trabalho. Quanto maior a porção excedente, maior a taxa de mais-valia. Em
termos simples, a taxa de mais-valia é a taxa de exploração do trabalho pelo capital, ou
dos trabalhadores pelo capitalista. A classe capitalista força a classe trabalhadora a
executar mais trabalho do que se requer para cobrir seus meios de subsistência,
produzindo assim mais-valia. O que interessa ao capitalista é o lucro e a busca por
maiores taxas de lucro. Ele precisa saber se o valor que legalmente deixa de pagar a
seus trabalhadores – a Mais-Valia (m) – é superior ao capital que investe em capital
constante (k) e capital variável (v). Sendo o capital constante a maquinaria, matérias-
primas, energia, etc. utilizados na produção do bem ou serviço e o capital variável a
compra de força de trabalho aos trabalhadores sob a forma de salários.
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Pensadores econômicos anteriores haviam captado um ou outro aspecto do
funcionamento do capitalismo. Marx buscou entender todo o processo em seus três
livros, chegando a uma especificidade até hoje inédita de pesquisa, argumentação e
relação de dados. Marx defendia que o capitalismo como sistema era um modo de
produção historicamente transitório cujas contradições internas o levariam à queda,
sendo inevitavelmente substituído pelo socialismo. A obra de Marx em
economia estabeleceu as bases para o entendimento atual sobre o trabalho e sua relação
com o capital. As teorias de Marx sobre a sociedade, a economia e a política sustentam
que as sociedades humanas progridem através da luta de classes. Além disso, ele previu
a mundialização do capital e que o capitalismo produziria tensões internas que
conduziriam à sua autodestruição e substituição por um novo sistema: o socialismo. As
teorias de Karl Marx influenciaram o pensamento político e social em todo o mundo nos
séculos XIX e XX. Foi com as obras de Karl Marx e Friedrich Engels que a Economia e
a Sociologia adquiriram o status de ciência (ENGELS, Friedrich e MARX, Karl.
Manifesto comunista. São Paulo: Editora Boitempo, 1998).
Antes de Karl Marx e de sua economia política se destacaram Adam Smith, David
Ricardo e Thomas Malthus, fundadores da economia clássica de corte liberal. A riqueza
das nações foi a principal obra de Adam Smith (SMITH, Adam. A riqueza das nações.
Curitiba: Jurua Editora, 2007), Princípios de política econômica y tributacion a de
David Ricardo (RICARDO, David. Princípios de política econômica y tributacion.
Madrid: Ediciones Pirámide, 2003) e O princípio de população a de Thomas Malthus
(MATTHUS, Thomas. O princípio de população. Lisboa: Editora Europa- America-
PT, 1999). Karl Marx colocou em xeque a economia clássica ao desvendar os conceitos
universais que estão por trás da atividade econômica em sua obra O Capital. Após Marx
surgiu o pensamento neoclássico que, em essência, buscava se contrapor à economia
política marxista, bem como oferecer soluções para as crises do capitalismo. Na década
de 1860, surgiu a escola marginalista que desenvolveu a teoria de que, ao invés do preço
de um bem ou serviço refletir o trabalho que o produziu, ele reflete a utilidade marginal
da última compra. Isto significava que, no equilíbrio, as preferências das pessoas
determinavam os preços, incluindo indiretamente o preço do trabalho.
A escola marginalista de pensamento se subdividia em três escolas principais
trabalhando independentemente: 1) a escola de Lausanne cuja principal obra escrita
foi Elements of Pure Economics de Walras (WALRAS, Leon. Elements of Pure
Economics. Florence, Kentucky: Routledge, 2013); 2) a escola de Cambridge que
apareceu com Theory of Political Economy de Jevons (JEVONS, Stanley. Theory of
Political Economy. La Vergne: Lightning Source, 2012); e, 3) a escola austríaca, do fim
do século XIX e começo do século XX, dominada cada vez mais pela análise
matemática que defendia o uso da lógica dedutiva cujo principal expoente foi
Ludwig Von Mises que publicou The theory of money and credit (MISES, Ludwig von.
The theory of money and credit. São Paulo: Editora Stellar, 2014). Alfred Marshall,
também integrante da escola marginalista, publicou sua obra Principles of Economics
(MARSHAL Alfred. Principles of Economics. La Vergne: Lightning Source, 2009).
Marshall considerava que os fenômenos econômicos são configurados por processos
lentos, contínuos e graduais, sem a ocorrência de grandes saltos. Logo após a revolução
marginalista, Marshall concentrou-se na reconciliação da teoria clássica do valor-
trabalho, que se focava no lado da oferta do mercado, com a nova teoria marginalista,
que se focava no lado da demanda do consumidor.
