Donald Trump apresenta sua campanha para a presidência dos Estados Unidos baseada na defesa da lei e da ordem na qual deixam evidenciados seus traços de personalidade autoritária. Trump apresentou uma lógica de gladiador. Tudo gira em torno da conquista, da supremacia dos Estados Unidos. Trump propõe construir um muro entre os Estados Unidos e o México para impedir a entrada de latino-americanos, proibir a entrada de muçulmanos no país e isolar os Estados Unidos do mundo. Durante décadas, o Partido Republicano representou, no exterior, uma ordem internacional voltada para o futuro liderada pelos Estados Unidos, e, em casa, o capitalismo democrático com pequena intervenção do governo na economia. Trump dizima isso e outras coisas que os republicanos defendiam e representavam.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
As consequências da ascensão de donald trump ao poder nos estados unidos
1. AS CONSEQUÊNCIAS DA ASCENSÃO DE DONALD TRUMP AO PODER
NOS ESTADOS UNIDOS
Fernando Alcoforado*
Donald Trump apresenta sua campanha para a presidência dos Estados Unidos baseada
na defesa da lei e da ordem na qual deixam evidenciados seus traços de personalidade
autoritária. Trump apresentou uma lógica de gladiador. Tudo gira em torno da
conquista, da supremacia dos Estados Unidos. Trump propõe construir um muro entre
os Estados Unidos e o México para impedir a entrada de latino-americanos, proibir a
entrada de muçulmanos no país e isolar os Estados Unidos do mundo. Durante décadas,
o Partido Republicano representou, no exterior, uma ordem internacional voltada para o
futuro liderada pelos Estados Unidos, e, em casa, o capitalismo democrático com
pequena intervenção do governo na economia. Trump dizima isso e outras coisas que os
republicanos defendiam e representavam.
Donald Trump disse que ele era a voz "de quem trabalha duro enquanto ninguém fala
por eles" vítimas de um "sistema manipulado" que beneficiam apenas as "elites" como
se ele próprio não fosse elite. Trump se apresentou como o "campeão do povo", o único
capaz de mudar tudo. O candidato republicano procurou desenhar a imagem mais
angustiante possível sobre os Estados Unidos, alimentada por recordar crimes anteriores
relacionadas com a imigração ilegal, a violência contra a polícia, e uma situação
econômica considerada desastrosa. Olhando para além das fronteiras dos Estados
Unidos, Trump destacou "a morte, destruição e fraqueza" dos Estados Unidos
apontando como único culpado sua futura oponente, a ex-secretária de Estado, Hillary
Clinton.
Para vencer as eleições, Trump apela para a desesperança que muitos eleitores
americanos dizem sentir. Trump incentiva seus eleitores a sentirem medo. No discurso
na convenção republicana, Trump apresentou um cenário de caos e trevas, como se os
Estados Unidos estivessem em uma situação de terra arrasada, para se apresentar como
a solução para essa desordem. Disse que “tristemente, o sonho americano está morto” e
que só ele poderá restaurá-lo. As teses de Trump se apoiam em pesquisas que apontam
que dois terços da população dos Estados Unidos não confiam no governo e acreditam
que o país está no caminho errado. Quase 70% dos norte-americanos afirmam nas
pesquisas temer o terrorismo ou a criminalidade, ou as duas coisas. Foi baseado neste
fato que a campanha de Trump cunhou a ideia de que ele era “uma nova manhã na
América”, isto é, ele era a solução para os problemas dos Estados Unidos.
Donald Trump afirma que quando fizer seu juramento presidencial no ano que vem, vai
restaurar a lei e a ordem. Razões eminentemente políticas também ajudam a explicar o
fenômeno Trump. Pela primeira vez na bicentenária história do bipartidarismo nos
Estados Unidos, tanto republicanos quanto democratas enfrentam um cenário inédito: a
frustração dos americanos com a classe política que levou à ascensão de populistas. Em
2014, um levantamento do instituto Rasmussen mostrou que 65% dos americanos dizem
que nenhum dos dois principais partidos “representa o povo americano” e que estão
insatisfeitos “com o sistema de governo e sua efetividade”. A situação atual nos Estados
Unidos é similar à vivida pela Alemanha a partir de 1933 durante a República de
Weimar que se deteriorou abrindo caminho para a ascensão do nazismo.
2. Trump é a face mais visível de um fenômeno mundial: a ascensão do populismo
nacionalista e xenófobo. Na Europa, partidos de extrema-direita ganharam terreno em
países importantes como Áustria, Polônia e Suécia. Nos países da Europa Ocidental,
que historicamente vivem de uma alternância de poder entre dois partidos, uma série de
movimentos nacionalistas se tornou a terceira força política: caso do Alternativa para a
Alemanha, da Frente Nacional da França e do Movimento Cinco Estrelas, da Itália. Sem
contar os partidos e movimentos populistas de esquerda que ganharam força em países
europeus e até nos Estados Unidos, como mostra a ascensão de Bernie Sanders no
Partido Democrata.