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Um dos mais ilustres economistas da escola austríaca foi Joseph Schumpeter mais
conhecido por suas obras sobre ciclos econômicos e inovação. Ele insistia no papel dos
empreendedores em uma economia. Em Theory of Economic Development, Schumpeter
afirma que a vida econômica experimenta mudanças não contínuas que alteram o limite
e o próprio curso tradicional das relações entre os agentes do sistema econômico, de
forma que tais mudanças não podem ser captadas por uma análise do fluxo circular da
renda. A ocorrência de mudanças de tal natureza, às quais Schumpeter denominou de
“revolucionárias”, consiste no problema central do processo de desenvolvimento
econômico (SCHUMPETER, Joseph. Theory of Economic Development. Piscataway,
New Jersey: Transaction Publishers, 1983).
Schumpeter considera o desenvolvimento como uma mudança espontânea e descontínua
nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado
de equilíbrio previamente existente. Essas mudanças espontâneas e descontínuas no
canal do fluxo circular e essas perturbações do centro do equilíbrio aparecem na esfera
da vida industrial e comercial, não na esfera das necessidades dos consumidores de
produtos finais. Na teoria schumpeteriana do desenvolvimento, é o produtor que inicia a
mudança econômica promovendo “novas combinações” de meios produtivos, que vão
definir uma situação ou um processo de desenvolvimento. Elas consistem no emprego
diferente dos recursos produtivos disponíveis no sistema econômico, estando vinculadas
em sua realização a empresas novas, que não surgem das antigas, mas começam a
produzir lado a lado e em simultâneo às mesmas.
De acordo com Schumpeter, o capitalismo necessariamente passa por ciclos de longo
prazo, pois ele é inteiramente baseado em invenções e inovações científicas. Uma fase
de expansão torna-se possível pelas inovações, pois elas trazem ganhos de
produtividade e encorajam os empreendedores a investir. No entanto, quando os
investidores realizam um processo de destruição criadora, isto é, destroem os velhos
produtos, os empregos diminuem, mas eles permitem que a economia inicie uma nova
fase de crescimento, baseado em novos produtos e novos fatores de produção
(SCHUMPETER, Joseph. Theory of Economic Development. Piscataway, New Jersey:
Transaction Publishers, 1983). Outro grande economista da escola austríaca foi Ludwig
von Mises cujas críticas ao socialismo tiveram uma grande influência no pensamento
econômico de Friedrich von Hayek, que, apesar de inicialmente simpático ao
socialismo, tornou-se um dos críticos acadêmicos contra o coletivismo socialista no
século XX. Em seu livro O Caminho da Servidão, lançado em 1944, e suas obras
posteriores, Hayek alegou que o socialismo exigia um planejamento econômico central
e que tal planejamento, por sua vez, levaria ao totalitarismo (HAYEK, Friedrich von. O
Caminho da Servidão. Campinas, Vide Editorial, 2013).
Outra escola neoclássica foi a Keynesiana que teve como principal mentor John
Maynard Keynes que teve como obra principal A Teoria Geral do Emprego, do Juro e
da Moeda lançada em 1936 (KEYNES, John M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e
da Moeda. São Paulo: Saraiva Editora, 2012). Esta obra de Keynes, como O Capital de
Karl Marx, fez com que a Economia adquirisse ainda mais o seu status como ciência.
Keynes argumentou que o emprego depende do gasto total, que é composto pelos gastos
do consumidor, do investimento das empresas do setor privado e do próprio governo.
Os consumidores gastam de acordo com as flutuações de suas rendas. As empresas, por
outro lado, são induzidas a investir levando em conta a taxa esperada de retorno em
novos investimentos (o benefício) e a taxa de juros paga (o custo). Então, dizia Keynes,
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se as expectativas das empresas permanecessem as mesmas, e o governo reduzisse as
taxas de juros (o custo de emprestar), o investimento aumentaria, levando a um efeito
multiplicador nos gastos totais. Se não há dinheiro suficiente para suprir quanto as
pessoas desejam, as taxas de juros aumentam. Então, se a quantidade de dinheiro
aumentasse, as taxas de juros cairiam, levando a um maior investimento, produto e
emprego. Por ambas as razões, Keynes defendia baixas taxas de juros e crédito fácil, a
fim de combater o desemprego. Keynes, na década de 1930, acreditava que havia a
necessidade de ação do setor público para assegurar a estabilidade do sistema
econômico nacional. Os gastos públicos para combater crises e manter o pleno emprego,
dizia Keynes, iriam impulsionar a atividade econômica. O modelo Keynesiano passou a
ser adotado pela maioria dos países do mundo capitalista da 2ª Guerra Mundial até a
década de 1990 quando foi introduzido o modelo neoliberal na economia mundial
globalizada.