O crescimento da desigualdade nas sociedades ocidentais com o processo de
globalização está no âmago dessa insurgência, como mostrou o resultado do referendo
sobre a saída do reino Unido da União Europeia, a Brexit. A Brexit é um sintoma de
uma reação nacionalista e populista no Ocidente industrializado contra a globalização, o
livre-comércio, a migração do trabalho, as políticas orientadas para o mercado, as
autoridades supranacionais e, mesmo, as mudanças tecnológicas porque a globalização
reduziu salários e ceifou empregos em economias mais ricas, como Inglaterra e Estados
Unidos. A ascensão do populismo nacionalista e xenófobo é a consequência desse
quadro da pauperização da classe média em países desenvolvidos. As famílias das
classes trabalhadoras e das classes médias não têm se beneficiado do crescimento
econômico. Sabem que os bancos causaram a crise de 2008, mas veem bilhões de
dólares e euros dos governos destinados aos bancos e pouco para salvar suas casas e
seus empregos. Com a renda média real para um trabalhador masculino em tempo
integral nos Estados Unidos menor do que há quatro décadas, um eleitorado irritado não
pode ser uma surpresa.
Todas as mensagens de Donald Trump apontam na direção de que, se for eleito
presidente dos Estados Unidos poderá renascer o fascismo na era contemporânea. Cabe
observar que o fascismo é uma forma de comportamento político marcado pela
preocupação obsessiva com o declínio da comunidade, com a humilhação e a
vitimização do país que busca através de violência redentora e sem controles éticos ou
legais alcançar os objetivos de limpeza interna e expansão externa. O fascismo surge
para restaurar uma ordem social rompida, como sempre usando temas como unidade,
ordem e pureza. O fascismo tem raiz na restauração do orgulho nacional perdido pela
ressurreição dos mitos e valores tradicionais da cultura e na purificação da sociedade
das influências tóxicas de estrangeiros e de intelectuais, os quais seriam culpados pela
miséria em que vive a nação. É o caso dos Estados Unidos diante de uma crise
econômica insuperável como a atual, de comprometimento do american way of life e de
perda de sua hegemonia mundial para a China.
É preciso observar que o fascismo foi um movimento político que surgiu na Itália após a
Primeira Guerra Mundial, na década de 1920 sob a liderança de Benito Mussolini e,
posteriormente, na Alemanha na década de 1930 com Adolf Hitler com outra forma de
fascismo, o nazismo. O fascismo italiano e o nazismo alemão se baseavam em
concepções fortemente nacionalistas e no exercício totalitário do poder, portanto, contra
o sistema democrático e liberal, e repressivo ante as ideias socialdemocratas, socialistas
e comunistas. O fascismo e o nazismo implantados durante as décadas de 1920 e 1930
do século XX se baseavam em um Estado forte, totalitário, que se afirmava encarnar o
espírito do povo, no exercício do poder por um partido único cuja autoridade se
impunha através da violência, da repressão e da propaganda política. O fascismo se
3. caracterizou também pelo nacionalismo agressivo, militarismo e imperialismo a serviço
das classes dominantes, pelo culto do chefe, pelo anticomunismo e pela ditadura. Para
por em prática os seus princípios, foram ignorados os direitos individuais dos cidadãos,
o Parlamento foi transformado num simples orgão consultivo e foi criada a polícia
política que esmagava toda a oposição ao regime.
O renascimento do fascismo sob o comando de Donald Trump nos Estados Unidos
resultaria, fundamentalmente, de seu declinio econômico e da perda de sua hegemonia
na cena mundial em um prazo temporal muito curto. Todas as relações mundiais dos
Estados Unidos se modificaram profundamente nos últimos tempos sendo obrigado a
compartilhar com outros países o poder em escala mundial. A era em que os Estados
Unidos procuravam impor sua vontade no cenário internacional nos planos econômico e
militar acabou. É o que já está ocorrendo a partir do governo Barack Obama. A crise
geral do sistema capitalista mundial está acelerando a mudança geopolítica de longo
prazo, anunciando o declínio do poder americano e da influência europeia. Donald
Trump representa uma reação visando reverter esta tendência. Sua atuação levaria, na
prática, ao renascimento do fascismo nos Estados Unidos. Diante desta situação acima
descrita, não é mais possível desprezar as chances de Donald Trump vencer a disputa
contra a democrata Hillary Clinton e se tornar o próximo presidente dos Estados
Unidos.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011),
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012),
Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,
Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo
(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:
falcoforado@uol.com.br.