Após a 2ª Guerra Mundial, um economista Keynesiano, John Kenneth Galbraith tornou-
se um dos defensores de um governo pró-ativo e da política liberal-democrática. Em sua
obra The New Industrial State, Galbraith considera que as decisões econômicas
governamentais são planejadas por uma burocracia, uma tecnoestrutura de especialistas.
Como as grandes corporações privadas detestam o risco e exigem uma economia e
mercados estáveis, elas recrutam os governos para servir aos seus interesses com a
política fiscal e monetária, por exemplo, para adotarem políticas monetaristas que
enriquecem os emprestadores de dinheiro através de aumentos nas taxas de juros. Ao
mesmo tempo em que um governo cúmplice serve aos interesses das grandes
corporações, o espaço público é simultaneamente empobrecido, segundo Galbraith
(GALBRAITH, John Kenneth. The New Industrial State. New York City: Houghton
Mifflin Sch, 1978).
Por sua vez, Paul Samuelson publicou Reading in Economics no qual sintetizou grande
parte da obra de Keynes com representações matemáticas. O Monetarismo e a Escola de
Chicago surgiram como antítese ao Keynesianismo (SAMUELSON, Paul. Reading in
Economics. New York City: McGraw-Hill, 1973). As políticas monetária e fiscal
intervencionistas que a economia Keynesiana do pós-guerra recomendava passaram a
ser atacadas, em particular, por um grupo de teóricos da Universidade de Chicago, que
veio a ser conhecida como a Escola de Chicago. Essa corrente de pensamento mais
conservadora reafirmou uma visão extremamente liberal da atividade econômica
afirmando que as pessoas ficam melhores se deixadas à sua vontade, livres para
escolherem como conduzir suas próprias vidas. Milton Friedman se destacou como o
principal economista da Escola de Chicago e um dos mais influentes do final do século
XX. Friedman ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 1976 por sua obra A Monetary
History of the United States 1867-1960. Friedman defendia que a Grande Depressão de
1929 foi causada pelas políticas do Federal Reserve (FED) durante a década de 1920, e
pioradas na década de 1930. Friedman, principal ideólogo do neoliberalismo,
considerava que a política do laissez-faire é mais desejável do que a intervenção do
governo na economia (FRIEDMAN, Milton. A Monetary History of the United States
1867-1960. Princeton: Princeton University, 1971).
As escolas econômicas surgidas ao longo da história foram utilizadas na análise
econômica e no planejamento econômico de vários países do mundo. Os países
capitalistas adotaram os fundamentos da economia clássica de corte liberal até crise
econômica mundial de 1929, a Keynesiana do fim da 2ª Guerra Mundial até 1990 e,
finalmente, a economia neoclássica de corte neoliberal a partir do fim da União
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Soviética e dos países socialistas do leste europeu que, por sua vez, se apoiaram na
economia marxista. O planejamento econômico de cada país era e continua sendo
realizado considerando a economia nacional mesmo na era atual de mundialização do
capital. Este enfoque de considerar o sistema nacional no planejamento econômico de
um país é considerado ineficaz pelos adeptos da teoria dos sistemas mundiais
desenvolvida por Fernand Braudel e Immanuel Wallerstein (BRAUDEL, F. Civilização
material, economia e capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 1996 e WALLERSTEIN,
Immanuel. Unthinking Social Science. Cambridge: Polity Press, 1991).
Segundo Wallerstein, o sistema- mundo capitalista é composto por uma divisão
entre centro, periferia e semiperiferia, em função da divisão do trabalho entre as regiões
do planeta. Para Wallerstein, o centro é a área de grande desenvolvimento tecnológico
que produz produtos complexos; a periferia é a área que fornece matérias-primas,
produtos agrícolas e força de trabalho barata para o centro. A troca econômica entre
periferia e centro é desigual: a periferia tem de vender barato os seus produtos enquanto
compra caro os produtos do centro, e essa situação tende a reproduzir-se de forma
automática, quase determinista, embora seja também dinâmica e mude historicamente.
Quanto à semiperiferia trata-se de uma região de desenvolvimento intermediário que
funciona como um centro para a periferia e uma periferia para o centro como é o caso
do Brasil.
A semiperiferia é caracterizada por Wallerstein como um elemento estrutural necessário
por realizar um papel estabilizador semelhante ao da classe média dentro da
configuração de classes em um país. Assumiria ainda uma função, nos dizeres de
Arrighi, de “legitimação sistêmica”, mostrando à Periferia que existe a possibilidade de
mobilidade dentro da divisão internacional do trabalho para os que forem
suficientemente “capazes” e/ou “bem-comportados”. Segundo Arrighi, a condição
semiperiférica é descrita como aquela na qual um número significativo de Estados
nacionais como o Brasil permanece estacionado de forma permanente entre as
condições central e periférica, e que, apesar de ter passado por transformações sociais e
econômicas de longo alcance, continua relativamente atrasado em aspectos importantes
(ARRIGHI, Giovanni. A ilusão do desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1997).
Arrighi afirma que os países mais desenvolvidos do mundo são aqueles integrantes do
núcleo orgânico da economia capitalista mundial, isto é, os países da Europa Ocidental
(Benelux, Escandinávia, Alemanha Ocidental, Áustria, Suíça, França e Reino Unido),
da América do Norte (Estados Unidos e Canadá), Austrália e Nova Zelândia. Após a
Segunda Guerra Mundial, passaram a integrar este núcleo, o Japão e a Itália. A tese que
vigorava após a Segunda Guerra Mundial de que seria possível a todas as nações
periféricas e semiperiféricas alcançarem o estágio de elevado nível de desenvolvimento
desfrutado pelos países capitalistas centrais, sobretudo pelos Estados Unidos não se
realizou. A partir da segunda metade do século XX, houve várias tentativas de
promoção do desenvolvimento econômico e social em vários os países do mundo que
fracassaram sejam aquelas nos marcos do capitalismo com o nacional
desenvolvimentismo encetado, por exemplo, no Brasil e aquelas com a implantação do
socialismo. Houve vários sucessos parciais e temporários. Mas exatamente no momento
em que todos os indicadores pareciam rumar na direção ascendente, todos os países
capitalistas periféricos e semiperiféricos, sem exceção, entraram em colapso durante a
década de 1990.
Um fato é evidente: a transformação de país capitalista periférico ou semiperiférico para
a condição de desenvolvido é bastante difícil de realizar conforme foi demonstrada por
Arrighi em sua obra A ilusão do desenvolvimento. O Japão e a Itália foram os únicos
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que saíram da condição de países semiperiféricos para a de integrantes do núcleo de
países desenvolvidos. Devido à importância geopolítica durante a Guerra Fria, o Japão e
a Coréia do Sul conseguiram escalar para um nível mais alto de desenvolvimento
devido ao apoio financeiro que obtiveram dos Estados Unidos após a Segunda Guerra
Mundial e, sobretudo pelo papel desempenhado pelo Estado nacional na promoção do
desenvolvimento. A Itália conseguiu alcançar o patamar de país desenvolvido graças a
uma série de fatores favoráveis existentes em sua economia e ao papel desempenhado
pelo Estado italiano. A Coréia do Sul foi o único país da periferia do sistema- mundo
capitalista que evoluiu para a condição de semiperiférico (ARRIGHI, Giovanni. A
ilusão do desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1997).
Pode-se afirmar que o insucesso na promoção do desenvolvimento econômico e social
da quase totalidade dos países periféricos e semiperiféricos do mundo deve ser atribuído
ao fato de os governos desses países delinearem estratégias para promover o
desenvolvimento nacional dissociado da evolução do sistema- mundo capitalista. Em
sua obra Unthinking Social Science, o sociólogo norte-americano Immanuel Wallerstein
afirma que é preciso rever os paradigmas atuais das ciências sociais e passar a pensar de
outro modo no século XXI. Wallerstein defende a tese da adoção de um novo
referencial teórico-metodológico na ciência social baseada na análise do sistema-
mundo capitalista para compreender como cada sistema nacional está nele inserido a
fim de promover seu desenvolvimento econômico e social (WALLERSTEIN,
Immanuel. Unthinking social science. Cambridge: Polity Press, 1995).
O novo referencial teórico de análise do sistema econômico de uma nação levando em
conta o sistema- mundo capitalista proposto por Wallerstein se contrapõe ao método
atual de enfoque cartesiano que formula o desenvolvimento do sistema econômico
nacional de forma isolada dissociado da análise da inserção da economia nacional no
sistema capitalista mundial. Portanto, está explicado o fracasso do nacional
desenvolvimentismo e de implantação do socialismo real que resultou do fato de seus
mentores admitirem ter capacidade de promover o desenvolvimento econômico e social
nacional dissociado do sistema- mundo capitalista.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e
doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas
energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De
Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes
do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século
XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador,
2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case
of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A
Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança
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Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br